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AULA 04

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AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JUSTIÇA DO TRABALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Roberto de Carvalho Peixoto 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Depois de analisarmos a função dos órgãos que integram o poder judiciário 
trabalhista, passamos a tratar do tema sobre aqueles que atuam na Justiça do 
Trabalho na condição de parte. 
Como mencionamos em aulas anteriores, a justiça é inerte, dependendo 
da atuação de terceiros para que possa mover a “máquina estatal”, levando ao 
poder judiciário a sua pretensão no que concerne a direitos que foram violados, 
buscando a resolução do conflito pelos meios judiciais disponíveis aos 
jurisdicionados. 
Nesta aula, vamos tratar da legitimidade para estar em juízo, trazendo 
conceitos a respeito dos institutos das partes que litigam perante a Justiça do 
Trabalho, e ainda aquelas aos quais a lei autoriza a buscar em juízo a preservação 
de direitos da categoria profissional, como no caso dos sindicatos na defesa dos 
trabalhadores pertencentes a categoria profissional representada. 
Trataremos também das questões relativas à capacidade para ser parte no 
processo do trabalho, pois além da necessidade de legitimidade ad causam, a lei 
civil aplicada a Justiça do Trabalho faz com que os trabalhadores que possuem 
determinadas particularidades, por exemplo, menores de idade, possam levar a 
sua pretensão a juízo, desde que cumpridos requisitos legais para tal. 
Ademais, com relação a representação na Justiça do Trabalho de 
determinadas partes, demonstraremos de que forma é possível que terceiros 
sejam representados na proteção de seus direitos, e ainda as consequências 
jurídicas decorrentes de tal medida. 
Por fim, pretendemos nesta aula trazer as formas de atuação das diversas 
partes na Justiça do Trabalho, seja representando o interesse de terceiros, seja 
representando seus próprios interesses. 
CONTEXTUALIZANDO 
Para propor uma demanda judicial perante a Justiça do Trabalho, há na 
legislação alguns requisitos que devem ser observados, notadamente em razão 
de que é necessário que a parte que demandará ou que será demandada 
preencha determinados requisitos. 
 
 
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Assim, o questionamento que deve feito antes de se propor uma demanda 
trabalhista é se a parte que está propondo e aquela contra a qual é proposta 
possuem capacidade e legitimidade para estar em juízo. 
Embora sejam dos institutos que se referem as condições da ação, a 
capacidade e a legitimidade são instrumentos distintos. 
A capacidade se relaciona a condição da própria pessoa humana, 
especialmente no que concerne a assuntos relacionados a sua capacidade civil 
para ser parte na Justiça Especializada. 
Toda pessoa humana pode ser sujeito de direitos e obrigações, devendo 
para tanto possuir plena capacidade civil, pois se esta não se fizer presente, 
estaremos diante de um caso em que teremos que nos valer do chamado direito 
de representação. 
Quanto à legitimidade, vigora na lei processual civil o art. 18, que na sua 
redação afirma que é vedado pleitear em nome próprio um direito alheio, salvo em 
caso de autorização legislativa. 
Por essa razão, apenas algumas partes detêm o poder de pleitear um 
direito alheio, ensejando assim uma análise apurada destas partes, a fim de 
orientar o leitor sobre um momento crucial para litigar na Justiça do Trabalho, que 
é a verificação da legitimidade ad causam para o feito. 
TEMA 1 – DAS PARTES DO PROCESSO TRABALHISTA 
Na Justiça do Trabalho forma-se uma relação triangular, em que figuram o 
autor (os autores), o réu (os réus) e o Estado Juiz. 
No direito do trabalho, em razão da sua origem história, vinculada ao poder 
executivo, temos a figura do reclamante, caracterizado por ser aquele que busca 
a tutela do Estado deduzindo a sua pretensão em juízo, e do outro lado o 
reclamado, que é aquele a qual tal pedido é formulado. 
É possível que, na Justiça do Trabalho, haja uma pluralidade de pessoas 
litigando no polo ativo, passivo ou em ambos os polos, caracterizando-se, assim, 
a figura do litisconsórcio, cujo conceito é existência de interesses comuns entre 
aqueles integrantes do polo da relação jurídica processual que se ligam no plano 
subjetivo. 
O litisconsórcio, de acordo com o art. 113 do Código de Processo Civil, 
ocorre quando houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à 
 
