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AULA 1 JUSTIÇA DO TRABALHO Prof. Roberto Peixoto 2 TEMA 1 – DOS ÓRGÃOS INTEGRANTES DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO O Estado, em sua concepção moderna, impede a existência de superposição de poderes, o que fez surgir a teoria da tripartição dos poderes do Estado, passando assim o poder do Estado a ser exercido por três órgãos: Legislativo, Executivo e o Poder Judiciário. Em um estado democrático de direito, em que as instituições são respeitadas, o Poder Judiciário exerce um importante papel na construção de uma sociedade justa e equânime, servindo em recentes ocasiões como mediador de conflitos, sempre em busca da pacificação social e da própria justiça. Assim, o Poder Judiciário passou a ter a responsabilidade de ser o “guardião da Constituição”, com a obrigação de preservar valores e garantir a dignidade da pessoa humana e diversos outros direitos, sendo que alguns possuem inclusive status de direito fundamental, que, por sua vez, são consideradas “cláusulas pétreas”, portanto, imutáveis, na forma artigo 60, parágrafo 4º da Constituição Federal de 88 (Brasil, 1988). A divisão dos órgãos do Poder Judiciário encontra-se descrita no art. 92 da Constituição Federal de 1988, cuja alteração se deu com a entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 45/2004, passando a vigorar com a seguinte redação. Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; II-A - o Tribunal Superior do Trabalho III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Dentre as inovações do novo texto constitucional, inclui-se o Conselho Nacional de Justiça, cuja função é exercer um controle externo administrativo e financeiro da atuação do Poder Judiciário, além de outras atribuições descritas no artigo 103-B da Constituição Federal de 1988. Assim, passamos agora a discorrer sobre a organização e composição dos órgão que compõem o Poder Judiciário trabalhista. 3 TEMA 2 – DA ORGANIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO No direito do trabalho, muito embora existam recursos que podem ser destinados ao Supremo Tribunal Federal, temos como última instância em matéria trabalhista o Tribunal Superior do Trabalho. O Poder Judiciário, na esfera trabalhista, tem a sua organização e divisão prevista no art. 111 da Constituição Federal de 1988, que prevê que são órgãos da Justiça do Trabalho: o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho (Brasil, 1988). Até o advento da Emenda Constitucional n. 24/1999, existia a figura do “juiz classista” em número de dois, sendo um representando os empregados e outro o empregador, com o objetivo de buscar uma solução para o conflito mediante a realização de um acordo entre as partes litigantes. Porém, como narrado, a EC 24/1999 extinguiu a função de juiz classista, passando o juiz do trabalho a ser o responsável, em primeira instância, pela condução do processo dentro de suas competências que serão futuramente abordadas (Brasil, 1999). O Tribunal Superior do Trabalho possui em sua composição 27 (vinte e sete) ministros, que devem ser escolhidos dentre aqueles brasileiros que possuam mais de 35 anos, de ilibado e notável saber jurídico, e que sejam indicados pelo Presidente da República, após a aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal. A composição do Tribunal Superior do Trabalho deve obedecer às disposições contidas nos incisos I e II do art. 111-A da Constituição Federal, devendo-se obedecer ao quinto constitucional, que garante 1/5 das vagas aos advogados e membros do Ministério Público com mais de 10 anos de efetivo exercício de atividade, e o restante das vagas destinadas aos magistrados de carreira, indicados pelo próprio TST (Brasil, 1988) A Justiça do Trabalho, desde que foi criada, possui três graus de jurisdição. Em primeiro grau, temos as varas do trabalho, que, antes da EC n. 24/1999, eram chamadas de Junta de Conciliação de Julgamento; em segundo grau, os Tribunal Regionais do Trabalho, e, por fim, em um terceiro grau, o Tribunal Superior Trabalho. 