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FUNDAMENTOS DA LINGUAGEM VISUAL AULA 4 Prof. André Luiz Pinto dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, veremos as diferenças das linguagens bidimensionais e tridimensionais e de que maneira estão presentes no cotidiano. Para que se possa facilitar a compreensão, no Tema 1 será exposto o que se entende e quais são os elementos da forma bidimensional, já alinhando com o desenho tridimensional, que será apresentado no Tema 2. Quanto à aplicação prática dessas duas linguagens das artes visuais, no Tema 3 será apresentado o conceito de perspectiva cônica. Nesse momento também serão relembrados alguns conceitos vistos nas aulas anteriores. No Tema 4 veremos o trompe l’oeil, técnica que utiliza da perspectiva e de outros elementos da linguagem visual já vistos para criar uma ilusão tridimensional. Para finalizar a aula, o Tema 5 contextualizará o que seria a realidade virtual e a realidade aumentada, técnicas contemporâneas que surgiram com os avanços tecnológicos. Diferenciaremos cada uma delas e veremos como as artes visuais estão inseridas nesse contexto. TEMA 1 – FORMA BIDIMENSIONAL Conforme Wong (1998, p. 35), o bidimensional “possui aspectos de organização visual limitando o objeto numa área especifica sem profundidade, onde podem ser arrumadas marcas visíveis”. É importante relembrar que a forma bidimensional é constituída de elementos visuais básicos, como por pontos, linhas ou planos sobre uma superfície plana. Para Ostrower (2013), as dimensões de uma superfície não existem de forma solitária; trata-se, antes de tudo, de uma articulação com os demais elementos formais. A respeito da diferença entre forma e formato, Wong (1998) considera que os dois termos são usados como sinônimos, porém têm significados diferentes: formato seria uma área definida por um contorno, enquanto um formato ao qual se dê volume e espessura visto de diferentes ângulos se torna uma forma. Sobre esse mesmo aspecto, Gomes Filho (2008) identifica o formato como forma, e esta pode ser definida como os limites exteriores do material que compõe um objeto e que lhe confere um feitio, uma configuração. Nas artes visuais, geralmente os artistas que trabalham com arte bidimensional começam com uma superfície plana. É fundamental compreender que a forma bidimensional é aquela que apresenta apenas as dimensões de 3 altura e largura. As formas de artes bidimensionais podem ser representadas pelo desenho, pintura, gravura, fotografia, caligrafia, sendo formadas em uma superfície plana, sem profundidade tátil. O plano como elemento formal pode ser identificado de duas maneiras diferentes. A primeira acontece quando se identifica a figura do espaço do suporte que acomoda a linguagem visual. Por exemplo, o professor poderá explicar aos estudantes que o papel, a tela de pintura, a chapa de madeira etc. podem ser utilizados como suporte para um meio expressivo. Essa maneira de identificação é conhecida como plano original, segundo Kandinsky (2005). A segunda identificação ocorre quando é feita a percepção do conteúdo expresso por meio da linguagem visual; em outras palavras, quando o artista desenha, pinta, grava, fotografa, esculpe, entre outras possibilidades de ação expressiva, por vezes, utilizando-se de superfícies. Costa e dos Santos (2016) explicam também que em uma superfície bidimensional as formas planas possuem uma variedade de formatos, sendo classificados como: • planos geométricos, construídos matematicamente; • planos orgânicos, limitados por curvas livres, dando a noção de fluidez e crescimento; • planos retilíneos, em que a limitação é constituída por linhas retas, mas que não se relacionam uma com as outras matematicamente como no plano geométrico; • planos irregulares, com a limitação constituída por linhas retas e curvas que também não possuem relação matemática; • planos caligráficos, compostos por linhas orgânicas; e • planos acidentais, determinados ocasionalmente ou por efeito de processo especial. Além disso, as formas planas também podem ser organizadas de diversas maneiras, e, a partir dessa organização, se obtém diferentes efeitos espaciais, resultando em resultados diversos. Para Wong (1998, p. 49), as principais formas de relação entre as formas são: A. Separação – As duas formas permanecem separadas uma da outra. Efeito Espacial - Ambas as formas podem parecer equidistantes do olhar ou uma mais próxima e a outra mais distante, dependendo do tamanho ou da cor aplicada. 