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SILVA - ANALISE DA SOBREPOSIÇÃO DO NICHO TROFICO DAS ESPÉCIES SIMPÁTRICAS Anthopleura krebsi E A

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III Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO’2008
I Congresso Ibero-Americano de Oceanografia – I CIAO
Fortaleza (CE), 20 a 24 de maio de 2008
AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia
ANÁLISE DA SOBREPOSIÇÃO DO NICHO TRÓFICO DAS ESPÉCIES 
SIMPÁTRICAS Anthopleura krebsi E A. cascaia (CNIDARIA:ANTHOZOA) NA 
PRAIA DOS CARNEIROS, PERNAMBUCO
Silva1, J. F.; Perez2, C. D.; Gomes3, P. B.
1Universidade Federal de Pernambuco, Mestrado em Biologia Animal – CCB. Rua Prof. Moraes Rego 1235, Cidade 
Universitária. Recife – PE, Brasil. CEP: 50670-901. Email: janinefarias07@yahoo.com.br.
2Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico de Vitória. Rua do Alto Reservatório, s/n°, Vitória de Santo 
Antão – PE, Brasil. Email: cdperez@ufpe.br
3Universidade Federal Rural de Pernambuco, Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Marinhos (LECEM), 
Av. Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife - PE, Brasil; E-mail: pgomes@db.ufrpe.br
RESUMO 
Ambientes recifais de mediolitoral possuem uma variação de condições físicas e químicas ao 
longo de sua extensão em decorrência das mudanças do níveldas marés e da ação das ondas. A 
habilidade competitiva e conseqüentemente a abundância relativa das espécies pode mudar em 
ambientes diferentes e de acordo com características de seus nichos ecológicos. O conceito de 
sobreposição de nicho vema representar um importante papel na teoria de comunidade. O 
objetivo do presente trabalho é de avaliar a largura e o grau de sobreposição de nicho entre duas 
espécies simpátricas, Anthopleura krebsi e A. cascaia em um recife de mediolitoral em 
Pernambuco, a partir do índice de similaridade de suas presas. A A. cascaia apresentou uma 
maior abundância absoluta e riqueza de itens de presa. Ambas mostraram-se polífagas com uma 
tendência a malacófagas, predando principalmente o Brachidontes solisianus. As duas espécies 
tiveram uma elevada similaridade de suas presas (SJ = 0,834), mostrando uma grande 
sobreposição dos nichos alimentares, mas, devido a abundância do B. solisianus no ambiente e o 
comportamento polífago das espécies, parece não haver uma competição forte entre elas.
Palavras chave: Ecologia trófica, anêmonas-do-mar, Dieta.
INTRODUÇÃO 
As anêmonas, Anthopleura krebsi e Anthopleura cascaia são espécies simpátricas 
comumente encontradas no litoral Pernambucano em recifes do mediolitoral. Esse tipo de 
ambiente possui uma variação de condições físicas e químicas ao longo de sua extensão em 
decorrência das mudanças do nível das marés e da ação das ondas (LEVINTON, 1995). A 
temperatura, a umidade relativa, o pH e outras condições físicas e químicas determinam se o 
ambiente é habitável podendo, inclusive, mediar interações entre organismos, tais como a 
competição (BEGON et al., 2004). A habilidade competitiva e conseqüentemente a abundância 
relativa das espécies pode mudar em ambientes diferentes e de acordo com características de 
seus nichos ecológicos (BEGON et al., 2004).
O conhecimento das relações tróficas entre espécies possibilita uma melhor compreensão 
dos mecanismos que permitem que espécies proximamente relacionadas explorem o mesmo 
nicho (ROSAS et al., 1994). Estudos sobre a largura e sobreposição de nicho trófico são 
importantes para quantificar como duas espécies se sobrepõem quanto à utilização dos recursos 
alimentares (ALBERTONI et al., 2003), ou mesmo para ser usada como uma medida descritiva da 
organização da comunidade (ABRAMS, 1980). 
O objetivo do presente trabalho é de avaliar a largura e o grau de sobreposição de nicho 
entre duas espécies simpátricas, Anthopleura krebsi e A. cascaia em um recife de mediolitoral em 
Pernambuco, a partir do índice de similaridade de suas presas.
