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PAULO ALTMAN ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA AVANÇADA Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 CUSTO DE CAPITAL ��������������������������������������� 5 ESTRUTURA DE CAPITAL DA EMPRESA ����� 11 CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL ���������������21 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������34 2 INTRODUÇÃO A principal razão de existir de uma empresa é ma- ximizar os investimentos que nela são realizados para criar valor e potencializar a riqueza de seus proprietários. Neste módulo, você compreenderá que o custo de capital é uma ferramenta financeira, contábil e econômica que envolve os custos de oportunidade dos investimentos. Fundamentalmente, o custo de capital de um projeto de investimento é o custo da oportunidade e aplicar determinado valor que viabilize a realização do projeto. Melhores decisões financeiras são tomadas por meio desse raciocínio essencial referente ao uso de capital. Qualquer negócio ou projeto empresarial necessita de fundos para investimento. Isso é a essência do início e expansão das empresas. Ao analisar e decidir sobre diferentes fontes de investimento, o gerente financeiro realizará a estrutura de capital da empresa. Nessa estrutura de capital, os recursos próprios e de terceiros são considerados como fontes de operacionalização e desenvolvimento da empresa. Portanto, uma importante questão para os resultados empresariais que você terá a oportunidade de entender é a relação entre fontes de capital próprio e o uso de financiamentos e empréstimos. 3 Por fim, a taxa de retorno necessária para que os projetos de investimento sejam realizados será abordada no final deste módulo. Você, então, irá determinar como a ponderação entre capital pró- prio e de terceiros e a taxa de retorno esperada em cada tipo de fonte de financiamento influenciam em um custo médio do capital utilizado como base para determinar a viabilidade financeira dos investimentos. 4 CUSTO DE CAPITAL O custo do capital é o retorno esperado por in- vestidores e financiadores de capital para um projeto de investimento. No contexto das finanças empresariais, investidores integralizam capital no Patrimônio Líquido da empresa por meio de inves- timentos diretos ou compra de ações. Por sua vez, financiadores de investimentos de longo prazo efetuam empréstimos que compõem o Passivo Não Circulante. Os objetivos de ambos são iden- tificados como remuneração de seus respectivos investimentos (capitais). Portanto, investidores e financiadores de projetos de investimento empresa- riais esperam um retorno sobre seus investimentos. Esse retorno esperado chama-se custo de capital. Acesse o Podcast 1 em módulos O custo de capital representa uma fronteira estabe- lecida por uma taxa (também chamada de taxa de desconto) que determina os projetos considerados viáveis e os projetos inviáveis do ponto de vista eco- nômico financeiro. Oportunidades de investimento que superam o custo de capital são reconhecidas como viáveis e podem, mediante outros critérios que serão vistos mais adiante, compor o orçamento de capital da empresa. Assim, você pode entender o custo de capital como uma taxa mínima exigida como retorno sobre os investimentos. Na perspectiva dos investidores, o custo de capital é uma ferramenta ou um marco que estabelece 5 um padrão de desempenho para os resultados da empresa, a fim de garantir resultados e maximizar seu valor. Consequentemente, o custo de capital exerce um papel de grande relevância no processo de tomada de decisão da gestão financeira. Con- sidere os seguintes objetivos empresariais, com o uso do conceito de custo de capital: Maximizar o valor da empresa: custo de capital total é uma ponderação do custo de capital próprio e do custo de capital de terceiros. Com vistas à maximização do valor da empresa, gerentes finan- ceiros procuram determinar o melhor equilíbrio entre esses dois tipos de origem de recursos para os projetos de investimento. Decidir sobre orçamento de capital: determinar o custo de capital correto significa aprovar e viabi- lizar projetos de investimentos que irão gerar os resultados de criação de valor esperados e esta- belecidos no planejamento estratégico. Gerenciar capital de giro: como o valor do inves- timento em projetos também envolve o capital de giro para sua operação, o custo de capital indica os critérios que devem ser estabelecidos para ge- renciar os recebíveis (clientes a pagar) e o custo financeiro dos estoques. Determinar a estrutura de capital: os gerentes financeiros e analistas projetam