Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. PROGRAMA DA DISCIPLINA ........................................................................... 1 1.1 EMENTA ............................................................................................................ 1 1.2 CARGA HORÁRIA TOTAL .......................................................................................... 1 1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 1 1.4 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ..................................................................................... 1 1.5 METODOLOGIA .................................................................................................... 2 1.6 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ....................................................................................... 2 1.7 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA .................................................................................. 2 CURRICULUM VITAE DO PROFESSOR .............................................................................................................4 2. TEXTO PARA ESTUDO ...................................................................................... 5 2.1 A GESTÃO DE PESSOAS: DO MECANICISMO À SOCIEDADE DO CONHECIMENTO .......................... 5 2.2 A LIDERANÇA E A FUNÇÃO GERENCIAL ........................................................................ 8 2.2.1 LIDERANÇA E A FUNÇÃO GERENCIAL ....................................................................... 8 2.2.2 A EVOLUÇÃO DAS TEORIAS DE LIDERANÇA ................................................................10 2.2.3 A LIDERANÇA SITUACIONAL .................................................................................16 2.2.4 MULHERES E O TETO DE VIDRO: VAMOS UM POUCO MAIS FUNDO? .....................................20 2.3 A LIDERANÇA NA ERA DAS COMPETÊNCIAS ...................................................................22 2.3.1 DESAFIOS DA LIDERANÇA NO AMBIENTE DE MERCADO ATUAL ...........................................22 2.3.1.1 COMPETÊNCIA ..............................................................................................25 2.3.1.2 TIPOLOGIA DA COMPETÊNCIA: ORGANIZACIONAIS E INDIVIDUAIS ...................................27 2.3.2 AS RELAÇÕES DE PODER E O CONTEXTO DE CADA ORGANIZAÇÃO ......................29 2.3.3 A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO .................................................................36 2.4 MOTIVAÇÃO: CONTEXTUALIZAÇÃO ...................................................................42 2.4.1 FORÇAS MOTRIZES DA MOTIVAÇÃO ........................................................................42 2.4.2 NECESSIDADES HUMANAS ...................................................................................43 2.4.2.1 MODELO DA HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW ..........................................44 2.4.2.2 MODELO DOS DOIS FATORES DE HERZBERG ............................................................45 2.4.2.3 MODELO E-R-G DE ALDERFER ...........................................................................46 2.4.3 MOTIVAÇÃO: TEORIAS DO PROCESSO .....................................................................47 2.5 LIDERANÇA E SUCESSÃO .......................................................................................48 2.5.1 “SUCESSÃO E CONHECIMENTO NA EMPRESA”..............................................................51 2.5.2 PIPELINE DE LIDERANÇA .....................................................................................52 2.5.3 DELEGAÇÃO E EMPOWERMENT ............................. ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED. 2.5.4 FERRAMENTAS DE DESENVOLVIMENTO .....................................................................54 3. MATERIAL COMPLEMENTAR .......................................................................... 55 COMEÇAR O CONTEÚDO SEMPRE EM PÁGINA ÍMPAR 1 Liderança e Motivação 1. PROGRAMA DA DISCIPLINA 1.1 Ementa Do mecanicismo à sociedade do conhecimento. Liderança na era das competências. Motivação como ferramenta da liderança. Equipes de Alto desempenho. 1.2 Carga horária total 24 horas-aula 1.3 Objetivos Analisar a evolução do papel do líder e a importância do autoconhecimento e autodesenvolvimento para a aplicação do modelo de liderança atualmente mais requerido. Identificar e discutir a aplicabilidade de teorias e modelos de motivação no dia a dia das organizações. Reconhecer a responsabilidade do líder no desenvolvimento de sucessores e a importância dos atributos relacionados ao equilíbrio, ética, honestidade e coerência. 1.4 Conteúdo programático Do mecanicismo à sociedade do conhecimento: a liderança na era das competências Evolução do papel do líder no ambiente de projetos; Revisitando teorias sobre liderança; Gerenciamento e liderança; Papéis do líder e abordagens Abordagens: formal, colegiada e personalística; Líder Coach: o que é coaching; Atores e papéis; Modalidades de Coaching; O Processo; Coach e Líder Coach: semelhanças e diferenças. Mentor: o que é mentoring; Os atores; O processo; O Mentor; Coaching e Mentoring: ferramentas Trabalho em equipe Características das equipes; Tipos de equipes:grupos temporários e equipes de projeto; Condições necessárias para o trabalho em equipe; Trabalho em equipe como uma vantagem competitiva; Equipes de alto desempenho Desafios para construção de equipes de alto desempenho; Habilidades e competências de um líder de equipe de alto desempenho; Habilidades e competências dos membros de equipe de alto desempenho; Competências da liderança de alto desempenho Competências, habilidades e comportamentos do líder; Escuta Ativa & Feedback; Autoconhecimento e autodesenvolvimento; Desenvolvendo a inteligência emocional. Motivação Motivação como ferramenta de liderança e o papel da ambiência na motivação; Diferentes teorias de motivação; identificação de fatores motivacionais e sua relação com alta performance, burnout e 2 Liderança e Motivação workaholism Do Mecanicismo à Sociedade do Conhecimento: a liderança na era das competências Evolução do papel do líder; Revisitando teorias sobre liderança; Gerenciamento e liderança; Trabalho em Equipe Características das equipes; Tipos de equipes; Condições necessárias para o trabalho em equipe; Trabalho em equipe como uma vantagem competitiva Escuta Ativa Equipes de Alto Desempenho Desafios para construção de equipes de alto Desempenho; Habilidades e competências de um líder de equipe de alto desempenho; Habilidades e competências dos membros de equipe de alto desempenho; Feedback Competências da liderança de alto desempenho Competências, habilidades e comportamentos do líder; Autoconhecimento e autodesenvolvimento; Desenvolvendo a inteligência emocional. Motivação Motivação como ferramenta de liderança e o papel da ambiência na motivação; Diferentes teorias de motivação; identificação de fatores motivacionais e sua relação com alta performance, burnout e workaholism 1.5 Metodologia A premissa deste módulo é a participação ativa dos alunos, portanto a metodologia basear-se-á na exposição dialogada, estudos de caso, exercícios em grupo e troca de vivências. É fundamental a leitura prévia do material, bem como a efetiva participação de todos. 1.6 Critérios de avaliação 100% avaliação final: Trabalho em sala – 3,00 pontos Trabalho individual – 7,00 pontos 1.7 Bibliografia recomendada BENNIS, Warren. A formação do líder. São Paulo: Atlas, 1996. CAVALCANTI, Vera et al. Liderança e Motivação. 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009 COVEY, Stephen R. Liderança baseada em princípios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002 GOLEMAN, Daniel. Trabalhando com a Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. MINTZBERG, Henry. Managing. San Francisco. BK Berrett-KoehlerPublishers Inc., 2011. 3 Liderança e Motivação ROBBINS, Stephen. P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. STEFANO, Rhandy Di. O líder coach – líderes criando líderes. 1. ed. Brasil: Qualitymark, 2009. 4 Liderança e Motivação Curriculum vitae do professor CRISTINA GOLDSCHMIDT, M.Sc. Profissional com 30 anos de experiência, em posições de liderança e assessoramento em questões estratégicas. Atuou em empresas de médio porte, multinacional na área de ensino de idiomas e organização nacional de representação sindical patronal, nas quais acumulou experiência de gestão nas áreas: Gestão Predial, Apoio Administrativo, Apoio Operacional, Documentação e Informação, TI, Transportes, Eventos, Projetos, Treinamento e Relacionamento com clientes, permitindo a consolidação conhecimentos em Gestão Estratégica do Capital Humano e Intelectual, Gestão de Projetos e Gestão de Processos de Negócio. Grande vivência na elaboração e implantação de programas de desenvolvimento organizacional e de capital humano, e de projetos para integração e reposicionamento de áreas de negócio. Forte experiência em Coaching Executivo, aplicado durante a sua trajetória executiva. Como sócia-diretora da Consulting CG, atua como Consultora e trainer nas áreas de desenvolvimento de capital humano e organizacional e como Coach Senior, em programas de Executive e Life Coaching para profissionais e executivos de diversos segmentos, entre eles: Serviços, Óleo e Gás, RH, Telecom, Seguros e Energia, com mais de 1.500 horas de experiência em projetos de coaching. Como docente, é pesquisadora de Resiliência, Diversidade, Envelhecimento e Carreira, e Professora Convidada nos MBAs da FGV nas disciplinas: Construção de Equipes de Alto Desempenho, Papéis e Atuação do Líder, Liderança e Motivação, Comunicação Interpessoal, Delegação, Empowerment e