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AULA 06

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AULA 6 
JUSTIÇA DO TRABALHO
Prof. Roberto de Carvalho Peixoto 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
O processo do trabalho, como ramo do direito, prevê uma série de 
normas especiais relacionadas ao trâmite do processual na Justiça do Trabalho, 
mormente se tratar de um processo em que a verba pleiteada é de natureza 
eminentemente alimentar. 
No processo do trabalho, aplicar-se-á de forma subsidiária o Código de 
Processo Civil brasileiro, conforme redação do art. 769, caput, da CLT, porém, 
em razão da natureza especial das verbas trabalhistas, apenas em caso de 
omissão da lei trabalhista é que o CPC será aplicado, em obediência ao princípio 
da especificidade. 
Diversos princípios do direito processual ganham maior atenção no 
processo do trabalho, como o da celeridade processual e da duração razoável 
do processo, permitindo assim que se obtenha de forma rápida a prestação 
jurisdicional pleiteada. 
Além do mais, a CLT prevê em diversos artigos uma atuação ativa do 
Poder Judiciário, sempre buscando entregar de forma célere e efetiva a 
prestação jurisdicional. 
Uma das formas de a atuação diz respeito às provas que serão 
produzidas no processo judicial, pois pode o juiz na condução de processo atuar 
de forma ativa na busca da verdade real, determinando diligências essenciais 
para o deslinde da lide, ou mesmo indeferindo prova que repute como inúteis. 
O advento do Novo Código de Processo Civil trouxe importantes 
inovações no campo do direito processual trabalhista, especialmente no que 
concerne à produção de provas, garantindo, por exemplo, que aquele que tenha 
mais aptidão para produção da prova arque com o respectivo encargo de provar 
o direito no caso concreto. 
Da mesma forma, alguns procedimentos especiais previstos no CPC 
podem ser utilizados no processo do trabalho, desde que estejam de acordo 
com os princípios trabalhistas, devendo ser adequados a estes no seguimento 
do trâmite processual. 
Nesta aula, portanto, debateremos as provas admitidas no processo do 
trabalho, incluindo seus princípios, e ainda, os procedimentos especiais 
admitidos ao processo do trabalho, demonstrando as aplicações e implicações 
relativas aos encargos probatórios previstos em nossa legislação. 
 
 
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TEMA 1 – DAS PROVAS ADMITIDAS AO PROCESSO DO TRABALHO 
A prova no processo do trabalho pode ser entendida como o meio legal 
para que as partes possam demonstrar a veracidade ou não dos fatos alegados 
na demanda, buscando o convencimento do juiz sobre sua existência ou não, 
permitindo que o magistrado, com base nas provas apresentadas, profira sua 
decisão. 
Antes de tratarmos especificamente das provas admitidas ao processo do 
trabalho, necessário que sejam debatidos alguns dos princípios relacionados aos 
meios probatórios, que citamos: princípio do contraditório e da ampla defesa, da 
unicidade da prova, da proibição da prova obtida ilicitamente e o princípio da 
imediação. 
1.1 Princípio do contraditório e da ampla defesa 
O princípio da ampla defesa e do contraditório possui status de garantia 
fundamental previsto na Constituição Federal em seu art. 5.º, LV. 
Trata-se de princípios que reafirmam o que é um Estado Democrático de 
Direito, pois permite aos que litigam em todas as esferas administrativas e 
judiciais a possibilidade de se defender e argumentar em sentido contrário do 
que lhe foi demandado. 
Deverá haver entre as partes um tratamento igualitário, isonômico, 
permitindo que todos aqueles que demandam ou são demandados possam se 
valer dos meios lícitos para se defender. 
1.2 Princípio da unidade da prova 
Pelo princípio da unidade da prova, deve esta ser analisada de forma 
conjunta, pois as provas produzidas devem ser apreciadas de maneira unitária, e 
não de forma isolada. 
Assim, se existem nos autos diversas provas, como depoimento de 
testemunhas, documentos e laudos periciais, deve o julgador analisar todas as 
que foram produzidas para formar seu convencimento. 
Por exemplo, cita-se a confissão, cuja análise deve ocorrer em conjunto 
com as demais provas dos autos e, ainda, a prova pericial, pois mesmo o laudo 
reconhecendo a existência de labor em condições de insalubridade (por 
 