4 B. Contato – Se aproximarmos as duas formas, estas começam a se tocar. O espaço contínuo que as mantém separadas é então rompido. Efeito espacial – No contato, a situação espacial das duas formas também é flexível, como na separação. A cor desempenha um papel importante na determinação da situação espacial. C. Superposição – Se aproximarmos ainda mais as duas formas, uma cruza a outra e parece estar sobre ela, cobrindo uma porção da forma que parece estar por baixo. Efeito espacial – É evidente que neste caso, percebe-se que uma forma se encontra na frente ou sobre a outra. D. Interpenetração – O mesmo que na superposição, sendo que ambas as formas parecem transparentes. Efeito espacial – Neste caso, a situação espacial é um pouco vaga, porém, é possível colocar uma forma sobre a outra pela manipulação das cores. E. União – O mesmo que na Superposição, porém, as duas formas são unidas e se tornam uma forma nova. Ambas perdem uma parte de seus contornos quando estão em união. Efeito espacial – Na união, em geral as formas parecem equidistantes do olhar porque se tornam uma forma nova. F. Subtração – Quando uma forma invisível cruza uma visível, o resultado é a subtração. A porção da forma visível que coberta pela invisível também se torna invisível. A subtração pode ser considerada como a superposição de uma forma negativa em uma positiva. Efeito espacial – Na subtração, assim como na interpenetração, deparamos com uma nova forma. Nenhuma variação espacial se faz possível. G. Interseção – O mesmo que na interpenetração, mas somente a parte onde as duas formas se cruzam é visível. Uma forma menor emerge como resultado da interseção. Efeito espacial – A interseção pode não nos remeter as formas originais a partir das quais foi criada. H. Coincidência – Se aproximamos ainda mais as duas formas, elas coincidem, as duas formas tornam-se uma só. Efeito espacial – Na coincidência, percebemos somente uma forma, caso as duas formas sejam idênticas, se não forem idênticas poderá ocorrer os efeitos espaciais citados nos casos acima, como superposição, interpenetração, união etc. Dessa forma, é possível compreender que ao relacionar diferentes formas o resultado final pode ser uma arte figurativa, com a principal característica de representar por meio da arte dos elementos do “mundo real” como a forma humana, a natureza ou então até mesmo objetos criados pelo homem. Ou então, uma arte abstrata, na qual o que interessa são os elementos formais, ou seja, o ponto, a linha, o plano, a forma, a cor e a textura, sem a preocupação de se representar o mundo real. Para exemplificar, o desenho de um triângulo seria uma representação bidimensional, por apresentar apenas altura e largura, mas ao representar essa figura em forma de pirâmide, esse desenho para a ter uma estrutura tridimensional, apresentando altura, largura e noção de profundidade, mesmo sendo apresentadas em uma superfície bidimensional, como uma folha de papel. Além disso, as formas tridimensionais estão cada vez mais próximas e em vários universos virtuais, como nos cinemas e games, com a tecnologia 3D. A seguir será apresentado um pouco mais a respeito do desenho tridimensional. 5 TEMA 2 – DESENHO TRIDIMENSIONAL Como visto anteriormente, a principal diferença entre a linguagem bidimensional e a linguagemtridimensional é que as representações tridimensionais, além das dimensões de largura e altura, também possuem profundidade. No campo das artes visuais, temos como exemplos de representações tridimensionais a escultura, a arquitetura e até mesmo o desenho ou pintura, quando se utiliza técnicas para criar uma representação tridimensional. No cotidiano também é possível notar a perspectiva tridimensional. Wong (1998) afirma que o mundo é tridimensional, uma vez que o que se vê à frente não é somente uma imagem plana. A respeito do desenho, Derdyk (1989) considera que trata-se de uma linguagem com grande capacidade de expressão e comunicação. O desenho, como índice humano, pode manifestar-se, não só através das marcas gráficas depositadas no papel (ponto, linha, textura, mancha), mas também através de sinais como um risco no muro, uma impressão digital, a impressão da mão numa superfície mineral, a famosa pegada do homem na lua etc. (Derdyk, 1989, p. 20) Ao comparar o desenho bidimensional com o desenho tridimensional, Wong (1998) considera que o desenho tridimensional tende a ser mais complicado por conta de que a visão de diferentes ângulos de um objeto, por exemplo, deve ser considerada simultaneamente, e muitas das relações espaciais são complexas. Ao mesmo tempo, por lidar com formas e materiais tangíveis no mundo real, a