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Estudo sumário da origem e evolução dos partidos políticos brasileiros

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I. Introdução 
ESTUDO sUMÁRIo DJ\ ORIGEM E EVOLUÇÃO 
DOS PARTIDOS pouncos BRASILEIROS* 
Carmen Valeria Soares Muniz** 
1. Introdução; 2. Partidos políticos: primeiras notfcias; 3. A evolução par­
tidária no Brasil; 4. Criticas ao sistema partidário; 5. Consideraçõesfinais. 
Os partidos políticos já foram objeto de diversas conceituações por parte dos 
mais abalizados historiadores e politic610gos de nossa hist6ria. 
No entanto, trata-se de assunto atual e de suma importância, o que veio a ense­
jar a feitura deste artigo. 
Procedeu-se à pesquisa documental, recorrendo-se a livros, dicionários técni­
co-científicos e revistas especializadas, a fim de se recolher as contribuições cul­
turais ou científicas existentes sobre o assunto. 
Quanto aos impressos sem periodicidade, foram utilizados, a título de documen­
tação indireta, obras literárias de estudiosos do assunto, dicionários especializa­
dos na ciência do direito e em ciências sociais num todo, assim como textos le­
gais. 
Dentre as r~vistas especializadas, foram util.izadas a Revista de Ciência Pol(tica 
do Instituto de Qi(eito Público e Ciência Política da Fundação Getulio Vargas, no 
período compreeriãido entre 1955 e 1984; Dados:. Revista de Ciências Sociais, do 
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj); Pol(tica e Estratl­
gia, Revista do Centro de Estudos Estratégicos do Convívio - Sociedade Brasilei­
ra de Cultura; e Problemas Brasileiros, publicação do Conselho Técnico de Eco­
nomia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. 
Pretende-se abordar os aspectos demonstradores de evolução dos partidos polí­
ticos brasileiros, desde nossas primeiras Constituições, não se deixando de apurar 
suas falhas e omissões, assim como as críticas que porventura surjam em relação 
aos mesmos. 
Perquirindo-se os aspectos negativos das organizações partidárias, sejam os que 
vêm desde o seu nascedouro, ou os provenientes de seus pr6prios representantes, 
que denigrem a imagem dos partidos a que são filiados, crê-se qu~ se poderá le­
vantar possíveis causas da atual crise do sistema político-partidário brasileiro. 
Citando em sua obra a definição de Hans Kelsen, Borges de Medeiros nos 
apresenta a concepção do pensador acerca dos partidos políticos. Para Kelsen, os 
partidos políticos consubstanciam-se em "agrupamentos espontâneos de homens 
de uma mesma opinião, compenetrados da necessidade de um esforço comum, em 
prol de seus ideais e interesses". 1 
* Quero deixar registrada a significativa colaboração do Prof. Nei Roberto da Silva Oliveira, do Instituto de 
Direito Público e Ciência Política (lNDIPO) da Fundação Getulio Vargas, que leu e comentou este trabalho. 
** Bacharel em direito e pesquisadora do Instituto de Direito Público e Ciência Política (INDlPO) da Fun­
dação Getulio Vargas. 
1 Medeiros, Borges de. O poder moderador na República presidencial. Edição da S.A. Diário de Pemambu­
co, 1933. p. 14. 
R. c.pol., Rio de Janeiro, 31(4):45-59, ou t.I dez. 1988 
Cabe ainda o registro da concepção já adotada por Themístocles Brandão Ca­
valcanti na década de 60, segundo o qual "o partido é por natureza um agrupa­
mento de indivíduos, a princípio representando apenas grupos sociais reunidos por 
uma identidade de pensamento e de ação e depois se aperfeiçoando com objetivos 
políticos e ideoI6gicos". 2 
Mas adiante, o autor supramencionado manifestou-se acerca dos partidos políti­
cos da seguinte forma: "são organizações destinadas a congregar os eleitores que 
participam dos mesmos interesses ou das mesmas ideologias ou da mesma orien­
tação política, em relação aos problemas fundamentais do País".3 
Joaquim Pimenta, entretanto, formulou a idéia de que" ( ... ) nestes dois últimos 
séculos, os partidos políticos são agremiações que visam, ordinariamente, por su­
frágio popular, excepcionalmente, por um golpe de força, à conquista ou à partici­
pação do poder".' 
Apesar de se tratar de assunto já amplamente debatido e estudado, seja na área 
da hist6ria, ciência política ou sociologia, este é um tema de incessante interesse 
por parte de todos, tendo-se em vista a constante mutação do processo de for­
mação e estruturação partidária. 5 Pois, muito embora se dê conta da existência de 
uma enormidade de informações, obtidas a partir desses mesmos estudos, estes 
não têm sido aproveitados de maneira satisfat6ria. 
A esse respeito, tem-se a elucidativa afirmação do Senador Afonso Arinos de 
Melo Franco: "Variadas são as causas da fraqueza dos nossos partidos atuais e 
elas têm sido focalizadas, em estudos recentes, por cientistas políticos (os traba­
lhos dos Profs. David Fleischer e Vamireh Chacon são citados, ambos edições da 
Universidade de Brasília). 
É digno de menção o fato de que, à medida que se sucedem e se aprimoram, en­
tre DÓS, os estudos sobre os partidos políticos, em nada progride a legislação sobre 
eles, embora ininterrupta, nem se aprimora o seu funcionamento. Isto quer dizer 
que a política progride como ciência, mas continua atrasada como ação". e 
Registre-se, entretanto, que com a referência à mutabilidade constante do pro­
cesso partidário, em momento algum tencionou-se criticar esta incessante alte­
ração, vez que tal circunstância consubstancia-se numa das caraterísticas da evo­
lução do pensamento e comportamento humanos. Deve-se considerar tal movimen­
to como uma tentativa permanente de aperfeiçoamento do homem, através de suas 
normas. 
Neste sentido, tem-se a lição de Themístocles Brandão Cavalcanti, relativamen­
te aos programas partidários: "Seria insensato não s6 afirmar a imutabilidade dos 
programas pol(ticos, como também predeterminar a posição relativa dos homens 
em face dos fatos e das circunstâncias do momento. 