 
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exemplo), poderá o juiz se valer de outros meios de provas para formar seu 
convencimento, visto que, nesse exemplo, o juiz apreciará a prova 
independentemente de quem tiver promovido (art. 371, CPC). 
1.3 Do princípio da proibição de produzir provas ilícitas 
Decorre tal princípio do dever de lealdade de todos aqueles que integram 
uma relação processual, encontrando fundamento na norma constitucional, 
especificamente no art. 5.º, LVI, da CF/1988, que não admite “provas obtidas por 
meio ilícito”. 
A prova ilícita pode ser entendida como aquela que foi obtida se utilizando 
de forma contrária a lei, sendo consideradas, portanto, ilegais e inaptas para 
instruírem o processo e para ser utilizadas para o convencimento do juízo. 
Porém, importante mencionar que tal princípio vem sendo mitigado pela 
Justiça do Trabalho, em obediência ao princípio da proporcionalidade e da 
razoabilidade, entendendo que, no caso concreto, não se pode negar a validade 
de toda e qualquer prova obtida de forma ilícita, mormente quando esta for de 
difícil comprovação por outros meios legais. 
Atualmente, os maiores debates sobre esse tema são os relacionados às 
licitudes das gravações de conversas, os quais o Supremo Tribunal Federal 
reconheceu repercussão geral da matéria (tema 237) e “reafirmou a 
jurisprudência da Corte acerca da admissibilidade do uso, como meio de prova, 
de gravação ambiental realizada por um dos interlocutores” (RE 583937). 
1.4 Princípio da imediação 
O princípio da imediação, previsto no art. 765 do CLT, atribui ao juiz a 
figura de diretor do processo, sendo responsável por colher, direta e de forma 
imediata, as provas produzidas no processo. 
Assim, tem o juiz ampla liberdade de valorar, de acordo com as regras de 
experiência, os ônus de cada parte na produção da prova. 
Tal princípio prestigia, portanto, a atuação do juiz que teve contato com as 
partes, testemunhas e demais atos da instrução processual, podendo aferir com 
maior credibilidade a honestidade e sinceridade dos depoimentos prestados, 
podendo valorar tais circunstâncias para fins de aplicar o direito. 
 
 
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TEMA 2 – DO ÔNUS DA PROVA 
O “ônus da prova” é a obrigação que recai sobre as partes integrantes de 
uma relação jurídica processual, devendo cada uma delas suportar os encargos 
probatórios, seja para provar o direito alegado, seja para resistir à pretensão 
com provas de fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito vindicado. 
A CLT previa na antiga redação do art. 818, caput, que o “ônus de provar 
as alegações incumbe a parte que fizer”. 
Por não abarcar relevantes questões acerca do onus probandi, fez-se 
necessário se valer da norma processual civil para este mister, especificamente 
no atual art. 373, I e II, do CPC, que dispõe: 
Art. 373. O ônus da prova incumbe: 
I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou 
extintivo do direito do autor. 
Logo, como regra, incumbe ao autor provar os fatos que constituem o seu 
direito, enquanto, ao réu, provar os fatos que impeçam, modifique ou extingam o 
direito do autor. 
Há que se frisar que a reforma trabalhista incluiu no art. 818 os incisos I e 
II, que copia quase que na totalidade a redação do Código de Processo Civil 
brasileiro. 
Na Justiça do Trabalho, via de regra, o ônus da prova é do trabalhador, 
que deve provar pelos meios lícitos a existência a alegado direito violado. 
Porém, em determinadas situações, o entendimento é de que compete à 
empresa o ônus de provar as suas alegações, especialmente quando diante de 
fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito alegado, por exemplo, 
nas hipóteses de justa causa,em que deve provar o justo motivo para rescisão 
do contrato de trabalho, e, na hipótese de reconhecer a prestação de serviços, 
mas de forma diversa da relação de emprego, atraindo, nesse caso, o encargo 
de comprovar suas alegações. 
TEMA 3 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E DA DISTRIBUIÇÃO 
DINÂMICA DA PROVA 
Os tribunais têm mitigado a aplicação dos arts. 818, I e II, da CLT, e 373, I 
e II, do CPC, admitindo a inversão do ônus da prova em situações específicas, 
 
