Buscar

AULA 02

Prévia do material em texto

AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JUSTIÇA DO TRABALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Roberto de Carvalho Peixoto 
 
 
 
2 
TEMA 1 – DA COMPETÊNCIA DE JUSTIÇA DO TRABALHO – EMENDA 
CONSTITUCIONAL N. 45, DE 2004 
A entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro 
de 2004, trouxe significativas alterações na competência da Justiça do 
Trabalho. 
Para facilitar o estudo, transcreveremos a seguir a íntegra do disposto 
no art. 114 da nossa Constituição Federal (Brasil, 1988), que prevê: 
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar 
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de 
direito público externo e da administração pública direta e indireta da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; 
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; 
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre 
sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; 
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data 
quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; 
V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição 
trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; 
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, 
decorrentes da relação de trabalho; 
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos 
empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; 
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 
195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças 
que proferir; 
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma 
da lei. 
Como visto, houve significativo avanço por parte da legislação aplicável 
ao tema, pois antes de Emenda Constitucional n. 45/2004, a redação do caput 
do art. 114 era muito módico, o que dava margem a diversas interpretações 
sobre o tema e, não raramente, conflitos negativos e positivos de competência, 
atrasando a prestação da tutela jurisdicional. 
Passaremos a tratar especificamente das espécies de competências. 
TEMA 2 – DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA: RATIONE 
MATERIAE 
No direito do trabalho, a competência em razão da matéria decorre do 
tipo de ação proposta. A partir do advento das alterações trazidas pela Emenda 
Constitucional n. 45/2004, as relações oriundas de qualquer contrato trabalhista 
submetido às regras do Decreto-Lei n .5.452, de 1º de maio de 1943, isto é, da 
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ensejam jurisdicionalmente pedidos 
 
 
3 
de natureza trabalhista. 
Logo, é de se reconhecer que nesses casos a competência, em razão 
da matéria envolvida, é exclusiva da Justiça do Trabalho, fato reconhecido pelo 
Supremo Tribunal Federal (STF) em diversos dos seus julgados. 
 Vejamos a decisão proferida pelo referido órgão ao reconhecer que 
pedidos fundados em direitos assegurados pela CLT competem à Justiça 
laboral (Brasil, 2017): 
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. ADI-MC 
3395. PLEITO FUNDADO EM DIREITOS ASSEGURADOS PELA 
CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS. COMPETÊNCIA DA 
JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. É improcedente a reclamação quando o 
ato reclamado não contraria a decisão proferida na ADI-MC 3395. 2. 
A apuração da competência material para o julgamento da demanda 
não pode depender de instrução probatória, devendo ser verificada 
no momento da propositura da ação, em observância ao disposto no 
artigo 43 do Código de Processo Civil de 2015. 3. Agravo regimental, 
interposto em 23.06.2016, a que se nega provimento. 
Observe o entendimento do STF a respeito da competência da Justiça 
do Trabalho: se a demanda discutir direitos assegurados pela CLT, a 
competência será exclusiva da Justiça do Trabalho. 
Filiados à lição de Carlos Henrique Bezerra Leite (2016), podemos dividir 
a competência material em original, derivada e executória. 
A competência material original é aquela que decorre da relação de 
emprego, basicamente entre empregados e empregadores, cujo debate se 
refere a um contrato individual de trabalho, situação em que a competência é 
da Justiça do Trabalho, porém nos mesmos moldes anteriores à Emenda 
Constitucional n. 45/2004. 
Alterações ocorreram em relação a alguns direitos, como, por exemplo, 
o dano moral individual decorrente de um contrato de trabalho. Não obstante se 
tratar de um direito (ou de sua violação) baseado em uma relação 
empregatícia, antes da promulgação da Carta Magna (Brasil, 1988) o 
entendimento jurisprudencial era de que a competência cabia à Justiça 
Comum. 
Por outro lado, o STF, em algumas decisões anteriores à referida 
emenda, já reconheceu que a competência para julgamento de relações 
trabalhistas era sim da Justiça do Trabalho em vez da Justiça Comum. 
Podemos citar como precedente a decisão proferida no conflito de competência 
n. 6.959-6/DF, de relatoria do então Ministro Sepúlveda Pertence (Brasil, 1991). 
 
