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AULA 6 JUSTIÇA DO TRABALHO Prof. Roberto de Carvalho Peixoto 2 CONVERSA INICIAL O processo do trabalho, como ramo do direito, prevê uma série de normas especiais relacionadas ao trâmite do processual na Justiça do Trabalho, mormente se tratar de um processo em que a verba pleiteada é de natureza eminentemente alimentar. No processo do trabalho, aplicar-se-á de forma subsidiária o Código de Processo Civil brasileiro, conforme redação do art. 769, caput, da CLT, porém, em razão da natureza especial das verbas trabalhistas, apenas em caso de omissão da lei trabalhista é que o CPC será aplicado, em obediência ao princípio da especificidade. Diversos princípios do direito processual ganham maior atenção no processo do trabalho, como o da celeridade processual e da duração razoável do processo, permitindo assim que se obtenha de forma rápida a prestação jurisdicional pleiteada. Além do mais, a CLT prevê em diversos artigos uma atuação ativa do Poder Judiciário, sempre buscando entregar de forma célere e efetiva a prestação jurisdicional. Uma das formas de a atuação diz respeito às provas que serão produzidas no processo judicial, pois pode o juiz na condução de processo atuar de forma ativa na busca da verdade real, determinando diligências essenciais para o deslinde da lide, ou mesmo indeferindo prova que repute como inúteis. O advento do Novo Código de Processo Civil trouxe importantes inovações no campo do direito processual trabalhista, especialmente no que concerne à produção de provas, garantindo, por exemplo, que aquele que tenha mais aptidão para produção da prova arque com o respectivo encargo de provar o direito no caso concreto. Da mesma forma, alguns procedimentos especiais previstos no CPC podem ser utilizados no processo do trabalho, desde que estejam de acordo com os princípios trabalhistas, devendo ser adequados a estes no seguimento do trâmite processual. Nesta aula, portanto, debateremos as provas admitidas no processo do trabalho, incluindo seus princípios, e ainda, os procedimentos especiais admitidos ao processo do trabalho, demonstrando as aplicações e implicações relativas aos encargos probatórios previstos em nossa legislação. 3 TEMA 1 – DAS PROVAS ADMITIDAS AO PROCESSO DO TRABALHO A prova no processo do trabalho pode ser entendida como o meio legal para que as partes possam demonstrar a veracidade ou não dos fatos alegados na demanda, buscando o convencimento do juiz sobre sua existência ou não, permitindo que o magistrado, com base nas provas apresentadas, profira sua decisão. Antes de tratarmos especificamente das provas admitidas ao processo do trabalho, necessário que sejam debatidos alguns dos princípios relacionados aos meios probatórios, que citamos: princípio do contraditório e da ampla defesa, da unicidade da prova, da proibição da prova obtida ilicitamente e o princípio da imediação. 1.1 Princípio do contraditório e da ampla defesa O princípio da ampla defesa e do contraditório possui status de garantia fundamental previsto na Constituição Federal em seu art. 5.º, LV. Trata-se de princípios que reafirmam o que é um Estado Democrático de Direito, pois permite aos que litigam em todas as esferas administrativas e judiciais a possibilidade de se defender e argumentar em sentido contrário do que lhe foi demandado. Deverá haver entre as partes um tratamento igualitário, isonômico, permitindo que todos aqueles que demandam ou são demandados possam se valer dos meios lícitos para se defender. 1.2 Princípio da unidade da prova Pelo princípio da unidade da prova, deve esta ser analisada de forma conjunta, pois as provas produzidas devem ser apreciadas de maneira unitária, e não de forma isolada. Assim, se existem nos autos diversas provas, como depoimento de testemunhas, documentos e laudos periciais, deve o julgador analisar todas as que foram produzidas para formar seu convencimento. Por exemplo, cita-se a confissão, cuja análise deve ocorrer em conjunto com as demais provas dos autos e, ainda, a prova pericial, pois mesmo o laudo reconhecendo a existência de labor em condições de insalubridade (por 4 exemplo), poderá o juiz se valer de outros meios de provas para formar seu convencimento, visto que, nesse exemplo, o juiz apreciará a prova independentemente de quem tiver promovido (art. 371, CPC). 