 
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como aquela prevista na súmula 338 do Tribunal Superior do Trabalho, que 
inverte o ônus com relação ao controle da jornada de trabalho para as empresas 
que possuem mais de 10 (dez) funcionários, atribuindo a empresa a obrigação 
de apresentar os cartões pontos para se aferir o horário laborado. 
O fundamento para se deferir a inversão do ônus da prova reside no art. 
6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, que assim prevê: 
Art. 6.º – (in omissis) 
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão 
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do 
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, 
segundo as regras ordinárias de experiências; 
O princípio da proteção, tanto do consumidor quanto do trabalhador, 
permite o reconhecimento de ambos como hipossuficientes nas suas relações, 
permitindo que a obrigação de provar os fatos seja invertida em prol da 
facilitação do direito de defesa do vulnerável, o que tem servido como argumento 
para aplicar o art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor no Processo 
Trabalhista. 
Hodiernamente, tem-se admitido, quando a prova se tornar 
excessivamente difícil para uma das partes, que haja uma distribuição dinâmica 
dos encargos probatórios. 
Isso significa que é permitido ao juiz modificar a distribuição do ônus da 
prova, quando, no caso concreto, verificar que a outra parte tem melhores 
condições de produzir a prova, devendo, porém, fundamentar sua decisão, 
possibilitando à parte se desincumbir do ônus atribuído. 
Essa possibilidade, inclusive, consta expressamente no parágrafo 1º do 
art. 818 da CLT, que prevê: 
Art. 818. (in omissis) 
§ 1.º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa 
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o 
encargo nos termos deste artigo ou à maior facilidade de obtenção da 
prova do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da prova de modo 
diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que 
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe 
foi atribuído. 
O momento para que o juiz distribua o ônus da prova de maneira diversa 
é antes do início da audiência de instrução, permitindo-se à parte contra qual 
passou a recair o encargo probatório requerer o adiamento da audiência, a fim 
de lhe garantir o exercício da ampla defesa e do contraditório. 
 
 
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Ressalta-se que, em que pese a previsão legal para distribuir o ônus 
probatório da forma dinâmica, essa decisão não poderá “gerar situação em que 
a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente 
difícil”. 
Ultrapassada as questões iniciais relativas ao ônus da prova, passamos a 
tratar especificamente dos meios de provas previstos em nosso ordenamento 
jurídico. 
TEMA 4 – DOS MEIOS DE PROVAS 
Os meios de prova nada mais são do que a forma que o direito vindicado 
será demonstrado para o juiz, havendo previsão em nosso ordenamento jurídico 
de diversas formas de produção de provas. 
Esses meios de provar devem ser lícitos, haja vista a proibição expressa 
do art. 5.º, LVI, da CF/1988, de produzirem provas ilícitas. 
Os principiais meios de prova no processo do trabalho são: depoimento 
pessoal e interrogatório, prova testemunhal, documental e pericial. 
4.1 Depoimento pessoal e interrogatório 
No processo do trabalho, o depoimento pessoal e o interrogatório tem sua 
previsão nos arts. 820 e 848 da CLT, que preveem que, terminada a defesa, 
poderá o presidente, de ofício ou a requerimento das partes, interrogar os 
litigantes, bem como que “as partes e testemunhas serão inquiridas pelo juiz ou 
presidente, podendo ser reinquiridas, por seu intermédio, a requerimento dos 
juízes classistas, das partes, seus representantes ou advogados”. 
O objetivo do interrogatório e do depoimento pessoal é obter a confissão 
real das partes, que, se obtida durante o depoimento, goza de presunção 
absoluta de veracidade, retirando o encargo probatório da parte que dela 
aproveita. 
Confessado pelas partes, e gozando de presunção absoluta de 
veracidade a confissão real, pode o juiz inclusive dispensar outras provas que 
foram ou ainda seriam produzidas, como a oitiva de testemunhas, por exemplo. 
 
