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Tópico 04 Diagnóstico por Imagem Tomografia Computadorizada 1. Introdução A tomografia computadoriza (TC) é uma das principais modalidades de diagnóstico por imagem, que atua emitindo vários feixes de radiação x para produzir imagem com mais detalhes e sem sobreposições. O primeiro aparelho (scanner) de tomografia computadorizada para uso clínico foi introduzido em meados da década de 1970. Segundo GUNDERMAN (2007), essa invenção revolucionária envolveu o trabalho de dois pesquisadores que dividiram o Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina, que são: Allen Cormack: desenvolveu um método para mostrar os vários coeficientes de atenuação encontrados nas diferentes proporções de um corte de tecido corporal como uma imagem em escala de cinza. Godfrey Hounsfield: inventou um método de imagem que usava a reconstrução matemática desenvolvida por Cormack para produzir imagens de cortes transversais da cabeça. Deste modo, o surgimento da tomografia computadorizada possibilitou melhorias importantes para a aquisição de imagens diagnósticas, incluindo aumentos na velocidade de aquisição, quantidade de informações em cortes individuais e no volume de cobertura (LEE et al., 2008). De acordo com Machiori (2015), as vantagens da tomografia computadorizada são: Método não invasivo; Obtenção de imagens sem sobreposição; Registra diferenças mínimas de densidade dos tecidos; Detecta a densidade dos tecidos através dos valores referentes ao coeficiente de atenuação ou unidades de Hounsfield; As imagens podem ser armazenadas no banco de dados e processadas em diversos tempos. Machiori (2015) também descreve algumas desvantagens, tais como: Método mais oneroso; Quantidade de radiação ionizante; Necessita de contraste iodado para realçar algumas estruturas do corpo humano, como os vasos e as alças intestinais. 2. Formação da Imagem As imagens tomográficas são construídas com base nos diferentes planos do corpo humano. Conforme Freitas (2013, p. 12), Na tomografia computadorizada, os fótons produzidos pelos tubos de raios X formam um feixe homogêneo de alta energia. Esse feixe atravessa o paciente, sofrendo maior ou menor atenuação conforme a constituição dos tecidos em que ele incide. Após atravessar o paciente, os fótons são coletados pelos detectores, que converte a energia incidente em impulsos São considerados originais os cortes axiais e coronais, a partir dos quais se faz a reconstrução do volume total escaneado, conhecido como reconstrução multiplanar (RMP): cortes sagitais, parassagitais e tridimensionais (3D) […]. Cada corte tem a finalidade de determinar a composição de uma única secção do corpo. elétricos de diferentes intensidades. Esses impulsos elétricos são transferidos para o computador, que utiliza esses dados para construir as imagens de corte transversal digitais (WERLANG et al., 2009). Para entender a reconstrução da imagem na tomografia computadorizada, é necessário definir alguns conceitos importantes: Pixel: menor unidade quadrática de uma matriz, ou seja, seu valor representa a dimensão da menor estrutura da imagem. Deste modo, lesões com tamanho menor que um pixel não podem ser identificadas na imagem. Voxel (volume elemento): menor unidade de volume de uma matriz, que é obtido da área do pixel multiplicada pela espessura do corte. Em outras palavras, podemos dizer que o voxel é um cubo, cuja altura é formada pela espessura da imagem e os lados pelas arestas de um pixel (WERLANG et al., 2009). Campo de visão (field of view – FOV): é o diâmetro da área onde está sendo produzida a imagem, ou seja, a área examinada pela tomografia. A Tabela 1 mostra alguns exemplos de campos de visão utilizados para o estudo tomográfico dessas regiões anatômicas. A imagem de tomografia computadorizada é registrada e exibida com base em uma matriz formada por pixels e voxels. Cada pixel representa um valor da densidade do tecido, que é proporcional à atenuação do feixe