 
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lide, entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir, ou 
quando ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. 
Nesse caso, estamos diante do litisconsorte relativo à sua posição, 
podendo, assim, ser considerado como ativo, passivo ou misto. 
Ainda pode ser o litisconsórcio inicial ou ulterior. O primeiro é o que ocorre 
comumente na justiça do trabalho, e se refere a aquelas ações ajuizadas por parte 
de um empregado contra mais de um empregador, por exemplo, em que se 
pretende o reconhecimento da responsabilidade subsidiária do tomador dos 
serviços na hipótese da súmula 331 do TST. 
Já o litisconsórcio ulterior ocorre depois de iniciado o processo, em 
situações em que a formação do litisconsórcio no polo passivo é considerada 
necessária, devendo ser determinada a citação de todos aqueles de que deveriam 
integrar obrigatoriamente a lide, por exemplo VI do art. 115 parágrafo único do 
Código de Processo Civil brasileiro, que transcrevemos: “Art. 115. (in omissis) 
Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz 
determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, 
dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo”. 
Pode ainda ser o litisconsórcio ser caracterizado como necessário ou 
facultativo. O facultativo decorre, como o próprio nome sugere, da efetiva vontade 
da parte em ajuizar demanda em conjunto com outros empregados do mesmo 
estabelecimento quando houver similitude no objeto da causa (art. 842¸ caput da 
CLT) ou de propor demanda em face apenas do empregador principal em caso 
de terceirização de serviços. 
Já o necessário, pode decorrer de lei ou “quando, pela natureza da relação 
jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que 
devam ser litisconsortes”, como disposto no art. 114, caput, do CPC. 
Por fim, há também a classificação do litisconsórcio quanto à necessidade 
de que a decisão a ser proferida seja uniforme. Se houver, estaremos diante de 
um litisconsórcio unitário, como no caso de uma ação anulatória de cláusula de 
convenção coletiva ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho, em que devem 
figurar como litisconsortes passivos necessários de forma unitária tanto o 
sindicato laboral quanto o sindicato patronal, tendo em vista que a decisão a ser 
proferida poderá, ao declarar a nulidade da cláusula, implicar na convenção 
coletiva da categoria celebrada pelos dois órgãos. 
 
 
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De outra banda, no que concerne ao litisconsórcio passivo unitário, 
podemos citar a obrigatoriedade de incluir a parte contrária na lide nesta condição, 
sob pena de extinção do processo, ou mesmo como já decidiu o Tribunal Regional 
do Trabalho da 10ª Região, a declaração de nulidade do processo com o retorno 
dos autos para citação de todos os litisconsortes, vejamos: 
MANDADO DE SEGURANÇA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO 
LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. NULIDADE. Configurada 
a hipótese de litisconsórcio necessário, a parte impetrante deve 
qualificá-lo e requerer sua citação para integrar a lide. No caso, tal 
exigência legal não foi cumprida, porquanto o impetrante não indicou e 
qualificou os litisconsortes necessários, deixando de requerer sua 
citação. Não obstante, tendo o litisconsorte em questão tomado 
conhecimento do processo e requerido sua inclusão na lide, entendo 
incabível, neste caso, a extinção do processo por indeferimento da 
petição inicial. Assim sendo, com fulcro nos artigos 114, 115 e 118, do 
CPC, declaro a nulidade doprocesso, devendo os autos retornar ao 
Juízo de origem para reiniciar seu trâmite, desta feita observando-se a 
citação de todos os litisconsortes. (TRT 10ª R.; RO 0000242-
69.2016.5.10.0009; Primeira Turma; Rel. Des. André Rodrigues Pereira 
da Veiga Damasceno; Julg. 26/10/2016; DEJTDF 16/11/2016; p. 37) 
Por fim, importante ressaltar a existência da denominada reclamatória 
plúrima. O conceito de reclamatória plúrima vem encampado no art. 842, caput, 
da CLT, que prevê: “Art. 842 – Sendo várias as reclamações e havendo identidade 
de matéria, poderão ser acumuladas num só processo, se se tratar de 
empregados da mesma empresa ou estabelecimento”. 
Considera-se, portanto, como “plúrima” a reclamatória em que a matéria a 
ser discutida for a mesma, e todos os reclamantes tenham laborado para o mesmo 
empregador, tratando-se de hipótese de litisconsórcio facultativo. 
Defende-se a tese de que essa forma de exercer o direito da ação na 
Justiça do Trabalho poderá ser prejudicial, primeiro a produção da prova, 
considerando a limitação do número de testemunhas que podem ser ouvidas (a 
depender da escolha do rito processual). 
Outra limitação que pode haver com relação a essa forma de reclamatória 
é no que tange ao comprometimento da celeridade processual caso existam 
muitos reclamantes integrando o polo passivo da demanda, ocorrendo o chamado 
litisconsorte multitudinário. Nesse caso, o juiz pode limitar o número de litigantes 
que integram o polo passivo, garantindo, assim, os princípios da celeridade da 
prestação jurisdicional e, ainda, garantindo o amplo direito de defesa da parte 
contrária. 
Os parágrafos 1º e 2º do art. 113 do CPC são claros nesse sentido: 
 