4 Para fins de organização interna, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 96, I, “a”, conferiu ao órgão superior em matéria trabalhista a autonomia para edição de seu regimento interno, o que foi realizado por meio de Resolução Administrativa n. 1295/2008. No regimento interno do TST, dispõe o art. 59 sobre os órgãos que compõem o tribunal, citando: I. Tribunal pleno; II. Órgão especial; III. Seção Especializada em Dissídios Coletivos; IV. Seção Especializada em Dissídios Individuais, dividida em duas subseções; e V. Turmas; Além destes órgãos, funcionam a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho - ENAMAT e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho – CSJT, cujas atribuições também serão adiante debatidas. O Tribunal Pleno é constituído pelos ministros da Corte e para seu funcionamento é necessário que haja, no mínimo, quatorze ministros, bem como deve haver maioria absoluta para tratar de assunto sobre: I. Escolha dos nomes que integrarão a lista destinada ao preenchimento de vaga de Ministro do Tribunal, observado o disposto no art. 4.º, parágrafo 2.º, II; II. Aprovação de Emenda Regimental; III. Eleição dos ministros para os cargos de direção do Tribunal; IV. Aprovação, revisão ou cancelamento de súmula ou de precedente normativo; e V. Declaração de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público. O Órgão Especial, cujas atribuições estão previstas no art. 69 e seguintes do Regimento Interno do TST, tem em sua composição o presidente do Tribunal, seu vice-presidente, o corregedor geral na Justiça do Trabalho, e ainda pelos sete ministros mais antigos, além de sete ministros eleitos pelos membros do Tribunal Pleno (TST, 2008). 5 Há também no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho a Seção Especializada em Dissídio Coletivo (SDC) e a Seção de Especializada em Dissídio Individuais (SDI 1 e 2). A SDC é composta pelo presidente e o vice-Presidente do Tribunal, o corregedor geral da Justiça do Trabalho e mais seis ministros, exigindo como quórum mínimo para funcionamento a presença de ao menos cinco ministros. Já a SDI (1 e 2) possui em sua composição vinte e um ministros (o presidente e o vice-presidente do Tribunal, o corregedor geral da Justiça do Trabalho e mais dezoito ministros) e funciona em composição plena ou dividida em duas subseções para julgamento dos processos de sua competência. Pelo funcionamento da SDI na sua forma plena, o art. 65, parágrafo 1º do Regimento Interno do TST, exige que um quórum mínimo de onze ministros, porém, as deliberações apenas poderão ocorrer pelo voto da maioria absoluta dos integrantes da seção (TST, 2008). Como mencionado, a Seção de Dissídios Individuais é dividida em duas subseções: A SDI- I e a SDI II. A Seção de Dissídios Individuais n. 1 do TST tem em sua composição quatorze ministros, sendo o presidente e o vice-presidente do Tribunal, o corregedor geral da Justiça do Trabalho e mais onze ministros, preferencialmente os presidentes de Turma, sendo exigida a presença de pelo menos oito ministros para o seu funcionamento. É importante a menção de que deve haver ao menos um e no máximo dois integrantes de cada Turma na composição da Subseção I Especializada em Dissídios Individuais. Já a Seção de Dissídios Individuais n. 2 do TST é composta também pelo presidente e o vice-presidente do Tribunal, o corregedor geral da Justiçado Trabalho e mais sete ministros, sendo exigida a presença de, no mínimo, seis ministros para o seu funcionamento. Por fim, divide-se ainda o Tribunal Superior do Trabalho em 8 (oito) turmas, cada qual constituída por três ministros, sendo este o quórum mínimo para sessão de julgamento, resguardada a possibilidade de convocação de ministro de outra turma, mediante prévio entendimento, para fazer parte do julgamento. 