Tudo na pol(tica é contingente, flexível, variável e somente dentro desse qua­
dro na adaptação aos fatos é possível manter a continuidade e a 16gica dos pro­
gramas pol(ticos." 7 
2 Cavalcanti, Themístocles Brandão. Partidos políticos. Revista de Ciência PolIiica, Rio de Janeiro, FIUl­
dação Getulio Varga'i, 6(1): 5-38,janJabr.1963. 
3 Id. ibid. p. 5. 
• Pimenta, Joaquim. Os partidos políticos nos estados democráticos. ReWsta de Ciência PoIIticq, Rio de Ja­
neiro, FlUldaçOO Getulio Varga'i, 1 (1): 19-28,jan.ljun. 1958. 
5 Ver anexo. 
e Franco, Afonso Arinos de Melo. Os partidos políticos brasileiros. ReWsta de Ciência PoIftica, Rio de Ja­
neiro, FlUldação Getullo Vargas, 25 (2): 7-13, maiofago. 1982. 
7 Cavalcanti, Themístocles Brandão. Introdução d cibIcia poI/tial. 3. ed. Rio de Janeiro, Fundação Getulio 
Vargas, 1978. p. 96. 
46 R.C.P.4/88 
2. Partidos polfticos: primeiras notfcias 
Tendo sua origem por volta do último quartel do século XVII" (embora muitos 
historiadores se refiram a partidos políticos ao se reportarem à Atenas de Arist6te­
les, ou a Roma - quando, na verdade, não configuravam "partidos", mas sim clas­
ses sociais), os partidos políticos têm atravessado esses séculos em busca de estru­
turas que pudessem, efetivamente, zelar pelos interesses da sociedade, através da 
conquista e exercício do poder político. 
Nos diversos países onde se implantaram e desenvolveram, revestiram-se das 
mais diferentes características. Os tipos de organização, tanto a nível te6rico, co­
mo prático, assim como os mecanismos de ação, assumiram as mais variadas 
feições. 
Com relação ao caso brasileiro, que retém nosso maior interesse, tem-se que 
sua formação não foi diferente da apontada anteriormente. 
A pr6posito, nos ensina o Prof. Afonso Arinos que foi sob a égide da Consti­
tuição de 1824, "reformada em 1834, no sentido liberal, pelo chamado Ato Adi­
cional C .. ) e restaurada no sentido conservador pela Lei de 12 de maio de 1840, 
que interpretou aquele ato, que se processaram a arregimentação e a vida dos par­
tipos políticos no Império". Nesta época surgiram em nosso quadro político os 
partidos Liberal e Conservador, que por décadas dominaram o processo político 
brasileiro. 
"É possível - prossegue o autor -que identihquemos grupos e até associações 
políticas antes da Independência e da Constituição. A luta pela predominância de 
certos interesses sociais sobre outros, dentro do organismo do Estado, é sempre 
uma luta política e de grupos políticos, qualquer que seja o regime instituído no 
mesmo estado. Mas, no sentido técnico constitucional, não podemos chamar parti­
dos a tais grupos, mas, apenas, facções.'" 
Com efeito, na hist6ria partidária brasileira, s6 se poderá falar em "partidos", 
no verdadeiro sentido da palavra, nas primeiras décadas do século XIX pois, "an­
tes disso, faltavam às diversas tendências, doutrinas e ideologias em choque, no 
Brasil, um ambiente propício à organização partidária" 10 
3. A evolução partidária no Brasil 
Foi durante o Império que o Brasil viveu o bipartidarismo - os partidos Liberal 
e Conservador, se alternavam no poder, de acordo com a bem-intencionada vonta­
de do Imperador. Mas, no dizer de Otávio Mendonça, "mesmo assim, a experiên­
cia foi válida. Com todas as suas deficiências, esses partidos simbolizaram o único 
regime parlamentar que, durante mais de meio século, manteve-se no continente 
americano"." 
Em 1870, com o surgimento do Partido Republicano (que perdurou até IS89), o 
dualismo referido foi alterado. 
Proclamada a República, sobreveio o fenômeno da fragmentação partidária. 
Partidos estaduais, eleições sob a forma distrital e sem voto secreto. Período das 
~ Franco, Afonso Arinos de Melo. Hist6ria e teoria dos partidos,pollticos no Brasil. 3. ed. São Paulo, Alfa -
Omega, 1980. p. 9. 
, Id. ibid. p. 25. 
'0 Id. ibid. 
" Mendonça, Otávio. Partidos poHticos brasileiros. Revista de Ciência Polftica, Rio de Janeiro, FlDldação 
Getulio Vargas, 24 (1): 18-29,jan.labr. 1981. 
Partidos polfticos 47 
chamadas "eleições a bico de pena", em que a representação carecia de autentici­
dade e legitimidade, o que veio a constituir um dos reclamos da Revolução de 
1930. 
Os partidos estaduais tiveram lugar a partir de 1872, tendo a formação do Par­
tido Republicano Paulista (PRP) grande importância. 
Somente em 1945, com o Decreto-lei n!? 7.586 de 28 de maio daquele ano. que 
disciplinou o processo eleitoral e a formação dos partidos políticos, é que se pôs 
fim à chamada "política dos governadores" ou, ainda, "política dos estados" 
Esta política foi um meio que o poder federal encontrou para que se viabilizas­
se a ação federal junto aos estados, já que não se podia valer dos partidos nacio­
nais como instrumentos de governo. 
Em pesquisa realizada pelo Instituto de Direito Público e Ciência Política da 
Fundação Getulio Vargas, no ano de 1984, indagou-se a um segmento representa­
tivo da sociedade, constituído por professores universitários, personalidades em 
geral, prefeitos e dirigentes sindicais, acerca da possível reimplantação no Brasil 
de partidos políticos estaduais. 
Segundo o resultado da referida pesquisa, "C .. ) aproximadamente, sete em cada 
dez dos respondentes rejeitam a idéia de se implantar os partidos políticos esta­
duais; os peritos consultados, também enfatizam que todo partido político deve ter 
vocação nacional; as linhas programáticas de um partido político devem ser de 
âmbito nacional a fim de fortalecerem a própria unidade partidária; tratando-se de 
uma federação faz-se necessário tanto uma oposição coesa e dotada de expressão 
nacional, como um partido de situação igualmente dotado de expressão nacional. 
Além disso, os peritos afirmam que sendo federal a legislação partidária, os parti­
dos políticos deverão ser nacionais. Dizem eles que, no passado, os partidos locais 
eram a expressão do prestígio pessoal de determinados políticos". 12 
Note-se que, embora presentes na vida nacional, os partidos nem sequer foram 
mencionados nas Constituições de 1824 e 1891. 