 
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4.2 Da prova testemunhal 
A prova testemunhal é amplamente utilizada na Justiça do Trabalho, 
muito embora se reconheça ser o mais inseguro, ante a subjetividade possível 
dos seus relatos. 
Há situações na Justiça do Trabalho que a prova testemunhal pode ter 
um valor probante muito maior do que outros meios de provas obtidos, em 
obediência ao princípio da primazia da realidade sobre a forma, em que se 
prestigia a realidade dos fatos em detrimento dos documentos produzidos. 
No processo do trabalho, são admitidas até 3 (três) testemunhas no rito 
ordinário e 2 (duas) no rito sumaríssimo. 
Podem servir como testemunha toda pessoa natural que esteja em pleno 
gozo da sua capacidade civil e que não sejam suspeitas e impedidas. O rol dos 
suspeitos e impedidos de prestar depoimento na condição de testemunha 
encontra previsão no art. 447, parágrafos 2.º e 3.º, do Código de Processo Civil 
brasileiro. 
A testemunha não considerada suspeita ou impedida presta perante o juiz 
o compromisso legal de dizer a verdade, podendo ser civilmente e criminalmente 
responsabilizada por informações falsas prestadas, mediante comunicação aos 
órgãos competentes. 
4.3 Da prova documental 
A prova documental consiste em documentos escritos que cada uma das 
partes possui e serve para comprovar o direito alegado. 
É largamente utilizada no processo do trabalho, citando como exemplo os 
documentos relacionados à relação trabalhista que existiu (ou existe) entre 
partes, como carta de aviso prévio, contrato de trabalho, holerites, ficha de EPI, 
cartões ponto etc. 
Aplicando-se as regras do Código de Processo Civil, cabe ao autor juntar 
com a inicial os documentos que embasaram seu pedido, e da mesma forma, o 
réu juntar com a defesa os documentos que entende servirem como prova dos 
fatos impeditivos, extintivos e modificativos do direito do reclamante (art. 434, 
caput, do CPC). 
 
 
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Nada obstante a isso, o art. 435, caput, do CPC, tem autorizado a 
apresentação de prova documental em momento posterior, “quando destinados 
a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos 
que foram produzidos nos autos”. 
No que concerne à juntada de documentos na fase recursal, o TST 
sedimentou entendimento de que apenas de forma excepcional é permitida a 
juntada de novos documentos, conforme redação da súmula n. 8, que prevê: 
Súmula n. 8 do TST 
JUNTADA DE DOCUMENTO A juntada de documentos na fase 
recursal só se justifica quando provado o justo impedimento para sua 
oportuna apresentação ou se referir a fato posterior à sentença. 
Quanto à autenticidade dos documentos, o art. 830, caput, da CLT 
permite que o advogado declare a autenticidade dos documentos apresentados, 
podendo a outra parte apresentar impugnação à autenticidade, com a 
determinação de apresentação de documento original para conferência 
(parágrafo único do art. 830 da CLT). 
4.4 Prova pericial 
Se, em determinados fatos, a comprovação das alegações demandar 
conhecimentos técnicos, o juízo será assistindo por um perito, que exerce, de 
acordo com o art. 156 do CPC, a função de auxiliar de justiça. 
A prova pericial poderá ser um exame,uma vistoria ou uma avalição, que, 
após realizado, culminará na elaboração de um laudo pericial, em que as partes 
poderão se manifestar sobre as conclusões do perito, de acordo com o resultado 
obtido. 
Para a realização da perícia, as partes poderão indicar assistentes 
técnicos e formularem quesitos a serem respondidos pelo expert, sem prejuízo 
de eventual solicitação de esclarecimentos ou elaboração de quesitos 
complementares. 
A prova pericial poderá ser requerida pela parte ou de ofício pelo juiz, 
ressalvado a obrigatoriedade de se produzir prova pericial para apuração da 
existência de labor em condições de insalubridade e periculosidade, mesmo em 
caso de revelia, por força do art. 195, caput, e parágrafo 2.º da CLT. 
 