6 TEMA 3 – DA ORGANIZAÇÃO DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO Temos, ainda no âmbito do Poder Judiciário na esfera trabalhista, os Tribunais Regionais do Trabalho, que originalmente, na forma do art. 112 da Constituição Federal de 1988, previa que deveria haver um Tribunal Regional do Trabalho em cada Estado e no Distrito Federal (Brasil, 1988). Após o advento da EC n. 45/2004, foi dada nova redação ao texto constitucional, retirando a obrigatoriedade de instalação de ao menos um Tribunal Regional do Trabalho por Região, havendo assim a possibilidade de que um Tribunal tenha jurisdição sobre duas unidades da federação, citando, por exemplo, o TRT da 14ª Região, que possui jurisdição sobre os estados de Rondônia e Acre (Brasil, 2004). Adverte-se que o art. 674 da CLT prevê apenas a instalação e funcionamento de 8 (oito) TRTs, dividindo o Estado brasileiro em 8 (oito) regiões, porém o referido artigo foi tacitamente revogado pela Constituição Federal de 1988 e suas posteriores emendas constitucionais. Assim, hoje existem 24 (vinte e quatro) TRTs, dividindo o país em 24 Regiões, conforme distribuição abaixo: 1ª Região – Rio de Janeiro 2ª Região – São Paulo 3ª Região – Minas Gerais 4ª Região – Rio Grande do Sul 5ª Região – Bahia 6ª Região – Pernambuco 7ª Região – Ceará 8ª Região – Pará e Amapá 9ª Região – Paraná 10ª Região – Distrito Federal e Tocantins 11ª Região – Amazonas e Roraima 12ª Região – Santa Catarina 13ª Região – Paraíba 14ª Região – Acre e Rondônia 15ª Região – Municípios do estado de São Paulo não englobados pela 2ª Região 7 16ª Região – Maranhão 17ª Região – Espírito Santo 18ª Região – Goiás 19ª Região – Alagoas 20ª Região – Sergipe 21ª Região – Rio Grande do Norte 22ª Região – Piauí 23ª Região – Mato Grosso 24ª Região – Mato Grosso do Sul Os Desembargadores do Trabalho (assim denominados após Resolução n. 104/2012 do CSJT) devem ser nomeados pelo Presidente da República, e o seu número é variado de acordo com o volume de processos, sendo composto o Tribunal ao menos de sete juízes, recrutados entre os advogados e membros de Ministério Público do Trabalho, ambos com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional, e os demais, mediante promoção dos juízes do trabalho, de forma alternada entre antiguidade e merecimento. Cabem aos TRTs ainda a elaboração do seu próprio regimento interno, com regras relativas a questões institucionais do órgão, com o estabelecimento de competências, composição de turmas, dentre outras, ressaltando que estas devem ser compatíveis com as normas da CLT e com a Constituição Federal. TEMA 4 – DA COMPOSIÇÃO DAS VARAS DE TRABALHO Em 1ª instância, existem as varas do trabalho, que possuem jurisdição determinada pelo local da sua instalação, abrangendo um ou por vezes mais de um munícipio, cabendo à lei fixar a competência territorial da Vara correspondente a determinado local. Antes de EC n. 24/1999, a Vara do Trabalho era composta por três juízes, sendo um togado e outros dois classistas. Atualmente, porém, e na forma do disposto 116, caput, da Constituição Federal, “nas Varas do Trabalho, a jurisdição será exercida por um juiz singular.” (Brasil, 1988). É importante mencionar que cada Vara do Trabalho é composta por dois juízes, aprovados por concurso público e empossados pelo desembargador presidente do Tribunal Regional do Trabalho correspondente, sendo um deles o titular, que é fixo, e o outro um substituto, que não é. 8 A competência das Varas do Trabalho são aquelas que constam no art. 114, I a IX, da Constituição Federal (Brasil, 1988) com a exclusão daquelas que não sejam de competência originária dos tribunais. 4.1 Corregedoria Geral e Regional do Trabalho A Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho – CGJT é um órgão que conduz administrativamente o Tribunal Superior do Trabalho, sendo dirigida por um corredor geral eleito para um mandato de 2 anos, na forma do regimento interno do TST. O corregedor geral tem suas atividades regulamentadas pelo art. 709 da CLT, ressaltando-se, porém, a existência do Regimento Interno da Corregedoria- Geral da Justiça do Trabalho, aprovada pela Resolução Administrativa n. 1.455 de 24/5/2011 do Órgão Especial do Tribunal Superior do Trabalho, que, na forma descrita no art. 39 do RITST, atribui a este órgão disciplinar quais seriam as competências (TST, 2011). Dentre as atribuições do corregedor geral, está incluída a apresentação na última sessão do mês seguinte ao do término da sua gestão, um relatório de todas as atividades realizadas pela Corregedoria durante o ano que está se encerrando, além de outras funções definidas no regimento interno da Corregedoria Geral, na forma do art. 39 do RITST (TST, 2011). Por outro lado, estão excluídas das funções do corregedor geral integrar Turmas do Tribunal, podendo, porém, participar com voto em incidente de inconstitucionalidade, nos processos administrativos e ainda naqueles em que estava vinculado por vista ocorrida antes da sua posse. Finalmente, o corregedor geral não integra sorteio para distribuição de processo, participando, quando não estiver ausente em função da corregedoria, das sessões dos órgãos da corte, com direito a voto, com exceção das votações das Turmas. 4.2 Corregedoria Regional Inexiste fundamento legal sobre a existência de uma Corregedoria Regional do Trabalho, determinando o art. 682, XI, da CLT que cabe ao Desembargador Presidente do TRT exercer a correição sobre as Varas ao menos uma vez por ano, ou de forma parcial quando necessário (Brasil, 1943). 9 Contudo, e considerando o estabelecido no art. 96, I “a” e “b” da Constituição Federal, que garantiu aos Tribunais a elaboração de regimento interno, passou a existir a possibilidade de criação pelo próprio Tribunal da Corregedoria Regional, a ser exercido pelo Desembargador do Trabalho eleito na forma regimental (Brasil, 1988). Assim, cabe a cada Tribunal definir em regimento interno a existência da Corregedoria Regional do Trabalho, definindo suas competências a atribuições. 4.3 Dos serviços auxiliares da Justiça do Trabalho A Constituição Federal de 1988, em seu art. 96, “b”, garante aos Tribunais Regionais do Trabalho a organização das suas secretarias e dos serviços auxiliares, do próprio Tribunal e das Varas do Trabalho. Na CLT existe capítulo próprio tratando do assunto, remetendo-se à leitura dos arts. 710 a 721. Em síntese, consideram-se órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho as secretarias, distribuidores, oficiais de justiça e os avaliadores, ressalvando que o regimento interno de cada Tribunal tem autonomia para dispor a respeito do tema. Quanto aos serventuários da Justiça do Trabalho, estes são servidores públicos federais, regidos pela Lei n. 8.112/92, regime único na administração pública Federal, devendo para ingressar na carreira, ser aprovado em concurso público (art. 37, II da CF/88). A nomeação e a posse dos servidores são realizadas pelo Presidente do Tribunal, podendo ser atribuída a outrem, desde que haja expressa previsão no regimento interno. 4.4 Serviços auxiliares na primeira instância As Varas do Trabalho possuem uma secretaria, composta por servidores públicos federais concursados, e suas atribuições vem descrita no art. 711 da CLT, que dispõe: Art. 711 – Compete à secretaria das Juntas: a. o recebimento,a autuação, o andamento, a guarda e a conservação dos processos e outros papéis que lhe forem encaminhados; b. a manutenção do protocolo de entrada e saída dos processos e demais papéis; c. o registro das decisões; d. a informação, às partes interessadas e seus procuradores, do andamento dos respectivos processos, cuja consulta lhes facilitará; e. a abertura de vista dos processos às partes, na própria secretaria; 10 f. a contagem das custas devidas pelas partes, nos respectivos processos; g. o fornecimento de certidões sobre o que constar dos livros ou do arquivamento da secretaria; h. a realização das penhoras e demais diligências processuais; i. o desempenho dos demais trabalhos que lhe forem cometidos pelo Presidente da Junta, para melhor execução dos serviços que lhe estão afetos. Haverá ainda em cada Vara do Trabalho um diretor de secretaria, que é indicado pelo juiz titular e nomeado pelo presidente do Tribunal. Observe que, nesse caso, o presidente do Tribunal apenas fará a nomeação, competindo ao juiz titular da Vara do Trabalho, na forma do art. 5º, da Resolução n. 