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AS FUNDAÇÕES PRIVADAS E PÚBLICAS NO DIREITO BRASILEIRO VIGENTE Sergio de Andréa Ferreira* 1. Introdução; 2. Quadro geral das espécies de fundações no direito brasileiro vigente; 3. A fundação do Código Civil e do Código de Processo Civil; 4. As fundações vinculadas ao po- der público. 1. Introdução A classificação das várias espécies de fundações, sua respectiva natureza jurí dica têm constituído permanente desafio aos doutrinadores e à jurisprudência de nosso País. Através dos tempos, tem-se verificado a ampliação do emprego desse instituto, quer no setor privado, quer no setor público, pois o Estado transformou-se no grande instituidor de fundações que, como instrumento governamental, desborda ram dos limites do Direito Civil e Processual Civil para figurar, de modo especial, nas normas de Direito Público e Social, Administrativo, Constitucional, Financei ro, Penal, do Trabalho, Previdenciário, etc. O eminente Prof. José Cretella Júnior, a quem homenageamos com admiração, respeito, carinho e amizade, tem dado, com sua vasta e aprofundada obra, decisiva contribuição para a matéria, à qual dedicou excelente monografia. 1 A legislação sobre fundações - especificamente no campo da descentralização administrativa e da chamada previdência complementar - tem experimentado ex pressivas alterações, e novas espécies e subespécies fundacionais têm surgido na prática jurídico-social, com o aprofundamento da atuação do poder público, no exercício da provedoria, através, por exemplo, das Curadorias de Fundações; com o que se alterou, acentuadamente, o quadro respectivo desde que, em 1970, escre vemos, sobre o tema - a que temos dedicado outros trabalhos, conforme indicamos ao final do presente estudo -, nossa tese As fundações de direito privado institu{ das pelo poder público, o que nos incentivou a escrever este texto. 2. Quadro geral das espécies de fundações no direito brasileiro vigente As fundações, como espécie do gênero pessoas jurídicas, admitem uma primeira grande divisão: é a que distingue, de um lado, entre fundações de direito privado e, de outro, fundações de direito público (fundações autárquicas ou autarquias fundacionais). Outra categorização fundamental é aquela que permite discernir, dentre as primeiras, as fundações particulares e as fundações de direito privado vinculadas ao poder público, abrangendo as últimas as assim chamadas fundações públicas, governamentais, e as fundações paradministrativas, paragovernamentais ou de cooperação. As primeiras são as fundações que, quer instituídas por pessoas físicas ou jurí dicas particulares, quer por pessoas públicas, estão submetidas, basicamente, ao * Professor titular de direito administrativo no Rio de Janeiro; membro do Ministério Público Estadual e do Instituto dos Advogados Brasileiros. R. C. poI., Rio de Janeiro, 31(3):51-78, jul.lset. 1988 regime do Código Civil (arts. 24 a 30) e do Código de Processo Civil (arts. 1.199 a 1.204): são, portanto, fundações de direito privado, de Direito Civil, fundações civis, fundações do Código Civil (e do Código de Processo Civil), dentro do que estatui o art. 12 do código citado, segundo o qual o Código Civil "regula os direi tos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às suas re lações" . As da segunda espécie - que, como a própria designação de governamentais e paragovernamentais indica, admitem duas subespécies - ou integram a adminis tração pública indireta - e, como detalharemos, vieram ser as atualmente chamadas fundações públicas - ou compõem a chamada paradministração - fundações pa radministrativas, fundações de cooperação. As diferenças entre as várias categorias de fundações decorrem, ainda, de ou tras fontes: a) pela natureza do suporte fático personalizado, entre fundações-pa trimônio e fundações-organização; b) pela situação jurídica em relação ao poder público, entre fundações supervisionadas (autárquicas, governamentais e parago vernamentais); fundações de colaboração do poder público (todas essas espécies legalmente relacionadas com o Governo) e fundações administradas; c) finalinen te, ainda podem, quanto a seus destinatários, classificar-se como fundações gerais ou abertas; e fechadas ou especiais, as quais, por sua vez, se subdividem nas que têm a qualidade jurídica, legal, de servientes do poder público, como as autárqui cas, as públicas (privadas administrativas) e as paradministrativas; nas de colabo ração do poder público; e nas administradas de auxílio e fomento a destinatário certo, específico, imediato. 3. A fundação do Código Civil e do Código de Processo Civil Segundo o regime do Código Civil (arts. 24 a 30) e do Código de Processo Ci vil (arts. 1.199 a 1.204), a fundação é uma pessoa jurídica cujo substrato persona lizado é um patrimônio afetado a um fim, em oposição às pessoas jurídicas corpo rativas, societárias e associativas, em cuja base fático-social personificada figura a reunião, a conjugação de pessoas, seus membrqs. A fundação civil, a fundação do Código Civil (e do de Processo Civil) é a fun dação-patrimônio, tanto que a insuficiência ou deficiência de bens dotados conduz ao diferimento ou à in viabilização da ultimação do processo criativo da entidade infleri (art. 25 do Código Civií). Podemos dizer que a fundação, nos termos em que está colocado seu regime no Código Civil e no Código de Processo Civil, como espécie do gênero das pessoas jurídicas, tem atributos que a tomam o instrumento ideal para o atendimento de fins transindividuais. A fundação não tem membros, ou seja, nem sócios, nem associàdos, eis que a membridade é requisito necessário e próprio das corporações (sociedades e asso ciações), que, em conseqüência, ostentam, como órgão máximo e indispensável de sua estrutura, a assembléia geral, onde atuam os membros da entidade, e que po dem alterá-la - inclusive quanto ao objeto social - e, até mesmo, extingui-la: é órgão dominante, que expressa a vontade imanente, interna superior que comanda o destino corporativo. A fundação conta, tão-somente, com órgãos de administração, integrados por gestores, pelos administradores do patrimônio fundacional, substrato, base que é personalizada, órgãos esses servientes, pois sua atuação 'está comprometida, fun cionalmente, com o fim fundacional, que não podem modificar, que é imutável, 52 R.CP. 3/88 que já encontram preestabelecido no ato de instituição da entidade, cuja existência não podem eliminar ad libitum. Com efeito, fim e duração da fundação são elementos que cabem ao instituidor - aquele que pratica o ato defIagrador do procedimento de criação do ente, com a dotação patrimonial correspondente - estabelecer, e que, uma vez criada a insti tuição, nem ele próprio pode mudar. Quanto ao aspecto finalístico da fundação, é relevante gizar que, no Direito Ci vil Brasileiro, tem ele de ser social, de índole social, não podendo ser de caráter lucrativo, no sentido de que não pode a entidade, diante de resultados financeiros positivos, distribuir lucros, dividendos, o que não impede que a fundação desen volva atividade remunerada, e até empresarial (a fundação-empresa é legítima, se ja sob a forma de titularidade de cotas ou ações de capital de sociedade comercial, seja por manter a fundação, diretamente, o estabelecimento empresarial), desde que, aplicado, integralmente, o resultado positivo nos fins fundacionais. A extinção da fundação, salvo as hipóteses de existência a termo final ou sob condição resolutiva, inclusive por visar à realização de fim em si mesmo de come timento temporário, só pode dar-se pela superveniência de causas fáticas ou jurí dicas reconhecidas por quem de direito. Finalmente, um dado básico das virtudes fundacionais: exatamente em razão de sua estrutura impessoal; da sua perenidade existencial; de sua teleologia altruísti ca, a fundação tem de estar sob o velamento, a provedoria de terceiro, que fiscali ze a administração daentidade, com vistas à permanente aferição da legitimidade de sua investidura e de sua atuação; da consonância desta com os fins da fun dação, verificando se se está desenvolvendo a melhor gestão do patrimônio, de modo a se obterem mais recursos, e, com menos ônus, a consecução mais comple ta possível dos mencionados fins. Os Códigos Civil e de Processo Civil outorgam essa provedoria ao Ministério Público, representante da sociedade civil, vigilante da aplicação correta e justa das normas jurídicas constitucionais, legais e regulamentares. É, pois, a instituição ideal para esse mister, eis que dotada do poder de império, órgão da soberania estatal, não está a serviço do Governo, não atua em função dos interesses do Poder, mas sim da comunidade, em que se inserem, exatamente, aqueles que constituem o terceiro grupo de protagonistas da vida fundacional - ao lado dos instituidores e dos administradores - e que são os beneficiários da ativi dade da fundação. Sendo a vida social - e, assim, a vida jurídica - eminentemente relacional, é claro que a criação da fundação; a adotação do patrimônio, que recebe o selo jurí dico da personalização; sua estruturação orgânica e respectiva titularização e fun cionamento pelos administradores, e a fixação de fins altruísticos a serem alcança dos, todo esse conjunto tem de ter como objetivo último o benefício de seres hu manos, que são os destinatários da fundação e que podem constituir um conjunto com maior ou menor número de elementos, toda uma comunidade, um segmento, uma classe dessa. É o ministério público - que, no nunca esquecido dizer de Roberto Lyra, é o Ministério Social - velando pela realização pertinente, pelos administradores, da vontade do instituidor (assim como vela pela do testador, sendo que a fundação pode ser instituída também por testamento), provê o atendimento, pela entidade, dos interesses de seus destinatários. Desde logo, cumpre assinalar que, embora possa ser