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Os partidos políticos nos Estados democráticos

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OS PARTIDOS POLITICOS NOS ESTADOS DEMOCRÁTlCOS* 
JOAQUIM PIMENTA·· 
Tais como se desenham e se definem nos Estados democráticos, e nestes 
dois últimos séculos, os partidos políticos são agremiações que visam, 
ordinariamente, por sufrágio popular, excepcionalmente, por um golpe de 
força, à conquista ou à participação do poder. 
Esta definição exclui, mas não ignora a existência de partidos políticos, 
ou assim considerados, na Antigüidade; na Grécia, aristocratas e demo­
cratas, que disputavam o governo da Cidade (Polis) ou a uns e a outros 
se sobrepunham os tiranos, liberando massas populares que, alternativa­
mente, os apoiavam e os depunham; em Roma, patrícios e plebeus, ou 
grupos elegendo em comícios os magistrados e senadores, enquanto os 
não absorveu o despotismo dos Césares, reduzindo cidadãos livres a 
súditos submissos; na Idade Média, Guelfos, partidários do Papa, Gibe­
linos, partidários do Imperador, quando, na Itália e na Alemanha, lutavam 
os dois por prerrogativas do poder temporal; já nos tempos modernos, 
sob as monarquias absolutas, facções que se formavam nas cortes, alimen­
tadas pelo espírito de ambição, de rivalidade, de intriga, na disputa de 
favores e privilégios junto ou à sombra dos tronos; em fins do século 
XVIII, clubes políticos que preparavam, na França, a queda do "Antigo 
Regime", e no tumulto sangrento da Revolução, Girondinos e Monta­
nheses ou Jacobinos que se sucediam no manejo da guilhotina ou a faziam 
funcionar uns contra os outros, até quando a espada de Napoleão Bona­
parte os deteve e desarmou ... 
Talvez excetuando os efêmeros partidos da Revolução francesa, os 
outros não tinham nem podiam ter a mesma forma de organização e a 
mesma amplitude de objetivos dos partidos dos séculos XIX e xx. 
Enquanto aqueles eram grupos que se formavam e se desarticulavam à 
* Publicado na Revista de Ciência Política. v. I, n. I, 1958 (esgotada). 
** Da Universidade do Brasil. 
R. Ci. pol., Rio de Janeiro, 20(n. esp.) :93-99, outubro 1977 
mercê de acontecimentos e de circunstâncias que não os conduziam a uma 
concepção geral dos fatores que lhes davam origem, ou do meio social 
de que eram produtos imediatos, estes se apresentam com um programa 
de ação, doutrinário, ético, ideológico, que tanto pode abranger tais ou 
quais setores da sociedade, onde mais acesa é a luta de interesses ou mais 
premente a solução de problemas que esses interesses criam ou agravam, 
quanto pode estender-se a toda a estrutura social ou ao conjunto das 
instituições, que eles pretendam ou conservar, ou reformar ou subverter e 
refundir. 
Conforme a maneira como se conduzem em relação ao poder, e entre si, 
os partidos se dividem em partidos do governo ou governistas e partidos 
da oposição ou oposicionistas; divisão que se, para Gabriel Tarde é "toda 
simplista e vulgar", diz ele que tem "a vantagem de tomar salientes a 
dualidade do sim e do não, o duelo lógico que, só ele, faz os partidos 
possíveis"; e ela ainda indica como entre eles "o otimismo se opõe ao 
pessimismo, duas vertentes do coração humano cuja diferença é eterna 
e explica a grande generalidade dessa distinção dos partidos".1 
Outra divisão, não menos corrente, é a de partidos da direita e partidos 
da esquerda, às vezes, com outros, chamados de partidos do centro, eqüi­
distrrntes do maior ou menor radicalismo daqueles. 
Sem levar em conta pequenas agremiações locais, regionais, ou de 
classe, de corporação, adstritas à defesa de interesses que lhes são priva­
tivos, podemos classificar os partidos em três categorias: conservadores, 
progressistas e revolucionários. Na primeira categoria, prevalece o espírito 
de tradição; na segunda, o espírito de evolução; na terceira, como o termo 
está indicando, o espírito de revolução. 