Com o Código Eleitoral, em 1932, instituiu-se o voto secreto, a representação 
proporcional e a Justiça Eleitoral, sendo tais novidades incluídas na Constituição 
de 1934. Os partidos permaneceram estaduais. 
Na carta de 37, tais instituições foram ignoradas, sendo extintas em dezembro 
daquele ano. 
Apesar das tentativas de formação de partidos nacionais nas décadas anteriores 
(Partido Comunista - 1922; Aliança Nacional Libertadora - 1935; Ação Integra­
lista - fechada em 1938), estes só vingaram realmente em. 1945. 
Surgem a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático 
(PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Reinava o pluripartidarismo, sob 
a vigência de um novo Código Eleitoral. 
Em 1946, o Brasil abriu espaço para os partidos políticos em sua Constituição, 
dedicando-lhes alguns artigos. 
Durante esta época, devido à facilidade existente para a fundação de um parti­
do, tais instituições se multiplicaram. 
Entretanto, com a superveniência do Ato Institucional n!? 2, de 27 de outubro 
de 1965, os 13 partidos então registrados foram extintos. 
Os 13 partidos políticos extintos por força do AI n~ 2 foram: PSD (Partido So­
cial Democrático); UDN (União Democrática Nacional); PTB (Partido Trabalhista 
12. Oliveira? I\ei Roberto da Silva. Estado esociedade. In: Por uma nova Constituição. As aspirações nacio­
naIS (relat6no de pesqwsa)/ org. Afonso Annos de Melo Franco. Revista de Ciência Polftica Rio de Janeiro 
Fundação Getulio Vargas, 28: 157, dez. 1984. " 
48 R.C.P.4/88 
Brasileiro); PSP (Partido Social Progressista); PR (Partido Republicàno); PDC 
(partido Democrata Cristão); PTN (Partido Trabalhista Nacional); PST (Partido 
SocialITra'7~lhista); PL (Partido Libertador); PCB (Pártido Comunista Brasileiro); 
PSB (Partido Socialista Brasileiro); PRT (Partido Rural Trabalhista) e PRP (Parti­
do Republicano Progressista). 
A propósito, argumenta Olavo Brasil de Lima Júnior que o sistema partidário 
vigente neste período poderia ser classificado de "altamente fragIrentado", mas 
apenas do ponto de vista formal; numa ótica legal-institucional, segundo ele. 
Afinna o autor que o número de partidos pol(ticos relevantes eleitoralmente eram 
em número bem menor do que o número de legendas existentes.13 
Logo após, em novembro de 1965, foi instituído o Ato Complementar n2 4, 
que, de fonna indireta, veio a estabelecer o bipartidarismo. 14 Nascem a Aliança 
Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sob 
a égide da lei n2 4.740 de 15 de julho de 1965 (antiga Lei Orgânica dos Partidos 
Políticos) . 
A Constituição atual, Emenda Constitucional n2 1 de 1969, conferiu aos parti­
dos políticos, no Título 11, um capítulo inteiro (cap. 111), consubstanciado no art. 
152. 
A Lei Orgânica dos Partidos Políticos é a de n2 5.682, de 21 de julho de 1971. 
Esta, por sua vez, foi alterada pela Lei n2 6.767 de 20 de dezembro de 1979, 
que extinguiu os partidos então existentes 15 e ensejou o retorno ao sistema pluri­
partidário, sendo posterionnente regulamentada pela Resolução n2 10.785, de 15 
de fevereiro de 1980, do Tribunal Superior Eleitoral. 
A refonna partidária aprovada no final de 197918 deu ensejo ao surgimento de 
seis novos partidos: Partido Democrático Social (PDS), sucessor da extinta Arena; 
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (pMDB), sucessor do extinto 
MDB; Partido Democrático Trabalhista (PDT) e Partido Trabalhista Brasileiro 
(PTB), que se fonnaram disputando a velha sigla do partido de Ivete Vargas; Par­
tido Popular (PP), depois reincorporado ao PMDB; e o Partido dos Trabalhadores 
(PT), que teve por base o "novo sindicalismo" e a figura de Luís Inácio da Silva. 
4. Crfticas ao sistema partidá"io 
Hoje, encontramo-nos diante de um sistema multipartidário altamente fragmen­
tado, talvez devido a uma excessiva condescendência por parte das legislações 
eleitoral e partidária. 
Afinna Vamireh Chacon, às vésperas da reunião em Assembléia Nacional 
Constituinte dos nossos parlamentares, numa análise das possibilidades rle sucesso 
13 Lima Junior, Olavo Brasil de. Os partidos polfticos brasileiros: a experiência federal e regional: 1945 -64. 
Rio de Janeiro. GraaJ. 1983.p. 148. 
14 Ato Complementar n2 4 de 20 de novembro de 1965. Art. 12: "Aos membros efetivos do Congresso Na­
cional, em número não-inferior a 120 deputados e 20 senadores, caberá a iniciativa de promover a criação, 
dentro do prazo de 45 dias, de organizações que terão, nos termos do presente ato, atribuições de partidos 
políticos enquanto estes não se constitu(rem." In: Brasil (Leis, etc.) Coleção (ÚJs leis (ÚJ Repúb6ca Federativa 
doBrasi. Brasília, DF, Imp. Nacional, 1965. v. 7, p. 21-3. 
15 Lei n2 6.767 de 20 de dezembro de 1979. Art. 22: "Ficam extintos os partidos criados como organi­
zações' com base no Ato Complementar n2 4, de 20 de novembro de 1965, e transformados em partidos de 
acordo com a Lei n2 4.740, de 15 de julho de 1965, por não preencherem, para seu funcionamento, os requi­
sitos estabelecidos nesta lei." In: Brasil (Leis, etc.) Coleção das /eis (ÚJ República Federativa do Brasil. Bras(-
lia, DF, Imp. Nacional, 1979 v. 7, p. 182-9. . 
18 BoIivar Lamounier e Alkimar Moura fazem intel"essante análise deste período no trabalho intitulado 
PoUtica econômica e abertura polftica no Brasil: 1973"1983. São Paulo, Idesp. 1984. 