 
4 
Contudo, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, em âmbito 
constitucional não pairava mais nenhuma dúvida sobre a competência da 
Justiça do Trabalho para o julgamento de ações envolvendo dano moral 
decorrente de um contrato de trabalho, razão pela qual o Tribunal Superior do 
Trabalho (TST) alterou sua Súmula n. 392, que agora assim prevê: 
DANO MORAL E MATERIAL. RELAÇÃO DE TRABALHO. 
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO (redação alterada em 
sessão do Tribunal Pleno realizada em 27.10.2015) - Res. 200/2015, 
DEJT divulgado em 29.10.2015 e 03 e 04.11.2015 Nos termos do art. 
114, inc. VI, da Constituição da República, a Justiça do Trabalho é 
competente para processar e julgar ações de indenização por dano 
moral e material, decorrentes da relação de trabalho, inclusive as 
oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas, ainda 
que propostas pelos dependentes ou sucessores do trabalhador 
falecido. (Brasil, 2015) 
Quanto aos danos morais coletivos, a sua competência no que diz 
respeito à matéria trabalhista também é da Justiça do Trabalho, havendo, 
inclusive, previsão tanto constitucional quanto legal que reconhecem a 
competência para julgar e processar ação civil pública que visa reparação 
moral coletiva, como é caso do art. 129, III, da Carta Magna; da Lei 
Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993 (art. 6º, VII, art. 83; III e art. 84), 
bem como do art. 1º da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. 
Ainda sobre os danos morais, temos aqueles decorrentes de uma 
relação pré-contratual e pós-contratual. 
A responsabilidade pré-contratual é aquela relacionada a fatos 
anteriores à formação do efetivo contrato de trabalho, mais precisamente 
durante a fase de contratação em que há uma provável expectativa. Ou seja: 
corresponde à existência de uma efetiva promessa de emprego que não se 
concretizou por motivos desconhecidos pelo sujeito que pleiteou a condição de 
empregado, o que enseja a reparação dos danos advindos dessa violação ao 
direito do trabalhador. 
Já a responsabilidade pós-contratual é a que ocorre por fatos ocorridos 
após a extinção do contrato de trabalho, como, por exemplo, a informação que 
prejudica o trabalhador em uma eventual recolocação no mercado de trabalho, 
nas ocasiões em que são solicitadas referências do empregado. 
Em ambos os casos a competência é exclusiva da Justiça do Trabalho, 
muito embora os motivos do dano não tenham ocorrido durante o vínculo 
laboral. 
 