Equipes, Gestão de Pessoas - Aspectos Funcionais, Modelagem Organizacional e Desenvolvimento de Carreira, dentre outras; além de lecionar em programas In Company e cursos de curta duração da FGV e outras disciplinas na área de Gestão de Pessoas em outras Instituições de Ensino Superior. Para detalhamento de atividades acadêmicas e afins: http://lattes.cnpq.br/2666129102545104 Membro dos Conselhos Diretor e Empresarial de Educação da ACRJ – Associação Comercial do Rio de Janeiro, de 2013 a 2017, e membro-fundador do Capítulo Rio da ICF-International Coach Federation, onde ocupou a posição de Diretora de Relações com o Mercado, na Diretoria Executiva agosto 2013-março 2016. Coach formada pelo ICI – Integrated Coaching Institute, curso credenciado pelo ICF. Consultora Janusian - A Leadership Style Assessment® e MPP - Personal and Professional Maturity Levels Assessments, certificada pela Khorppe – Assessments & Consulting Services. Coach Senior da FOCCS–First-Order Coaching and Consulting Services, empresa do ICI Group. Mestrado em Gestão Empresarial pela FGV. MBA em Gestão de Projetos pela FGV. Graduada em Direito pela UCAM – Universidade Cândido Mendes. Graduada em Letras pela UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. http://lattes.cnpq.br/2666129102545104 5 Liderança e Motivação 2. TEXTO PARA ESTUDO 2.1 A Gestão de Pessoas: do mecanicismo à sociedade do conhecimento “Se desejarmos saber o que é um negócio devemos começar pelo seu propósito. E esse propósito deve estar situado fora do negócio em si. Deve estar na sociedade, uma vez que a empresa é um órgão da sociedade. E o único propósito válido é: criar um cliente” (Peter Drucker 1962, p. 70) Peter Drucker (1962) foi um dos primeiros autores a sustentar que a maximização do lucro não deveria ser o propósito de uma empresa. Não que Drucker (1962) considerasse somente os aspectos sociais de uma organização, mas porque ele descobriu que o foco exclusivo em maximização do lucro praticamente levaria todos os negócios a fracassar, mais cedo ou mais tarde. O que ocorre é que, na prática, ao se concentrar completamente em um só aspecto, como a maximização do lucro, a visão dos processos da empresa torna-se parcial e distorcida, e desvia a atuação das pessoas e o emprego dos recursos em inovações e melhorias, seja no dia a dia do trabalho ou no produto/serviço final. O discurso de Drucker explicitava que ao invés de pensarmos apenas no lucro (que é fundamental!), o propósito das empresas deveria ser criar um cliente. Ou seja, a partir da criação de um cliente, conseguimos extrair os resultados que manterão a empresa viva. Peter Drucker (1962) ensinou que as empresas, para atingirem o seu propósito, contavam com duas atividades básicas: a Inovação e o Marketing. Tendo presenciado crises e a ascensão e queda de gigantes, como Henry Ford, Drucker acreditava que a criação constante de algo “novo e melhor” era o que impulsionaria uma empresa eternamente. A inovação não é só uma necessidade das empresas tradicionais, mas de todos os setores. Como exemplo bastante atual, podemos verificar a batalha do Facebook para se manter relevante no mundo mobile, com a aquisição do Instagram e do WhatsApp, além da compra de uma empresa de realidade virtual e outra de Drones. Esse conjunto de ações do Facebook não é nada mais do que a busca pela inovação constante. A inovação dentro de uma empresa, seja ou não do setor de tecnologia, é o ponto que aumenta a estabilidade e relevância no mercado. Resumindo: o mundo está atravessando um período de intensas mudanças tecnológicas, sociais e econômicas, fato que suscita das organizações padrões de gestão eficazes que lhes permitam realizar mudanças objetivando sua sobrevivência. E como e onde fica a Gestão de Pessoas nesse quadro? A Gestão de Recursos Humanos não é um fim em si. A gestão das pessoas é um meio pelo qual os fatores de produção – capital, recursos/materiais, trabalho, tecnologia – passam a criar vantagem competitiva. Vantagem competitiva duradoura ou diferencial competitivo sustentável são construídos por pessoas e conhecimento. Estudos organizacionais focados na integração entre as organizações, os indivíduos, o ambiente e a tecnologia contribuíram para a consolidação da gestão de pessoas nas organizações. As pessoas se tornaram um diferencial competitivo conforme as mudanças foram se tornando mais intensas e velozes. 6 Liderança e Motivação Quadro – A Gestão de Pessoas de 1900 até hoje 1900-1950 Industrialização Clássica Welfare 1950 – 1990 Industrialização Neoclássica Development 1990-hoje Era da Informação/Era do Conhecimento Pessoas: fatores de produção estáticos, sujeitos a regras para serem controlados; concepção dos três fatores de produção: natureza- capital-trabalho Pessoas: recursos organizacionais Pessoas: diferencial competitivo Por quê? Pouca necessidade de adaptação ao ambiente Por quê? Necessidade de adaptação ao ambiente. Mudanças se aceleraram; Desenvolvimento de tecnologias Por quê? Mudanças intensas; O ambiente externo é turbulento e instável em função da integração global Os primórdios da gestão de pessoas perpassam os modelos taylorista-fordista que, visando maior produtividade e competitividade, tinham como lema “o homem certo para o lugar certo”, desencadeando assim uma base que era a definição do cargo e de suas funções associadas, que definia os critérios para a seleção de pessoas. Na década de 1960, surge na Europa a abordagem sociotécnica, cunhada por psicólogos industriais para a organização do trabalho, na busca por uma solução que integrasse as demandas e as capacitações do sistema social aos requisitos do sistema técnico. Nos anos 80, o modelo japonês de gestão de pessoas acarretou maior racionalização aos processos de trabalho, colocando a responsabilidade pela realizaçãoda tarefa no grupo e não mais no indivíduo, e é no início da década de 80 que surge o conceito de Planejamento Estratégico para Recursos Humanos (PERH). Este conceito foi desenvolvido, inicialmente, através de duas abordagens: i) o Michigan Concept, desenvolvido por Fombrun, Devana e Tichy (1984), define o PERH como a conexão entre missão, estratégia, estrutura e RH. Impõe um papel passivo à área de RH porque enfatiza os fatores temporal e quantitativo na missão e na estratégia, cabendo ao PERH, basicamente, desenvolver (estrategicamente) quatro fatores: seleção, avaliação, remuneração e desenvolvimento. ii) o Harvard Concept, ressalta o papel não só de adaptador, mas de interventor no planejamento estratégico, o que enfatiza mais a perspectiva da Administração de Recursos Humanos (ARH). São quatro as áreas-chave para determinação de políticas de RH: grau de influência do empregado (participação); o fluxo de RH (recrutamento, desenvolvimento, utilização e demissão); o sistema de recompensas; e os sistemas de trabalho (organização do trabalho); 7 Liderança e Motivação Estas áreas são afetadas pelos interesses dos stakeholders (incluindo os empregados) e por fatores situacionais (características da força de trabalho, a filosofia da administração, as estratégias de negócios, o mercado de trabalho, os sindicatos, etc.). A despeito das diferentes ênfases que cada abordagem atribui à gestão de RH, é possível dizer que a abordagem estratégica para a gestão de pessoas envolve: a) entender as pessoas como um recurso estratégico para a obtenção de vantagem competitiva; b) o uso de planejamento; c) uma abordagem coerente com as políticas e práticas de emprego (integração interna); d) integração das políticas e práticas de emprego com a estratégia de negócios (integração externa); e) administração proativa (ao invés de reativa); f) decisões sobre os aspectos da relação de emprego tomadas no mais alto nível hierárquico. As decisões têm efeitos de curto prazo em termos de comprometimento, competência, congruência e custo, e também de longo prazo, como o bem-estar dos empregados, efetividade organizacional e bem-estar social. A abordagem estratégica destaca, primordialmente, o alinhamento entre gestão de pessoas e estratégia organizacional e entre as políticas e práticas, incluindo aquelas relacionadas à gestão, como o planejamento do trabalho, o grau de autonomia dos empregados e o papel da liderança, o que demanda o gerenciamento dos comportamentos, com foco na obtenção do comprometimento. Assim, a partir dos anos 90 um novo significado é assumido pela Administração de Recursos Humanos (ARH): a ARH como vantagem competitiva. Com a atenção voltada para o negócio da empresa, começa a ser levantado o papel das pessoas para gerar competitividade. Se a estratégia da empresa é a diferenciação e a obtenção de vantagem competitiva, o papel da ARH é garantir que as pessoas sejam fonte de vantagem competitiva, transmitindo as estratégias às pessoas para transformá-las em agentes de competitividade, para que as empresas possam buscar formas novas e criativas de gestão. A maneira de administrar pessoas em uma organização não está sujeita a princípios ou modelos universais. O ambiente externo, políticas e diretrizes vigentes, tecnologias, cultura, quantidade e qualidade das pessoas disponíveis são fatores determinantes da maneira de gerir pessoas em dada organização. Mudança é a palavra-chave: a gestão de RH deve levar em conta a variação das necessidades decorrentes das constantes mudanças na organização e no ambiente externo. A Gestão de Pessoas tem caráter contingencial: requer adequação e ajuste permanentes de sua estrutura às necessidades da organização. Assim, levando-se em conta que a velocidade das mudanças aumenta a necessidade de as organizações se tornarem mais flexíveis, a consequência óbvia é que não dispomos de modelos ou receitas que sejam adequados a todas as situações. Os cinco processos básicos na