e procuram es- tabelecer uma estrutura de capital ideal para a empresa. Como exposto acima, a estrutura de 6 capital é a proporção de passivo (dívida) e PL (patrimônio líquido). Procura-se minimizar o custo total do capital para que o valor criado (riqueza) pela empresa seja maximizado. Avaliar o desempenho financeiro: proprietários e acionistas avaliam o desempenho dos executivos da empresa por meio da comparação entre o re- torno realizado pelos projetos de investimento e o custo total do capital. O que é “custo de capital”? Custo de capital é o retorno necessário para fazer um projeto de orçamento de capital, como a construção de uma nova fábrica, valer a pena. Quando analistas e investidores discutem o custo do capital, eles normal- mente se referem à média ponderada do custo da dívida e do custo do patrimônio de uma empresa combinados. A métrica de custo de capital é usada: pelas empresas internamente para julgar se um projeto de capital vale o gasto de recursos; e por investidores que o utilizam para determinar se um investimento vale o risco, em comparação ao retorno. O custo do capital depende do modo de financiamento utilizado. Refere-se ao custo do patrimônio líquido, se o negócio for financiado exclusi- vamente por meio do patrimônio líquido, ou ao custo da dívida, se for financiado exclusivamente por meio da dívida. Muitas empresas usam uma combinação de dívida e patrimônio para financiar seus negócios e, para essas empresas, o custo total de capital é derivado do FIQUE ATENTO 7 custo médio ponderado de todas as fontes de capital, conhecido como custo médio ponderado de capital (WACC). Cost of Capital Definition. In: Investopedia. Disponível em: https://www.investopedia.com/terms/c/costofcapital.asp O desempenho e a capacidade da empresa em gerar riqueza para seus proprietários são finan- ceiramente medidos e comparados por meio do custo de capital. Projetos de investimento somente devem ser aprovados pela gestão financeira se acusarem, pelo menos, uma taxa de retorno maior que o custo de capital. Não obstante, a contabili- dade e a economia também utilizam o conceito. Uma outra nomenclatura que você precisa saber e dominar acerca do custo de capital é o custo de oportunidade. Em economia, o custo de oportunidade de um in- vestimento significa o valor da alternativa com o valor mais alto que se aproxime desse investimento. Se, por exemplo, você gasta tempo e dinheiro indo ao cinema, não pode gastar esse tempo em casa lendo um livro e não pode gastar o dinheiro em outra coisa. Se a sua melhor alternativa para assistir ao filme for ler o livro, o custo de oportunidade para assistir ao filme é o dinheiro gasto mais o prazer que você renuncia ao não ler o livro. (HENDERSON, 2020). 8 https://www.investopedia.com/terms/c/costofcapital.asp Nos termos mais contábeis, o custo de capital é o custo da dívida de longo prazo (Passivo Não Circulante) após impostos, ponderado com o custo do Patrimônio Líquido. Reflita sobre este trecho do artigo Cost of Capital: “A estimativa do custo de capital é uma tarefa desafiadora. O custo de capital não é observável, mas deve ser estima- do. Chegar a uma estimativa de custo de capital requer uma série de premissas e estimativas. Outro desafio é que o custo de capitalaplicado apropriadamente a um investimento específico depende das características desse investimento: quanto mais arriscado o fluxo de caixa do investimento, maior o seu custo de capital. Na realidade, uma empresa deve estimar custos de capital específicos do projeto. O que geralmente é feito, no entanto, é estimar o custo de capital da empresa como um todo e, em seguida, ajustar esse custo corporativo geral de capital para cima ou para baixo para refletir o risco do projeto contemplado em relação ao projeto médio da empresa.” Disponível em: https://www.cfainstitute.org/en/membership/pro- fessional-development/refresher-readings/2020/ cost-capital Mas como o custo de capital funciona na gestão financeira? REFLITA 9 https://www.cfainstitute.org/en/membership/professional-development/refresher-readings/2020/cost-capital https://www.cfainstitute.org/en/membership/professional-development/refresher-readings/2020/cost-capital https://www.cfainstitute.org/en/membership/professional-development/refresher-readings/2020/cost-capital A determinação do custo de capital é, em última análise, realizada pelo mercado. Isso acontece porque, na prática, ele significa o nível de risco que os investidores percebem. Como a relação decisiva é a de risco e retorno, dois investimentos de igual retorno serão comparados pelo grau de risco que oferecem. Investidores (o