 
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§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de 
litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na 
execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou 
dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. 
§ 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação 
ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. 
Nesse caso, observando o juiz a existência de riscos a solução rápida do 
litígio ou dificuldades na defesa, deverá, após requerimento, interromper o prazo 
para manifestação ou resposta, conforme legislação transcrita. 
TEMA 2 – DA CAPACIDADE DE SER PARTE VERSUS CAPACIDADE 
PROCESSUAL 
A capacidade de ser parte, a capacidade processual e a postulatória são 
pressupostos processuais que devem ser observados pelas partes que litigam na 
Justiça do Trabalho. 
A capacidade para ser parte é garantida a todas as pessoas naturais e as 
pessoas físicas capazes de adquirir direitos e obrigações. Logo, todo ser humano 
tem capacidade de atuar como parte, sem embargos da sua idade, capacidade 
mental ou psíquica, seja na condição de autor, réu ou interveniente. 
A pessoa jurídica também pode ser parte, pois não obstante se tratar de 
uma ficção jurídica, não se tratando, portanto de uma pessoa natural, também 
podem ser sujeitos de direitos e obrigações, desde que sejam representadas 
judicialmente e extrajudicialmente. 
No que concerne à capacidade processual, o Código de Processo Civil 
brasileiro dispõe em seu art. 70, caput, que “Toda pessoa que se encontre no 
exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo”. 
Portanto, para estar em juízo, é necessário que a parte tenha capacidade 
para praticar os atos da vida civil e administrar os seus bens. 
De acordo com o art. 5º do Código Civil, a aquisição da capacidade plena 
começa quando a pessoa completa 18 anos de idade, o que importa em dizer que 
a partir desta idade já pode demandar perante a Justiça do Trabalho, 
independentemente da assistência ou representação por parte de terceiros (salvo 
em caso daqueles descritos no art. 4º, II, III e IV do Código Civil e art. 71 do Código 
de Processo Civil). 
No direito do trabalho, no que tange à capacidade processual, deve-se 
aplicar o art. 402, caput, da CLT, que assim dispõem: “Art. 402. Considera-se 
 
