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CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 1 DOSIMETRIA DA PENA CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 2 CURSO MEGE Celular/Whatsapp: (99) 982622200 Fanpage: /cursomege Instagram: @cursomege Turma: Operação Penal – Parte Geral e Parte Especial DOSIMETRIA DA PENA CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 3 Sumário 1. DOUTRINA (RESUMO) ................................................................................................... 4 1.1. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ................................................................................ 4 2. JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................ 59 CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 4 1. DOUTRINA (RESUMO) 1.1. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 1.1.1. MODALIDADES As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão, detenção e prisão simples. Vejamos algumas das principais diferenças: Reclusão Detenção Prisão simples Aplicação Crimes mais graves Crimes menos graves Contravenções Regime inicial Fechado Semiaberto Aberto Semiaberto Aberto (admite regime fechado em caso de regressão) Semiaberto Aberto (não admite regime fechado, nem por regressão) Efeitos extrapenais da condenação Pode gerar incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado; (art. 92, II, do CP, com redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018) Crime punido com detenção não admite esse efeito Não admite os efeitos extrapenais da condenação previstos nos arts. 91, 91-A e 92 do CP CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 5 Efeitos extrapenais da condenação Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Crime punido com detenção não admite esse efeito Não admite os efeitos extrapenais da condenação previstos nos arts. 91, 91-A e 92 do CP Interceptação telefônica Admite Não admite* Não admite Limite de cumprimento Tempo de cumprimento não pode ser superior a 40 anos Duração não pode ser superior a 5 anos * Há precedentes admitindo no caso de encontro fortuito: “Malgrado apenado com detenção, as provas obtidas quanto ao crime de advocacia administrativa são plenamente válidas, porquanto foram descobertas fortuitamente por meio de interceptação telefônica, decretada regularmente, com vistas a angariar elementos de prova da prática do crime de falsidade ideológica (...). Em perfeita aplicação da serendipidade, trata-se, portanto, de prova lícita, decorrente de interceptação telefônica de crime apenado com reclusão, com autorização devidamente fundamentada de autoridade judicial competente” (STJ, HC 376927 / ES, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 17/10/2017, v.u.). * Há também precedentes admitindo no caso de conexão com crime punido com reclusão: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 6 “Considerando a existência de conexão entre os crimes puníveis com detenção e reclusão, não há falar-se em nulidade da interceptação telefônica” (STJ, HC 173080 / RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 27/10/2015). (...) O Agravante Defesa alega que o crime de fraude à licitação - que era investigado autonomamente quando da decretação das medidas - é punível com pena de detenção, razão pela qual não se permite a medida investigativa prevista na Lei n.º 9.296/96. Esse argumento, todavia, é infirmado pela simples constatação de que a quebra do sigilo telefônico visou a verificar a eventual prática, dentre outros, dos crimes de associação criminosa e falsidade ideológica, puníveis com sanção reclusiva. (...) (AgRg no HC 469.880/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe 03/02/2020) 1.1.2. APLICAÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE O art. 68 do Código Penal adotou o critério trifásico (também chamado critério Nelson Hungria) para a aplicação da pena privativa de liberdade. Nesse sistema, o juiz deve realizar o cálculo da dosimetria da pena em três fases distintas. O método tem por objetivo viabilizar o direito de defesa, explicitando os parâmetros que conduziram o juiz na fixação da reprimenda. Vejamos cada uma delas. 1ª fase (fixação da pena-base) Circunstâncias judiciais 2ª fase (fixação da pena intermediária) Atenuantes e agravantes 3ª fase Causas de diminuição e de aumento CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 7 (fixação da pena definitiva) Após, o juiz deve ainda: Fixar o regime inicial de cumprimento (fechado, semiaberto ou aberto) Fundamentar a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito ou concessão de sursis O ponto de partida para fixar a pena-base é identificar a sanção cominada pelo legislador ao tipo penal. Logo de início, é preciso levar em consideração se o crime é simples, qualificado ou privilegiado (afinal, o próprio legislador prevê penas mais elevadas para os crimes qualificados e mais brandas para os crimes privilegiados). Compare o preceito secundário de um crime simples e de um crime qualificado (utilizamos como exemplo o furto): Furto simples Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 8 Identificada a sanção cominada (pena mínima e pena máxima abstratamente previstas), deve-se proceder à fixação da pena-base. 1.1.2.1. 1ª fase:fixação da pena base considerando as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP 1.1.2.1.1. Considerações gerais Fixação da pena Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; (...) Na 1ª fase da dosimetria da pena, devem ser consideradas as circunstâncias judiciais, previstas no artigo 59 do Código Penal: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias, consequências do crime, e comportamento da vítima. Qual a fração de aumento de cada circunstância judicial desfavorável? A lei não estabelece. O quantum fica a critério do juiz, que sempre deverá fundamentar a sua decisão. Na jurisprudência, há diversos precedentes adotando a fração de 1/6 para cada circunstância. Na doutrina, prevalece que a fração deve ser de 1/8 (pois são oito as circunstâncias judiciais). Para fins de prova, embora não seja um tema pacífico, entendemos mais seguro adotar o critério fixado pelos Tribunais Superiores, vejamos: STJ: O entendimento desta Corte firmou-se no sentido de que, na falta de razão especial para afastar esse parâmetro prudencial, a exasperação da pena-base, pela existência de circunstâncias judiciais negativas, deve obedecer à fração de 1/6 CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 9 sobre o mínimo legal, para cada vetorial desfavorecida. (AgRg no HC 666815/PA/2021 - 5ª Turma). STJ: A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a exasperação da pena-base, pela existência de circunstâncias judiciais negativas, deve seguir o parâmetro da fração de 1/6 para cada circunstância judicial negativa, fração que se firmou em observância aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. (AgRg no HC 647642/SC/2021 - 6ª Turma) Majoritariamente, tem-se entendido que o juiz deve partir da pena mínima e se dirigir em direção ao máximo, considerando as circunstâncias existentes. Por exemplo, no furto qualificado, presente uma circunstância judicial negativa, o juiz fixaria a pena em 1/6 acima do mínimo legal (1/6 de 2 anos = 4 meses), chegando ao resultado de 2 anos e 4 meses. E se não houver qualquer circunstância judicial a ser considerada? A pena deve ser fixada no mínimo legal. É possível a existência simultânea de circunstâncias judiciais favoráveis e desabonadoras? Certamente! Ex.: o agente tem maus antecedentes, porém boa conduta social. O juiz deve sopesá-las no caso concreto, fundamentadamente. A doutrina diz que o juiz deve invocar, por analogia, o art. 67 do CP (circunstâncias preponderantes) mas desde que não prejudique o réu, sob pena de configurar analogia in malam partem. ATENÇÃO! Na 1ª fase da dosimetria, a pena não pode ficar abaixo do limite mínimo legal nem acima do limite máximo! O juiz está atrelado aos limites trazidos pela lei. 1.1.2.1.2 Análise das circunstâncias judiciais do art. 59 1ª) Culpabilidade Aqui, o termo nada tem a ver com o terceiro elemento do crime. No contexto da dosimetria da pena, culpabilidade significa o maior ou menor grau de reprovabilidade da conduta (ex.: para o STJ, há maior culpabilidade no estelionato quando o autor do crime se aproveita de estreito laço de confiança que mantinha com a vítima). Nesse sentido: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 10 STJ: “A culpabilidade, para fins do art. 59 do CP, deve ser compreendida como juízo de reprovabilidade da conduta, apontando maior ou menor censurabilidade do comportamento do réu. Não se trata de verificação da ocorrência dos elementos da culpabilidade para que se possa concluir pela prática ou não de delito, mas sim, do grau de reprovação penal da conduta do agente, mediante demonstração de elementos concretos do delito” (HC 396749/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 19/10/2017, v.u.). STF: “Habeas corpus. 2. Dosimetria da pena. A consciência da ilicitude é pressuposto da culpabilidade, na forma do art. 21 do Código Penal. Não pode ser usada para exasperar a pena-base.” (...) (HC 122940/PI, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 13.12.2016.) Antes da reforma de 1984, a lei não falava em “culpabilidade”, mas em “intensidade do dolo” ou “grau de culpa”, ainda utilizada em diversos julgados: STJ: “A valoração da culpabilidade por ocasião da dosimetria da pena-base (CP, art. 59) é afinada com a individualização da pena, representando o grau de censura pessoal do réu na prática da conduta, ou seja, trata-se da mensuração de reprovabilidade. No caso, o fato de a conduta criminosa ter sido realizada em concurso de pessoas e a destruição do corpo de delito por fogo revelam a intensidade do dolo dos agentes e a maior reprovabilidade da conduta” (HC 325306 / RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 06/12/2016, v.u.). 2ª) Antecedentes do agente Representa a vida pregressa do agente. “Maus antecedentes” são condenações anteriores com trânsito em julgado, mas desde que não tenham o condão de configurar reincidência. Examinemos essa frase em duas partes: I) “Maus antecedentes” são condenações anteriores com trânsito em julgado... Por força do princípio constitucional da presunção de inocência, não podem ser considerados maus antecedentes (nem reincidência): CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 11 - Inquérito policial arquivado. - Inquérito policial em andamento. - Ação penal com absolvição. - Ação penal em curso. Nesse sentido, confira o teor da súmula 444 do STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. - Também não configuram maus antecedentes fatos praticados posteriormente ao crime que está sendo julgado. Ex.: sujeito pratica o crime “A”. Depois de 1 ano, pratica o delito “B”. Ao sentenciar o crime “A”, o juiz não pode considerar o delito “B” como maus antecedentes. - Atos infracionais também não configuram maus antecedentes. STJ: “A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que atos infracionais também não configuram maus antecedentes e não podem ser valorados negativamente na dosimetria da pena, vejamos: “atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco podem ser utilizados para caracterizar personalidade voltada para a pratica de crimes ou má conduta social”. (HC 499.987/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 30/05/2019, DJe 04/06/2019) OBSERVAÇÃO 1: há precedentes admitindo que atos infracionais possam ser utilizados para afastar a causa de diminuição do §4º do art. 33 da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006). STJ: “A existência de atos infracionais praticados pelo agente, embora não caracterizem reincidência ou maus antecedentes, podem denotar dedicação às atividades criminosas, de modo a justificar a negativa da minorante do §4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, ante o não preenchimento dos requisitos legais. Precedentes” (AgRg no REsp 1560667 / SC, 6ª T., Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6a T., j. 17/10/2017, v.u.). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com| CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 12 OBSERVAÇÃO 2: Também se admite que atos infracionais possam ser utilizados para justificar a prisão preventiva. STJ: “Esta Corte Superior de Justiça possui entendimento de que a prática de atos infracionais, apesar de não poder ser considerada para fins de reincidência ou maus antecedentes, serve para justificar a manutenção da prisão preventiva para a garantia da ordem pública” (HC 410780 / SP, Rel. Min. Felix Fishcer, 5a T., j. 19/10/2017, v.u.). II) ... desde que não tenham o condão de configurar reincidência. A condenação transitada em julgado configura maus antecedentes, mas não tem o condão de configurar reincidência, nos seguintes casos: a) se o fato praticado foi praticado anteriormente ao que está em julgamento (art. 63, caput, do CP). Ex.: João pratica o crime “A” em 2014. Ao prolatar a sentença, em 2016, o juiz observa que ele havia praticado outro delito em 2013, tendo a condenação transitado em julgado em 2015. Como João, ao praticar o crime “A”, ainda não tinha sido condenado definitivamente, não pode ser considerado reincidente, mas tem maus antecedentes. Nesse sentido: STJ: “A jurisprudência desta Corte tem admitido, a valoração negativa, como maus antecedentes, de condenações posteriores ao delito de cuja dosimetria se cuida, contanto que se refiram a crimes praticados em momento anterior, como no caso” (STJ, HC 355343 / SP, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., j. 14/06/2016). b) se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 anos (art. 64, I, do CP). Ex.: João pratica um delito, é condenado e termina de cumprir a pena em janeiro de 2010. Pratica outro crime em julho de 2015. Como decorreu prazo superior a 5 anos (chamado “período depurador”), essa condenação anterior não pode configurar reincidência. Pode caracterizar maus antecedentes. (ver tópico “reincidência” abaixo). c) tratar-se de crime militar próprio ou político (art. 64, II, do CP). Ex.: João pratica um crime militar próprio (aquele que só é tipificado no Código Penal Militar, como deserção). Se praticar depois um crime de roubo, a condenação pelo CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 13 crime militar próprio não configura reincidência, mas pode configurar maus antecedentes. d) se o agente tiver mais de uma condenação configuradora de reincidência. Nesse caso, uma das condenações será considerada reincidência e a outra pode ser considerada maus antecedentes. Esta hipótese não está na lei, mas decorre de forte entendimento jurisprudencial. STJ: Condenações criminais transitadas em julgado, não consideradas para caracterizar a reincidência, somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização para desabonar a personalidade ou a conduta social do agente. STJ. Plenário.REsp 1794854-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/06/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1077) Ex.: João tem duas condenações diferentes, uma com trânsito em julgado em 2010 e outra com trânsito em julgado em 2011. Em 2012, pratica um novo crime. A rigor, as duas condenações anteriores poderiam configurar reincidência. Mas o juiz pode usar uma como reincidência e a outra como maus antecedentes. O que não se pode é utilizar uma só condenação como maus antecedentes e também como reincidência (princípio do ne bis idem). Súmula 241 do STJ - A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial. Como pode ser feita a comprovação dos maus antecedentes? Segundo enunciado de número 636 do STJ, a folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência. 3ª) Conduta social É o comportamento do agente no seu meio familiar, no ambiente de trabalho, no relacionamento com outros indivíduos e perante a sociedade em geral. Pode ser positivo (ex.: sujeito faz caridade, ajuda a comunidade) ou negativo (ex.: passa os dias bebendo no bar e criando problemas com todos). Avalia-se, então, aspectos extrapenais. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 14 Processos e inquéritos em andamento não podem ser considerados conduta social desabonadora. Entende o STJ não ser possível a valoração negativa da conduta social em vista da prática de atos infracionais: (...) A jurisprudência desta Corte Superior é pacífica no sentido de que atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco podem ser utilizados para caracterizar personalidade voltada para a pratica de crimes ou má conduta social. (...) (HC 499.987/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 30/05/2019, DJe 04/06/2019) O STJ tem entendimento firme no sentido da impossibilidade de utilização de condenações criminais anteriores como conduta social ou como personalidade do agente. (...) Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais, não se admitindo sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta social do agente. Precedentes da Quinta e da Sexta Turmas desta Corte. (EAREsp 1311636/MS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2019, DJe 26/04/2019) O acórdão acima nos apresenta uma verdadeira aula sobre o conceito das circunstâncias judiciais de antecedentes, de conduta social e de personalidade do agente, por isso, colacionamos abaixo mais um trecho do mesmo julgado: “3. A conduta social e a personalidade do agente não se confundem com os antecedentes criminais, porquanto gozam de contornos próprios - referem-se ao modo de ser e agir do autor do delito -, os quais não podem ser deduzidos, de forma automática, da folha de antecedentes criminais do réu. Trata- se da atuação do réu na comunidade, no contexto familiar, no trabalho, na vizinhança (conduta social), do seu temperamento e das características do seu caráter, aos quais se agregam fatores hereditários e socioambientais, moldados pelas experiências vividas pelo agente (personalidade social). Já a circunstância judicial dos antecedentes se presta eminentemente à análise da folha criminal do réu, momento em que eventual histórico de múltiplas condenações definitivas pode, a critério do julgador, ser valorado de forma mais enfática, CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 15 o que, por si só, já demonstra a desnecessidade de se valorar negativamente outras condenações definitivas nos vetores personalidade e conduta social. 4. Havendo uma circunstância judicial específica destinada à valoração dos antecedentes criminais do réu, revela-se desnecessária e "inidônea a utilização de condenações anteriores transitadas em julgado para se inferir como negativa a personalidade ou a conduta social do agente" (...) (EAREsp 1311636/MS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2019, DJe 26/04/2019) No mesmo sentido se apresenta o STF, vejamos: A circunstância judicial “conduta social”, prevista no art.59 do Código Penal, representa o comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no relacionamento com outros indivíduos. Os antecedentes sociais do réu não se confundem com os seus antecedentes criminais. São circunstâncias distintas, com regramentos próprios. Assim, não se mostra correto o magistrado utilizar as condenações anteriores transitadas em julgado como “conduta social desfavorável”. Não é possível a utilização de condenações anteriores com trânsito em julgado como fundamento para negativar a conduta social. (STF. RHC 130132/2016 e STJ. EAREsp 1.311.636-MS/2019). 4ª) Personalidade do agente É o conjunto de qualidades e características próprias do indivíduo. É o retrato psíquico do acusado. Podem ser aspectos positivos (ex.: calma, paciência, bom-humor, empatia) ou negativos (ex.: agressividade, impaciência, mau humor, frieza). Somente pode ser considerada na dosimetria se tiver alguma relação com o delito. Ex.: a agressividade pode ser considerada para elevar a pena de um crime de lesão corporal, mas não de um crime contra a ordem tributária. A personalidade do agente é a síntese das qualidades morais e sociais do indivíduo. Trata-se de um retrato psíquico do agente. A definição de personalidade do agente não encontra enquadramento em um conceito jurídico, em uma atividade de subsunção, devendo o magistrado voltar seu olhar não apenas à Ciência Jurídica. (STJ HC 420.344/RJ/2018) Assim, a valoração da personalidade do agente na dosimetria da pena envolve o “sentir do julgador”, que tem contato com as provas, com os meandros do processo. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 16 Justamente por isso, não é necessária a realização de qualquer estudo técnico. (STJ AgRg no HC 438.168/MS/2018) Sem embargo, ainda que possa prescindir de laudos técnicos de especialistas da área de saúde, exige uma análise ampla da índole do réu, do seu comportamento e do seu modo de vida, a demonstrar real periculosidade e perversidade. A consideração desfavorável da personalidade do agente, portanto, deve ser aferida a partir do seu modo de agir, podendo-se avaliar a insensibilidade acentuada, a maldade, a desonestidade e a perversidade demonstrada e utilizada pelo criminoso na consecução do delito. Sua aferição somente é possível se existirem, nos autos, elementos suficientes e que efetivamente possam levar o julgador a uma conclusão segura sobre a questão (STJ HC 285.186/RS/2016) Conforme já delineado acima, em conjunto com o tópico sobre a conduta social do agente, não é possível que se queira utilizar as condenações anteriores para exasperar a pena com base na personalidade do agente, na medida em que a exasperação da pena pela consideração desfavorável do vetor personalidade deve ser realizada com fundamentos próprios e diversos daquela relativa aos antecedentes. Sobre a valoração negativa ou não da personalidade do agente em razão da prática de atos infracionais, a 5ª e a 6ª Turmas do STJ divergiam sobre o tema, mas, atualmente, pacificaram o entendimento consolidando que: Para a 5ª Turma “A vida pregressa do menor de 18 anos, é dizer, suas passagens pela Vara da Infância e Juventude, por conta de atos infracionais, não podem ser utilizadas para eventual dosimetria de pena e nem apresentada aos jurados em processo criminal, no qual responde por tentativa de homicídio.” (AgRg no REsp 1877777/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 18/08/2020, DJe 25/08/2020) Para a 6ª Turma: “há impropriedade na majoração da pena-base pela consideração negativa da personalidade do agente em razão da prévia prática de atos infracionais, pois é incompossível exacerbar a reprimenda criminal com base em passagens pela Vara da Infância” (REsp 1702051/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 14/03/2018) 5ª) Motivos do crime É a razão que leva ao cometimento do delito. Certos motivos são inerentes ao delito por integrarem a própria tipificação da conduta, ou por caracterizarem circunstância qualificadora ou agravante. Nestas hipóteses, não podem ser CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 17 considerados na primeira fase de aplicação da pena, sob pena de bis in idem (ex.: não se pode elevar a pena do furto sob o argumento de que o agente teve a intenção de se apoderar do patrimônio da vítima). “A simples falta de motivos para o delito não constitui fundamento idôneo para o incremento da pena-base ante a consideração desfavorável da circunstância judicial, que exige a indicação concreta de motivação vil para a prática delituosa. STJ”. 6ª Turma. HC 289788/TO, Rel. Min. Ericson Maranho (Des. Conv. do TJ/SP), julgado em 24/11/2015. 