gestão de pessoas – prover, aplicar, manter, desenvolver e controlar – formam um ciclo: Provisão: são processos que definem quem irá trabalhar na empresa e tem início com o planejamento de recursos humanos, pesquisa de mercado de RH, Recrutamento de Pessoas, Seleção de Pessoas e Integração de Pessoas (ambientação do novo funcionário); Aplicação: são processos utilizados para desenhar as atividades que as pessoas irão realizar na empresa, orientar e acompanhar seu desempenho. Incluem desenho organizacional e desenho de cargos, análise e descrição de 8 Liderança e Motivação cargos, planejamento e alocação de pessoas, plano de carreiras, orientação às pessoas e avaliação do desempenho; disseminação da cultura organizacional; Manutenção: são processos utilizados para criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias para a execução das atividades e tarefas das pessoas. Incluem gestão de remuneração & benefícios, higiene e segurança do trabalho, qualidade de vida no trabalho e estudo de clima organizacional; Desenvolvimento: são os processos utilizados para capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal. Incluem treinamento e desenvolvimento das pessoas, programas de mudanças e desenvolvimento de carreiras e programas de comunicação e desenvolvimento organizacional. Monitoramento: são processos utilizados para acompanhar e controlar as atividades das pessoas e verificar resultados. Incluem bancos de dados, sistemas de informações gerenciais, auditoria de recursos humanos e de processos relativos a questões trabalhistas. Estes processos podem ser abordados como subsistemas de um sistema maior, de um processo global e dinâmico, e apresentam duas características principais, a saber: Situacionais – variam conforme a organização e fatores ambientais, humanos, tecnológicos etc.; Interdependentes - potencialmente autônomos para se desenvolverem de forma individual. Nas últimas três décadas, a gestão de recursos humanos busca por ferramentas que sejam mais adequadas e eficazes para atingir os objetivos estratégicos da organização e, mais do que isso, gerar diferencial competitivo. O corpo teórico sobre gestão de pessoas vem sendo complementado por outras perspectivas. Após a adoção da abordagem estratégica para o estudo de RH, sem abandonar foco na estratégia, a teoria dos recursos da firma (RBV) chama o foco para os recursos internos e para as pessoas e aplica-se ao estudo da gestão de pessoas por meio da abordagem das competências. Descrever tarefas e cargos já não é mais suficiente para atingir os objetivos estratégicos de uma organização; é preciso identificar as demandas por diferentes níveis de desenvolvimento e de contribuição de cada indivíduo. Dito de outra forma, é preciso que as competências dos empregados sejam convergentes e bastantes para que a organização faça funcionar as suas competências essenciais, que a diferenciam no mercado. 2.2 A Liderança e a Função Gerencial 2.2.1 LIDERANÇA E A FUNÇÃO GERENCIAL Com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra a partir de 1780, a forma de produção foi alterada e alastrou-se rapidamente por todo o mundo civilizado (Burns, 1983). Fábricas, com a produção mecanizada e em escala, substituíram uma produção 9 Liderança e Motivação centrada em oficinas, nas quais mestres e aprendizes faziam um trabalho manual, alterando toda a estrutura social e econômica. A importância das empresas nas sociedades modernas avança de maneira vigorosa, eis que praticamente todos os bens e serviços necessários à nossa sobrevivência são produzidos pelas organizações. O gerente A fim de suprir suas necessidades, por muito tempo na história da humanidade, as pessoas dependeram de fazendeiros, artesãos, comerciantes e proprietários para conseguir os bens e serviços. SegundoKotter (1982), nos dias de hoje, as pessoas dependem primordialmente dos gerentes. A importância dos gerentes cresceu paralelamente ao aumento da importância das organizações, o que se pode ser explicado na medida em que eles são diretamente responsáveis pela estratégia, estabelecimento de objetivos e caminhos da organização. Por meio do processo decisório, o gerente tem a responsabilidade de escolher os caminhos da organização e executar a escolha por meio de suas próprias atividades e, principalmente, das de seus comandados. Para responder à questão sobre quais são as funções do gerente dentro da organização, vários autores investem em pesquisar suas atividades, o que reforça o reconhecimento da importância do gerente. No âmbito desses estudos, a distinção entre liderança e gerência embasa a abordagem de vários autores, para os quais o poder dos gerentes se origina primordialmente da autoridade hierárquica, enquanto os líderes tendem a expressar seus motivos íntimos e “tocam as vidas das pessoas”, porque possuem carisma. Por outro lado, ainda que entendidas como distintas por esses autores, há a compreensão de que liderança e gerência não são excludentes, e sim complementares. Neste sentido, alguns autores sugerem a utilização da palavra gestor para sinalizar a coexistência, tanto dos aspectos de liderança, quanto dos aspectos gerenciais. A definição da função gerencial permanece fragmentada, ambígua e dispersa, dificultando uma definição objetiva do papel do gestor em uma organização. Enfim, muito se tem discutido sobre as funções gerenciais. Vários autores que estudaram as funções gerenciais, embora possam discordar em alguns aspectos, reconhecem a importância do gerente para a organização. A liderança gerencial O conceito de liderança evoluiu de forma gradual de um estilo de liderança autoritário, para uma orientação democrática, buscando dar motivação ao empregado a se considerar parte contribuinte da organização, com base nos valores humanos e sociais. De fato, se examinarmos a liderança sob o ponto de vista clássico da administração, verificaremos que o líder tem como prioridade as necessidades da organização e não as do indivíduo e, consequentemente exerce a função de estabelecer e fazer cumprir critérios de desempenho com o intuito de alcançar objetivos organizacionais. Na orientação mais democrática, com o intuito de gerar maior comprometimento dos empregados com as metas da organização, verifica-se a descentralização das decisões e delegação de responsabilidade, por meio de um maior grau de liberdade, para que as pessoas realizem suas atividades, assumindo desafios, satisfazendo as suas necessidades de autorrealização e participando na tomada de decisão. Em outras palavras, é esperado que o líder seja capaz de manter seguidores mais ativos e responsáveis perante as atividades. Warren Bennis (1996, p. 78) ensina que, “a presença do líder é importante para a eficácia das organizações, para as frequentes turbulências e mudanças do ambiente e 10 Liderança e Motivação para a integridade das instituições”. O exercício da autoridade seria suficiente em épocas de estabilidade, mas para um ambiente em constante transformação necessário se faz a presença de uma liderança, pois é a força incentivadora e direcionadora que torna possível o desenvolvimento e a permanência das organizações nesse contexto. Cabe ressaltar que o fator liderança engloba diversas variáveis, tais como: tipos de poder e autoridade/poderes atribuídos aos cargos, características pessoais de líderes e liderados/conjuntos de competências desejadas e necessárias, inter-relações sociais, necessidade de alcançar objetivos corporativos etc. Segundo Hersey e Blanchard (1986), não há um método único e superior para a gestão das pessoas; segundo os autores, os gerentes adaptam seu estilo de liderança ao nível de desenvolvimento dos empregados em cada tarefa específica, o que significa que o líder não pode usar apenas um estilo de liderança, uma única forma de influenciar o desempenho de outras pessoas; precisa, sim, utilizar vários estilos de liderança, de acordo com as diferentes necessidades dos seus colaboradores, ajudando-os a compartilhar expectativas no seu ambiente, de modo que possam gradativamente aprender a supervisionar seu próprio comportamento e tornar-se as pessoas responsáveis e automotivadas. Já Peter Drucker (1996) ensina que “[...] o segredo da liderança partilhada: saber em que situações deve agir como chefe e em que situações atuar como parceiro [...] em crise não há liderança partilhada, quando o barco está afundando o capitão não pode convocar uma reunião para ouvir as pessoas, tem de dar ordens.” Para ele, “a tarefa do líder é desenvolver líderes”, pois toda empresa necessita deles, ainda que muitas negligenciem o seu desenvolvimento (DRUCKER, 1996, p. 162). É importante compreender que a eficiência dos líderes em seu ambiente de trabalho está diretamente ligada à eficiência da própria organização, visto que representam o fundamental papel de traduzir os objetivos estratégicos da organização para os liderados. A qualidade desta tradução impactará no alinhamento de toda a organização e no foco nos resultados desejados. Liderança é um fenômeno complexo que tangencia diversos outros importantes problemas organizacionais, sociais e pessoais. Ao mesmo tempo em que frustra tentativas de uma simples definição ou representação teórica, torna-se cada vez mais significativa em todos os aspectos de nossos empreendimentos. Diversos conceitos e aspectos já apresentados até aqui apontam que o líder precisa ter um ambiente propício ao desenvolvimento da liderança. De nada vale, termos uma pessoa potencialmente líder e a sociedade não estar preparada para assimilar, interagir a altura e refletir a sua liderança. Nessa situação, o líder potencial não exercitará sua liderança. 