de Raios X do voxel. Então, a área definida para a aquisição da imagem é dividida em pequenos quadrados, denominados de pixels, que formam uma espécie de grade (matriz). De acordo com Werlang et al. (2009), “cada matriz é descrita por dois valores (por exemplo, 512 x 512), que indicam quantos pixels formam os lados desta área. Multiplicando-se estes dois valores, teremos o número total de pixels formando aquela área”. A resolução de uma determinada imagem, ou seja, o grau de definição da imagem está relacionado com a quantidade de pixels, ou seja, as matrizes com o maior número de quadrados apresentam maior resolução (NÓBREGA; DAROS, 2005). Além disso, também é possível melhorar sua qualidade, reduzindo o tamanho da área da matriz aplicada no paciente e, como consequência, leva a uma redução no tamanho dos pixels (WERLANG et al., 2009). 3. Tipos de Tomografia A tomografia linear, também conhecida como planigrafia, é um aparelho de tomografia convencional que produz imagens a partir de cortes no mesmo sentido, por meio de movimentos simultâneos e opostos entre o tubo de raios X e o filme O que é o sistema DICOM? DICOM é a abreviação de digital imaging communication in medicine (comunicação de imagens digitais em medicina), uma tecnologia padrão de informação mundialmente utilizada. Foi desenvolvida em 1993 e projetada para possibilitar a interação de sistemas usados na produção, no armazenamento, na exibição, no envio, na consulta, na impressão e na recuperação de imagens. Hospitais, clínicas e centros de imagens utilizam o sistema DICOM, possibilitando o uso de programas de computação gráfica para avaliação das imagens. (FREITAS, 2013, p. 14) (MARCHIORI, 2015). Segundo MOURÃO (2017, p. 23), “a tomografia linear engloba os processos tomográficos que não utilizam computadores para gerar imagens de cortes anatômicos”. Os aparelhos de tomografia computadorizada passaram por várias gerações com o intuito de obter imagens com melhor resolução em um curto intervalo de tempo. De modo geral, a produção de imagens na tomografia computadorizada requer um sistema de detecção, uma conversão do sinal analógico em digital e um processamento dos dados realizado no computador. Diferentemente da tomografia convencional, o método utiliza um tubo de Raios X que emite radiação enquanto se move em círculo (360º) ou semicírculo (180º), em torno do objeto que se deseja gerar a imagem. Nesse caso, a radiação que atravessa o objeto atinge os detectores posicionados do lado oposto à fonte de radiação. Em seguida, os dados coletados pelos detectores geram impulsos elétricos que são convertidos em sinal digital e transferidos para o computador (MOURÃO, 2017). Agora, vamos ver a descrição de cada geração que marcou a evolução dos aparelhos de tomografia computadorizada. 1ª geração (1970): a primeira geração de aparelho de tomografia computadorizada utilizava um tubo de raios X e um único detector de radiação. O feixe de raios X é bem colimado, chamado de pencil beam (em forma de lápis) para atingir uma única área do detector. Deste modo, a produção de radiação espalhada no objeto era muito pequena. O processo de aquisição era muito demorado, uma vez que o conjunto do tubo-detector sofria rotação de 1 grau ao redor do objeto para iniciar uma nova varredura e, ao final de muitos posicionamentos, eram varridos 180º (MOURÃO, 2017). O tempo de aquisição para obter a imagem de um único corte podia chegar a cinco minutos e o exame completo durava mais de uma hora (NÓBREGA; DAROS, 2005) 2ª geração (1972): essa geração de tomógrafo é caracterizada por utilizar um conjunto de detectores (± 30 detectores) e um tubo de raios X que emitia um feixe delgado em forma de leque. O aumento do número de detectores possibilitou a redução drástica do tempo de aquisição das imagens e, consequentemente, reduziu o tempo do exame. O tempo de varredura de cada plano de corte era de 20 a 60 segundos (MOURÃO, 2017). Além disso, também possibilitoua redução no número de posicionamentos de 180 para 6 (FREITAS, 2013). Atualmente, o uso desse tipo de equipamento está proibido, uma vez que as doses de radiação não são compatíveis com os níveis permissíveis (NÓBREGA; DAROS, 2005). 