Partidos po[(ticos 49 
da nova Carta Magna: "A situação hoje do Brasil, às vesperas da Assembléia Na­
cional Constituinte para a elaboração da oitava Constituição brasileira não é ani­
madora, do ponto de vista partidário. Nada menos de 15 partidos proliferam hoje 
em pleno Congresso Nacional. Por fora, ainda em busca de votos para lá entrarem, 
há se não me engano mais outros 15. Na Câmara dos Deputados estão, natural­
mente, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o Partido da Frente Libe­
ral, o Partido Democrático Social, o Partido Democrático Trabalhista e o Partido 
dos Trabalhadores, com menos naturalidade, o Partido Trabalhista Brasileiro, relí­
quia dos tempos pré-1964, o único que sobreviveu ao lado do Partido Comunista 
Brasileiro" ou Partido Comunista do Brasil." 
Tendo em vista a trajetória atípica do Partido Comunista Brasileiro, decidiu-se 
examiná-lo sucintamente - tendo em vista os objetivos deste artigo numa perspec­
tiva histórica. 
O Partido Comunista Brasileiro, fundado em 25 de março de 1922 com o nome 
de Partido Comunista do Brasil e a sigla PCB, é o mais antigo partido político 
brasileiro. 
No entanto, atu~)U a maior parte de sua existência na ilegalidade. 
Três meses após sua fundação, durante o Governo de Epitácio Pessoa, o partido 
foi fechado, passando a atuar na ilegalidade. 
Somente em 1~ de janeiro de 1927, na vigência do Governo Washington Luís, é 
que o PCB passa para a legalidade. A partir desta data, circulou como órgão ofi­
ciaI do partido o jornal A Nação. 
Entretanto, com o advento da chamada Lei Celerada, de 12 de agosto de 1927, 
a ilegalidade passa a fazer parte novamente da vida do PCB, tendo como con­
seqüência a suspensoo d' A Nação. 
Em 1930, com a adesão formal de Luís Carlos Prestes ao comunismo, o partido 
viveu a fase da Liga Antiimperialista, desfrutando seis meses de legalidade após a 
Revolução de 30. 
A vigência da Constituição ditatorial de 1937, na qual o Presidente Getulio 
Vargas era o poder praticamente absoluto, veio agravar ainda mais a situação do 
partido, tendo em vista as medidas adotadas por ocasião de sua outorga (como a 
censura e perseguições políticas ocorridas, o fechamento do Congresso Nacional, 
a dissolução dos partidos políticos, entre outros). 
Isto fez com que, no início da década de 40, o partido se encontrasse desorga­
nizado, com a maioria de seus I íderes na prisão. 
Em 1945, durante a vigência do Decreto-lei n~ 7.586 (que disciplinou o proces­
so eleitoral e a formação de partidos políticos), o PCB requereu seu registro ao 
Tribunal Superior Eleitoral, obtendo-o em caráter definitivo a 10 de novembro da­
quele ano. Assim, o partido volta a atuar na legalidade. Cresce sobremaneira o 
número de filiados ao partido, pertencendo ao seu quadro nomes de peso como o 
de Graciliano Ramos, Jorge Amado, Cândido Portinari. 
Nas eleições de 1945, o PCB elegeu 14 deputados e um senador (Luís Carlos 
Prestes) galgando o lugar do quarto partido nacionalmente mais importante. 
Em 1946, entretanto, ocorreu um fato que dariá causa à volta do PCB à ilegali­
dade: em entrevista a jornalistas, que lhe perguntaram se, em caso de uma guerra 
17 Sobre a história do Partido Comunista Brasileiro, ver ChiIcote, Ronald H. O Partido Comunista Brasilei­
ro. Rio de Janeiro, Graal, 1982; ~elo Franco, Afonso Arinos de. História e teoria dos partidos pollticos bra­
sileiros. 3 ed. São Paulo, Alfa-Omega, 1980. p. 92 e segs.; Partido Comunista Brasileiro. In: Dicionário 
histórico-biográfico brosileiro: 193p-1983. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, Fundação Getulio Var­
gaslCPDOC: Finep, 1984. v. 3, p. 2.490-506; Almeida, Paulo Roberto de. Partidos políticos e política ex­
terna. Polftica e Estratégia, São Paulo, 4 (3): 424-5, jul./set. 1986. 
50 R.C.P.4/88 
entre o Brasil e a União Soviética, como se posicionaria, Prestes respondeu que 
daria seu apoio à União Soviética. Em 23 de março de 1946, foi encaminhado ao 
TSE um pedido de cancelamento do registro do partido, pelas causas descritas; 
sessão da Assembléia Nacional Constituinte ainda se ocuparia da questão, colo­
cando-a a Prestes; logo em seguida, fora apresentada outra denúncia contra o 
PCB, desta vez por um deputado do Partido Trabalhista Brasileiro. Tais denúncias 
foram encaminhadas ao TSE. O PCB apresentou defesa e, ouvido o Ministério 
Público, o então Procurador-Geral da República, 1bemCstocles Brandão Cavalcan­
ti, mandou arquivar o processo. Mas, por decisão do TSE, a posição'di::> MP não 
foi acatada, instaurando-se sindicância, a qual somente foi encerrada em setembro 
de 1946. Julgando-se irq>edido o Procurador 1bemCstocles Brandão Cavalcanti, o 
MP foi representado pelo subprocumdor-geral da República. 
Em 7 de maio de 1947, o TSEjulgou procedentes as acusações contra o parti­
do, cancelando-lhe o registro. Três dias após, foi ordenado pelo ministro da Justi­
ça o encerramento das atividades do partido. 
Em princCpios de 1948, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral foi acolhida 
pelo Congresso, sendo também cassados os mandatos de seus parlamentares. 
A partir de 1956 começaram-a eclodir cisões dentro do próprio partido, dando 
origem inicialmente à formação do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que 
passou a seguir a linha de Pequim. 
Em agosto de 1961, ficou decidido que o partido fundado a 22 de março de 
1922 passaria a se denominar Partido Comunista Bmsileiro, com a mesma sigla 
original - PCB, a ruo de lhe facilitar posteriormente o registro junto ao TSE. 
Com a advento da Revolução de 64, acirrou-se a perseguição aos comunistas, 
ocorrendo a prisão de quase toda sua liderança e direção. 
Por volta de 1965, nova cisão no PCB levou à criação de nova organização: o 
Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. 