147/2012, empossar o servidor no cargo de Diretor de Secretaria (Brasil, 2012). Após ser empossado, passará o servidor a realizar diversas e relevantes funções no âmbito da Vara do Trabalho que dirige, citando, por exemplo, promover o rápido andamento dos processos, especialmente na fase de execução, e a pronta realização dos atos e diligências deprecadas pelas autoridades superiores, dar aos litigantes ciência das reclamações e demais atos processuais de que devam ter conhecimento, assinando as respectivas notificações e abrir a correspondência oficial dirigida à Junta e ao seu Presidente, a cuja deliberação será submetida. (Brasil, 2012) A relação completa das atividades que devem ser desenvolvidas pelo Diretor de Secretaria encontra-se prevista no art. 712 da CLT, alertando, contudo, que não obstante constar no referido artigo “secretários das Juntas de Conciliação e Julgamento” (Brasil, 1943), após a EC 24/99, a denominação correta é “Vara do Trabalho”. Como órgão auxiliar, podemos citar ainda o distribuidor, que tem como objetivo precípuo a “distribuição, pela ordem rigorosa de entrada, e sucessivamente a cada Junta, dos feitos que, para esse fim, lhe forem apresentados pelos interessados”. Também é no Distribuidor onde são obtidas as certidões de feitos, que podem ser utilizadas para os mais diversos fins, servindo comumente para verificar a existência de ação trabalhista em caso de compra e venda de imóveis, por exemplo. A nomeação do servidor é feita pelo presidente do Tribunal, escolhido entre os servidores das Varas do Trabalho e também do próprio TRT, por força do art. 715 da CLT (Brasil, 1943), novamente ficando ressalvada a possibilidade de haver previsão diversa no Regimento Interno. 11 4.5 Des serviços auxiliares de segunda instância Em segunda instância, também há a necessidade de haver ao menos uma secretaria, dirigida por um servidor público designado para a função, recebendo gratificação pelo cargo, conforme prevê o art. 718 da CLT (Brasil, 1943). As funções do secretário estão descritas no art. 711 da CLT, cabendo a ele ainda a conclusão dos processos ao Presidente e sua remessa, depois de despachados, aos respectivos relatores e a organização e a manutenção de um fichário de jurisprudência do Conselho, para consulta dos interessados (art. 719 “a” e b” da CLT) (Brasil, 1943). Quanto às suas atribuições, sua previsão está contida no art. 720 da CLT, que remete ao art. 712 do mesmo diploma legal, ou seja, funções idênticas as desempenhadas pelos diretores das Varas do Trabalho (Brasil, 1943). No âmbito do Tribunal Superior do Trabalho, também há uma secretaria, dirigida pelo diretor geral, que, em conformidade com o regimento interno do Tribunal, deve ser Bacharel em Direito, nomeado de forma comissionada para dirigir os serviços judiciários e administrativos do órgão (TST, 2008). 4.6 Do oficial de justiça avaliador Em que pese o art. 721 dispor sobre a existência de dois cargos (oficial de justiça e oficial de justiça avaliador), atualmente temos apenas a figura do oficial de justiça avaliador. Referido servidor exerce relevantíssima função auxiliar na prestação jurisdicional, sendo mais atuante na fase executória, em que executa diligências como penhora, avaliação, busca e apreensão de bens, dentre outros. Na fase de conhecimento, sua atividade é mais restrita, mas sem deixar de ser relevante para o bom andamento processual, citando, como exemplo, a intimação coercitiva de testemunha e ainda a citação do reclamado quando não possui endereço certo e não é localizado para receber a notificação. Em cada Vara do Trabalho deve haver ao menos um oficial de justiça avaliador, podendo existir ainda, a critério do Tribunal Regional, uma Central de Mandados, que centraliza o cumprimento das determinações judiciais enviadas pelas Varas do Trabalho que deverão ser realizadas pelo oficial de justiça avaliador. 