3ª geração (1976): os aparelhos da terceira geração apresentaram uma evolução significativa, pois passaram a realizar apenas um movimento de rotação para coletar simultaneamente os dados. O conjunto de detectores (± 600 unidades) forma um arco móvel posicionado após o objeto, que gira 360º de forma sincrônica com o tubo de raios X (NÓBREGA; DAROS, 2005). Nesse caso, o tempo de aquisição dos cortes foi reduzido para uma faixa entre 3 a 10 segundos. Vale ressaltar que essa evolução nos aparelhos de tomografia computadorizada permitiu a geração de imagens de estruturas móveis por conta da respiração e dos movimentos peristálticos. No Brasil, os aparelhos de tomografia computadorizada devem ser, no mínimo, de terceira geração (MOURÃO, 2017). 4ª geração (1978): o aparelho da quarta geração é composto por um anel de detectores fixo (tecnologia Slip-ring) e um tubo de raios X que gira 360º ao redor do paciente. Esse tipo de tomógrafo utiliza cerca de 1200 a 4800 detectores distribuídos pelo gantry (MOURÃO, 2017). De acordo com Nóbrega e Daros (2005), a quarta geração possibilitou uma maior estabilidade dos detectores, mas o seu alto custo acabou inviabilizando a sua produção. Aparelhos helicoidais (1989): nesse aparelho há uma varredura do volume que está sendo examinado em um único ciclo, produzindo imagens de cortes axiais individuais (MOURÃO, 2017). O tubo de raios X e os detectores giram continuamente ao redor do paciente de forma simultânea ao movimento da mesa. A quantidade de movimento do paciente em comparação à largura da imagem adquirida é denominada de pitch. As vantagens desse aparelho estão relacionadas com a possibilidade de reconstruir imagens multiplanares, menor tempo de análise e redução da dose de radiação (WHITE; PHAROAH, 2015). Tomografia computadorizada de múltiplos detectores (1998 – aparelhos multicortes/multislice e multifileira): os equipamentos helicoidais evoluíram e passaram a apresentar múltiplos conjuntos de anéis de detectores emparelhados, tornando possível a aquisição simultânea de vários cortes de imagem (NÓBREGA; DAROS, Pitch igual a 1 significa que a largura da imagem é igual ao valor do movimento do paciente por corte; Pitch igual a 2 significa que o paciente se movimenta duas vezes até que o detector esteja largo, e apenas metade do tecido esteja exposto; Pitch igual a 0,5 significa que metade da imagem está sobreposta em cada fatia. (WHITE; PHAROAH, 2015, p. 229) 2005). Segundo White e Pharoah (2015), o tempo para o tubo de raios X realizar um ciclo completo em volta do paciente foi reduzido para 0,25 segundos, ou seja, realiza quatro rotações por segundo. Então, o processo de aquisição dos dados para a geração da imagem é muito rápido, o que possibilitou a realização de estudos com maior grau de detalhamento das estruturas anatômicas e maior precisão nos procedimentos de biópsias guiadas por tomografia computadorizada (NÓBREGA; DAROS, 2005). O conceito de pitch que foi estudado no tomógrafo helicoidal também pode ser aplicado com eficiência na tomografia computadorizada de múltiplos detectores (WERLANG et al., 2009). Nesse caso, o pitch significa curso da mesa por rotação do tubo de raios X dividido pela largura total do detector ativo (WHITE; PHAROAH, 2015). De acordo com Mourão (2017), um aparelho de tomografia computadorizada é composto por: Gantry: maior componente de um aparelho de TC, onde se encontram instalados o tubo de raios X, os detectores, colimadores de feixe, conversor analógico digital, fontes e componentes mecânicos necessários para as movimentações de varredura. O gantry possui uma abertura circular com diâmetro de 60-70 cm por onde o paciente é introduzido (MOURÃO, 2017). Tubo de raios X: o princípio de funcionamento é semelhante aos utilizados nos aparelhos convencionais