 
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Com relação aos honorários do perito, deve aquele que requereu a prova 
efetuar o pagamento, admitindo-se na prática trabalhista que a responsabilidade 
pelo pagamento seja feita pela parte sucumbente no objeto da perícia. 
Importante mencionar que a CLT passou a prever de forma expressa a 
vedação da cobrança de honorários periciais antes da realização da perícia, na 
forma do art. 790, parágrafo 3º, da CLT. 
Por fim, com relação à prova pericial emprestada, tem-se admitido sua 
utilização quando houver identidade de fatos, atentando-se ao exercício do 
contraditório para manifestação das partes sobre a prova produzida. 
TEMA 5 – DAS AÇÕES ESPECIAIS ADMISSÍVEIS AO PROCESSO DO 
TRABALHO 
A CLT prevê, em seu art. 769, caput, a aplicação subsidiária do direito 
processual comum, e, tendo em vista que a competência da Justiça do Trabalho 
foi ampliada com a EC. 45/2004, algumas ações passaram a admitidas ao 
processo trabalhista. 
Assim, adaptando-se às particularidades do processo do trabalho, são 
admitidos procedimentos que, em um primeiro momento, destinavam-se ao 
direito comum, mas que, por força do advento da EC 45/2004, também 
passaram a ser utilizadas na Justiça do Trabalho. 
Dentre essas ações, podemos destacar a ação de consignação em 
pagamento, as ações cautelares e a ação monitória, e a ação de prestação de 
contas. 
5.1 Ação de consignação em pagamento 
A ação de consignação em pagamento, usualmente chamada de ACPg, é 
um procedimento especial de jurisdição contenciosa, com previsão nos arts. 539 
a 549 do Código de Processo Civil brasileiro. 
As hipóteses de cabimento da Ação de Consignação em Pagamento são 
encontradas na Lei Civil, estando previstos nos incisos do art. 335 do Código 
Civil brasileiro as hipóteses de cabimento da referida ação, vejamos: 
Art. 335. A consignação tem lugar: 
I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o 
pagamento, ou dar quitação na devida forma; 
 