Exemplos bem característicos das duas primeiras categorias nos oferece 
a história da Inglaterra, em que os três principais partidos ali existentes 
(o Conservador, o Liberal e o Laborista) como que nasceram por geração 
espontânea, ou surgiram e se desenvolveram em linhas paralelas com "as 
correntes de opinião", no dizer de Dicey, em que se veio dividindo, com 
diretrizes inconfundíveis, a mentalidade política e democrática do povo 
inglês. 
Data dos fins do século XVIII e começo do século XIX a origem dos 
partidos conservador e liberal, o primeiro, sob o nome de tory, o segundo, 
de wlzig, doutrinariamente, com o nome de Benthamismo. O partido tory 
representava (entre 1760 e 1830) a tradição nobiliárquica da sociedade 
inglesa ou a sua hierarquia de classes; partido impermeável, hostil a toda 
inovação ou mudança na rígida estrutura de preconceitos e privilégios, que 
assegurava à nobreza o poder de mando sobre o país. O partido whig 
surgiu "na época das reformas utilitárias" (1825-1870) ou sob a influên­
cia da filosofia utilitarista de Jeremias Bentham, influência decisiva no 
direito inglês, e que teve o seu reforço na economia política, ou na escola 
liberal, de Adam Smith e de seus adeptos; os dois campos de doutrina em 
ritmo com o desenvolvimento industrial e comercial da Grã-Bretanha, 
1 Tarde, G. Les transformations du pouvoir. 1899. p. 144. 
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conseqüentemente, formando uma nova "corrente de opinião" que conduzia 
a burguesia a uma atuação preponderante no Parlamento e no Governo. 
O terceiro partido, trabalhista ou laborista (Labour Party) está, histo­
ricamente, vinculado ao que Dicey chama de "período coletivista" (1865-
1900) entendendo ele por coletivismo - "a escola doutrinai, muitas vezes 
chamada de socialismo (e geralmente por críticos mais ou menos hostis) 
a qual favorecia a intervenção do Estado, mesmo sacrificando um pouco 
a liberdade individual, com o fim de conferir vantagens à massa do povo ... 
Os melhores exemplos das tendências práticas desse movimento de opinião, 
na Inglaterra, se encontram em nossas leis operárias e em grande parte da 
legislação que, embora se lhe não possa facilmente atribuir um só chefe, 
tem por fim, de um modo geral, regulamentar a conduta do comércio e 
dos negócios no interesse das classes operárias". 2 
Quanto às "críticas, mais ou menos hostis" que taxavam "esse movi­
mento de opinião" de socialismo, de certo modo elas eram procedentes, 
pois, além do desenvolvimento correlativo do espírito de organização das 
trade-unions ou do operariado, em concomitância com o progresso acele­
rado das indústrias, há que considerar a repercussão que tiveram, na época, 
as idéias socialistas de Robert Owen e o movimento político-proletário dos 
Cartistas. 
De quanto foi rápido o evolver do Partido Laborista, basta salientar 
que, nas eleições gerais de que participou em 1900, apenas conseguiu 
obter 62.698 votos; em 1923, quando pela primeira vez conquistou o 
poder, a votação foi de 4.355.000 eleitores, vitória que surpreendeu o 
mundo inteiro.3 
Convém advertir que o tradicionalismo do Partido Conservador, com o 
decorrer do tempo, e sob a pressão de fatos econômicos e de aconteci­
mentos políticos atuantes e decisivos na história da civilização contempo­
rânea, tanto teve de perder o espírito inconformista, anacrônico, do "velho 
torismo", para atender ou não sucumbir às contingências e aos imperativos 
de uma época de bruscas e profundas transformações sociais, quanto o 
progressivismo do Partido Liberal se tornou não menos tradicionalista, 
ou retido e retardado pela dogmática de um individualismo, cada dia em 
flagrante desajustamento com a realidade presente, por isso mesmo em 
choque com uma terceira e vitoriosa "corrente de opinião", a "coletivista" 
ou socialista, de onde iria sair aquele que lhe arrebataria o posto das 
urnas, formando com o seu antigo antagonista, os dois grandes partidos 
ou os únicos que, hoje, na Inglaterra, seriamente se defrontam e se 
alternam no poder. 