de raios X. No entanto, no aparelho de tomografia computadorizada, o tubo de raios X se movimenta ao redor do paciente e seu tempo de funcionamento contínuo é muito maior. Eles geralmente operam com valores de alta tensão (kV) em corrente contínua e corrente catodo- anodo (mA) (MOURÃO, 2017). Detectores: responsáveis por captar a radiação que atravessa o objeto e transformá-la em um sinal elétrico, que, após ser digitalizado, é enviado para um computador. A quantidade de detectores em um aparelho de tomografia computadorizada varia conforme a arquitetura, o fabricante e o modelo. Vale ressaltar que o número de detectores influencia diretamente na qualidade da imagem gerada. Os detectores podem ser de dois tipos: (1) detectores de câmara de ionização, que utilizam gás inerte pressurizado, como o xenônio; (2) detectores de estado sólido (cerâmicas), construídos em um conjunto cintilador-detector e são fabricados com materiais semicondutores dopados (MOURÃO, 2017). Mesa de acomodação do paciente: onde o paciente deve ser posicionado para que se faça a aquisição dos dados geradores das imagens. Em alguns casos, pode ser necessária a utilização de acessórios para que a região em estudo fique o mais estática possível. Painel de controle ou console: é formado por um teclado pelo qual se faz a introdução de dados e um monitor que permite a visualização da programação. Deste modo, o operador pode controlar as funções do aparelho de tomografia computadorizada (MOURÃO, 2017). Sistema computacional: responsável pela geração de imagens a partir dos dados enviados pelos detectores (MOURÃO, 2017). Aparelho de tomografia computadorizada. 4. Protocolos de Aquisição da Imagem Antes da aquisição das imagens, é necessário estabelecer o protocolo a ser seguido. Isso inclui uma série de parâmetros que podem ser ajustados de acordo com a área a ser estudada. Segundo Mourão (2017), o posicionamento do paciente na mesa do aparelho de TC pode ser feito de quatro maneiras diferentes: Vale ressaltar que o número de protocolos disponíveis é muito variável e sempre podem surgir novos protocolos. Aqui, vamos ver alguns parâmetros que podem ser ajustados de acordo com o objetivo da varredura, tais como: Colimação: A colimação do feixe está diretamente relacionada com a espessura do corte e é um dos primeiros parâmetros a serem definidos para o processo de aquisição da imagem de um determinado órgão (MOURÃO, 2017). De acordo com Souza, Lanfredi e Silva (2018, 32), “a colimação afeta o tempo de aquisição, a espessura disponível para a O posicionamento em decúbito dorsal, no qual a cabeça entra primeiramente no gantry, é o mais comumente utilizado e serve para a geração de imagens de crânio, coluna, tórax. O posicionamento em decúbito ventral, no qual a cabeça entra primeiramente no gantry, é utilizado para geração de imagens dos membros superiores e seios da face. O posicionamento em decúbito dorsal, no qual os pés entram primeiramente no gantry, é utilizado para a geração de imagens dos membros inferiores. O posicionamento em decúbito ventral é o menos utilizado, mas permite a fluoroscopia por TC para acompanhar punções da região lombar. reconstrução, o ruído e a resolução do baixo contraste”. As espessuras de cortes mais comuns são de 1 mm, 2 mm, 5 mm e 10 mm (MOURÃO, 2017). Pitch: O pitch está relacionado com as distâncias entre os eixos de corte e com a espessura do feixe. Normalmente, é recomendado que a sequência de cortes apresente valor de pitch maior que 1, para evitar que parte dos tecidos seja irradiada mais de uma vez. No entanto, se o valor de pitch for muito maior que 1 significa que as áreas entre os eixos de cortes não estão sendo irradiadas e, então, não serão apresentadas na imagem (MOURÃO, 2017). Tensão do pico (Kv): A alta tensão aplicada entre o catodo e o anodo no interior do tubo de raios X é responsávelpela aceleração dos elétrons que colidem com o anodo. Deste modo, quanto maior a tensão do tubo, mais os elétrons serão