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AULA 2 JUSTIÇA DO TRABALHO Prof. Roberto de Carvalho Peixoto 2 TEMA 1 – DA COMPETÊNCIA DE JUSTIÇA DO TRABALHO – EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45, DE 2004 A entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004, trouxe significativas alterações na competência da Justiça do Trabalho. Para facilitar o estudo, transcreveremos a seguir a íntegra do disposto no art. 114 da nossa Constituição Federal (Brasil, 1988), que prevê: Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. Como visto, houve significativo avanço por parte da legislação aplicável ao tema, pois antes de Emenda Constitucional n. 45/2004, a redação do caput do art. 114 era muito módico, o que dava margem a diversas interpretações sobre o tema e, não raramente, conflitos negativos e positivos de competência, atrasando a prestação da tutela jurisdicional. Passaremos a tratar especificamente das espécies de competências. TEMA 2 – DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA: RATIONE MATERIAE No direito do trabalho, a competência em razão da matéria decorre do tipo de ação proposta. A partir do advento das alterações trazidas pela Emenda Constitucional n. 45/2004, as relações oriundas de qualquer contrato trabalhista submetido às regras do Decreto-Lei n .5.452, de 1º de maio de 1943, isto é, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ensejam jurisdicionalmente pedidos 3 de natureza trabalhista. Logo, é de se reconhecer que nesses casos a competência, em razão da matéria envolvida, é exclusiva da Justiça do Trabalho, fato reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em diversos dos seus julgados. Vejamos a decisão proferida pelo referido órgão ao reconhecer que pedidos fundados em direitos assegurados pela CLT competem à Justiça laboral (Brasil, 2017): EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. ADI-MC 3395. PLEITO FUNDADO EM DIREITOS ASSEGURADOS PELA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. É improcedente a reclamação quando o ato reclamado não contraria a decisão proferida na ADI-MC 3395. 2. A apuração da competência material para o julgamento da demanda não pode depender de instrução probatória, devendo ser verificada no momento da propositura da ação, em observância ao disposto no artigo 43 do Código de Processo Civil de 2015. 3. Agravo regimental, interposto em 23.06.2016, a que se nega provimento. Observe o entendimento do STF a respeito da competência da Justiça do Trabalho: se a demanda discutir direitos assegurados pela CLT, a competência será exclusiva da Justiça do Trabalho. Filiados à lição de Carlos Henrique Bezerra Leite (2016), podemos dividir a competência material em original, derivada e executória. A competência material original é aquela que decorre da relação de emprego, basicamente entre empregados e empregadores, cujo debate se refere a um contrato individual de trabalho, situação em que a competência é da Justiça do Trabalho, porém nos mesmos moldes anteriores à Emenda Constitucional n. 45/2004. Alterações ocorreram em relação a alguns direitos, como, por exemplo, o dano moral individual decorrente de um contrato de trabalho. Não obstante se tratar de um direito (ou de sua violação) baseado em uma relação empregatícia, antes da promulgação da Carta Magna (Brasil, 1988) o entendimento jurisprudencial era de que a competência cabia à Justiça Comum. Por outro lado, o STF, em algumas decisões anteriores à referida emenda, já reconheceu que a competência para julgamento de relações trabalhistas era sim da Justiça do Trabalho em vez da Justiça Comum. Podemos citar como precedente a decisão proferida no conflito de competência n. 6.959-6/DF, de relatoria do então Ministro Sepúlveda Pertence (Brasil, 1991). 