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FUNDAMENTOS DA LINGUAGEM VISUAL AULA 2 Prof. André Luiz Pinto dos Santos 2 CONVERSA INICIAL O geométrico e o orgânico: diferentes formas nas artes visuais Nesta aula, serão abordados alguns conceitos e teorias que irão fornecer subsídios para uma melhor compreensão das formas nas artes visuais. Inicialmente, será conceituado o que se entende por formato, plano e superfície, que são elementos básicos para as artes visuais e que também são necessários para que a percepção das diferentes formas aconteça. Na sequência, serão apresentadas, com base na obra de Gomes Filho (2019), as Leis da Gestalt, que servem para a interpretação das mensagens visuais, que, de acordo com Arnheim (1998), se baseiam na noção de que a forma que implica uma relação mais profunda entre os elementos da figura do que os próprios elementos. Para complementar, também serão abordadas as categorias conceituais fundamentais e as técnicas visuais aplicadas, por conta da sua relação com as Leis da Gestalt e o processo de percepção da forma nas artes visuais. A percepção da forma é tida como a interação de um objeto físico com a luz agindo como transmissor de informação, enquanto que as imagens que prevalecem no sistema nervoso do observador é, em parte, determinada pela própria experiência visual (Aumont, 2004). Bons estudos! TEMA 1 – O FORMATO/PLANO/SUPERFÍCIE Diversos autores contribuíram para a concepção dos elementos básicos das artes visuais. Para Kandinsky (2005), são quatro elementos visuais básicos: o ponto, a linha, a superfície e a cor. Enquanto Fayga Ostrower (2013) apresenta cinco elementos visuais: a linha, a superfície, o volume, a luz e a cor. Uma vez que se tem a linha enquanto elemento formal das artes visuais e das artes gráficas, por conseguinte, a linha, quando forma uma direção que se encerra em seu início, constitui um formato. Wucius Wong (1998) considera como formato uma área delimitada por um contorno, enquanto a forma tem profundidade e volume. Um formato é uma área facilmente definida por um contorno. Um formato ao qual se dê volume e espessura e que possa ser visto de diferentes ângulos torna-se uma forma. Formas apresenta alguma 3 profundidade e algum volume [...] enquanto formatos são formas mostradas de determinados ângulos, de determinadas distâncias. Assim, uma forma pode ter vários formatos. (Wong, 1998, p. 139) Seja formato, superfície, seja plano, o que importa é que se trata de uma figura bidimensional, que possui medidas de altura e largura. Os elementos formais se tornam presentes na matéria da coisa em si. O mundo é repleto de formas e cada forma possui várias superfícies, vários planos. Esses planos sozinhos não são nada, todavia, quando agrupados, podem gerar uma forma. Assim, a superfície delimita uma face de determinado objeto. O plano pode ser geométrico e regular como no caso do triângulo, quadrado e do círculo (o qual não deve ser confundido com circunferência, pois a circunferência é a linha que delimita o círculo). Sendo assim, na superfície no plano, temos a área, que pode ser definido como o espaço contido dentro de uma figura fechada delimitada. O plano pode também ter a característica irregular, por exemplo, numa cadeia de montanhas, ou até mesmo um pedaço de papel amassado. O que importa é que cada variação angular de superfície gera um plano diferente. A esta altura, você já pode perceber que, se as figuras curvas (como a maçã do rosto, o aspecto cilíndrico de uma garrafa de vinho, ou mesmo a esfera de uma bola de bilhar) forem ampliadas, poderemos ver inúmeros planos regulares, que, em sua junção, compõe uma superfície extremamente orgânica. O plano é, por si só, um aspecto complexo, pois, para se ter um plano, automaticamente um complexo de linhas e pontos já coexistem e habitam o espaço como significação (Kandinsky, 2015). Nas artes gráficas figurativas e mais realistas, utiliza-se do aspecto planar para compor formas figurativas. De acordo com a organização moderna e contemporânea, por vezes, utiliza-se apenas formatos, ou planos, ou superfícies por si só e por aquilo que significam. Segundo a representação gráfica figurativa, o artista tem a possibilidade de representar o mundo que o cerca por meio dos elementos formais, utilizando um conjunto de linhas que, quando agrupadas de uma determinada maneira, acaba por gerar planos, superfícies, formatos e, por