MATERIAIS E MÉTODOS 
Foram realizadas coletas no período chuvoso que compreendeu os meses de março, maio 
e agosto de 2007 na praia dos Carneiros (8º42´16"S 35º04´40"W), município de Tamandaré, 
Pernambuco. Durante a maré baixa, foram retiradas dos recifes de mediolitoral 120 anêmonas-do-
mar da espécie Anthopleura krebsi e 44 de A. cascaia totalizadas nos três meses de coleta. Para 
garantir a interrupção do processo digestivo, os exemplares foram fixados em formol a 10% e 
posteriormente levadas ao laboratório em frascos para análise.
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Emlaboratório, o diâmetro da base de cada an êmona foi aferido com um paquímetro. Em 
seguida, elas foram abertas com um corte longitudinal e toda a cavidade gástrica foi lavada com 
água destilada. O conteúdo gástrico encontrado foi separado, triado e identificado até o menor 
nívelpossível, dependend o do grau de digestão de cada presa. A partir dessa análise foi 
contabilizada a porcentagem de cavidades gástricas vazias, a abundância total e relativa das 
presas como também a freqüência de ocorrência das presas.
A Sobreposição de nicho foi estimada através do índice de similaridade de Jaccard.
RESULTADOS E DISCUSSÕES 
A média dos diâmetros das bases de A. krebsi coletadas foi de 8,86 mm com um desvio 
de 2,69. Para A. cascaia a média dos diâmetros das bases foi de 17,67 mm com um desvio de 
3,76. Das 120 cavidades gástricas de A. krebsi analisadas, 82 (68,34%) apresentaram-se vazias. 
Em A. cascaia, 17 (38,63%) do total das 44 anêmonas estavam sem conteúdo gástrico. 
A abundância absoluta de presas encontradas foi de 52 indivíduos em A. krebsi e 55 em 
A. cascaia. A tabela 1 apresenta uma lista taxonômica das presas encontradas no interior das 
cavidades gástricas das duas espécies estudadas e também a freqüência de ocorrência e 
abundância relativa das mesmas.
Tab. 1: Freqüência de ocorrência (F.O) e abundância relativa (Ab. R) dos itens de presa 
encontrados em Anthopleura krebsi e Anthopleura cascaia coletadas na Praia dos Carneiros –
Pernambuco, nos meses de março, maio e agosto de 2007.
ITENS DE PRESA Anthopleura krebsi Anthopleura cascaia
F.O (%) Ab. R (%) F.O (%) Ab. R (%)
MOLLUSCA
Classe Bivalvia
Bivalve não identificado 2,63 1,92 - -
Brachidontes solisianus (d´Orbigny, 1846) 78,94 71,15 74,07 47,27
Brachidontes exustus (Linnaeus, 1758) - - 7,4 3,63
Isognomon alatus (Gmelin, 1797) - - 3,7 1,81
Classe Gastropoda
Gastrópode não identificado 5,26 5,76 7,4 3,63
Nodilitorina sp. - - 3,7 1,81
Nodilittorina ziczac (Gmelin, 1791) 7,89 5,76 14,81 16,36
Fissurella clenchi Farfanti, 1943 5,26 3,84 3,7 1,81
Stramonita haemastoma (Linnaeus, 1767 - - 3,7 1,81
Petaloconchus erectus (Dall, 1888) - - 7,4 3,63
Tricolia affinis (C. B. Adams, 1850) 2,63 1,92 - -
ARTHROPODA
Classe Crustacea
Crustáceo não identifcado 5,26 3,84 - -
Eriphia gonagra (J. C. Fabricius, 1781) 2,63 1,92 11,11 5,45
Chtamalus proteus Dando & Southward, 1980 2,63 1,92 7,4 3,63
Chthamalus bisinuatus Pilsbry, 1916 - - 3,7 1,81
Tetraclita stalactifera (Lamarck, 1818) - - 3,7 1,81
ECHINODERMATA
Echinometra lucunter (Linnaeus, 1758) 2,63 1,92 7,4 3,63
ALGA - - 3,7 1,81
A riqueza de itens de presas foi inferior para A. krebsi com 10 táxons contabilizados, 
enquanto que A. cascaia obteve 15 táxons.
Os táxons mais representativos para as duas espécies foram os moluscos com destaque 
para o Brachidontes solisianus, seguido da Nodilittorina ziczac. No grupo dos Arthropoda, a 
Eriphia gonagra e o Chtamalus proteus obtiveram as maiores freqüências de ocorrência.