maior ou menor o conjunto' desses beneficiários, sua qualificação será sempre social, comunitária. Fundações 53 A apresentação desse panorama geral das peculiaridades fundacionais torna cla ra sua pertinência como instrumento de realização de determinados fins sociais, quando se deseja utilizar um meio impessoal, objetivo, duradouro, confiável, in clusive pela sujeição à fiscalização externa. Ao Estado - no sentido abrangente do termo, a englobar as instituições estatais (União e estados-membros) e intra-estatais (municípios, territórios) -, como pessoa jurídica, como indivíduo, dentro do Direito Individual Privado, sempre se reco nheceu a capacidade, a legitimidade para instituir fundações civis, de Direito Ci vil, de Direito Comum, dotando-as do patrimônio a ser personalizado. Isso, quer no Direito pré-codificado, quer já no regime do Código Civil, e seja enquanto ainda não se institucionalizara a descentralização administrativa, seja atualmente, quando a questão se coloca numa opção calcada na conveniência polí tica. É o que se chama de participação fundacional do Estado, encontradiça, atual mente, de modo especial, em nível local, principalmente sob a forma de co-insti tuição com particulares (cf., na antiga Guanabara, a Fundação Vieira Fazenda, que mantinha o Museu da Imagem e do Som). Desse processo também participam entidades da Administração Indireta - sem que a unidade federativa correspondente esteja presente - de que é exemplo típico a Fundação Cesgranrio, responsável pela realização do vestibular unificado no Grande Rio, e co-instituída por entidades de ensino superior oficiais, federais e locais, e particulares. Essas fundações não integram o Governo, a Administração Pública, mesmo a indireta, mas estão situadas no conjunto dos administrados, dos governados, sub metidos, como qualquer desses, ao poder de polícia administrativa ordinário; e, enquanto fundações, ao regime civil, de Direito Civil Comum (Códigos Civil e de Processo Civil), inclusive à provedoria do Ministério Público. A participação fundacional de pessoa administrativa, federativa ou da Adminis tração Indireta, não desnatura essas fundações, que se identificam, não apenas como de Direito Privado, de Direito Civil, mas do Código Civil (e de Processo Civil), como fundações particulares. É hipótese semelhante à das denominadas participações financeiras ou acioná rias do Estado em sociedades comerciais particulares, que preservam essa con dição, não obstante dita participação (como no caso da Computadores e Sistemas Brasileiros S.A. - Cobra). As situações ora em análise são de identidade - e não, apenas, de igualdade ou de igualação: cf. art. 170, § 2~, da Constituição Federal-, porquanto são a mesma de qualquer pessoa jurídica particular da espécie. E básico assinalar-se que, dada essa identidade de situações, todos os aspectos do regime jurídico das fundações do Código Civil, antes expostos, estão presentes no tocante às fundações particulares com participação administrativa, inclusive no tocante ao posicionamento do instituidor ou dos co-instituidores e administrado res, com incidência, tão-somente, do Direito Civil ordinário, e não, nessa parte, do Direito Administrativo, que só interfere, como acontece no tocante a qualquer par ticular, quando se trata do exercício do poder de polícia administrativa ordinário. É o mesmo que ocorre, mutatis mutandis. com as empresas particulares com participação de pessoas administrativas: o relacionamento entre a empresa e os acionistas-pessoas administrativas é, estritamente, de Direito Comercial, de Direi to Societário. 54 R.C.P. 3/88 Destarte, o único poder de ingerência do poder público, do administrador pú blico, é, a par do já referido poder de polícia administrativa ordinário, o que lhes assegura o Direito Privado comum, nas respectivas posições de sócio, acionista, instituidor, administrador, Ministério Público, mantida sempre, portanto, a isono mia com referência às demais pessoas físicas ou jurídicas particulares da espécie: qualquer tentativa de interferência abusiva do Poder Público caracterizará proce dimento inconstitucional. É que a participação administrativa na entidade particular - seja ela fundacional ou corporativa, inclusive comercial - não é, por si mesma, fator juridicamente su ficiente para uma discriminação - legal ou administrativa - com referência às de mais. A participação não é fator discriminatório juridicamente hábil como elemen to de desigualação. Se, por motivos de conveniência política, e dentro do que o Direito pennite, o Estado, suas pessoas administrativas preferem atuar no setor particular da socie dade civil, valendo-se dos instrumentos específicos desse, não poderão ser estabe lecidas diferenciações que agridam o regime jurídico escolhido. Se o poder público se investiu, validamente, numa detenninada situação jurídi ca, e, em conseqüência, se inseriu num certo regime jurídico, não pode, contra riando esse, subvertendo-o, criar discriminações, eis que todo regime jurídico se caracteriza pela unifonnidade ou identidade, ou seja, é o mesmo para todos a que a ele se submetem Como preleciona Celso Antonio Bandeira de Mello,' a lei não pode conceder tratamento diferenciado, específico, "vantajoso ou desvantajoso, em atenção a tra ços e circunstâncias peculiarizadoras de uma categoria de indivíduos, se não hou ver adequação racional entre o elemento diferencial e o regime dispensado aos que se inserem na categoria diferenciada" É curial fixar-se que vários são os instrumentos, as fonnas que os sujeitos jurí dicos, inclusive o Estado e as pessoas exclusivamente administrativas, têm para atuar. Mas a cada instrumento, a cada fonna corresponde um regime jurídico próprio, com suas situações e posições jurídicas, constituídas dos poderes e deveres perti nentes, cada um com sua natureza, conteúdo e respectivos limites, meios de exercício e correspondentes limitações. Escolhido um instrumento, uma fo nna, as conseqüências jurídicas são inevitá veis, numa verdadeira relação de causa e efeito, não sendo possível o poder públi co fazer a opção quanto àqueles primeiros e querer submeter-se a um regime jurí dico que não seja o correspondente. Não é exato ser o Estado um "Rei Midas", que publicize tudo de que participe. Em verdade, se o campo de atuação do poder público deixa de ser o político, o interno da instituição estatal, e se projeta, como parte, para outras áreas da socie dade, aquele tem de lançar mão dos instrumentos e fonnas juridicamente adequa dos, isto é, componentes do Direito Social e do Direito Privado. Do contrário, ao invés de o Governo ir participar desses demais setores sociais, esses é que irão politizar-se, irão publicizar-se, passando a compor a esfera social política ou pública, institucionalizada pelo Estado, o que ocorre na modalidade da intervenção em sentido próprio, nos tennos do disposto no art. 163 da Consti tuição Federal, a exigir lei federal específica sobre o assunto. 1 Mello. Celso Antonio B. de. O conteúdojurú/ico do princípio da igualdade, São Paulo, RT, 1978. p. 50. Fundações 55 Assim, se o poder público pretende satisfazer as necessidades de alimentação da população, ele pode optar entre ir ao mercado, como sujeito econômico; ou pu blicizar a atividade, transformando-a num serviço público. Efetuada a escolha, o regime jurídico a que o poder público passará a subme ter-se não é de sua opção, mas conseqüência necessária daquela primeira escolha. Destarte, o Estado não poderá optar pela publicização da atividade e querer, por exemplo, remunerar-se com preços privados. É de lembrar-se que a autovinculação é princípio básico do Estado de Direito, razão por que se ele opta por participar de uma pessoa jurídica particular, está jungido ao regime jurídico correspondente, não sendo a participação de molde a facultar um tratamento discriminatório. Na configuração da natureza e do correspondente regime jurídico da pessoa jurídica entra em linha de conta o próprio ser dessa. E, na Ciência do Direito, co mo em qualquer uma, prevalece o princípio da não-contradição: nada, cientifica mente, pode ser e deixar de ser ao mesmo tempo. Fundamental a anotação de Seabra Fagundes 2 de que, "outrora, o Estado, ante a necessidade de tomar autônomos certos serviços, valia-se do instituto privado da fundação, erigindo em pessoa jurídica, sob essa modalidade, certos departamentos seus. Típico, nesse sentido, foi o que se passou com a organização dos estabele cimentos superiores de ensino, alguns ganhando autonomia administrativa, através do recebimento de patrimônios próprios e da personalização, com apelo às regras do Capítulo 11, Seção IV, do Código Civil". Trata-se, em verdade, de fenômeno digno de realce. Em primeiro lugar, a evidenciar a vinculação dessa espécie de pessoa jurídica e a área educacional. Outrossim, pelo posicionamento do poder público como instituidor de fun dações, mostrando que isso se deu em razão da necessidade da personalização de certos serviços estatais, para lhes conferir autonomia e a capacidade de se toma rem sujeitos de direitos e obrigações, nos moldes do Código Civil. É que ainda não era concebida, à época, a possibilidade da existência de pes soas jurídicas públicas não-políticas, exclusivamente administrativas, as autar quias, que, somente mais tarde, foram admitidas, passando a entender-se o elenco do art. 14 do Código Civil como não-exaustivo. Tampouco se identificavam, ainda, a Administração Indireta, nem, conseqüen temente, pessoas administrativas, ainda que de direito privado. Assim, "pela outorga da personalidade jurídica de direito privado", acrescenta Seabra Fagundes, "se alcançava o objetivo da autonomia de certos serviços públi cos, com proveito para a atuação estatal, que assim ganhava um novo instrumen to" Destarte, por necessidade de ampliação e de agilização dos quad.ros organiza cionais administrativos e por deficiência dos instrumentos típicos da área do direi to público, o poder público tornou-se um grande instituidor de fundações de direi to privado, segundo o modelo do Código Civil. Fundamental é sublinhar-se esse ponto. O Estado, mesmo no direito pré-codifi cado,3 sempre foi tido, ao lado das pessoas naturais e das pessoas jurídicas de or- 2 Seabra Fagundes. Da contribuição do Código Civil para o direito adminislrativo. Revista de Direito Admi nistrativo, v. 78, p. 1 e segs. 3 Lacerda de Almeida. PessoasjurúLcas, 1905. 