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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE ECOLOGIA VITÓRIA ÉRICA DIAS AVELINO DA SILVA INFLUÊNCIA DA COLORAÇÃO DO SUBSTRATO SOBRE A MUDANÇA DE COR EM MARIA-FARINHA, OCYPODE QUADRATA (FABRICIUS, 1787) NATAL 2023 VITÓRIA ÉRICA DIAS AVELINO DA SILVA INFLUÊNCIA DA COLORAÇÃO DO SUBSTRATO SOBRE A MUDANÇA DE COR EM MARIA-FARINHA, OCYPODE QUADRATA (FABRICIUS, 1787) Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade de artigo apresentado ao curso de graduação em Ecologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ecologia. Orientador Prof. Dr. Daniel Pessoa. Coorientador: Ms. Diogo Silva. NATAL 2023 Esta obra está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. Permite que outros distribuam, remixem, adaptem e desenvolvam seu trabalho, mesmo comercialmente, desde que creditem a você pela criação original. Link dessa licença: creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode Silva, Vitória Erica Dias Avelino da. Influência da coloração do substrato sobre a mudança de cor em maria-farinha, Ocypode quadrata (FABRICIUS, 1787) / Vitória Erica Dias Avelino da Silva. - 2023. 28 f.: il. Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Graduação em Ecologia. Natal,RN, 2023. Orientação: Prof. Dr. Daniel Marques de Almeida Pessoa. Coorientação: Me. Diogo Jackson de Aquino Silva. 1. Brachyura - Monografia. 2. Camuflagem - Monografia. 3. Predação - Monografia. 4. Modelagem visual - Monografia. 5. Background matching - Monografia. 6. Ocypodidae - Monografia. I. Pessoa, Daniel Marques de Almeida. II. Silva, Diogo Jackson de Aquino. III. Título. RN/UF/BSCB CDU 595.384.2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências - CB Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 VITÓRIA ÉRICA DIAS AVELINO DA SILVA INFLUÊNCIA DA COLORAÇÃO DO SUBSTRATO SOBRE A MUDANÇA DE COR EM MARIA-FARINHA, OCYPODE QUADRATA (FABRICIUS, 1787) Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade de artigo apresentado ao curso de graduação em Ecologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ecologia. Aprovada em: ___18___/__12__/_2023_ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Daniel Marques de Almeida Pessoa Orientador UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Prof. Dr. Wallace Silva do Nascimento Membro interno UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Dr. Felipe Pernambuco da Costa Membro externo UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE AGRADECIMENTOS Minha profunda gratidão primeiramente a Deus pela oportunidade concedida, pois sei que Ele me guiou até aqui. Também gostaria de expressar meus agradecimentos a Bruna Santana e Paula Barbosa pelo auxílio nas coletas e experimentos realizados, agradeço por todo apoio que me ofereceram em todas as etapas da minha formação. Sou grata aos meus amigos Thiago de Freitas, Ana Cláudia Gomes, Camila de Melo e Cláudio Campos, que compartilharam comigo os momentos bons e ruins da graduação, e que tornaram essa jornada mais leve e divertida. À minha família, que sempre me compreendeu, incentivou e auxiliou em todos os aspectos da minha vida, e que foi essencial para o meu crescimento pessoal e acadêmico. Meus sinceros agradecimentos ao meu amigo e coorientador Diogo Silva pela paciência e pela fundamental assistência nos experimentos e análises estatísticas. Agradeço ao meu orientador Daniel Pessoa, pela oportunidade de integrar o Laboratório de Ecologia Sensorial e por todos os ensinamentos que me transmitiu nesses dois anos. Por fim, agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro, que foi muito importante para a realização da pesquisa. “Texto formatado segundo as normas da revista Behavioural Processes” INFLUÊNCIA DA COLORAÇÃO DO SUBSTRATO SOBRE A MUDANÇA DE COR EM MARIA-FARINHA, OCYPODE QUADRATA (FABRICIUS, 1787) INFLUENCE OF SUBSTRATE COLOR ON COLOR CHANGE IN GHOST CRAB, OCYPODE QUADRATA (FABRICIUS, 1787) Vitória Silva¹, Diogo Silva¹ e Daniel Pessoa¹ ¹ Laboratório de Ecologia Sensorial, Departamento de Fisiologia e Comportamento, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil Correspondência Vitória Silva, Departamento de Fisiologia e Comportamento, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil E-mail: vitoria.dias.124@ufrn.edu.br RESUMO O uso da coloração críptica para evitar detecção é uma das estratégias antipredação mais difundidas na natureza, podendo ser alcançada de forma eficiente através da mudança de coloração para ajuste da aparência do animal com o fundo. Pesquisas em caranguejos Brachyura revelam