 
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II – se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e 
condição devidos; 
III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado 
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; 
IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto 
do pagamento; 
V – se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 
Na Justiça do Trabalho, as hipóteses mais comuns em que são utilizadas 
a Ação de Consignação em Pagamento é para o pagamento das verbas 
rescisórias decorrentes da dispensa, quando, por exemplo, não se tem 
conhecimento do local em que se encontra o empregado que abandonou o 
emprego, ou no caso de falecimento do trabalhador, quando houver dúvidas 
sobre quem deve receber as verbas rescisórias. 
Possuem legitimidade ativa para propor a Ação de Consignação em 
Pagamento o devedor ou um terceiro com interesse no pagamento da dívida, 
conforme previsto no art. 539, caput, do CPC. 
Quanto ao polo passivo, em regra, é o empregado que figura nessa 
condição, por ser o destinatário do pagamento que pretende ser realizado, não 
havendo, porém, nenhum impedimento para que o empregador também figure 
no polo passivo, quando necessita o trabalhador ajuizar ação de consignação 
em pagamento para, por exemplo, devolver ferramentas de trabalho que estão 
em sua posse. 
Para ajuizamento da Ação de Consignação em Pagamento, deve constar 
na petição inicial o requerimento para realizar o depósito da quantia devida, no 
prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, e ainda, o pedido para citação 
do réu levantar o depósito ou apresentar contestação (art. 542, I e II, do CPC). 
Não sendo efetuado o depósito no prazo deferido pelo juiz, a 
consequência legal é a extinção do feito sem a resolução do mérito, conforme 
dispõe o parágrafo único do art. 542 do CPC. 
O réu consignado poderá apresentar defesa na audiência inicial, alegando 
que não houve recusa ou mora no recebimento, que foi justa a recusa, que o 
depósito não foi efetuado dentro do prazo ou no lugar do pagamento ou que o 
depósito não foi realizado de forma integral, na forma dos incisos I, II, III e IV do 
art. 544 do Código de Processo Civil brasileiro. 
A competência para julgamento é o local em que o pagamento deve ser 
realizado (art. 540, caput, do CPC), porém, é necessário se atentar que a CLT 
possui regramento próprio no que diz respeito à competência, especificamente 
 
 
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no art. 651, caput, que prevê a competência territorial para julgamento da 
demanda. 
Trata-se, contudo, de uma competência relativa, não podendo ser 
declarada de ofício, ou seja, se na contestação não for apresentada 
manifestação sobre esse fato, ficará prorrogada automaticamente a competência 
para julgamento no local em que foi originalmente distribuída a ação de 
consignação em pagamento. 
Há que se ressaltar que existe a possibilidade de o réu alegar a 
insuficiência do depósito; poderá o autor consignante fazer a sua 
complementação no prazo de 10 (dez) dias (art. 545, caput, do CPC), bem como 
é permitido ao consignado (réu) fazer o levantamento dos valores 
incontroversos, prosseguindo-se o feito com relação à parte controvertida. 
Por fim, julgando-se procedente o pedido, ou se o credor receber e dar 
quitação, será declarado pelo juiz extinta a obrigação, servindo o pagamento em 
consignação como efetivo pagamento da dívida, afastando-se a 
responsabilidade do consignante no que tange ao pagamento realizado em 
consignação. 
5.2 Da ação monitória 
A ação monitória tem previsão no art. 700 do Código de Processo Civil 
brasileiro, que prevê: 
Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, 
com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito 
de exigir do devedor capaz: 
I – o pagamento de quantia em dinheiro; 
II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou 
imóvel; 
III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. 
A ação monitória tem como objetivo, portanto, dar eficácia executiva à 
prova escrita que não possua tal eficácia, especificamente para os fins 
colimados nos incisos I, II e III do mencionado art. 700 do CPC. 
A prova escrita, como alude a norma processual, pode ser uma prova oral 
transcrita, como uma gravação, ou mesmo conversas obtidas por meio de redes 
sociais, mediante elaboração de uma ata notarial. 
Havendo dúvidas sobre a licitude da prova, o juiz deverá intimar o credor 
para que proceda com a emenda da petição inicial, a fim de que seja adaptada 
 