56 R.CP. 3/88 dem privada, como legítimo instituidor ou co-instituidor de fundações civis: "O Estado, como qualquer particular, desagrega de seu patrimônio bens, que destina a certo fim de pública utilidade." É fundamental frisar que o emprego de instituto de direito privado, de direito civil, do Código Civil, como instrumento de atuação do poder público, no campo privado, é perfeitamente legítimo. Em primeiro lugar, porque as pessoas jurídicas de direito público, sejam elas político-federativas ou meramente administrativas, como as autarquias, têm tanto capacidade de direito público, quanto de direito privado; assim como as pessoas privadas e as físicas também têm capacidade pú~.lica, essas como cidadãs, como eleitoras, e ambas as espécies como administradas. Ser pessoa pública ou privada não significa a possibilidade de, apenas, respec tivamente, manter relações, praticar atos de jus publicum ou de jus privatum: a personalidade é una, porquanto ser pessoa traduz-se na situação de destinatária de nonuas jurídicas de um ou de outro ramo jurídico, titular de direitos e obrigações, quer públicos, quer privados. Assinala Pontes de Miranda" que a personalidade nasce, concomitantemente, no direito público e no privado: é o fenômeno que chama de concriação da personalidade. Marcello Caetano' sublinha que "toda pessoa coletiva pode ter capacidade de direito público e de direito pri vado". É claro, acrescenta, que isso não significa que tenham o mesmo estatuto, o mesmo regime jurídico, eis que são elas diferentes, têm matriz diversa. Mas diferenças estatutárias, de regime de direito existem, também, entre entida des públicas ou entre entidades privadas, dentro do respectivo conjunto, do qual cada subespécie fonua um subconjunto, como ocorre na distinção entre sociedades e fundações. Em segundo lugar, porque nunca se vislumbrou, nesse comportamento, qual quer mácula de simulação, fraude à lei, ato aparente ou tentativa ilícita de in cidência de no nua mais vantajosa. E emento básico da existência fundacional são seus destinatários, isto é, aque les beneficiários da realização de seu fim. Dominam o conceito de fundação, confonue sabemos, as noções de afetação, de destinação a um fim social; de administração serviente à consecução desse fim social. Mas esse não vale por si mesmo, mas, sim, na medida em que se traduz no be nefício de membros da comunidade em que atua a pessoa jurídica fundacional. Surge, neste tópico, a figura - que é a razão de ser da fundação - que são seus beneficiários ou destinatários. É pela satisfação dos interesses deles, mercê da adequada gestão dos recursos fundacionais, que vela o Ministério Público, no caso das fundações particulares. Os beneficiários ou destinatários fonuam, na estrita linguagem matemática, um conjunto, com maior ou menor número de elementos, ou genericamente referidos, mas individualizáveis, ou seja, um grupo, um segmento, mais ou menos amplo da comunidade: menores, doentes, pobres, empregados, ou, até mesmo, a comunidade em geral; ou desde logo individualizados. õ • Pontes de Miranda. Tratado de dire.to privado. Rio de Janeiro, Bon;oi, 1970. v. 1, p. 305. , Caetano, Marcello. Manual de direito administrativo. Coimbra, 1963. • Ferrara, Francesco. La persane giuridiche. In: Vassalli, Filippo, org. Trattato di dirit o civile italiano. Tu rim, 1938. v. 2, t.2. Fundações 57 A relevância da figura do destinatário é decisiva para afundação, tanto que se discute se são eles os sujeitos de direito, situados no pólo ativo, em matéria de re lação fundacional. 7 Pinto Ferreira, em erudito estudo,· conclui que tal sujeito, "como destinatários dos seus benefícios, são, pois, os indivíduos componentes desta ou daquela coleti vidade, os quais, na dúvida, poder-se-ão detenninar: a) consoante o que se dispu ser no ato fundacional; omisso esse, b) nos tennos do que as regras supletivas da lei estipularem; e, em sua falta, c) pelo que a jurisprudência decidir" Sua tese é desenvolvida, com ponnenores:" "Nas fundações, se nos oferecem à análise dois grupos distintos de pessoas, há, duma parte, os administradores-representantes, e doutra parte, os rescpectivos be neficiários, ou melhor, destinatários. Há, para cada qual desses dois grupos, uma situação jurídica peculiar, que se não confunde com a do outro. O primeiro representa e gere um patrimônio, pennanentemente consagrado ao proveito do segundo: a este correm as vantagens dimanantes do acervo de bens, que aquele simplesmente administra. A um, impõe-se o dever de realizar os proventos, que ao outro cabe o direito de fruir. Portanto, dois fatos simultâneos e relevantes: as obrigações dos administradores e os direitos dos destinatários, congenitamente estatuídos pelo instituidor da fun dação, mas por ele próprio separados." Os destinatários são, pois, "os seus sujeitos basilares, como beneficiários do fim a realizar-se" É certo que Pontes de Miranda'O sustenta que não é exato que o sujeito de di reito, nas fundações, sejam os seus destinatários, e não as próprias fundações. M~s o que o festejado jurista pretende dizer é que, tampouco, existem, na fundação, "direitos sem sujeito": exatamente o que afinna é que "as fundações são sujeitos de direitos". Mas diz que a fundação vai, "na consecução de seu fim", criando di reitos para os destinatários. De qualquer modo, a legislação brasileira reconhece no destinatário a figura do interessado (CPC, arts. 1.200,1.201, § 12, 1.204), que tem legitimação ativa para a propositura de ações e o requerimento de medidas ligadas à organização, fiscali zação e extinção das fundações. É o que proclama o próprio Pontes de Miranda. " Aliás, no caso de ação de extinção da entidade, os destinatários têm de ser cita dos.'2 Cumpre sublinhar que os destinatários fundacionais, em qualquer de suas espé cies, podem juridicamente situar-se em posição contratual ou estatutária; e recebe rem benefícios gratuitos ou onerosos, sendo que a atividade remunerada da fun dação não a descaracteriza ou ilegitima, confonne já assinalado. 7 Meurer, Christian. Die juristischen Personem nach deutschem Reichsreclu. Stuttgart, 1901. p. 43 e segs.; Jhering, R.Von. Der Zweck imRecht. Leipzig, 1884. v. I, p. 469. • Pinto, Pereira. Do sujeito de direito nasfundaçães privadas. São Paulo, RT, 1937. p. 97. " Id. ibid. p. 94. 'o Pontes de Miranda. Tratado de direito privado. 3. ed. Rio de Janeiro, Borsoi, 1970. v. I, p. 442-43. " Pontes de Miranda. Comentários ao C6digo de Processo Civü. Rio de Janeiro, Forense, 1977. v. 16, p. 429-30. ,2 Id. ibid. p. 439-40. 58 R.C.P. 3188 Já se salientou que os destinatários das fundações constituem um conjunto, que poder ter maior ou menor número de elementos. Pode até chegar, em detenninado momento, a ser um conjunto vazio (êm certo instante, inexistem mendigos na cidade, o que faz com que seja vazio o conjunto de beneficiários da fundação que exista, no local, para atendimento da mendicân cia), fato esse que não pode ser definitivo - apenas, contingencial- sob pena de a entidade ter de extinguir-se, por impossibilidade de atingimento de seu fim. A grande distinção, no caso, radica-se entre as fundações gerais ou abertas e as fundações fechadas ou especiais. A primeira categoria inclui as entidades fundacionais a que corresponde um conjunto com beneficiários individualizáveis, mas não individualizados: os p0- bres, os menores de uma cidade, genericamente referidos. Mas pode caracterizar-se um conjunto de destinatários individualizados desde logo; ainda que possa ocorrer que, em outra porção ou em grau mediato, haja ou tros apenas individualizáveis. Esse segundo fenômeno ocorre, sempre, entre as fundações vinculadas ao poder público (governamentais e paragovernamentais) e, muitas vezes, entre as fun dações particulares. Com efeito, se temos uma fundação pública (apesar de designação, de direito pri vado, como a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - Funabem) - pessoa administrativa, produto da descentralização administrativa institucional, geradora da Administração Pública Indireta, à que pertencem, e também composta das au tarquias (que, em sua maioria são fundações de direito público), das empresas pú blicas e sociedades de conomia mista - ou paradministrativa (como a Fundação Getulio Vargas) - produto da descentralização por cooperação, que faz surgir a paradministração, que se constitui de entes que, em razão de lei, não são nem pes soas administrativas, nem particulares ou administrados, são pessoas paradminis trativas, elenco em que se inserem, igualmente, o Sesi, o Sesc, o Senai, o Senac, p. ex. -, há um beneficiário determinado, que é o próprio poder público; e, de ou tro lado, mediante ou parcialmente, a população, o que preserva o caráter social além do público - do fim fundacional. Mas adiante, detalharemos considerações acerca dessas espécies. Dentre as fundações particulares - que são aquelas de que, nesta altura, esta mos tratando - podemos identificar, nessa segunda categoria, as fundações colabo radoras do poder público (embora particulares); e as fundações de auxílio e fo mento a outros destinatários específicos. A descentralização por colaboração, ao contrário da descentralização institu cional (que faz surgir a administração indireta, com suas autarquias, suas empresas públicas, etc.) e da descentralização por cooperação (abrangendo a paradminis tração, em que se