mercado) escolhem, nesse caso, o que oferecer menor risco. Assuma que determinada empresa considere renovar suas instalações de produção. A reforma custará $ 500.000 e a economia será de $ 100.000 por ano, nos próximos cinco anos. Existe um risco que essa projeção não ocorra e a economia es- perada não se realize. A empresa tem a opção de aplicar os $ 500.000 em títulos de outra empresa que oferecem o mesmo risco e retornam 12% a.a. A reforma projeta 20% de retorno (100.000 / 500.000) e é uma melhor alternativa para o capital de empresa porque projeta um retorno maior com menor risco. Esse retorno esperado para o investidor (20%) é o custo que a empresa tem ao realizar o inves- timento, pois o investidor vai absorver o ganho que ele projetou. Como você estudará adiante, o custo total de capital de uma empresa é uma combinação de retornos exigidos para compensar credores e acionistas. Isso é denominado custo médio ponderado de capital e define-se por meio dos custos médios ponderados de patrimônio e dívida da empresa. 10 ESTRUTURA DE CAPITAL DA EMPRESA A estrutura de capital indica a origem dos recursos da empresa que são aplicados nos ativos necessá- rios para as operações da empresa. Dessa maneira, o crescimento da empresa por meio de projetos de investimento se inicia numa estrutura de finan- ciamento que garante a obtenção dos recursos pretendidos. Essa estrutura de financiamento é composta por empréstimos, ou seja, dívidas no passivo da empresa, e/ou por meio do capital dos acionistas, isto é, recursos próprios indicados no Patrimônio Líquido. Também é importante lembrar que o capital operacional relativo à necessidade de caixa, estoques e prazos para clientes efetuarem pagamentos (capital de giro) também são obtidos por meio de dívidas de curto prazo ou investimentos dos sócios proprietários. Estrutura de capital é, portanto, uma parte percentual de recursos em dinheiro que é empregado como recurso (capital) para a empresa funcionar, por categoria de origem. Assim, você pode entender que uma parte do capital da empresa é próprio, por exemplo, 25%. Outra parte é originada de emprés- timo, ou seja, o capital é de terceiros, por exemplo, 75%. Ou seja, há duas categorias de capital: dos proprietários (sócios) e de dívida (terceiros). 11 “A decisão mais importante que uma empresa toma na busca de maximizar seu valor é, normalmente, a deci- são sobre quais produtos fabricar e/ou quais serviços oferecer. A decisão sobre como financiar investimentos (por exemplo, em fábricas e equipamentos), a chamada decisão de estrutura de capital, é frequentemente vista como menos importante, até secundária.” Capital Structure. In: Chartered Financial Analyst Insti- tute. Disponível em: https://www.cfainstitute.org/en/membership/pro- fessional-development/refresher-readings/2020/ capital-structure O balanço patrimonial é o demonstrativo financeiro que informa a origem e a aplicação de recursos da empresa. O lado do passivo e patrimônio líquido indicam a origem dos recursos, enquanto o ativo se refere às aplicações. Assim, você pode identificar a estrutura de capital (dívida e patrimônio) por meio do balanço. É importante saber identificar que, no Passivo Circulante, você encontrará a origem de recursos operacionais (capital de giro) financiados por terceiros. No Passivo Não Circulante você identificará as dívidas de longo prazo que fazem parte da origem de recursos para imóveis e equi- pamentos por meio de empréstimos. Por fim, no Patrimônio Líquido, você será capaz de identificar SAIBA MAIS 12 https://www.cfainstitute.org/en/membership/professional-development/refresher-readings/2020/capital-structure https://www.cfainstitute.org/en/membership/professional-development/refresher-readings/2020/capital-structure https://www.cfainstitute.org/en/membership/professional-development/refresher-readings/2020/capital-structure os recursos próprios (originados por meio dos proprietários da empresa). A análise realizada na estrutura de capital é relativa à parte da origem dos recursos que são de terceiros em relação à parte dos recursos que têm origem nos proprietários ou sócios da empresa. Essa relação é dada por Passivo dividido pelo Patrimônio Líquido, ou seja, ( P / PL ). A relação Passivo / Patrimônio Líquido revela o quanto da origem dos recursos é financiada por terceiros. Observe: Passivo = $ 600�000 Patrimônio Líquido = $ 400�000 Passivo / Patrimônio Líquido = 600�000 / 400�000 = 1,5 Interpretação: para cada $ 1 investido pelos proprie- tários da empresa $ 1,5 foram adicionalmente obtidos por empréstimo� Quanto maior for esse número, maior é a partici- pação