Outro exemplo de formação histórica e espontânea de partidos políticos 
é o da origem, nos Estados Unidos da América do Norte, dos dois que, 
desde a Independência, vêm atraindo nos pleitos e dividindo em duas 
grandescorrentes o eleitorado de todo o país; o Partido Democrata (antigo 
2 Dicey, A. V. Le droit et l'opinion publique, en Angleterre. Trad. Alb. e Jeze, 
Gaston. 1906. p. 59-60. 
3 Palacios, Alfredo. El derecho nuevo. p. 137. 
Partidos polEticos 95 
Republicano ou Republicano Democrata) e o Republicano, que substituiu 
o Partido Federal ou Federalista (desaparecido entre 1815 e 1820). 
Segundo Bryce, "nos Estados Unidos, a história dos partidos começa 
com a Convenção Constitucional de 1787, em Filadélfia. Nos debates e 
discussões que se desenrolaram sobre a redação da Constituição, vemos 
o aparecimento de duas tendências contrárias, que se mostraram em uma 
escala mais larga nas Convenções dos Estados, na aprovação das quais 
houve que submeter-se o novo instrumento (a nova Constituição). Eram 
as tendências centrífugas e as tendências centrípetas: uns queriam con­
servar a liberdade individual do cidadão e a independência dos diversos 
Estados na legislação, na administração, na jurisdição, em tudo, exceto 
para os negócios estrangeiros e a defesa nacional (eram os Republicanos 
ou Republicanos Democratas); os outros queriam subordinar os Estados 
à nação e dar mui grandes poderes à autoridade federal central, eram os 
Federalistas" . 4 
Em uma análise dos dois partidos - o Democrata e o Republicano, ou 
como se lhe apresentaram na última década do século XIX, conclui Bryce 
que nenhum deles tem "idéias precisas", nem "doutrinas ou princípios dis­
tintos" sobre vários problemas fundamentais de política e administração 
pública". "Todos dois, diz ele, têm tradições. Todos dois pretendem ter 
tendências. Todos dois têm gritos de guerra, organização, interesses que 
estão prestes a defender. Mas esses interesses consistem, sobretudo, em 
disputarem ou em conservarem os postos do governo. As teorias e os 
princípios políticos, as diferenças na doutrina, ou nos hábitos pouco a 
pouco desapareceram. Esses princípios e essas doutrinas não foram aban­
donados, mas o tempo e a marcha dos acontecimentos os despojaram de 
seu alcance primitivo; algumas dessas idéias políticas foram aplicadas, 
outras não deixaram traço: tudo desapareceu, salvo as funções públicas 
ou a esperança de as conquistar."5 
Tais impressões não seriam parciais ou exageradas, mesmo se partissem 
de quem não tivesse a idoneidade moral e intelectual do grande jurispu­
blicista e historiador inglês, pois o certo é que a disputa do poder pelos 
dois partidos conduziu à prática condenável do spoils system (sistema dos 
despojos), consistindo na distribuição dos cargos públicos entre os corre­
ligionários que mais tivessem contribuído para a vitória nas urnas, demitiàos 
em massa, os do partido vencido, além da concessão de favores, de privi­
légios, por lei, pelo governo, a empresas ou a quem financeiramente 
tivesse dado o seu concurso ao vencedor, tudo isso com grave dano para 
a administração do Estado e para os interesses gerais do país. 
A expressão spoils system, quem primeiro a proferiu foi o Senador 
Marcy, pelo Estado de Nova Iorque, num discurso em que disse que "não 
era nada demais a regra de que os despojos (spoils) do inimigo coubessem 
ao vencedor". Se, observava Kecskemeti, "o spoils system e a corrupção 
a ele inerente têm perdido grande parte de sua importância, as atividades 
legislativas continuam sendo influenciadas por forças extraparlamentares. 
4 Bryce, James. La republique americaine. ed. fr. 1901. v. 3, p. 4-5. 
5 Id. ibid. p. 25-6. 
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Uma pressão constante se exerce sobre as legislaturas em nome de grupos 
representativos de interesses legítimos. Os problemas políticos estão deter­
minados, em grande parte, por essa pressão organizada".' 
