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Indignidade e Deserdação

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A Indignidade e a Deserdacã̧o 
Nelson Rosenvald 
Nocõ̧es gerais e lineamento histórico sobre a 
indignidade e a deserdacã̧o 
Aberta a sucessão, com o óbito do titular do patrimônio, 
transmitem-se para os seus herdeiros a titularidade de 
todas as relações (ativas e passivas), por conta da regra de 
saisine (CC, art. 1.784). 
A regra da transmissão automática não perquire da 
existência, ou não, de uma relação afetiva, sentimental, 
entre o falecido e o seu herdeiro. Tampouco questiona 
sobre o grau de merecimento do beneficiário, a partir de 
seu comportamento pregresso em relação ao extinto. 
Sem dúvida, reconhecida a existência de um ponto de 
interseção entre o Direito das Sucessões e o das Famiĺias, 
nota-se uma presuncã̧o de afeto, solidariedade e estima 
entre o sucessor e o sucedido. 
Não se pode ignorar, todavia, que a prática de algumas 
condutas pelo beneficiário (herdeiro ou legatário) pode 
estar revestida de particular reprovabilidade pelo sistema 
jurid́ico – independentemente da sua conotação moral. 
Condutas ofensivas, desabonadoras e, até mesmo, 
criminógenas podem ter sido levadas a efeito pelo 
sucessor em prejuiźo daquele que lhe está a transmitir o 
patrimônio. E ́nessa ambiência que figuram os institutos da 
indignidade e da deserdação. 
São condutas ignóbeis praticadas em detrimento do autor 
da heranca̧ e que podem, por conta do grau de reprovação 
jurid́ica, propiciar a exclusão do herdeiro ou legataŕio do 
âmbito sucessório, privando o recebimento, a partir de um 
juiźo de razoabilidade e de justiça distributiva. 
 
 
Conquanto o Código Civil brasileiro tenha optado por 
conferir um tratamento binário, dualista, aos institutos em 
apreço, posicionando topologicamente a indignidade no 
âmbito da sucessão em geral e a deserdação no campo da 
sucessão testamentária, as suas raiźes, fundamentos e 
consequências são as mesmas. Enfim, possuem um 
denominador comum. Bem por isso, inclusive, as 
legislações mais recentes de alguns paiśes, como a Bélgica 
e a Itália, tratam dos institutos conjuntamente. Nesse 
ponto, parece que melhor teria sido o codificador ter 
apreciado a indignidade e a deserdação a um só tempo, 
até mesmo porque os casos deflagradores são muito 
aproximados. 
 
O Código Civil em vigor cuida da indignidade e da 
deserdação como causas excludentes da sucessão, 
seguindo o modelo em vigor na Itália, no Chile e no Peru, 
conforme o translúcido art. 1.814, que dispara “são 
excluídos da sucessão”. Cuidam-se, pois, de categorias 
jurid́icas destinadas a excluir alguém que figura na ordem 
de vocacã̧o sucessória do efetivo recebimento do 
patrimônio transmitido. 
Não há que se confundir, destarte, a indignidade e a 
deserdação com a incapacidade (rectius, falta de 
legitimação) sucessória. Com efeito, o indigno e o 
deserdado possuem legitimação sucessória e figuram na 
ordem de vocação sucessória, beneficiados pela 
transmissão automática de saisine. Contudo, em face de 
sua conduta em relacã̧o ao de cujus, o sistema jurid́ico o 
priva do efetivo recebimento do patrimônio transferido. 
Impede-se, pois, o recebimento da herança ou legado, sem 
afetar a sua legitimação sucessória. Enfim, a falta de 
legitimação é um fato, enquanto a indignidade e a 
deserdação constituem uma pena, uma sanção civil, 
imposta ao herdeiro ou legatário. Vale a pena conferir a 
explicação de Luiz Paulo Vieira de Carvalho: “a falta de 
legitimação passiva sucessória impede o recebimento e o 
exercićio do direito à sucessão, enquanto na indignidade, 
tal direito é recebido e permitido o seu exercićio até o 
trânsito em julgado da sentença que aplique a pena de 
exclusão, produzindo esta, em regra, efeitos retroativos à 
data do óbito do hereditando”. 
 
 
Prova disso é que faltando legitimação sucessória, não ha ́
o reconhecimento de qualquer direito, estando a pessoa 
inapta ao recebimento da herança ou legado, 
independentemente de seu mérito ou demérito. Em 
situação diametralmente oposta, na indignidade e na 
deserdação, a pessoa que consta na ordem de vocação 
sucessória não poderá receber pessoalmente o patrimônio 
transmitido por conta do seu demérito, em relação ao 
titular. 
 
 
Natureza jurid́ica da indignidade e da deserdacã̧o 
 
 
Tanto na doutrina brasileira, quanto entre os estudiosos 
alienígenas, reina um tranquilo e absoluto consenso de 
que a indignidade e a deserdação constituem uma sancã̧o 
civil, uma pena de natureza civ́el, aplicada àquele que se 
comportou mal em relacã̧o ao autor da heranca̧, impondo 
como consequência a perda do direito subjetivo de 
receber o patrimônio transferido pelo passamento do 
titular. 
 
Necessidade de reconhecimento judicial 
 
Em se tratando de institutos de natureza sancionatória, 
sobreleva reconhecer a premente necessidade de decisão 
judicial, respeitado o devido processo legal (assegurado 
constitucionalmente – CF, art. 5o, LV) para que o herdeiro 
ou legatário seja privado do recebimento da herança ou 
legado. 
Isso porque em se tratando de sanção civil, com graves 
efeitos jurid́icos, obstacularizando o efetivo recebimento 
do patrimônio pelo sucessor, somente com a prolação de 
uma decisão judicial em ação especif́ica, com objeto 
delimitado, será possiv́el reconhecer a indignidade ou a 
deserdação. Com isso, nota-se que o indigno ou deserdado 
mantém a sua qualidade sucessória até que venha a 
transitar em julgado o provimento jurisdicional. 
 
É necessária a propositura de uma ação civil (de 
indignidade ou de deserdação) para a desconstituição do 
direito de recebimento do patrimônio. Não é bastante a 
condenacã̧o criminal (para a indignidade) ou a lavratura 
do testamento (para a deserdacã̧o). Por igual, não é 
possiv́el discutir a exclusão da herança incidentalmente 
em uma outra ação, mesmo de natureza civil, com objeto 
distinto. Sequer nos autos do inventário será possiv́el 
discutir a matéria, em face de sua estreita delimitação, não 
comportando discussões de alta indagação. Exige-se uma 
acã̧o própria, com objeto especif́ico, na qual se discutirá 
a exclusão da heranca̧. Trata-se de demanda submetida ao 
procedimento comum ordinário, com o intuito de garantir 
ao demandado uma cognição mais ampla, facultando-lhe 
todos os mecanismos probatórios e temporais para a sua 
ampla defesa. Até porque não seria criv́el retirar de uma 
pessoa o direito à herança sem a ampla defesa e o 
contraditório. 
 