situam o Sesi, o Sesc, o Senai e o Senac; os titulares de ofícios paradministrativos, como os de justiça não-remunerados pelos cofres públicos, os leiloeiros e tradutores públicos, os despachantes oficiais), que são subjetivas - fa zendo nascer ou transformando pessoas jurídicas, investindo pessoas físicas em ofícios paragovernamentais -, é objetiva, na medida em que diz respeito, não ao sujeito, mas à atividade, eis que por ela são delegadas a terceiros - que continuam terceiros em relação à Administração pública - parcela de atividade de interesse administrativo; ou em prol desse é permitida ou aproveitada a atuação de terceiros, que passam, assim, a ter uma posição, um relacionamento diverso com o poder público, enquanto colaboradores desse, qualidade jurídica específica que deriva de lei. undações 59 No campo do Direito Administrativo, no desenvolvimento da integração Esta d~comunidade, o número e a variedade de colaboradores da administração públi ca tem-se expandido. De um lado, as tradicionais categorias dos concessionários e pennissionários de serviços públicos; dos contratados para obras, serviços e for necimentos; dos estabelecimentos particulares de ensino autorizados e reconheci dos; dos sindicatos, que exercem funções delegadas do poder público (art. 166 da Constituição Federal). O colaborador da administração pública não tem sua natureza atingida, modifi cada, por assumir essa posição jurídica: assim, um particular concessionário ou pennissionário de serviço público mantém sua qualidade jurídica, seu status de particular, não obstante ocupar aquela posição. Essa posição é, em verdade, nova, resultante da investidura em novo estatuto legal, em relação à atividade que aquele particular passa a exercer, integrando-se à prestação de parcela da função administrativa. Sem transmudação de natureza, o colaborador da administração pública passa a um novo posicionamento jurídico frente a essa administração: na medida emque é titular daquela atividade, ele não é um administrado, eis que, em decorrência de nova posição, ele passa a ter uma qualificação jurídica diversa, a de colaborador da administração pública. As fundaçõçs de colaboração do poder público são fundações que, embora mantenham sua natureza particular inatingida, se encontram, por lei (geral ou es pecial), numa situação jurídica de delegatárias (concessionárias, pennissionárias de serviços públicos) ou com sua atividade incorporada à realização de parcela da função administrativa. Dentre elas estão as fundações fechadas de previdência privada em sua feição atual, e cuja legislação, aliás, usa a denominação entidade fechada no sentido aqui empregado, conforme pormenorizaremos mais adiante (art. 42 , I, a, da Lei n2 6.435, de 15 de julho de 1977. Entidades de previdência privada "são as que têm por objetivo instituir planos privados de concessão de pecúlios ou de rendas, de benefícios complementares ou assemelhados aos da previdência social, mediante contribuição de seus participan tes, dos respectivos empregadores ou de ambos", nos termos do disposto no art. 12 da Lei n2 6.435177, que dispõe especificamente sobre tais entidades. Dizem-se fechadas (o sentido é o mesmo empregado neste artigo) "quando acessíveis exclusivamente aos empregados de uma s6 empresa ou de um grupo de empresas", as quais são denominadas patrocinadoras (art. 42 , I, a). As desse tipo podem ser "fundações, quando sem fins lucrativos" (art. 52, 11). Para efeito da condição de patrocinadoras, "às empresas equiparam-se entida des sem fins lucrativos, assistenciais, educacionais ou religiosos" (art. 42, § 32). Nessa linha, as entidades fechadas de previdência privada são colabOI:adoras da administração pública, na medida em que são consideradas "complementares do sistema oficial de previdência e assistênca social, enquadrando-se suas atividades na área de competência do Ministério da Previdência e Assistência Social" Úrrt. 43). Por isso, têm legislação especial, com regulamentação específica (ver. Decreto n2 81.240, de 20 de janeiro de 1978), inclusive a expedida pelo 6rgão criado, na estrutura básica do MPAS, "como 6rgão nonnativo das atividades das entidades fechadas", o Conselho de Previdência Complementar - CPC (Arts. 14 e s. do De creto n2 81.240178); e pelo Conselho Monetário Nacional (art. 40, e seus §§, da Lei n2 6.435177. 60 R.C.P. 3/88 Outrossim, submetem-se ao controle e à fiscalização da Secretaria de Pt;evidên cia Complementar (arts. 14 e 19), outro órgão instituído no organograma do MPAS. Não são totalmente fundações do Código Civil, tanto que o art. 86 da Lei n!:! 6.435n7 reitera que "compete exclusivamente ao Ministério da Previdência e As sistência Social velar pelas fundações que se enquadrem no conceito de entidade fechada de previdência privada, como definido nos arts. I!:! e 4!:! desta lei, derroga do, a partir de sua vigência, no que com esta conflitar, o disposto nos arts. 26 e 30 do Código Civil e 1.200 a 1.204 do Código de Processo Civil e demais dispo sições em contrário". O Ministério Público com relação a elas não atua, e nelas cabe a intervenção mediante portaria do Ministério da Previdência e Assistência Social (art. 56); e sua extinção se dá em razão de liquidação extrajudicial (Arts. 63 e segs.). No procedimento de sua criação, a Lei n!:! 6.435n7 adotou o regime de autori zação para constituição e funcionamento das entidades fechadas, "mediante porta ria do Ministério da Previdência e Assistência Social, a requerimento conjunto dos representantes legais da entidade interessada e de sua patrocinadora ou patrocina doras" (arts. 35, I, a e 37), autorização essa que poderá vir a ser cassada (art. 35, 11, c), cabendo a intervenção na entidade (art. 55 a 62) e sua liquidação extrajudi cial (Arts. 63 a 74), como visto. De:pe-nderão, ainda, de autorização do Ministro de Estado as alterações estatutá -rias, a fusão, incorporação, grupamento e transferência de controle das entidades fechadas (art. 35,11, a, e 38). Ademais, haverá necessidade de autorização específica para a execução e ope ração de planos de benefícios (art. 39). Os arts. 3!:! e 34, § I!:!, in fine, da Lei n!:! 6.435n7 apresentam-nos o espectro amplo d:. teleologia e da instrumentação da ação do poder público no caso, identi ficando-se nessa o poder de polícia especial da descentralização por colaboração. As patrocinadoras ajudam o poder público na supervisão das atividades dos en tes em tela (art. 34, § I!:!). As então chamadas fundações de seguridade social já existiam antes da legis lação citada e correspondiam à personalização dos fundos de pensão. Aliás,jUndo e fundação são, ostensivamente, termos cognatos, e a fundação do Código Civil é fundo (patrimônio, conjunto de direitos com expressão pecuniária, afetado a um fim) personificado. Pertenciam ao conjunto dasfundações de auxilio e fomento. Instituídas por entidades da administração indireta (especialmente empresas go vernamentais, empresas públicas e sociedades de economia mista) - lembremo-nos de que a pioneira, nesse campo, foi a Fundação Petrobrás de Seguridade Social (Petros), a que se seguiram outras, como Fundação Eletrobrás de Seguridade So cial (Eletros), Fundação Vale do Rio Doce de Seguridade Social (Valia), Fun dação Embratel de Seguridade Social (feios), Fundação de Assistência e Pre vidência Social do BNDES (Fapes), Fundação de Previdência dos Servidores do IRB (Previrb) -, também o foram por empresas particulares, de que é exemplo a Fundação Caemi de Previdência Social. Eram entes de auxílio das pessoas jurídicas que as instituíam, destinatárias ime diatas suas (daí, a designação entidades fechadas), e não do poder público, estan do inteiramente submetidas ao regime do Código Civil e do Código de Processo Civil, e, conseqüentemente, à provedoria do Ministério Público, desde o instante inicial de sua instituição. Fundações 61 Éramos, na época, titular da Curadoria de Fundações do Estado da Guanabara, depois Comarca do Rio de Janeiro, e participamos do nascimento e da existência das fundações de seguridade social até a entrada em vigor da Lei n2 6.435n7, em 1.1. 78, pela qual as entidades, da espécie, já existentes, e as que se instituíram de então em diante, passaram, como antes exposto, a entes de colaboração do poder público - e não, mais, tão-somente, de apoio de suas instituidoras -, e à área de atuação do Ministério da Previdência e Assistência Social. Mudaram de qualifi cação jurídica, de status jurídico, o que apenas a lei formal pode fazer -, deixando de ser fundações administradas, comuns, do Código Civil e do Código de Proces so Civil, que se caracterizavam, somente, pelos aspectos fáticos do fim e de sua posição junto à sua instituidora, sua beneficiária imediata, para assumirem o esta do de entidades oficialmente complementares da Previdência Pública, sem prejuí zo de continuarem fundações particulares e auxiliando suas patrocinadoras, ou, mais exatamente, seus empregados. Mudaram de estatuto; tomaram-se destinatárias de novo regime jurídico, con substanciado em normas jurídicas específicas, com poderes, deveres, expectativas, proibições, limitações, sujeições especiais, diversos das demais fundações. Anteriormente, nenhuma legislação específica havia para as fundações de segu ridade social, tendo nós, no exercício da Curadoria de Fundações, de nos guiar mos pelos poucos dispositivos do Código Civil e do Código de Processo Civil; dos regulamentos expedidos pelo próprio Ministério Público, gerais para todas as fundações sob sua provedoria (cf. Portaria n2 3n5, de 7.2.75, do Procurador-Ge ral da Justiça do antigo Estado da Guanabara); e pelos estudos atuariais - dos atuários independentes - que embasavam a criação e o funcionamento de tais fun dações. Havia, apenas, uma Portaria, de n2 41, de 11.2.74, do Ministro da Fazenda (DOU. 15.2.74, p. 1.787), que considerou como despesasoperacionais os gastos com a