de dívida e mais arriscada a empresa se torna. Por outro lado, a fonte de financiamento de terceiros é uma importante estratégia para acelerar o crescimento da empresa. Ainda, as dívidas tam- bém se traduzem em vantagens fiscais porque são deduzidas de imposto. Os juros pagos provenientes de dívidas reduzem o imposto de renda a pagar. Por exemplo, considere uma empresa que apre- senta lucro $ 100.000 e paga 40% de imposto 13 sobre o lucro. Essa empresa pagaria $ 40.000 de impostos. Agora, considere que essa empresa fez empréstimos e paga $ 10.000 de juros. Seu lucro passa a ser de $ 90.000 e seus impostos são re- duzidos para $ 36.000. Essa redução precisa ser considerada para os cálculos de custo de capital que você estudará na próxima seção. O capital de dívida apresenta diversos tipos. Ob- serve alguns exemplos: y Debêntures de longo prazo: empresas listadas em bolsa podem emitir debêntures e conseguir empréstimos a taxas menores e maiores prazos que normalmente os bancos oferecem. y Financiamento de investimentos (longo prazo e capital de giro): no Brasil, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) oferece créditos específicos para fomento de negócios com taxas competitivas e prazos de carência para pagamento, no caso de empréstimo de longo prazo. y Fornecedores: o prazo para pagamento de fornecedores é uma forma de financiamento do capital de giro, pois a empresa pode obter benefício de receber do cliente e pagar o fornecedor depois. y Crédito bancário: os bancos múltiplos oferecem uma diversidade de crédito para o curto prazo e linhas de financiamento no longo prazo. Eles tam- bém podem atuar como representantes do BNDES. 14 O patrimônio líquido é geralmente mais caro para a empresa, pois os proprietários tendem a exigir um retorno maior que os credores. A diferença é a não exigência legal de reembolso das expectativas de retorno dossócios. Já as dívidas do passivo são exigíveis legalmente. Taxas de juros baixas favorecem pedir empréstimos. Já o aumento das taxas de juros inibe os sócios de realizarem muitos empréstimos. Normalmente, a origem de recursos próprios pode ser identificada no Patrimônio Líquido nestas duas categorias: y Capital social: o valor integralizado pelos sócios na origem do empreendimento. y Lucros retidos: valores de resultado das opera- ções que permanecem na empresa para financiar sua expansão. Acesse o Podcast 2 em módulos De fato, há vantagens e desvantagens em cada uma das categorias de origem de recursos para empresas que formam a estrutura do capital. Isso se aplica para qualquer tamanho de empresa. O importante é buscar o equilíbrio entre capital pró- prio e capital de terceiros de forma a balancear risco com retorno (rentabilidade) do negócio. A questão é tomar decisões de financiamentos e 15 empréstimos que ajudem no crescimento sem colocar em risco os negócios. Otimizar a estrutura de capital da empresa significa buscar alcançar dois objetivos: maximizar o valor de mercado da empresa e minimizar o custo do seu capital. Como você observou acima, financiar a dívida pode ser benéfico porque é um menor custo para empresa (os proprietários tendem a pedir maior retorno que os credores) e reduz imposto a pagar. Portanto, é preciso encontrar um equilíbrio entre os benefícios da dívida e os riscos que ela acarreta. O aumento de risco, por sua vez, deriva em maiores custos no capital próprio, pois os investidores irão pedir maior retorno mediante maior risco. Reflita sobre este comparativo do artigo What is Capital Structure? Prós e contras do patrimônio: - Nenhum pagamento de juros - Nenhum pagamento fixo obrigatório (os dividendos são discricionários) - Sem datas de vencimento (sem reembolso de capital) - Possui propriedade e controle sobre os negócios REFLITA 16 - Tem direito a voto (normalmente) - Tem um alto custo implícito de capital - Espera uma alta taxa de retorno (dividendos e valori- zação do capital) - Última reivindicação sobre os ativos da empresa em caso de liquidação - Oferece flexibilidade operacional máxima Prós e contras da dívida: - Tem pagamentos de juros (normalmente) - Tem um cronograma de pagamento fixo - Primeira reivindicação sobre os ativos da empresa em caso de liquidação - Requer convênios e métricas de desempenho financeiro que devem ser atendidas - Contém restrições à flexibilidade operacional - Tem um custo menor que o patrimônio líquido - Espera uma taxa de retorno menor do que o patrimônio líquido Disponível em: https://corporatefinanceinstitute.com/resources/ knowledge/finance/capital-structure-overview Minimizar o custo de capital significa viabilizar mais investimentos