1.3 Do princípio da proibição de produzir provas ilícitas Decorre tal princípio do dever de lealdade de todos aqueles que integram uma relação processual, encontrando fundamento na norma constitucional, especificamente no art. 5.º, LVI, da CF/1988, que não admite “provas obtidas por meio ilícito”. A prova ilícita pode ser entendida como aquela que foi obtida se utilizando de forma contrária a lei, sendo consideradas, portanto, ilegais e inaptas para instruírem o processo e para ser utilizadas para o convencimento do juízo. Porém, importante mencionar que tal princípio vem sendo mitigado pela Justiça do Trabalho, em obediência ao princípio da proporcionalidade e da razoabilidade, entendendo que, no caso concreto, não se pode negar a validade de toda e qualquer prova obtida de forma ilícita, mormente quando esta for de difícil comprovação por outros meios legais. Atualmente, os maiores debates sobre esse tema são os relacionados às licitudes das gravações de conversas, os quais o Supremo Tribunal Federal reconheceu repercussão geral da matéria (tema 237) e “reafirmou a jurisprudência da Corte acerca da admissibilidade do uso, como meio de prova, de gravação ambiental realizada por um dos interlocutores” (RE 583937). 1.4 Princípio da imediação O princípio da imediação, previsto no art. 765 do CLT, atribui ao juiz a figura de diretor do processo, sendo responsável por colher, direta e de forma imediata, as provas produzidas no processo. Assim, tem o juiz ampla liberdade de valorar, de acordo com as regras de experiência, os ônus de cada parte na produção da prova. Tal princípio prestigia, portanto, a atuação do juiz que teve contato com as partes, testemunhas e demais atos da instrução processual, podendo aferir com maior credibilidade a honestidade e sinceridade dos depoimentos prestados, podendo valorar tais circunstâncias para fins de aplicar o direito. 5 TEMA 2 – DO ÔNUS DA PROVA O “ônus da prova” é a obrigação que recai sobre as partes integrantes de uma relação jurídica processual, devendo cada uma delas suportar os encargos probatórios, seja para provar o direito alegado, seja para resistir à pretensão com provas de fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito vindicado. A CLT previa na antiga redação do art. 818, caput, que o “ônus de provar as alegações incumbe a parte que fizer”. Por não abarcar relevantes questões acerca do onus probandi, fez-se necessário se valer da norma processual civil para este mister, especificamente no atual art. 373, I e II, do CPC, que dispõe: Art. 373. O ônus da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Logo, como regra, incumbe ao autor provar os fatos que constituem o seu direito, enquanto, ao réu, provar os fatos que impeçam, modifique ou extingam o direito do autor. Há que se frisar que a reforma trabalhista incluiu no art. 818 os incisos I e II, que copia quase que na totalidade a redação do Código de Processo Civil brasileiro. Na Justiça do Trabalho, via de regra, o ônus da prova é do trabalhador, que deve provar pelos meios lícitos a existência a alegado direito violado. Porém, em determinadas situações, o entendimento é de que compete à empresa o ônus de provar as suas alegações, especialmente quando diante de fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito alegado, por exemplo, nas hipóteses de justa causa,em que deve provar o justo motivo para rescisão do contrato de trabalho, e, na hipótese de reconhecer a prestação de serviços, mas de forma diversa da relação de emprego, atraindo, nesse caso, o encargo de comprovar suas alegações. TEMA 3 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E DA DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DA PROVA Os tribunais têm mitigado a aplicação dos arts. 818, I e II, da CLT, e 373, I e II, do CPC, admitindo a inversão do ônus da prova em situações específicas, 6 como aquela prevista na súmula 338 do Tribunal Superior do Trabalho, que inverte o ônus com relação ao controle da jornada de trabalho para as empresas que possuem mais de 10 (dez) funcionários, atribuindo a empresa a obrigação de apresentar os cartões pontos para se aferir o horário laborado. O fundamento para se deferir a inversão do ônus da prova reside no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, que assim prevê: Art. 6.