instituição dessas entidades, o que era, somente, um incentivo fiscal à sua criação, mercê da redução dos ônus de imposto de renda em favor das empresas criadoras. A posição de auxílio e fomento à entidade criadora não desnatura a fundação criatura, na medida em que, como ocorre com as fundações da espécie, essa cola boração tem por objetivo a empresa ou a sociedade, associação ou fundação insti tuidora, como instituição social, enquanto comunidade, visando o bem-estar e a proteção do futuro das pessoas físicas, dos empregados, sob os aspectos previden ciário e assistencial (assistência social, médica, financeira). Daí, nítido o sentido social (presente esse adjetivo na prorpia expressão seguridade social) das entida des fundacionais criadas. Esses empregados são também seus destinatários, e que passam a ser por elas assistidos. E empregados assistidos trabalham melhor, produzem mais, e, com a perspecti va de uma complementação estipendial, animam-se a aposentar-se, o que gera a renovação dos quadros da empresa e novos empregos para o mercado de trabalho. Daí a ostensividade do sentido social, da função de auxílio e fomento, ora con jugada com a de colaboração ao poder público. As fundações de auxílio e fomento &ão fundações particulares (isto é, de direito privado e administradas), que apóiam e incentivam destinatário ou destinatários determinados, conforme já pudemos ver. 62 R.C.P. 3/88 Entre os numerosos exemplos, podemos lembrar o da Fundação Armando Fa jardo e da Fundação Banco de Oculos, que servem de entidades de apoio aos Lions Clubes do chamado Distrito L-3, no Brasil. Os Lions Clubes são clubes de serviços, de atuação permanente em prol do in teresse comunitário, reconhecidos (e, assim eles próprios perseguidores de fim so cial) de utilidade pública. Auxiliando-os nesse mister, encontramos as referidas Fundações - uma, servin do de suporte administrativo e operacional; e a segunda, mantida pelos "leões", doando óculos a deficientes visuais -, as quais prestam, também, diretamente, ser viços à comunidade. Aliás, em nível transnacional, temos a Fundação Internacional de Lions Clubes e a Fun~ação Rotária. Numerosas são, repetimos, as fundações de auxílio e fomento e - para indicar, apenas, exemplos do Rio de Janeiro -, dentre elas, podemos citar a Fundação As sistencial Brahma; a Fundação dos Empregados da Standard Eletrônica; a Fun dação Ponto Frio Alfredo João Monteverde; a Fundação Vale do Rio Doce; a Fundação Beneficente Comércio e Navegação; a Fundação Rotária de Ensino Técnico; a Fundação dos Sócios do Rotary Club do Rio de Janeiro. Expressivo conjunto dessa categoria é o integrado pelas denominadas fun dações de apoio a instituições de ensino superior, como a Fundação de Desen volvimento da Pesquisa (Fundepe), que auxilia a Universidade de l\1inas Gerais; como entes de auxílio à Universidade Federal de Santa Catarina, encontramos a Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) e a Fundação de Ensino de Engenharia em Santa Catarina (FEESC); como a Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão (Fapex) (destinatária, a Universidade Federal da Bahia); a Fundação Universidade Empresa de Tecnologia e Ciências (Fundatec) (Universi dade Federal do Rio Grande do Sul); a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec) (Universidade Federal de Santa Maria); Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão (Funape) (Universidade Federal da Paraíba); Fundação de Apoio ao En sino, Pesquisa e Extensão - (Faep) (Escola de Agricultura de Lavras - Esal); Fun dação de Apoio e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) - Universidade Federal do Pará; Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Pesquisa e Extensão (Fade pe) - Universidade Federal de Juiz de Fora, e muitas outras . .As fundações de apoio têm obedecido a duas espécies: a) as que são instituídas ou co-instituídas por pessoas físicas (inclusive, professores e pesquisadores uni versitários) ou jurídicas particulares; b) as que têm sido instituídas ou co-instituí das pelas próprias IES (autarquias de regime especial) com que vão colaborar. Em ambas as hipóteses, a natureza é a mesma: trata-se de fundações particula res, pois que inteiramente de Direito Civil, regidas pelo Código Civil e pelo Códi go de Processo Civil, criadas com a aprovação dos atos de instituição e de dotação e dos respectivos estatutos pelo Ministério Público estadual, sob cujo velamento se encontram. Nenhuma derrogação ocorre no regime jurídico estabelecido pela codificação civil. A própria designação fundações de apoio reflete a posição jurídica delas, enti dades fechadas como entes de auxílio e fomento das IES. Tal posicionamento jurídico corresponde a uma forma de aproveitamento da atividade de terceiros, com caráter estritamente objetivo, porquanto a participação do ente de auxílio e fomento é através de sua atuação, no desenvolvimento de Fundações 63 ações conexas ou continentes: a natureza jurídica, no caso particular, mantém-se inalterada. As fundações de apoio são auxiliares da IES públicas, seu suporte, conforme salientado, num campo propício à '\tuação fundacional, que é o setor do ensino, mas mantêm íntegra sua condição de fundações particulares, isto é, de Direito Pri vado, Civil, dos Códigos Civil e de Processo Civil, sejam elas instituídas ou co instituídas por autarquias universitárias ou por particulares. É questão de lógica jurídica: uma entidade só pode não ser particular, adminis trada, governada, se for titular, por investidura adequada, da situação jurídica de pessoa administrativa ou paradministrativa, ou da posição jurídica de colaboradora do poder público. A lei é o instrumento de criação das pessoas administrativas; participa, necessa riamente, da instituição ou transformação das pessoas paradministrativas; bem co mo da prescrição do estatuto dos colaboradores governamentais. Verifica-se também, com facilidade, que nas fundações com destinatários ime diata e diretamente individualizados o fim é social, que na medida em que exer cem atividade instrumental para que a entidade - pública ou privada - desenvolva atuação comunitária, quer enquanto prestam serviços diretamente ao próprio meio social. Outro aspecto importante é que, pela individualização imediata, direta, dos des· tinatários, é comum - e legítimo - haver a previsão de elo de ligação entre esses e a fundação, na área da indicação de administradores: de aprovação de .. alterações estatutárias: de homologaçã'o de atos fundacionais que exorbitem da administração ordinária da entidade fundacional, como a alienação de bens imóveis. Controles da espécie não descaracterizam a fundação como do Código Civil. A Resolução n'-' 68, de 13.11.79, expedida pelo Procurador-Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em seu artigo 45, ~ 4<? prevê a hipótese de competir ao instituidor a homologação de atos ligados à fundação, inclusive·a aprovação de al terações estatutárias, bem como a indicaça~ de administradores seus, o que, aliás, como é comum, pode ser feito por terceiros. Continua-se no campo do Direito Civil. não haveIido qualquer incidência do Direito Público. Como forma de contribuição do destinatário para a fundação de auxílio e fo mento, como, de resto, de qualquer fundação especial, é comum servidores do primeiro atuarem na segunda, bem como essa utilizar bens daquela. Lembremos que os concessionários e permissionários de serviços públicos usam bens públicos, inclusive de uso comum, cuja utilização por eles assume a forma de utilização especial. As fundações de previdência complementar valem-se de empregados de suas instituidoras-patrocinadoras. O Código Civil não exige prévia autorização para a instituição de fundações particulares administradas submetidas a seu regime. O papel do Ministério Públi co, na fase de criação da entidade fundacional, é o de aprovação, com apreciação de sua legitimidade, inclusive quanto aosfins e à suficiência da dotação para o seu atingimento. O ato do Parquet é posterior à instituição, embora integrativo do procedimento de criação, que se ultima c9m o registro, com caráter constitutivo da personalidade, que só nasce com aquele. Quando o instituidor ou co-instituidor é pessoa pública, a questão que se coloca é, tão-somente, de obediência ao procedimento de disposição de bens, à legitimi dade para tal, o que é aspecto de Direito Financeiro, estranho ao regime jurídico 64 R.C.P. 3188 fundacional, sendo idêntico (= o mesmo) o procedimento criativo, inclusive pelo emprego necessário da escritura pública e do registro respectivo. Hely Lopes Meirelles13 conclui, de forma incisiva, que, sendo a Universidade de São Paulo - como de resto as demais universidades autárquicas - "autarquia de regime especial, com autonomia para administrar e alienar seus bens", tem legiti midade "para instituir fundação, sem autorização legislativa, desde que observe as disposições estatutárias pertinentes". Aduz que a autonomia uni versitária já é su ficiente para a autarquia "administrar e alienar seus bens', e "instituir fundações", "independentemente de autorização por lei ou decreto especial". 