representação tridimensional em uma superfície plana pode ser facilitada. Magalhães (2013) faz uma observação importante ao destacar os princípios e os elementos do desenho tridimensional, com foco na tradução do espaço tridimensional em bidimensional. Para exemplificar, a representação de um cubo (que apresenta altura, largura e profundidade) em uma superfície plana (com apenas altura e largura). Além disso, preocupa-se em fazê-lo de modo objetivo, preciso e sistemático, com o mínimo de ambiguidade. Por esses dois motivos, embora os fundamentos propostos por Wong representem uma boa base conceitual para análise e síntese da forma tridimensional, mostra- se limitada quanto às diversas relações a se investigar no espaço tridimensional. Primeiro, por estar mais preocupado na tradução do espaço tridimensional em desenho do que nas relações nele existentes; e segundo porque se preocupa demasiadamente em amarrar conceitos precisos e não passíveis de interpretação. (Magalhães, 2013, p. 73) 6 Para compreender o desenho tridimensional, é imprescindível compreender as direções primárias e as três vistas básicas, o que veremos na sequência. 2.1 As três direções primárias e três vistas básicas do desenho tridimensional Partindo dos conceitos que Wong apresenta em seu livro a respeito do desenho tridimensional, existe uma diferença notável na atitude de um desenhista ao realizar uma representação bidimensional e outra tridimensional. Wong (1998, p. 239) explica que “para fazer representações tridimensionais, um desenhista deve ser capaz de visualizar mentalmente a forma toda e girá-la mentalmente em todas as direções”. Além disso, para conseguir realizar essa representação em três dimensões, é fundamental que se conheça as três direções primárias: vertical (para cima e para baixo), horizontal (para esquerda e para direita) e transversal (para frente e para trás), e cada uma dessas direções instituem um plano. Para construir a figura básica de um cubo, ao duplicar esses planos, o plano vertical se torna os planos de frente e de trás, o plano horizontal os planos superior e inferior, e o plano transversal os planos lateral esquerdo e lateral direito (Wong, 1998). Figura 1 – Ilustração dos planos combinados Crédito: Attaphong/Shutterstock. Essa figura básica do cubo demonstra que “qualquer forma tridimensional pode ser colocada dentro de um cubo imaginário” (Wong, 1998, p. 240), estabelecendo assim as três vistas básicas. Wong (1998) explica que essas três vistas são: a vista em planta – que é como a forma é percebida de cima; a vista 7 frontal – que é como a forma é percebida de frente; e a vista lateral – que é como a forma é percebida de lado. Essas vistas em conjunto proporcionam uma breve descrição da forma tridimensional. Outro ponto fundamental de se conhecer a respeito do desenho tridimensional são seus elementos, divididos em conceituais, visuais, relacionais e construtivos. São elementos facilmente reconhecíveis que serão apresentados a seguir. 2.2 Elementos do desenho tridimensional Continuando com os conceitos apresentados por Wong (1998) e, como mencionado anteriormente, existe a divisão dos elementos do desenho tridimensional. Três conjuntos de elementos coincidem com os elementos do desenho bidimensional: os elementos conceituais (como o ponto, a linha, plano e volume), os visuais (formato, tamanho, cor e a textura) e os relacionais (a posição, a direção, o espaço e a gravidade). Já os elementos construtivos são encontrados no desenho tridimensional e são utilizados para indicar os componentes geométricos do desenho tridimensional. Os elementos conceituais e visuais seguem o mesmo princípio que no desenho bidimensional. Já os elementos relacionais, segundo Wong (1998), são mais complicados nos tridimensionais, uma vez que a referência passa a ser um cubo imaginário, por exemplo, em que se estabelecem as relações, enquanto no desenho bidimensional a referência utilizada é a moldura. A respeito de cada um dos elementos relacionais do desenho tridimensional temos a seguinte definição: Posição – a posição precisa ser confirmada por mais do que uma das vistas básicas. Temos de saber como um ponto está relacionado aos planos da frente e de trás, aos planos superiores e aos planos laterais do cubo imaginário; Direção – a direção também deve ser vista de mais de um ângulo. Uma reta pode ser paralela aos planos da frente da trás, porém oblíqua a todos os demais planos do cubo imaginário; Espaço – o espaço aqui é, evidentemente, o espaço real e não ilusório. Pode ser visto como ocupado positivamente, não