Demais disso, a ação tem de ser ajuizada no prazo 
decadencial de quatro anos, computados a partir da 
abertura da sucessão, apesar da indevida redação do 
Parágrafo único do art. 1.965 do Codex que, 
lamentavelmente, confundiu a abertura da sucessão com 
a abertura do testamento, esquecendo que somente o 
testamento cerrado precisa ser aberto. 
 
Justificam-se, pois, as disposições legais a exigir a 
comprovacã̧o judicial para que a sanção civil aplicada surta 
efeitos: 
 
Art. 1.815, Código Civil: “A exclusão do herdeiro ou 
legataŕio, em qualquer desses casos de indignidade, será 
declarada por sentenca̧.” 
 
Art. 1.965, Código Civil: “Ao herdeiro instituid́o, ou àquele 
a quem aproveite a deserdação, incumbe provar a 
veracidade da causa alegada pelo testador. 
 
Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação 
extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da 
abertura do testamento.” 
 
Enquanto não transitar em julgado a sentença civil de 
indignidade ou de deserdação, o sucessor exercerá o seu 
direito plenamente, com todas as consequências naturais 
reconhecidas a qualquer herdeiro ou legataŕio. 
 
Dessa maneira, mesmo que a conduta caracterizadora da 
indignidade ou da deserdação esteja reconhecida por 
sentença penal condenatória, proferida pelo juiz penal, em 
processo válido, com trânsito em julgado, não ha ́ uma 
exclusão automáticado recebimento da herança. Exempli 
gratia: se um filho assassinou o pai e veio a ser condenado 
criminalmente, com trânsito em julgado, não perde 
automaticamente o direito ao recebimento da herança, 
sendo necessária uma decisão civil, em ação própria de 
indignidade ou de deserdação. E ́ a independência das 
instâncias, exigindo uma cognição especif́ica para a 
exclusão da sucessão. 
 
 
Aliás, o próprio art. 92 do Código Penal, em seu Paraǵrafo 
único, dispõe que outros efeitos anexos da condenação 
penal (civis, administrativos, polit́icos...), como, por 
exemplo, a perda de cargo ou função pública, perda de 
mandato eletivo ou a destituição do poder familiar, “não 
são automáticos, devendo ser motivadamente declarados 
na sentença”. No caso especif́ico da indignidade e da 
deserdação, somente o juiz civil pode aplicar a sanção, não 
podendo decorrer da sentença penal. 
 
Hipoteticamente, portanto, é possiv́el a ocorrência de 
decisões conflitantes, com uma decisão penal 
condenatória e uma outra civil de improcedência da 
exclusão da sucessão. 
 
Em razão dessa autonomia de instâncias, duas notas 
conclusivas se impõem: 
i) a ação de indignidade ou de deserdação pode ser 
ajuizada independentemente da existência de ação penal 
e de seu eventual andamento; 
ii) não poderá o juiz civil suspender o andamento do 
processo para aguardar a sentença penal, uma vez que 
esta não influenciará a deliberação sobre a indignidade ou 
deserdação. 
 
Com vistas a assegurar o resultado útil do futuro 
provimento jurisdicional a ser proferido na ação civil, pode 
o magistrado, de ofićio ou a requerimento da parte (ou do 
Ministério Público, se atuar no processo, por conta da 
presença eventual de um incapaz), determinar medidas 
cautelares. Assim, exemplificativamente, enquanto é 
processada a ação, é possiv́el imaginar uma medida 
assecuratória incidental para obstar que o réu da ação (de 
quem se pretende provar a prática do ato indigitado) 
venha a alienar o patrimônio, transferindo a terceiros, ou 
mesmo que deposite em juiźo os frutos colhidos de 
determinados bens. 
 
Nota-se, aqui, uma clara incidência do garantismo 
constitucional, com uma visão da pena civil a partir dos 
direitos e garantias fundamentais da Lex Legum. 
 
Considerando que o direito à herança é uma garantia 
constitucional (CF, art. 5o, XXX) e, por conseguinte, uma 
cláusula pétrea, somente uma decisão judicial civil, 
prolatada em uma ação deflagrada com a finalidade 
especif́ica de discutir a matéria, poderá excluir da herança 
um sucessor. De fato, consoante a cátedra de Konrad 
Hesse, a Constituição impõe tarefas ao ordenamento 
infraconstitucional. E a “Constituição transforma-se em 
força ativa se essas tarefas forem efetivamente realizadas, 
se existir a disposição de orientar a própria conduta 
segundo a ordem nela estabelecida”. E, nessa trilha, 
parece que a prudência recomenda exigir uma sentença 
civil para excluir alguém da sucessão, mesmo que já exista 
uma decisão penal condenatória. 
 
 
Além disso, a partir de uma imperiosa interpretação 
sistêmica do ordenamento jurid́ico, com um fecundo 
diálogo entre o Direito Civil e Direito Processual Penal, 
justifica- se perfeitamente a exigência de decisão 
especif́ica do juiźo civ́el. E ́ que, em se tratando de 
indignidade ou deserdação derivada da prat́ica de um 
crime contra a vida, como no caso de homicid́io doloso, a 
decisão penal competirá ao Tribunal de Júri. E, conforme a 
legislação processual penal (CPP, art. 593, 3o, in fine), a 
segunda decisão daquele Colegiado contrária à prova dos 
autos é irrecorrível, não comportando impugnação. Assim, 
considerando que a decisão do Tribunal Popular pode ter 
sido contrária à prova dos autos, justifica-se a exigência de 
uma decisão civil que aprecie verticalmente os fatos, 
baseada em juiźo técnico e exauriente. Sem dúvida, 
mostrar-se-ia imprudente e temeraŕio excluir uma pessoa 
da sucessão – retirando-lhe uma garantia constitucional – 
por efeito decorrente de uma decisão do Tribunal do Júri 
que pode ter sido prolatada contrariamente à prova dos 
autos. 
 
De qualquer sorte, releva perceber que a decisão judicial 
produzirá efeitos retroativos, ex tunc, volvendo até a data 
da abertura da sucessão. Por conta dessa retroatividade 
eficacial da decisão judicial que reconhece a indignidade 
ou a deserdacã̧o, o excluid́o da sucessão terá de devolver 
os frutos e rendimentos auferidos até o advento da 
deliberação do juiz. Equipara-se, portanto, a um possuidor 
de má-fé, por conta dos efeitos retrooperantes. De 
qualquer maneira, terá direito ao ressarcimento das 
despesas com a manutenção dos bens e à restituição dos 
tributos pagos, com vistas a evitar um enriquecimento sem 
causa dos herdeiros. 
 
 
 
Efeitos jurid́icos decorrentes do reconhecimento da 
indignidade e da deserdacã̧o 
 
Reconhecida a indignidade ou deserdação por sentença 
transitada em julgado, é natural que a exclusão da 
sucessão traga consigo a produção de efeitos na seara 
jurid́ica, atingindo o sancionado, bem como terceiros. 
 