4. As fundações vinculadas ao poder público Já vimos que o poder público tem legitimidade para criar fundações do Código Civil, administradas ou de colaboração, abertas ou de destinatários individualiza dos. Tratemos, agora, das fundações vinculadas ao poder público, administrativas ou paradministrativas, de direito privado ou de direito público. Essas fundações integram aquela categoria das que estão legalmente na posição de servientes do Governo, o que lhes atribui regimes jurídicos próprios, tendo no Estado um destinatário imediato ou direto, na medida em que participam da reali zação da função administrativa. O Direito Público, como Direito Institucional, como direito da instituição esta tal, é direito interno, intestino, enquanto direito que dispõe sobre as situações jurídicas dos sujeitos de direito no interior do Estado, isto é, as posições de cada um na qualidade de governante ou de governado; e cada uma delas nas suas varia-o das espécies. E essas situações, em razão do princípio da legalidade (art. 153, § 29 , da Cons tituição Federal), somente por lei - ou, em certas hipóteses, pela própria Carta Magna - podem ser criadas, alteradas ou extintas. Assim, o que distingue as fundações de direito público (autarquias) e as de di reito privado é a sua natureza; mas o que faz a distinção, dentre as últimas, entre as fundações públicas (administrativas), as fundações paradministrativas, as fun dações de colaboração do poder público e as fundações administradas (sejam essas instituídas por pessoas públicas, ou não, sejam abertas ou fechadas) é a situação de cada espécie no contexto estatal, o que equivale a um estatuto jurídico parcial mente distinto. O que não se pode é pretender, dentro de cada espécie, e sem lei própria, o es tabelecimento de diferenciações, que serão sempre ilegítimas, arbitrárias. A história das fundações no Brasil, em sua ligação mais íntima com a adminis tração pública, tem sido, inegavelmente, a do emprego desse instituto como ins trumento hábil de descentralização administrativa em diferentes níveis e espécies; de agilização, mediante a personalização organizacional e patrimonial, de proce dimentos, com vistas à persecução mais adequada de determinados fins de interes se público e social. Por isso, encontramos: a) na administração indireta: 1) a fundação de direito público, que e espécie do gênero autarquia administrativa; e 2) a fundação públi- \klrdb. ~kl) Lopes. Estudos e pareceres de direito público. São Paulo, RT, 1981. v. 4, p. 328 e sego Flllldações 65 ca, de direito privado, de direito civil, mas não do Código Civil, sujeita ao regime de pessoa administrativa, vinculada e supervisionada em relação à Administração Direta; b) na paradministração, a fundação de cooperação, ou também fundação de direito privado, de direito civil e sujeita a um regime misto, em parte do Código Civil e, em parte, a um regime legal próprio; ou fundação de direito público. Foi exatamente no campo educacional que começou a esboçar-se, com a utili zação, precisamente, do instituto da fundação de direito privado, a noção de des centralização administrati va. Com efeito, Honório Monteiro ,. mostrou que, pelo menos a partir de 1891, a Faculdade de Direito de São Paulo passou a ser uma "Fundação oficial". João Mendes Junior, em relatório de 1911," que elaborou como diretor da instituição, salientou o caráter fundacional dos institutos de ensino criados e mantidos pela administração pública. Assim, inicialmente, por falta de outros instrumentos, e, ulterionnente, a partir dos anos 40, por opção, pelo legislador, de política organizacional-administrativa, a fundação de direito privado tem participado do elenco de entidades na descen tralização da administração pública. O poder público, dentro da descentralização institucional, cria fundações de di reito privado. O Decreto-lei n2 200, de 1967, no § 22 do seu art. 42 , estatuía: "Equiparam-se às empresas públicas, para os efeitos desta lei, as Fundações instituídas em virtude de lei federal e de cujos recursos participe a União, quaisquer que sejam suas fina lidades." Tal assemelhação, que não era feliz, dadas as diferenças estruturais e te leológicas entre os dois institutos, servia, porém, para bem caracterizar a colo cação de tais fundações na administração indireta. Essas fundações recebiam as designações de fundações de direito privado insti tuídas pelo poder público; de fundações privadas governamentais; de fundações supervisionadas; de fundações instituídas e mantidas pelo poder público. Por vezes, eram chamadas de fundações públicas, à semelhança das empresas públicas, também pessoas jurídicas de direito privado, mas igualmente integrante da administração pública. A nomenclatura fundações de direito público em alguns momentos também sur gia, inclusive utilizada pelo próprio legislador, sendo exemplo dessa erronia a dis posição do art. 42 da Lei n2 5.540, de 28.11.68, que dispôs, exatamente, sobre o ensino superior: "As universidades e os estabelecimentos de ensino superior isolados consti tuir-se-ão, quando oficiais, em autarquias de regime especial ou em fundações de direito público e, quando particulares, sob a fonna de fundações ou associações." Era erronia tenninológica, eis que tais fundações administrativas são - e sempre o foram - de direito privado. Radicais modificações foram, porém, introduzidas no regime jurídico das fun dações privadas instituídas pelo poder público federal, pelo Decreto.--Iei n2 900, de 1969. Tendo revogado a assemelhação de tais fundações às empresas públicas (art. 82), assim detenninou o citado diploma legal, em seus arts. 22 e 32: "Não serão instituídas pelo Poder Público novas fundações que não satisfaçam cumulativa- ,. Monteiro, Honório. apud Reale, Miguel. Direito administrativo. 1969, p. 18. 15 Mendes Junior, João. In: Revista de Faculdade da São Paulo, 20: 333 e segs;RDP. (2): 122 e segs. 66 R.C.P. 3/88 mente os seguintes requIsitos e condições: a) dotação específica de patrimônio, gerido pelos órgãos de direção da fundação segundo os objetivos estabelecidos na respectiva lei de criação; b) participação de recursos privados no patrimônio e nos dispêndios correntes da fundação, equivalente a, no mínimo, um terço do total; c) objetivos não lucrativos e que, por sua natureza, não possam ser satisfatoriamente executados por órgãos da Administração Federal, direta ou indireta; d) demais re quisitos estabelecidos na legislação pertinente a fundações (arts. 24 e seguintes do Código Civil); ( ... ) não constituem entidades da Administração indireta as fun dações instituídas em virtude de lei federal, aplicando-se-lhes, entretanto, quando recebam subvenções ou transferências à contado orçamento da União, a super visão ministerial, de que tratam os arts. 19 e 26 do Decreto-lei n!! 200, de 25 de fevereiro de 1967." Na nova situação, as fundações de direito privado instituídas pela União passa ram a enquadrar-se na categoria, referida anteriormente, dos entes de cooperação, ou seja, passaram a integrar a descentralização em regime de cooperação. Em termos organizacionais administrativos, a paradministração é produto da descentralização por cooperação, que faz surgir os entes de cooperação, os coope radores da administração pública. A denominação descentralização por cooperação denota a própria natureza do processo de criação, de funcionamento, e a ligação dessas pessoas paradministra tivas com a administração pública. Através da descentralização por cooperação, o Estado cria entidades personali zadas, isoladamente ou em conjugação com particulares; transforma pessoas jurí dicas criadas pelos particulares, ou ainda nelas interfere, visando sempre à conse cução do interesse público ou social. O termo cooperação explica-se porque essas entidades cooperam com o poder público na execução da atividade administrativa, havendo, outrossim, em geral, co-participação do Estado e dos particulares na criação e no funcionamento dos entes de cooperação. O termo cooperação neste sentido é utilizado pela Consti tuição Federal, no parágrafo único do art. 178, ao cuidar de uma espécie típica de entidades de cooperação, os chamados serviços sociais e de aprendizagem (Sesi, Sesc, Senai e Senac). Os cooperadores da AP são: a) pessoas jurídicas, de direito público ou privado (civil ou comercial), criadas pe lo poder público, isoladamente ou em conjugação com administrados, ou criadas por esses mas transformadas por aquele ou que experimentam alguma forma de in gerência ou controle especiais (entes de cooperação) em razão de lei; b) pessoas físicas que exercem ofícios públicos. As entidades de cooperação assumem diferentes formas de pessoas jurídicas, públicas ou privadas, basicamente as de fundação ou associação, podendo reves tir, no entanto, caráter mercantil; estão submetidas a controle do poder público, controle esse que varia de grau e de instrumentos conforme a espécie de entidade de cooperação e sempre nos termos da lei. Integram essa categoria as entidades paragovemamentais: os serviços sociais e de aprendizagem (Sesi, Sesc, Senai e Senac); as entidades desportivas oficialmen te competitivas; a Cruz Vermelha Brasileira; as Seções Federal e Seccionais da OAB; as empresas controladas indiretamente pela União, expressão que a legis lação vem usando paRi identificar as sociedades comerciais que não são nem so- FUlllÚlÇões 67 ciedade de economia mista - de primeiro ou de segundo grau -, nem são parti~ula res (e de que também pode participar a União), e que são exemplos algumas sub sidiárias da Eletrobrás, da Telebrás. Há as pessoas físicas que cooperam autonomamente com a administração públi ca, como despachantes oficiais, tradutores e leiloeiros públicos, serventuários de justiça não-remunerados pelos cofres públicos, que são pessoas físicas cooperado ras. Exercem estas últimas ofícios, no sentido da expressão de esferas de competên cia que não integram a estrutura nem a organização de pessoas jurídicas. A paradministração não esgota o paragoverno. Assim, no campo do Direito Constitucional, vamos encontrar os partidos políti cos, também pessoas públicas não-estatais e não-administrativas (art. 22 da Lei n2 5.682, de 21.7.71). Não são governamentais, embora sejam decisivos para a constituição do Go verno. São, pois, entidades paragovernamentais de direito constitucional. A classe dos cooperadores da administração pública é heterogênea, inexistindo um regime jurídico único para os mesmos, que se submetem sempre, todavia, a uma forma de supervisão administrativa, que compreende, pelo menos, o controle inspectivo, para aferição de aspectos de legalidade da organização e da atuação do ente de