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Art. 129 – Lesão Corporal Quanto ao elemento subjetivo Quanto à intensidade a) Dolosa simples (caput); a) Leve (caput); b) Dolosa qualificada (§§ 1º, 2º, e 3º); b) Grave ( §1º); c) Dolosa privilegiada (§§ 4º e 5º); c) Gravíssima (§2º); d) Culposa (§6º). d) Seguida de morte (§3º). Lesão corporal leve Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Sujeito ativo – Qualquer pessoa. Sujeito Passivo – Qualquer pessoa, exceto quanto as que provoquem aceleração do parto (Art. 129, §1º, IV), ou aborto (Art. 129, §2º, V, que será necessariamente uma gestante). Objeto jurídico – A integridade física. Objeto material – A pessoa que sofreu a lesão. Obs.: A lei penal não pune a auto lesão. Contudo, como destaca Bitencourt, se um menor, ébrio, inimputável, ou por qualquer condição encontre-se incapaz de entender ou querer, ao agir por determinação de outrem, provoque lesão em si mesmo, este que conduziu a lesão responderá por lesão corporal por autoria mediata, que é um meio de execução indireta. Elementos objetivos do tipo: Ofender – Lesar, fazer mal a alguém. Integridade corporal – Inteireza do corpo humano. Saúde – Normalidade das funções orgânicas, físicas e mentais do ser humano. Obs.: Não se admite, aqui, qualquer ofensa moral. Contudo, Mirabete entende que violência moral como sustos, ameaças, e outros meios que provoquem danos psicológicos diversos dos crime contra a honra, caracterizam a lesão corporal. Elemento subjetivo – Dolo ou culpa. Classificação – Crime comum; de forma livre; comissivo (como regra); instantâneo; material; de dano; unissubjetivo; plurissubsistente (como regra). Tentativa – É admissível. Consumação – Se dá com a ocorrência da ofensa à integridade física ou a saúde, em regra, exigindo-se laudo de exame de corpo de delito para confirmá-la. Obs.: É crime não só causar a lesão, como agravar lesão já existente. Obs2.: A pluralidade de lesões constitui a ocorrência de crime único. Obs3.: Há divergência doutrinária quanto a integridade física ser disponível ou indisponível (independe de consentimento). Há uma tendência moderna em considerá-lo relativamente disponível, desde que não ofenda interesses maiores e os bons costumes, aplicando-se inclusive o princípio da insignificância. Lesão corporal grave § 1º - Se resulta: I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos Lesão corporal grave Elementos objetivos do tipo 1. “incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias” Ocupação habitual – Qualquer atividade corporal costumeira, tradicional, não necessariamente ligada a trabalho (inclui o trabalho, o lazer, e qualquer atividade habitual, desde que lícita). Incapacidade por mais de 30 dias - É indispensável a realização de laudo pericial que confirme o comprometimento dessa atividade habitual por mais de 30 dias. Contudo, o exame pode ser suprido por prova testemunhal, conforma as regras expressas do Art. 168, §3º do CPP. Lesão corporal grave Elementos objetivos do tipo 2. “perigo de vida” O perigo precisa ser comprovado por laudo pericial, a simples ocorrência de lesão não indica, por si só, um risco à vida. Obs.: Aqui, por ser uma comprovação mais técnica, a possibilidade de suprir o laudo por prova testemunhal é mais frágil, sendo mais aceita aquela por médico que cuidou do paciente. Obs2.: Se em algum momento da ação, o agente, considerou a hipótese de matar a vítima, teremos um homicídio tentado. Lesão corporal grave Elementos objetivos do tipo 3. “debilidade permanente de membro, sentido ou função” Debilidade – Diminuição, redução, enfraquecimento da capacidade funcional de membro, sentido ou função. Permanente – Aqui não tem o sentido de perpetuidade, mas que seja atestada a incerteza da recuperação, ou que ocorra por tempo indeterminado. Membros – Braços, mãos, pernas, pés, dedos, etc. Sentidos – Visão, olfato, audição, paladar e tato. Função – É a ação própria de um órgão humano. Ex.: Função respiratória. Lesão corporal grave Elementos objetivos do tipo 4. “Aceleração de parto” Se trata de causar a antecipação do parto antes do prazo normal. É imprescindível que o agente tenha conhecimento (ou pudesse saber) da situação gravídica da vítima. Obs.: Se decorrente dessa lesão, o feto nasce morto, teremos lesão corporal gravíssima (Art. 129, §2º, V). Obs2.: Se a criança nasce com vida, mas vem morrer logo após há 3 correntes: 1ª corrente – Lesão corporal grave + homicídio culposo (Euclides da Silveira). 