conseguinte, as formas. Wong (1998) considera a forma como objetos tridimensionais. Vale lembrar que, na literatura, é muito recorrente os autores utilizarem o sólido, o volume e a forma para falar de representações gráficas que simulam três dimensões (altura, largura e profundidade), consideradas representações tridimensionais 4 É importante pensar que se é possível reconhecer em uma gravura determinado objeto, por exemplo, um barco, este, no mundo natural, é tridimensional. Ele possui espaço, peso, dimensões possíveis de serem aferidas. Assim, a forma quando figurativa simula algo do mundo natural. Uma árvore, um rosto, um talher, uma flor, uma montanha, um barco pesqueiro, um peixe, podem ser inúmeras coisas, entes, seres e afins. Formas, quando figurativas, representam o mundo natural. Todavia, pode- se fazer o uso de formas que não necessariamente representam o mundo natural. Conforme Kandinsky (2015), a esfera por si só é um conceito e não um objeto, dessa forma, a esfera no mundo natural necessita estar personificada em um objeto palpável, ao qual receberá qualquer nome, menos de esfera. Pode ser bola de boliche, bola de bilhar, chumbinho esférico, entre outras denominações, menos, simplesmente, uma esfera. Ela sempre trará um referencial do mundo natural, assim o artista gráfico faz equivalentes. Sejam equivalentes figurativos ou conceituais. O conceito é pertencente do campo das ideias e, quando representado, também passa a ser algo do indivíduo. Kandinsky (2015) aborda a representação e a conceitualização desses elementos quando atrelados à visualidade. Torna- se de suma importância perceber que esse conceito está intimamente ligado à representação do mundo. TEMA 2 – LEIS DA GESTALT Wolfgang Köhler e Kurt Koffka desenvolveram, no início do século XX, os princípios da Gestalt, ao observar que existe um comportamento padronizado na mente humana quando percebe as formas dos objetos, nas pessoas e em tudo que se enxerga. Os gestaltistas, como ficaram conhecidos, acreditam que nosso cérebro recebe sinais complexos agrupando as características consideradas semelhantes e somando rapidamente a todas as partes do que está sendo observado e não apenas uma excitação sensorial isolada. Dessa forma, se entende que primeiro é percebida a totalidade dos objetos e depois os seus detalhes, sendo comprovada em exemplos simples do dia a dia como enxergar desenhos nas nuvens. A teoria da Gestalt na percepção dos objetos tem oito leis básicas: lei da unidade, lei da segregação, lei da unificação, lei do fechamento, lei da 5 continuidade, lei da proximidade, lei da semelhança e a lei da pregnância. A seguir, será explicada e ilustrada cada uma delas. 2.1 Lei da unidade O princípio da unidade considera que cada parte é um todo. Cada elemento possui uma unidade em si mesmo. De acordo com Gomes Filho (2015), a unidade pode ser identificada em um único elemento (que se encerra em si mesmo) ou então como parte de um todo, em que várias partes constroem o elemento observado. Como na imagem abaixo (Figura 1): Figura 1 – Exemplos Crédito: NOMAD_SOUL/SHUTTERSTOCK Na imagem à esquerda, a letra T é tida como uma unidade contínua que termina em si mesmo, mas na imagem à direita, a letra E também é uma unidade, porém, compostas por outras partes, formando um só elemento. As diferentes partes podem ser notadas por sua cor, textura,traçado, volume e/ou outros dentro de um mesmo elemento. Gomes Filho (2015) complementa que: As unidades são percebidas por meio da verificação de relações (formais, dimensionais, cromáticas etc.) que se estabelecem entre si na configuração do objeto como um todo, ou em partes desse objeto. Uma ou mais unidades formais são percebidas dentro de um todo por meio de pontos, linhas, planos, volumes, cores, sombras, brilhos, texturas e outros atributos — isola- dos ou combinados entre si. No caso de um objeto ser constituído por conjunto de numerosas unidades, para proceder à análise e interpretação visual da forma, pode-se adotar o critério de se eleger unidades principais — desde que estas sejam suficientes para realizar a leitura. (Gomes Filho, 2015) Como exemplo prático da aplicação dessa lei, pode-se citar a logo da Adidas (Figura 2). A disposição de faixas retangulares cortadas se torna um elemento original obtido por meio de pequenas unidades que já existem. 