 
5 
Ademais, também compete à Justiça trabalhista o julgamento de ações 
que envolvem o meio ambiente de trabalho, especialmente quando se trata de 
questões relativas à segurança e à saúde do trabalhador, a exemplo do que 
dispõem o art. 200, VII e o art. 7º, XXII e XXVIII, da Carta de Outubro (Brasil, 
1988). 
Também é de competência da referida Justiça especializada, na forma 
do art. 114, inciso VIII da Constituição Federal (Brasil, 1988) “a execução,de 
ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus 
acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”. Sobre esse ponto, 
menciona-se que existe a Súmula n. 368 do TST com tal previsão, conforme se 
observa: 
DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. 
RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO 
I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o 
recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do 
Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, 
limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos 
valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de 
contribuição. (Brasil, 2012) 
Vale mencionar que não houve o reconhecimento constitucional de que 
as contribuições previdenciárias destinadas a terceiros também poderiam ser 
executadas na Justiça do Trabalho, pois a exegese de seu art. 114 não inclui 
as referidas parcelas. Porém, a matéria encontra-se pacificada no âmbito do 
TST, muito embora em algumas ocasiões há uma tentativa de cobrança desses 
valores na execução trabalhista, o que pode e deve ser questionado com os 
meios processuais próprios. 
Quanto às contribuições destinadas ao Seguro de Acidente de Trabalho 
(SAT), há entendimento doutrinário de que a competência não seria da Justiça 
do Trabalho, mas da Comum, pois entende Carlos Henrique Bezerra Leite 
(2016) que se trata de uma contribuição previdenciária parafiscal. 
Discordando do referido entendimento acadêmico, prevalece no TST a 
tese de que a execução desse valor compete efetivamente à Justiça 
especializada (Brasil, 2014). Vejamos a Súmula n. 454, de 19 de maio de 2014: 
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. EXECUÇÃO DE 
OFÍCIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL REFERENTE AO SEGURO DE 
ACIDENTE DE TRABALHO (SAT). ARTS. 114, VIII, E 195, I, “A”, DA 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. (conversão da Orientação 
Jurisprudencial nº 414 da SBDI-1) – Res. 194/2014, DEJT divulgado 
em 21, 22 e 23.05.2014. 
6 
Compete à Justiça do Trabalho a execução, de ofício, da contribuição 
referente ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), que tem 
natureza de contribuição para a seguridade social (arts. 114, VIII, e 
195, I, “a”, da CF), pois se destina ao financiamento de benefícios 
relativos à incapacidade do empregado decorrente de infortúnio no 
trabalho. (arts. 11 e 22 da Lei nº 8.212/1991) 
Com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, diversas outras 
matérias que alhures não eram julgadas pela Justiça do Trabalho passaram a 
ser admitidas. Citam-se como exemplo as ações possessórias e o interdito 
proibitório, que embora tratem de matéria de ordem civil, admite-se em 
algumas situações a utilização dessas ações. Por exemplo: quando o 
empregador retém os instrumentos ou equipamento do trabalhador, além do 
interdito proibitório para garantir o acesso aos empregados em caso de greve. 
Nesse último caso, a Súmula Vinculante n. 23 do STF, de 10 de novembro de 
2009, consagra a competência da Justiça do Trabalho para o julgamento da 
lide. 
Sem esgotar o tema, ante a sua notória amplitude, há também debates 
sobre a competência da Justiça do Trabalho em matéria criminal. As correntes 
doutrinárias a respeito do assunto se dividem basicamente em três. 
A primeira defende a tese de que a Justiça do Trabalho pode ser 
considerada como competente, desde que adotado o princípio da unidade de 
convicção. Assim, se um fato tiver que ser analisado mais de uma vez, 
deverá ser feito pelo mesmo juiz que, no caso, será da Justiça trabalhista. 
Outra corrente, a de característica negativista, rejeita integralmente a 
competência da Justiça do Trabalho por entender que ela não está preparada 
para tal atribuição, pois — por haver descaracterização da jurisdição trabalhista 
— os magistrados do trabalho não possuem conhecimento penal, além de 
outros que serão mais bem trabalhados nos textos de leitura que lhes serão 
indicados para complementação do estudo. 
Por fim, a terceira corrente admite a competência da Justiça do Trabalho 
em razão do previsto no inciso IX do art. 114 da Constituição Federal. Para os 
adeptos desse pensamento, basta que seja criada lei que regulamente o 
assunto e que atribua a competência da Justiça do Trabalho em matéria 
criminal. 
Adverte-se, contudo, que o entendimento atual do Supremo Tribunal 
Federal sobre o tema é de negar a competência da Justiça do Trabalho para 
julgamento de crimes relacionados às relações trabalhistas, atribuindo 
 