A partir de dezembro de 1967, por ocasião do VI Congresso do partido, o PCB 
conheceu a crise interna mais grave de sua existência, com dissidências e criação 
de novas agremiações partidárias noutros estados. 
Mas, relativamente à repressão, o perCodo do Governo Geisel foi o pior. Esti­
ma-se que no período de 1 CJ7 4 a 1976 o número de presos foi de quase mil, além 
das torturas e mortes ocorridas (lO membros do Comitê Central do PCB foram 
mortos). 
Com a Lei da Anistia," em 1979, durante o governo do Presidente João Fi­
gueiredo, muitos dos dirigentes do partido, que se encontravam no exterior, re­
gressaram ao Brasil. 
Atualmente, o Partido Comunista Brasileiro conta apenas com o registro pro­
visório do partido, que lhe foi concedido pelo Tribunal Superior Eleitoral em 
sessão de 17 de dezembro de 1987. 
Esta decisão foi comunicada ao presidente do Tribunal Regional Eleitoral do 
Rio de Janeiro, através do telex-circular n2 176, de 18 de dezembro de 1987, cujo 
texto é apresentado a seguir: 
"Comunico V.Ex! TSE sessão 17.12.87, apreciando processo registro Pedido 
n2 90, deferiupartido registro provis6rio Partido Comunista Brasileiro (PCB), fi­
xando prazo de um ano para sua organização definitiva, na forma prevista art. 14 
Resolução TSE n2 10.785/80. Solicito V. Ex! se digrre comunicar referida decisão 
aos juízes eleitomis. 
,. Lei n!! 6.683 de 28 deagcsto de 1979, regulamenlaclapelo Decreto n!! 84.143 de 31 de outubro de 1979. 
Partidos pollJicos 51 
Min. Aldir Passarinho 
Vice-presidente exercício Presidência TSE." 
Registre-se que nos dias 8 e 23 de maio de 1985, o PCB fez publicar no Diário 
Oficial da União, Seção I, P. 7.032 a 7.042, e 7.554 a7 .548, respectivamente, o 
manifesto sobre a reorganização do partido, seu estatuto e programa. 
Assim sendo, o Partido Comunista Brasileiro tem até 17 de dezembro de 1988 
para organizar-se defmitivamente, com o intuito de ver fmalmente realizada a 
concessão do seu registro definitivo. 
Prossegue Vamireh Chacon: "É ainda menos compreensível o Partido Social 
Cristão, o Partido Democrata Cristão, que não tem expressão eleitoral nenhuma, o 
Partido Trabalhista Renovador e o Partido Socialista Brasileiro que, antes de 
1964, era uma agremiação de intelectuais ilustres, porém, em geral, sem votos. 
Somando todos eles, são, portanto, 15 partidos, hoje, na Câmara dos Deputa­
dos. No ~nado federal há um ppuco menos, são oito agora: o PMDB, o PFL, o 
PDS, o PDT, o PL, o PSP, o POC e o PTB."1I 
Parece unânime a opinião acerca do atual quadro partidário: partidos desprovi­
dos de ideologia (portanto, frágeis) e de efetivos programas d~ ação. Partidos no 
mais das vezes desfigurados. Tome-se como exemplo o Partido Democrata 
Cristão, que não é nem sombra daquele PDC que tentara trazer para o Brasil os 
princípios do POC italiano. 
Paulo José da Costa Júnior expressa de forma clara esta idéia, perguntando-nos 
como "distinguir um PMDB de um PDS ou de um PFL formado por homens que 
ontem eram do PDS e por contingências momentâneas passaram a fundar um 
PFL"po 
A respeito da ideologia partidária, acrescenta Vamireh Chacon no mesmo artigo 
que, até onde "conseguiria averiguar, em suas pesquisas sobre os partidos brasi­
leiros ( ... ) os partidos ideol9gicos nunca tiveram futuro no Brasil"."1 Segundo o 
eminente soci610go, o mais antigo ainda funcionando é o Partido Comunista. 
A corroborar esse entendimento vem Dori val Teixeira Vieira ao dizer que, "na 
verdade, o que existe é uma série de siglas ti, se formos analisar o conteúdo dos 
partidos, veremos que há atitudes individuais ( ... ), mas programas não existem. 
Talvez aí esteja o calcanhar de Aquiles desta confusão de partidos políticos no 
Brasil"}' 
Outro ponto que Chacon traz à baila é a existência de uma estrutura corporativa 
paralela, o que faz com que o Congresso Nacional e suas principais tarefas sejam 
esvaziados, prejudicando assim a efetivação de uma democracia representativa. 
Refere-se Chacon à existência de entidades tais como CNBB, OAB, Fiesp, 
CUT e Conclat que, atualmente, em termos de força política e representatividade, 
são bem mais importantes do que qualquer partido político considerado isolada­
mente. 
Diz o Prof. Chacon que, "se esse Poder Legislativo se encontra competindo 
com uma estrutura corporativista paralela e, por outro lado, está sendo minado 
eternamente pela sua pulverização -. e não s6 fragmentação - numa quantidade 
crescente de partidos, é claro que esse Poder Legislativo será uma das pernas que 
11 Chacon, Vamireh. Os partidos polfticos e a Constituinte. ProblDnas Brasileiros São Paulo Cooselbo 
Tknico de Economia, Sociologia e PoUtica da Fedcnçio do Com&cio do Estado' de São PauÍo, 259: 7, 
setJout. 1986. 
lO Costa Junior, Paulo Iosé da. Problema.s BrosiJ.eros, cito p. 13 . 
• 1 Chacon. Vamireh. op. cito p. 5 . 
•• Vieira. DorivaI Teixeira. Problemas Brasileiros. cit. p. 10. 
52 R.C.P.4/88 
faltará no equilíbrio da mesa de democracia representativa, supostameqte apoiado 
nos outros dois pés, no Executivo e no Judiciário". 23 
5. Considerações finais 
Vê-se, portanto, que não se poderia concluir este artigo sem ao menos mencio­
nar-se a importância do fenômeno polCtico-partidário na atual realidade brasileira. 
Em pesquisa do INDIPO da Fundação Getulio Vargas, publicada eIh maio de 
1988 pelo Senado federal, foi abordado, dentre outros pontos, o da relevância do 
sistema partidário, vioculando-o às formas de governo parlamentarista e presiden­
cialista, U assunto que tanta polêmica criou em sessões da Assembléia Nacional 
Constituinte. 