6ª) Circunstâncias do crime São elementos que estão ao redor do crime, tais como lugar, tempo do crime, e maneira de execução. Relacionam-se com o modus operandi do agente. Um roubo praticado no interior da residência, no qual os moradores são feitos de reféns, pode merecer punição mais severa do que um roubo rápido praticado na via pública (trata-se apenas de um exemplo, a análise sempre deve ser feita no caso concreto). Entretanto, circunstâncias já consideradas para a tipificação do delito não podem ser novamente valoradas para fins de exasperação da pena-base no quesito circunstâncias do crime. (...) 3. O rompimento de obstáculo qualifica o furto (art. 155, § 4º, do CP). Essa circunstância já é considerada na qualificadora, não podendo ser novamente tomada para elevar a pena-base, sem uma especial demonstração da gravidade da circunstância no caso concreto. (...) (HC 122940/PI, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 13.12.2016.) 7ª) Consequências do crime Diz respeito aos efeitos causados pelo crime, além daqueles compreendidos pelo próprio tipo penal. Tratam-se dos resultados da ação do agente. Ex.: em crime de estupro de vulnerável, a vítima é obrigada a fazer uso preventivo de coquetéis para evitar DST´s, comprometendo sua saúde; ou fica traumatizada e precisa de tratamento psiquiátrico, vindo a perder o ano letivo escolar etc. Salutar é o julgamento realizado pela 5ª Turma do STJ, onde a presença de diversos fatores decorrentes do crime foram considerados como fundamentos idôneos para justificar o afastamento da pena-base do piso legal, por demonstrar que as CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 18 consequências da conduta do agente extrapolou os limites ordinários do tipo penal violado, merecendo, portanto, maior repreensão. Vejamos: “Considerando o fato de a vítima não ter retornado ao trabalho por vergonha da violência e da humilhação sofridas e dela ter mudado de residência com medo de ser encontrada por seu agressor ou alguém a seu mando, assim como da filha pequena do casal ter apresentado sérios transtornos comportamentais, sendo submetida à terapia psicológica para tentar se livrar do trauma, além do fato do filho mais velho da vítima, um adolescente, ter abandonado o estudo e trabalho para tentar proteger a mãe de seu agressor, resta justificada a elevação da básica a título de consequências do delito.” (HC 614.057/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 23/02/2021, DJe 26/02/2021) Por fim, interessante é o julgamento do STF no qual se firmou tese de que os elevados custos para investigações que demandem grandesoperações policiais, ainda que onerem o Estado, não servem como motivo para aumentar a pena-base. (...) Os elevados custos da atuação estatal para apuração da conduta criminosa e o enriquecimento ilícito logrado pelo agente não constituem motivação idônea para a valoração negativa do vetor "consequências do crime" na primeira fase da dosimetria da pena (CP/1940, art. 59). (...) (HC 134193/GO, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 26.10.2016. (HC-134193). 8ª) Comportamento da vítima O modo de agir da vítima também pode ser considerado na dosimetria, como circunstância judicial favorável ou desfavorável. Ex.: vítima é pessoa agressiva e inoportuna, atraindo para si, em razão desse comportamento, um crime de lesão corporal. Contudo, há entendimento de que o comportamento da vítima nunca pode ser considerável como circunstância judicial desfavorável: STJ: “O comportamento da vítima é circunstância judicial ligada à vitimologia, que deve ser necessariamente neutra ou favorável ao réu, sendo inviável sua utilização de forma CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 19 desfavorável ao réu” (HC 282206 / SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 03/08/2017, v.u.). 1.1.2.1.3. Praticando a dosimetria da 1ª fase da aplicação da pena Ex1.: Paulo pratica um crime de furto simples (pena: 1 a 4 anos). Ele possui uma condenação transitada em julgado, configuradora de maus antecedentes. O delito consistiu na subtração de ferramentas de trabalho da vítima, que ficou impedida de exercer sua atividade laboral e teve gravíssimos problemas financeiros. Considerando os elementos fornecidos, como ficaria a primeira fase da dosimetria da pena no tocante à pena privativa de liberdade? R.: É possível considerar a existência de duas circunstâncias judiciais desfavoráveis (antecedentes e consequências do crime), fixando a pena-base acima do mínimo. Lembramos que a lei não traz a fração de aumento para cada circunstância judicial, de modo que optaremos por adotar a fração de 1/6. Sendo duas as circunstâncias, o aumento será de 2/6 (2/6 de 1 ano = 4 meses). Ter-se-á o resultado de 1 ano e 4 meses. Ex2.: Paulo pratica um crime de furto simples. Ele possui uma condenação transitada em julgado, configuradora de maus antecedentes. Porém, ficam comprovados aspectos positivos de sua personalidade. É altruísta, trabalhador, prestativo etc. Considerando os elementos fornecidos, como ficaria a primeira fase da dosimetria da pena no tocante à pena privativa de liberdade? R.: É possível considerar a existência de uma circunstância judicial favorável (personalidade) e uma desfavorável (antecedentes). O juiz poderia compensar as duas, mantendo a pena no patamar mínimo legal, que é de 1 ano. Ex3.: Paulo pratica um crime de furto simples. Não há qualquer circunstância judicial desfavorável e fica comprovado que ele tem ótima conduta social. Considerando os elementos fornecidos, como ficaria a primeira fase da dosimetria da pena no tocante à pena privativa de liberdade? R.: É possível considerar a existência de uma circunstância judicial favorável (conduta social). Porém, na primeira fase da dosimetria a pena não pode ficar abaixo do mínimo. Logo, seria fixada a pena-base em 1 ano. 1.1.2.2. 2ª fase: fixação da pena intermediária – agravantes e atenuantes Na aplicação das agravantes e atenuantes genéricas (recebem essa nomenclatura por estarem previstas na parte geral do CP), o juiz analisará as CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 20 circunstâncias objetivas e subjetivas que não integram a estrutura do tipo penal, mas que se vinculam ao crime. Nesta fase, a finalidade é fixar a pena intermediária. O seu ponto de partida é a pena-base fixada na etapa anterior. Sobre ela, incidirão as circunstâncias agravantes e atenuantes, também chamadas circunstâncias legais (art. 61 a 66 do CP). OBSERVAÇÃO: A legislação penal extravagante poderá trazer agravantes e atenuantes próprias (Ex.: art. 15 da lei nº 9.605/98). Qual a fração de aumento de cada agravante ou atenuante? A lei não estabelece. Ficará a critério do juiz, que deverá fundamentar a sua decisão. A jurisprudência tem adotado, em regra, a fração de 1/6 para cada agravante ou atenuante. E se não houver qualquer agravante ou atenuante? A pena deve ser mantida no patamar fixado na 1ª fase. As agravantes são aplicáveis a qualquer crime? Em princípio, são aplicáveis aos crimes dolosos; a exceção é a reincidência, aplicável também aos crimes culposos. Porém, esse tema é controvertido. Há julgados admitindo a incidência de outras agravantes em crimes culposos. Embora haja controvérsia, também há diversos julgados admitindo a incidência de agravantes em crimes preterdolosos. Nesse sentido: “No crime preterdoloso, espécie de delito qualificado pelo resultado, é possível a incidência de agravante genérica prevista no art. 61 do Código Penal. Precedente” (STJ, AgRg no AREsp 499488 / SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª T., j. 04/04/2017, v.u.). É possível a existência simultânea de agravantes e atenuantes? Sim. No concurso entre agravantes e atenuantes, a regra geral é a de que uma neutraliza a eficácia da outra (equivalência das circunstâncias). No entanto, tal sistemática é excepcionada quando existir, no caso concreto, alguma circunstância preponderante. Determina o art. 67 do CP: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 21 Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. Portanto, percebe-se que no âmbito da aplicação da pena, existem agravantes e atenuantes mais valiosas do que outras: motivos determinantes do crime, personalidade do agente e reincidência. Desta maneira, temos que: - se estiverem concorrendo uma agravante e uma atenuante, nenhuma delas preponderante, ou ambas preponderantes, o juiz pode compensá-las, mantendo a pena no patamar fixado na 1ª fase; - se estiverem concorrendo uma agravante preponderante e uma atenuante não preponderante (ou vice-versa), a pena deve se aproximar da preponderante. De acordo com a redação do artigo em questão, a jurisprudência estabeleceu a seguinte ordem a ser analisada: 1º) atenuante da menoridade e da senilidade 2º) agravante da reincidência 3º) atenuantes e agravantes subjetivas 4º) atenuantes e agravantes objetivas Algumas observações: - Menoridade relativa (menor de 21 anos na data do fato) e senilidade (maior de 70 na data da sentença) são preponderantes: “A atenuante da menoridade relativa é preponderante e deve ser compensada com a agravante da reincidência” (STJ, AgRg no HC 310218 / DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, 5ª T., j. 12/09/2017, v.u.) CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 22 Há forte entendimento de que preponderam, inclusive, em relação aos motivos, à personalidade e à reincidência (a menoridade e a senilidade seriam, numa linguagem coloquial, “super preponderantes”). Nesse sentido: “Conforme o entendimento consolidado desta Corte, a atenuanteda menoridade relativa é sempre considerada preponderante em relação às demais agravantes de caráter subjetivo e também em relação às de caráter objetivo. Essa conclusão decorre da interpretação acerca do art. 67 do Código Penal, que estabelece a escala de preponderância entre as circunstâncias a serem valoradas na segunda etapa do modelo trifásico. Dentro dessa sistemática, a menoridade relativa, assim como a senilidade, possui maior grau de preponderância em relação àquelas igualmente preponderantes, decorrentes dos motivos determinantes do crime e reincidência, nos termos do art. 67 do Código Penal. Precedentes” (STJ, HC 384697 / SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ªT., j. 21/03/2017). - Confissão espontânea tem sido considerada atenuante preponderante pelo STJ. O STJ já julgou o tema em sede de Recurso Repetitivo Tema 585, vejamos: “É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência”. (REsp 1341370/MT, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2013, DJe 17/04/2013) Estaria ligada à personalidade do agente. Nesse sentido: “No que toca à compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante da reincidência, tem-se que a Terceira Seção do STJ (...) pacificou o entendimento segundo o qual a citada atenuante, na medida em que compreende a personalidade do agente, é igualmente preponderante à agravante da reincidência, devendo, assim, serem compensadas” (STJ, HC 396503 / SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 24/10/2017, v.u.). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 23 No STF, contudo, não há recentes julgados que tratem sobre o tema. Entretanto, dentre os antigos julgados, pode-se afirmar que, diferentemente do que entende o STJ (reincidência e confissão se compensam), a Suprema Corte entende que a reincidência prevalece: A teor do disposto no art. 67 do Código Penal, a circunstância agravante da reincidência, como preponderante, prevalece sobre a confissão. (STF. 2ª Turma. RHC 120677, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/03/2014) OBSERVAÇÃO: Em decisão recente, todavia, o tribunal foi além e, por meio de sua Terceira Seção, no HC 365.936/SP, j. 11/10/2017 estabeleceu a possibilidade de compensação, inclusive, no caso de reincidência específica. Segundo o ministro Félix Fischer: “A melhor hermenêutica a ser implementada, até mesmo para se evitar descompasso e afronta à proporcionalidade, deverá ser aquela voltada à possibilidade de se compensar a confissão com o gênero reincidência, irradiando seus efeitos para ambas espécies (genérica e específica), ressalvados os casos de multirreincidência”. Contudo, conforme salientado na decisão acima, o STJ tem vários julgados no sentido de que, sendo o réu multirreincidente, tal circunstância limita a compensação, em respeito aos princípios da proporcionalidade e da individualização da pena. STJ: “A multirreincidência revela maior necessidade de repressão e rigor penal, a prevalecer sobre a atenuante da confissão, sendo vedada a compensação integral. Assim, em caso de multirreincidência, prevalecerá a agravante e haverá apenas a compensação parcial/proporcional (mas não integral). (STJ. 5ª Turma. HC 620640, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 02/02/2021). ATENÇÃO! Na 2ª fase da dosimetria (assim como na 1ª fase), a pena não pode ficar abaixo do limite mínimo legal nem acima do limite máximo! Súmula 231 do STJ - A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. Há posição minoritária no sentido que a pena pode ser fixada abaixo do mínimo na segunda fase, em respeito à legalidade, à proporcionalidade e à isonomia. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 24 OBSERVAÇÃO: Pela letra do Código de Processo Penal, o juiz pode reconhecer agravantes na sentença ainda que não tenham sido alegadas: CPP, art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. Examinemos cada uma das agravantes e atenuantes: 1.1.2.2.1. Agravantes Genéricas O Rol é taxativo. São circunstâncias que sempre agravam a pena quando não constituem ou qualificam o crime. A regra quer evitar a dupla valoração em prejuízo do réu. Circunstâncias agravantes Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - a reincidência; II - ter o agente cometido o crime: a) por motivo fútil ou torpe; b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido; d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 25 g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão; h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade; j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; l) em estado de embriaguez preordenada. Agravantes no caso de concurso de pessoas Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II - coage ou induz outrem à execução material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. 1ª) Reincidência (art. 63 do CP) OBSERVAÇÃO: A reincidência é tema recorrente em provas de concurso. Fiquem atentos ao tema. Ocorre a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. A prática de uma nova infração penal, com a caracterização da reincidência, revela o não cumprimento da pena quanto às suas finalidades de retribuição e prevenção especial. Como a pena se revelou insuficiente e o agente optou por continuar a delinquir, justifica-se a nova punição, agora mais grave. Portanto, é constitucional CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 26 (entendimento já encampado pelo STF) o legislador ter incluído a reincidência no rol de agravantes genéricas. Para efeito de reincidência, não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 anos, computado o períodode prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação. Em outras palavras, há três requisitos para se configurar a reincidência: a) Sentença condenatória transitada em julgado (no país ou no estrangeiro, pouco importa); b) Prática de um novo crime cometido depois do trânsito em julgado dessa sentença condenatória (termo inicial); c) Crime posterior deve ser cometido até 5 anos depois da data do cumprimento ou extinção da pena (termo final). É computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação. O Brasil adotou o sistema da temporariedade da reincidência. Logo, após esse intervalo de 5 anos (chamado “período depurador”), o sujeito não pode mais ser considerado reincidente. ATENÇÃO! O termo inicial do período depurador é a data do cumprimento ou extinção da pena. Não é a data do trânsito em julgado da condenação (pegadinha frequente)! Essa condenação anterior, apesar de não configurar reincidência, configura maus antecedentes? Em outras palavras, o período depurador apaga também os maus antecedentes (sistema da temporariedade) ou não apaga (sistema da perpetuidade)? O STJ adota o sistema da perpetuidade dos maus antecedentes. Ou seja, após o período depurador, a condenação serve como maus antecedentes: “A jurisprudência deste Tribunal é reiterada no sentido de que, para a configuração dos maus antecedentes, a análise das condenações anteriores não está limitada ao período depurador quinquenal, previsto no art. 64, I, do CP, tendo em vista a adoção pelo Código Penal do Sistema da Perpetuidade. Precedentes” (STJ, HC 416509 / SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 19/10/2017, v.u.). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 27 O STF divia-se sobre a adoção do sistema da temporariedade (2ª Turma - HC142.371/SC) ou da perpetuidade (1ª Turma - ARE 925.136 AgR/DF) dos maus antecedentes. Entretanto, o Plenário findou a celeuma sobre o tema decidindo em sede de Repercussão Geral – Tema 150, que “Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição da reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal”. (STF. Plenário. RE 593818/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/8/2020). Assim, é possível dizer que, com relação aos maus atencedentes, os Tribunais Superiores acolhem o sistema da perpetuidade. OBS: para a reincidência adota-se o sistema da temporariedade. Ex1.: Pedro pratica um crime em 2000, a condenação transita em julgado em 2005. Ele termina de cumprir a pena em 2015. Em 2016, pratica novo crime. É reincidente? Sim! Entre o cumprimento da pena e a prática do novo crime decorreu lapso não superior 5 anos. Ex2.: Pedro pratica um crime em 2000, a condenação transita em julgado em 2005. Ele termina de cumprir a pena em 2008. Em 2015, pratica novo crime. É reincidente? Não. Entre o cumprimento da pena e a prática do novo crime decorreu lapso superior 5 anos. Tem maus antecedentes? Pelo sistema da perpetuidade, atualmente adotado pelo STF e pelo STJ, sim. Ex3.: Pedro pratica um furto em 2010, a condenação transita em julgado em 2015. Em 2013, ele praticou um estupro, que será sentenciado em 2017. É reincidente? Não. Para ser reincidente, deveria ter praticado novo crime após o trânsito em julgado da decisão condenatória. Tem maus antecedentes? Há forte entendimento jurisprudencial de que sim (ver tópico “antecedentes” acima). ATENÇÃO! Não se pode usar a MESMA condenação como reincidência e também como maus antecedentes. Configura bis in idem. Se condenações diversas, aí sim é possível. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 28 Súmula 241 do STJ - A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial. Crimes militares próprios e políticos: Os crimes militares próprios (tipificados apenas no Código Penal Militar, como o delito de deserção) e os crimes políticos não geram reincidência, nos termos do art. 64, II, do CP. Cumpre observar que, se o agente praticar dois crimes militares próprios, será reincidente pelo Código Penal Militar (art. 71). Lei das contravenções (Decreto-lei 3.688/41): A Lei das Contravenções traz uma regra distinta: Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou no Brasil, por motivo de contravenção. Portanto, da combinação deste dispositivo com o art. 63 do CP, temos as seguintes regras: Infração penal anterior Infração penal posterior Resultado Crime (Brasil ou estrangeiro) Crime Reincidente (art. 63 do CP) Crime (Brasil ou estrangeiro) Contravenção penal Reincidente (art. 7º da LCP) Contravenção penal (Brasil) Contravenção penal Reincidente (art. 7º da LCP) Contravenção penal (Brasil) Crime Não reincidente CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 29 Contravenção (estrangeiro) Crime / Contravenção penal Não reincidente (art. 7º da LCP) Dica para memorizar: 1) Se o que vem antes é um CRIME, será sempre reincidente. 2) Se o que vem antes é uma contravenção, só será reincidente se ela tiver sido praticada no Brasil e for sucedida de outra contravenção. 3) Por falha legislativa, não é reincidente a pessoa que, depois do trânsito em julgado da condenação, no Brasil, por contravenção penal, pratica, no Brasil ou no exterior, um novo crime. 4) Condenação definitiva, no exterior, pela prática de contravenção penal, não serve no Brasil, em nenhuma hipótese, como pressuposto da reincidência. A agravante da reincidência é constitucional? Prevalece amplamente que é constitucional. O próprio STF já decidiu nesse sentido: “Está-se diante de fator de discriminação que se mostra razoável, seguindo a ordem natural das coisas. Repito que se leva em conta o perfil do réu, percebendo-se a necessidade de maior apenação, consideradas a pena mínima e a máxima do tipo, porque voltou a delinquir apesar da condenação havida, no que esta deveria ser tomada como um alerta, uma advertência maior quanto à necessidade de adoção de postura própria ao homem médio, ao cidadão integrado à vida gregária e solidário aos semelhantes (...) Evidentemente, a definição da reprimenda adequada ocorre em face das peculiaridades do caso, despontando o perfil do agente, inclusive se voltou, por isto ou por aquilo, não importa, a claudicar. Ao contrário do que assevera o recorrente, o instituto constitucional da individualização da pena respalda a consideração da singularidade, da reincidência, evitando a colocação de situações desiguais na mesma vala – a do recalcitrante e a do agente episódico, que assim o é ao menos ao tempo da prática criminosa” (STF, RE 453000, Pleno, Rel. Marco Aurélio, j. 04.04.2013, v.u.). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 30 Contudo, há entendimento minoritário de que a agravante da reincidência configura bis in idem, pois o agente já cumpriu a pena pelo crime anterior e tem a pena do novo crime aumentada por conta daquela mesma condenação. Espécies de reincidência:Quanto à necessidade de cumprimento da pena imposta pela condenação anterior: Real, própria ou verdadeira Ocorre quando o agente pratica novo crime após ter terminado de cumprir, integralmente, a pena pelo crime anterior (ou seja, o agente pratica o novo crime durante o período depurador de 5 anos). Ficta, presumida, imprópria ou falsa Ocorre quando o agente pratica novo crime após a condenação transitada em julgado pelo crime anterior, mas antes de ter terminado de cumprir a pena pelo crime anterior. Obs.: O CP filiou-se à possibilidade de reincidência ficta. Para alguém ser tratado como reincidente, é suficiente a prática de novo crime após o trânsito em julgado da condenação anterior. Quanto à categoria dos crimes praticados: Genérica Ocorre quando os crimes praticados pelo agente estão em tipos penais diversos (ex.: furto e estupro). Específica Ocorre quando os crimes praticados pelo agente estão no mesmo tipo penal (ex.: furto e furto). Obs.: Via de regra, as duas situações acima elencadas são tratadas pela legislação brasileira de modo análogo. Em raras hipóteses, a reincidência específica é tratada de maneira diferenciada. Exs.: arts. 44 § 3º, CP (vedação da substituição da PPL por PRD ao reincidente específico); art. 83, V, CP e arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 da lei de drogas (vedação ao livramento condicional para reincidentes específicos nos crimes hediondos e equiparados). Prova da reincidência: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 31 Tem-se admitido, posição encampada pelo STF, a comprovação da reincidência tanto por certidão do cartório quanto pela mera folha de antecedentes. Nesse sentido: “A jurisprudência desta Corte Superior entende que a folha de antecedentes criminais, por ser um documento revestido de fé