ocupado ou internamente oco; Gravidade – a gravidade é real e tem um efeito constante sobre a estabilidade do desenho. Não podemos ter formas suspensas no ar sem apoiar, pendurá-las ou ancorá-las de algum modo. Alguns materiais são pesados e outros são leves. O material usado determina o peso da forma assim como sua capacidade de suportar sobre si as cargas gravitacionais de outras formas. Todas as estruturas tridimensionais estão sujeitas às leis da gravidade, o que significa que determinadas disposições posicionamentos simplesmente não possíveis. (Wong, 1998, p. 244) 8 Já os elementos construtivos, que indicam os componentes geométricos, são: • vértice – quando vários planos se encontram em um plano conceitual, podendo ser projetados para fora ou para dentro; • aresta – união de dois planos não paralelos por meio de uma reta; • face – superfícies externas de um volume. A perspectiva é outro elemento usado nas artes visuais para realizar uma representação da tridimensionalidade mesmo que em uma superfície plana, por meio da ilusão de profundidade. A seguir veremos dois tipos de perspectivas que podem ser utilizadas para esse fim. TEMA 3 – PERSPECTIVA CÔNICA PARALELA E PERSPECTIVA CÔNICA OBLÍQUA De acordo com Montenegro (2010), o conceito de perspectiva, nas artes visuais, pode ser definido como “ver através de”. Para exemplificar, a pessoa vê através de um anteparo, algo que está além de seus olhos. Dessa maneira, tem- se o primeiro elemento da perspectiva, que é o observador, uma vez que a perspectiva representa objetos como se vê. O observador não consegue visualizar todos os detalhes de um espaço de seu campo visual simultaneamente. Isso pode ser justificado pelo fato de que o olhar não tem foco em toda sua amplitude. Dessa maneira, pode-se considerar a perspectiva cônica como uma forma de representação do mundo natural. No períododo Renascimento, Brunelleschi (1377-1446) aprimorou os conhecimentos da perspectiva cônica (Montenegro, 2010). Essa técnica de representação gráfica permitiu aos artistas do período do Renascimento criar um efeito virtual de profundidade em um plano de expressão. Esse efeito era conseguido devido à maneira como as linhas diagonais pareciam se encontrar em um ponto localizado na linha do horizonte, o ponto de fuga. Além disso, os conceitos básicos da perspectiva cônica são o ponto de vista, linha do horizonte, linhas convergentes e ponto de fuga. A linha do horizonte é o limite da visualização, que é dado por uma linha que tangencia o solo. Já o ponto de vista é perpendicular à linha do horizonte e está exatamente no cruzamento dessas duas linhas. O ponto de fuga também está relacionado com a linha do horizonte, sendo o mesmo ponto para onde as linhas paralelas 9 convergem. As linhas convergentes também podem ser chamadas de linhas de fuga, e são as linhas imaginárias que contribuem para o efeito da perspectiva (Duarte, 2016). O que diferencia os tipos de perspectiva cônica é o número de pontos de fuga. Enquanto a perspectiva cônica paralela tem um ponto de fuga (Figura 2), a oblíqua possui dois pontos de fuga (Figura 3). Figura 2 – Ilustração perspectiva cônica paralela: um ponto de fuga Crédito: Attaphong/Shutterstock. Figura 3 – Ilustração perspectiva cônica oblíqua: dois pontos de fuga Crédito: Attaphong/Shutterstock. Assim como no desenho tridimensional, a perspectiva cônica pode ser empregada na pintura. Na Figura 4 temos o quadro A Anunciação, pintado por Botticelli, uma pintura italiana da época do Renascentismo, em que é possível observar as características da perspectiva cônica paralela. 10 Figura 4 – A Anunciação de Boticelli Crédito: Everett Collection/Shutterstock. Esse quadro tem a característica da perspectiva cônica paralela por conta de apresentar apenas um ponto de fuga. Outra característica que se observa nesse tipo de perspectiva é que os objetos apresentam a face frontal paralela ao observador (Montenegro, 2010). Já na Figura 5 temos a aplicação da perspectiva cônica oblíqua em um desenho. Esse mesmo tipo de perspectiva pode ser encontrado nas pinturas, fotografias e desenhos arquitetônicos. O que se observa nessa imagem são os dois pontos de fuga e que, na perspectiva oblíqua, uma das arestas fica voltada para o observador. Além disso, nenhuma linha na estrutura é representada na horizontal: ou as linhas são verticais ou se deslocam para um dos pontos de fuga. Já a linha do horizonte na perspectiva oblíqua está centralizada entre os dois pontos de fuga. Figura 5 – Desenho em perspectiva cônica oblíqua Crédito: Hungry_Bear/Shutterstock. 