2.2.2 A EVOLUÇÃO DAS TEORIAS DE LIDERANÇA Conceitos e Teorias de Liderança Afinal, o que vem a ser liderança? Diante de um contexto global fortemente marcado por mudanças, a liderança tem sido apontada como a resposta, não só para o sucesso de indivíduos e organizações, mas também para setores da economia, regiões e nações. E a necessidade de lideranças eficazes nunca foi expressa com tanta veemência como nas últimas décadas, o que a faz merecer uma crescente atenção no âmbito da Teoria Organizacional. Há diversos conceitos de liderança. Nas ciências humanas, onde se insere o estudo de liderança, é sempre arriscada uma definição precisa de um determinado termo, pois esta varia em função de fatores pessoais, sociais ou institucionais. No campo dos estudos organizacionais e do comportamento humano, a liderança é um dos fenômenos mais complexos, e com mais facetas que é investigado por pesquisadores que, por séculos, tentam identificar os aspectos associados ao líder eficaz. 11 Liderança e Motivação No ambiente organizacional ou social, embora se tenha um núcleo comum entre as várias definições - a capacidade de influenciar pessoas, grupos e coletividades – ainda não existe uma elaboração teórica consistente sobre a repercussão desse fenômeno. Neste ambiente dinâmico e instável, as práticas de liderança tendem a se apresentar mais complexas, uma vez que as organizações se deparam com a demanda por configurações mais orgânicas, adaptáveis, com múltiplos fluxos de comunicação, que requerem novas formas de vinculação e relações sujeito-trabalho-organizações- sociedade. Tomada de forma conjunta, as distinções teóricas de liderança são marcadas pelos focos de análise utilizados, que destacam, de maneira segmentada, os traços do líder, o seu comportamento, os aspectos relacionados ao poder e à influência ou os fatores situacionais. Desta forma, e especialmente levando em conta os novos contextos organizacionais que têm primado pela flexibilidade e pela cooperação, apontamos a importânciade se compreender de forma crítica a evolução das teorias e abordagens de liderança. A liderança nas organizações como fenômeno social complexo foi frequente e tradicionalmente conceitualizada em termos de traços de personalidade, estilos de comportamento e fatores contingenciais. Uma das teorias pioneiras - a teoria dos traços - predominou até a década de 40, enfatizando especialmente as qualidades pessoais do líder. Logo em seguida, no início da década de 50, os cientistas comportamentais passaram a se preocupar com os aspectos que caracterizam o estilo de comportamento do líder. Os pesquisadores dirigem então sua atenção para aquilo que o líder faz, mostrando-se particularmente interessados nos tipos de comportamento por ele adotados, que seriam responsáveis pelo aumento da sua eficácia ao dirigir seus seguidores. Entre a década de 60 e o início da década de 80, os enfoques situacionais ou contingenciais apontam o fato de que a emergência e a manutenção de um líder eficaz devem considerar aspectos que fazem parte do ambiente dentro do qual o líder está agindo. As teorias contingenciais ou situacionais exploram então as variáveis que cercam o processo de liderança, sem deixar de lado os diferentes tipos de comportamento dos líderes. A este corpo conceitual se vão acrescentando, ao longo da década de 80 e 90, as questões culturais. No seu conjunto, as pesquisas sobre traços, habilidades, motivos e estilos de liderança consolidam o campo teórico sobre liderança, enfatizando, sobretudo, três aspectos (Bryman, 1996): (1) o processo de influência pelo qual o líder tem um impacto sobre os outros, induzindo-os a se comportarem de uma determinada maneira; (2) este processo de influência é concebido como incorporado ao contexto de um grupo; e (3) o líder influencia o comportamento dos membros de um grupo rumo aos objetivos que o grupo pretende alcançar. De todas essas abordagens podemos concluir que a liderança é, sobretudo, um relacionamento, um processo mútuo de ligação entre líder, seguidor e demais atores envolvidos no contexto organizacional. Teorias sobre Liderança Traços de Liderança Durante a primeira metade do século vinte, vigorou a premissa que era possível identificar e isolar um conjunto limitado de traços que poderiam ser utilizados/aplicados nos processos de seleção e promoção de pessoas a posições de liderança. Essa busca por traços partia da suposição que um (seleto) grupo (de homens em sua maioria) 12 Liderança e Motivação alcançaram e mantiveram posições de influência porque teriam nascido para liderar e seriam bem sucedidos na liderança por obra e graça de suas personalidades apenas. Ralph Stogdill (1974) realizou um extenso trabalho de revisão dos estudos sobre traços de liderança e encontrou algumas qualidades que apareciam mais frequentemente do que outras. Contudo, outros estudos não identificaram os mesmos traços e a lista de traços de liderança não parou de crescer, o que demonstra que não é possível identificar um conjunto limitado de traços de liderança. Algumas generalizações sem maior consistência, no entanto, existem. Na literatura organizacional sobre liderança, ocorrem inúmeras definições, incontáveis artigos e polêmicas e a maioria dos pesquisadores concorda que alguns traços comuns são importantes para os líderes: consciência, energia, inteligência, domínio, autocontrole, sociabilidade, abertura a experiências, conhecimento da relevância de tarefas e estabilidade emocional. Comportamentos e estilos de liderança No lugar de considerar traços do líder, uma abordagem alternativa foi considerar o que os líderes fazem. Doyglas MacGregor (1960), com a Teoria X e a Teoria Y, e Blake e Mouton (1964), com o Grid Gerencial (Managerial Grid) são exemplos de abordagens comportamentais que muito influenciaram a teoria sobre liderança. Liderança Contingencial/Situacional Se por um lado as teorias comportamentais apresentaram a noção de estilos de liderança diferentes, elas forneceram poucas pistas em relação a o que constitui o comportamento efetivo de liderança em situações diferentes. De fato, a maior parte dos pesquisadores, atualmente, chega à conclusão que não existe um estilo de liderança que seja o correto ou apropriado para toda e qualquer circunstância. Ao contrário, as teorias situacionais foram desenvolvidas para indicar que o estilo a ser usado depende de fatores como a situação em si, as pessoas, a tarefa, a organização em questão, dentre outras variáveis ambientais/contextuais. A verdade é que as peculiaridades locais e a cultura organizacional influenciam o estilo de liderança a ser exercido. Como cada povo tem sua cultura, cada organização também tem a sua, que se reflete em códigos de conduta, na estrutura organizacional, até mesmo no arranjo físico dos escritórios. Estas diferenças entre países, organizações e níveis hierárquicos, também refletem na gestão de pessoas e nos estilos de liderança. Assim, veremos algumas construções teóricas sobre liderança que podem ter aplicabilidade. Mintzberg (1973, 1975) identificou 10 (dez) papéis de gestão organizados em 3 (três) grupos: papéis informacionais (monitor, disseminador e porta voz),papéis interpessoais(representante da empresa, líder e contato) e papéis decisórios (empreendedor, resolvedor de conflitos, alocador de recursos e negociador), entre os quais está a liderança. Aprofundando-se na pesquisa, em 2010, Mintzberg publicou o livro “Managing: desvendando o dia a dia da gestão”, no qual compilou os resultados de sua pesquisa e estudos acerca do trabalho gerencial. Neste livro, o autor ratifica os resultados de seus estudos realizados na década de 1970, e acrescenta ainda os papéis de estruturação e programação do trabalho (MINTZBERG 2010, p.58) O autor apresenta o trabalho de um gerente como primariamente orientado para a ação, possuindo um ritmo forte, com atividades variadas, fragmentadas e descontínuas, gerando desgaste físico e psicológico. Mintzberg (2010) afirma que gerentes não conseguem um controle total de suas atividades, pois grande parte dos problemas com os quais ele lida são inesperados e, em algumas situações, são “intratáveis”. Além disso, o trabalho gerencial não é estritamente ligado ao relacionamento com subordinados, mas frequentemente se dá de forma lateral, em relações com colegas, sócios e clientes; e, ainda, a tecnologia (principalmente o e-mail) está aumentando cada vez mais o ritmo e o volume de trabalho gerencial (MINTZBERG, 2010). Importante 13 Liderança e Motivação ressaltar que o autor destaca a impossibilidade de um gerente dominar todos os papéis descritos, mas afirma que é necessário buscar um ponto de maior equilíbrio. A proposta de Mintzberg (2010) considera a gerência como uma atividade complexa, com muitos fatores intervenientes. Por isso, busca orientar quanto às peculiaridades e dificuldades enfrentadas pelas pessoas que assumem a função de gerentes, sem deixar de considerar o contexto organizacional no qual estão inseridas. As pessoas são comumente recrutadas para posições de gerência/gestão e não de liderança, e sobre elas recai a expectativa de completar uma multiplicidade de tarefas que variam de planejamento diário a elaborações estratégicas de longo prazo. Nenhum desses tipos de atividades é executado de forma isolada e, paralelamente, ainda existe a demanda essencial referente ao trabalho com outras pessoas – subordinados, pares e superiores, o que foi observado por Henry Mintzberg em uma pesquisa que começou na década de 1970. Assim, passaremos agora a um resumo da proposta de modelo que Mintzberg (2010) elaborou para explicar a dinâmica e os papéis inerentes à função gerencial, “sem considerar a gestão como simplesmente controle – como pensava Fayol – ou análise, como proposto por Porter” (MINTZBERG 2010, p. 55). Com base em anos de observação e estudo sobre o trabalho de diferentes gerentes– pessoas com