4 Contudo, após a Emenda Constitucional n. 45/2004, em âmbito constitucional não pairava mais nenhuma dúvida sobre a competência da Justiça do Trabalho para o julgamento de ações envolvendo dano moral decorrente de um contrato de trabalho, razão pela qual o Tribunal Superior do Trabalho (TST) alterou sua Súmula n. 392, que agora assim prevê: DANO MORAL E MATERIAL. RELAÇÃO DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO (redação alterada em sessão do Tribunal Pleno realizada em 27.10.2015) - Res. 200/2015, DEJT divulgado em 29.10.2015 e 03 e 04.11.2015 Nos termos do art. 114, inc. VI, da Constituição da República, a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ações de indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de trabalho, inclusive as oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas, ainda que propostas pelos dependentes ou sucessores do trabalhador falecido. (Brasil, 2015) Quanto aos danos morais coletivos, a sua competência no que diz respeito à matéria trabalhista também é da Justiça do Trabalho, havendo, inclusive, previsão tanto constitucional quanto legal que reconhecem a competência para julgar e processar ação civil pública que visa reparação moral coletiva, como é caso do art. 129, III, da Carta Magna; da Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993 (art. 6º, VII, art. 83; III e art. 84), bem como do art. 1º da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. Ainda sobre os danos morais, temos aqueles decorrentes de uma relação pré-contratual e pós-contratual. A responsabilidade pré-contratual é aquela relacionada a fatos anteriores à formação do efetivo contrato de trabalho, mais precisamente durante a fase de contratação em que há uma provável expectativa. Ou seja: corresponde à existência de uma efetiva promessa de emprego que não se concretizou por motivos desconhecidos pelo sujeito que pleiteou a condição de empregado, o que enseja a reparação dos danos advindos dessa violação ao direito do trabalhador. Já a responsabilidade pós-contratual é a que ocorre por fatos ocorridos após a extinção do contrato de trabalho, como, por exemplo, a informação que prejudica o trabalhador em uma eventual recolocação no mercado de trabalho, nas ocasiões em que são solicitadas referências do empregado. Em ambos os casos a competência é exclusiva da Justiça do Trabalho, muito embora os motivos do dano não tenham ocorrido durante o vínculo laboral. 5 Ademais, também compete à Justiça trabalhista o julgamento de ações que envolvem o meio ambiente de trabalho, especialmente quando se trata de questões relativas à segurança e à saúde do trabalhador, a exemplo do que dispõem o art. 200, VII e o art. 7º, XXII e XXVIII, da Carta de Outubro (Brasil, 1988). Também é de competência da referida Justiça especializada, na forma do art. 114, inciso VIII da Constituição Federal (Brasil, 1988) “a execução,de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”. Sobre esse ponto, menciona-se que existe a Súmula n. 368 do TST com tal previsão, conforme se observa: DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição. (Brasil, 2012) Vale mencionar que não houve o reconhecimento constitucional de que as contribuições previdenciárias destinadas a terceiros também poderiam ser executadas na Justiça do Trabalho, pois a exegese de seu art. 114 não inclui as referidas parcelas. Porém, a matéria encontra-se pacificada no âmbito do TST, muito embora em algumas ocasiões há uma tentativa de cobrança desses valores na execução trabalhista, o que pode e deve ser questionado com os meios processuais próprios. Quanto às contribuições destinadas ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), há entendimento doutrinário de que a competência não seria da Justiça do Trabalho, mas da Comum, pois entende Carlos Henrique Bezerra Leite (2016) que se trata de uma contribuição previdenciária parafiscal. Discordando do referido entendimento acadêmico, prevalece no TST a tese de que a execução desse valor compete efetivamente à Justiça especializada (Brasil, 2014). Vejamos a Súmula n. 454, de 19 de maio de 2014: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. EXECUÇÃO DE OFÍCIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL REFERENTE AO SEGURO DE ACIDENTE DE TRABALHO (SAT). ARTS. 114, VIII, E 195, I, “A”, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 414 da SBDI-1) – Res. 194/2014, DEJT divulgado em 21, 22 e 23.05.2014. 6 Compete à Justiça do Trabalho a execução, de ofício, da contribuição referente ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), que tem natureza de contribuição para a seguridade social (arts. 114, VIII, e 195, I, “a”, da CF), pois se destina ao financiamento de benefícios relativos à incapacidade do empregado decorrente de infortúnio no trabalho. (arts. 11 e 22 da Lei nº 8.212/1991) Com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, diversas outras matérias que alhures não eram julgadas pela Justiça do Trabalho passaram a ser admitidas. Citam-se como exemplo as ações possessórias e o interdito proibitório, que embora tratem de matéria de ordem