º – (in omissis) VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; O princípio da proteção, tanto do consumidor quanto do trabalhador, permite o reconhecimento de ambos como hipossuficientes nas suas relações, permitindo que a obrigação de provar os fatos seja invertida em prol da facilitação do direito de defesa do vulnerável, o que tem servido como argumento para aplicar o art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor no Processo Trabalhista. Hodiernamente, tem-se admitido, quando a prova se tornar excessivamente difícil para uma das partes, que haja uma distribuição dinâmica dos encargos probatórios. Isso significa que é permitido ao juiz modificar a distribuição do ônus da prova, quando, no caso concreto, verificar que a outra parte tem melhores condições de produzir a prova, devendo, porém, fundamentar sua decisão, possibilitando à parte se desincumbir do ônus atribuído. Essa possibilidade, inclusive, consta expressamente no parágrafo 1º do art. 818 da CLT, que prevê: Art. 818. (in omissis) § 1.º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos deste artigo ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. O momento para que o juiz distribua o ônus da prova de maneira diversa é antes do início da audiência de instrução, permitindo-se à parte contra qual passou a recair o encargo probatório requerer o adiamento da audiência, a fim de lhe garantir o exercício da ampla defesa e do contraditório. 7 Ressalta-se que, em que pese a previsão legal para distribuir o ônus probatório da forma dinâmica, essa decisão não poderá “gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil”. Ultrapassada as questões iniciais relativas ao ônus da prova, passamos a tratar especificamente dos meios de provas previstos em nosso ordenamento jurídico. TEMA 4 – DOS MEIOS DE PROVAS Os meios de prova nada mais são do que a forma que o direito vindicado será demonstrado para o juiz, havendo previsão em nosso ordenamento jurídico de diversas formas de produção de provas. Esses meios de provar devem ser lícitos, haja vista a proibição expressa do art. 5.º, LVI, da CF/1988, de produzirem provas ilícitas. Os principiais meios de prova no processo do trabalho são: depoimento pessoal e interrogatório, prova testemunhal, documental e pericial. 4.1 Depoimento pessoal e interrogatório No processo do trabalho, o depoimento pessoal e o interrogatório tem sua previsão nos arts. 820 e 848 da CLT, que preveem que, terminada a defesa, poderá o presidente, de ofício ou a requerimento das partes, interrogar os litigantes, bem como que “as partes e testemunhas serão inquiridas pelo juiz ou presidente, podendo ser reinquiridas, por seu intermédio, a requerimento dos juízes classistas, das partes, seus representantes ou advogados”. O objetivo do interrogatório e do depoimento pessoal é obter a confissão real das partes, que, se obtida durante o depoimento, goza de presunção absoluta de veracidade, retirando o encargo probatório da parte que dela aproveita. Confessado pelas partes, e gozando de presunção absoluta de veracidade a confissão real, pode o juiz inclusive dispensar outras provas que foram ou ainda seriam produzidas, como a oitiva de testemunhas, por exemplo. 8 4.2 Da prova testemunhal A prova testemunhal é amplamente utilizada na Justiça do Trabalho, muito embora se reconheça ser o mais inseguro, ante a subjetividade possível dos seus relatos. Há situações na Justiça do Trabalho que a prova testemunhal pode ter um valor probante muito maior do que outros meios de provas obtidos, em obediência ao princípio da primazia da realidade sobre a forma, em que se prestigia a realidade dos fatos em detrimento dos documentos produzidos. No processo do trabalho, são admitidas até 3 (três) testemunhas no rito ordinário e 2 (duas) no rito sumaríssimo. Podem servir como testemunha toda pessoa natural que esteja em pleno gozo da sua capacidade civil e que não sejam suspeitas e impedidas. O rol dos suspeitos e impedidos de prestar depoimento na condição de testemunha encontra previsão no art. 447, parágrafos 2.º e 3.º, do Código de Processo Civil brasileiro. A testemunha não considerada suspeita ou impedida presta perante o juiz o compromisso legal de dizer a verdade, podendo ser civilmente e criminalmente responsabilizada por informações falsas prestadas, mediante comunicação aos órgãos competentes. 