 
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menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito 
anos”. 
Ressalta-se que para o menor de 16 (dezesseis) anos, haverá o instituto 
da representação, ao passo que, para aquele entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) 
anos, será o da assistência. 
No que tange à pessoa jurídica, esta será representada em juízo, de acordo 
com o Código Civil em seu art. 75, VIII “por quem os respectivos atos constitutivos 
designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores”. 
Não obstante a previsão na norma civil sobre o tema, admite-se na Justiça 
do Trabalho a substituição, na audiência de instrução e julgamento, a substituição 
do empregador pelo gerente ou qualquer outro preposto que tenha conhecimento 
sobre os fatos, conforme inteligência do art. 843, parágrafo 1º da CLT. 
Ultrapassada a questão relativa à capacidade processual para ser parte na 
Justiça do Trabalho, passamos a tratar do tema relativo a capacidade postulatória. 
2.1 Do jus postulandi na Justiça do Trabalho 
O art. 133 da Constituição Federal dispõe que “O advogado é indispensável 
à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no 
exercício da profissão, nos limites da lei”. 
Tratando-se de norma de eficácia contida, coube a legislação ordinária 
dispor a respeito da representação do tema, estando assim previsto no art. 1º, da 
Lei n. 8.906/1994 que dispõe: “Art. 1º São atividades privativas de advocacia: I – 
a postulação a órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais”. 
Logo, poderia defender a tese de que, para que a parte litigasse perante a 
Justiça do Trabalho, deveria obrigatoriamente se valer de advogado. 
Ocorre que na Justiça do Trabalho vigora o art. 791 que prevê o exercício 
do jus postulandi, ou seja, permite que a própria parte envolvida no litígio possa 
deduzir a sua pretensão ou mesmo apresentar a sua defesa, vejamos: “Art. 791 
Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a 
Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final”. 
Observa-se que no parágrafo primeiro do citado art. consta a expressão 
que a parte poderá ser representada por um advogado, não se constituindo como 
uma obrigatoriedade como previsto na norma processual civil, especificamente no 
art. 103, caput do CPC, cuja expressão do texto legal é será representada. 
 
 
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O referido tema inclusive foi objeto da ADI n. 1.127-8, proposta pela 
Associação dos Magistrados do Brasil – AMB, em que se decidiu que a 
capacidade postulatória do advogado não é obrigatória na Justiça do Trabalho, 
permanecendo em vigor, portanto, o direito do próprio empregado e do 
empregador postularem em juízo. 
Contudo, não obstante a previsão legal autorizando o acompanhamento do 
processo “até o final”, houve limitação por parte do Tribunal Superior do Trabalho 
a respeito do tema, determinando órgão superior em matéria trabalhista que o jus 
postulandi das partes é limitada as Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais 
do Trabalho, excluindo essa possibilidade no caso de ação rescisória, mandado 
de segurança, ação cautelar e os recursos no TST, conforme redação da súmula 
425, que prevê: 
Súmula nº 425 do TST 
JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO. ALCANCE. Res. 
165/2010, DEJT divulgado em 30.04.2010 e 03 e 04.05.2010 
O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se 
às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não 
alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança 
e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho. 
Logo, e finalizando o tema, conclui-se que não há obrigação de que as 
partes estejam acompanhadas de advogado para litigar na Justiça do Trabalho, 
pois não houve a revogação do art. 791, caput, da CLT, salvo em caso de recursos 
ao Tribunal Superior do Trabalho, ao Supremo Tribunal Federal,e ainda em caso 
de ação rescisórias, cautelar e em sede de mandado de segurança. 
TEMA 3 – DA REPRESENTAÇÃO E DA ASSISTÊNCIA 
O conceito de representar tem como significado a possibilidade de uma 
pessoa figurar em um dos polos da relação jurídica processual defendendo os 
interesses de terceiros. 
Podemos dividir a representação em legal, como em situações em que a 
própria legislação dispõe sobre o assunto, ou convencional, prevista em atos 
constitutivos. 
Como exemplo, cita-se a representação legal das pessoas jurídicas de 
direito público, que encontra previsão nos incisos I e II do art. 75 do Código de 
Processo Civil, enquanto a representação das pessoas jurídicas de direito privado 
vem disposta no art. 75, VIII, primeira parte, do mesmo diploma legal. 
 