 
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ao procedimento comum, deixando de seguir os trâmites notadamente mais 
céleres do procedimento especial, ex vi do art. 700, parágrafo 5.º, do CPC. 
Deferida a tramitação da demanda na forma de ação monitória, será 
expedido mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de 
obrigação de fazer ou não fazer, no prazo de 15 dias, podendo o réu nesse 
prazo apresentar embargos monitórios, que possuem efeito suspensivo, 
suspendendo a eficácia do mandado para pagamento até o seu julgamento. 
Não sendo apresentados os embargos, ou sendo estes rejeitados, 
“constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, prosseguindo-se o 
processo em observância aodisposto no Título II do Livro I da Parte Especial, no 
que for cabível”. 
A questão que merece ser debatida no presente momento é sobre o 
cabimento da ação monitória ao processo do trabalho, pois há corrente que 
defende que não são cabíveis, uma vez que não há previsão da realização de 
audiência de conciliação entre as partes, o que é uma obrigação segundo os 
arts. 764 e 846 da CLT. 
Outro argumento contrário seria o fato de que, no processo do trabalho, a 
regra é que a citação seja feita pelo correio, admitindo-se excepcionalmente a 
citação por oficial de justiça, o que não ocorre com a ação monitória, em que a 
citação apenas é feita por mandado. 
Contudo, em que pese os relevantes argumentos em sentido contrário, o 
entendimento que se tem sobre o tema é de, conforme leciona Carlos Henrique 
Bezzera Leite (2016, p. 1.740), que “todos esses os obstáculos podem ser 
ultrapassados se o enfoque a ser dado pelo operador do direito for inspirado no 
princípio constitucional de acesso ao Poder Judiciário”. 
Assim, perfeitamente cabível a ação monitória no processo do trabalho, 
desde que seja adequada às suas particularidades, por exemplo, aplicar o 
disposto no art. 701, caput, do CPC em detrimento das normas trabalhistas que 
preveem a necessidade de realizar uma audiência de conciliação em todos os 
casos, mormente pelo fato de que a economia e a celeridade processual 
estariam preservadas. 
No mais, as demais regras relativas ao procedimento monitório deverão 
seguir os trâmites previstos na norma processual civil, adequando-as, quando 
necessário, às regras específicas do processo do trabalho, como no caso do 
recurso cabível da sentença, pois é certo que o parágrafo 9.º do art. 702 do 
 
 
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CPC, que trata do recurso de apelação, é inaplicável ao processo trabalhista, 
ante a existência de regramento específico na norma celetária. 
Nossos tribunais têm se posicionado de forma favorável ao uso da ação 
monitória no processo do trabalho, vejamos: 
AÇÃO MONITÓRIA. CABIMENTO NA JUSTIÇA DO TRABALHO. Cabe 
ação monitória na Justiça do Trabalho ante a compatibilidade com os 
princípios da efetividade, celeridade, simplicidade e ausência de norma 
específica, na medida em que o que se busca na referida ação é a 
satisfação do direito de crédito trabalhista de uma forma mais efetiva, 
voltada à proteção do empregado hipossuficiente. Aplicação dos 
artigos 769 da CLT c/c 700 e 15 do NCPC. Recurso conhecido e 
provido. (TRT 11ª R.; RO 0002303-86.2015.5.11.0015; Primeira Turma; 
Rel.ª Des.ª Eleonora Saunier Gonçalves; DOJTAM 02/09/2016; p. 197) 
 Assim, ante a compatibilidade da ação monitória, especialmente com os 
princípios que regem o processo do trabalho, admite-se o uso do procedimento 
nas hipóteses previstas no art. 700 e seguintes do Código de Processo Civil, 
devendo apenas ser adequados às normas contidas na Consolidação das Leis 
do Trabalho. 
 
 
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REFERÊNCIAS 
GARCIA, G. F. B. CLT Comentada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método: 
2015. 
GRECO, L. Instituições de Processo Civil: introdução ao Direito Processual 
Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1. 
LEITE, C. H. B. Curso de Direito Processual do Trabalho. 14. ed., de acordo 
com o nono CPC. São Paulo: Saraiva, 2016. 
MARTINS, S. P. Comentários às Súmulas do TST. 15. ed. São Paulo: Atlas, 
2015. 
TST – Tribunal Superior do Trabalho. Resolução Administrativa n.º 1.295/2008. 
Diário do Judiciário, Brasília, DF, 9 maio 2008. Disponível em: 
<http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/TST/Reg_Int_TST/Reg_Int.html>. Acesso 
em: 17 nov. 2018.

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