12 Não havendo no local oficial de justiça avaliador, pode o juiz titular da Vara do Trabalho nomear qualquer serventuário para o cargo, sendo chamado de oficial de justiça ad hoc, ficando investido de todas as prerrogativas do oficial de justiça avaliador, como requisitar força policial para cumprimento do mandado. Porém, o oficial de justiça ad hoc não goza de nenhuma vantagem pelo exercício da função, como vínculo empregatício e gratificação de função por exemplo, pois entende a SDI-1 do TST em sua Orientação Jurisprudencial n. 164 que “Não se caracteriza o vínculo empregatício na nomeação para o exercício das funções de oficial de justiça ad hoc, ainda que feita de forma reiterada, pois exaure-se a cada cumprimento de mandado” (TST, 2017). TEMA 5 – DA JURISDIÇÃO Para adentrar no tema proposto, é necessário trazer à luz a clássica lição de Carnelutti, que se refere a ela como um meio do Estado compor a lide, entendendo ser esta uma pretensão resistida, visando a composição do conflito de interesses que lhe são submetidas. O conceito moderno de jurisdição, na lição de Greco Filho (2013), passa a ser considerado como “o poder, função e atividade de aplicar o direito a um fato concreto, pelos órgãos públicos destinados a tal, obtendo-se a justa composição da lide” Em resumo, jurisdição é um poder atribuído ao Estado para se dizer e aplicar o direito, retirando das mãos dos particulares o nobilíssimo escopo da busca da justiça. Há exceções ao exercício da jurisdição pelo Estado, permitindo-se de maneira excepcional que essas atividades sejam realizadas por terceiros, por exemplo, a jurisdição exercida pelo senado federal para julgar autoridades por crimes de responsabilidade (art. 52, I e II da CF/1988) e, no caso de haver compromisso arbitral, na forma do artigo 114, parágrafos 1º e 2ª da Carta Magna (Brasil, 1988). 5.1 Princípios da jurisdição Os princípios aplicáveis a Justiça do Trabalho serão abordados na sequência, porém, ante a relevância do tema, apresentamos alguns dos princípios 13 inerentes à jurisdição cujo conhecimento se mostra importante para o prosseguimento dos estudos. Pelo princípio da inércia (ou da demanda), a jurisdição apenas será instaurada em caso de provocação do interessado, visto que é vedado que aja o Poder Judiciário ex officio. Já o princípio da inafastabilidade da jurisdição, significa que nada poderá obstar o acesso ao Poder Judiciário pelos jurisdicionados, tampouco lesão ou ameaça de direito (art. 5º XXXV da CF) (Brasil, 1988). O princípio da aderência ao território quer dizer que a jurisdição em regra apenas se manifesta dentro dos limites da soberania nacional, vinculado ao território da unidade da federação respectiva. Quanto ao princípio da investidura, este apenas permite que a jurisdição será considerada válida quandoexercida por um juiz devidamente investido no cargo. O estudo dos princípios não se esgota nesse momento, apenas trazendo tais exemplos sobre a sua aplicabilidade relacionados à jurisdição, relegando para momento posterior novos estudos sobre o tema. 5.2 Característica da jurisdição As características da jurisdição são: a unidade, a secundariedade, a imparcialidade e a substitutividade. A unidade se refere à própria forma em que a jurisdição é praticada (ou por quem), o que, na forma do disposto no art. 16 do Código de Processo Civil, “é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.” (Brasil, 2015). A secundariedade relaciona-se ao fato de que, via de regra, o direito é realizado de forma espontânea pelos jurisdicionados, cabendo a atuação do Poder Judiciário apenas em caso em que será necessária a resolução do conflito, quando devidamente provocado (princípio da inércia). Outra característica da jurisdição é a imparcialidade para o seu exercício, exigindo-se que o juiz seja imparcial, assegurando para as partes um tratamento isonômico, conforme previsto nos art. 7º e 139, I do Código de Processo Civil brasileiro (Brasil, 2015). Por fim, a última característica da jurisdição é a substitutividade, que se entende como a substituição dos poderes conferidos às partes para a 14 resolução dos conflitos em detrimento do poder legal para que a responsabilidade pela solução seja atribuída ao Estado. 