 
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Muito embora a legislação trabalhista trate em diversos artigos a expressão 
“assistência”, esta foi equivocadamente utilizada pelo legislador, pois cita como 
exemplo o art. 791, parágrafo 2º da CLT, que trata da “assistência” do advogado 
nos dissídios coletivos, quando na realidade este realiza a “representação”. 
A assistência, em termos processuais, abrange uma séria de situações na 
Justiça do Trabalho, como a assistência de menores, assistência judiciária 
gratuita, entre outras, não se confundindo, portanto, com a representação 
processual. 
Na Justiça do Trabalho, as pessoas físicas que possuem capacidade civil 
de forma plena gozam de total capacidade processual, o que não ocorre com 
aquelas que não possuem dita capacidade, que deverão ser representadas ou 
assistidas, na forma do art. 71, caput, do CPC. 
Não havendo representante legal para o incapaz, ou mesmo havendo 
conflito de interesses, será nomeado um curador especial, como previsto no art. 
72, I do Código de Processo Civil brasileiro, situação idêntica ocorre com o réu 
preso ou com aquele citado por edital. 
Na justiça do trabalho existe ainda a possibilidade de que o empregado seja 
representando por outro empregado caso não possa comparecer à audiência por 
motivo de doença ou outro motivo, conforme expressa disposição no art. 843, 
parágrafo 2º da CLT. 
Nesse caso, embora a norma mencione que o empregado (não o 
reclamante) vai “representar”, não se trata do instituto da representação 
processual propriamente dito, mas sim de uma possibilidade legal para evitar que 
demanda seja arquivada pela ausência do empregado. 
Assim, pode-se dizer que, nesta hipótese, fica aberta a possibilidade de 
que seja justificado por um terceiro (empregado da mesma categoria) a ausência 
do reclamante a audiência, porém, sem que aquele tenha poderes para praticar 
atos inerentes a representação, como confessar, transigir e desistir da ação. 
O empregado falecido, na forma disposta na lei processual civil, 
especificamente no art. 75, VII do CPC, deve ser representando pelo inventariante 
em juízo. 
Contudo, a praxe tem demonstrado que muitas vezes a família do 
empregado falecido deixa de abrir inventário, mormente pelo fato de que não raro 
não há bens a serem inventariados, inexistindo, portanto, a figura do 
“inventariante”. 
 
 
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Por tal razão, admite-se que o empregado seja representando em juízos 
por seus herdeiros, dependentes ou mesmo pelo espólio. Na prática, o que se vê 
no dia a dia da Justiça do Trabalho, é que há o reconhecimento da aplicação do 
art. 1º da Lei n. 6.858/1980 ao processo do trabalho. O referido artigo dispõe que: 
Art. 1º Os valores devidos pelos empregadores aos empregados e os 
montantes das contas individuais do Fundo de Garantia do Tempo de 
Serviço e do Fundo de Participação PIS-PASEP, não recebidos em vida 
pelos respectivos titulares, serão pagos, em quotas iguais, aos 
dependentes habilitados perante a Previdência Social ou na forma da 
legislação específica dos servidores civis e militares, e, na sua falta, aos 
sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial, 
independentemente de inventário ou arrolamento. 
Logo, inexistindo a abertura do processo de inventário com a nomeação de 
inventariante, tem-se admitido a representação do empregado falecido por seus 
representantes habilitados perante a Previdência Social, conforme entendimento 
dos nossos tribunais. Vejamos: 
ESPÓLIO. REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO. INVENTARIANTE. PROVA. 
Da análise da prova constante dos autos, resta indubitável que são 
legitimados ativos para ajuizar reclamação visando à satisfação de 
direitos trabalhistas do empregado falecido os dependentes arrolados 
junto ao INSS e, inexistindo estes, todos os sucessores do de cujus 
previstos na Lei Civil, independentemente de inventário ou arrolamento. 
(TRT 5ª R.; RO 0000495-91.2014.5.05.0033; Terceira Turma; Rel. Des. 
Washington Gutemberg Pires; DEJTBA 04/02/2015). 
Até a entrada em vigor do novo texto da CLT, sancionado em 13 de julho 
de 2017, a pessoa jurídica, na forma que dispõe o art. 843, parágrafo 1º, deverá 
ser representada na Justiça do Trabalho por seu gerente ou qualquer outro 
preposto que tenha conhecimento dos fatos. 
Trata-se da tão importante figura do “preposto”, que tem o poder de 
representar a empresa perante a Justiça do Trabalho, podendo inclusive 
confessar e transigir, devendo, atualmente, obrigatoriamente ser empregado da 
empresa que lhe confere poderes, sob pena de considerado como revel. 
A exceção para essa regra é nos casos de reclamatória contra pessoa 
física empregadora doméstica e nos casos de reclamatória contra micro ou 
pequeno empresário, na forma do art. 54 da Lei Complementar n. 123/2006 e no 
entendimento consolidado na Súmula n. 377 do Colendo Tribunal Superior do 
Trabalho. 
Contudo, como dito, a reforma trabalhista vai modificar significativamente 
essa questão, pois no art. 843 foi incluído o parágrafo 3º, que permitirá que o 
preposto não seja mais empregado da parte reclamada. 
 