 
7 
competência da Justiça Federal, conforme decisão liminar proferida na Ação 
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n. 36.841: 
COMPETÊNCIA CRIMINAL. Justiça do Trabalho. Ações penais. 
Processo 
e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação 
conforme dada ao art. 114, incs. I, IV e IX, da CF, acrescidos pela EC 
nº 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida 
com efeito ex tunc. O disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da 
Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucional nº 
45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e 
julgar ações penais. (Brasil, 2007) 
Ademais, debate-se a competência da Justiça do Trabalho para 
questões relativas a contrato de honorários advocatícios. O entendimento é 
que o advogado é um prestador de serviço, e o cliente o destinatário final, 
razão pela qual a competência para julgamento de eventuais discussões seria 
da Justiça Comum, pois se trata de uma relação de consumo. 
Por outro lado, sendo o cliente uma empresa cujos serviços advocatícios 
são utilizados de forma habitual, a competência em razão da dependência 
econômica será da Justiça do Trabalho, haja vista a configuração de vínculo 
trabalhista. 
Sobre o referido tema, menciona-se que o enunciado n. 23 aprovado 
pela 1ª jornada de direito material e processual do trabalho manifestou-se no 
sentido de que a Justiça do Trabalho seria competente para julgamento de 
ações de cobrança de honorários advocatícios na condição de pessoa natural, 
não reconhecendo que a relação entre advogado e cliente é de consumo, mas 
sim uma relação com particularidades próprias. 
Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 363, que 
assim dispõe: 
“Competência. Ação de cobrança. Profissional liberal. Propositura contra 
cliente. Julgamento pela Justiça Estadual Comum. CF/88, art. 114. 
Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança 
ajuizada por profissional liberal contra cliente” (Brasil, 2008). 
Logo, com a aprovação da mencionada súmula, fica reconhecido 
que a competência para julgamento de ação de cobrança de honorários 
de profissional liberal é da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho. 
 
1 Ainda aguardando julgamento do mérito da ADI 3684. 
 
 
8 
Diversos outros debates sobre competência surgiram após o advento da 
Emenda Constitucional n. 45, de 2004. Podemos citar como exemplo o contrato 
de empreitada, o contrato entre médico e plano de saúde, de residência 
médica, de servidores públicos, entre outros que deverão ser estudados nos 
textos complementares que serão disponibilizados. 
TEMA 3 – COMPETÊNCIA MATERIAL DERIVADA 
A competência material derivada encontra-se prevista no art. 114, IX da 
Constituição Federal (Brasil, 1988), que determina competência à Justiça 
especializada para processar e julgar “outras controvérsias decorrentes da 
relação de trabalho, na forma da lei” 
Dessa forma, havendo lei que determine que a competência para 
julgamento do feito é da Justiça Comum, tal regra deve ser observada 
enquanto não houver existência de norma posterior que determine a 
competência para julgamento da Justiça do Trabalho, haja vista a Carta Magna 
(Brasil, 1988) não especificar quais são as controvérsias (e quais relações). A 
lei deverá fazê-la. 
Assim, enquanto não houver lei, a competência continuará sendo daJustiça Comum. É o que ocorre, por exemplo, com as ações que decorrem de 
um contrato de representação comercial, em que expressamente o art. 39 da 
Lei n. 4.886 de 1965 prevê: 
Art. 39. Para julgamento das controvérsias que surgirem entre 
representante e representado é competente a Justiça Comum e o 
foro do domicílio do representante, aplicando-se o procedimento 
sumaríssimo previsto no art. 275 do Código de Processo Civil, 
ressalvada a competência do Juizado de Pequenas Causas. (Brasil, 
1965) 
Portanto, se a lei dispuser que a competência é da Justiça Comum, esta 
prevalecerá até que haja lei posterior transferindo a competência para a Justiça 
do Trabalho, que então terá a responsabilidade de processar e julgar as 
relações de trabalho especificadas. 
3.1 Competência material executória 
A competência material executória da Justiça do Trabalho pode ser 
dividida em duas: a primeira se refere à competência para executar as suas 
próprias sentenças; e a segunda, as contribuições previdenciárias das suas 
 