diferentes atividades e formações e atuando em níveis hierárquicos variados – a proposta de Mintzberg (2010) se aplica ao trabalho de qualquer gerente, não importando as características da organização ou o nível hierárquico ocupado, porque foca nos resultados de sua pesquisa sobre a prática do trabalho gerencial. E, uma vez que o foco é a prática, não foi apresentado pelo autor um modelo estruturado de gerência, pois “não existem dois trabalhos gerenciais iguais, nem mesmo dois dias iguais da mesma pessoa no mesmo trabalho” (MINTZBERG 2010, p.139). O que o modelo apresenta são os papéis que gerentes executam no cotidiano dessa função. Para Mintzberg (2010) há três premissas importantes e interligadas para a compreensão do modelo: Gestão é prática; não é ciência, nem é profissão. O trabalho gerencial não é uma ciência, uma vez que não reflete apenas a aplicação de um conjunto de conhecimento sistemático resultante de pesquisa. Em outras palavras, o conhecimento científico não garante a eficácia e o sucesso da gestão. Consequentemente, a gestão também não é uma profissão, pois não pode ser ensinada formalmente e fora do contexto de atuação do gerente (MINTZBERG 2010, pp. 23-24). O resultado da combinação dessas três premissas é que, segundo o autor, a gestão deve ser vista como prática, cuja dinâmica resulta da tríade formada por arte, ciência e habilidade prática. Portanto, a gestão como prática depende: da capacidade de análise do gerente, pautada em um conjunto de conhecimento sistemático e formal (ciência); da habilidade prática, que decorre da experiência adquirida por ele no cotidiano do trabalho gerencial; e da arte, que decorre da visão do gerente e da sua capacidade criativa (insights), direcionadas para um bom desempenho. Tendo isso em vista, o autor ratifica os resultados de seus estudos realizados na década de 1970, apresentando 10 (dez) papéis de gestão organizados em 3 (três) grupos: papéis informacionais (monitor, disseminador e porta voz), papéis interpessoais (representante da empresa, líder e contato) e papéis decisórios (empreendedor, resolvedor de conflitos, alocador de recursos e negociador), e a esse conjunto, ele acrescenta ainda os papéis de estruturação e programação do trabalho (MINTZBERG 201, p. 58). Mintzberg (2010) organiza a aplicação destes papéis no modelo de gestão, apresentado na figura abaixo: 14 Liderança e Motivação Figura1: Um modelo de gestão. Fonte: Mintzberg (2010, p.60) Ao analisarmos a figura, observamos que a pessoa do gerente está no centro, ou seja, no espaço existente entre: a. a unidade pela qual é responsável formalmente (aquela que ele gerencia); b. o restante da organização, que é o conjunto das outras diversas unidades existentes e c. o ambiente externo à organização. Essas são as três direções do trabalho do gestor. Esta proposição evidencia que os gerentes dedicam grande parte de seu tempo, também, às relações laterais com seus colegas (outros gerentes, sócios e parceiros) e não somente com aqueles que lhe são subordinados, como costumeiramente é tratado na literatura (MINTZBERG 2010, p.42). Além dessas três direções de atuação, essa pessoa - o gerente - não deixa de ser alguém com suas idiossincrasias e valores, bem como com todos os outros fatores que definem quem ele é, sua identidade. Daí, as experiências e os conhecimentos individuais – da pessoa que está na posição de gerente – definem a maneira como o gerente percebe o mundo à sua volta e servem como a base para o exercício do trabalho de gestão, isso é, o modo como irá desempenhar sua função. Essa dinâmica constrói um estilo próprio de gestão, que, por sua vez, condiciona a maneira como o gerente estrutura e programa o seu trabalho (MINTZBERG, 2010). Diante de todas essas direções e dimensões, para organizar o seu trabalho, ele tem que analisar e programar mentalmente suas ações. Assim, segundo Mintzberg (2010), o gestor organiza o seu trabalho executando dois papéis: o de estruturação e o de programação. Como o nome sugere, a estruturação (ou modelagem) permite que ele pense em como estruturar o seu trabalho (decisões e ações) no contexto de sua unidade e de sua equipe de subordinados; a programação, por sua vez, é o meio pelo qual o gerente estabelece prioridades e cria uma agenda do que deve ser feito no contexto de trabalho de sua equipe. Como Mintzberg (2010:63) explica, “a programação do gerente pode ter uma influência enorme sobre todos os membros da unidade: tudo que entre na agenda é interpretado como um sinal do que é importante dentro da unidade”. 15 Liderança e Motivação No plano das informações, o gerente assume os papéis de comunicação e de controle. Ele troca informações em todas as direções: com seus superiores (ascendente), com seus subordinados (descendente), com seus pares e com pessoas de fora de sua unidade e fora de sua organização (horizontalmente), utilizando-se de canais de comunicação formais e informais. (MINTZBERG 2010, p.65) Exercendo o papel de comunicação, o gerente assume algumas atividades e responsabilidades, descritas como: de monitoramento, em que busca informações úteis de todo o tipo; centro nervoso, supervisionando todas as atividades de sua unidade, por ter uma visão do trabalho como um todo; disseminação, compartilhando as informações que recebe para os membros da unidade; e porta-voz, comunicando com as pessoas externas à sua unidade. (MINTZBERG, 201, pp. 65-67) O gerente é também responsável pelo controle do trabalho e dos resultados de sua unidade. Esse papel de controle, que se dá por meio da tomada de decisões, faz o seguinte percurso: inicia-se pela projeção ou concepção, elaborando estratégias (para que outros a executem), projetando estruturas (divisão de trabalho e responsabilidade entre os subordinados) e projetando sistemas (quais processos os subordinados devem utilizar para que o trabalho seja realizado); passando pela delegação, que é a identificação do que deve ser feito, atribuindo a decisão e a realização a outrem; designação, que é a autorização para que sejam realizadas ações específicas; distribuição, representando a alocação de recursos baseada em decisões anteriores; e, por fim, a determinação, ou seja, a escolha de objetivos e metas para todos (incluindo o gerente), condizentes com a realidade da unidade. (MINTZBERG 2010, pp.68-73) No plano das pessoas, a atitude do gerente precisa ser diferente daquela demonstrada no plano das informações. O autor afirma que gerenciar no plano das pessoas é mais do que fazer com que as pessoas façam o trabalho, mas trata-se de fazer com que elas queiram fazer o trabalho. Nesse plano de atuação, o gerente desempenha os papéis de liderança e ligação. (MINTZBERG 2010, p. 74) A liderança é um componente essencial da gestão e pode ser exercida em relação a indivíduos ou equipes. No papel de liderança em relação a indivíduos, o gerente energiza as pessoas através de motivação, persuasão, apoio, convencimento, fortalecimento, encorajamento e envolvimento. Ele também desenvolve indivíduos, oferecendo coaching e mentoring. Já em relação a equipes, o gerente as constrói e mantém, além de estabelecer e fortalecer a cultura. Exercendo o papel de ligação, ele se direciona para fora da unidade e da organização (enquanto a liderança é direcionada para dentro). Nesse papel, o gerente: forma redes de contatos; representa sua unidade fora dela e da organização; apresenta informações importantes a pessoas estratégicas dentro e fora da organização; convence as pessoas daquilo que é importante para a sua unidade; transmite informações externas para os membros de sua unidade e amortece as pressões externas, de forma a proteger sua unidade de influência e pressões em níveis pouco desejáveis. (MINTZBERG 201, pp. 73- 90) No plano da ação, o gerente exerceo papel da ação (internamente) e o papel da negociação (externamente). 16 Liderança e Motivação No papel da ação, Mintzberg (2010, p. 91) afirma que o gerente altera “diretamente o modo como as coisas são feitas”, sem tratar-se de um envolvimento passivo, mas determinante no resultado daquilo que está sendo realizado. Os gerentes atuam nesse papel gerenciando projetos, ou seja, assumindo a responsabilidade pessoalmente pelos projetos; ou manejando perturbações, em que determina aquilo que deve ser feito em resposta a mudanças impostas que envolvem sua unidade. Como negociadores, os gerentes desempenham uma função, muitas vezes, operacional, entretanto, somente alguém em sua posição, com sua autoridade e liberdade de decisão possui condições de concluir o negócio. Até mesmo o status é fator importante nesta análise, por colocá-lo em posição de igualdade com os gerentes com quem negocia. (MINTZBERG, 2010, pp.95-96) Mintzberg (2010:98) afirma que “apenas juntos todos esses três papéis e em todos os três planos é que chegamos ao equilíbrio essencial para a prática da gestão”. É com essa frase que ele define a importância do gerente trabalhar em todos os planos, exercendo todos os papéis, ainda que haja a predominância de um ou outro papel em diferentes momentos do trabalho da gestão. É importante ressaltar que o autor compreende a impossibilidade de um gerente dominar todos os papéis descritos, mas afirma que é necessário que se busque um ponto de maior equilíbrio. A representação dicotômica de gerentes e líderes como figuras completamente diferentes pode ser ilusória e prejudicial em relação à aspectos pragmáticos do exercício da função gerencial, eis que este tipo de visão é limitante e subestima as habilidades das pessoas em papéis gerenciais e de liderança. O que não quer dizer que as pessoas são igualmente aptas a todos os aspectos do gerenciamento e da liderança, nem que existe um perfil ideal que é o mais apropriado a todas as situações (conforme vimos ao estudas as teorias de liderança). Para alcançar eficácia, o foco deve recair sobre recrutar e desenvolver gestores- líderes, capazes de desempenhar tal papel em sua forma mais abrangente, mais holística, compreendendo tanto as facetas do gerenciamento quanto as da liderança. Desta forma, seguindo Mintzberg (2004, 2010), passaremos a utilizar as palavras gerenciamento, gestão e liderança e gerente, gestor e líder de forma intercambiável. 