 
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TEMA 4 – DA SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL 
O art. 18 do Código de Processo Civil brasileiro prevê a regra geral no que 
concerne a legitimidade das partes, prevendo que ninguém poderá pleitear em 
nome próprio direito alheio, salvo havendo autorização legal para tanto. 
Trata-se do instituto da substituição processual, que doutrinariamente é 
considerada uma espécie de legitimação extraordinária, permitindo 
excepcionalmente que terceiros autorizados por lei figurem no processo devendo 
interesses de terceiro. 
No direito processual trabalhista, a Constituição Federal de 1988 em seu 
art. 8º, III, garante ao sindicato o direito de defesa dos interesses individuais e 
coletivo da categoria profissional. O referido artigo dispõe: “Art. 8º É livre a 
associação profissional ou sindical, observado o seguinte: III – ao sindicato cabe 
a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive 
em questões judiciais ou administrativas”. 
Dessa forma, é garantida a atuação sindical na condição de substituto 
processual para defesa dos interesses dos empregados integrantes da categoria 
profissional representada. 
Discutia-se antigamente sobre o alcance dessa representação processual. 
De acordo com o Tribunal Superior do Trabalho, em tempos passados, limitava-
se a atuação do sindicato a algumas situações, e apenas com relação, em certos 
casos, aos seus associados, devendo ainda na petição inicial constar o rol de 
substituídos. 
Sobre esse assunto, inclusive, havia previsão na Súmula n. 310 do TST, 
que hoje está cancelada, pois o Supremo Tribunal Federal pacificou o 
entendimento de que não existe qualquer limitação a atuação do sindicato no art. 
8º, III da Constituição Federal, não havendo assim restrição quanto a matéria 
objeto da demanda ou mesmo expressa autorização dos sindicalizados para que 
ocorra a substituição processual. 
Assim, considerando que os direitos individuais homogêneos podem ser 
individualizados em razão da sua origem comum, temos possibilidade de que 
sejam tutelados por demanda coletiva, tratando-se, portanto deuma legitimidade 
extraordinária, caracterizando-se como uma substituição processual. 
 
 
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TEMA 5 – DA SUCESSÃO PROCESSUAL 
A sucessão processual não se confunde com a figura da substituição 
processual. 
 Na substituição processual, um terceiro substituiu o titular do direito para 
pleitear em juízo, enquanto na sucessão processual, uma das partes deixar a 
relação processual, deixando a cargo de terceiro assumir a ação, o que pode 
ocorrer tanto no polo ativo quanto no polo passivo. 
Vale ressaltar que a sucessão processual pode decorrer por ato intervivos 
ou causa mortis. 
No caso da pessoa física, a sucessão processual ocorre com a morte, vale 
dizer, falecendo o empregado titular do direito material durante o processo, este 
será substituído por seu espólio, na figura do seu inventariante. 
Assim, ocorrendo a morte do empregado proponente da ação trabalhista, 
deverá o juiz intimar o seu espólio, suspendendo o processo, nos termos que 
dispõe o art. 313, I, parágrafo 1º do Código de Processo Civil brasileiro. 
Já com relação a sucessão da pessoa jurídica, a Consolidação das Leis do 
Trabalho possui em seus arts. 10 e 448 disposições sobre o assunto, dispondo 
em síntese que nenhuma alteração na estrutura jurídica da empresa deve afetar 
os contratos de trabalho dos seus empregados. 
Isto significa, processualmente falando, que na hipótese de sucessão 
empresarial em razão da alienação do estabelecimento comercial, por exemplo, 
os contratos de trabalho permanecerão vigentes, sendo vinculados, portanto, à 
nova empresa. 
Logo, ocorrendo a sucessão empresarial, a sucessora passará a ser parte 
legítima para responder por direitos trabalhistas dos empregados da empresa 
sucedida, ainda que anteriores à sucessão, passando a ser considerada assim 
como titular da ação proposta. 
Sobre esse assunto, a reforma trabalhista afastou integralmente a 
responsabilidade da sucedida pelas obrigações trabalhistas, incluindo na CLT o 
art. 448-A, limitando a responsabilidade desta, de forma solidária, apenas quando 
houve fraude na transferência. 
 