civil, admite-se em algumas situações a utilização dessas ações. Por exemplo: quando o empregador retém os instrumentos ou equipamento do trabalhador, além do interdito proibitório para garantir o acesso aos empregados em caso de greve. Nesse último caso, a Súmula Vinculante n. 23 do STF, de 10 de novembro de 2009, consagra a competência da Justiça do Trabalho para o julgamento da lide. Sem esgotar o tema, ante a sua notória amplitude, há também debates sobre a competência da Justiça do Trabalho em matéria criminal. As correntes doutrinárias a respeito do assunto se dividem basicamente em três. A primeira defende a tese de que a Justiça do Trabalho pode ser considerada como competente, desde que adotado o princípio da unidade de convicção. Assim, se um fato tiver que ser analisado mais de uma vez, deverá ser feito pelo mesmo juiz que, no caso, será da Justiça trabalhista. Outra corrente, a de característica negativista, rejeita integralmente a competência da Justiça do Trabalho por entender que ela não está preparada para tal atribuição, pois — por haver descaracterização da jurisdição trabalhista — os magistrados do trabalho não possuem conhecimento penal, além de outros que serão mais bem trabalhados nos textos de leitura que lhes serão indicados para complementação do estudo. Por fim, a terceira corrente admite a competência da Justiça do Trabalho em razão do previsto no inciso IX do art. 114 da Constituição Federal. Para os adeptos desse pensamento, basta que seja criada lei que regulamente o assunto e que atribua a competência da Justiça do Trabalho em matéria criminal. Adverte-se, contudo, que o entendimento atual do Supremo Tribunal Federal sobre o tema é de negar a competência da Justiça do Trabalho para julgamento de crimes relacionados às relações trabalhistas, atribuindo 7 competência da Justiça Federal, conforme decisão liminar proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n. 36.841: COMPETÊNCIA CRIMINAL. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada ao art. 114, incs. I, IV e IX, da CF, acrescidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida com efeito ex tunc. O disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucional nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações penais. (Brasil, 2007) Ademais, debate-se a competência da Justiça do Trabalho para questões relativas a contrato de honorários advocatícios. O entendimento é que o advogado é um prestador de serviço, e o cliente o destinatário final, razão pela qual a competência para julgamento de eventuais discussões seria da Justiça Comum, pois se trata de uma relação de consumo. Por outro lado, sendo o cliente uma empresa cujos serviços advocatícios são utilizados de forma habitual, a competência em razão da dependência econômica será da Justiça do Trabalho, haja vista a configuração de vínculo trabalhista. Sobre o referido tema, menciona-se que o enunciado n. 23 aprovado pela 1ª jornada de direito material e processual do trabalho manifestou-se no sentido de que a Justiça do Trabalho seria competente para julgamento de ações de cobrança de honorários advocatícios na condição de pessoa natural, não reconhecendo que a relação entre advogado e cliente é de consumo, mas sim uma relação com particularidades próprias. Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 363, que assim dispõe: “Competência. Ação de cobrança. Profissional liberal. Propositura contra cliente. Julgamento pela Justiça Estadual Comum. CF/88, art. 114. Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente” (Brasil, 2008). Logo, com a aprovação da mencionada súmula, fica reconhecido que a competência para julgamento de ação de cobrança de honorários de profissional liberal é da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho. 1 Ainda aguardando julgamento do mérito da ADI 3684. 