pública, é hábil e suficiente para o reconhecimento da reincidência ou dos maus antecedentes” (STJ, AgRg no REsp 1449194 / MG, Rel.Min. Nefi Cordeiro, 6ª T., j. 26/09/2017, v.u.). O STJ, por seu turno, editou a Súmula 636 indicando que “a folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência.” A Suprema Corte foi além do entendimento cristalizado pela súmula 636 do STJ, decidindo que até mesmo com um documento menos formal que a folha de antecedentes, é possível a comprovação da reincidência, vejamos: “Para fins de comprovação da reincidência, é necessária documentação hábil que traduza o cometimento de novo crime depois de transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior, mas não se exige, contudo, forma específica para a comprovação. Desse modo, é possível que a reincidência do réu seja demonstrada com informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos tribunais. STF. 1ª Turma. HC 162548 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/6/2020 (Info 982). Efeitos da Reincidência: Além de constituir agravante genérica, a reincidência produz vários outros efeitos desfavoráveis ao réu. Vejamos alguns: 1) Na pena de reclusão, impede o início do cumprimento da PPL em regime aberto ou semiaberto. Na pena de detenção obsta o início da PPL em regime aberto; 2) No cometimento de crime doloso, impede a substituição da PPL por PRD; 3) Se concorrer com atenuantes genéricas, é preponderante; 4) No cometimento de crime doloso, aumenta o prazo para a concessão do livramento condicional; CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 32 5) Se antecedente à condenação, aumenta em 1/3 o prazo da prescrição executória, além de ser causa interruptiva deste tipo de prescrição; 6) Obsta os benefícios da transação penal e suspensão condicional do processo da lei nº 9.099/95; 7) Etc.; Condenação anterior pelo crime do art. 28 da Lei 11.343/2006 gera reincidência? Prevalecia que sim: “Conforme entendimento pacífico desta Corte Superior, alinhado ao posicionamento firmado pelo Supremo Tribunal Federal na questão de ordem no RE n. 430.105/RJ, a condenação definitiva anterior pela prática da conduta de porte de substância entorpecente para consumo próprio, prevista no art. 28 da Lei n. 11.343/2006, gera reincidência, porquanto essa conduta foi apenas despenalizada pela nova Lei de Drogas, mas não descriminalizada (abolitio criminis).” Precedentes (STJ, AgRg no HC 312955 / MS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6a T., j. 16/03/2017, v.u.). Contudo, a Sexta Turma do STJ, ao negar provimento a recurso especial (REsp 1.672.654/SP, j. 21/08/2018) interposto pelo Ministério Público de São Paulo contra decisão do Tribunal de Justiça que deu provimento ao recurso da defesa para afastar a reincidência decorrente da condenação anterior por posse de drogas para uso próprio, parece estabelecer nova tendência: “(...) 3. Consoante o posicionamento firmado pela Suprema Corte, na questão de ordem no RE n. 430.105/RJ, a conduta de porte de substância entorpecente para consumo próprio, prevista no art. 28 da Lei n. 11.343/2006, foi apenas despenalizada pela nova Lei de Drogas, mas não descriminalizada, em outras palavras, não houve abolitio criminis. Desse modo, tratando-se de conduta que caracteriza ilícito penal, a condenação anterior pelo crime de porte de entorpecente para uso próprio pode configurar, em tese, reincidência. 4. Contudo, as condenações anteriores por contravenções penais não são aptas a gerar reincidência, tendo em vista o que dispõe o art. 63 do Código Penal, que apenas se refere a crimes anteriores. E, se as contravenções penais, puníveis com pena de prisão simples, não geram CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 33 reincidência, mostra-se desproporcional o delito do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 configurar reincidência, tendo em vista que nem é punível com pena privativa de liberdade. 5. Nesse sentido, a Sexta Turma deste Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp n. 1.672.654/SP, da relatoria da Ministra MARIA THEREZA, julgado em 21/8/2018, proferiu julgado considerando desproporcional o reconhecimento da reincidência por condenação pelo delito anterior do art. 28 da Lei n. 11.343/2006. 6. Para aplicação da causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei n.11.343/2006, o condenado deve preencher, cumulativamente, todos os requisitos legais, quais sejam, ser primário, de bons antecedentes, não se dedicar a atividades criminosas nem integrar organização criminosa, podendo a reprimenda ser reduzida de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), a depender das circunstâncias do caso concreto. No caso, tendo em vista que a reincidência foi o único fundamento para não aplicar a benesse e tendo sido afastada a agravante, de rigor a aplicação da redutora. 7. Quanto ao regime e a substituição, tratando-se de réu primário, condenado à pena privativa de liberdade inferior a 4 anos de reclusão, com a análise favorável das circunstâncias judiciais, além da não expressiva quantidade de droga - 7,2 g de crack -, o paciente faz jus ao regime aberto, a teor do disposto no art. 33, §§ 2º e 3º, do Código Penal, assim como resulta cabível a conversão da pena privativa de liberdade por medidas restritivas de direitos, a serem definidas pelo Juízo das Execuções Criminais. 8. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para conceder a ordem para redimensionar a pena do paciente, fixar o regime aberto e substituir a pena privativa de liberdade por restritivade direitos”. (HC 453.437/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/10/2018, DJe 15/10/2018). Condenação anterior a pena de multa gera reincidência? Prevalece que sim. “Hipótese em que a pena do paciente foi motivadamente agravada pela reincidência em 1/6, diante da condenação anterior transitada em julgado pela prática do delito de furto privilegiado, na qual foi imposta exclusivamente pena de multa, o que não afasta a incidência da agravante do art. 61, I, do CP” (STJ, HC 393709 / SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5a T., j. 20/06/2017, v.u.). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 34 Com a extinção da punibilidade do crime anterior, desaparece o pressuposto da reincidência? A resposta dependerá do momento em que ocorreu a causa extintiva da punibilidade e também da espécie da causa extintiva. Se a causa extintiva da punibilidade ocorreu antes da sentença condenatória, o crime anterior não subsiste para o efeito da reincidência, já que não existirá condenação definitiva. No entanto, se a extinção da punibilidade ocorrer após o trânsito em julgado da condenação, a sentença penal continua apta a gerar os efeitos da reincidência, a não ser que a causa de extinção da punibilidade seja a anistia ou então a abolitio criminis. Nestas duas hipóteses, o próprio fato praticado pelo agente deixa de ser penalmente ilícito, não se podendo mais falar em reincidência. OBSERVAÇÃO: Várias das agravantes que veremos a seguir serão examinadas de modo mais aprofundado quando estudarmos o crime de homicídio. 2ª) Por motivo fútil ou torpe Motivo fútil é aquele insignificante, banal, de ínfima relevância. Ex.: sujeito agride o outro simplesmente porque não lhe falou “bom dia”. Motivo torpe é aquele repugnante, asqueroso, abjeto. Ex.: sujeito agride o outro em razão de dívida de drogas. Falta de motivo não é considerada motivo fútil ou torpe. 3ª) Para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime Aqui, há conexão entre os crimes. Essa conexão pode ser teleológica (para facilitar ou assegurar a execução de outro crime) ou consequencial (praticado para assegurar a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime). Como a lei utiliza a expressão “crime”, entende-se que se a conexão for com uma contravenção, não incide esta agravante. Porém, pode ser cabível a agravante do motivo torpe ou fútil. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 35 4ª) À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido Traição – Envolve uma subversão de expectativas. O agente se aproveita de uma confiança da vítima para praticar o crime. Emboscada – É a chamada tocaia, em que o agente aguarda escondido para surpreender a vítima desprevenida. Dissimulação – É o fingimento ou disfarce. O agente esconde sua intenção de praticar o delito. Ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido – O dispositivo termina com uma cláusula genérica, permitindo a interpretação analógica, para abranger qualquer hipótese em que o agente se utiliza de algum subterfúgio para mitigar a possibilidade de defesa da vítima. 5ª) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum Veneno – substância que prejudica ou destrói as funções vitais. Explosivo – é a substância capaz de provocar explosão, ou seja, súbita e violenta liberação de energia. Tortura – intenso sofrimento físico ou mental. Outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum – Meio insidioso é aquele traiçoeiro, enganador; cruel é aquele apto a causar considerável sofrimento; de que pode resultar perigo comum é o que tem aptidão para atingir um número indeterminado de pessoas. 6ª) Contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge Prevalece que esta agravante não se aplica ao parentesco por afinidade ou à união estável. Como a lei diz “cônjuge”, não é possível o emprego de analogia in malam partem. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 36 7ª) Com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica O termo “abuso de autoridade” não se refere à conduta praticada por funcionário público, mas a relações privadas entre o agente e a vítima (ex.: tutor e tutelado, curador e curatelado). Também incide a agravante quando o agente se vale de relações domésticas (atinentes ao âmbito caseiro, inclusive entre empregador e empregado doméstico), de coabitação (moradia em conjunto) ou hospitalidade (abrange coabitação transitória, como a estabelecida entre moradores e os hóspedes). Por fim, configura-se a agravante se o crime for praticado com violência contra a mulher na forma da lei específica (Lei 11.340/2006). Exemplo: agente pratica o crime de ameaça contra sua ex-companheira. 8ª) Com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão O trecho referente ao “abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo” diz respeito a condutas praticadas por servidores públicos em geral, relacionadas ao exercício de suas funções. Já a parte final, ou seja, “ofício, ministério ou profissão”, refere-se a atividades de natureza privada. Ofício (atividade manual), ministério (atividade religiosa) e profissão (atividade remunerada de cunho predominantemente intelectual). 9ª) Contra criança, maior de 60 anos, enfermo ou mulher grávida Criança – pessoa de até 12 anos de idade incompletos (art. 2º da Lei 8.069/1990). Maior de 60 anos – houve uma pequena incongruência, já que o Estatuto do Idoso, no art. 1º, considera idosa a pessoa com idade igual ou maior de 60 anos. Cuidado com isso! Enfermo – É a pessoa que apresenta alguma doença ou enfermidade. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 37 Mulher grávida – Qualquer que seja o estágio da gestação. É preciso que o agente tenha ciência da gravidez. 10ª) Quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade Há maior gravidade na conduta de quem investe contra a vítima que está sob a proteção da autoridade (guarda, dependência ou sujeição). Ex.: sujeito agride pessoa que está no interior de viatura, sendo conduzida por policiais ao distrito policial para prestar depoimento na qualidade de testemunha. 11ª) Em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido A agravante se justifica porque o agente, ao invés de demonstrar solidariedade em relação à pessoa que já se encontra em situação difícil, aproveita-se disso para praticar o delito. Piora ainda mais a situação do ofendido. 