para empresa e reduzir a exigência de retorno sobre esse capital. Quanto menor o custo de capital, mais valor a empresa 17 https://corporatefinanceinstitute.com/resources/knowledge/finance/capital-structure-overview/ https://corporatefinanceinstitute.com/resources/knowledge/finance/capital-structure-overview/ tende a criar para seus proprietários e, portanto, há uma maximização da riqueza. Como pode ser complexo identificar a estrutura de capital ideal e praticamente impossível deter- minar uma estrutura de capital perfeita, gerentes e analistas financeiros geralmente tentam estabe- lecer objetivos mais flexíveis. Na verdade, a maior dificuldade é estabelecer projeções sobre como o mercado (investidores e credores) irá reagir às decisões de financiamento que os gerentes finan- ceiros executam. Uma empresa que apresente boas oportunidades de negócios futuros deve tentar aumentar a parti- cipação do capital de dívida em vez de patrimônio, isso significa que atores externos à organização estão dispostos a financiar seus projetos, portanto, assume-se que sejam bons projetos. Essas sina- lizações de dívidas são, muitas vezes, positivas e atuam como indicadores de que a empresa apresenta boas projeções de futuro. Todavia, um balanço forte pode ser definido por níveis de dívida baixos e níveis de patrimônio alto. A relação dívida / patrimônio é geralmente ana- lisada por meio de comparação com o setor. A referência é sempre setorial porque assume-se que as empresas tendem a trabalhar em uma estrutu- ra de capital ideal. Consequentemente, gestores 18 financeiros buscam operar a estrutura de capital na média do setor e não se afastar dela. Os bancos também operam como referência e realizam análises setoriais para determinar o perfil de crédito das empresas de acordo com a relação dívida / patrimônio. Mas, infelizmente, não há uma fórmula mágica dessa relação entre dívida e patrimônio. É extremamente ousado estabelecer uma orientação determinística para as empresas alcançarem uma estrutura de capital perfeita. O importante é manter a estrutura de capital para- metrizada pelo setor e considerar o tipo de linha de negócios e o ciclo de vida da empresa (está- gio inicial até uma empresa madura). O contexto externo também é influenciador. Oportunidades e ameaças no ambiente, regulação e taxas de juros do país são alguns desses fatores. O especialista Paulo Sérgio Dortas, no artigo “Es- trutura ótima de capital: como chegar lá?”, explica quanto se pode tomar de dívida com bancos para ajudar a empresa a crescer, mas sem comprometer a operação; e destaca os seguintes fatores: y Nível de maturidade: empresas em fase inicial de operação, startup’s, tendem a se financiar com recursos do próprio empreendedor, já que, nessa fase, o principal foco é a sobrevivência do negó- cio, não havendo como oferecer garantias para o pagamento dos juros e, principal, de uma eventual 19 dívida. Empresas com um nível maior de maturi- dade tendem a ter um acesso maior ao capital de terceiros, já que há um histórico a ser apresentado, servindo de base, inclusive, para a determinação de um fluxo de caixa para pagamento da dívida. Ainda nessa fase, empresas que possuem um Plano de Negócios focado na expansão das atividades podem ainda atrair terceiros interessados em participar dessa expansão e consequentes riscos. Fundos de Private Equity ou mesmo operações no mercado de capitais, abertura de capital ou emissão de de- bêntures, aparecem como fortes candidatos para financiar Planos de Negócios bem estruturados. y Ramo de atuação: empreendimentos focados em negócios de risco internet, por exemplo, tendem a ter um custo de captação maior do que aqueles focados em setores menos arriscados e já con- solidados, como serviços e produtos fortemente demandados. y Rentabilidade: empresas que tem elevado nível de rentabilidade sobre o capital investido geralmente são mais bem vistas pelos agentes financiadores do que aquelas que apresentam baixo retorno. Para a correta avaliação da rentabilidade da empresa deve-se levar em consideração vários aspectos, dentre eles o EBITDA gerado. O termo EBITDA representa a rentabilidade, lucro líquido, ajustado pelo imposto de renda e contribuição social e pela depreciação e amortização. 