A. krebsi e A. cascaia mostraram-se polífagas com uma tendência a malacófagas, uma 
vez que se alimentaram de um número variado de itens, porém com um forte predomínio de 
moluscos, em especial de uma espécie. Exemplares de Bunodosoma cangicum em Pernambuco 
apresentaram-se polífagas, mas com comportamento diferente em praias com características 
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distintas (malacófaga e carcinófaga)(LIRA, 2004). É provávelque isso se deva ao oportunismo da 
espécie, predando os itens mais comuns. 
A espécie A. cascaia apresentou uma maior abundância de presas e também maior 
riqueza. Isto pode ser devido ao tamanho maior da espécie que permite a ela uma ingestão de 
mais de um item de presa ao mesmo tempo. Anêmonas menores, como A. krebsi, podem 
consumir pequenos itens de presa, rapidamente digeridos e mais difíceis de serem detectados 
(KRUGER et al, 1996) ou podem incluir na dieta matéria orgânica dissolvida e detritos orgânicos 
particulados, além de nutrir-se através da associação com microalgas simbiontes chamadas 
zooxantelas (SHICK, 1991).
As duas espécies tiveram uma elevada similaridade de suas presas (SJ = 0,834), 
mostrando uma grande sobreposição dos nichos alimentares. Isto se deve ao fato de ambas terem 
a espécie B. solisianus como sua principal presa, com abundância e freqüência de ocorrência 
elevadas. Apesar disto, a competição entre as espécies parece ser baixa, uma vez que ambas 
apresentam-se abundantes no ambiente. Devido à predação sobre uma diversidade de presas 
somada a elevada abundância do B. solisianus no ambiente durante todo o ano, o grau de 
competição entre as espécies é baixo. De fato, a sobreposição pode evidenciar ausência de 
competição, se um dos recursos é superabundante ou então é irrelevante para uma das espécies 
(COLWELL & FUTUYMA, 1971).
CONCLUSÕES 
Apesar das espécies A. cascaia e A. krebsi emrecifes de mediolitoral de Pernambuco 
predarem sobre uma variedade de presas, ambas comportam-se como malacófagas predando 
basicamente o bivalve B. solisianus. Mesmo com uma grande sobreposição dos nichos 
alimentares, a abundância deste molusco no ambiente e o comportamento polífago das espécies 
parece evitar a competição forte entre elas.
REFERÊNCIAS 
ABRAMS, P. 1980. Some comments on measuring niche overlap. Ecology, Durhan, 61(1):44-49.
ALBERTONI, E. F.; PALMA-SILVA, C.; ESTEVES, F.A. 2003. Overlap of dietary niche and 
electivity of three shrimp species (Crustacea, Decapoda) in a tropical coastal lagoon (Rio de 
Janeiro, Brazil). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 20 (1): 135-140.
BEGON, M.; TOWNSEND, C.R.; HARPER, J.L. 2004. Fundamentos de ecologia. Artmed, Porto 
Alegre. 592 pp.
COLWELL, R. K.; FUTUYMA, D.J. 1971. On the measurement of niche breath and overlap. 
Ecology, Durhan, 52 (4): 567-576.
KRUGER, L. M.; GRIFFITHS, C. L. 1996. Sources of nutrition in intertidal sea anemones from the 
south-western Cape, South Africa. African Journal of Zoology, 31(3): 100-119. 
LEVINTON, J. S. 1995. Marine biology: function, biodiversity, and ecology. Oxford University 
Press, New York. 420 pp.
LIRA, S. A. C. 2004. Ecologia trópica de Bunodosoma cangicum (Cnidaria: Actiniaria) na Bacia do 
Pina e Praia do Pina (Pernambuco, Brasil). Monografia (Graduação) – Universidade Federal de 
Pernambuco, Recife, 52 pp.
ROSAS, C.; LAZARO-CHAVEZ, E.; BÜCKLE-RAMIREZ.; F. 1994. Feeding habits and food niche 
segregation of Callinectes sapidus, C. rathbunae e C. similis in a subtropical coastal lagoon of the 
Gulf of Mexico. Journal of Crustacean Biology, Kansas, 14 (2): 371-382.
SHICK, J. M. A. 1991. Functional Biology of the Sea Anemones. Chapman & Hall. London. 395 
pp.

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