 
O efeito jurid́ico imediato decorrente é a exclusão do 
indigno ou deserdado da sucessão com efeitos retroativos 
à data da abertura da sucessão, passando a ser tratado 
como se morto fosse, tornando ineficaz a sua vocação 
sucessória por conta da punição que lhe foi aplicada, 
decorrente de seu comportamento ignóbil contra o autor 
da herança. 
 
Entrementes, considerada a natureza punitiva da exclusão 
da sucessão, há de incidir o princiṕio da intranscendência 
da pena. 
 
De acordo com esse postulado, norteador do sistema 
jurid́ico punitivo, contrariaria a razoabilidade e a 
pessoalidade da pena permitir que um terceiro seja 
atingido pela sanção imposta a outrem. Consistiria em uma 
injustificável severidade. 
 
Seguramente, a pena não pode perpassar a pessoa do 
apenado. Por conta disso, os descendentes do indigno ou 
do deserdado recebem o patrimônio que caberia a ele, 
como se morto já estivesse. E ́um caso tiṕico de sucessão 
por representacã̧o (por estirpe). 
 
Cria o sistema jurid́ico uma ficção, por meio da qual o 
descendente do indigno ou deserdado assume o seu 
posto, recolhendo a parte que lhe caberia como se já 
estivesse morto o punido. Ressalte-se, no ponto, que 
somente os descendentes do indigno ou deserdado 
podem representá-lo, por conta do caráter 
extraordinário dessa representacã̧o sucessória, 
diferentemente do que ocorre na representacã̧o 
sucessória por pré-morte. 
 
No caso especif́ico da sucessão testamentaŕia, a exclusão 
do herdeiro ou legatário não induz a sucessão por estirpe, 
afastados também os descendentes do sancionado. 
Nessa hipótese, a parte que caberia ao excluid́o ficara ́para 
a massa hereditária, salvo se havia substituto indicado no 
próprio testamento. 
 
Significa, portanto, que a indignidade ou a deserdação 
produzem efeitos punitivos somente em relação à pessoa 
do apenado, não prejudicando os seus sucessores. Torna-
se, assim, o indigno ou deserdado incompativ́el com o 
patrimônio transmitido, autorizando os seus descendentes 
a suceder em seu lugar, como se morto fosse (sucessão por 
representacã̧o). 
 
É relevante repetir à exaustão e desdobrar o raciocińio: a 
indignidade e a deserdação tornam o herdeiro ou legatário 
incompativ́el com o patrimônio transmitido. Em sendo 
assim, o sancionado não pode ter o usufruto ou a 
administracã̧o dos bens que foram transmitidos aos seus 
descendentes, em seu lugar, mesmo que sejam 
incapazes. Trata- se de uma preocupação moral do 
sistema jurid́ico, evitando que seja aviltada a memória do 
autor da herança, vitimado pela ingratidão do sucessor. 
 
Por absoluta lógica, o indigno e o deserdado também não 
podem suceder os seus descendentes (que, 
eventualmente, receberamo patrimônio em seu lugar, por 
representacã̧o) quando falecerem sem deixar novos 
descendentes, no que tange aos bens com os quais se 
tornou incompativ́el. Note-se, todavia, que poderão 
suceder o seu descendente em relação a outros bens, 
adquiridos livremente e sem qualquer vinculação com o 
patrimônio do autor da herança. Exemplificando: no caso 
de morte do filho que recolheu a herança no lugar do seu 
pai (indigno ou deserdado), sem deixar netos, o 
ascendente punido não pode suceder no que tange aos 
bens transmitidos por força da sentença; mas poderá 
receber outros bens, adquiridos em vida pelo seu filho, 
sem qualquer relação com o patrimônio transmitido. 
 
Outrossim, por conta da retroação eficacial da decisão 
judicial que puniu o indigno ou o deserdado, o sucessor 
passa a ser tratado como um possuidor de ma-́fé, devendo 
restituir, com juros e correção monetária, todos os frutos 
e rendimentos recebidos, com ressalva das despesas de 
conservacã̧o do acervo hereditário e das benfeitorias 
necessárias – que precisam ser indenizadas, sob pena de 
enriquecimento sem causa. Havendo eventual 
depreciação do patrimônio, será caso de indenização em 
favor dos herdeiros, inclusive por lucros cessantes e perda 
de uma chance. 
 
Ademais, em se tratando da sanção aplicada ao cônjuge ou 
companheiro sobrevivente, impede-se o exercićio do 
direito real de habitação, obstando que tenha o direito de 
continuar residindo no imóvel que servia de lar para o 
casal, salvo se o bem lhe couber por direito próprio. 
Todavia, o cônjuge ou o companheiro reputado indigno ou 
deserdado não perde o direito à meação, a depender do 
regime de bens da relação conjugal ou convivencial. Isso 
porque a meação é direito próprio, pertencente 
diretamente à parte, não havendo transmissão sucessória. 
 
A incompatibilidade do sancionado com o patrimônio do 
autor da herança, inclusive, conduz à impossibilidade de 
recebimento de eventual indenização decorrente de 
seguro de vida deixado pelo extinto, impedindo que ocorra 
um benefićio indireto. 
 
A outro giro, o Superior Tribunal de Justiça vem 
entendendo que pode o indigno ou deserdado ser 
beneficiário de eventual pensão previdenciaŕia deixada 
pelo falecido, uma vez que está submetida a regras 
próprias do Direito Previdenciário, sendo paga pelo INSS, 
sem qualquer vinculacã̧o com a herança transmitida. 
 
 
O indigno ou deserdado como um herdeiro aparente e a 
protecã̧o de terceiros de boa-fé 
 
 
Baseado na teoria da aparência (que serve de fundamento 
para a proteção de terceiros de boa-fé que celebram 
negócios jurid́icos com pessoas que, aparentemente, aos 
olhos dos homens comuns, são titulares de determinados 
direitos), é fundamental proteger o terceiro de boa-fé que 
adquiriu, onerosamente, bens e direitos do indigno ou do 
deserdado, antes do trânsito em julgado da decisão 
judicial. 
 
E ́o caso do herdeiro que, antes do reconhecimento de sua 
indignidade ou deserdação, alienou onerosamente 
(vendeu) um bem pertencente ao espólio a um terceiro 
que, desconhecendo a situação, acreditava tratar-se, 
efetivamente, do beneficiaŕio do espólio. Nessa hipótese, 
o terceiro-adquirente tera ́proteção, em face de sua boa-
fé. 
Diz, a respeito do tema, o art. 1.817 da Codificação Reale: 
 
Art. 1.817, Código Civil: “São válidas as alienações 
onerosas de bens hereditaŕios a terceiros de boa-fé, e os 
atos de administração legalmente praticados pelo 
herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos 
herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de 
demandar-lhe perdas e danos.” 
 
Nota-se, no ponto, a caracterização do indigno ou do 
deserdado como um herdeiro aparente, variação típica da 
teoria do proprietário aparente. 
 