6 Figura 2 – Logo da Adidas Crédito: ROSE CARSON/SHUTTERSTOCK 2.2 Lei da segregação O princípio da segregação é tido como a divisão do campo visual em regiões delimitadas por contornos, que são bordas visuais fechadas. O princípio da segregação também nos faz diferenciar algo que está mais à frente de algo que está atrás da imagem. Gomes Filho (2015) define segregação como a capacidade perceptiva de separar, identificar, evidenciar ou destacar unidades, em uma composição inteira ou em partes dela. A segregação no campo visual pode ocorrer por diversos elementos, como pontos, linhas, volumes, planos, cores, brilhos, contrastes, relevos e outros. Para exemplificar melhor a lei da segregação, será usado um cenário em que se observa a imagem de um carro com a paisagem ao fundo (Figura 3): Figura 3 – Carro Crédito: NOMAD_SOUL/SHUTTERSTOCK Nota-se que, nessa composição, é possível segregar quatro unidades principais: o automóvel, o asfalto, as montanhas e o céu ao fundo. Já no automóvel, ainda é possível segregar em outras unidades: faróis, carroceria, rodas, para-brisas e outros detalhes. A segregação se torna possível por conta 7 da variação dos elementos visuais (cor, textura, sombra, brilho etc.), que um elemento possui em relação ao outro. Como unidade mais evidente que está no primeiro plano da imagem, destaca-se o próprio automóvel. 2.3 Lei da unificação A unificação consiste, segundo Gomes Filho (2015), na igualdade ou semelhança dos estímulos fornecidos pelo objeto. Ocorre quando há harmonia, equilíbrio e ordenação visual. O símbolo do yin-yang (Figura 4) é um dos exemplos mais emblemáticos desse princípio. Figura 4 – Yin-Yang Crédito: RESEARCHER97/SHUTTERSTOCK O símbolo do yin-yang sintetiza exemplarmente o fator de unificação da figura pelo equilíbrio simétrico oposto, com os pesos visuais opostos contrabalançados e distribuídos igualmente. Sua harmonia é plena, e o contraste cromático de seus elementos valoriza e torna a figura mais expressiva plasticamente. (Gomes Filho, 2015) A unificação tem a concorrência de outros dois princípios básicos que também serão explicados a seguir, a lei da proximidade e a de semelhança, que, quando presentes em partes ou no objeto como um todo contribuem para a unificação da organização formal. Gomes Filho (2015) também explica que a unificação se manifesta em graus de qualidade, em que variam em virtude de uma melhor ou pior organização formal. A Torre Eiffel (Figura 5) é um exemplo de como a proximidade e semelhança entre os elementos visuais colaboram na unificação da percepção do todo, como na imagem a seguir. 8 Figura 5 – Torre Eiffel Crédito: MISTERVLAD/SHUTTERSTOCK A unificação da imagem da Torre Eiffel se torna evidente por conta da proximidade e da semelhança, que é predominante em muitas das unidades que lhe compõem, além de seu perfeito equilíbrio por conta dos pesos visuais que são simétricos e distribuídos de maneira homogênea. Todos esses aspectos contribuem para um alto grau de organização formal (Gomes Filho, 2015). 2.4 Lei do fechamento Essa lei se baseia na sensação de fechamento visual da forma pela continuidade de uma ordem estrutural, ou, conforme Gomes Filho (2015), com o “agrupamento de elementos de maneira a constituir uma figura total mais fechada ou mais complexa”. Sendo assim, considera que a forma se completa, se fecha sobre si mesma, formando uma figura delimitada conhecida previamente, mesmo visualizando um objeto incompleto, é possível estabelecer o fechamento visual, se diferenciando do fechamento físico, que é delimitado pelo contorno real e presente nas formas dos objetos. Na Figura 6, é possível perceber a figura de um quadrado, mesmo sem o seu contorno real (fechamento físico). Essa percepção ocorre seguindo a lei de fechamento, por conta da tendência de se fazer o fechamento da composição, imaginando a continuidade da sua estrutura total. 9 Figura 6 – Quadrado Crédito: MOROZOVA MARIA/SHUTTERSTOCK A lei do fechamento tem relação também ao alinhamento, pois dois elementos alinhados passam a impressão de estarem relacionados. A percepção visual faz com que o cérebro adicione os componentes faltantes para interpretar uma figura parcial como um todo. Figura 7 – Logo do Carrefour Crédito: RICOCHET64/SHUTTERSTOCK Uma utilização prática e de fácil entendimento da lei do fechamento é o seu uso em diversos logotipos famosos, como na Figura 7, em que mesmo sem a delimitação completa é possível perceber a letra C com a mesma cor do fundo e delimitada pelos outros elementos de cores diferentes. 