4.3 Da prova documental A prova documental consiste em documentos escritos que cada uma das partes possui e serve para comprovar o direito alegado. É largamente utilizada no processo do trabalho, citando como exemplo os documentos relacionados à relação trabalhista que existiu (ou existe) entre partes, como carta de aviso prévio, contrato de trabalho, holerites, ficha de EPI, cartões ponto etc. Aplicando-se as regras do Código de Processo Civil, cabe ao autor juntar com a inicial os documentos que embasaram seu pedido, e da mesma forma, o réu juntar com a defesa os documentos que entende servirem como prova dos fatos impeditivos, extintivos e modificativos do direito do reclamante (art. 434, caput, do CPC). 9 Nada obstante a isso, o art. 435, caput, do CPC, tem autorizado a apresentação de prova documental em momento posterior, “quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos”. No que concerne à juntada de documentos na fase recursal, o TST sedimentou entendimento de que apenas de forma excepcional é permitida a juntada de novos documentos, conforme redação da súmula n. 8, que prevê: Súmula n. 8 do TST JUNTADA DE DOCUMENTO A juntada de documentos na fase recursal só se justifica quando provado o justo impedimento para sua oportuna apresentação ou se referir a fato posterior à sentença. Quanto à autenticidade dos documentos, o art. 830, caput, da CLT permite que o advogado declare a autenticidade dos documentos apresentados, podendo a outra parte apresentar impugnação à autenticidade, com a determinação de apresentação de documento original para conferência (parágrafo único do art. 830 da CLT). 4.4 Prova pericial Se, em determinados fatos, a comprovação das alegações demandar conhecimentos técnicos, o juízo será assistindo por um perito, que exerce, de acordo com o art. 156 do CPC, a função de auxiliar de justiça. A prova pericial poderá ser um exame,uma vistoria ou uma avalição, que, após realizado, culminará na elaboração de um laudo pericial, em que as partes poderão se manifestar sobre as conclusões do perito, de acordo com o resultado obtido. Para a realização da perícia, as partes poderão indicar assistentes técnicos e formularem quesitos a serem respondidos pelo expert, sem prejuízo de eventual solicitação de esclarecimentos ou elaboração de quesitos complementares. A prova pericial poderá ser requerida pela parte ou de ofício pelo juiz, ressalvado a obrigatoriedade de se produzir prova pericial para apuração da existência de labor em condições de insalubridade e periculosidade, mesmo em caso de revelia, por força do art. 195, caput, e parágrafo 2.º da CLT. 10 Com relação aos honorários do perito, deve aquele que requereu a prova efetuar o pagamento, admitindo-se na prática trabalhista que a responsabilidade pelo pagamento seja feita pela parte sucumbente no objeto da perícia. Importante mencionar que a CLT passou a prever de forma expressa a vedação da cobrança de honorários periciais antes da realização da perícia, na forma do art. 790, parágrafo 3º, da CLT. Por fim, com relação à prova pericial emprestada, tem-se admitido sua utilização quando houver identidade de fatos, atentando-se ao exercício do contraditório para manifestação das partes sobre a prova produzida. TEMA 5 – DAS AÇÕES ESPECIAIS ADMISSÍVEIS AO PROCESSO DO TRABALHO A CLT prevê, em seu art. 769, caput, a aplicação subsidiária do direito processual comum, e, tendo em vista que a competência da Justiça do Trabalho foi ampliada com a EC. 45/2004, algumas ações passaram a admitidas ao processo trabalhista. Assim, adaptando-se às particularidades do processo do trabalho, são admitidos procedimentos que, em um primeiro momento, destinavam-se ao direito comum, mas que, por força do advento da EC 45/2004, também passaram a ser utilizadas na Justiça do Trabalho. Dentre essas ações, podemos destacar a ação de consignação em pagamento, as ações cautelares e a ação monitória, e a ação de prestação de contas. 