5.3 Da jurisdição trabalhista – individual, coletiva e metaindividual No direito brasileiro, e fazendo uma análise do texto de lei, pode-se dizer que duas justiças: a comum, integrada pela justiça federal (art. 106 a 110 CF/1988) e a justiça estadual (arts. 125 a 126 da CF/1988) e a justiça especializada, integrada pela Justiça do Trabalho (arts. 111 a 117 da CF/1988), a justiça eleitoral (arts. 118 a 121 da CF/1988) e a justiça militar (arts. 122 a 124 da CF/1988) (Brasil, 1988). Temos, portanto, que a Justiça do Trabalho é uma justiça especial, ou, também podemos dizer, especializada. A jurisdição trabalhista, após a Constituição Federal de 1988, da Lei Complementar n. 75/1993, da Lei n. 7.347/1985 e da Lei n. 8.078/1990, passou a ser dividida em subsistemas: jurisdição trabalhista individual, normativa e metaindividual. Passaremos a tratar de cada uma delas de forma isolada para melhor compreensão. 5.3.1 Jurisdição trabalhista individual É a mais comum, referindo-se às reclamatórias trabalhistas decorrentes de uma relação de emprego e ajuizadas perante as Varas do Trabalho. Sua regulamentação encontra-se no título X, capítulo III, da CLT (Brasil, 1943), e, de forma supletiva, no Código de Processo Civil brasileiro (Brasil, 2015). 5.3.2 Jurisdição trabalhista normativa Essa forma de jurisdição pretende disciplinar os dissídios coletivos, buscando, pelo exercício desse poder normativo exercido pelos Tribunais Regionais do Trabalho, criar normas que se aplicam às partes integrantes da demanda dessa natureza, bem como dos seus representados. Regulamentada pelo título X, capítulo IV da CLT, e de forma supletiva pelo Código de Processo Civil brasileiro, conforme autorizado pelo art. 769 da CLT (Brasil, 1943) e 15 daquele diploma legal (Brasil, 2015). 15 5.3.3 Jurisdição trabalhista metaindividual Destina-se à tutela de interesses difusos, coletivos strictu sensu e os interesses individuais homogêneos. Para tutela destes direitos, aplicam-se as normas previstas na Constituição Federal de 1988, Lei Orgânica do Ministério Público da União e o Código de Defesa do Consumidor, aplicando-se de forma supletiva o CPC e a CLT, em uma flagrante inversão das regras previstas no art. 769 da lei trabalhista, pois, nesse caso, aplicar-se-á de primeiramente as normas mencionadas, para depois buscar junto à Consolidação das Leis do Trabalho e do Código de Processo Civil brasileiro a forma de aplicação do direito. Há que se mencionar que os titulares dessas ações que visam à proteção de direitos metaindividuais são restritos, gozando desse poder apenas alguns órgãos, como o Ministério Público do Trabalho e Sindicatos, que será abordado na sequência dos estudos. 16 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 9 ago. 1943. _____. Emenda Constitucional n. 24, de 9 de dezembro de 1999. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 10 dez. 1999. _____. Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 31 dez. 2004. _____. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 mar. 2015. BRASIL. Consellho Nacional de Justiça. Resolução n. 147, de 7 de março de 2012. Diário da Justiça, Brasília, DF, n. 39, 8 mar. 2012, GARCIA, G. F. B. CLT Comentada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015 GRECO, L. Instituições de processo civil: Introdução ao direito processual civil. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1. GRECO FILHO, V. Direito processual civil brasileiro. 23. ed. São Paulo; Saraiva, 2013. LEITE, C. H. B. Curso de direito processual do trabalho. 14. ed., de acordo com o novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2016. MARTINS, S. P. Comentários às súmulas do TST, 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015 TST – Tribunal Superior do Trabalho. Informativo TST. Brasília: Tribunal Superior do Trabalho, Coordenadoria de Jurisprudência, n. 164, 12 a 18 set. 2017 _____. Resolução Administrativa n. 1.295/2008, de 24 de abril de 2008. DJ, 9 maio 2008. _____. Resolução Administrativa n. 1455, de 24 de maio de 2011. DEJT, 3 jun. 2001.
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