2.2.3 A LIDERANÇA SITUACIONAL De acordo com HERSEY e BLANCHARD (1986), o exercício da liderança envolve diversas variáveis situacionais (líder, liderados, superiores, colegas, organização, exigências do cargo e tempo, dentre outras), mas a grande ênfase está justamente no comportamento do líder em relação aos seus liderados. Os liderados, e o modo com que percebem e aceitam a influência de seu líder, legitimam a eficácia e a continuidade da liderança sobre eles exercida. Conforme os autores, a Liderança Situacional baseia-se na otimização da relação (vínculo) líder-liderado, enfatizando a necessidade de alinhamento entre a maturidade dos colaboradores (contingência) para o cumprimento das várias atividades críticas e a forma de agir (estilos) do líder. O estilo de liderança é o padrão comportamental que o indivíduo apresenta ao tentar influenciar as atividades de outras pessoas. Como a percepção dos outros pode ser bem diferente da percepção que o líder tem do seu próprio comportamento, o estilo percebido por ele é considerado apenas como autopercepção e não como seu estilo próprio para fins de intervenção na organização, treinamento e/ou desenvolvimento. O modelo contempla quatro estilos que devem ser dominados pelos líderes, oriundos de quatro combinações de duas variáveis, a saber: ênfase na estruturação do trabalho e ênfase no relacionamento interpessoal, ou seja, os quatro estilos que devem ser dominados pelo líder resultam da inter-relação entre: 17 Liderança e Motivação (1) a quantidade de orientação e direção (comportamento de tarefa) que o líder oferece; (2) a quantidade de apoio sócio-emocional (comportamento de relacionamento) dado pelo líder; e (3) o nível de prontidão (maturidade) dos subordinados no desempenho de uma tarefa, função ou objetivo específico. Um importante conceito tratado na Liderança Situacional é o de maturidade. De acordo com os estudiosos, define-se a maturidade como a capacidade e a disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio comportamento. É importante ressaltar, contudo, que o conceito de maturidade entendido pelos autores considera tarefas específicas a serem realizadas. Ou seja, não se pode afirmar, dentro deste conceito, que um indivíduo é maduro ou não em sentido geral. As pessoas podem ser mais maduras ou menos maduras de acordo com a tarefa que executam, com a função desempenhada na organização ou objetivo a ser alcançado. Esse diagnóstico torna-se fiel quando é realizado em consenso entre líder e liderado. Dentro desse modelo a dimensão da eficácia está diretamente ligada à capacidade do líder em se adaptar de acordo com a maturidade do liderado e, assim, oferecer o ambiente e os recursos adequados para que ele se desenvolva e realize as tarefas propostas. O líder deve saber diagnosticar adequadamente o grau de maturidade de seus subordinados, relacionados a tarefas específicas. Mais além, o líder deve também saber diagnosticar o nível de maturidade de uma equipe, no intuito de moldar, em si, o comportamento de liderança mais adequado para se relacionar com esta. A partir de tais ideias, portanto, pode-se perceber que, para a Liderança Situacional, não há uma única melhor forma de influenciar as pessoas. Para os autores, a faixa do estilo de um indivíduo é o grau em que ele é capaz de variar seu estilo de liderança. Alguns parecem estar limitados a um estilo básico. Estas pessoas tendem a ser eficazes só em situações em que o estilo é compatível com o ambiente. Já outros líderes são capazes de modificar seu comportamento de acordo com qualquer um dos quatro estilos básicos; outros, por sua vez, são capazes de adotar dois ou três estilos. Os líderes flexíveis têm o potencial de serem eficazes em muitas situações. A adaptabilidade do estilo é a capacidade do líder variar adequadamente seu estilo às exigências de uma determinada situação, segundo a Liderança Situacional. Observa- se que a faixa de estilo não é tão importante para a eficácia quanto à adaptabilidade, já que uma ampla faixa de estilo não garante a eficácia (HERSEY e BLANCHARD, 1986). 18 Liderança e Motivação Figura 1 Liderança Situacional Fonte: The Ken Blanchard Companies (2004) A Figura 1 representa a relação entre a maturidade relativa à tarefa e os estilos de liderança adequados a serem adotados na medida em que os liderados passam da imaturidade para a maturidade. O estilo de liderança adequado para certos níveis de maturidade dos liderados é apontado pela curva prescritiva que passa pelos quatro quadrantes de liderança. Essa curva é chamada prescritiva pelo fato de indicar o estilo de liderança apropriado, diretamente acima do nível de maturidade correspondente. 19 Liderança e Motivação Cada estilo de liderança identificado é uma combinação de comportamento de tarefa e de comportamento de relacionamento. Comportamento de tarefa: é a medida com que o líder dirige as pessoas, no sentido de lhes dizer o que fazer, quando fazer, onde fazer e como fazer, estabelecendo objetivos e definindo papéis para os liderados. Comportamento de relacionamento: é a medida com que o líder empenha-se em comunicar-se bilateralmente com os liderados, fornecendo-lhes suporte, encorajamento e apoio psicológico, ouvindo ativamente as pessoas e apoiando-lhes os esforços. Conforme a Figura 1, a maturidade dos liderados é dividida em quatro níveis de desenvolvimento: D1 (baixo),D2 (baixo a moderado), D3 (moderado a alto) e D4 (alto). O estilo de liderança apropriado a cada um destes níveis pressupõe dosagens adequadas de comportamento de tarefa (direção) e de relacionamento (apoio). Compreendem-se os estilos básicos de liderança e os níveis de maturidade como: Pessoas de maturidade baixa (D1): não há capacidade técnica nem vontade de assumir, responsabilidade de fazer algo, não possuem a competência e não estão seguras de si. Estilo adequado Direção (Determinar): comportamento de tarefa alto e relacionamento baixo. Fornecer instruções específicas e supervisionar estritamente o seu cumprimento. Pessoas de maturidade entre baixa e moderada (D2): não há capacidade técnica, mas sentem disposição de assumir responsabilidade de fazer algo, têm confiança em si, mas ainda não possuem habilidades desenvolvidas. Estilo adequado Treinar (Persuadir): comportamento de tarefa alto e relacionamento alto. É necessário explicar as decisões e oferecer oportunidades de esclarecimentos. Pessoas de maturidade entre moderada e alta (D3): há capacidade técnica, mas não há disposição de assumir responsabilidade de fazer algo. Esta falta de disposição pode ser em função de insegurança. Estilo adequado Apoiar (Motivar e Compartilhar): Comportamento de relacionamento alto e de tarefa baixa. Trocar ideias e facilitar a tomada de decisões. Pessoas de maturidade alta (D4): há capacidade técnica e vontade de assumir responsabilidade de fazer algo. Estilo adequado Delegação (Delegar): comportamento de relacionamento baixo e tarefa baixa. Transferir a responsabilidade das decisões e da sua execução. Quanto mais elevado o nível de maturidade na tarefa de um indivíduo ou grupo, maior sua probabilidade de sucesso na gestão participativa. Quanto mais baixo o nível de maturidade na tarefa, menor a probabilidade de que a participação dependa de uma prática gerencial eficaz. Independente do nível de maturidade que um determinado indivíduo ou grupo se encontra, pode haver mudanças. Assim, se por alguma razão o desempenho de um liderado começar a regredir e sua capacidade ou motivação diminuir, o líder deverá reavaliar o nível de maturidade e voltar na curva prescritiva, visando dar-lhe apoio sócio- emocional e direção apropriada. 20 Liderança e Motivação Neste sentido, destaca-se que, na teoria da Liderança Situacional, não há padrões rígidos e inflexíveis de liderança: cabe a cada líder avaliar o caminho mais adequado a seguir, de acordo com as variáveis situacionais dos liderados e de acordo com sua própria capacidade de adaptação. Quanto mais pessoas D4 você tiver em sua equipe, mais você estará entregando um dos resultados mais difíceis e mais importantes para a sua evolução na carreira como um líder, que é a sucessão. Lembre-se de Peter Drucker, para ele, “a tarefa do líder é desenvolver líderes”, pois toda empresa necessita deles, ainda que muitas negligenciem o seu desenvolvimento. 