20 CÁLCULO DO CUSTO DE CAPITAL O cálculo do custo de capital de uma empresa é realizado por meio do Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ou, em inglês, Weighted Average Cost of Capital (WACC). É importante que você sai- ba o termo em inglês, pois é comumente utilizado na prática profissional. O processo é simples, mas envolve algumas etapas que requerem atenção. As categorias de origem de recursos (próprios – PL e terceiros – Passivo) da empresa são ponderadas. Portanto, o WACC considera a média ponderada entre o capital próprio e o capital da dívida. É preciso identificar os elementos do Balanço Patrimonial que representam a dívida e o patrimônio, ou seja, para uma empresa sociedade anônima com oferta pública de ações é necessário analisar o valor em ações ordinárias, ações preferenciais, debêntures e outros títulos de dívida. Observe que o WACC éum elemento estratégico de decisão sobre a origem dos recursos a serem aplicados na empresa. Essa estratégia significa decidir sobre a combinação de recursos próprios e de terceiros. Também é importante notar que empresas mais recentes apresentam dificuldade de estabelecer garantias para obter financiamen- to e tendem a precisar utilizar, majoritariamente, 21 recursos próprios. Essas empresas tendem tam- bém a ter um custo de capital total mais alto que empresas tradicionais porque apresentam maior risco por não apresentar um histórico mais sólido. Para calcular o WACC inicie pelo cálculo do custo da dívida para a empresa. Considere o total dos valores emprestados pela empresa. Em seguida, agregue e examine todas as taxas de juros que a empresa paga no momento. Por exemplo, é comum empresas operarem com linhas de crédito. Consi- dere que, na média, determinada empresa opere linhas de crédito a 40% ao ano. Os empréstimos a longo prazo efetuados por esta mesma empresa são realizados a uma taxa de 12% ao ano e títulos (debêntures) são emitidos com taxa de 8% ao ano. É preciso observar, também, que as dívidas são deduzíveis de impostos porque o IR (Imposto de Renda e afins) é calculado após o pagamento de juros. Portanto: Custo da dívida = custo médio de juros da dívida x (1 – taxa de imposto) No exemplo acima, calcule: (40% + 12% + 8%) / 3 = 20%. Então, multiplique 20% x (1 – 30%) = 14%. Trinta por cento é o valor hipotético para o IR pago pela empresa. O custo da dívida calculado nesse método é, por- tanto, simplesmente a média aritmética das taxas 22 de financiamento pagas pela empresa. Por ser deduzida de impostos, o componente (1 – IR%) retira a taxa do imposto no cálculo. Esse processo é direto e pode ser utilizado para determinar o custo médio da dívida de um projeto de investimento de forma antecipada, ou seja, sem saber de forma prévia qual será a proporção de cada recurso (próprio ou terceiro e que tipo de dívida). O que é uma linha de crédito? A linha de crédito é um produto disponível no sistema financeiro que difere do empréstimo comum. Ela fun- ciona como um crédito pré-aprovado. Por exemplo, se a empresa obtiver uma linha de crédito de $ 50.000 em determinado banco, isso significa que terá esse valor disponível para usar como empréstimo. As taxas e os prazos de pagamento são também previamente estabelecidos. A vantagem da linha de crédito é que a empresa não necessita negociar vários empréstimos menores. Ela pode usar ou não sua linha de crédito e somente pagará prestações sobre o valor que, efetiva- mente, utilizar. Outra maneira de calcular o custo da dívida é por meio exclusivamente dos demonstrativos finan- FIQUE ATENTO 23 ceiros (Demonstração do Resultado do Exercício e Balanço Patrimonial) é realizado da seguinte forma: Custo da dívida = $ despesa com juros / $ dívida total Você encontrará o item despesas com juros no DRE e a dívida total somando Passivo Circulante e Passivo Não Circulante (BP – balanço patrimonial). Esse processo é útil para considerar o histórico de origem de recursos de forma ponderada e para analistas externos à empresa efetuarem o cálculo do custo da dívida. Considere este exemplo: Despesas com juros (DRE) = 5.000,00 Passivo Circulante (BP) = 10.000,00 Passivo Não Circulante = 15.000,00 Custo da dívida = 5.000 / (10.000 + 15.000) = 0,25 = 25% Considere, agora, o cálculo do custo de capital do Patrimônio Líquido. A taxa de retorno demandada por investidores no Patrimônio Líquido não é esta- belecida de forma direta e clara, como as taxas de empréstimos. O método de definição do custo e capital de recursos próprios é definido pelo CAPM (Capital Asset Pricing Model). O CAPM é um modelo de precificação de ativos de capital. A fórmula do CAPM é apresentada abaixo: Custo do capital próprio = Rf + B (Rm – Rf) 24 Onde: Rf = taxa de retorno livre de risco (risk free rate of return) Rm = taxa de retorno do mercado (market rate of return) B = beta (estimativa de risco) Conforme indicado acima, o beta é uma medida de risco. Essa medida é obtida por meio da relação estatística da variação dos preços das ações de uma dada empresa