acelerados e, consequentemente, produzirão fótons com mais energia. É importante entender que o aumento do Kv traz algumas vantagens, como a diminuição do ruído presente na imagem e o aumento da penetração do feixe de raios X. No entanto, também apresenta algumas desvantagens relacionadas ao aumento da dose absorvida pelo paciente e diminuição do contraste entre os tecidos (MOURÃO, 2017). Corrente do tubo (mA): está relacionada com a quantidade de fótons que incidem no paciente (SOUZA; LANFREDI; SILVA, 2018). Deste modo, valores de mAs maiores implicam o aumento de fótons incidentes no paciente e, consequentemente, maior quantidade de radiação secundária e do ruído na imagem gerada. O uso de controle automático de mAs proporciona uma redução da dose de radiação nos pacientes, sem perder a qualidade da imagem gerada (MOURÃO, 2017). Tempo de aquisição (s): O tempo de aquisição está relacionado com o tempo necessário para que o tubo de raios X percorra 360º em torno do paciente. Tempos de aquisição menores são indicados para obter imagens de regiões onde existem movimentos involuntários capazes de gerar artefatos, como em varreduras dos pulmões, que possuem movimentos respiratórios (MOURÃO, 2017). Campo de visão (FOV): corresponde ao tamanho do campo visual, podendo ser colimado de acordo com a região a ser escaneada (FREITAS, 2013). Matriz da imagem: representa o número de pixel que formam a imagem: 340×340, 512x512m 768×768 ou 1024×1024 pixel. Esses valores variam de acordo com o tipo de tomógrafo. Vale lembrar que quanto maior a matriz, menor é o pixel e maior é a qualidade final da imagem (FREITAS, 2013). A Tabela 1 mostra alguns protocolos para exame de rotina. Protocolo Crânio Cabeça e Pescoço Tórax Abdome Coluna Cervical Colu Lom Topograma lateral lateral frontal frontal lateral later Alta tensão 120 kV 120 kV 10 kV 120 kV 120 kV 120 Corrente 250 mA 300 mA 230 mA 260 mA 300 mA 280 Tempo de rotação do tubo 1 s 0,75 s 1 s 1 s 0,75 s 1 s Fator mAs 250 225 230 260 225 280 Espessura do corte 5 mm 3 mm 5 mm 8 mm 2 mm 3 mm Pitch 1 1,7 1,6 1,25 1,7 1,5 Passo da mesa 5 mm 5 mm 8 mm 10 mm 5 mm 4,5 m Distância de varredura 150 mm 250 mm 300 mm 400 mm 200 mm 200 mm Protocolo Crânio Cabeça e Pescoço Tórax Abdome Coluna Cervical Colu Lom FOV 250 mm 220 mm 400 mm 220 mm 150 mm 200 mm Tempo de varredura 30 s 80 s 37 s 40 s 30 s 44s Os protocolos de aquisição de imagem em TC para pacientes pediátricos devem ser adaptados às suas condições físicas, principalmente em relação à massa corporal. Esse artigo mostra como reduzir os valores de dose, sem comprometer a qualidade da imagem e do diagnóstico clínico. 5. Escala de Hounsfield A tomografia é um método que avalia a intensidade da radiação que atravessa o paciente, isto é, a diferença de densidade entre os diversos tecidos do corpo humano. Desta forma, a diferença de densidade dos tecidos gera diferentes níveis de atenuação do feixe de raios X que, quando Vale a pena conferir! Parâmetros de Aquisição de uma tomografia computadorizada para pacientes pediátricos: uma visão bibliográfica. https://www.rbfm.org.br/rbfm/article/view/474 https://www.rbfm.org.br/rbfm/article/view/474 captados pelos detectores, são representados por uma escala, denominada de escala de Hounsfield (HU), composta por uma grande variedade de tons de cinza. Desta forma, podemos dizer que os valores da unidade Hounsfield variam de acordo com a quantidade de fótons de raios X que é absorvida pela área examinada. Segundo Mourão (2017), a escala de Hounsfield assume valores pré-estabelecidos, cujo valor de referência corresponde à densidade da água que é 0 (zero). Os tecidos que apresentam absorção do feixe de raios X maior do que a água são mais densos e os valores de Hounsfield são maiores que zero (positivos). Por outro lado, os tecidos que apresentam valores de atenuação do feixe de raios X menor que os da água são menos densos e possuem valores de Hounsfield menor que zero (negativos). A Tabela 2 apresenta os