11 Além de todos os elementos aqui mencionados, existem também as técnicas de ilusão para representar a tridimensionalidade. Apesar de muitas vezes se aplicar essas técnicas ou elementos, o objetivo não é uma representação do mundo “real”, mas sim criar uma ilusão de tridimensionalidade. Uma dessas técnicas é o trompe l’oeil, que será explicado a seguir. TEMA 4 – TROMPE L’OEIL Outro exemplo de arte tridimensional é o estilo trompe l’oeil, expressão que deriva do francês e significa “enganar o olho” e que, conforme Rozisky (2017), remete também ao Ilusionismo praticado por artistas em diferentes épocas. Apesar de estar presente em vários momentos da história, foi durante o Renascentismo que essa técnica passou a ganhar mais força. Desde o classicismo da Antiguidade ao ecletismo do século XIX, variados artistas e artífices exploraram materiais e técnicas para simular a terceira dimensão em superfícies bidimensionais, praticando o ilusionismo ou trompe l’oeil em pinturas parietais ou de cavalete. A utilização de claros e escuros sugeriu volumes na iconografia empregada. Durante o Renascimento, inovações científicas e tecnológicas favoreceram esse procedimento, como: a utilização da perspectiva linear e aérea e o emprego da pintura a óleo sobre tela. (Rozisky, 2017) Um exemplo prático se pode ser notado nas pinturas de teto, as quais, por meio da técnica trompe l’oeil, representam um teto “aberto” ou uma cúpula até o céu, como se pode observar na Figura 6 a seguir. Figura 6 – Cúpula com a técnica trompe l’oeil Crédito: Zvonimir Atletic/Shutterstock. Atualmente esse tipo de técnica também está associado à arte de rua, em que, por meio do hiper-realismo e técnicas de perspectivas, os artistas conseguem simular objetos que não estão realmente ali. Na Figura 7 temos um 12 exemplo disso. Observe que as escadas, prédios e pessoas não estão realmente ali, mas a sensação que a imagem passa é de que tudo existe. Conforme Souza (2015, p. 75), “é um recurso de caráter ilusionista que consiste em enganar ou iludir a visão. A intenção do trompe-l’oeil é de fazer com que o espectador pense estar diante de um objeto real e não de uma imagem”. Figura 7 – Pintura realizada em 1987 por meio da técnica de trompe l’oeil – França Crédito: Pierre Jean Durieu/Shutterstock. Gomes Filho (2008) também complementa que, para a aplicação da técnica do trompe l’oeil, é fundamental conhecer as relações e as leis da Gestalt, que são os fundamentos da percepção visual, vistos nas aulas anteriores. Uma das propriedades principais nessa técnica é a representação da forma como volume, que é feita por meio do desenho tridimensional, utilizando também elementos como luz, contraste, sombras e texturas, com o intuito de se ter a sensação de profundidade. Além disso, é possível observar mais uma vez a tridimensionalidade mesmo que em uma superfície plana (Regiani, 2008). Outro ponto importante de se lembrar ao tratar das artes visuais por meio de uma representação tridimensional é que, com o avanço da tecnologia, essas representações também podem passar a acontecer com o uso da realidade virtual ou aumentada. Esses dois aspectos serão apresentados a seguir. TEMA 5 – REALIDADE VIRTUAL E REALIDADE AUMENTADA Em um primeiro momento, os termos realidade virtual e realidade aumentada parecem ser similares, mas antes de entender como as artes visuais estão inseridas nesse contexto, é fundamental compreender a diferença entre os termos. 13 A realidade virtual se utiliza de uma tecnologia para criar um ambiente tridimensional mais próximo da realidade, em que seja possível haver interações dentro desse ambiente, por meio de efeitos visuais e sonoros, por exemplo. Já a realidade aumentada tem o objetivo de conectar um ambiente virtual com o ambiente real. Ou seja, de acordo com Tori (2018, p. 38), a realidade aumentada “mantém referências para o entorno real, transportando elementos virtuais para o espaço do usuário”. Essa diferenciação pode ser resumida como: Diferentemente da realidade virtual, que procura transportar o usuário para o ambiente virtual, a realidade aumentada mantém o usuário no seu ambiente físico e transporta o ambiente virtual para o espaço do usuário, por meio de algum dispositivo tecnológico. Assim, há interação do usuário com os elementos virtuais. (Tori, 2018, p. 16) Na sequência será explicado como as artes visuais estão inseridas na realidade virtual e na realidade aumentada. 