O sucessor aparente é aquele que aparenta ser o legitimo 
titular do direito sucessório, se apresentando perante 
todos como se, efetivamente, fosse o herdeiro ou 
legataŕio, vindo, eventualmente, a praticar atos de 
disposição dos bens hereditaŕios. 
 
Para efeito de proteção do terceiro que, de boa-fé, 
negociou com o sucessor aparente, é irrelevante que este 
saiba, ou não, da condição que lhe exclui da sucessão. 
Importa é a proteção do terceiro que acreditou na situação 
que aparentava ser verdadeira. Fundamenta-se, a toda 
evidência, na segurança necessária aos negócios jurid́icos 
em geral. 
 
Considerando que o terceiro adquirente estará protegido 
e, por conta disso, preservado o negócio jurid́ico 
celebrado, resta aos herdeiros prejudicados pela alienação 
do bem pleitear perdas e danos, através do direito de 
regresso contra o indigno ou o deserdado que se 
apresentava como um herdeiro aparente. Sob o prisma 
processual, este regresso pode se efetivar por meio de 
uma ação autônoma ou através de denunciação da lide nos 
autos de uma outra relação processual. 
 
Por evidente, em se tratando de alienações gratuitas (por 
exemplo, doacã̧o), não se justifica a proteção do terceiro, 
em face da inexistência de boa-fé, por conta da presunção 
de fraude contra credores decorrente da prat́ica de atos 
gratuitos, consoante a previsão do art. 158 do próprio 
Código. Isso porque, em se tratando de ato gratuito, “é o 
próprio sistema de Direito Civil que revela sua intolerância 
com o enriquecimento de terceiros, beneficiados por atos 
gratuitos do devedor, em detrimento de credores, e isso 
independentemente de suposições acerca da ma-́fé dos 
donatários”, conforme a lúcida compreensão da 
jurisprudência superior. 
A indignidade 
 
A expressão indignidade, originada da raiz etimológica 
latina indignitas, diz respeito, a toda evidência, à falta de 
dignidade, ao demérito de alguém por conta da prática de 
determinados atos, reputados vis, injuriosos, 
desrespeitosos em relação a uma pessoa ou a 
determinados valores que devem permear as relações 
pessoais. 
 
Em visão jurid́ica, de forma mais restrita, a indignidade 
revela uma pena privada imposta a quem incorre em 
determinados atos. 
 
Por isso, não é apenas no âmbito sucessório que se trata 
de indignidade. No campo das relações familiares, a 
indignidade pode ocasionar a perda do direito aos 
alimentos, consoante disposição do Parágrafo único do 
art. 1.708 da Lei Civil. Trata-se de dispositivo centrado, a 
toda evidência, na boa-fé objetiva, incorporando o 
paradigma da eticidade que permeia as relações civis, 
impondo ao credor alimentar um comportamento 
compativ́el com a própria solidariedade familiar. A 
indignidade do credor de alimentos consiste em uma 
ofensa grave dirigida ao devedor da pensão, atingindo a 
sua dignidade. Trata-se de um comportamento ignóbil, 
destruidor da solidariedade familiar, com o mesmo lastro 
ético da indignidade – aliás, vem se entendendo, 
corretamente, que as causas de indignidade servem de 
balizamento para o reconhecimento do comporta- mento 
indigno para fins de extinção da obrigação alimentićia. 
 
Por igual, no campo da doação, o art. 557 do Codex 
resguarda a possibilidade de revogação do contrato por 
ingratidão do donatário em relação ao doador, utilizando 
a mesma filosofia da indignidade sucessória. 
 
 
Assim, a indignidade sucessória consiste na sancã̧o 
imputada a um herdeiro ou legatário, por conta do alto 
grau de reprovabilidade, jurid́ica e social, de uma 
determinada conduta praticada, revelando um desafeto 
evidente em relacã̧o ao titular do patrimônio transmitido 
por conta de seu falecimento. 
 
E ́imprescindiv́el chamar a atenção para a impossibilidade 
de se admitir como causa de indignidade de alguém o 
exercićio de sua liberdade afetiva ou sexual. Com efeito, 
não se pode enquadrar como indigna a conduta do 
sucessor (herdeiro ou legatário) que mantém vińculo 
amoroso com outra pessoa (ou mesmo com várias outras 
pessoas), de natureza heteroafetiva ou homoafetiva. Com 
isso, impede-sealguma interpretação moralista (e 
excessivamente ampliativa) da norma legal, com o 
objetivo de estabelecer uma parametrização dos 
comportamentos amoroso e sexual, o que, inclusive, 
afrontaria a privacidade e a liberdade, 
constitucionalmente asseguradas. 
 
 
Pontos de afinidade entre a indignidade e a deserdacã̧o 
 
 
Malgrado não se confundam ontologicamente, possuindo 
regulamentação próprias, a indignidade e a deserdação 
estão ancoradas no mesmo fundamento, finalidade e 
natureza, possuindo um visível carat́er punitivo. 
 
Em sendo assim, a indignidade e a deserdação se 
aproximam, a partir de pontos de interseção: 
 
 ostentam uma natureza sancionatória comum, 
destinando-se a punir quem se comportou mal para 
em relação ao autor da herança, privando o 
recebimento do patrimônio (bens ereptićios), como 
se morto fosse. 
 
A eficácia decorrente do reconhecimento de ambas as 
figuras é, rigorosamente, a mesma: 
 
 tratar o indigno ou deserdado como se morto fosse, 
incompatibilizando-o com o patrimônio transmitido e 
transmitindo os bens para os seus descendentes. 
 
Exatamente por isso, em ambos os casos, deflagra-se: 
 
 uma sucessão por representação (por estirpe), com a 
convocação dos descendentes do indigno ou do 
deserdado para sucederem em seu lugar. 
 
Distincã̧o comparativa entre indignidade e deserdacã̧o 
 
A outro giro, apesar dos pontos de interseção evidentes, 
mencionados alhures, não se pode confundir os institutos 
por conta de suas especificidades. São, portanto, institutos 
distintos, muito embora decorrentes de uma mesma raiz 
finaliśtica. 
 
Distinguem-se, portanto, a partir de percepções 
relevantes, a seguir delineadas: 
 
i) quanto ao sujeito apenado 
Há uma diferença entre a indignidade e a deserdação no 
que diz respeito ao sujeito sancionado com a exclusão da 
sucessão. Enquanto qualquer sucessor (herdeiro ou 
legatário) pode ser reputado indigno, somente os 
herdeiros necessários (CC, art. 1.845) podem sofrer a 
deserdacã̧o. 
 
Aliás, afirma-se que até mesmo pessoas não legitimadas a 
suceder diretamente podem ser reputadas indignas para 
evitar que se beneficiem do patrimônio transmitido. Seria 
o exemplo da viúva que, mesmo não possuindo, por algum 
motivo, direito hereditário, pode ter reconhecida a sua 
indignidade para não exercer direitos sobre o espólio, 
como o direito real de habitação. 
 