O capítulo do trabalho que ·ora mencionamos utilizou-se de pronuDCiamentos de 
parlamentares, que evidenciam sobremodo o importante papel dos partidos polCti­
cos numa e noutra fonna de governo. 
Pode-se destacar algumas das categorias de argumentos apontadas: 
• "00 regime parlamentar os partidos políticos, realmente, representam a força 
maior do regime"; 
• "o parlamentarisrro representa a realização maior do ideal de que a democracia 
é um estado de partidos ( ... )"; 
• "no regime parlamentarista, a democracia se baseia nas forças partidárias, por­
que elas, através do comando da opinião pública, é que fazem os governos ( ... )"; 
• "o grande conflito no presidencialisrro reside no problema partidário ( ... )"; 
• "a estruturação dos partidos - fonte da conquista do poder - depende do Poder 
Legislativo, pois da intensa atividade parlamentar os partidos voltar-se-ão às suas 
bases, onde haurirão 00 povo que os prestigia os instrumentos de sua ação políti­
ca". 
O entendimento acerca da importância do fenômeno partidário em qualquer 
contexto polCtico encontra plena justificativa numa das grandes lições de 1bem(s­
tocles Brandão Cavalcanti: "O sistema representativo nada mais é senão a fórmula 
política para tomar possível o governo pelo povo, e esta fórmula política permite, 
por sua vez, a manifestação dos diversos setores da opinião póblica e das ideolo­
gias políticas, através dos partidos poICticos que devem representar as diferentes 
correntes de opinião. 
A conjugação desses dois elementos permitiu ao Estado moderno realizar, tanto 
quanto possível, os seus objetivos polCticos, reunindo todas as correntes de opi­
nião e facultando a todas elas a participação no poder. 
Um dos instrumentos mais importantes para a ação poICtica é, sem dóvida, nos 
regimes democráticos, o da organização partidária, porque é atravé$ do seu meca­
nismo que funciona todo o sistema poICtico, principalmente no terreno eleitoral."25 
Entretanto, é pena que, com o desenvolvimento e conseqüente traosfonnação 
das relações econômicas e sociais transcorridas através dessas décad~, veio a cor­
romper-se, ou melhor, desfigurar-se essa construção. Do ideal de uma organização 
partidária corrente, sólida e estável, vive-se a triste realidade de um enorme con­
tingente de partidos, cujas principais características consistem na falta de estabili-
2S Chacon, VlIIIlÍIeh. op. cit. p. 8-9. . 
24 Oliveira, Nd Roberto da Silva. A pro~emática da adoção do parlaJncmarismo DO Brasil. In: Razões do 
parlamentarismo. Org. Afonso AriDOS de Melo FIlIIICO. Revista de Ciincia PoIItiaJ, Rio de Jameiro, Fundação 
Getulio Vargas, ed. especial: 207-92, maio, 1988. 
25 Cavalcanti, Themfstocles Brandão, op. cito p. 90. 
Partidos polfticos 53 
dade, fragilidade e falta de coerência com aquilo a que se propõem quando da sua 
criação. 
Esta foi, inclusive, uma das idéias contidas no trabalho anteriormente citado, 
expressando a atual insatisfação com o sistema partidário: "As categorias de ar­
gumentos identificadas sobre os partidos políticos no sistema parlamentar expres­
sam uma expectativa de maturidade e legitimidade que não se encontra nos atuais 
partidos políticos brasileiros sob o regime presidencialista."26 
"C .. ) o diabo é que os homens mal se apanham no poder, esquecem todas as 
promessas ( ... ) e riem dos crédulos". 
Esse trecho, embora pudesse pertencer a qualquer texto do noticiário atual, foi 
publicado num jornal do final do século passado!27 
Trata-se da fala de um personagem de uma crônica d'aPaiz, que expressa todo 
o seu ceticismo ao referir-se às promessas dos políticos. 
Enquanto persistir esta prática, infelizmente já tão corriqueira entre nós, conti­
nuará presente o clima de insegurança política e social com que convivemos. 
Urge, portanto, um realinhamento, uma reformulação partidária no governo que 
ora presenciamos e nos outros que estão por vir. 
Somente com uma base política forte, s6lida, é que se poderá superar esta grave 
crise social e econômica, que vem tomando dimensões assustadoras. E, como a 
base de qualquer política são os partidos políticos, como a expressão máxima dos 
cidadãos, o bom funcionamento de um, dependerá do êxito do outro. 
Nossos partidos, entretanto, não têm correspondido a este apelo. Os jornais no­
tic;iam a todo instante dissidências e mais dissidências; criação de novos partid?s. 
Tem-se um exemplo recente: no início do mês de junho de 1988, com a vit6ria 
dos cinco anos para o Presidente José Sarney, durante sessão da Assembléia Na­
cional Constituinte. Vários "quase-ex-peemedebistas", pefelistas, etc. já estavam 
a se enfrentar numa sutil e velada batalha sobre quem exerceria a presidência da 
nova agremiação ou os demais espaços a serem ocupados! 
Vê-se, portanto, que se está a preferir interesses internos, de somenos im­
portância, em prejuízo dos verdadeiros interesses nacionais. 
Isto faz com que; cada vez mais, os partidos políticos percam significado para 
os eleitores que, nas pesquisas de opinião, mostram-se cada vez mais desinteres­
sados, desconfiados e incrédulos relativamente ao processo partidário. É a im­
potência dos partidos frente aos anseios da sociedade. 
Continuando o quadro como ora se encontra, nos conduzirá à institucionali­
zação da apatia política, antítese da democracia representativa. 
Espera-se que os atuais políticos, e também aqueles que farão parte do processo 
político-partidário num futuro pr6ximo, se apercebam da gravidade da situação 
presente, deixando de lado sua vaidade, interesse e rixas pessoais, e tenham em 
mente somente uma coisa: o bem-estar social da coletividade. 
uÉ verdade, também, assevera Chacon, que um dos motivos fundamentais da 
crise política brasileira, montada sem nenhuma dúvida de grandes modificações 
sociais e econômicas que nossas elites não conseguiram até hoje racionalizar em 
termos de instituições novas, é a falta de partidos políticos estáveis e organizados, 
sem os quais não existe democracia representativa."" 