5.1 Realidade virtual e as artes visuais Como visto anteriormente, a realidade virtual é tida como a interação do usuário por meio de uma interface avançada, que permite essa interação com o uso de dispositivos multissensoriais em um ambiente virtual, criado por um computador. Para que acontecesse a realidade virtual, foram necessários avanços e inovações tecnológicas, e, nos dias de hoje, são inúmeras as suas aplicações (Chan, 2011). Com o uso da realidade virtual nas artes visuais é possível interagir com as representações em todas suas dimensões, ou até mesmo observar obras em um museu sem necessitar estarrealmente no local. Ademais, A área de artes também pode receber um grande diferencial com RV. Pinturas em relevo, esculturas, museus virtuais com detalhes nas paredes e teto, além das próprias obras de arte, música com instrumentos virtuais, etc. são algumas das aplicações possíveis. Isto pode dar aos artistas e ao público em geral dimensões jamais vistas ou sentidas, através da eliminação ou alterações das restrições do mundo real ou da ampliação da imaginação. (Tori, 2018, p. 32) Todavia, para que a experiência da realidade virtual aconteça, é necessário sempre de uma interface e de dispositivos não convencionais, como capacete de visualização, óculos, luvas, entre outros, como mostra a Figura 8. 14 Figura 8 – Utilização de óculos de realidade virtual Crédito: G-Stock Studio/Shutterstock. 5.2 Realidade aumentada e as artes visuais A realidade aumentada é uma combinação de objetos virtuais com objetos reais em um espaço físico em tempo real, porém, assim como na realidade virtual, é necessária uma interface para que ocorra a interação (Chan, 2011). Um exemplo prático que se tem nos dias atuais é o jogo Pokémon GO, que revolucionou os games com a tecnologia de realidade aumentada, no qual, que por meio da câmera do celular, é possível visualizar os Pokémons como se estivessem no ambiente real. Esse mesmo tipo de tecnologia já está sendo utilizada nas artes visuais, como por museus que utilizam um QR code para que o observador aponte a câmera de seu smartphone e, na tela do celular, possam interagir com uma obra, pintura ou escultura que esteja ali representada. Conforme Azuma (1997), a realidade aumentada é um sistema que permite a combinação de elementos virtuais no ambiente real, uma interatividade também em tempo real e uma concepção tridimensional. Dessa forma, observa-se que tanto a realidade virtual como a realidade aumentada são ferramentas para que a linguagem tridimensional da arte aconteça. NA PRÁTICA Que tal tentar representar sua casa a partir da representação da perspectiva linear cônica? Escolha um ângulo e, por meio da linguagem do desenho, faça o desenho de observação. Fique atento(a) para as proporções e reduções sofridas pelo objeto conforme ele se distancia do primeiro plano. 15 FINALIZANDO Conforme visto nesta aula, as representações podem ser divididas em bidimensionais quando apresentam apenas duas dimensões, ou tridimensionais quando apresentam três dimensões. Como exemplos de artes visuais bidimensionais temos o desenho, pintura, gravura etc., enquanto nas artes visuais tridimensionais estão a escultura, arquitetura, instalações e até mesmo o desenho tridimensional. Ao utilizar técnicas e elementos é possível representar objetos tridimensionais em uma superfície plana. Um dos meios para se realizar, como foi explicado, é por meio dos elementos do desenho tridimensional, a aplicação da perspectiva, entre outros. O uso dessas técnicas também pode criar ilusões tridimensionais, que foram explicadas no trompe l’oeil, em que a preocupação deixa de ser representar um objeto real, mas criar uma ilusão que engane os olhos de quem observa. As dimensões das artes visuais, aliadas com os avanços tecnológicos, também podem ser exploradas tanto com o uso da realidade virtual como com a utilização da realidade aumentada. 16 REFERÊNCIAS AZUMA, R. Uma pesquisa de realidade aumentada. Presença: teleoperadores e ambientes virtuais, v .6, n. 4, 1997. CHAN, F. L. AR | RA: a arte na realidade aumentada. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, Instituto De Artes, 2011. COSTA, F. M.; SANTOS, A. M. C. dos. Bidimensional & tridimensional: técnicas de desenho e suas contribuições para o design. Blucher Design Proceedings, v. 2, n. 9, p. 1293-1306, 2016. DERDYK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Scipione, 1989. DUARTE, H. C. A. A perspectiva linear e orgânica na concepção do desenho de paisagem. Tese (Mestrado em Desenho) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 2016. GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo: Escrituras, 2008. KANDINSKY, W. 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