cooperação; o provimento dos ofícios, se se trata de pessoa física; e os poderes repressivo e cautelar, inclusive sob a modalidade da intervenção, tudo nos estritos casos, limites e formas previstos na lei. Os entes de cooperação têm sua organização regulada por lei, estatutos aprova dos por decreto; fiscalização por parte do poder público; neles há, muitas vezes, participação necessária dos particulares, pessoas físicas ou jurídicas, na sua insti tuição, manutenção, gestão e funcionamento; têm personalidade jurídica de direito privado; podem ser subvencionados pelo Estado, arrecadando, muitas vezes, em seu favor, contribuições parafiscais. Quer figurando na administração indireta, quer na paradministração, as fun dações em tela apresentam certas características que a extremam das fundações do Código Civil, que também podem ser instituídas, como vimos, pelo Estado. Cha memo-las, genericamente, de fundações supervisionadas. As fundações supervisionadas são fundações de direito privado, instituídas pelo poder público através, ordinariamente, do poder executivo, ou co-instituídas por esse e por terceiros, mediante prévia autorização legislativa, correspondendo à personificação de uma estrutura organizacional (v. Parecer n2 R. 007, de 10.12.84, da Consultoda-Geral da República: DOU, 13.12.84). A instituição tem-1'e dado por decreto ou escritura pública, com previsão, em geral, de registro do Cartório das Pessoas Jurídicas. As fundações supervisionadas são de direito privado, de direito civil, mas não do Código Civil, não se lhes aplicando o disposto nos arts. 24 a 30 daquele, nem nos arts. 1.199 a 1.204 do CPC, tendo regime jurídico próprio. A fundação insti tuída pelo Poder Público é uma fundação-organização (a estrutura organizacional é que é o substrato personificado), ao passo que a fundação do Código Civil é fundação-patrimônio (esse é o elemento que recebe o selo da personificação). O disposto no art. 22 do Decreto-lei n2 900, de 29.9.69, que prescreveu que não seriam instituídas, pelo Govemo Federal, novas fundações que, cumulativa mente, não satisfizessem, dentre outros requisitos e condições, os de "dotação es pecífica de patrimônio", "participação de recursos privados no patrimônio e nos 68 R.C.P. 3/88 dispêndios correntes da fundação, equivalentes a, no mínimo, um terço do total", e "demais requisitos estabelecidos na legislação pertinente a fundações (artigos 24 e seguintes do Código Civil)", foi regra que não veio a prevalecer, mesmo porque cada fundação supervisionada tem sua criação autorizada por lei, que podia derro gar tal disposição. A lei autorizativa já dispõe sobre a denominação da fundação; seus fins; seu patrimônio inicial e respectivos acréscimos; sua organização básica (que é o subs trato personificado); sede e foro; vinculação para efeito de supervisão administra tiva. Os estatutos são, quase sempre, aprovados pelo chefe do Executivo. O proce dimento da reforma estatutária é estabelecido nos diplomas sobre a fundação, ten do aquela de ser aprovada pela autoridade que atuou na aprovação dos estatutos originais. A própria lei autorizativa da criação da entidade fundacional pode ser alterada, inclusive no tocante à estruturação daquela. As fundações supervisionadas, inclusive porque recebem recursos públicos, estão submetidas à tutela a que se sujeitam as entidades da administração indireta. As fundações instituídas ou mantidas pelo poder público estão, sem prejuízo do controle do poder executivo, sob a fiscalização financeira do Tribunal de Contas, nos termos do disposto no art. 82 da Lei n2 6.227, de 14.7.75. Mais recentemente, a Lei n2 7.295, de 19.12.84, que dispôs sobre o processo de fiscalização, pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, dos atos de gestão administrativa do poder executivo e os da administração indireta, estendeu dita fiscalização às fundações privadas supervisionadas, considerando-as, para seus efeitos, como compreendidasna administração indireta (art. 22, b). As fundações supervisionadas são geridas por administradores, que ocupam os órgãos de sua estrutura administrativa, como a presidência, diretoria, conselhos (administrativo, consultivo, fiscal, de curadores). As fundações supersionadas têm fins sociais (educacionais, hospitalares, de as sistência social, de prestação de serviços etc., como a Uerj, a Funabem, a Funai, a Fundação Leão Xli), e administrativos (como a Feema, ligada à preservação do meio ambiente, a Fundrem - da Região Metropolitana do Rio de Janeiro). As fundações supervisionadas são, em geral, criadas a prazo indeterminado, mas não é impossível que sejam instituídas a prazo certo ou para atender a objeti vos transitórios. A vontade estatal é a grande causadora da extinção das fundações supervisionadas, mediante ato legislativo que extingue ou que autoriza a extinção. O Ministério Público não tem atribuições de velamento (art. 26 do Código Ci vil) quanto às fundações supervisionadas, salvo disposição legal competente es pecífica em contrário. Nessa hipótese, o Ministério Público competente, em princípio, é o federal ou o local, conforme o instituidor seja a União Federal ou o governo estadual ou municipa . O pessoal é regido pela legislação trabalhista, sem que seja atingido pelo dis. posto no art. 99, § 22 , da CF, podendo haver proibições, a nível de legislação or dinária.'· As fundações supervisionadas, em matéria licitatória, estão sujeitas às dispo sições do Decreto-lei n2 2.300, de 21.11.86 (art. 86), podendo, no entanto, editar regulamentos próprios, devidamente publicados, com procedimentos seletivos simplificados e observância dos princípios básicos da licitação. '6 Cf. Comentários. Revirta de Direito Administrativo. 158: 72 e segs; 161: 50 e segs. Fundações 69 Aspecto que merece ser realçado é o de que a fundação supervisionada é uma fundação-organização, diferentemente da fundação do Código Civil, que é uma fundação-patrimônio. Já se salientou que, no regime do Código Civil (art. 24 e 25; art. 1.200 do CPC), a dotação patrimonial é elemento indispensável à criação de uma fundação. O mesmo não ocorre, no entanto, com as fundações supervisionadas, que são instituídas a partir, tão-somente, de uma estrutura organizacional; de uma conste lação orgânica, de um corpus administrativo, enfim de um serviço (no sentido es truturaI do termo). É claro que têm um patrimônio (uma vez que são pessoas jurídicas), cujos apor tes provêm, em sua maior parte, de recursos orçamentários; já a fundação do Có digo Civil é um patrimônio substrato objeto da personificação. Em outras palavras, para a fundação do Código Civil o patrimônio é pressupos to da personificação: para a fundação supervisionada o patrimônio é uma con seqüência da personificação. Sempre sustentamos que, enquanto no regime do Decreto-lei n!! 200, de 25.2.67, as fundações supervisionadas integravam a administração indireta, no do Decreto-lei n!! 900/69 foram elas dessa excluídas expressamente (art. 3!!), trans formando-se em entes de cooperação, dentro do correspondente processo de des centralização - descentralização por cooperação - que se distingue da descentrali zação institucional, responsável pelo surgimento dos organismos personalizados da Administração Descentralizada. Mais recentemente, nova legislação veio a alterar, substancialmente, o estatuto jurídico das fundações supervisionadas. Em verdade, o Decreto-lei n!! 2.299, de 21.11.86, alterou o Decreto-lei 200/67, em matéria de fundações supervisionadas. Restabeleceu, com outra redação, o § 2!! do art. 4!! do último diploma normativo citado, que fora revogado pelo art. 8!! do Decreto-lei n!! 900/69, cujo art. 3!! foi, por seu turno, eliminado pelo art. 3!! do Decreto-lei n!! 2.299/86. Em sua versão primitiva, o § 2!! do art. 4!! do Decreto-lei n!! 200/67 estatuía, como sabemos: "Equiparam-se às empresas públicas, para os efeitos desta lei, as fundações ins tituídas em virtude de lei federal e de cujos recursos participe a União, quaisquer que sejam suas finalidades." Tal disposição, segundo o entendimento dominante, conforme acentuado, evi denciava a colocação de tais instituições, como já era aceito anteriormente, entre as entidades de direito privado da administração indireta, ao lado das empresas públicas e das sociedades de economia mista. A nova redação do § 2!! -do art. 4!! do Decreto-lei n!! 200167 passou, com o ad vento do Decreto-lei n!! 2.299/86, a ter o seguinte texto: "§ 2!! As fundações instituídas em virtude de lei federal ou de cujos recursos participe a União integram também a Administração Federal Indireta, para os efei tos de: a) subordinação aos mecanismos e normas de fiscalização, controle e gestão fi nanceira; b) inclusão de seus cargos, empregos, funções e respectivos titulares no Plano de Classificação de Cargos instituído pela Lei n!! 5.645, de 10 de dezembro de 1970." 70 R.C.P. 3/88 Sublinhe-se que a integração determinada era ainda mais restrita do que a ocor rida no regime do Decreto-Iei n!? 'lOO/67, pois feita apenas para certos fins, aliás expre~samente estabelecidos. Assim como, no regime do Decreto lei n!? 900/69, as fundações eram pessoas paradministrativas, com sujeição a muitas disposições próprias dessas pessoas, com a Dova situação mantiveram a mesma posição, eis que s6 passaram a ser pes soas da Administração Indireta para certos fins, continuando a ser entidades para governamentais. Não se chegou, portanto, naquele passo, à plena identificação das fundações com as entidades administrativas. 