12ª) Em estado de embriaguez preordenada Se o agente deliberadamente se embriaga para praticar o crime, incide a agravante. Utiliza-se a teoria da actio libera in causa (ver no ponto da culpabilidade). • Agravantes no caso de concurso de pessoas (art. 62 do CP) O legislador utiliza a expressão “concurso de pessoas” no art. 62 demaneira imprópria. Os incs. II e III do referido artigo trazem casos de autoria mediata (portanto, há falta de pluralidade de agentes culpáveis, um dos requisitos indispensáveis para configuração do concurso de pessoas). De modo geral, pune-se mais gravemente o agente que lidera os demais, os levam a cometerem o delito, ou aquele que se envolve na execução de um crime visando ao recebimento de recompensa. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 38 1ª) Promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais Pune-se mais gravemente o arquiteto mental do delito, que operacionaliza a conduta ilícita. É o que se dá com o autor intelectual e com o autor de escritório. Neste caso, o ajuste prévio entre os colaboradores é imprescindível, pois a partir desse elemento é que se faz possível a verificação da subserviência de um ou mais indivíduos em relação ao líder. 2ª) Coage ou induz outrem à execução material do crime Coagir é obrigar alguém a cometer um crime, de forma irresistível, mediante violência ou grave ameaça. A coação física irresistível exclui a própria conduta. A coação moral irresistível exclui a culpabilidade. Se a coação for resistível, haverá o concurso de pessoas. No entanto, o autor da coação terá sua pena agravada sendo a coação física ou moral, resistível ou irresistível. Induzir é fazer surgir na mente de terceiro um propósito criminoso até então inexistente. 3ª) Instiga ou determina a cometer crime alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal A lei refere-se a qualquer espécie de relação ou insubordinação, basta ser capaz de influir no espírito do agente. A instigação ou determinação pode dirigir-se aos inimputáveis, caracterizando a autoria mediata. 4ª) Executa o crime, ou nele participa mediante paga ou promessa de recompensa Pune-se de forma mais grave o criminoso mercenário. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 39 OBSERVAÇÃO FINAL QUANTO ÀS AGRAVANTES GENÉRICAS: certas figuras descritas como agravantes genéricas podem estar previstas como qualificadoras. Ex.: no crime de homicídio, o motivo torpe constitui uma qualificadora. Em tais casos, prevalece a qualificadora e não se pode utilizar a mesma hipótese como agravante, pois isso seria dupla punição pelo mesmo fato (bis in idem). Tanto assim que o art. 61, caput, do CP, estabelece que as agravantes são “circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime”. 1.1.2.2.2 Atenuantes Genéricas Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 1ª) ser o agente menor de 21 anos na data do fato, ou maior de 70 anos na data da sentença Menor de 21 anos na data do fato – é a denominada menoridade relativa, comprovada através de documento juridicamente hábil, não se vinculando unicamente à certidão de nascimento. Súmula 74 do STJ - Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil. Maior de 70 anos na data da sentença – Vale também para o acórdão condenatório. Leva-se em conta a data da publicação da decisão condenatória. Ex1.: João praticou o crime quando tinha 69 anos. A sentença condenatória é proferida quando já tinha completado 70 anos. Incide a atenuante. Ex2.: João praticou o crime quando tinha 65 anos. A sentença absolutória é proferida quando tinha 68 anos. O MP recorre e o acórdão condenatório é prolatado quando ele já tinha 70 anos. Incide a atenuante. Neste caso a idade deve ser aferida na data da sessão do julgamento pelo Tribunal de Justiça. Ex3.: João praticou o crime quando tinha 65 anos. A sentença condenatória é proferida quando tinha 68 anos. O réu recorre e o acórdão confirmatório é prolatado quando o agente já tinha 70 anos. Não incide a atenuante. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 40 OBSERVAÇÃO: São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era menor de 21 anos ao tempo do crime ou maior de 70 anos na data da sentença (art. 115). 2ª) desconhecimento da lei Embora o desconhecimento da lei seja inescusável e não afaste o caráter criminoso da conduta, funciona como atenuante genérica. A ciência da lei é obtida com a sua publicação no Diário Oficial. Evidentemente, cuida-se de uma ficção jurídica, já que existe uma quantidade infindável de leis, sendo difícil o efetivo conhecimento de todas. Nos termos do art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Porém, no campo penal, isso pode ser uma atenuante. Quando se aplica o erro de proibição e quando se aplica esta atenuante? No erro de proibição, o agente desconhece o conteúdo da norma. Ou seja, desconhece que o comportamento é proibido. Saber se um comportamento é permitido ou proibido é algo que aprendemos na vida em sociedade, não é necessário ser jurista. Ex.: holandês vem ao Brasil acreditando que consumir maconha não é crime aqui. Pensa estar praticando um comportamento permitido. Na atenuante, o agente desconhece a lei. Ou seja, ele desconhece a norma escrita. Ex.: agente retém documento de identificação alheio. Sabe que o comportamento é proibido, porém desconhece que existe uma lei tipificando essa conduta como contravenção penal (art. 3º da Lei 5.553/1968). Erro de proibição inevitável ou escusável O agente não sabe que o comportamento é proibido, nem poderia saber. Exclui a culpabilidade, isentando de pena (art. 21, 1ª parte). Erro de proibição evitável ou inescusável O agente não sabe que o comportamento é proibido, mas poderia saber. Será condenado, porém diminuída a pena de 1/6 a 1/3 (art. 21, 2ª parte). Desconhecimento da lei O agente tão somente desconhece a lei. Será condenado, porém atenuada a pena (art. 65, II). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 41 OBSERVAÇÃO: No âmbito das contravenções penais, a ignorância ou errada compreensão da lei, quando escusáveis, admitem o perdão judicial (art. 8º da LCP). 3ª) ter o agente cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral Nesses casos, há uma certa nobreza por parte do agente que, embora não seja suficiente para levar à absolvição, permite a atenuação da pena. Relevante valor social – relacionado a um interesse social. Ex.: agredir um traficante que está prejudicando a comunidade. Relevante valor moral – relacionado a um interesse individual. Ex.: agredir o sujeito que tentou estuprar a filha. 4ª) ter o agente procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano O agente, após ter praticado o delito, procura reparar o mal causado. Apenas se configura a atenuante se não for possível o reconhecimento do arrependimento posterior (art.16). O tema foi estudado no tópico “iter criminis”. 5ª) ter o agente cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima A coação pode ser física ou moral.Física (vis absoluta) – a coação física irresistível exclui a própria conduta. Moral (vis compulsiva) - consiste no emprego de grave ameaça. Pode ser resistível ou irresistível. - Se for irresistível, é causa excludente da culpabilidade. - Se for resistível, configura atenuante genérica mencionada, já que sua conduta apresenta menor reprovabilidade social. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 42 6ª) ter o agente cometido o crime em cumprimento de ordem de autoridade superior Se o agente praticar um crime em cumprimento de ordem ilegal de autoridade superior, incidirá a atenuante. Tratando-se de ordem não manifestamente ilegal, o subordinado atua amparado pela obediência hierárquica, ficando excluída a culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa (art. 22). 7ª) ter o agente praticado o crime sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima Violenta emoção – pode funcionar como atenuante ou causa de diminuição de pena. Se o crime for de homicídio ou de lesões corporais, o domínio de violenta emoção, logo em seguida injusta provocação da vítima caracterizam o privilégio. 8ª) ter o agente confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime Confissão é a admissão, pelo agente, da prática da infração penal que lhe é imputada. Funda-se na lealdade processual e tem como limite temporal o trânsito em julgado da condenação. Deve ser espontânea (sem coação) e perante a autoridade (delegado ou juiz). Espécies de confissão: a) Simples – é a simples admissão dos fatos pelo confitente. b) Qualificada – admissão do fato e oposição de fato modificativo ou impeditivo, ou seja, o agente agrega teses defensivas discriminantes ou exculpantes. Ou seja, o réu admite o crime mas indica fatos que, em tese, excluiria o crime ou o isentaria de pena. c) Parcial – é a confissão de apenas parte dos fatos narrados na denúncia. d) Retratada – ocorre quando o sujeito confessa a prática do delito e, em momento posterior, se retrata, negando a autoria. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 43 Confissão qualificada deve ser considerada como atenuante? O STF tem um antigo precedente dizendo que não. Nesta hipótese a finalidade do réu é exercer sua autodefesa e não contribuir para a descoberta da verdade real. (STF. 1ª Turma. HC 119671, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/11/2013). No entanto, o STJ firmou entendimento no sentido contrário, ensejando a incidência da atenuante quando utilizada para corroborar os outros elementos probatórios que fundamentam a condenação. E se o agente confessa na delegacia, mas se retrata em juízo, faz jus à atenuante? Ou seja, a confissão retratada deve ser considerada como atenuante? A atenuante somente será aplicável se as declarações que o réu tiver dado na fase pré-processual, forem consideradas, em conjunto com as outras provas, colhidas sob o manto do contraditório, para embasar a condenação. Súmula 545 do STJ - Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. “Se a confissão do réu foi utilizada para corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação, deve incidir a atenuante prevista no art. 65, III, "d", do Código Penal, sendo irrelevante o fato de que tenha havido posterior retratação, ou seja, que o agente tenha voltado atrás e negado o crime”. (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1712556/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/06/2019). O STF possui antigo precedente indicado pela impossibilidade de utilização da confissão retratada como atenuante: (...) a retratação em juízo da anterior confissão policial obsta a invocação e a aplicação obrigatória da circunstância atenuante referida no art. 65, inc. III, alínea ‘d’, do Código Penal (STF. 2ª Turma. HC 118375, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 08/04/2014). A confissão parcial serve como atenuante na dosimetria da pena? Devemos fazer o mesmo raciocínio feito para a confissão qualificada ou retratada. Assim, a confissão parcial faz incidir a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal, se os fatos narrados pelo autor influenciaram a convicção do julgador. Essa é a inteligência da Súmula 545 do STJ. Por fim, é importante destacarmos que o STJ possui entendimento específico para os casos de crime de tráfico de drogas, vejamos: CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 44 Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio. Ora, se o fato imputado ao sujeito é o de tráfico, mas ele confessa a posse ou propriedade para uso próprio, não há que se falar em confissão quanto ao crime de tráfico. Isso ocorre, pois, para incidir a atenuante, o agente precisa admitir a autoria do exato fato criminoso que lhe é imputado. E, atenção, não podemos confundir a situação descrita na súmula com os casos de confissão parcial. Isso