 
 
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FINALIZANDO 
A capacidade civil inicia-se a partir do momento que pessoa natural adquire 
a maioridade civil, o que na forma do art. 5º, do Código Civil brasileiro começa aos 
18 (dezoito) anos de idade. Logo, adquirindo a maioridade, a pessoa poderá 
exercer isoladamente o seu direito de ação, quando autora, ou mesmo ser 
demandada, caso figure como réu. 
A capacidade, portanto, se refere à aquisição por parte de um possível 
titular de um direito de estar em juízo pleiteando direito próprio. Inexistindo a 
capacidade plena, a lei prevê o instituto da representação e o da assistência, 
sendo o primeiro destinado àqueles que possuem incapacidade absoluta, e o 
segundo, incapacidade relativa para a prática dos atos da vida civil. 
Além da capacidade, temos a legitimidade para estar em juízo. A parte que 
possui capacidade, via de regra, também possui legitimidade, inclusive para 
representar a si próprio perante a Justiça do Trabalho, pois a CLT ainda permite 
que a parte exerça o seu jus postulandi, limitando-se, contudo à primeira e 
segunda instâncias, sendo necessária a representação de terceiros caso seja 
necessário debater a demanda nas instâncias extraordinárias. 
Há no direito brasileiro diversas formas de representação, que podem 
decorrer da própria necessidade pela ocorrência de determinados fatos jurídicos, 
como a morte do titular da ação, em que passaria a ser o titular o inventariante, 
ou, na sua falta, o espólio do empregado e/ou aqueles beneficiários habilitados 
perante a previdência social. 
De outra banda, prevê a lei que ninguém poderá pleitear em nome próprio 
um direito alheio, salvo exceções legais. Daí que temos a possibilidade de que 
alguns órgãos, por exemplo, os sindicatos, possam representar interesses de 
terceiros perante a Justiça do Trabalho, tratando-se de uma legitimação 
extraordinária na busca da reparação de um possível direito coletivo que possa 
ser violado. 
A própria Constituição Federal de 1988 garante a este órgão (não de forma 
exclusiva) a defesa do interesse da categoria a qual representam, de forma ampla, 
como bem já decidiu o Supremo Tribunal Federal, o que inclusive fez com que o 
TST cancelasse súmula limitativa do direito previsto no art. 8º, III da Lei Maior do 
Estado brasileiro. 
 
 
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Por fim, mas não menos relevante, outra forma de que terceiros passem a 
integrar a relação jurídica processual é na hipótese de sucessão processual, em 
que ao contrário da substituição processual, uma parte não exerce o direito de 
ação em nome de terceiro, mas sim ocorre um fato que torna necessário que outro 
integre a lide na condição de sucessor, como no caso de morte do empregado ou 
sucessão empresarial. 
Assim, vimos o quão relevante é o tema ora tratado, servindo tais questões 
como forma de estabilizar a lide, impedindo que questões referentes a capacidade 
de parte e legitimidade possam causar, por que não, um tumulto processual e 
ainda impedir a prestação jurisdicional de forma célere e eficaz. 
LEITURA OBRIGATÓRIA 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Diário Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. 
Acesso em: 19 out. 2018. 
_____. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do 
Trabalho. Diário Oficial da União, 9 ago. 1943. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 19 
out. 2018. 
_____. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Diário Oficial da União, Brasília, 
17 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
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_____. Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. Diário Oficial da 
União, Brasília, 9 maio 2008. Disponível em: <http://www.trtsp.jus.br/geral/tribun
al2/TST/Reg_Int_TST/Reg_Int.html>. Acesso em: 19 out. 2018. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
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GRECO, L. Instituições de processo civil: introdução ao direito processual civil. 
3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1. 
LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2016. 
MARTINS, S. P. Comentários as Súmulas do TST. 15. ed. São Paulo: Atlas, 
2015.

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