2.2.4 Mulheres e o teto de vidro: vamos um pouco mais fundo? Cristina Goldschmidt De acordo com o Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2016 do Fórum Econômico Mundial, entre os 144 países avaliados, o Brasil ocupa a 79ª posição do índice global de disparidade de gênero, tendo as participações econômica e política como as principais lacunas registradas. No quesito de igualdade de salários, o Brasil ocupa a 129ª posição, dentre os 144 países avaliados. “O número de mulheres em posições de chefia continua extremamente baixo, com apenas quatro países do mundo tendo igualdade entre o número de homens e mulheres legisladores, ocupando cargos executivos e diretores de empresas, apesar de 95 países terem o mesmo índice, ou até maior, de mulheres com diploma superior", diz o Relatório do Fórum Econômico Mundial. Alguns afirmam que o grande desafio para as mulheres dessa geração, é tentar reverter o quadro das desigualdades de poder, de oportunidade na carreira e de remuneração entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo. Não há dúvida que a questão da representação e participação das mulheres em todos os níveis de poder é mais discutida. Entretanto, ainda nas organizações brasileiras a grande maioria das mulheres não tem tido voz na formulação e discussão dos referenciais que orientam as questões relevantes da economia e da gestão. Apesar do avanço da mulher executiva, ainda estamos longe de um equilíbrio em relação ao trabalho dos homens executivos. Por que as mulheres que tiveram várias conquistas têm tanta dificuldade em chegar aos cargos de comandos nas empresas? Para não esquecer: 21 Liderança e Motivação Se por um lado as empresas apresentam um discurso modernizante, na prática o que vemos são atitudes conservadoras. Trata-se do fenômeno teto de vidro nas organizações brasileiras. O teto de vidro, tradução de sua denominação original glass ceiling, constitui-se de uma representação simbólica de uma barreira transparente e sutil, mas suficientemente forte para impossibilitar a ascensão de mulheres aos postos altos da hierarquia organizacional. O teto de vidro constitui-se de um mosaico de práticas, a maior parte delas veladas, difíceis de serem identificadas por muitas mulheres e, não raro, reforçadas por muitas mulheres. Vamos um pouco mais longe? Entrelaçado e subjacente ao fenômeno do teto de vidro, há outro grande desafio, bastante evidente e dos mais complexos no que tange relações de gênero, que recai sobre a análise da situação da presença feminina no mundo do trabalho. Além da igualdade salarial, outros dois quesitos no Relatório do Fórum Econômico Mundial chamam a atenção: a 87ª posição do país na presença de brasileiras no mercado de trabalho, que fica na casa dos 62%, enquanto a dos homens é de 83%; e a renda média das brasileiras, que é de 11.600 dólares por ano, enquanto a dos homens é de 20.000 dólares. Essa é uma desigualdade que está vinculada ao ponto de vista cultural e social e funda-se nas representações sociais da participação da mulher dentro de espaços variados, seja na família, na escola, igreja, nos movimentos sociais, enfim, na vida em sociedade. A cristalização dessas representações sociais reverbera no mundo do trabalho, reforçando a recorrente concentração de ocupações das mulheres no mercado de trabalho, em atividades como professoras, domésticas, cabeleireiras, manicures, funcionárias públicas ou em serviços de saúde. É preciso revisar das funções sociais da mulher, o que passa também pela crítica ao entendimento (convencional) do que seja o trabalho e as formas de mensuração a ele aplicadas, que são efetivadas no mercado. Só para fazermos um recorte rápido, o contingente das mulheres trabalhadoras mais importante está concentrado no serviço doméstico remunerado; no geral, são mulheres negras, com baixo nível de escolaridade e com os menores rendimentos na sociedade brasileira. Em resposta, temos muito que construir, mas de imediato é fundamental que as mulheres lutem por políticas públicas que universalizem o direito de acesso às creches, à educação infantil, básica e média, todas em tempo integral. Além da equiparação salarial e dos aspectos das representações sociais da participação feminina nos espaços sociais, um terceiro desafio se coloca diante das mulheres, que é o de reconhecerem diversidade naquilo que as torna iguais, pois quando mergulhamos mais fundo na questão do gênero trazendo de forma transversal outros aspectos da diversidade como raça, orientação sexual, religião, padrões estéticos etc., tornamos o leque de desafios maior e mais complexo: mulheres brancas com alto nível de escolaridade não enfrentam os mesmos desafios das mulheres negras com alto nível de escolaridade; mulheres brancas com alto nível de escolaridade e lésbicas enfrentam desafios que mulheres brancas ou negras heterossexuais desconhecem, e assim por diante. O emprego, a renda, o acesso à educação e saúde são componentesque criam condições para que as mulheres conquistem a igualdade de condições de inserção e de competitividade no mercado de trabalho, mas o caminho para a equidade de gênero precisa se dar conta de que há desafios em diferentes espaços e dimensões e que se traduzem de maneiras diferentes para mulheres diferentes. Desta forma, questões relacionadas à inserção e competitividade feminina no mundo do trabalho podem ser percebidas como adversidades pelas mulheres em níveis de stress diferentes. E as respostas para lidar com esse stress podem estar ancoradas em modelos mentais que ainda não identificamos, gerando comportamentos que ao invés de serem eficazes, tornam-se nocivos no longo prazo. 22 Liderança e Motivação 2.3 A Liderança na era das competências 2.3.1 DESAFIOS DA LIDERANÇA NO AMBIENTE DE MERCADO ATUAL A realidade atual explicita claramente a existência de profundas modificações e novas tendências na organização econômica, política e social do nosso país, o que demanda a nossa compreensão dos desdobramentos de tais modificações e tendências nos processos produtivos. Por exemplo: Crescente demanda por conhecimentos exigindo a criação de mecanismos para torná-los explícitos e registrados; Alteração da cadeia produtiva com desenvolvimento de tecnologias e diferentes rearranjos do trabalho, tanto no conteúdo quanto na forma, colocando em foco a competência das pessoas; Intensificação da terceirização e de parcerias. Em vez de contratar indivíduos, contratam-se empresas parceiras e fornecedores; Diminuição da oferta de empregos. Como boa parte da população já está inserida no mercado informal haverá menos chance de se empregar do que de se criar novas oportunidades de trabalho, desde que haja competência para isso; Inovações tecnológicas convivem, no país, com deficiências do sistema educacional. Cabe então à área de gestão de pessoas, se necessário, complementar o desenvolvimento das competências de que precisar; Aumento da expectativa de vida e prolongamento da vida produtiva, que leva à convivência de diferentes gerações nos ambientes de trabalho; Elevados níveis de pobreza e de desigualdade social, os quais provocam distinções entre aqueles que obtiveram uma educação privilegiada, tanto familiar quanto escolar; Intensificação da pressão da sociedade por um comportamento ético, [por um respeito maior ao meio ambiente e a responsabilidade social da empresa] que, no tange à gestão de pessoas, aborda assuntos como respeito à diversidade da força de trabalho, ambiente de trabalho saudável, livre de assédio sexual e moral, por exemplo, além da pressão. Estas mudanças estruturais forçam-nos a tomar decisões que muitas vezes são paradoxais e que demandam dos empregadores e empregados uma visão sistêmica. Entre estes paradoxos, podemos citar: A mesma empresa que demite, enxuga custos, terceiriza, ou pressiona; contrata e adota políticas e práticas que buscam fazer dela o melhor lugar para se trabalhar; Principal objetivo dos empregados é a própria carreira, portanto, o senso de fidelidade à empresa, que já foi comum há algumas gerações, já não é mais; As empresas aplicam mais tempo e melhores técnicas de seleção para não errarem em suas escolhas, mas a maioria ainda não aprendeu a selecionar e a reter talentos; Empresas procuram manter pessoas competentes, mas não concedem oportunidades para elas aplicarem e desenvolverem suas competências; Cada vez mais, crescem os números de profissionais que buscam se tornar empreendedores, ou seja, abrir o próprio negócio, em vez de buscarem colocação no mercado de trabalho; 23 Liderança e Motivação As empresas rapidamente incorporam novas tecnologias e ferramentas gerenciais, sem que estas mudanças sejam acompanhadas de maior eficiência e eficácia organizacionais. A sociedade brasileira se modificou muito nas últimas décadas. Na média, a população brasileira envelheceu, pois tanto as taxas de natalidade quanto as de mortalidade caíram. Há mais pessoas morando sozinhas, as mulheres se tornaram mais independentes - muitas em virtude da ascensão profissional - novas tecnologias de comunicação invadiram nossos lares e ambientes de trabalho, uma nova geração - com outros valores, crenças e atitudes - entrou no mercado de trabalho. De fato, os jovens, conhecidos como geração Millennium, e mesmo a geração Y, são frutos de grandes expectativas de seus pais (geração X). Na maioria dos casos, estes jovens, tiveram grandes investimentos em educação, pois seus pais, preocupados com o futuro, buscavam prepará-los para enfrentar o mundo com melhores condições. Esses jovens não conheceram a ditadura, e a inflação galopante, mas, por outro lado, sempre conviveram com a alta competitividade e o alto grau de incerteza em relação ao futuro. É a geração da internet, do tempo real e da multiação (fazer muitas coisas ao mesmo tempo). Estes jovens têm pressa e curiosidade para aprender novas tecnologias, mas não têm paciência para lerem manuais. Em grande parte, são mais otimistas e animados em relação ao mundo em que vivem, do que as gerações anteriores. Além disso, tendem a ser mais consumistas e culpam a geração antecessora pelo lixo herdado em todos os sentidos - ambiental, televisivo etc. Pensem no papel das mulheres em nossa sociedade. Nas últimas décadas elas se inseriram no mercado de trabalho mais fortemente, progrediram e, hoje em dia, não raramente ocupam cargos de chefias. Outros grupos como os negros, deficientes e homossexuais também se tornaram mais visíveis nas organizações. Assim, atualmente, a palavra-chave nas empresas é diversidade. Esta nova realidade reconfigura os desafios que as empresas enfrentam, forçando- as a pensar em novas formas de operação, de estruturas e de reorganização do trabalho. Portanto, caberá aos administradores repensar em como liderar e gerenciar a força diversificada de