2.5 Lei da continuidade A lei da continuidade está relacionada à fluidez e também às direções ou alinhamento das formas dispostas. Uma vez que um padrão é formado, é mais provável que ele se mantenha, mesmo que seus componentes sejam 10 redistribuídos. Gomes Filho (2015) define a continuidade, como a “impressão visual de como as partes se sucedem por meio da organização perceptiva da forma de modo coerente na sua trajetória ou na sua fluidez visual”. Figura 8 – Seta Crédito: RAINBOW BLACK/SHUTTERSTOCK Na Figura 8, é possível perceber que a imagem ilustra uma seta. O cérebro é capaz de reconhecer a continuidade dos elementos como uma forma significativa, sem a necessidade de decifrar cada elemento (no caso, os pontos). Essa percepção acontece pela boa continuidade, como explica Gomes Filho (2015): A continuidade com fluidez visual concorre, quase sempre, no sentido de se alcançar a melhor forma possível do objeto, a forma mais estável estruturalmente, em termos perceptivos. Nesse caso, a Gestalt a qualifica utilizando o adjetivo de boa continuidade ou boa continuação. (Gomes Filho, 2015). Figura 9 – Maracanã e Maracanãzinho Crédito: A.RICARDO/SHUTTERSTOCK Gomes Filho (2015) também expõe que as figuras elípticas, círculos e esferas são as que possuem uma melhor configuração formal de melhor continuidade, já que “o percurso do olhar do leitor não sofre nenhuma interrupção 11 ou desvio”. Um exemplo prático dessa percepção e da aplicação dessa lei é o formato do estádio do Maracanã e do Maracanãzinho, como na Figura 9. 2.6 Lei da proximidade Essa lei parte do pressuposto de que o cérebro tende a agrupar elementos próximos. Dessa forma, entende-se que os elementos que estão mais próximos de outros numa região tendem a ser percebidos como um grupo entre si, independentes dos mais distantes. De acordo com Gomes Filho (2015), “em condições iguais os estímulos mais próximos entre si, seja por forma, cor, tamanho, textura, brilho, peso, direção e localização, terão maior tendência a ser agrupados e a constituir unidades”. Figura 10 – Teclado musical Crédito: 32 PIXELS/SHUTTERSTOCK Ao observar a Figura 10, é possível perceber que a proximidade das formas geraa composição visual inteira: um teclado musical, e também que a proximidade das teclas pretas forma grupos distintos: grupos de uma, de duas ou de três teclas. A aplicação da lei da proximidade também está presente no dia a dia, por exemplo, em algumas logomarcas, como na Figura 11, e também em outras áreas das artes visuais. 12 Figura 11 – Logo da IBM Crédito: NATTUL/SHUTTERSTOCK Com isso, fica evidente o que Gomes Filho (2015) afirma: “a proximidade e a semelhança são dois fatores que muitas vezes agem e reforçam-se mutuamente, tanto para formar unidades como para unificar a forma”. Para complementar esse raciocínio, é fundamental que se entenda o princípio da semelhança que será visto a seguir. 2.7 Lei da semelhança Da mesma maneira que a lei da proximidade, a da semelhança parte do princípio de que os objetos similares tendem a se agrupar. Essa similaridade pode ocorrer em diferentes elementos visuais, como: na cor, na textura, no tamanho, direção, entre outros. Em condições iguais, os estímulos mais semelhantes entre si, seja por forma, cor, tamanho, peso, direção e localização, terão maior tendência a ser agrupados, a constituir partes ou unidades. Em condições iguais, os estímulos originados por semelhança e em maior proximidade terão também maior tendência a serem agrupados, a constituírem unidades. (Gomes Filho, 2015) Dessa forma, fica possível compreender que os objetos similares em forma, tamanho ou cor são facilmente interpretados como um grupo. Na Figura 12, observa-se um agrupamento de diferentes objetos que se agrupam de acordo com a forma e a cor, simultaneamente, o que também cria uma sensação de continuidade, por conta da fluidez que esse agrupamento ocasiona. 