Por outro lado, somente os herdeiros necessários podem 
ser deserdados porque os herdeiros facultativos podem 
ser excluídos da sucessão pela simples lavratura de um 
testamento, pelo autor da herança, dispondo da 
integralidade do seu patrimônio em favor de um terceiro. 
Não há, pois, necessidade de um ato dissertativo de 
herdeiro facultativo em razão da possibilidade de 
disposição patrimonial integral, privando-o do 
recebimento de qualquer vantagem patrimonial. 
 
ii) quanto ao momento da prática do ato justificador da 
sancã̧o 
 
A indignidade pode se decorrer da prat́ica de atos 
previstos em lei, em momento anterior ou posterior à 
abertura da sucessão – que se efetiva no instante da 
morte. Por outro lado, a deserdação diz respeito, sempre, 
à prática de atos anteriores à abertura da sucessão e que 
chegaram ao conhecimento do autor da herança. 
 
Até mesmo porque a deserdação é efetivada por meio de 
testamento, lavrado pelo próprio autor da herança, razão 
pela qual o ato tem de ser praticado antes da sua morte. 
Não é admissiv́el, naturalmente, uma deserdação baseada 
em fato futuro, de ocorrência incerta. 
 
 
iii) quanto ao instrumento cabível para a exclusão da 
sucessão 
 
A indignidade tem de ser reconhecida judicialmente, por 
meio de uma ação, submetida ao procedimento comum 
ordinaŕio, proposta pelo interessado, no prazo 
decadencial de quatro anos, contados após a abertura da 
sucessão. 
 
Em diferente situação, a deserdação é realizada pelo 
próprio autor da herança, por meio de um testamento – 
que necessita de uma posterior confirmação judicial, no 
prazo decadencial de quatro anos, contados após o seu 
falecimento (abertura da sucessão). 
 
A deserdacã̧o, assim, depende de um testamento, 
enquanto para a indignidade é indiferente a existência, ou 
não, de declaração de última vontade. 
 
 
À guisa de arremate, apresenta-se, agora, uma tabela 
distintiva entre os institutos com vistas à fixação didat́ica 
da matéria: 
 
 
Indignidade Deserdação 
Qualquer sucessor 
(herdeiro ou legatário) 
pode ser reputado indigno 
 
 
Somente os herdeiros 
necessários (CC, art. 1.845) 
 
Motivo correspondente a 
um ato praticado antes ou 
depois da abertura da 
sucessão 
 
 
Motivo correspondente a 
um ato praticado 
necessariamente antes da 
abertura da sucessão 
 
Provocação por qualquer 
interessado (herdeiro, 
legatário, interessado 
indireto) 
̧a 
Provocação exclusivamente 
pelo autor da herança. 
 
 
 
Ação de indignidade 
(procedimento comum 
ordinário). Prazo 
decadencial de quatro anos 
 
Ato praticado em um 
testamento pelo próprio 
titular do patrimônio, com 
posterior confirmação 
judicial, no prazo 
decadencial de quatro anos 
 
 
Decorre do trânsito em 
julgado da ação de 
indignidade 
 
Decorre do testamento 
celebrado pelo autor da 
herança com posterior 
homologação judicial. 
Hipóteses de cabimento: 
CC, art. 1.814 
 
 
Hipóteses de cabimento: 
CC, arts. 1.814 + 1.961 a 
1.963 
 
 
 
 
 
 
A (não) taxatividade das hipóteses de indignidade 
previstas em lei (CC, art. 1.814 
 
Hipóteses de cabimento 
 
A partir do balizamento do artigo em referência (CC, art. 
1.814), quatro são as hipóteses básicas de incidência da 
indignidade, organizadas em três diferentes incisos: i) 
homicid́io doloso, tentado ou consumado, contra o autor 
da herança, seu cônjuge ou companheiro, ascendente ou 
descendente; ii) crime contra a honra ou denunciação 
caluniosa contra o autor da herança, seu cônjuge ou 
companheiro; iii) ato que, por violência ou fraude, impeça 
a livre disposição dos bens. 
 
 
Reabilitacã̧o do indigno 
Considerado o forte carat́er moral da indignidade, 
despertando um interesse particular e patrimonial, 
destinada, fundamentalmente, à proteção do autor da 
herança, admite-se o perdão do ofendido para reabilitar o 
indigno, garantindo-lhe o recebimento do patrimônio. 
 
Sobre a importância do perdão, disseram alguns que “o 
perdão é próprio da natureza humana”. Outros, preferem 
afirmar que “somente os espíritos nobres possuem a 
capacidade para o perdão”. O conhecido trecho de uma 
importante manifestação de fé afirma “Senhor, fazei que 
eu procure mais perdoar do que ser perdoado, 
compreender do que ser compreendido, amar do que ser 
amado”. 
 
Juridicamente, porém, o perdão não se prende a qualquer 
valoração ińtima. Para o sistema jurid́ico a concessão do 
perdão é uma manifestação de vontade desatrelada de 
motivos e fundamentos. Se decorrente de simples ato de 
desapego, de nobreza, ou se motivado por escusos 
sentimentos, o perdão produz o mesmo efeito. Trata-se de 
manifestação personalíssima (intuito personae), não 
submetida a qualquer elemento acidental (como condição 
ou termo), permitida pelo sistema e direcionada a evitar a 
exclusão do sucessor que havia se comportado mal contra 
quem o profere. 
 
De fato, o sistema jurid́ico não poderia calar-se ou 
mostrar-se indiferente “diante da vontade de o testador 
indultar o indigno, até porque só ele é árbitro dessa 
atitude, em extremo pessoal”. 
Assim, reza, in litteris, o art. 1.818 do Codex: Art. 1.818, 
Código Civil: 
 
“Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão 
da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver 
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro 
ato autêntico. 
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o 
indigno, contemplado em testamento do ofendido, 
quando o testador, ao testar, ja ́ conheciaa causa da 
indignidade, pode suceder no limite da disposição 
testamentária.” 
 
A reabilitacã̧o do indigno, ou purgação da indignidade 
(como se prefere em língua espanhola), ou ainda 
riabilitazione (na expressão usada pelo art. 466 do Código 
da Itália), é ato exclusivo do autor da herança, em razão de 
seu caráter personalíssimo, obstando a eficaćia da 
indignidade que venha a ser reconhecida. Por meio do 
perdão, impõe-se uma trava ao reconhecimento da 
indignidade, garantindo o recebimento do benefićio 
patrimonial. 
 
Pouco interessa o clamor, revolta ou insatisfação da 
famiĺia ou da sociedade para a reabilitação do indigno. Por 
mais que a conduta se mostre aviltante para uma pessoa, 
o perdão é de interesse exclusivamente privado, não 
interessando qualquer valoração exógena do ato 
desculpado. Bem por isso, independe de homologação 
judicial. 
 
Demonstra-se, com isso, o carat́er privado da pena civil de 
indignidade, evidenciando não se tratar de uma sanção 
imposta em atendimento a interesses coletivos ou sociais, 
mas, ao revés, estritamente particulares. Não é uma 
intervenção imperativa. Não ha ́interesse público. Por isso, 
a vontade do titular afasta a eficácia da indignidade – o que 
ressalta o interesse privado que aqui reside. 
 