8 Diversos outros debates sobre competência surgiram após o advento da Emenda Constitucional n. 45, de 2004. Podemos citar como exemplo o contrato de empreitada, o contrato entre médico e plano de saúde, de residência médica, de servidores públicos, entre outros que deverão ser estudados nos textos complementares que serão disponibilizados. TEMA 3 – COMPETÊNCIA MATERIAL DERIVADA A competência material derivada encontra-se prevista no art. 114, IX da Constituição Federal (Brasil, 1988), que determina competência à Justiça especializada para processar e julgar “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei” Dessa forma, havendo lei que determine que a competência para julgamento do feito é da Justiça Comum, tal regra deve ser observada enquanto não houver existência de norma posterior que determine a competência para julgamento da Justiça do Trabalho, haja vista a Carta Magna (Brasil, 1988) não especificar quais são as controvérsias (e quais relações). A lei deverá fazê-la. Assim, enquanto não houver lei, a competência continuará sendo daJustiça Comum. É o que ocorre, por exemplo, com as ações que decorrem de um contrato de representação comercial, em que expressamente o art. 39 da Lei n. 4.886 de 1965 prevê: Art. 39. Para julgamento das controvérsias que surgirem entre representante e representado é competente a Justiça Comum e o foro do domicílio do representante, aplicando-se o procedimento sumaríssimo previsto no art. 275 do Código de Processo Civil, ressalvada a competência do Juizado de Pequenas Causas. (Brasil, 1965) Portanto, se a lei dispuser que a competência é da Justiça Comum, esta prevalecerá até que haja lei posterior transferindo a competência para a Justiça do Trabalho, que então terá a responsabilidade de processar e julgar as relações de trabalho especificadas. 3.1 Competência material executória A competência material executória da Justiça do Trabalho pode ser dividida em duas: a primeira se refere à competência para executar as suas próprias sentenças; e a segunda, as contribuições previdenciárias das suas 9 decisões. Quanto à competência para executar suas próprias sentenças, desnecessário tecer maiores comentários, pois se um órgão é competente para julgamento — partindo-se de uma interpretação lógica da norma —, certamente também será para a execução dos seus julgados. No que concerne à competência para executar as contribuições previdenciárias, há previsão no texto constitucional (Brasil, 1988) a respeito do tema: inciso VIII do art. 114 diz que compete à Justiça do Trabalho a “execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”. Importante reconhecer que não são apenas as contribuições previdenciárias “decorrentes das sentenças que proferir” que podem ser executadas pela Justiça do Trabalho. Amplia-se o entendimento nesse caso, como, por exemplo, a execução das contribuições sociais que decorrem dos acordos firmados, após devidamente homologados pelo juízo. Quanto ao termo “executar de ofício”, a compreensão que deve ser feita se refere ao dever do juízo, na condução da execução, de assumir uma postura que busque a eficácia e a satisfação da execução. Assim, podemos dizer que a competência da Justiça do Trabalho foi ampliada, permitindo que o Poder Judiciário também pratique atos que busquem a satisfação dos créditos devidos ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), seja em sentença ou em acordos trabalhistas homologados. 3.2 Da competência em razão da pessoa A competência em razão da pessoa (ou ratione personae) se refere à parte que possui (ou não) competência para integrar uma lide na Justiça do Trabalho. De acordo com a nova redação do art. 114 da Carta Magna (Brasil, 1988), podemos mencionar que a Justiça do Trabalho é competente para julgar demandas em que figurem como parte: Sindicatos; Entidades de direito público externo; Órgãos da administração pública direta, autárquica ou fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na qualidade 10 de empregadores; A União, quando busca a cobrança de valores relativos a penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização; Ministério Público do Trabalho; Instituto Nacional da Seguridade Social. Além desses, incluímos o empregado e o empregador, obviamente, pois são as partes que estão diretamente envolvidas em conflitos trabalhistas e que dependem da atuação da Justiça do Trabalho para dirimi-los. Também podem recorrer à Justiça laboral as diversas espécies de trabalhadores: temporários, domésticos, avulsos, profissionais liberais2, cooperados, entre outros. São situações em que haverá competência derivada, pois se houver norma infraconstitucional específica prevendo a competência da Justiça Comum, deverá esta prevalecer em vez da trabalhista. TEMA 4 – DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA FUNÇÃO A competência em razão da função é determinada pelas atribuições conferidas aos órgãos da Justiça do Trabalho, previstas em lei ou nos regimentos internos dos tribunais. As Varas do Trabalho têm sua competência determinada pelo art. 652 da CLT, que