13 Figura 12 – Exemplo Crédito: DELOOK CREATIVE/SHUTTERSTOCK Como explicado, esse agrupamento também pode sofrer a influência de outros elementos. Na Figura 13, é possível perceber que a composição visual é formada basicamente por pontos, mas que os diferentes tamanhos e as diferentes cores são o que influenciam diretamente para que se perceba que a composição visual se trata de um mosaico. Figura 13 – Mosaico Crédito: ART_OF_SUN/SHUTTERSTOCK 2.8 Lei da pregnância É o princípio básico da percepção visual da Teoria da Gestalt. Gomes Filho (2015) defende que uma “boa pregnância pressupõe que a organização formal do objeto tenderá a ser a melhor possível do ponto de vista estrutural”. Dessa maneira, nota-se que, quanto mais simples, mais organizado, mais facilmente assimilada. As forças de organização da forma tendem a se dirigir tanto quanto o permitam as condições dadas, no sentido da harmonia e do equilíbrio visual. Qualquer padrão de estimulo tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto o permitam as condições dadas. (Gomes Filho, 2015) 14 As composições que se consegue perceber rapidamente e com clareza são classificados como de alta pregnância, por exemplo, na figura em que foi ilustrada a Torre Eiffel. Por consequência, um objeto ou imagem com uma baixa pregnância possui como característica uma organização visual confusa, complicada, como se pode observar na Figura 14. Figura 14 – Comunidade Crédito: DONATAS DABRAVOLSKAS/SHUTTERSTOCK Além dos aspectos já citados, são diversos fatores que podem contribuir para que uma imagem ou objeto tenha um alto ou baixo grau de pregnância, como a harmonia, o equilíbrio e o contraste, que serão abordados no tema a seguir. TEMA 3 – CATEGORIAS CONCEITUAIS FUNDAMENTAIS Essas categorias, tendo como base a Gestalt e as suas leis vistas anteriormente, têm a finalidade de embasar e dar consistência a tudo o que foi visto até o momento a respeito de suas leis. As categorias conceituais fundamentais e as categorias conceituais que têm como finalidade funcionar como técnicas visuais aplicadas, que têm como finalidade, além de darem embasamento e consistência às leis da Gestalt, sobretudo com relação à sua lei básica da pregnância da forma, concorrer também como poderosas forças de organização formal nas estratégias compositivas, que suportam o sistema no que se referem a rebatimentos levados a efeito nas diversificadas manifestações visuais dos objetos. (Schinerv, 2011) De acordo com Alves (2009) e Gomes Filho (2015), as categorias conceituais fundamentais são a harmonia e a desarmonia, o equilíbrio e o desequilíbrio e o contraste. 15 3.1 Harmonia e desarmonia Quando se refere à harmonia, automaticamente, se faz a relação com aspectos como de combinação e organização. Segundo Silveira (2014), outros aspectos podem descrever essa categoria dotada do mesmo princípio da continuidade, como estruturação e organização da forma. De acordo com Gomes Filho (2015), a harmonia seria o resultado da perfeita articulação visual na integração e coerência formal das unidades ou partes daquilo que é apresentado, ou seja, daquilo que é visto. A harmonia diz respeito à disposição formal bem organizada e proporcional no todo ou entre as partes de um todo. Na harmonia plena, predominam os fatores de equilíbrio, de ordem e de regularidade visual inscritos no objeto ou na composição, possibilitando, geralmente, uma leitura simples e clara. E, em síntese, o resultado de uma perfeita articulação visual na integração e coerência formal das unidades ou partes daquilo que é apresentado, daquilo que é visto. (Gomes Filho, 2015) A harmonia pode acontecer por meio da ordem, que é quando se produz uma concordância e uniformidade entre as unidades que fazem parte do objeto, ou, então, por meio da regularidade que é basicamente em buscar a uniformidade dos elementos no desenvolvimento de uma ordem sem desvios, desalinhamentos ou desproporções (Gomes Filho, 2015). Como já se pressupõe, a desarmonia é o oposto da harmonia, sendo de acordo com Gomes Filho (2015) o resultado de uma desarticulação das unidades ou das partes do objeto, enfim, daquilo que é visto. A desarmonia tem como característica apresentar desvios, sobreposições aleatórias, desproporções, desnivelamentos, irregularidades, sendo possível perceber essas características em partes ou em toda a composição. Assim como a harmonia, a desarmonia pode acontecer pela desordem ou então pela irregularidade. A desarmonia pela desordem ocorre quando há uma discrepância entre os elementos ou unidades e, também, se caracteriza pela falta de relações ordenadas ou então quando os desvios alteram o padrão visual do objeto. Já a desarmonia pela irregularidade é quando se nota a falta de ordem ou uma inconstância formal. 