Não se admite o perdão efetivado pelo incapaz, estando 
viciado pela nulidade ou anulabilidade. 
 
Mais ainda: para que o perdão do ofendido tenha o condão 
de reabilitar o indigno à participação sucessória, 
impedindo a procedência de um pedido de indignidade 
formulado posteriormente, deve ser ele expresso e 
escrito, conforme a dicção legal, sob pena de nulidade. 
Não se tolera um perdão taćito ou por declarações verbais. 
 
Contudo, havendo simples alusão à expressão “ato 
autêntico” no dispositivo legal citado, não se impõe a 
prática por escritura pública, sendo admissiv́el o perdão 
por instrumento particular, desde que seja possiv́el atestar 
a sua autenticidade. Efetivamente, não se pode assumir 
uma postura mais realista do que o próprio rei. 
 
Assim, inexistindo disposição legal expressa, a exigir 
instrumento público para o perdão, tem de ser admitida a 
prática misericordiosa por instrumento particular, desde 
que o ato seja autêntico, estreme de dúvidas. 
Vislumbramos, assim, a possibilidade de concessão do 
perdão por meio de cartas, declarações escritas e, até 
mesmo, por e-mail’s (cuja veracidade se pode aferir com 
segurança, hodiernamente). Trata-se de aplicação do 
paradigma da operabilidade, uma das diretrizes do Código 
de 2002. 
 
 
Naturalmente, o perdão pode ser concedido por meio de 
testamento, qualquer que seja a sua forma. Curiosamente, 
vindo a disposição de última vontade a ser invalidada ou a 
caducar, a cláusula de misericórdia não será atingida, 
mantendo a sua plena validade e eficácia. 
 
A purgação da indignidade é a consequência direta do 
perdão do ofendido. Com isso, o direito ao recebimento da 
herança ou do legado será reconstituído. 
 
Sob o ponto de vista processual, a existência de perdão do 
ofendido gera o esvaziamento do pedido formulado na 
ação de indignidade, na medida em que o réu da ação 
recupera, por ato expresso de vontade do autor da 
herança, o seu direito à participação sucessória. Nenhum 
efeito projetará, no entanto, no âmbito de eventual ação 
penal, por conta da independência das instâncias. 
 
O ônus de prova da existência e validade do perdão do 
ofendido é do próprio indigno, como regra geral. 
Naturalmente, a depender da situação, é possiv́el imaginar 
uma redistribuição desse ônus de prova, com base na 
teoria da carga dinâmica do processo, quando, verbi gratia, 
o documento comprobatório da reabilitação estiver sob a 
posse de um outro herdeiro. 
 
Por óbvio, o perdão somente é possiv́el para os atos 
praticados até a abertura da sucessão. Ou seja, até o limite 
da morte do autor da herança. Não se pode admitir um 
perdão antecipado por atos que, eventualmente, vierem a 
ser praticados depois da abertura da sucessão. Por 
exemplo, não pode o autor da herança perdoar uma futura 
tentativa de homicid́io de um dos seus filhos contra a viúva 
ou contra um outro filho seu. 
 
Conquanto seja indivisiv́el o perdão, se o autor da herança 
não perdoou expressamente o seu herdeiro legit́imo 
indigno, mas, tendo ciência do ato ignóbil por ele 
praticado, posteriormente veio a beneficiá-lo em 
testamento, será garantido o direito de participar 
exclusivamente da sucessão testamentaŕia. No que tange 
à sucessão legit́ima, poderá perfeitamente ser excluid́o, se 
vier a ser reputado indigno. 
 
Por derradeiro, destaque-se que tendo o perdão natureza 
de um ato jurid́ico em sentido estrito, sera ́ irretratável e 
irrevogável, uma vez que os seus efeitos estão previstos 
em lei, sendo insuscetível de arrependimento. E, de fato, o 
pressuposto do perdão é o esquecimento. 
 
Contudo, nada impede que o perdoado venha a ser 
reputado indigno por outro ato praticado após a 
reabilitação concedida pelo autor da herança ou mesmo 
por ele deserdado, em razão de conduta diversa 
superveniente. Por evidente, o perdão concedido há de ser 
interpretado restritivamente no que diz respeito à conduta 
caracterizadora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A deserdacã̧o 
Nocõ̧es gerais 
Sob o ponto de vista linguístico, a própria expressão 
deserdação carrega consigo uma etimologia indicativa do 
seu sentido: des + herdar, significando excluir, retirar, o 
direito à herança. 
 
Nessa ambiência, a deserdação é o ato privativo do autor 
da herança, por declaração expressa de vontade, através 
de testamento, que exclui da sua sucessão um herdeiro 
necessário (descendentes, ascendentes ou cônjuge, na 
forma do art. 1.845 do Codex), por conta de um ato 
repugnante que lhe ultrajou, posteriormente confirmado 
pelo juiz. 
 
 
 
 
O ato dissertativo alcança, apenas e tão somente, os 
herdeiros necessários. Isso por- que somente os herdeiros 
necessários fazem jus à legit́ima, correspondente à porção 
indisponiv́el à vontade do autor da herança, consistente 
em cinquenta por cento do seu patrimônio liq́uido no 
momento da abertura da sucessão. Havendo herdeiro 
necessário, não pode o titular do patrimônio dele dispor 
integralmente. Assim, impõe-se a deserdação do herdeiro 
necessário para que ele seja privado do recebimento 
hereditário. 
 
A outro giro, havendo apenas herdeiros facultativos, não 
há que se falar em legit́ima e, consequentemente, poderá 
o autor da herança dispor integralmente do seu 
patrimônio por meio de testamento, privando aquele do 
recebimento de qualquer vantagem. Por igual, no caso de 
beneficiário por testamento, herdeiro ou legataŕio, basta 
ao hereditando revogar o testamento ou editar uma nova 
declaração de vontade, substituindo o sucessor para que 
se lhe afaste do patrimônio. Em ambas as hipóteses, 
portanto, vê-se a desnecessidade de deserdação, 
bastando a declaração de vontade do próprio titular. 
 
 
Alcance subjetivo da deserdacã̧o: os herdeiros 
necessários 
 
Como visto, somente os herdeiros necessários podem ser 
deserdados, não havendo interesse (prático ou jurid́ico) na 
deserdação dos demais sucessores, que podem ser 
privados do recebimento da herança por simples 
declaração de vontade do titular. Para eles (demais 
sucessores, não necessários), inclusive, é irrelevante a 
eventual motivação da privação. 
 
 
Sob a égide da nova Codificação, consta dos arts. 1.961 a 
1.963: Art. 1.961, Código Civil: 
“Os herdeiros necessários podem ser privados de sua 
legit́ima, ou deserdados, em todos os casos em que podem 
ser excluídos da sucessão.” 
Art. 1.962, Código Civil: 
“Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a 
deserdação dos descendentes por seus ascendentes: I – 
ofensa fiśica; II – injúria grave; III – relaçõesilićitas com a 
madrasta ou com o padrasto; IV – desamparo do 
ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.” 
Art. 1.963, Código Civil: 
“Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a 
deserdação dos ascendentes pelos descendentes: I – 
ofensa fiśica; II – injúria grave; III – relações ilićitas com a 
mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o 
marido ou companheiro da filha ou o da neta; IV – 
desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou 
grave enfermidade.” 
 