trabalho, respeitando as peculiaridades de cada grupo e, ao mesmo tempo, visando à maximização dos resultados da empresa. Por outro lado, os trabalhadores deverão apreender esta nova configuração de trabalho, aprender a lidar com colegas e chefes que não compartilham da mesma religião, idade, sexo, etnia, nacionalidade, naturalidade ou orientação sexual, bem como refletir quais competências passam a ser demandadas pelo mercado, no sentido de garantir sua empregabilidade. Esta dimensão organizacional é o ambiente interno supramencionado. Pense nos impactos desta nova realidade para as empresas, empregados e sociedade de modo geral. Como elaborar e conduzir o planejamento de recursos humanos de uma área ou de uma organização? Como gerenciar pessoas? Como lidar com os diversos perfis psicodemográficos1 dentro do ambiente de trabalho? Na verdade, não existe “a” teoria que possa explicar todas as circunstâncias – cada uma delas apresenta pontos fortes e pontos fracos e a escolha pela que será aceita se funda tanto em percepções individuais e crenças quanto em evidências empíricas. O trabalho de um gerente é intenso e diversificado. A quantidade de situações e problemas com que ele precisa lidar em curto espaço de tempo é considerável. Estas características da função gerencial a tornam essencialmente prática, sem ser desprovida da necessidade de conhecimento adequado. Outro aspecto importante é a gerência como ação e de inevitável contato com o outro. Gerenciar é uma atividade de constante comunicação, vertical e horizontal, dentro 1 O perfil psicodemográfico de um grupo reflete sua faixa etária, classe social, religião, sexo. 24 Liderança e Motivação e fora da sua unidade e organização. Em outras palavras, um gerente desempenha diversos papéis em seu cotidiano de gestão. Seja liderando, agindo, comunicando, negociando, programando, controlando, estruturando ou fazendo conexões, o gestor está em contato com pessoas, adquirindo,processando e organizando informações, de forma a auxiliar sua organização e sua unidade. Por ser a dinâmica do trabalho gerencial muito intensa e diversa, o gerente precisa de um enorme conjunto de habilidades que o permita conduzir todas as atividades, de forma a auxiliar a organização a alcançar seus objetivos. Não há regras ou perfil determinante para o bom desempenho de um gerente sem considerar a organização, a cultura e o momento. Em situações reais, não há como elencar um conjunto de competências possíveis de uma única pessoa possuir e, ainda, determinar que essa pessoa gerenciaria satisfatoriamente em qualquer organização e em qualquer contexto. Por outro lado, se a necessidade de identificação de competências para o preenchimento de um cargo gerencial fosse ignorada, seria impossível para uma organização selecionar, treinar e desenvolver gerentes de uma maneira adequada à realidade. Assim como em todo trabalho ou função, uma pessoa precisa preencher requisitos mínimos para atuar como um gerente de forma satisfatória. Embora o campo de estudos de liderança esteja se afastando de uma perspectiva da liderança (e do desenvolvimento da liderança) exclusivamente calcada em termos de atributos, habilidades e traços do líder, as competências de liderança ainda são uma dimensão essencial do trabalho de desenvolvimento de liderança nas organizações. As competências de liderança precisam corresponder à estratégia e modelo de negócio da organização. Programas de desenvolvimento de liderança implementados de forma separada, isoladamente em relação ao ambiente de negócio da organização tendem a não resultar em mudanças profundas e duradouras, em termos de comportamentos de liderança. A liderança não é apenas uma qualidade que a priori certas pessoas têm e que pode ser mensurada. A liderança é exercida no cotidiano, em ambientes nos quais se estabelece uma relação de interdependência entre os que fazem parte dela, ou seja, a capacidade de liderar depende do contexto no qual é exercida e das inter-relações que se estabelecem entre todos os atores que interagem na organização e compartilham a sua cultura, o planejamento estratégico da empresa e outros fatores organizacionais e sociais implicados nesse cenário: líder-liderados, liderados-liderados, líder-líderes (pares e superiores hierárquicos). É justamente nas interações entre os atores que tecem a rede organizacional, que a liderança produz e é produzida. A real capacidade de mudança demandada na contemporaneidade está no conhecimento tácito, que é intangível, e este conhecimento só pode ser criado e processado nas relações entre os sujeitos. As organizações devem buscar desenvolver líderes e competências de liderança que sejam congruentes com as especificidades de seus negócios, dos desafios e objetivos a ele inerentes. Barrett & Beeson (2002), relatam cinco forças que vêm moldando as competências (requeridas) de liderança e indicam o futuro perfil de competências de liderança: 1) competição global, 2) tecnologia da informação, 3) a demanda por organizações flexíveis e ágeis, 4) equipes, 5) diferenciação das necessidades dos empregados. À luz dessas cinco forças, fica evidente que a grande maioria das organizações cada vez precisará menos de lideranças solitárias e heróicas e cada vez mais precisará contar com lideranças que sejam capazes de motivar, incentivar e coordenar abordagens baseadas em equipes. 25 Liderança e Motivação O ambiente de negócios é cada vez mais caracterizado por um alto grau de ambiguidade e incerteza, e muitos, senão todos, os aspectos de liderança terão como requerimento uma abordagem mais colaborativa. A tendência que se evidencia é que as lideranças efetivas serão aquelas capazes de encorajar ambientes que revelem o potencial do ativo pessoas das organizações. Neste sentido, Peter Senge (1999, p. 28) ensina que ao se conceber a liderança em uma “perspectiva ecológica”, podemos explicar a maneira como as ações dos diversos líderes interagem umas com as outras e com as forças em jogo no contexto, considerando a liderança como um fenômeno sistêmico, remetendo a uma relação orgânica e interdependente entre as formas de exercício dos poderes formal e informal. (SENGE, 1999) Competências de liderança ainda são importantes, mas vem sofrendo um ajuste agressivo em virtude das características do ambiente competitivo. Barrett & Beeson (2002), no relatório intitulado “Developing Business Leaders for 2010” (Desenvolvendo Líderes de Negócio para 2010) identificaram quatro papéis essenciais para enfrentar os desafios de negócios do futuro (que já é o presente! – o relatório foi elaborado em 2002): estrategista, gerente de mudanças, construtor de relacionamentos/network e desenvolvedor de talentos. Além desses papéis, também foram mapeados os principais descarriladores da carreira de gerentes: hesitação para correr riscos necessários no negócio, arrogância e falta de sensibilidade, estilo de liderança controlador e relutância em enfrentar questões difíceis no relacionamento com pessoas. Mudanças no contexto em que a liderança é praticada farão com que certas competências ganhem ainda mais evidência. Estas mudanças incluem: internacionalização, o papel da tecnologia e a investigação minuciosa e pública do caráter e integridade das lideranças, sobretudo de lideranças do poder público e de grandes corporações. Por exemplo, gerentes serão cada vez mais demandados em relação à fluência e maestria de processos de negócio internacionais, elaboração de estratégias em âmbito global, além de domínio de um complexo conjunto de interfaces externas à organização, em âmbito global, que inclui questões regulatórias, políticas etc. Quanto à tecnologia, exercer a liderança de forma virtual já é uma realidade, com equipes globais, compostas de pessoas espalhadas por diferentes países. Acrescente-se a isso, a velocidade de resposta que é requerida dos gestores, justamente por terem a seu dispor recursos tecnológicos. O impacto no processo de tomada de decisão é significativo, por isso vamos estudar um pouco sobre o processo decisório, ou a tomada de decisão como função do gestor. 2.3.1.1 Competência Diariamente desempenhamos papéis sociais variados (alunos, professores, chefes, empregados, pais, irmãos, atletas, colegas, amigos, empregadores etc.) e para o desempenho de cada um desses papéis acionamos um conjunto de características que têm origem no que estudamos formalmente na escola, no que aprendemos ao longo de 26 Liderança e Motivação nossa vida, na nossa forma de perceber a realidade, nos valores e crenças que nos influenciam e na nossa percepção diária do que funciona e do que não funciona em relação ao alcance de nossos objetivos, em cada seara da vida. Nós vivemos em sociedade, trabalhamos em sociedade e, sim, somos avaliados pelo nosso desempenho. Somos avaliados pela forma pela qual operacionalizamos o conjunto de características observáveis ou o repertório de competências que nos diferencia na execução de um trabalho e no desempenho de um papel, tanto na empresa quanto na família e/ou na sociedade. Durante as décadas de 70 e 80, autores americanos como Boyatzis, Spencer & Spencer e McClelland desenvolveram uma primeira abordagem na qual é definida a competência como o conjunto de qualificações que a pessoa tem para executar um trabalho com um nível superior de desempenho. Esta abordagem abre caminho para que as competências sejam previstas e estruturadas possibilitando a definição de um conjunto ideal de qualificações para que a pessoa desenvolva um desempenho superior em seu trabalho. Uma evolução desta primeira abordagem, também desenvolvida nos Estados Unidos, é vinculada a características particulares de cada organização e aos resultados esperados de determinada equipe ou tarefa. Ainda, nesta evolução
Compartilhar