2ª corrente – Lesão corporal gravíssima, equipara ao art. 129, §2º, V (Hungria). 3ª corrente – Lesão corporal grave (Mirabete). Lesão corporal gravíssima § 2º - Se resulta: I - incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Lesão corporal gravíssima Elementos objetivos do tipo 1. “Incapacidade permanente para o trabalho” Incapacidade permanente – Inaptidão duradoura para exercer qualquer atividade laborativa lícita. Obs.: Entende-se de forma majoritária, que essa incapacidade, se refere a qualquer atividade ligada a anteriormente exercida. Se ele puder exercer atividade semelhante, não se configura a incapacidade. Para o trabalho – Aqui, diferente do parágrafo anterior, só se refere a atividade laboral. Lesão corporal gravíssima Elementos objetivos do tipo 2. “enfermidade incurável” A doutrina considera incurável: 1) A enfermidade que inexiste cura no estágio atual da medicina, ou; 2) Nos casos em que o reestabelecimento da saúde depende de intervenção cirúrgica arriscada ou de tratamento incerto. Obs.: Atendendo a proporcionalidade, não devemos aceitar a recusa imotivada da vítima em se submeter a tratamento que não ofereça riscos. Obs.: Não cabe revisão criminal caso a medicina evolua e descubra cura para a incapacidade, visto que não se tratar de alteração legal (lex mitior). Lesão corporal gravíssima Elementos objetivos do tipo 3. “perda ou inutilização de membro, sentido ou função” Perda ou inutilização – Mais grave que parágrafo anterior. Perda no sentido de amputação ou mutilação e inutilização no sentido de total inoperância. Obs.: Tratando-se de órgãos duplos, se perde um, e a função ainda permanece, temos debilidade. Se perde os dois, temos perda, se apenas um, mas perde a função temos inutilização. Ex.: Rins. Lesão corporal gravíssima Elementos objetivos do tipo 4. “deformidade permanente” Deformar de forma permanente– Alterar a forma original de forma duradoura. É a ocorrência de dano estético, aparente, considerável, irreparável e capaz de provocar impressão vexatória (desconforto a quem olha e constrangimento a vítima). Ex.: Cicatrizes de larga extensão, visíveis; mutilação do nariz, orelha; etc. Obs.: Essa qualificadora tem caráter residual. Lesão corporal gravíssima Elementos objetivos do tipo 5. “aborto” Trata-se de crime preterdoloso (dolo na lesão, culpa no abortamento). O agente deve ter conhecimento da situação gravídica da vítima. Obs.: Não se confunde com o Art. 127 (aumento de pena em aborto). Tipo subjetivo Resultado agravador Art. 127 Causar abortamento Lesão culposa Art. 129, §2º, V Causar lesão Abortamento culposo Lesão corporal seguida de morte § 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Também chamado de homicídio preterdoloso (dolo na lesão, culpa na morte). Obs.: Não é crime contra vida (falta animus necandi), o crime é de dano. Obs2.: Caso ele assuma o risco de produzir a morte (dolo eventual), responde por homicídio doloso. Obs3.: Não cabe tentativa, visto que temos culpa no evento morte. Deve ser comprovado o nexo causal entre a lesão e a morte. Obs.: Ocorrendo caso fortuito(fato imprevisível que gera efeitos inevitáveis), ou imprevisibilidade do resultado, responde apenas pelas lesões corporais simples. Diminuição da pena (Privilegiada) § 4º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 1. “relevante valor social ou moral” - Algo importante ou de elevada qualidade. · Social – Envolve interesses de ordem coletiva; · Moral – Envolve interesses particulares. 