 
Ora, a diccã̧o dos referidos dispositivos insinua, portanto, 
que os herdeiros necessários como um todo 
(descendentes, ascendentes, cônjuge e companheiro) 
podem ser deserdados nas mesmas hipóteses em que 
podem ser considerados indignos: homicid́io doloso 
tentado ou consumado contra o autor da herança, seu 
cônjuge ou companheiro, ascendentes ou descendentes; 
acusação caluniosa em juiźo ou crime contra a honra do 
autor da herança ou de seu cônjuge ou companheiro; e ato 
que impeça a manifestação da última vontade do autor da 
herança (CC, art. 1.814). 
 
Isso porque observando, em seguida, o caput dos arts. 
1.962 e 1.963 do mesmo Código, consta ser possiv́el, nas 
hipóteses especif́icas que são apresentadas, a deserdação 
dos “descendentes por seus ascendentes” e dos 
“ascendentes pelos descendentes”, deixando de fora o 
cônjuge. 
 
E ́ indiscutível, pela clareza solar do disposto no art. 1.961 
da Codificacã̧o, a possibilidade de exclusão de todos os 
herdeiros necessários nas hipóteses caracterizadoras de 
indignidade. 
 
 
Pressupostos da deserdacã̧o 
 
Sem perder de vista que o direito à herança constitui 
garantia fundamental (CF, art. 5o, XXX), é faćil depreender 
a necessidade de estabelecer condições mińimas para a 
privação da heranca̧ por um herdeiro necessário. Evita-se, 
assim, que por vingança ou por motivo torpe o autor da 
herança prive o seu herdeiro necessário de recolher a sua 
herança. 
São conditios sine qua non para a exclusão do herdeiro 
necessário. E ́dizer, ausente qualquer desses pressupostos, 
a deserdação é reputada inexistente e, por conseguinte, 
não surtirá qualquer efeito, mantido o recebimento 
patrimonial. 
 
São pressupostos da deserdação: i) a declaração de 
vontade do autor da herança, privando herdeiro 
necessário por meio de testamento; ii) indicação do 
motivo deserdativo na própria declaração de vontade, 
dentre as causas previstas em lei; iii) confirmação judicial, 
em ação submetida ao procedimento comum ordinaŕio. 
Vejamos minudentemente cada um dos pressupostos. 
 
 
 
 
i) testamento válido 
Enquanto a indignidade é efetivada por meio de uma ação 
promovida pelos interessados, a deserdação é ato 
privativo do autor da herança, através de um testamento. 
Não se admite o uso de outro instrumento para efetiva-́la, 
mesmo que seja escritura pública ou termo judicial. 
 
Consta, verbum ad verbo, do caput do art. 1.964 do Código 
Civil que somente “pode a deserdação ser ordenada em 
testamento”, colocando dies cedit em qualquer dúvida por 
ventura existente. 
 
Para a deserdacã̧o do herdeiro necessário, portanto, exige-
se uma declaração volitiva em testamento, seja público, 
cerrado ou particular, evidenciando que se trata de um ato 
formal e solene, não se tolerando outro meio de 
exteriorização da vontade de privar o herdeiro necessário. 
 
Uma vez efetivada por meio de testamento, não se exige o 
uso de expressões sacra- mentais, técnicas ou especif́icas 
para a deserdacã̧o. 
Exige-se, ademais, a validade do testamento que contém a 
declaração adeserdativa. Isso porque se nula, ou anulav́el, 
a declaração de última vontade, igualmente invalidada 
estara ́ a deserdação, por conta do comprometimento da 
vontade manifestada. 
 
ii) indicação da tipicidade da conduta deserdativa (claúsula 
expressa com fundamentação legal) 
 
Não basta a pratica do ato deserdativo por meio de 
testamento. Para além disso, o legislador exige a indicação 
da motivação do testador, revelando, expressamente e 
por escrito, a causa prevista em lei ensejadora da punição 
do agente, com a privação da herança. 
O motivo, portanto, não pode constar implicitamente do 
testamento ou ser subentendido, tácito ou virtual. 
 
O Código Civil é de clareza meridiana: “somente com 
expressa declaração de causa pode a deserdação ser 
ordenada em testamento” (art. 1.964). 
 
Trata-se de limitação imposta pelo sistema jurid́ico ao 
arbit́rio do testador, evitando que a deserdação seja 
praticada como uma espada decorrente de vingança, ódio 
ou desafeto. Certamente, não é qualquer motivo que pode 
ensejar a privação da herança pelo herdeiro necessário, 
até mesmo porque o recebimento da herança é garantia 
constitucional, somente afastav́el nos casos previstos em 
lei (indignidade e deserdação). A deserdação não pode se 
prestar a um arbit́rio despótico do hereditando, 
afrontando a garantia de recebimento do patrimônio, por 
capricho. 
 
Naturalmente, o motivo da deserdação tem de existir 
previamente à celebracã̧o do testamento, não podendo se 
contemplar situações incertas e não concretizadas. 
 
A outro giro, a deserdação permite ao titular do 
patrimônio impedir que o seu herdeiro que lhe foi ingrato 
venha a ser beneficiado com o seu óbito. Vislumbramos o 
caso do pai que deserda o filho que assassinou sua esposa 
ou um outro filho seu. Também se vê o filho que deserda 
o pai que, durante toda a sua vida, se negou a lhe prestar 
ali- mentos, apesar de possuir condições econômicas para 
a mantença da prole, deixando-o em completo abandono 
material. 
 
Ressalte-se, por oportuno, que a interpretação do rol das 
hipóteses de deserdação (CC, arts. 1.961 a 1.963) não se 
submete à taxatividade. 
 
A eventual deserdação sem indicação da justa motivação 
correspondente será nula, não podendo ser homologada 
pelo juiz. Com isso, mantém a inteireza do direito 
sucessório do herdeiro necessário que se pretendia excluir 
da sucessão. 
 
iii) comprovacã̧o judicial em ação ordinária de deserdação 
 
Assim como a indignidade, a deserdação do herdeiro 
necessário reclama o reconhecimento por decisão judicial, 
prolatada em procedimento comum ordinário. 
 
Efetivamente, em se tratando de uma sanção civil, não 
seria razoável admitir a sua aplicação sem prévio 
provimento jurisdicional, após garantido o devido 
processo legal. 
 
A privação legitimária, portanto, não decorre do simples 
ato de imputação adeserdativa contida no testamento. 
Diferentemente do sistema espanhol e do suíço, entre nós, 
é necessária a comprovação judicial de sua veracidade, por 
meio de sentença prolatada pelo juiz das sucessões, em 
demanda promovida pelo interessado, a quem incumbe o 
ônus de prova do que se alega, com vistas à exclusão do 
réu da participação sucessória. 
 