16 3.2 Equilíbrio e desequilíbrio O equilíbrio, segundo Schinerv (2011), seria igualdade visual entre dois elementos que atingiram seu ponto de estabilidade. Já de acordo Gomes Filho (2004), o equilíbrio é o estado em que forças agem sobre um corpo e se compensam mutuamente. Schinerv (2011) também considera que o equilíbrio é uma categoria apresentada pelas leis da Gestalt e que deriva da lei pregnância. “A pregnância da imagem diz respeito ao caminho natural que ela segue em direção à boa forma, que é, idealmente, a mais simples de todas”. Essa simplicidade é alcançada por equilíbrio, homogeneidade, regularidade e simetria. O equilíbrio, tanto físico como visual, é o estado de distribuição no qual toda a ação chegou a uma pausa. Por exemplo, em uma composição equilibrada, todos os fatores como configuração, direção e localização determinam-se mutuamente de tal modo que nenhuma alteração parece possível, e o todo assume o caráter de "necessidade" de todas as partes. (Gomes Filho, 2015) Partindo desse pressuposto, fica evidente que o equilíbrio numa composição sobre a influência de outras propriedades como o peso e direção e da simetria e assimetria. Já o desequilíbrio, assim como a desarmonia, vista anteriormente, é a formulaçãooposta do equilíbrio. Como característica de desiquilíbrio, uma composição ou um objeto desequilibrado dá a sensação de ser acidental, transitório ou instável (Gomes Filho, 2015). Assim como no conceito de equilíbrio, as propriedades citadas do peso, direção, simetria ou assimetria contribuem para essa sensação de desequilíbrio da composição. 3.3 Contraste Segundo Gomes Filho (2015), o contraste é de todas as técnicas a mais importante para o controle visual, sendo uma ferramenta importante da expressão, podendo intensificar o significado e simplificar a comunicação. O contraste pode ser utilizado, no nível básico de construção e decodificação do objeto, com todos os elementos básicos: linhas, tonalidades, cores, direções, contornos, movimentos e, sobretudo, com o fator de proporção e escala. Todas essas forças são valiosas na ordenação dos input e output visuais, realçando a importância crucial do contraste para o controle do significado e da organização visual da forma do objeto. (Gomes Filho, 2015) 17 Dessa forma e também de acordo com Schinerv (2011), existem diversos tipos de contraste trabalhados dentro da Gestalt, como alguns deles: contraste luz e tom, contraste cor, contraste proporção e escala e contraste agudeza. • Contrate luz e tom: tem como base as oposições de claro-escuro ou a combinação de sombra-luz. É um recurso visual bastante presente na fotografia, pintura e artes cênicas. • Contraste cor: esse tipo de contraste está relacionado à iluminação e contribui para a valorização da aparência de uma composição, destacando partes que mais interessam. A cor pode ser uma ferramenta da linguagem e transmitir significados diferentes com o uso de cores primárias, quentes ou frias, ou então de outros aspectos como brilho, texturas e combinações. • Contraste proporção e escala: está relacionado com as medidas do contorno de um campo visual e as medidas das partes ocupadas obedecendo uma ordem. Esses elementos são combinados em ordem e unificação. A proporção implica em uma comparação entre elementos, sendo a escala um meio para reproduzir realisticamente as relações entre os objetos. • Contraste agudeza: esse tipo de contraste está relacionado com a clareza e com a capacidade de discriminar estímulos visuais para se obter a nitidez. Gomes Filho (2015) explica também que além das leis e das categorias conceituais aqui apresentadas, as técnicas visuais aplicadas completam também o sistema de leitura visual por meio da Gestalt. TEMA 4 – TÉCNICAS VISUAIS APLICADAS Essas técnicas servem para dar um embasamento durante o desenvolvimento de projetos de qualquer tipo de composição, e se relacionam com as categorias conceituais fundamentais e as leis da Gestalt. As categorias conceituais fundamentais e as categorias conceituais que têm como finalidade funcionar como técnicas visuais aplicadas, que têm como finalidade, além de darem embasamento e consistência às leis da gestalt, sobretudo com relação à sua lei básica da pregnância da forma, concorrer também como poderosas forças de organização formal nas estratégias compositivas, que suportam o sistema no que se referem a rebatimentos levados a efeito nas diversificadas manifestações visuais dos objetos. (Dos Santos, 2009) 18 As técnicas visuais aplicadas podem ser divididas