 
9 
decisões. 
Quanto à competência para executar suas próprias sentenças, 
desnecessário tecer maiores comentários, pois se um órgão é competente para 
julgamento — partindo-se de uma interpretação lógica da norma —, certamente 
também será para a execução dos seus julgados. 
No que concerne à competência para executar as contribuições 
previdenciárias, há previsão no texto constitucional (Brasil, 1988) a respeito 
do tema: inciso VIII do art. 114 diz que compete à Justiça do Trabalho a 
“execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e 
seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”. 
Importante reconhecer que não são apenas as contribuições 
previdenciárias “decorrentes das sentenças que proferir” que podem ser 
executadas pela Justiça do Trabalho. Amplia-se o entendimento nesse caso, 
como, por exemplo, a execução das contribuições sociais que decorrem dos 
acordos firmados, após devidamente homologados pelo juízo. 
Quanto ao termo “executar de ofício”, a compreensão que deve ser feita 
se refere ao dever do juízo, na condução da execução, de assumir uma postura 
que busque a eficácia e a satisfação da execução. 
Assim, podemos dizer que a competência da Justiça do Trabalho foi 
ampliada, permitindo que o Poder Judiciário também pratique atos que 
busquem a satisfação dos créditos devidos ao Instituto Nacional de Seguridade 
Social (INSS), seja em sentença ou em acordos trabalhistas homologados. 
3.2 Da competência em razão da pessoa 
A competência em razão da pessoa (ou ratione personae) se refere à 
parte que possui (ou não) competência para integrar uma lide na Justiça do 
Trabalho. 
De acordo com a nova redação do art. 114 da Carta Magna (Brasil, 
1988), podemos mencionar que a Justiça do Trabalho é competente para julgar 
demandas em que figurem como parte: 
 Sindicatos; 
 Entidades de direito público externo; 
 Órgãos da administração pública direta, autárquica ou fundacional da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na qualidade 
 
 
10 
de empregadores; 
 A União, quando busca a cobrança de valores relativos a penalidades 
administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de 
fiscalização; 
 Ministério Público do Trabalho; 
 Instituto Nacional da Seguridade Social. 
Além desses, incluímos o empregado e o empregador, obviamente, pois 
são as partes que estão diretamente envolvidas em conflitos trabalhistas e que 
dependem da atuação da Justiça do Trabalho para dirimi-los. 
Também podem recorrer à Justiça laboral as diversas espécies de 
trabalhadores: temporários, domésticos, avulsos, profissionais liberais2, 
cooperados, entre outros. São situações em que haverá competência derivada, 
pois se houver norma infraconstitucional específica prevendo a competência da 
Justiça Comum, deverá esta prevalecer em vez da trabalhista. 
TEMA 4 – DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA FUNÇÃO 
A competência em razão da função é determinada pelas atribuições 
conferidas aos órgãos da Justiça do Trabalho, previstas em lei ou nos 
regimentos internos dos tribunais. 
As Varas do Trabalho têm sua competência determinada pelo art. 652 
da CLT, que assim dispõe: 
Art. 652 - Compete às Juntas de Conciliação e Julgamento 
 a) conciliar e julgar: 
 I - os dissídios em que se pretenda o reconhecimento da estabilidade 
de empregado; 
 II - os dissídios concernentes a remuneração, férias e indenizações 
por motivo de rescisão do contrato individual de trabalho; 
 III - os dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o 
empreiteiro seja operário ou artífice; 
 IV - os demais dissídios concernentes ao contrato individual de 
trabalho; 
[...] 
b) processar e julgar os inquéritos para apuração de falta grave; 
c) julgar os embargos opostos às suas próprias decisões; 
d) impor multas e demais penalidades relativas aos atos de sua 
competência; 
 V - as ações entre trabalhadores portuários e os operadores 
portuários ou o Órgão Gestor de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes 
da relação de trabalho. (Brasil, 1943) 
Oportuno mencionar que a reforma trabalhista ampliou a competência 
 