valores de Hounsfield para alguns tecidos humanos. Material Unidades Hounsfield (Números de TC) Osso +400 a +1.000 Tecido mole +40 a +80 Água 0 Gordura -60 a -100 Pulmão -400 a -600 Ar -1.000 Vale ressaltar que os tecidos com valores de 1000 HU apresentam alta densidade (onde os raios X têm dificuldade de passar), enquanto os tecidos com valores de -1000 HU apresentam baixa ou nenhuma densidade. Observe o que Machiori (2015, p. 11) afirma: 6. Meios de Contraste Os meios de contrastes são substâncias com grande capacidade de absorção do feixe de raios X, isto é, que apresentam alto coeficiente de atenuação. Deste modo, essas substâncias são utilizadas com o objetivo de ressaltar determinadas estruturas anatômicas que, do contrário, não poderiam ser observadas (MOURÃO, 2017). De acordo com Machiori (2015, p. 14), “na investigação de doenças pela TC podem ser usados meios de contrastes venosos, orais ou retais, dependendo do sistema em estudo e da indicação do exame […]”. Na tomografia computadorizada, os meios de contraste mais utilizados são os iodados, sendo que as principais famílias são a iônica e não iônica. Além disso, os meios de contraste podem ser classificados em substâncias de alta e baixa osmolaridade, de acordo com a concentração de iodo (HOCHHEGGER; ROTTENFUSSER; MACHIORI, 2017). Por convenção, altos valores de TC são apresentados como branco (hiper densidades) e baixos, como preto (hipodensidades). Como o olho humano não pode distinguir os milhares de coeficientes existentes, é utilizada a técnica de janelas (windowing) para visualizar somente os valores em certa faixa de TC. Imagens estudadas com janelas estreitas são mais contrastadas e apresentam menor escala de cinza, enquanto janelas largas favorecem maior escala de cinza e pouco contraste. Segundo Henwood (2003), é importante reduzir ao máximo o uso de meios de contraste no exame de TC de crânio, principalmente nas fases iniciais de situações de hemorragia e infarto. De acordo com Mourão (2017), o uso de contraste na TC de crânio não é indicado, pois o sangramento é espontaneamente hiperdenso, além de simular um sangramento em algumas situações. Por outro lado, o uso de meio de contraste pode melhorar o diagnóstico de tumores na cabeça. De acordo com Hochhegger, Rottenfusser e Machiori (2017), a maioria dos exames de TC do tórax não precisa utilizar meios de contraste para estabelecer um diagnóstico preciso. No entanto, a administração de contraste pode ser usada para complementar o exame não contrastado (HENWOOD, 2003). O uso de contraste intravenoso pode ser recomendado quando se pretende avaliar doenças vasculares e o contraste oral pode ser empregado em exames do esôfago. Já os exames abdominais de rotina utilizam contraste oral para opacificar o intestino, o que permite diferenciar o órgão de lesões patológicas adjacentes. Nesse caso, o contraste intravenoso pode ser indicado para opacificar vasos, além de auxiliar na identificação de lesões hepáticas, massas renais e doenças pancreáticas (HENWOOD, 2003). O uso de meio de contraste pode causar reações adversas que são classificadas em: leves, moderadas e graves. A Tabela 3 apresenta os sintomas mais comuns associados aos tipos de reações adversas. Leves Moderadas Graves Náuseas, tosse, calor, cefaleia, tonturas, ansiedade, rubor, tremores, Vômitos, alteração na frequência cardíaca, hipertensão, hipotensão, urticária extensa, edema facial, rigidez muscular, broncoespasmo, Apresentam risco de morte com associação de reações leves e moderadas. Edema de glote, inconsciência, convulsões, edema agudo de pulmão, Leves Moderadas Graves calafrios, urticária restrita, sudorese, espirros, inchaço nos olhos, dorlocal. laringoespasmo, dores no tórax, dores no abdome, cefaleia intensa. colapso vascular grave, arritmias, parada cardiorrespiratória. 