assim dispõe: Art. 652 - Compete às Juntas de Conciliação e Julgamento a) conciliar e julgar: I - os dissídios em que se pretenda o reconhecimento da estabilidade de empregado; II - os dissídios concernentes a remuneração, férias e indenizações por motivo de rescisão do contrato individual de trabalho; III - os dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o empreiteiro seja operário ou artífice; IV - os demais dissídios concernentes ao contrato individual de trabalho; [...] b) processar e julgar os inquéritos para apuração de falta grave; c) julgar os embargos opostos às suas próprias decisões; d) impor multas e demais penalidades relativas aos atos de sua competência; V - as ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho. (Brasil, 1943) Oportuno mencionar que a reforma trabalhista ampliou a competência 2 Com exceção se a relação for de consumo, quando a competência será da justiça comum. 11 das Varas do Trabalho, incluindo no art. 652 (Brasil, 1943) a alínea “f” que prevê: “decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da Justiça do Trabalho”. Além da previsão contida no art. 652 da CLT, há também no art. 653 outras competências dos juízes do trabalho, como, por exemplo, requisitar às autoridades competentes a realização das diligências necessárias ao esclarecimento dos feitos sob sua apreciação, sob pena de representação contra quem não obedecer ao mandamento, além de realizar as diligências e praticar os atos processuais ordenados pelos Tribunais Regionais do Trabalho ou pelo Tribunal Superior do Trabalho. Aconselha-se ao aluno a leitura do art. 653 para uma melhor compreensão. Também compete às Varas do Trabalho o processamento e julgamento de ação civil pública promovida pelo Ministério Público do Trabalho ou sindicato, conforme redação do art. 83, III da Lei Complementar n. 75/1993, combinado com o art. 2º da Lei n. 7.347/1985, além do art. 93 da Lei n. 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor — CDC). As competências para julgamento dos Tribunais Regionais variam de acordo com a sua composição. Se compostos por turmas, a competência é a descrita no art. 678 da CLT (Brasil, 1943). Vejamos: Art. 678 - Aos Tribunais Regionais, quando divididos em Turmas, compete: I - ao Tribunal Pleno, especialmente: a) processar, conciliar e julgar originariamente os dissídios coletivos; b) processar e julgar originariamente: 1) as revisões de sentenças normativas; 2) a extensão das decisões proferidas em dissídios coletivos; 3) os mandados de segurança; 4) as impugnações à investidura de vogais e seus suplentes nas Juntas de Conciliação e Julgamento; c) processar e julgar em última instância: 1) os recursos das multas impostas pelas Turmas; 2) as ações rescisórias das decisões das Juntas de Conciliação e Julgamento, dos juízes de direito investidos na jurisdição trabalhista, das Turmas e de seus próprios acórdãos; 3) os conflitos de jurisdição entre as suas Turmas, os juízes de direito investidos na jurisdição trabalhista, as Juntas de Conciliação e Julgamento, ou entre aqueles e estas; d) julgar em única ou última instâncias: 1) os processos e os recursos de natureza administrativa atinentes aos seus serviços auxiliares e respectivos servidores; 2) as reclamações contra atos administrativos de seu presidente ou de qualquer de seus membros, assim como dos juízes de primeira instância e de seus funcionários. II - às Turmas: (Incluído pela Lei nº 5.442, de 24.5.1968) a) julgar os recursos ordinários previstos no art. 895,alínea a ; b) julgar os agravos de petição e de instrumento, êstes de decisões 12 denegatórias de recursos de sua alçada; c) impor multas e demais penalidades relativas e atos de sua competência jurisdicional, e julgar os recursos interpostos das decisões das Juntas dos juízes de direito que as impuserem. Além dessas atribuições, ainda existem as previstas no art. 680 da CLT, cuja leitura se indica para uma melhor compreensão do assunto em debate. Por fim, quanto à competência do Tribunal Superior do Trabalho, como mencionado anteriormente, a competência em razão da função jurisdicional desempenhada pode decorrer tanto de lei quanto do regimento interno. É o caso da competência do Tribunal Superior do Trabalho, cujas atribuições encontram-se descritas em seu regimento, especialmente no art. 67: Art. 67. Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar, conciliar e julgar, na forma da lei, em grau originário ou recursal ordinário ou extraordinário, as demandas individuais e os dissídios coletivos que excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais, os conflitos de direito sindical, assim como outras controvérsias decorrentes de relação de trabalho, e os litígios relativos ao cumprimento de suas próprias decisões, de laudos arbitrais e de convenções e acordos coletivos. (Brasil, 2008) Na aula 1, sobre organização da Justiça do Trabalho, vimos que o TST se divide em diversos órgãos, como o Tribunal Pleno, a Seção Especializada em Dissídios Individuais, além de Turmas. Orienta-se para aprofundamento do estudo desse assunto tratado, a atenta leitura do regimento interno do Tribunal Superior do Trabalho, especialmente seus arts. 70, 71 e 72, pois poderá ser verificada a competência de cada um dos órgãos integrantes do Tribunal Superior do Trabalho. TEMA 5 – DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR A competência territorial das Varas do Trabalho é determinada por lei federal que atribua o alcance da jurisdição da Vara, incluindo as cidades que são abrangidas, de acordo com questões geográficas. A regra sobre competência para julgamento das ações trabalhistas encontra previsão no art. 651 da CLT (Brasil, 1943), que dispõe que “a competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro”. Porém, não obstante a previsão do mencionado artigo, tal regra vem sendo mitigada em favor do princípio do acesso à justiça, que garante ao 13 empregado o direito de ajuizar ação no local em que reside, notadamente graças ao reconhecimento da sua hipossuficiência perante o empregador. A jurisprudência do próprio Tribunal Superior do Trabalho vem reconhecendo a possibilidade de ajuizamento de ação no local de domicílio do empregado, tornando letra morta o texto da CLT nesse aspecto. Salienta-se que a reforma trabalhista alterou o procedimento para discussão sobre a competência em razão do local (ratione loci), incluindo na CLT o art. 800, além de quatro parágrafos que dispõem sobe a exceção de incompetência territorial, assunto que iremos abordar no decorrer das próximas aulas. 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Emenda Constitucional n. 4, de 30 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 31 dez. 2004. _____. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. _____. Lei Complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 mai. 1993. _____. Lei n. 4.886, de 9 de dezembro de 1965. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 9 dez. 1965. _____. Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 25 jul. 1985. _____. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 set. 1990. _____. Resolução Administrativa n. 1.295, de 24 de abril de 2008. Diário da Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 9 mai. 2008. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 363, de 15 de outubro de 2008. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 3 nov. 2008. _____. Súmula n. 368, redação alterada em sessão do Tribunal Pleno realizada em 16 de abril de 2012. Diário da Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 23 abr. 2012. _____. Súmula n. 392, redação alterada em sessão do Tribunal Pleno realizada em 27 de outubro de 2015. Diário da Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 4 nov. 2015. _____. Súmula n. 454, de 19 de maio de 2014. Diário da Justiça do Trabalho, Brasília, DF, 23 mai. 2014. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.684, de 1º de fevereiro de 2007. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 3 ago. 2007. 15 _____. Agravo em Reclamação n. 23.634, de 5 de maio de 2017. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 19 mai. 2017. _____. Conflito de Jurisprudência n. 6.959-6/DF, de 23 de maio de 1990. Diário da Justiça, Brasília, DF, 22 fev. 1991. _____. Súmula Vinculante n. 23, de 10 de novembro de 2009, Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 11 dez. 2009. GARCIA, G. F. B. CLT comentada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. GRECO, L. Instituições de processo civil: Introdução ao direito processual civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1. LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho: de acordo com o nono CPC. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. MARTINS, S. P. Comentários às súmulas do TST. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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