2 Com exceção se a relação for de consumo, quando a competência será da justiça comum. 
 
 
11 
das Varas do Trabalho, incluindo no art. 652 (Brasil, 1943) a alínea “f” que 
prevê: “decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de 
competência da Justiça do Trabalho”. 
Além da previsão contida no art. 652 da CLT, há também no art. 653 
outras competências dos juízes do trabalho, como, por exemplo, requisitar às 
autoridades competentes a realização das diligências necessárias ao 
esclarecimento dos feitos sob sua apreciação, sob pena de representação 
contra quem não obedecer ao mandamento, além de realizar as diligências e 
praticar os atos processuais ordenados pelos Tribunais Regionais do Trabalho 
ou pelo Tribunal Superior do Trabalho. Aconselha-se ao aluno a leitura do art. 
653 para uma melhor compreensão. 
Também compete às Varas do Trabalho o processamento e julgamento 
de ação civil pública promovida pelo Ministério Público do Trabalho ou 
sindicato, conforme redação do art. 83, III da Lei Complementar n. 75/1993, 
combinado com o art. 2º da Lei n. 7.347/1985, além do art. 93 da Lei n. 
8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor — CDC). 
 As competências para julgamento dos Tribunais Regionais variam de 
acordo com a sua composição. Se compostos por turmas, a competência é a 
descrita no art. 678 da CLT (Brasil, 1943). Vejamos: 
Art. 678 - Aos Tribunais Regionais, quando divididos em Turmas, 
compete: 
I - ao Tribunal Pleno, especialmente: 
a) processar, conciliar e julgar originariamente os dissídios coletivos; 
b) processar e julgar originariamente: 
1) as revisões de sentenças normativas; 
2) a extensão das decisões proferidas em dissídios coletivos; 
3) os mandados de segurança; 
4) as impugnações à investidura de vogais e seus suplentes nas 
Juntas de Conciliação e Julgamento; 
c) processar e julgar em última instância: 
1) os recursos das multas impostas pelas Turmas; 
2) as ações rescisórias das decisões das Juntas de Conciliação e 
Julgamento, dos juízes de direito investidos na jurisdição trabalhista, 
das Turmas e de seus próprios acórdãos; 
3) os conflitos de jurisdição entre as suas Turmas, os juízes de direito 
investidos na jurisdição trabalhista, as Juntas de Conciliação e 
Julgamento, ou entre aqueles e estas; 
d) julgar em única ou última instâncias: 
1) os processos e os recursos de natureza administrativa atinentes 
aos seus serviços auxiliares e respectivos servidores; 
2) as reclamações contra atos administrativos de seu presidente ou 
de qualquer de seus membros, assim como dos juízes de primeira 
instância e de seus funcionários. 
II - às Turmas: (Incluído pela Lei nº 5.442, de 24.5.1968) 
a) julgar os recursos ordinários previstos no art. 895,alínea a ; 
b) julgar os agravos de petição e de instrumento, êstes de decisões 
 
 
12 
denegatórias de recursos de sua alçada; 
c) impor multas e demais penalidades relativas e atos de sua 
competência jurisdicional, e julgar os recursos interpostos das 
decisões das Juntas dos juízes de direito que as impuserem. 
Além dessas atribuições, ainda existem as previstas no art. 680 da CLT, 
cuja leitura se indica para uma melhor compreensão do assunto em debate. 
Por fim, quanto à competência do Tribunal Superior do Trabalho, como 
mencionado anteriormente, a competência em razão da função jurisdicional 
desempenhada pode decorrer tanto de lei quanto do regimento interno. É o 
caso da competência do Tribunal Superior do Trabalho, cujas atribuições 
encontram-se descritas em seu regimento, especialmente no art. 67: 
Art. 67. Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar, 
conciliar e julgar, na forma da lei, em grau originário ou recursal 
ordinário ou extraordinário, as demandas individuais e os dissídios 
coletivos que excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais, os 
conflitos de direito sindical, assim como outras controvérsias 
decorrentes de relação de trabalho, e os litígios relativos ao 
cumprimento de suas próprias decisões, de laudos arbitrais e de 
convenções e acordos coletivos. (Brasil, 2008) 
Na aula 1, sobre organização da Justiça do Trabalho, vimos que o TST 
se divide em diversos órgãos, como o Tribunal Pleno, a Seção Especializada 
em Dissídios Individuais, além de Turmas. 
Orienta-se para aprofundamento do estudo desse assunto tratado, a 
atenta leitura do regimento interno do Tribunal Superior do Trabalho, 
especialmente seus arts. 70, 71 e 72, pois poderá ser verificada a competência 
de cada um dos órgãos integrantes do Tribunal Superior do Trabalho. 
TEMA 5 – DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR 
A competência territorial das Varas do Trabalho é determinada por lei 
federal que atribua o alcance da jurisdição da Vara, incluindo as cidades que 
são abrangidas, de acordo com questões geográficas. 
A regra sobre competência para julgamento das ações trabalhistas 
encontra previsão no art. 651 da CLT (Brasil, 1943), que dispõe que “a 
competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada pela 
localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao 
empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro”. 
Porém, não obstante a previsão do mencionado artigo, tal regra vem 
sendo mitigada em favor do princípio do acesso à justiça, que garante ao 
 