7. Anatomia Tomográfica O conhecimento sobre a anatomia tomográfica e os principais planos de corte é fundamental para a obtenção de imagens com alta qualidade diagnóstica. Sendo assim, vamos ver as principais estruturas anatômicas das diferentes regiões do corpo humano. Vale lembrar que as imagens de cortes transversos (axiais) são as mais úteis no processo diagnóstico em tomografia computadorizada, uma vez que apresentam maior quantidade de informações. No entanto, as imagens de cortes em outras orientações, como a sagital e coronal, também auxiliam no diagnóstico e podem ser reconstruídas a partir das imagens axiais (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). A figura a seguir apresenta imagens do crânio em cortes coronal, sagital e axial. Nessas imagens é possível observar o cérebro, os ossos do crânio e os seios da face. Note que as imagens são formadas por uma escala de cinza determinada pela atenuação de cada tecido, ou seja, pela diferença de absorção entre a substância cinzenta e branca. Essa diferença está relacionada com o conteúdo mielínico e a quantidade de gordura de cada uma. Vale lembrar que a gordura e o ar possuem baixos valores de atenuação e podem ser facilmente identificados. Já o líquido cefalorraquidiano tem um valor de atenuação semelhante ao da água, aparecendo em preto na imagem tomográfica (GARCIA; FERREIRA, 2015). Tomografia computadorizada de cabeça. A: plano sagital; B: plano coronal; C: axial. Na tomografia do abdômen e pelve é possível observar algumas estruturas, como o fígado, a vértebra torácica, o braço, o estômago, as costelas, a medula espinhal, os tecidos musculares, os tecidos gordurosos e a pele. Também é possível realçar a aorta descendente com o uso de meio de contraste (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). A próxima figura apresenta imagens da região do abdome e pelve nos cortes sagital, coronal e axial. Tomografia computadorizada de abdome e pelve. A: plano sagital; B: plano coronal; C: plano axial. Segundo Nóbrega e Daros (2005, p. 30), “o estudo do tórax na tomografia computadorizada é o método de escolha no diagnóstico diferencial das patologias que afetam o parênquima pulmonar e, particularmente, o interstício. Observe na figura a seguir as imagens da tomografia computadorizada do tórax, onde é possível avaliar o pulmão e a região torácica. Tomografia computadorizada do tórax. A: plano axial; B: plano coronal; C: plano sagital. Assista ao vídeo indicado abaixo que mostra uma tomografia computadorizada de pescoço. Vale a pena conferir! Tomografia computadorizada de pescoço. 8. Anormalidades Encontradas no Exame de Tomografia Computadorizada Ao longo desse tópico vimos que a tomografia computadorizada evoluiu rapidamente em relação ao seu desempenho na aquisição de imagens. Além disso, essa evolução também permitiu uma ampliação das suas aplicações clínicas (LEE et al., 2008). Agora, querido aluno, vamos ver alguns exemplos de anormalidades encontradas no exame de tomografia computadorizada. Vale ressaltar que existem diversas patologias que podem ser identificadas através das imagens de TC. As imagens de tomografia computadorizada cranioencefálicas são indicadas para o diagnóstico de traumatismos e hemorragias intracranianas. A TC de crânio também pode ser utilizada para detectar tumores na cabeça, aneurismas e presença de cistos (MAURÃO, 2017). Os tumores cerebrais podem ser malignos e benignos. Os tumores malignos invadem o tecido cerebral normal e costumam crescer rapidamente, gerando edema reacional em torno da região afetada. Por outro lado, os tumores benignos comprimem o tecido cerebral normal e crescem lentamente. Segundo HENWOOD (2003), o infarto cerebral Tomogra�a computadorizada de PescoçoTomogra�a computadorizada de Pescoço https://www.youtube.com/watch?v=XfAXcx5JIOI apresenta algumas características na imagem de TC, que o diferencia de outros diagnósticos, tais como: Comprometimento da substância cinzenta e branca; A lesão não é expansiva, exceto quando envolve infarto de grandes vasos; Região típica em formato de cunha, correspondendo à perda tecidual; Dilatação local dos espaços liquóricos, que