2. “sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima” · Domínio – Perda do autocontrole pela influência da violenta emoção. · Violenta emoção – Intensa excitação de um sentimento (amor, ódio). · Seguida a injusta provocação da vítima – Foi provocado sem motivo. Sofreu uma agressão sem causa aparente. Substituição da pena § 5º - O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Inciso I – Ocorre nas hipóteses do §4º, decorrendo apenas lesões leves. Inciso II – Se decorrem de lesões recíprocas, desde que não sejam consideradas legítima defesa. Ambos se agridem de injustamente, sem motivo. Ex.: Briga. Lesão corporal culposa § 6º - Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. Aquela cometida por imprudência, negligência ou imperícia. Obs.: O grau das lesões sofridas não interfere no tipo, mas na fixação da pena base. Obs2.: O STJ já reconheceu o princípio da insignificância nas lesões levíssimas. Obs3.: Lesão que se dê na direção de veículo automotor será punida pelo CTB. Perdão judicial § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do Art. 121. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo (lesão corporal culposa), o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Ex.: Acidente em que mãe e filho sofreram lesões. Aumento de pena § 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código. (Alterado pela L-012.720-2012) § 4º - No homicídio culposo (lesão corporal culposa), a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso (lesão corporal dolosa) o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 6º - A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Violência doméstica § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Alterada pela lei 11.340/06) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. Objetivo – Assegurar a tranquilidade no lar e reduzir a violência doméstica. · Apenas contra as pessoas descritas no tipo. · Com quem conviva, ou tenha convivido. Obs.: A interpretação ao termo “tenha convivido” deve ser restritiva, no sentido de proximidade do lapso temporal. · Qualificadora da lesão corporal leve (Art. 129, caput) · Por isso, deixa de ser crime de menor potencial ofensivo (pena máxima não superior a dois anos). Violência doméstica § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). · Presentes as circunstâncias do parágrafo anterior, somada a ocorrência de lesão corporal grave (§§ 1º e 2º) ou seguida de morte (§3º), aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). Violência doméstica § 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. O conceito de pessoa portadora de deficiência é encontrado nos arts. 3º e 4º do Decreto 3.298/99. Causa de aumento de pena quando a lesão é praticada contra integrantes do sistema prisional e agentes de segurança pública § 12º Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015). Lesão corporal qualificada em razão da condição do sexo feminino por parte da vítima § 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) Ação penal Regra – Ação penal pública incondicionada. Exceção – Ação penal pública condicionada a representação – Lesão corporal leve (Art. 129, caput); Lesão corporal culposa (Art. 129, §6). · Nos casos decorrentes de violência doméstica ou familiar Se a vítima for homem – Ação penal pública condicionada a representação nos §§ 9º e 11, pois mesmo não sendo de menor potencial ofensivo, permanece de natureza leve. Será pública incondicionada no caso do § 10. Se a vítima for mulher – Na hipótese do § 10, pública incondicionada. Nas hipóteses do §§ 9º e 11, temos duas correntes segundo STJ e STF: 1ª corrente – Ação penal pública condicionada. 2ª corrente – Ação penal pública incondicionada. Entendimento mais atual. Questão polêmica A cirurgia de mudança de sexo como lesão corporal Resolução nº 1.652/02 do Conselho Federal de Medicina – Referenda a cirurgia de alteração de sexo, de pessoa classificada como transexual, como fato materialmente atípico. Entende NUCCI, autorizada no campo materialmente conhecedor da necessidade da alteração do sexo, que é a medicina, cabe ao ordenamento se adaptar a essa situação, visto que a proteção a integridade física não se justifica em causar um ônus psicológico muito maior.
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