capacidade de mudança de coloração para a comunicação intraespecífica, camuflagem e termorregulação. Porém, ainda não há estudos sobre a coloração da única espécie de maria-farinha do Atlântico Ocidental (Ocypode quadrata). O objetivo desta pesquisa foi verificar se dois morfotipos (rajado e amarelo) de O. quadrata são capazes de mudar sua cor para ajustar a aparência ao substrato em que se encontram. Testamos se os caranguejos alteram brilho e cor de quatro pontos corporais em dois diferentes substratos (branco e preto), e como essa mudança é percebida por um predador aviário. Descobrimos que apenas indivíduos rajados são capazes de alterar sua coloração, alinhando o brilho e a cor da carapaça, da perna e da região superior da quela ao substrato onde se encontram, evidenciando uma função para camuflagem. Em ambos os morfotipos, a região frontal da quela apresentou sempre um alto brilho, algo que pode estar desempenhando papel na comunicação intraespecífica. É possível que as diferenças entre os morfotipos estejam associadas a diferentes estratégias antipredação. Palavras-Chave: Camuflagem; Predação; Modelagem visual; Background matching; Brachyura; Ocypodidae. mailto:vitoria.dias.124@ufrn.edu.br ABSTRACT The use of cryptic coloration to avoid detection is one of the most widespread anti-predation strategies in nature, and can be achieved efficiently by changing color to adjust the animal's appearance to the background. Research on Brachyuran crabs reveals the ability to change color for intraspecific communication, camouflage and thermoregulation. However, for the only species of ghost crab from the Western Atlantic (Ocypode quadrata) there are still no studies on its coloration. The aim of this research was to verify whether two morphotypes (brindle and yellow) of O. quadrata are capable of changing their color to adjust their appearance to the substrate in which they are found. We tested whether crabs change the brightness and color of four body points on two different substrates (white and black), and how this change is perceived by an avian predator. We discovered that only brindle individuals are capable of changing their color, aligning the brightness and color of the carapace, leg and upper chela to the substrate where they are located, demonstrating a camouflage function. In both morphotypes, the frontal chela always showed a high brightness, something that may be playing a role in intraspecific communication. It is possible that differences between morphotypes are associated with different anti-predation strategies. Keywords: Camouflage; Predation; Visual modeling; Background matching; Brachyura; Ocypodidae. Sumário 1. Introdução........................................................................................................................... 9 2. Materiais e Métodos..........................................................................................................10 3. Resultados.........................................................................................................................134. Discussão.......................................................................................................................... 17 5. Conclusões........................................................................................................................19 Referências............................................................................................................................20 Material Suplementar............................................................................................................23 9 1. Introdução A cor desempenha múltiplas funções na natureza (Cuthill et al., 2017). Ela pode auxiliar na termorregulação e proteção contra alta radiação ultravioleta (UV), atuar na sinalização sociossexual e na defesa contra parasitas e predadores. No contexto da evasão de predação, duas grandes estratégias se destacam, sendo elas o aposematismo e a camuflagem (Caro & Koneru, 2021). No aposematismo, o aumento da visibilidade, através de cores chamativas e vibrantes, em animais que apresentam algum perigo ou dificuldade para seu predador, como toxinas ou espinhos, funciona como um alerta da sua condição de baixa lucratividade para o predador, causando a diminuição de ataques a esses animais (Siddiqi et al., 2004; Caro & Ruxton, 2019). A camuflagem, por sua vez, evita que o indivíduo seja detectado, através da ocultação do animal no ambiente (Stevens & Merilaita, 2009), diminuindo, assim, as chances de ataque do predador à presa. A