ocupam a região de tecidos cerebrais destruídos. Lesões metastáticas cerebrais, antes (esquerda) e depois (direita) do contraste iodado. A tomografia computadoriza de tórax é muito utilizada para detectar alterações agudas e crônicas do parênquima pulmonar, além de ser útil na identificação de pneumonias e tumores. Além disso, também pode ser utilizada para avaliar processos crônicos, como enfisemas e fibroses (MOURÃO, 2017). A figura a seguir apresenta uma tomografia computadorizada do tórax, onde é possível evidenciar o enfisema bolhoso. Enfisema bolhoso visto na tomografia computadorizada. As aplicações clínicas da TC na doença pancreática incluem pancreatite aguda e crônica, bem como o diagnóstico e Vale a pena conferir! Esse artigo descreve o uso da tomografia computadorizada no diagnóstico por imagem do enfisema pulmonar. https://cdn.publisher.gn1.link/jornaldepneumologia.co m.br/pdf/2007_33_6_17_portugues.pdf https://cdn.publisher.gn1.link/jornaldepneumologia.com.br/pdf/2007_33_6_17_portugues.pdf https://cdn.publisher.gn1.link/jornaldepneumologia.com.br/pdf/2007_33_6_17_portugues.pdf estadiamento de tumores pancreáticos. As anormalidades encontradas na TC de pacientes com pancreatite aguda incluem aumento difuso ou focal da glândula, alterações inflamatórias peripancreáticas e coleções líquidas que pode se estender até o mediastino, ao longo da raiz do mesentério, em volta do ceco e até a pelve (HENWOOD, 2003). De acordo com Henwood (2003), “necrose pancreática é definida como uma área difusa ou focal de parênquima inviável, que adquire o aspecto de uma área difusa ou bem demarcada de parênquima pancreático não contrastado no exame de TC pós-contraste”. As alterações características da pancreatite crônica observadas na TC incluem dilatação do ducto pancreático, atrofia parenquimatosa e calcificação pancreática. Indicações para diagnóstico por imagem de TC Região Varredura Cabeça Varredura de cabeça, cérebro, órbitas oculares, sela túrcica, ossos petros, seios paranasais, polígono de Willis, volumétrica de crânio e ossos da face. Pescoço Tecidos moles cervicais, carótidas e coluna cervical. Tórax Mediastino, tórax de alta resolução, vasos do tórax, vasos pulmonares, coração e coluna torácica. Abdome Fígado, pâncreas, rins, suprarrenais, artérias renais, vasos abdominais e coluna lombar. Pelve Varredura de pelve, vasos, cabeça de fêmur, bexiga, reto, saco e cóccix. Extremidade Articulações do joelho, articulações coxofemoral, punho, ombro, pés e mãos. 9. Conclusão Ao longo desta lição, conhecemos o histórico da técnica de tomografia computadorizada e a evolução dos diferentes tipos de aparelhos. Vimos também os princípios de formação da imagem tomográfica e a escala quantitativa que descreve a média de absorção de radiação dos tecidos. Esperamos que tenha ficado claro para você que as imagens tomográficas são geradas em níveis de cinza, as quais depois são transformadas na escala de Hounsfield. Descrevemos os principais protocolos de aquisição de imagens, bem como as principais anormalidades encontradas no exame de tomografia computadorizada. E destacamos o uso de contrastes para melhorar a qualidade da imagem diagnóstica. Chegamos ao final de mais uma lição e todo esse processo tem sido fundamental para a construção do seu conhecimento. Acredite, todo esse caminho fará de você um excelente profissional da saúde. Até a próxima! 10. Referências FREITAS, C. F. Imaginologia: parte clínica. 1. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2013 (Abeno). GARCIA, L. H. C.; FERREIRA, B. C. ABC… para a tomada de decisões. Radiol. Bras., v. 48, n. 2, p. 101-110, 2015. Disponível em:http://www.rb.org.br/detalhe_artigo.asp? id=2613&idioma=Portugues. GEBRIN, E. M. M. S. Incorporação de novas tecnologias em tomografia computadorizada. Radiol. Bras., v. 37, n. 1, p. III- IV, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rb/v37n1/19211.pdf. GUNDERMAN, R. B. 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