Reza o art. 1.965 da Lei Civil: Art. 1.965, Código Civil: 
“Ao herdeiro instituid́o, ou àquele a quem aproveite a 
deserdacã̧o, incumbe provar a vera- cidade da causa 
alegada pelo testador.” 
 
A decisão judicial deve atentar para duas circunstâncias da 
mais alta relevância: i) a correspondência da conduta 
imputada ao herdeiro necessário e o tipo legal previsto no 
Código Civil; ii) a efetiva concretização da conduta 
imputada, tendo afrontado a dignidade do auctor 
hereditatis. Tendo sido imputada mais de uma conduta 
deserdativa ao réu, bastará a comprovação de uma delas 
para a procedência do pedido. 
 
A ação de deserdação, que esta ́ submetida ao 
procedimento comum ordinaŕio, deve ser ajuizada após a 
homologação judicial do testamento – que, por seu turno, 
está submetida a um procedimento de jurisdição 
voluntária. 
 
O prazo decadencial para o aforamento da ação de 
deserdação é de quatro anos, contados, segundo o texto 
codificado, da abertura do testamento: “o direito de 
provara causa da deserdação extingue-se no prazo de 
quatro anos, a contar da data da abertura do testamento” 
(CC, art. 1.965, Parágrafo único). 
 
Aqui, descortina-se um instigante problema: somente o 
testamento cerrado precisa ser aberto pelo juiz. Os 
testamentos público, particular e especiais 
(marit́imo/aeronáutico e militar) não trazem qualquer 
conteúdo secreto, não precisando de abertura pelo juiz, 
mas exigindo, de qualquer sorte, homologação para que 
sejam efetivados. Nota-se, assim, uma incoerência 
legislativa. Se o prazo de caducidade fluir a partir da 
abertura do testamento, restringir-se-ia ao testamento 
cerrado, uma vez que os demais ja ́estão abertos. A melhor 
solução para o problema, então, é entender que o prazo 
para a propositura da demanda é computado a partir da 
abertura da sucessão, afora no caso de testamento 
cerrado. Há quem entenda, noutra margem, que nos casos 
distintos do testamento cerrado, o prazo de caducidade 
deve ser computado a partir da apresentação do 
testamento em juiźo. 
 
Note-se, ainda, a impossibilidade de propositura da ação 
de deserdação antes da abertura da sucessão. Com isso, o 
próprio autor da herança é parte ilegítima para a 
demanda. A ele cabe a lavratura do testamento, mas não 
o aforamento de ação para a 
sua confirmação judicial. 
 
Caso a demanda não venha a ser ajuizada no prazo 
decadencial estampado no Código Civil ou não sendo 
comprovada a causa deserdativa invocada pelo autor da 
herança, a deserdação perde a sua eficaćia 
absolutamente, mantido o direito à herança. No ponto, 
urge um especial cuidado no que diz respeito à redução 
parcial da ineficácia (CC, art. 184): perdera ́a eficaćia, nos 
casos mencionados, a cláusula de deserdação, mantendo 
a sua integridade as demais claúsulas testamentária, 
como, por exemplo, o benefićio a terceiros ou o 
reconhecimento de um filho. 
 
Surge, então, uma instigante questão: decaindo o direito 
de propositura da acã̧o ou não comprovada a causa 
deserdativa, o herdeiro necessário mantém, também, o 
direito à sucessão testamentária ou somente o acesso à 
legit́ima? 
Tal o que ocorre na indignidade, o ônus de prova recai 
sobre o autor da demanda, a quem se impõe demonstrar 
a existência do testamento deserdativo, bem como a 
efetiva ocorrência da causa apontada. 
Relembre-se que somente o trânsito em julgado da 
sentença de deserdação priva o herdeiro necessaŕio do 
recebimento patrimonial. Antes disso, pode se justificar o 
uso de medidas cautelares, com vistas a salvaguardar o 
resultado útil do processo, assegurando direitos. 
 
Causas deserdativas dos herdeiros necessários 
Em conformidade com o disposto nos arts. 1.961 a 1.963, 
a deserdacã̧o pode estar baseada nas causas de 
indignidade, previstas no art. 1.814, e em causas 
especif́icas, mencionadas nos arts. 1.962 e 1.963. 
 
Quanto à deserdação com base nas causas genéricas de 
indignidade, vale notar a clareza meridiana do texto legal: 
“os herdeiros necessários podem ser privados de sua 
legit́ima, ou deserdados, em todos os casos em que podem 
ser excluídos da sucessão.” 
Assim, todos os herdeiros necessaŕios (descendentes, 
ascendentes, cônjuge e companheiro) podem ser 
deserdados por conta de i) homicid́io doloso, tentado ou 
consumado, contra o autor da herança, o seu cônjuge ou 
companheiro, o seu ascendente ou descendente; ii) 
acusação caluniosa em juiźo ou crime contra a honra 
contra o autor da herança, o seu cônjuge ou companheiro; 
iii) ato que impeça a declaração de última vontade, ou a 
sua execução, do autor da herança. 
 
Cometido qualquer dos atos de indignidade pelo herdeiro 
necessário, poderá o auc- tor hereditatis deserda-́lo, por 
testamento. Porém, não o fazendo, poderão os interessa- 
dos, depois da morte do titular, buscar o reconhecimento 
da indignidade, por meio da ação cabível. 
 
Para além desses tipos, que servem para a indignidade, 
entende-se que a deserdação, por defluir diretamente da 
vontade do próprio titular do patrimônio, pode estar 
lastreada em outras causas, ampliando a possibilidade de 
exclusão do herdeiro necessaŕio. Os arts. 1.962 e 1.963 
vislumbram: 
 
Art. 1.962, Código Civil: 
“Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a 
deserdação dos descendentes por seus ascendentes: I – 
ofensa fiśica; II – injúria grave; III – relações ilićitas com a 
madrasta ou com o padrasto; IV – desamparo do 
ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.” 
Art. 1.963, Código Civil: 
“Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a 
deserdação dos ascendentes pelos descendentes: I – 
ofensa fiśica; II – injúria grave; III – relações ilićitas com a 
mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o 
marido ou companheiro da filha ou o da neta; IV – 
desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou 
grave enfermidade.” 
 
 
O perdão do ofendido (reabilitacã̧o do deserdado) 
 
Apesar do absoluto silêncio do legislador, dúvida não há 
quanto à efetiva possibilidade de perdão pelo titular do 
patrimônio em relação ao deserdado, reabilitando-o ao 
recebimento da legit́ima. 
 
Através da simples utilização da analogia legis em relação 
ao art. 1.818 do Código Civil, que reconhece a reabilitação 
do indigno, infere-se, com tranquilidade e segurança, a 
possibilidade de perdão manifestado pelo auctor 
hereditatis, em face da inescondiv́el similitude entre os 
institutos. 
 
Por evidente, a reabilitação deve decorrer de declaração 
de vontade expressa, com indiscutível conteúdo, mas não 
necessariamente deve defluir de instrumento público.

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