listada em bolsa de valores com o mercado, como um todo, representada pelo índice do mercado. No caso do Brasil, o indicador para o mercado é o Índice Bovespa. O beta médio do setor das empresas listadas em bolsa é utilizado como referência e determina o beta das empresas do mesmo setor que não estão presentes na bolsa de valores. “Beta mede a volatilidade das ações da empresa em comparação com o mercado. Quanto maior o beta, mais arriscada é a ação. Se uma ação subir e cair próximo à mesma taxa que o mercado, o beta será próximo de 1. Se tende a subir e cair mais do que o mercado, pode ter um beta mais próximo de 1,5. E, se não flutuar tanto quanto o mercado, pode estar mais perto de 0,75.” SAIBA MAIS 25 Finding the cost of Equity, In: Investopedia. Disponível em: https://www.investopedia.com/terms/c/costofcapital.asp A taxa de retorno do mercado (Rm) é obtida pelo retorno médio do mercado em um período igual ao projeto de investimento. Assim, se o projeto de investimento contempla um horizonte de tempo futuro de cinco anos, o retorno esperado deve ser obtido pela média de variação do índice de mer- cado no mesmo período. Por exemplo, considere hipoteticamente que o Índice Bovespa variou, em média, 15% ao ano nos últimos cinco anos. Você aplicará essa taxa de retorno como a taxa Rm para o modelo CAPM. A taxa livre de risco (Rf) apresenta como parâmetro investimento com risco próximo de zero. No Brasil, as referências usadas são a taxa SELIC, o CDI e o tesouro direto. Há debate sobre qual indicador é o melhor a ser usado. Evidências de pesquisa recente indicam que o CDI pode ser o indicador de melhor aderência para a taxa Rf. Agora, considere este exemplo: suponha que o beta da empresa seja 1,5, ou seja, é uma empresa considerada de alto risco. A taxa livre de risco é 5% ao ano e o retorno médio do mercado é de 15% ao ano. O custo do capital próprio pelo método CAPM seria: 26 https://www.investopedia.com/terms/c/costofcapital.asp Custo do capital próprio = 5% + 1,5 (15% – 5%) = 20% Seguindo o exemplo, suponha, agora, uma empresa com beta de 0,75, ou seja, considerada de baixo risco. As outras variáveis permanecendo constan- tes, resultam no seguinte custo de capital: Custo do capital próprio = 5% + 0,75 (15% – 5%) = 12,5% Observe que a diferença de nível de risco (volati- lidade) representa grande diferença no custo de capital. Em outras palavras, o maior risco determina maior demanda por retorno. Vamos supor que o beta da empresa seja 1, que use 2% para a taxa livre de risco e 11% para a taxa de mercado, então, você obterá o seguinte cálculo: 2% + 1 (11% – 2%) = 11% Observe o quão importante o beta pode ser. Por exemplo, se o beta da empresa fosse 2 em vez de 1, o custo se o patrimônio fosse de 20% em vez de 11%. Isso é bastante diferente. Agora, o próximo passo é tomar suas duas por- centagens – o custo da dívida (4,3% no exemplo acima) e o custo do patrimônio (11%) – e ponde- rá-las de acordo com o percentual da dívida e do patrimônio que a empresa usa para financiar seus investimentos e operações. Vamos supor que a empresa use 30% da dívida e 70% do patrimônio 27 para administrar seus negócios. Então, você faz o seguinte cálculo final: (0,3 x 4,3%) + (0,7 x 11%) = 8,99% Esse é o WACC da empresa. Lembre-se de que para calcular o WACC é preciso estabelecer o custo do Patrimônio Líquido e o custo do Passivo, pois eles formam a estrutura de capital da empresa. O custo médio ponderado do capital (WACC) é um componente fundamental para a avaliação de investimentos, que será abordada no próximo módulo desta disciplina. Portanto, é essencial que você pratique a aprenda a calcular o WACC. Observe o exemplo abaixo. Suponha que determinada empresa precise anga- riar $100.000 em capital para comprar e operar um equipamento necessário para expandir seus negócios. A empresa levanta os primeiros $ 60.000 por meio dos sócios proprietários da empresa. Os sócios esperam um retorno de 6% a.a. em seus investimentos. Portanto, o custo do patrimônio líquido é de 6% a�a. Para levantar os outros $ 40.000 em capital a empresa recorre a um financiamento de longo prazo pela taxa anual de 5%. Portanto, o custo da dívida é de 5% a�a� O imposto de renda pago pela empresa é 35%. 