28 Oliveira, Nei Roberto da Silva. op. cito p. 211. 
27 O Paiz, de 2 e 3 de janeiro de 1895. Apud: Veneu, Marcos Guedes. Enferrujando o sonho: partidos e 
eleições no Rio de Janeiro, 1889-1895. Dados, Rio de Janeiro, Iuperj, 30(1): 45-72,1987. 
28 Chacon, Vamireh. op. cito 
54 R.C.P.4/88 
Aliás, Hans Kelsen, em plena República de Weimar, já havia afirmado com 
muita propriedade: "É ilusão ou hipocrisia sustentar que a democracia é possível 
sem partidos políticos. Porque é mui claro que o indi~íduo isolado, não podendo 
adquirir nerlbluna :nfluência real sobre a formação da vontade geral, não tem, do 
ponto de vista polCtico, existência verdadeira. A democracia não pode, em con­
seqüência, seriamente existir senão quando os indivíduos se agrupam conforme 
seus fms e afinidades políticas, isto é, senão quando entre o indivíduo e o Estado, 
vêm inserir-se estas formações coletivas, de que cada uma representa certa orien­
tação comum a seus membros: um partido político. A democracia é, pois, necessa­
riamente e inevitavelmente um Estado de partidos."2I 
Muito embora desnecessário, deixe-se registrado que este despretensioso estudo 
teve apenas por finalidade indicar a inesgotabilidade do assunto. 
Sempre haverá muitos e inquietantes aspectos a serem abordados dentro deste 
tema, até mesmo porque vem a ser da sua própria essência. 
Grandes e pequenas abordagens poderão ser feitas acerca do assunto, sendo 
que umas e outras trarão, de uma forma ou de outra, o mérito do contínuo questio­
namento sobre o processo partidário brasileiro, para que este possa, com a colabo­
ração daqueles que, em última análise, constituem sua base de susten~ão, con­
quistar um aperfeiçoamento cada vez maior. 
Cabe, por último, enfatizar que a fragilidade dos partidos políticos já se mani­
festa através da crise enfrentada pelo PMDB. 
Vários de seus membros ilustres30 desligaram-se da sigla Aliás, este não é um 
fenômeno exclusivamente peemedebista. Membros igualmente ilustres, pertencen­
tes a outras siglas partidárias, adotaram o mesmo procedimento, sendo que alguns 
deles' 1 convergiram no sentido da fundação de um novo partid() político: o Parti­
do da Social Democracia Brasileira (PSDB), que tem como uma de suas metas 
principais continuar a luta pela adoção do parlamentarismo no Brasil. 
ANEXO 
Legislação partidária compreendida no período 1965-86 
Nonnas 
Ato Institucional n!? 2 
Resolução nÇ! 145 (fri­
bunal de Contas) 
Resolução nÇ! 182 (fri­
bunal de Contas) 
Datas Ementas 
de 27.10.65 Extingue os atuais partidos políticos 
de 28.5.74 Expede instruções sobre prestação 
de contas dos partidos políticos 
de 7.12.76 Expede instruções sobre prestação 
de contas dos partidos políticos 
continua 
2. Ke1sen, Hans. La democralÜ!. p. 20-1 Apud: Medeiros, Borges de. O poder moderador na República pre­
sidencial. ed. da S .A. Diário de Pernambuco, 1933. p. 14. 
30 Os Deputados Pimenta da Veiga e Fernando Lyra; o ex-Governador de São Paulo, Franco Montaro; os 
Senadores José Richa, Mário Covas, e Fernando Henrique Cardoso; entre outros. 
31 Como o Senador Afonso Arinos de Melo Franco, do PFL. 
Partidos polfticos 55 
continuação 
Resolução n!? 10.785 
(Tribunal Superior Elei­
toral) 
Ato Complementar n!? 4 
Ato Complementar n!? 6 
Ato Complementar n!? 7 
de 15.2.80 Instruções para fundação, organização e 
funcionamento e extinção dos partidos 
políticos 
de 20.11.65 Regulamenta o art. 18 do Ato Institu­
cional n!? 2, de 27.10.65 
de 3.1.66 Prorroga o prazo estabelecido no art. I!? 
do Ato Complementar n!? 4, de 20.11.86 
para criação e registro das organiza­
ções que terão as atribuições de parti­
dos políticos. 
de 29.3.66 Dá nova redação ao art. 5!? do Ato 
Complementar n!? 4, de 20.11.66, revoga 
a letra e do art. 2!? e os §§ I!?, 2!?, 3!? e 
4!? do art. 7!?, acrescenta parágrafo ao 
att. 9!? 
Ato Complementar n!? 26 de 29.11.66 Dá nova redação ao art. 9!? do Ato 
Complementar n!? 4 de 20.11.65 
Ato Complementar n!? 29 de 26.12.66 Dispõe sobre as organizações que trans­
formaram os partidos políticos e altera a 
Lei n!? 4.740 de 15.7.65 (Lei Orgânica 
dos Partidos Políticos) 
Ato Complementar n!? 32 de 5.1.67 Altera o Ato Complementar n!? 29 de 
26.12.66 
Ato Complementar n!? 54 de 20.5.69 Trata das disposições que regerão 
as convenções municipais, regionais e 
nacionais dos partidos políticos a se rea­
lizarem no corrente ano 
Ato Complementar n!? 56 de 18.6.69 Trata sobre diretórios. municipais dos 
partidos políticos e modifica a redação 
de parágrafos do Ato Complementar n!? 
54 de 20.5.69 
Ato Complementar n!? 62 de 22.8.69 Prorroga o prazo para o registro de can­
didatos ao diretório regional a que se re­
fere o art. 6!? do Ato Complementar n!? 