camuflagem é uma das estratégias mais difundidas na natureza e existe uma diversidade de mecanismos utilizados pelas espécies para conseguirem atingi-la eficientemente. Um desses mecanismos é o background matching, onde há a similaridade de cor e/ou padrão do animal com o ambiente em que se encontra (Stevens & Merilaita, 2009). Outro exemplo é o masquerade, no qual alguns animais possuem morfologias similares a objetos do ambiente que podem ser considerados desinteressantes para o predador (Stevens & Merilaita, 2009), como no caso da borboleta indiana Kallima inachus, que possui asas semelhantes a folhas secas. Ainda há, também, a coloração disruptiva, em que o animal quebra os contornos do seu corpo por meio de um padrão de cores (Stevens & Merilaita, 2009), dificultando para o predador identificar onde começa e termina o indivíduo. Além de características morfológicas, o comportamento também apresenta papel-chave na melhoria da crípse. Um exemplo é o comportamento de mudança de cor, que permite a adequação da aparência a diferentes substratos (Stevens & Ruxton, 2018). Em alguns animais, como cefalópodes e camaleões, essa mudança pode ocorrer em segundos ou poucos minutos (Chiao et al., 2011). Em crustáceos, por sua vez, a mudança pode acontecer de forma muito mais lenta, podendo durar de horas a meses, como ocorre ao longo do desenvolvimento ontogenético de vários caranguejos (Stevens, 2016). Os caranguejos braquiúros, ou caranguejos verdadeiros, possuem pelo menos 7 mil espécies descritas que são bastante distintas entre si (Tsang et al., 2014). Apresentam uma enorme diversidade de cores corporais que contemplam todo o espectro de luz visível, bem como o UV, o que os torna ótimos modelos de estudo sobre o uso da coloração na natureza (Caro, 2018). Dentro da infraordem Brachyura está presente a família Ocypodidae, a qual pertence os caranguejos-uçás, marias-farinhas e chama-marés, que além da diversidade de cores também possuem uma grande capacidade de mudança de coloração, a curto e longo prazo. Essa mudança está associada, principalmente, à contração e dispersão de pigmentos das células cromatóforas, localizadas abaixo da carapaça (Darnell, 2012). Tal capacidade de mudança de coloração em marias-farinhas e chama-marés, tem sido relacionada à comunicação intraespecífica (Takeshita, 2019), à camuflagem (Stevens et al., 2013) e à termorregulação (Detto et al., 2008). As marias-farinhas pertencem ao gênero Ocypode, o qual contempla 21 espécies em nível mundial, sendo Ocypode quadrata (FABRICIUS, 1787) a única 10 espécie de maria-farinha encontrada no Atlântico Ocidental (Sakai & Türkay, 2013). O. quadrata tem sua distribuição acontecendo de Rhode Island (EUA) até o Rio Grande do Sul (Brasil) (Ocaña et al., 2016), habita o meso e supralitoral de praias arenosas, e seu ritmo de atividade está associado a uma faixa mínima de temperatura de 14 a 25°C (Blankensteyn, 2006). São predadores e detritívoros, o que os torna importantes para a transferência de energia ao longo da cadeia trófica (Branco et al., 2010; Ocaña et al., 2016). São observados dois padrões de coloração diferentes em O. quadrata, uma coloração mais amarelada (encontrada em animais maiores) e uma coloração rajada, não amarelada (vista em animais menores) (Fig. 1). Esses padrões distintos podem estar associados à ontogenia, uma vez que Oliveira et al. (2016) mostraram que juvenis de O. quadrata apresentam padrões de coloração diferentes dos encontrados nos adultos, com juvenis dispondo de manchas escuras no corpo. Dessa forma, à medida que os juvenis passam por sucessivas mudas, perderão essas manchas marrons e se tornarão amarelados. Stevens et al. (2013) também mostraram que juvenis de Ocypode ceratophthalmus têm padrão mais rajado que adultos, e que podem mudar de cor para camuflagem. Além disso, uma pesquisa realizada com Ocypode pallidula revelou que, além de alterar o brilho da carapaça, esses animais também escolhem ativamente o substrato que proporciona melhor crípse (Uy et al., 2017). Alguns estudos mostram que caranguejos marias-farinhas menores constroem suas tocas principalmente na zona mais próxima à linha d’água, enquanto caranguejos maiores utilizam mais o supralitoral (Turra et al., 2005; Rodrigues et al., 2016). Assim, é possível que conforme os juvenis aumentam seu tamanho (e mudam sua coloração entre as mudas), modifiquem também a zona de ocupação da praia. Sendo assim, para cada morfotipo devem existir diferentes estratégias para garantir a camuflagem. Entretanto, ainda não há estudos sobre a função e importância da cor na única espécie de maria-farinha do Atlântico Ocidental. Neste estudo, buscamos entender como a capacidade de mudança de cor pode ter evoluído como estratégia antipredação em morfotipos de caranguejo maria-farinha (O. quadrata). Testamos se ambos os morfotipos podem ativamente mudar de cor, dependendo do substrato em que se encontram. Hipotetizamos que os caranguejos mudarão sua coloração de acordo com a cor do substrato onde se encontram para a melhoria da crípse. 