28 WACC = (($ 60.000 / $ 100.000) * 0,06) + [(($ 40.000 / $ 100.000) * 0,05) * (1–0,35))] = 0,049 = 4,9% O custo médio ponderado de capital (CPMC ou WACC) dessa empresa é de 4,9%. Ou seja, se você já tiver os valores do custo de capital próprio e do custo de capital de terceiros, a fórmula é bem direta: WACC = ((valor capital próprio / valor total) * % capital próprio) + [((valor capital de terceiros / valor total) * % capital de terceiros) * (1 – IR))] Mas, lembre-se: para obter o custo do capital próprio é preciso que você saiba aplicar o modelo CAPM e para obter o custo da dívida é preciso consultar as várias fontes de financiamento e realizar o cálculo da média simples, ou consultar os demonstrativos da empresa. Considere este último exemplo como uma revisão geral. Determinada empresa atua em um setor que o beta (B) é de 1,5. A taxa livre de risco (Rf) é de 4% e a taxa de retorno do mercado é de 10%. O valor do Patrimônio Líquido dessa empresa é de $ 200.000. O passivo dessa empresa é composto por dívidas de longo prazo ao custo 4% e de curto prazo em 8% de taxas anuais de juros. Imposto de renda sobre lucro em 40%. O total do passivo é de $ 400.000. 29 O WACC para um projeto de investimento não especificado seria: Calcular custo da dívida da empresa: (4% + 8%) / 2 = 6% Retirar imposto de renda: 6% * (1 – 0,4) = 3,6% Custo da dívida sem imposto: 3,6% Calcular custo do capital próprio: 4% + 1,5 * (10% – 4%) = 13% Calcular o WACC: Participação da dívida na estrutura de capital: 400.000 / (200.000 + 400.000) = 66,7% Participação do capital próprio na estrutura de capital: 200.000 / (200.000 + 400.000) = 33,3% WACC = (3,6 * 0,667) + (13 * 0,333) = 2,4 + 4,3 = 6,7% O custo médio ponderado de capital (CMPC ou WACC) é basicamente uma taxa média de retorno que uma empresa deve pagar pelos investimentos nela realizados. Para que projetos de investimento sejam viáveis eles devem, pelo menos, cobrir o WACC e, assim, a empresa será capaz de remunerar as fontes de recursos dos investimentos. 30 Valor é criado quando uma empresa obtém retornos para seus sócios e proprietários acima do custo médio ponderado de capital, ou seja, o WACC. O orçamento de capital tecnicamente correto de uma empresa é efetivo quando a empresa esco- lhe implantar seu capital apenas nos projetos que retornam acima do WACC. A escolha de alocar recursos em projetos de capital com retorno me- nor destruirá o valor e não cumprirá o objetivo de maximização da riqueza. 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS O custo de capital é uma ferramenta e um con- ceito essencial para determinar a maximização dos retornos gerados pela empresa. Ele deve ser aplicado como uma referência mínima para que investimentos sejam realizados e o crescimento empresarial aconteça com base na criação de valor. Nesse sentido, todo projeto ou negócio deve ser analisado e decidido mediante a consideração e a aplicação do custo de capital. Também é de fundamental importância observar que há diversas fontes de recursos e que o finan- ciamento dos negócios se origina nos proprietários de empresas e credores que financiam projetos e operações com expectativas de remuneração do seu capital. Essa prática de obtenção de recur- sos gera uma estrutura de capital que é objeto da gestão financeira na medida em que decisões que buscam equilíbrio entre risco e retorno são balizadas nessa estrutura. Neste módulo você também observou que a via- bilidade financeira dos negócios é fundamenta no custo de capital. Aprendeu, portanto, a calcular a média ponderada do custo de capital e a defini-la como a taxa mínima que deve ser usada para referenciar decisões sobre realizar ou não deter- minados investimentos. 32 • Maximizar do valor da empresa • Decidir sobre orçamento de capital • Gerenciar de capital de giro • Determinar a estrutura de capital • Avaliar o desempenho financeiro O custo de capital é uma taxa mínima determinada para classificar a viabilidade de projetos de investimento. É uma ferramenta que auxilia no alcance dos objetivos empresariais de: • Dívida – capital de terceiros: Passivo Debêntures de longo prazo Financiamento de investimentos Fornecedores Crédito bancário • Sócios – capital próprio: Patrimônio Líquido Capital social Lucros retidos A estrutura de capital é formada por dois tipos de origem de recursos para empresa: • Custo médio da dívida livre dos impostos • Custo do capital próprio Taxa livre de risco Taxa de mercado Beta (medida de risco) O cálculo do custo de capital é realizado por meio do método do Custo Médio Ponderado do Capital (CMPC) – mais conhecido como WACC (Weighted Average Cost Of Capital). O WACC considera: ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA AVANÇADA Referências Bibliográficas & Consultadas AVELAR, E. A. et al. Determinantes da estrutura de capital: um estudo sobre empresas mineiras de capital fechado. Revista Evidenciação Contábil & Finanças, v. 5, n. 2, pp. 23-39, 2017. BAGGIO, J. et al. 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