Contra essa "pressão organizada", especialmente em relação aos trustes, 
têm reagido o Congresso, do que é um exemplo a Lei Sherman (1890), 
e o Governo, pelos presidentes Th. Roosevelt, Woodrow Wilson, reação 
ainda mais enérgica, mais ampla e eficaz, por Franklin Roosevelt, e que 
os dois partidos teriam de levar em conta, tangidos pela competição e 
empenho em atrair o voto popular, hostil à interferência das grandes 
empresas na política e na administração pública. Dos partidos, acima indi­
cados, não diferem os dos demais países democráticos, quer nas linhas 
gerais dos programas que adotam, quer na orientação que seguem, entre 
conservadora e progressista, ou conforme esteja em jogo o interesse de 
cada um, posto em equação com as preferências do eleitorado ou premidos 
por forças ocultas ou ostensivas que sobre eles atuam ou se fazem sentir 
através da própria massa eleitoral. 
Os partidos de 3~ categoria, ou revolucionários, pretendem alterar, 
rdazer ou substituir por outra ordem econômica, social e política, domi­
nante, um ou mais de um dos seus setores. Podemos dizer que a revolução, 
processo a ser posto em prática, deverá ser ou uma revolução de estrutura 
ou uma revolução de superfície. Na primeira substitui-se, por exemplo, o 
sistema de economia capitalista pelo sistema de economia socialista; ou 
um regime monárquico por um governo republicano; ou um Estado demo­
crático por um Estado totalitário. Na segunda institui-se a participação 
dos empregados nos lucros e na administração das empresas, estas man­
tidas, porém, juntamente com o direito de propriedade dos empregadores, 
na sua forma atual de organização técnica e financeira; ou a substituição 
de uma monarquia absoluta por uma monarquia constitucional; ou um 
governo parlamentarista por um governo presidencialista e vice-versa. 
Classificam-se na categoria de partidos revolucionários os partidos comu­
nistas, os antigos - fascista, italiano, o nazi-socialista, alemão, e o falan­
gista, espanhol. 
Se, qualitativamente, e conforme a sua categoria, os partidos pouco 
diferem entre si, quantitativamente se reduzem, nesse ou naquele país, a 
dois, três ou mesmo quatro principais, com um ou outro que permanece 
na sombra, de tão ínfimo o seu contingente eleitoral; em outros, eles 
nascem e se multiplicam, como cogumelos, estacionam ou se esterilizam, 
a maioria, em pugnas de pouco êxito, como na França e no Brasil, cada 
qual com uma dúzia deles. 
Resta considerar ainda dois aspectos sobre a existência dos partidos: 
sua função em face das classes sociais e sua posição perante o Estado. 
Para nos cingirmos somente ao mundo contemporâneo, sustenta Men­
dieta y Nunes que "nos países capitalistas, a divisão da sociedade em 
grupos econômicos determina a formação e a luta dos partidos políticos, 
porque os interesses de tais grupos os induzem a unir-se para tal defesa. 
• Kecsbmeti, P. El pensamiento polftico eu Norteamerica. In: Mayer. J. P. et alii. 
Trayectoria dei pensamiento polftico. México. 1941. p. 356·7. 
Ptlrtidos polttico& 91 
Como esses interesses são contraditórios, os partidos lutam entre si para 
conseguir o poder estatal, a fim de conservá-lo e fazê-lo predominar sobre 
os grupos antagônicos".7 
A tese é aceitável para os países onde há partidos socialistas e quando 
com estes vota a maioria do operariado, como acontece na Inglaterra, onde 
o Partido Laborista tem nas trade-unions a sua grande reserva eleitoral, 
sem falar em outros países, como a Itália e a França, onde a massa prole­
tária se divide entre o partido comunista e outros que, sem adotarem o 
credo marxista, não são menos filiados ao socialismo. O mesmo, porém, 
não acontece nos Estados Unidos, onde a grande maioria operária se divide, 
ou na sua maioria, apóia, ora o Partido Democrata, ora o Partido Repu­
blicano. Tratando-se de uma nação supercapitalista, o partido que deveria 
arrastar os milhões de eleitores proletários seria o minúsculo Partido Comu­
nista ou outro qualquer, de orientação trabalhista, o que não se tem veri­
ficado. 