porque o sujeito que admite a posse ou propriedade para consumo próprio, admitiu a prática de um fato diferente do que lhe foi imputado, qual seja, o tráfico de entorpecentes: (...) a incidência da atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III, alínea d, do Código Penal, no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não sendo apta para atenuar a pena a mera admissão da propriedade para uso próprio. Nessa hipótese, inexiste, nem sequer parcialmente, o reconhecimento do crime de tráfico de drogas, mas apenas a prática de delito diverso. (...) STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1408971/TO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/05/2019. Outros julgados interessantes sobre o tema: - Acusado da prática de roubo que confessa apenas a subtração do bem faz jus à atenuante da confissão espontânea prevista no art. 65, III, “d”, do CP? O STJ possui precedentes de ambas as Turmas pela possibilidade de aplicação da atenuante da confissão espontânea: (...) Entretanto, nos termos da jurisprudência desta Corte, embora a simples subtração configure crime diverso - furto -, também constitui uma das elementares do delito de roubo - crime complexo, consubstanciado na prática de furto, associado à prática de constrangimento, ameaça ou violência, daí a configuração de hipótese de confissão parcial (HC 396.503/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 24/10/2017, DJe 06/11/2017), de forma que a pena deve ser reduzida, pela aplicação do benefício, na segunda fase da dosimetria. (HC 299.516/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe 29/06/2018) CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 45 - Aplica-se a atenuante da confissão espontânea a acusado que nega a incidência de qualificadora no crime de furto? STJ - O fato de o denunciado por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo ter confessado a subtração do bem, apesar de ter negado o arrombamento, é circunstância suficiente para a incidência da atenuante da confissãoespontânea (art. 65, III, "d", do CP). (HC 328.021-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo - Desembargador convocado do TJ- PE, julgado em 3/9/2015, DJe 15/9/2015). OBSERVAÇÃO: O STJ já considerou possível compensar a atenuante da confissão espontânea com a agravante da promessa de recompensa (art. 62, IV). STJ. 5ª Turma. HC 318.594-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/2/2016. Há precedente do mesmo Tribunal permitindo a compensação a atenuante da confissão espontânea com a agravante de ter sido o crime praticado com violência contra a mulher (6ª Turma. AgRg no AREsp 689064-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6/8/2015). 9ª) ter o agente cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou Aquele que provocou o tumulto não é beneficiado, incorrendo ainda no art. 40 da Lei das Contravenções Penais: “Art. 40. Provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembleia ou espetáculo público, se o fato não constitui infração penal mais grave”. • Atenuante inominada do art. 66 do CP Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Ao contrário do rol de agravantes, que é fechado (numerus clausus), para atenuar a pena é possível que o juiz considere qualquer circunstância, anterior ou CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 46 posterior do crime. Aqui abre-se margem, por exemplo, para aplicação do princípio da coculpabilidade. 1.1.2.2.3. Praticando a dosimetria da 2ª fase de aplicação da pena Ex1.: Paulo pratica um crime de furto (pena – 1 a 4 anos). Ele é reincidente, porém confessou a prática do crime e tinha menos de 21 anos na data dos fatos. Considerando os elementos fornecidos, como ficaria a segunda fase da dosimetria da pena no tocante à pena privativa de liberdade? Suponha que a pena na primeira fase tenha sido fixada acima do mínimo legal, em 3 anos. R.: Temos uma agravante preponderante (reincidência) e duas atenuantes preponderantes (a menoridade relativa e a confissão espontânea). - adotaremos aqui o entendimento de que a confissão também é preponderante. O juiz poderia compensar a reincidência com a confissão e, diante da atenuante sobressalente da menoridade relativa, reduzir a pena em 1/6. Assim, tomamos a pena precedente, que é de 3 anos, e reduzimos de 1/6, totalizando 2 anos e 6 meses. Ex2.: Paulo pratica um crime de furto. Ele era menor de 21 anos na data do fato. Considerando os elementos fornecidos, como ficaria a segunda fase da dosimetria da pena no tocante à pena privativa de liberdade? Suponha que a pena na primeira fase tenha sido fixada no mínimo legal. R.: Existe uma circunstância atenuante. Porém, segundo entendimento majoritário, na segunda fase a pena não pode ficar abaixo do mínimo legal. Deverá ser mantida em 1 ano. 1.1.2.3. 3ª Fase: Fixação da pena definitiva – causas de aumento e diminuição Nesta fase, a finalidade é fixar a pena definitiva. Para tanto, serão consideradas as causas de aumento e de diminuição, que podem estar previstas tanto na parte geral (causas de diminuição ou de aumento genéricas) quanto na parte especial; e, também, na legislação penal especial (causas de diminuição ou de aumento específicas. Qual a fração de cada causa de aumento ou de diminuição? Cada causa de aumento ou diminuição tem uma fração própria, que é trazida pela própria lei. Pode ser uma fração fixa (ex.: “aumenta-se de 1/6”) ou uma fração variável (ex.: “aumenta-se de 1/6 a 1/2”). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 47 É possível a existência simultânea de mais de uma causa de aumento ou mais de uma causa de diminuição? Sim. Aplica-se o parágrafo único do art. 68: Art. 68, Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua. Desta forma: a) Se estiverem presentes mais de uma causa de aumento ou mais de uma causa de diminuição, ambas previstas na parte geral, o juiz deve aplicar ambas. b) Se estiverem presentes mais de uma causa de aumento ou mais de uma causa de diminuição, ambas previstas na parte especial, o juiz pode aplicar somente uma delas (a que mais aumente ou a que mais diminua, respectivamente). c) Se estiverem presentes mais de uma causa de aumento ou mais de uma causa de diminuição, uma prevista na parte geral e outra prevista na parte especial, o juiz deve aplicar ambas. d) Se estiverem presentes uma causa de aumento e uma causa de diminuição (pouco importa se na parte geral ou na parte especial), o juiz deve aplicar ambas. Aplicam-se primeiro as causas de aumento, depois as causas de diminuição. 1.1.2.3.1. Existência simultânea de causas de aumento e diminuição: formas de aplicação da pena e critérios para fixação das causas de aumento e de diminuição 1º) Concurso homogêneo de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte geral Todas as causas devem ser, obrigatoriamente, aplicadas. No entanto, o legislador de 1984 não solucionou a divergência jurisprudencial sobre a forma de aplicação das majorantes e minorantes. Existem basicamente 3 correntes: a) As causas de aumento ou diminuição incidem umas sobre as outras (princípio da incidência cumulativa). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 48 É o sistema dos “juros sobre juros”. Exemplo: pena de 6 anos sobre a qual recaem duas causas de aumento de metade. Teríamos: 6 anos + 1/2 de 6 anos = 9 anos (3 anos) 9 anos + 1/2 de 9 anos = 13 anos e 6 meses (4 anos e 6 meses) Inconveniente: é prejudicial para o réu em relação ao critério seguinte. b) As causas de aumento ou de diminuição incidem sobre a pena fixada na 2ª fase da dosimetria (princípio da incidência isolada) É o sistema dos “juros sobre a dívida original”. Assim, a segunda causa de aumento ou diminuição deveria incidir sobre a pena base, e não sobre a pena já acrescida pela causa de aumento ou diminuição anterior. Exemplo: pena de 6 anos sobre a qual recaem duas causas de aumento de metade. Teríamos: 6 anos + 1/2 de 6 anos + 1/2 de 6 anos = 12 anos (3 anos) (3 anos) O objetivo é evitar que as causas de aumento sucessivas, operando sobre a pena aumentada, cresçam progressivamente. No entanto, essa corrente tem um grande inconveniente, qual seja, na hipótese de concurso homogêneo de causas de diminuição pode gerar pena zero. Confira: 6 anos - 1/2 de 6 anos - 1/2 de 6 anos = 0 ano CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 49 (3 anos) (3 anos) Por isso, sofre severas críticas por parte da doutrina. c) Critério da incidência diferenciada: as causas de aumento incidem sobre a pena fixada na 2ª fase da dosimetria (princípio da incidência isolada) e as causas de diminuição incidem umas sobre as outras (princípio da incidência cumulativa). Busca conciliar os dois critérios anteriores e evitar a incidência isolada, principalmente quanto às causas de diminuiçãosucessiva. Seguida por Celso Delmanto e Rogério Sanches. 2º) Concurso homogêneo de causas de aumento ou diminuição previstos na parte especial ou em legislação penal especial (art. 68, parágrafo único) Diversamente do que ocorre com as majorantes e minorantes previstas na Parte Geral do CP, no concurso de causas de aumento e diminuição da parte especial ou previstas em legislação penal especial (por analogia in bonan partem), o juiz pode se limitar a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua a pena. As causas de aumento remanescentes deverão ser aplicadas como agravantes genéricas, se previstas em lei ou, residualmente, como circunstâncias judiciais desfavoráveis. Já as restantes causas de diminuição funcionarão como atenuantes genéricas, nominadas (art. 65, CP) ou inominadas (art. 66 do CP). É como vem se posicionado o STJ sobre o tema, vejamos: STJ: O deslocamento da majorante sobejante para outra fase da dosimetria, além de não contrariar o sistema trifásico, é a que melhor se coaduna com o princípio da individualização da pena. (3ª Seção. HC 463.434-MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/11/2020) 3º) Concurso heterogêneo de causas de aumento ou diminuição: previstas na parte geral, especial ou em legislação penal Se existirem uma causa de aumento e uma causa de diminuição, simultaneamente, ambas deverão ser aplicadas. Em primeiro lugar o magistrado CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 50 aplicará as causas de aumento, e depois as de diminuição. A sentença não pode fazê-las recair ao mesmo tempo, compensando-as. Se existirem, ao mesmo tempo, duas causas de aumento, ou então duas causas de diminuição previstas, uma na Parte Geral e a outra na Parte Especial ou em legislação especial, todas elas serão aplicáveis. Por questão lógica intrínseca ao tipo penal, primeiramente devem incidir as causas de aumento e de diminuição da Parte Especial ou da legislação penal especial, e, posteriormente as majorantes da Parte Geral, seguidas pelas causas gerais de diminuição de pena. Na conta, deve-se observar o disposto no art. 11 do CP: Frações não computáveis da pena Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. ATENÇÃO! Na 3ª fase da dosimetria, a pena PODE ficar abaixo do limite mínimo legal e acima do limite máximo! SEMPRE CAI EM PROVA! 