 
13 
empregado o direito de ajuizar ação no local em que reside, notadamente 
graças ao reconhecimento da sua hipossuficiência perante o empregador. 
A jurisprudência do próprio Tribunal Superior do Trabalho vem 
reconhecendo a possibilidade de ajuizamento de ação no local de domicílio do 
empregado, tornando letra morta o texto da CLT nesse aspecto. 
Salienta-se que a reforma trabalhista alterou o procedimento para 
discussão sobre a competência em razão do local (ratione loci), incluindo na 
CLT o art. 800, além de quatro parágrafos que dispõem sobe a exceção de 
incompetência territorial, assunto que iremos abordar no decorrer das próximas 
aulas. 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. 
_____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Emenda Constitucional n. 4, de 30 de dezembro de 2004. Diário Oficial da 
União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 31 dez. 2004. 
_____. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, 
Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. 
_____. Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. Diário Oficial da 
União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 mai. 1993. 
_____. Lei n. 4.886, de 9 de dezembro de 1965. Diário Oficial da União, 
Poder Legislativo, Brasília, DF, 9 dez. 1965. 
_____. Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. Diário Oficial da União, Poder 
Legislativo, Brasília, DF, 25 jul. 1985. 
_____. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, 
Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 set. 1990. 
_____. Resolução Administrativa n. 1.295, de 24 de abril de 2008. Diário da 
Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 9 mai. 2008. 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 363, de 15 de outubro de 
2008. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 3 nov. 2008. 
_____. Súmula n. 368, redação alterada em sessão do Tribunal Pleno realizada 
em 16 de abril de 2012. Diário da Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 23 abr. 
2012. 
_____. Súmula n. 392, redação alterada em sessão do Tribunal Pleno realizada 
em 27 de outubro de 2015. Diário da Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 4 nov. 
2015. 
_____. Súmula n. 454, de 19 de maio de 2014. Diário da Justiça do Trabalho, 
Brasília, DF, 23 mai. 2014. 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 
3.684, de 1º de fevereiro de 2007. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 
3 ago. 2007. 
 
 
15 
_____. Agravo em Reclamação n. 23.634, de 5 de maio de 2017. Diário da 
Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 19 mai. 2017. 
_____. Conflito de Jurisprudência n. 6.959-6/DF, de 23 de maio de 1990. 
Diário da Justiça, Brasília, DF, 22 fev. 1991. 
_____. Súmula Vinculante n. 23, de 10 de novembro de 2009, Diário da 
Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 11 dez. 2009. 
GARCIA, G. F. B. CLT comentada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
Método, 2015. 
GRECO, L. Instituições de processo civil: Introdução ao direito processual 
civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1. 
LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho: de acordo com o 
nono CPC. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 
MARTINS, S. P. Comentários às súmulas do TST. 15. ed. São Paulo: Atlas, 
2015.

Continue navegando