5.1 Ação de consignação em pagamento A ação de consignação em pagamento, usualmente chamada de ACPg, é um procedimento especial de jurisdição contenciosa, com previsão nos arts. 539 a 549 do Código de Processo Civil brasileiro. As hipóteses de cabimento da Ação de Consignação em Pagamento são encontradas na Lei Civil, estando previstos nos incisos do art. 335 do Código Civil brasileiro as hipóteses de cabimento da referida ação, vejamos: Art. 335. A consignação tem lugar: I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; 11 II – se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V – se pender litígio sobre o objeto do pagamento. Na Justiça do Trabalho, as hipóteses mais comuns em que são utilizadas a Ação de Consignação em Pagamento é para o pagamento das verbas rescisórias decorrentes da dispensa, quando, por exemplo, não se tem conhecimento do local em que se encontra o empregado que abandonou o emprego, ou no caso de falecimento do trabalhador, quando houver dúvidas sobre quem deve receber as verbas rescisórias. Possuem legitimidade ativa para propor a Ação de Consignação em Pagamento o devedor ou um terceiro com interesse no pagamento da dívida, conforme previsto no art. 539, caput, do CPC. Quanto ao polo passivo, em regra, é o empregado que figura nessa condição, por ser o destinatário do pagamento que pretende ser realizado, não havendo, porém, nenhum impedimento para que o empregador também figure no polo passivo, quando necessita o trabalhador ajuizar ação de consignação em pagamento para, por exemplo, devolver ferramentas de trabalho que estão em sua posse. Para ajuizamento da Ação de Consignação em Pagamento, deve constar na petição inicial o requerimento para realizar o depósito da quantia devida, no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, e ainda, o pedido para citação do réu levantar o depósito ou apresentar contestação (art. 542, I e II, do CPC). Não sendo efetuado o depósito no prazo deferido pelo juiz, a consequência legal é a extinção do feito sem a resolução do mérito, conforme dispõe o parágrafo único do art. 542 do CPC. O réu consignado poderá apresentar defesa na audiência inicial, alegando que não houve recusa ou mora no recebimento, que foi justa a recusa, que o depósito não foi efetuado dentro do prazo ou no lugar do pagamento ou que o depósito não foi realizado de forma integral, na forma dos incisos I, II, III e IV do art. 544 do Código de Processo Civil brasileiro. A competência para julgamento é o local em que o pagamento deve ser realizado (art. 540, caput, do CPC), porém, é necessário se atentar que a CLT possui regramento próprio no que diz respeito à competência, especificamente 12 no art. 651, caput, que prevê a competência territorial para julgamento da demanda. Trata-se, contudo, de uma competência relativa, não podendo ser declarada de ofício, ou seja, se na contestação não for apresentada manifestação sobre esse fato, ficará prorrogada automaticamente a competência para julgamento no local em que foi originalmente distribuída a ação de consignação em pagamento. Há que se ressaltar que existe a possibilidade de o réu alegar a insuficiência do depósito; poderá o autor consignante fazer a sua complementação no prazo de 10 (dez) dias (art. 545, caput, do CPC), bem como é permitido ao consignado (réu) fazer o levantamento dos valores incontroversos, prosseguindo-se o feito com relação à parte controvertida. Por fim, julgando-se procedente o pedido, ou se o credor receber e dar quitação, será declarado pelo juiz extinta a obrigação, servindo o pagamento em consignação como efetivo pagamento da dívida, afastando-se a responsabilidade do consignante no que tange ao pagamento realizado em consignação. 5.2 Da ação monitória A ação monitória tem previsão no art. 700 do Código de Processo Civil brasileiro, que prevê: Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz: I – o pagamento de quantia em dinheiro; II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. A ação monitória tem como objetivo, portanto, dar eficácia executiva à prova escrita que não possua tal eficácia, especificamente para os fins colimados nos incisos I, II e III do mencionado art. 700 do CPC. A prova escrita, como alude a norma processual, pode ser uma prova oral transcrita, como uma gravação, ou mesmo conversas obtidas por meio de redes sociais, mediante elaboração de uma ata notarial. Havendo dúvidas sobre a licitude da prova, o juiz deverá intimar o credor para que proceda com a emenda da petição inicial, a fim de que seja adaptada 13 ao procedimento comum, deixando de seguir os trâmites notadamente mais céleres do procedimento especial, ex vi do art. 700, parágrafo 5.