1.1.2.3.2. Praticando a dosimetria na terceira fase de aplicação da pena João praticou um crime de furto simples durante o repouso noturno. Ele ingressou na residência da vítima e começou a separar um pertence para subtração quando foi imediatamente detido. Supondo que a pena na segunda fase tenha ficado em 3 anos, como ficaria a terceira fase da dosimetria? R.: Temos uma causa de aumento da parte especial (repouso noturno) e uma causa de diminuição da parte geral (tentativa). O juiz deve aplicar ambas, primeiro a causa de aumento (a fração do repouso noturno é de 1/3, nos termos do art. 155, § 1º), depois a de diminuição (a fração de diminuição é de 1/3 a 2/3, conforme art. 14, II). Supondo que o juiz decida reduzir a pena de 1/2 por conta da tentativa, a conta ficaria: 3 anos + 1/3 de 3 anos = 4 anos CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 51 (1 ano) 4 anos - 1/2 de 4 anos = 2 anos (2 anos) • Observações finais Como diferenciar qualificadoras, causas de aumento, agravantes e circunstâncias judiciais? As qualificadoras trazem uma margem diferente de aplicação da pena, mais severa que a prevista para o tipo básico. Em outras palavras, as penas cominadas ao tipo qualificado são diferentes e mais graves que as do tipo básico. A pena-base (1ª fase da dosimetria) é calculada já tomando por base a pena do crime simples ou qualificado. Furto simples Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. As causas de aumento são circunstâncias que, como o próprio nome já diz, provocam o aumento da pena (majorantes). São aplicadas na terceira fase da dosimetria da pena. São fáceis de identificar, porque normalmente a própria lei diz (ex.: “a pena será aumentada /a pena aumenta-se”). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 52 Furto simples Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Causa de aumento de pena do furto § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. Agravantes são circunstâncias legais que incidem na segunda fase da dosimetria da pena. Estão previstas na parte geral do Código Penal (arts. 61 e 62). Também são fáceis de identificar, porque a lei se refere a elas expressamente como “agravantes”. Circunstâncias judiciais, por fim, são aquelas previstas no art. 59 do CP, aplicadas na 1ª fase da dosimetria. Como diferenciar figuras privilegiadas, causas de diminuição, atenuantes e circunstâncias judiciais? O outro lado da moeda das figuras qualificadoras são as privilegiadas. Nesses casos, a lei traz uma margem diferente de aplicação da pena, mais branda que a prevista para o tipo básico. Em outras palavras, as penas cominadas ao tipo privilegiado são diferentes e mais brandas que as do tipo básico. Corrupção passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa. Figura privilegiada § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. As causas de diminuição são circunstâncias que, como o próprio nome já diz, provocam a diminuição/redução da pena (minorantes). São aplicadas na terceira fase da dosimetria da pena. São fáceis de identificar, porque normalmente a própria lei diz (ex.: “a pena será diminuída”). CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 53 Denunciação caluniosa Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Causa de diminuição de pena da denunciação caluniosa § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. A contrapartida das agravantes são as atenuantes. São circunstâncias legais que incidem na segunda fase da dosimetria da pena. Estão previstas na partegeral do Código Penal (arts. 65 e 66). Também são fáceis de identificar, porque a lei se refere a elas expressamente como “atenuantes”. Note bem! Em determinadas hipóteses, o mesmo elemento poderia, em tese, ser enquadrado como qualificadora, causa de aumento, agravante ou circunstância judicial. Quando isso ocorrer, é justamente essa a ordem que deve ser observada. As qualificadoras preferem as causas de aumento, que preferem as agravantes, que preferem as circunstâncias judiciais desfavoráveis. Da mesma forma, os privilégios preferem as causas de diminuição, que preferem as atenuantes, que preferem as circunstâncias judiciais favoráveis. Ex1.: João mata Pedro em razão de dívida de drogas. O motivo torpe, no caso do homicídio, está previsto como qualificadora. Portanto, estamos diante de um homicídio qualificado, não podendo a torpeza ser utilizada como causa de aumento, agravante, nem como circunstância judicial. Ex2.: João agride Pedro em razão de dívida de drogas. O motivo torpe, no caso do crime de lesões corporais, não está previsto como qualificadora, nem como causa de aumento de pena, mas é uma agravante genérica. Portanto, estamos diante de um crime de lesão corporal com a agravante do motivo torpe. Ex3.: João agride Pedro, deixando-o profundamente traumatizado, o que até lhe custa o emprego. As consequências do crime não estão previstas como qualificadora, nem como causa de aumento de pena, nem como agravante, mas é uma circunstância judicial desfavorável. Portanto, estamos diante de um crime de lesão corporal com uma circunstância judicial desfavorável. Como fica a dosimetria da pena se houver mais de uma qualificadora? CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 54 Ex.: Homicídio praticado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. Existem três correntes: a) A segunda qualificadora deve ser utilizada para agravar a pena na 2ª fase da dosimetria e, apenas se não for possível, como circunstância judicial desabonadora na 1ª fase. Parece ser a majoritária. Nesse sentido: “A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é no sentido de que, havendo mais de uma qualificadora no furto, uma delas pode formar o tipo qualificado e as demais podem ser utilizadas para agravar a pena na segunda etapa da dosimetria (caso conste no rol do art. 61, II, do CP) ou para elevar a pena-base na primeira fase do cálculo, como feito no presente caso” (STJ, AgRg no REsp 1630537 / MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª T., j. 21/02/2017, v.u.). b) A segunda qualificadora deve ser utilizada como circunstância judicial desabonadora na 1ª fase da dosimetria. c) Deve-se desprezar as demais qualificadoras. 1.1.3. QUADRO RESUMO (PONTOS-CHAVE) Pena não pode ficar abaixo do mínimo 1ª fase (pena-base) Circunstâncias judiciais (art. 59) Antecedentes (STJ - teoria da perpetuidade; STF – dividido) Culpabilidade Conduta social Personalidade do agente Motivos do crime Circunstâncias do crime Pena não pode ficar acima do máximo CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 55 Consequências do crime Comportamento da vítima Pena não pode ficar abaixo do mínimo 2ª fase (pena intermediária) Agravantes e atenuantes (arts. 61 a 66) Pena deve se aproximar das preponderantes (Reincidência, Personalidade e Motivos). Figuras mais frequentes: Reincidência (agravante preponderante; teoria da temporariedade) Menoridade (atenuante “super” preponderante) Confissão Pena não pode ficar acima do máximo Pena pode ficar abaixo do mínimo 3ª fase (pena definitiva) Causas de aumento e de diminuição No concurso de causas de aumento ou de diminuição da parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou uma só diminuição, prevalecendo a causa que mais aumente ou diminua. Critério da incidência cumulativa (majoritário) Pena pode ficar acima do máximo • Praticando a dosimetria da pena – todas as fases CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 56 (Tente resolver com calma antes de ler a resposta. Se não conseguir, sem problema. Veja o que errou e, quando for revisar, tente resolver de novo). Exercício 1: José está sendo processado como incurso no art. 155, § 4º, I, do CP, porque destruiu o vidro de um veículo estacionado na via pública para subtrair a frente de um aparelho de som que estava escondida sob o banco. Na audiência de instrução, José confessou a prática do crime. Ele tem maus antecedentes e é reincidente. Calcule a pena privativa de liberdade de José. Artigos para consulta: Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; R.: Estamos diante de um furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, cuja pena é de reclusão, de 2 a 8 anos, e multa. O exercício pede para calcularmos somente a pena privativa de liberdade. Então vejamos. Na primeira fase, está presente uma circunstância judicial desfavorável (maus antecedentes). Assim, eleva-se a pena em 1/6 acima do mínimo (2 anos + 1/6), fixando a pena-base em 2 anos e 4 meses de reclusão. Na segunda fase, está presente uma agravante (reincidência) e uma atenuante (confissão). Tomando a confissão também por circunstância legal preponderante, as duas serão compensadas, fixando a pena intermediária no montante já estabelecido na fase anterior, ou seja, 2 anos e 4 meses de reclusão. Na terceira fase, não há causas de aumento ou diminuição. Exercício 2: Márcio foi denunciado pelo crime previsto no art. 121, § 2°, II, e § 4º e c.c. o art. 14, II, do CP. Segundo a inicial acusatória, o acusado efetuou disparos de arma de fogo contra Francisco, de 12 anos, pretendendo matá-lo. Os tiros atingiram órgãos vitais da vítima, que ficou internada durante muito tempo e apenas por sorte CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 57 não morreu. Os dois não se conheciam anteriormente e Márcio alvejou a vítima apenas porque não gostou do jeito que ela olhou para ele. Márcio tinha 20 anos na data do delito. Ficou provado que o acusado era pessoa extremamente agressiva e impulsiva. Calcule a pena de Márcio. Artigos para consulta: Art. 14 - Diz-se o crime: II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: II - por motivo fútil; Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Aumento de pena § 4o (...) Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. R.: Estamos diante de um homicídio qualificado por motivo fútil (o agente matou a vítima apenas porque não gostoudo jeito como ela o olhou). A pena cominada é de reclusão, de 12 a 30 anos. Na primeira fase, existe uma circunstância judicial desfavorável, atinente à personalidade do agente (agressivo e impulsivo). Assim, eleva-se a pena em 1/6 acima do mínimo (12 anos + 1/6), fixando a pena-base em 14 anos de reclusão. Na segunda fase, temos uma atenuante, consistente na menoridade relativa. Portanto, reduz-se a pena em 1/6. Observe que 14 anos – 1/6 de 14 anos = 11 anos e 8 meses. Porém, na segunda fase a pena não pode ficar abaixo do mínimo legal. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 58 Portanto, reduz-se a pena intermediária até o mínimo legal, que é de 12 anos de reclusão. Na terceira fase, está presente uma causa de aumento (crime contra pessoa menor de 14 anos), razão pela qual eleva-se a pena em 1/3, ao patamar de 16 anos. Ainda na terceira fase, está presente a causa de diminuição referente à tentativa. Diante do considerável iter criminis percorrido (o agente efetuou os disparos e acertou a vítima, que não morreu por sorte), a redução será fixada em grau mínimo, ou seja, 1/3, ficando a pena definitiva em 10 anos e 8 meses de reclusão. CPF: 860.542.154-18 PACHEGO GONÇALVES | 9999999999 | alesantosf2020@gmail.com | CPF: 860.542.154-18 É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal. 59 2. JURISPRUDÊNCIA Elevados custos da investigação e enriquecimento do réu não são argumentos para aumentar a pena-base Os elevados custos da atuação estatal para apuração da conduta criminosa e o enriquecimento ilícito obtido pelo agente não constituem motivação idônea para a valoração negativa do vetor "consequências do crime" na 1ª fase da dosimetria da pena. Em outras palavras, o fato de o Estado ter gasto muitos recursos para investigar os crimes (no caso, era uma grande operação policial) e de o réu ter obtido enriquecimento ilícito com as práticas delituosas não servem como motivo para aumentar a pena-base. STF. 2ª Turma. HC 134193/GO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/10/2016 (Informativo 845). Direito penal. Não caracterização de atenuante inominada. Não caracteriza circunstância relevante anterior ao crime (art. 66 do CP) o fato de o condenado possuir bons antecedentes criminais. A atenuante inominada é entendida como uma circunstância relevante, anterior ou posterior ao delito, não disposta em lei, mas que influencia no juízo de reprovação do autor. Excluem-se, portanto, os antecedentes criminais, que já são avaliados na fixação da pena-base e expressamente previstos como circunstância judicial do art. 59 do CP. REsp 1.405.989-SP, Rel. para o acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/8/2015, DJe 23/9/2015. (informativo 569 do STJ)