em 26 técnicas conforme as suas características. De acordo com Gomes Filho (2015) são elas: A clareza que tem como característica a facilidade de leitura e rapidez na decodificação, oportunizando uma compreensão imediata; já a simplicidade, possui poucas informações ou unidades visuais, o que contribui uma rápida leitura e facilita a assimilação. A minimidade tem como característica realçar a clareza e simplicidade ao possuir um mínimo de elementos formais, enquanto a complexidade: sua característica é de ser necessário um maior tempo de observação, compreensão mais complicada, tendo dessa forma uma baixa pregnância. A profusão é associada a complexidades e aos estilos formais, como o gótico, o barroco e similares. Sua principal característica é relacionada ao poder, à variedade e à riqueza. Outras categorias têm relação com a categoria do equilíbrio e a harmonia como a coerência, que possui uma organização visual equilibrada e harmoniosa, sendo compatível com estilos de linguagens formais. Enquanto a incoerência é o oposto da coerência, os objetos apresentam desarticulados, desarmoniosos e desintegrados. Utilizada de linguagens formais distintas ou conflitivas. A exageração, tem como característica expressão visual intensa com configurações extravagantes e amplificada. Em contrapartida, a sutileza é uma técnica de forma elegante e grácil que reflete bom gosto, o que lhe dá uma distinção afinada e delicada. O arredondamento também se caracteriza pela suavidade, delicadeza e a maciez que as formas transmitem. Possui uma boa continuidade, o que contribui para um olhar sem sobressaltos. Já a técnica da distorção tem a deformação, mudanças de sentido ou ainda por diferenças de ampliação como característica marcante, o que produz efeitos intensos e dramáticos. A sequencialidade é caracterizada pela organização de maneira contínua e lógica, trazendo harmonia e equilíbrio. A técnica de correção óptica tem como pressuposto básico o equilíbrio e a harmonia visual, buscando o refinamento ou correção do objeto ou então das linhas que contornam as organizações formais, enquanto a técnica de ruído visual é tida quando existe uma interferência ou distorções que atrapalha um pouco a harmonia visual do objeto. Pode ser útil para criar pontos de interesse. 19 As técnicas como a da transparência física, sensorial, opacidade, difusidade, sobreposição têm forte influência do contraste. A transparência física tem como característica o uso de objetos sobrepostos, mas que pode se ver por meio deles. Tem uma finalidade funcional, comunicação leve e delicada, enquanto a transparência sensorial traz uma sensação próxima da realidade dos objetos que são vistos. Esse efeito é obtido pelo uso de técnicas pictóricas, podendo ser convencionais ou por meio da computação. A técnica de opacidade se contrapõe à da transparência, com o bloqueio ou ocultação de elementos visuais, não sendo possível visualizar o que está por trás do objeto sobreposto. Gera um efeito funcional ou para despertar interesse. A difusidade não se relacionada com a precisão e a nitidez da forma. Gera uma figura difusa, desfocada. Tem como função passar sensações de calor humano, sonho, ilusão e outros. Já a técnica da sobreposição se caracteriza por objetos um em cima dos outros, podendo ser opacos, translúcidos ou transparentes, expressando uma interação de estímulos visuais. Além das técnicas já apresentadas, temos a redundância caracterizada pela repetição ou excesso de elementos iguais, que é utilizada para dar ritmo, movimento e valorizar a harmonia; a ambiguidade, que é uma técnica que provoca efeitos interessantes como instigação psicológica ou surpresa visual, uma vez que mostra um único objeto com interpretações diferentes daquilo que é visto. A espontaneidade, tida como uma aparente falta de planejamento visual para a sua realização, sendo considerada uma técnica não premeditada, instintiva, e os elementos são postos de maneira livre, mas obedecendo uma composição; a aleatoriedade, uma técnica em que os elementos seguem um esquema rítmico, mas são dispostos de maneira não sequencial, como algo casual ou acidental, também passando a sensação de falta de planejamento prévio; a fragmentação é uma técnica em que é visto uma organização formal decomposta, ou seja, as unidades são separadas entre si, conservando o seu caráter individual. Por fim, Gomes Filho (2015) ainda considerada técnicas visuais aplicadas a profundidade e a superficialidade. A profundidade se caracteriza principalmentenas variações de imagens retilíneas, provocando uma percepção de profundidade ou de distância, por meio de uma profundidade em perspectiva. 