O segundo aspecto - posição dos partidos perante o Estado - conduz às 
duas teses adversas: a primeira, de Bluntschli, de que "os partidos não são 
uma instituição de direito público, mas da política, e nem membros do 
organismo do Estado, mas grupos sociaisem que cada um livremente 
entra e sai".8 
A segunda é a de Kelsen, que tem os partidos "como órgãos constitu­
cionais de Estado", baseando-se em que a democracia, necessária e inevi­
tavelmente, requer um Estado de partidos; ou "os seus verdadeiros órgãos 
de governo" (Willoughby) ou "uma parte do governo mesmo" (Merriam­
Gosnell) .9 
Não padece dúvida que, quanto mais se desenvolve o espírito demo­
crático de um povo, mais profunda, mais ponderável se torna, no Estado, 
a ação dos partidos. Mas, não se conclua daí que um partido, mesmo com 
as rédeas do Governo, seja um "órgão constitucional do Estado", ou um 
"verdadeiro órgão" desse mesmo governo. 
"Como seria possível, pergunta Tripel, citado e debilmente contestado 
por Kelsen, fazer depender a ordem jurídica e a formação central da 
vontade do Estado da vontade de organizações sociais que, em relação' 
à sua existência, órbita e caráter, constituem conjuntos de massa da maior 
volubilidade, que surgem e desaparecem subitamente ou mudam os seus 
princípios, de tal modo que, em poucos decênios, não fica de seus funda­
mentos, senão os nomes, e que, em alguns Estados, estão construídas à 
base de princípios completamente indefinidos e insignificantes?" 
A esta argumentação, que nos parece irrefutável, podemos acrescentar 
as seguintes considerações: 
1. Um órgão constitucional do Estado ou um órgão de governo exerce 
uma função de poder, de autoridade, que pode atingir, indistintamente, 
'T Mendieta y Nunes. Los partidos políticos. 1947. p. 119. 
8 In: Ferreira, Pinto. Princípios gerais de direito constitucional moderno. 1955. 
v. 1, p. 436. 
9 Kelsen, Hans. Esencia y valor de la democracía. Trad. Tapia, R. & Lacamba, R. 
1934. p. 36-7. In: Ferreira, Pinto. op. cito p. 438. 
98 R.C.P. ESPECIAL 
todo e qualquer indivíduo ou grupo social, o que não ocorre com os 
partidos políticos; estes exercem também uma função de poder, de auto­
ridade, mas somente sobre os seus membros, ou esse mesmo poder disci­
plinar que assegura a toda associação ou instituição, religiosa, profissional, 
artística etc., o regime de ordem na comunidade e de cooperação dos seus 
membros. 
2. Representando o povo em um Parlamento ou na chefia de um governo, 
o partido se despersonaliza ou se dilui no exercício do poder, ou, então, 
age, como partido, e, neste caso, o interesse impessoal do Estado desa­
parece, para prevalecer o interesse personalizado de uma agremiação. 
3. Se as Constituições e as leis ordinárias regulam o modo como os 
partidos se devem organizar e funcionar, o mesmo ocorre com outras 
agremiações ou corporações, entre elas os sindicatos profissionais e pa­
tronais, até com delegações de poder público, sem que se tornem "órgãos 
constitucionais" do Estado. 
4. Convém ainda salientar que, como as demais associações, os partidos 
elaboram, eles mesmos, os seus estatutos, eles mesmos estabelecem quais 
os princípios de doutrina e as normas de ação que devem seguir, sem 
qualquer interferência do Estado, interferência que, ao contrário, viria a 
ser a própria negação de um "Estado de partidos" como o entende Kelsen 
em uma autêntica democracia, ou de uma democracia, pensamos nós, em 
que os partidos, sem se encravarem, como peças, na máquina estatal, lhes 
podem, entretanto, fazer acelerar ou retardar a marcha, estejam ou não 
a dirigir-lhe o rumo. 
Assim, de acordo com a tese de BIuntschli, "os partidos políticos não 
são uma instituição de direito público", mas de direito político ou de 
direito social,lO pois são organizações de formação espontânea, eles mes­
mos, elaboradores das normas que regulam a sua vida interna e o modo 
de se conduzirem uns em relação aos outros, e, todos, com relação ao 
Estado. 
10 Sobre o conceito de direito social consultar Pimenta, Joaquim. Sociologia eco­
nômica e jurídica do trabalho. p. 12-7; ---o Enciclopédia de cultura. Rio, Livraria 
Freitas Bastos. p. 100-1. 
Partidos políticos 99

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