º, do CPC. Deferida a tramitação da demanda na forma de ação monitória, será expedido mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou não fazer, no prazo de 15 dias, podendo o réu nesse prazo apresentar embargos monitórios, que possuem efeito suspensivo, suspendendo a eficácia do mandado para pagamento até o seu julgamento. Não sendo apresentados os embargos, ou sendo estes rejeitados, “constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, prosseguindo-se o processo em observância aodisposto no Título II do Livro I da Parte Especial, no que for cabível”. A questão que merece ser debatida no presente momento é sobre o cabimento da ação monitória ao processo do trabalho, pois há corrente que defende que não são cabíveis, uma vez que não há previsão da realização de audiência de conciliação entre as partes, o que é uma obrigação segundo os arts. 764 e 846 da CLT. Outro argumento contrário seria o fato de que, no processo do trabalho, a regra é que a citação seja feita pelo correio, admitindo-se excepcionalmente a citação por oficial de justiça, o que não ocorre com a ação monitória, em que a citação apenas é feita por mandado. Contudo, em que pese os relevantes argumentos em sentido contrário, o entendimento que se tem sobre o tema é de, conforme leciona Carlos Henrique Bezzera Leite (2016, p. 1.740), que “todos esses os obstáculos podem ser ultrapassados se o enfoque a ser dado pelo operador do direito for inspirado no princípio constitucional de acesso ao Poder Judiciário”. Assim, perfeitamente cabível a ação monitória no processo do trabalho, desde que seja adequada às suas particularidades, por exemplo, aplicar o disposto no art. 701, caput, do CPC em detrimento das normas trabalhistas que preveem a necessidade de realizar uma audiência de conciliação em todos os casos, mormente pelo fato de que a economia e a celeridade processual estariam preservadas. No mais, as demais regras relativas ao procedimento monitório deverão seguir os trâmites previstos na norma processual civil, adequando-as, quando necessário, às regras específicas do processo do trabalho, como no caso do recurso cabível da sentença, pois é certo que o parágrafo 9.º do art. 702 do 14 CPC, que trata do recurso de apelação, é inaplicável ao processo trabalhista, ante a existência de regramento específico na norma celetária. Nossos tribunais têm se posicionado de forma favorável ao uso da ação monitória no processo do trabalho, vejamos: AÇÃO MONITÓRIA. CABIMENTO NA JUSTIÇA DO TRABALHO. Cabe ação monitória na Justiça do Trabalho ante a compatibilidade com os princípios da efetividade, celeridade, simplicidade e ausência de norma específica, na medida em que o que se busca na referida ação é a satisfação do direito de crédito trabalhista de uma forma mais efetiva, voltada à proteção do empregado hipossuficiente. Aplicação dos artigos 769 da CLT c/c 700 e 15 do NCPC. Recurso conhecido e provido. (TRT 11ª R.; RO 0002303-86.2015.5.11.0015; Primeira Turma; Rel.ª Des.ª Eleonora Saunier Gonçalves; DOJTAM 02/09/2016; p. 197) Assim, ante a compatibilidade da ação monitória, especialmente com os princípios que regem o processo do trabalho, admite-se o uso do procedimento nas hipóteses previstas no art. 700 e seguintes do Código de Processo Civil, devendo apenas ser adequados às normas contidas na Consolidação das Leis do Trabalho. 15 REFERÊNCIAS GARCIA, G. F. B. CLT Comentada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método: 2015. GRECO, L. Instituições de Processo Civil: introdução ao Direito Processual Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1. LEITE, C. H. B. Curso de Direito Processual do Trabalho. 14. ed., de acordo com o nono CPC. São Paulo: Saraiva, 2016. MARTINS, S. P. Comentários às Súmulas do TST. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015. TST – Tribunal Superior do Trabalho. Resolução Administrativa n.º 1.295/2008. Diário do Judiciário, Brasília, DF, 9 maio 2008. Disponível em: <http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/TST/Reg_Int_TST/Reg_Int.html>. Acesso em: 17 nov. 2018.
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