54, de 20.5.69 
Ato Complementar n!? 65 de 9.9.69 Trata das eleições das comissões execu­
tivas dos diretórios regionais 
Ato Complementar n!? 66 de 19.9.69 Transfere data para realização da con­
venção nacional destinada a eleger os 
respectivos diretórios nacionais dos par­
tidos políticos 
continua 
56 R.C.P.4/88 
continuação 
Ato Complementar n2 77 de 27.10.69 Determina data para as convenções na­
cionais procederem à eleição dos diretó­
rios nacionais dos partidos poI(ticos 
Ato Complementar n2 104 de 26.7.77 Suspende, em caráter provisório, as 
sessões ptfulicas dos partidos políticos, 
no rádio e televisão, a que têm direito 
assegurado pelo inciso m, aIt. 118 da 
Lei Orgânica dos Partidos PoI(ticos 
Lei n2 4.740 
Lei n2 5.140 
Lei n2 5.306 
Lei n2 5.370 
Lei n2 5.453 
Lei n2 5.682Lei n2 5.6CJ7 
Lei n2 5.782 
Lei n2 6.043 
Lei n2 6.196 
Partidos polfticos 
de 15.7.65 Lei Orgânica dos Partidos Políticos 
de 14.10.66 Autoriza o Tribunal Superior Eleitoral a 
conceder auxOio às organizações de par­
tidos poI(ticos, a que se refere o Ato 
Complementar n2 4 de 20.11.65, e aber­
tura de crédito suplementar de Cr$ 
2.000.000.000,00 
de 5.7.67 Fixa datas para a realização das con- ... 
venções para eleição do Diretório Na­
cional e dos diretórios regionais e muni­
cipais dos partidos políticos e dá outras 
providências 
de 5.12.67 Fixa datas para a realização das con­
venções para eleição do Diretório Nacio­
nal e dos diretórios regionais e munici­
pais dos partidos políticos e dá outras 
providências 
de 14.6.68 Institui o sistema de sublegendas e dá 
outras providências 
de 21. 7. 71 Lei Orgânica dos Partidos PoI(ticos 
de 27.8.71 Dá nova redação aos artigos que men­
ciona a Lei n2 5.682, de 21.7.71 - Lei 
Orgânica dos Partidos Políticos 
de 6.6.72 Fixa prazo para filiação partidária e dá 
outras providências 
de 13.5.74 Altera dispositivos da Lei n2 .5.682 de 
21.7.71 - Lei Orgânica dos Partidos 
Políticos 
de 19.12.74 Altera o art. 28 e o parágrafo único 
do art. 35 da Lei n2 5.682, de 21.7.71 
(Lei Orgânica dos Partidos Políticos) 
e dá outras providências 
continua 
57 
continuação 
Lei n2 6.234 
Lei n2 6.358 
Lei n2 6.365 
Lei n2 6.414 
Lei n2 6.767 
Lei n2 6.817 
Lei n2 6.948 
Lei n2 6.957 
Lei n2 6.989 
Lei n2 7.090 
Lei n2 7.222 
58 
de 5.9.75 Dá nova red3ção ao item m e ao § 32 do 
art. 55 da Lei n2 5.682, de 21.7.71 (Lei 
Orgânica dos Partidos Políticos) 
de 10.9.76 Regula a indicação de candidatos a pre­
feito, vice-prefeito e vereadores onde 
não se tenham realizado convenções par­
tidárias 
de 14.10.76 Dá nova redação aos arts. 99 e 106 da 
Lei n2 5.682, de 21.7.71, alterada pela 
Lei n2 6.043, de 13.5.74 e dá outras pro­
vidências 
de 16.5.77 Amplia o número de membros dos di­
retórios municipais dos partidos políticos 
de 20.12.79 Modifica dispositivos da Lei n2 5.682 de 
21. 7.71 (Lei Orgânica dos Partidos Polí­
ticos) nos termos do art. 152 da Consti­
tuição Federal pela Emenda Constitu­
cional n2 11 de 1989; dispõe sobre pre­
ceitos do Decreto-lei n2 1.541 de 14.4.77 
e dá outras providências 
de 5.9.80 Dispõe sobre a organização dos diret6-
rios municipais dos partidos políticos em 
formação e dá outras providências 
de 28.9.81 Dispõe sobre a realização de convenções 
para renovação de diretórios a que se re­
fere o art. 60 da Lei n2 6.767, de 
20.12.79 e dá outras providências 
de 23.11.81 Dispõe sobre convenções municipais pa­
ra a escolha de diretórios municipais e dá 
outras providências 
de 5.5.82 Dispõe sobre filiação partidária em caso 
de incorporação de partido político e dá 
outras providências 
de 14.4.83 Altera dispositivos da Lei n2 5.682, de 
21. 7 .71 (Lei Orgânica dos Partidos Polí­
ticos) e dá outras providências 
de 2.10.84 Acrescenta parágrafo ao art. 31 da Lei n2 
5.682, de 21.7.71 (Lei Orgânica dos Par­
tidos Políticos), definindo o voto cumu­
lativo 
continua 
R.C.P.4/88 
continuação 
Lei n!! 7.307 
Lei n!! 7.514 
Emenda Constitucional 
n!! 11 
Emenda Constitucional 
n!! 25 
de 9.4.85 
de 9.7.86 
Faculta às Comissões Executivas Nacio­
nais dos partidos políticos decidir sobre 
a realização de convenções e dá outras 
providências 
Assegura aos partidos políticos e candi­
datos o direito de usar os números a eles 
atribuídos na eleição anterior, e dá outras 
providências 
de 13 .10.78 Altera dispositivos da Constituição 
Federal 
de 15.5.85 Altera 
Federal 
dispositivos da 
e estabelece 
mas constitucionais 
transit6rio 
Constituição 
outras nor­
de caráter 
Nota: Relação baseada em levantamento de documentos aos quais se teve acesso. 
Vale indicar a Coleção de Textos Legais, da Fundação Petrônio Portella: Porto, Walter Costa, ed. Eleições e 
partidos. Fundação Petrônio Portella, Brasília, 1982. E, 1am~m, a LegislaçiIo ekitoral e partid4ria e ins­
truções do TSE para as eleições de /982. Comp. Sara Ramos de Figueiredo. 4. ed. Brasflia, Senado federal, 
19R~. 
Como introdllzir 
o profissional 
no complexo labirinto 
das técnicas 
de arquivo 
Arquivo: 
Teoria e prática 
MARILENA LEITE PAES 
182 pág •. - 1988-
Partidos polfticos 
Obra didática que, 
além de modelos e 
exemplos ilustrativos, 
inclui bibliografia, 
legislação sobre a 
matéria e exercícios 
seguidos de respostas, 
que habilitam o leitor a 
avaliar sua 
aprendizagem. 
Atende-se, assim, às 
inúmeras solicitações 
de alunos de cursos de 
Arquivologia, 
Biblioteconomia e 
Documentação bem 
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culturais e pessoas 
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seus conhecimentos 
aobre teoria e prática 
arquivfsticas. 
59

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