20 Já a superficialidade é o oposto da profundidade, sendo tida por objetos bidimensionais e chapados, com ausência de perspectiva. Ao compreender as diferentes técnicas, categorias e leis, torna-se mais fácil a leitura visual da forma do objeto, trazendo uma sensibilidade e contribuindo com o repertório técnico, cultural e profissional. TEMA 5 – SISTEMA DE LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO A facilidade em compreender o sistema de leitura visual de um objeto qualquer vai depender, principalmente, da sensibilidade e do repertório do observador, segundo Gomes Filho (2015). Quanto maior for o empenho da pessoa em estudar e assimilar os diversos assuntos atrelados ao sistema visual, e a quantidade de exercícios realizados de leitura de imagem, poderá facilitar a compreensão dos diversos significados no projeto maior de uma significação. Existem, pelo menos, dois passos básicos que poderão orientar uma pessoa na iniciação do processo de leitura de imagem, são eles: “Leitura visual por meio das Leis da Gestalt” e “Leitura visual por meio das categorias conceituais”. Para se realizar a “leitura de imagem por meio das Leis da Gestalt”, antes de tudo, faz-se necessário, obviamente, conhecer os conceitos elementares da Gestalt, já abordados anteriormente. A partir do domínio desses conceitos, o observador pode examinar a imagem e segregá-la em suas unidades principais. Feita essa etapa, o observador pode subdividir as unidades segregadas em outras unidades compositivas. Posteriormente, essas unidades devem ser descritas por meio de seus elementos formais, como pontos, linhas, formatos, formas, texturas, cores, luz e sombra etc. Para finalizar, atribui-se um índice de qualidade relativa à sua pregnância formal (baixo, médio ou alto). Já para se realizar a “Leitura de imagem por meio das categorias conceituais”, o observador busca compreender se a imagem é harmônica; se é equilibrada e quais são os diferentes tipos de contrastes. Estas são apenas duas das muitas maneiras possíveis de se elaborar uma leitura de imagem. O que importa ao cabo da leitura de uma imagem, é que o leitor consiga extrair o máximo de elementos possíveis para obter uma significação. 21 NA PRÁTICA Vamos fazer a leitura das imagens abaixo? Para isso, retome os assuntos vistos na aula de hoje. Feito isso, elabore, para a primeira imagem (Figura 15), a “Leitura visual por meio das Leis da Gestalt” e, para a segunda imagem (Figura 16), realize “Leitura de imagem por meio das categorias conceituais”. Figura 15 – Atividade 1 Crédito: DINA SAEED/SHUTTERSTOCK Figura 16 – Atividade 2 Crédito: CRYSTAL51/SHUTTERSTOCK 22 FINALIZANDO Nesta aula, vimos, primeiramente, o conceito de plano/formato/superfície. Desta maneira, foi possível dar continuídade à verificação dos elementos formais da lingaugem visual. Na sequência, foi verificado como funcionam as diversas categorias da Lei da Gestalt e as Categorias Fundamentais da Linguagem Visual. Foram vistas, também, algumas técnicas visuais que podem ser aplicadas e, por fim, foi discutido o sistema de leitura visual da forma do objeto. Assim, acredita-se que o observador estará munido de um mínimo de recursos necessários para a compreensão da imagem. 23 REFERÊNCIAS ALVES, C. E. S. Estudo das relações entre a narrativa, grid e gestalt na HQ Watchmen. Edição definitiva, 2009. ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira, 1998. DOS SANTOS, S. S. S. Semiótica e Gestalt: metodologias para análise de imagens visuais. 2009 GOMES FILHO, J. Gestalt do Objeto: sistema de leitura virtual da forma. Escrituras Editora e Distribuidora de Livros Ltda., 2015. KANDINSKY, W. Ponto e linha sobre plano: contribuição à análise dos elementos da pintura. Martins Fontes, 2005. OSTROWER, F. Universos da arte. Editora da Unicamp, 2013. SCHINERV, D. J.; SÊGA, M. G. D. A gestalt aplicada no aprimoramento da leitura visual em produtos de moda. 2011. 114 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Apucarana, 2011. SILVEIRA, D. Q. V. da. A Gestalt e sua relação com a publicidade. 2014. WONG, W. Princípios de forma e desenho. 1998.
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