17 Como se lê nas disposições transcritas, a equiparação às pessoas administrati vas era, apenas, para fins financeiros e de classificação de empregos e funções. Anote-se que, no tocante ao aspecto de gestão e controle financeiro, a situação das fundações, na realidade, em nada se modificou, eis que, conforme apontamos em trabalhos anteriores, já estavam submetidas à supervisão ministerial, à fiscali zação do Tribunal de Contas e, como empresas estatais em sentido largo, como eram consideradas (art. 22,11, do Decreto n2 84.128, de 29.10.79) já estavam su jeitas a controle de recursos e dispêndios. É certo que, em matéria financeira, passaram a ser aplicáveis às fundações as disposições constitucionais acerca da administração indireta (cf. art. 62 da CF). Os dispositivos constitucionais que se dirigem à administração indireta, mas não tenham caráter financeiro, não passaram (cf. art. 119, d. da CF). Por seu turno, a inclusão dos empregos e funções das fundações no plano de classificação de cargos tinha sentido, apenas, de ordenação dos cargos e estipen diaI. Os outros aspectos do regime jurídico das fundações da espécie e de seus em pregados permaneceram os mesmos. Ulteriormente, a Lei n2 7.596, de 10.04.87, veio, mais uma vez, em matéria de fundações vinculadas à União, a alterar dispositivos do Decreto-Iei n2 200, de 25.2.67, já modificado pelos Dec~tos-Ieis n2s 900/69 e 1.299/86. Essas mais recentes transformações no regime jurídico fundacional realizaram a reintegração, agora plena, dos entes da espécie na administração indireta (cf. nos sa tese, anteriormente citada), ao incluir, no elenco das instituições componentes da mesma, o que chamou de fundações públicas, para o que acrescentou uma alí nea d ao inciso 11 do art. 42 do Decreto-lei n2 200/67. A denominação fundações públicas não é errônea, desde que tomemos o adjeti vo públicas no mesmo sentido em que figura na designação empresas públicas, is to é, indicativa de que são criaturas do poder público e que integram a adminis tração pública. Não significa, em absoluto, que se cuide de pessoas jurídicas de direito público (errada e, como já salientado, a referência a fundações de direito público, se não se trata de autarquias): pelo contrário, na conceituação de fundações públicas, constante, agora, de um inciso IV aduzido ao art. 52 do Decreto-lein2 200/67, são elas consagradas expressamente, conforme sempre sustentado, como entidades de personalidade jurídica de direito privado. 17 Cf. nossa tese Da posição. na administração indireta. da fundação de direito privado. instituída pelo Es UiOO.AnoisdolCongreswBrasikirotk Direito Administrativo. Curitiba. 1975. p. 287·305. Fundações 71 A expressão veio a substituir outras como fundações criadas ou mantidas pelo poder público, e superou, definitivamente, a errônea denominação fundações de direito público, empregada pela legislação para rotular, exatamente, as fundações de direito privado instituídas pelo poder público dentro de um processo de descen tralização administrativa, podendo, nesse ponto, ser considerado alterado o art. 42 da Lei n2 5.540, de 28.4.68. Essa mesma conceituação salienta a necessidade de autorização legislativa para a criação das fundaçôes públicas. Com efeito, ocorre ou a atribuição de um encar go estatal, ou uma forma de participação do poder público no domínio social, o que se legitima com a chancela do Legislativo. O § 32 do art. 52, também acrescentado pelo recente diploma legal, contém prescrições que devem ser analisadas. A mais importante é a que exclui as fundações públicas da incidência das dis posições do Código Civil, concernentes às fundações particulares, o que deve ser entendido como excluindo, também, a aplicação do disposto nos arts. 1. 199 e s. do CPC, sobre a organização e fiscalização das fundações, e que, aliás, em certos pontos, alteram o estatuído na codificação civil. Essa regra é realista. Como temos defendido, a atualmente chamada fundação pública é privada, mas não é particular. E as normas do Código Civil dizem respeito a essas: as fun dações públicas não são fundações do Código Civil, tendo, pois, um regime pró prio de jus privatwn. Recordamos que, com relação à natureza, são elas fundações-organização, fun dações-instituição, e não fundações-patrimônio: o substrato personalizado é, na realidade, organizacional, e não patrimonial. Podem nem existir direitos patrimo niais, isto é, o patrimônio pode ser um conjunto vazio originariamente, e somente ir formando-se com a paulatina aquisição de bens. Isso, que não é permitido ao instituidor do Código Civil, o é para o poder pú blico. Ao exigir a nova legislação recursos da União apenas para o funcionamento, a atuação da fundação, positiva-se o caráter de fundação-organização, que prescinde da dotação inicial de patrimônio. Outrossim, as fundações governamentais não estão sujeitas à provedoria do mi nistério público (art. 26 do Código Civil, arts. 1.199 e sego do Código de Processo Civil), eis que submetidas à supervisão ministerial (cf. parágrafo único do art. 42 do Decreto-Iei n2 200/67 - antigo § 12 , já tendo o § 22 correspondente sido revo gado pelo art. 82 do Decreto-Iei n2 900/69 - com redação da Lei n2 7.596/87), muito mais abrangente e decorrente da vinculação da fundação, como elemento da administração indireta, ao ministério em cuja área de competência estiver enqua drada sua principal atividade. É importante assinalar que o art. 22 da Lei 7.596/87 enquadrou como fundações públicas federais as abrangidas pelo anterior Decreto-Iei n2 2.299/86. Estatui o mencionado art. 22 da Lei n2 7.596, de 10.04.87, que "são classifica das como fundações públicas as fundações que passaram a integrar a Adminis tração Federal Indireta, por força do disposto no § 22 do art. 42 do Decreto-Iei n2 200, de 25 de fevereiro de 1967, na redação dada pelo Decreto-lei n2 2.299, de 21 de novembro de 1986". Pelo § 22 do art. 42 citado, essas são "as fundações instituídas em virtude de lei federal ou de cujos recursos participe a União". Cabe analisar a disposição. 72 R.C.P. 3/88 Sua interpretação, parece-nos, deve ser cautelosa, feita em consonância com o que a doutrina sempre entendeu, e veio a ser consagrado pela Lei n2 7.596/87. Assim, o primeiro requisito - o de criação - ou transformação em pessoa admi nistrativa - mercê de lei federal - é sempre necessário: o segundo - manutenção pela União - terá de apresentar-se em conjugação com a anterior. Com efeito, a situação de fundação administrativa, vinculada ao poder público, pressupõe a autorização legislativa para que .se crie, ex nihilo ou por transfor mação, entidade desse tipo, pelas razões clássicas de que, ou se estará delegando algum encargo estatal a um ente de direito privado; ou estará, o poder público, nessa qualidade, participando da ordem social, nela intervindo, o que, igualmente, exige lei. Em verdade, a própria definição de fundação pública, nos termos do disposto no art. 52, IV, da mesma Lei n2 7.596/87, explicita a necessidade - que sempre existiu - da conjugação dos dois requisitos: criação "em virtude de autorização legislativa" e "funcionamento custeado por recursos da União" e "de outras fon tes" A última copulativa grifada indica que pode haver acumulação de recursos fe derais e de outras procedências, mas os primeiros são imprescindíveis. De qualquer modo, há necessidade de lei autorizativa, isto é, lei que enseje a criaçio de fundação pública. Caso não se preencha tal pressuposto, não teremos fundação integrante da ad ministração indireta. Mesmo que se admita, em matéria de fundação pública, a descentralização de segundo grau dentro da administração pública indireta (fundação pública criada por autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou outra fundação pública), há a necessidade da lei caracterizadora dessa condição, e a inclusão no regime de supervisão, de vinculação à administração direta. É o que ocorre, por exemplo, com as sociedades de economia mista de segundo grau, sobre as quais já escrevemos: "Considerando-se que temos sociedade de economia mista, desde que atendidos os requisitos e pressupostos exigidos pelo Decreto-Iei n2 200/67, será sociedade de economia mista a subsidiária criada por empresa governamental, com base em lei, sob a forma de sociedade anônima (especial), uma vez que as ações, com di reito a voto, pertençam, em sua maioria, à entidade criadora, estabelecida a vincu lação com o Ministério ou Secretaria competente e a supervisão desses, e respeita do o princípio da especialidade pela entidade criadora, em relação à sociedade criada. A prévia autorização legal (que pode constar da própria lei de criação da entidade ou de diploma ulterior) há de dirigir-se, especificamente, à constituição de companhia mista, com fixação do respectivo objeto e de outros elementos bási cos" (RDP, 67:274). O antigo § 22 do art. 42 do Decreto-Iei n!? 200/67 falava em "fundações insti tuídas em virtude de lei federal e de cujos recursos participe a União". O art. 32 do Decreto-lei n2 900/69 aludia, também, às "fundações instituídas em virtude de lei federal", que só seriam supervisionadas, se recebessem sub venções ou transferência à conta do orçamento, disposição que, por si só, eviden ciava o caráter necessário do primeiro requisito, e o eventual do segundo. Esse último pressuposto, sem o primeiro, não é suficiente para caracterizar a fundação administrativa. Uma fundação apenas por ser mantida pela União, sem lei específica que a ca racterize como fundação administrativa, não poderá ter essa natureza. Fundações 73 o que pode ter havido - como houve em alguns casos (cf. Fundação Hospitalar do Distrito Federal; Fundação dos Terminais Rodoviários e de Estacionamentos do Estado da Guanabara) - é vício no suporte fático, tendo a entidade sido criada por decreto, mas, de qualquer modo, com o objetivo de fazê-las participar da des centralização administrativa. Observe-se que o art. 178 do Decreto-lei n2 200/67, com a redação dada pelo Decreto-Iei n2 2.299/86, se refere às "fundações criadas pela União ou mantidas com recursos federais, sob supervisão ministerial", o que evidencia a importância decisiva dessa faceta, que, no entanto, só pode estar presente, se se tratar de fun
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