2. Materiais e Métodos 2.1 Área de estudo Indivíduos dos padrões rajados e amarelos foram capturados na praia de Pium – RN (5°57'06.0"S 35°09'08.1"W). Essa praia apresenta muita atividade antrópica na temporada de verão (dezembro a fevereiro). Entretanto, no restante do ano, a visitação diminui consideravelmente, se tornando praticamente deserta. Apesar de possuir marcas de modificações humanas, como algumas partes da encosta com plantação de grama, ainda conserva muito de suas características naturais e vegetação original, como a salsa-da-praia (Ipomoea pes-caprae). Foram considerados como pertencentes ao morfo rajado os caranguejos que não possuíam pernas amarelas, sendo o contrário para o morfo amarelo (Fig. 1). 11 Fig. 1. Padrões de coloração corporal presentes em O. quadrata. (A) Morfotipo amarelo e (B) morfotipo rajado. 2.2 Coleta e transporte dos animais As coletas aconteceram entre abril de 2022 e março de 2023, entre as 7h00 e 9h00 da manhã ou 14h00 às 18h00, período de maior atividade dos animais. Os caranguejos foram capturados manualmente, através de busca ativa. Ao todo, foram coletadas 31 marias-farinhas, das quais 14 corresponderam ao morfotipo amarelo e 17 ao morfotipo rajado. Os animais foram levados ao Laboratório de Ecologia Sensorial (SEL) – UFRN, onde foram analisados quanto: (I) ao seu tamanho, e (II) à sua coloração, e então testados em experimentos comportamentais. 2.3 Caracterização da cor A coloração foi mensurada com um métodonão invasivo. Para isso, foi utilizado um espectrofotômetro USB4000-UV-VIS (Ocean Optics, Inc.), conectado a uma fonte de luz DH-2000-BAL (Ocean Optics, Inc.) via fibra ótica bifurcada (QR450-7-XSR). O equipamento foi calibrado por meio de um branco padrão WS-1-SL (Ocean Optics, Inc.) e um preto padrão (desligando a fonte de luz). A medição da coloração física foi realizada direcionando a ponta da fibra a 45º nos substratos do experimento e nas seguintes partes de cada caranguejo: (I) quela (região frontal); (II) quela (região superior); (III) apêndice locomotor e (IV) carapaça. 2.4 Experimento de mudança de cor Para verificar se existe mudança ativa de coloração dependendo do substrato em O. quadrata, foram utilizados dois tratamentos, com substratos diferentes: (I) uma folha de papel branca, representando um substrato claro e (II) uma folha de papel preta, representando um substrato escuro (Fig. 2). Ambas as folhas eram do tipo color set, tamanho A4. Após passarem pela primeira medida de coloração, os animais foram submetidos ao processo experimental em uma sala mantida em temperatura constante (19ºC – 21ºC). Dois caranguejos, separados por uma divisória de papelão para evitar a visualização do outro indivíduo, foram colocados, individualmente, em potes de vidro transparente. Cada pote foi posicionado sobre um dos substratos mencionados anteriormente por 30 minutos. Esse tempo foi estabelecido com base 12 em testes pilotos anteriores, que duraram 15 minutos cada. Nesses testes, foi observado que os animais não apresentavam nenhuma alteração. Portanto, foi decidido dobrar o tempo. A ordem de qual substrato era apresentado primeiro foi aleatorizada, para controlar uma possível mudança de cor por ritmo circadiano (Stevens et al., 2013). Após esse período de 30 minutos, a coloração de cada parte corporal foi novamente medida e, posteriormente, os caranguejos foram colocados sobre um substrato diferente, por mais 30 minutos, sendo cada parte corporal mensurada novamente após esse período. Ao final do experimento, foi mensurado com um paquímetro digital da marca Zaas, com precisão de ± 0,02 mm, a largura da carapaça de cada animal. Os caranguejos foram marcados na carapaça com um pingo de supercola e um pouco de areia, e foram devolvidos à praia de Pium, de forma a se evitar a recaptura e reutilização de animais já testados. 2.5 Modelagem visual A partir dos dados coletados com o espectrofotômetro, foi calculada a quantidade média de luz refletida (B2) por parte corporal do caranguejo, antes e depois de passar 30 minutos sobre um dos substratos, por meio da função summary, do pacote “pavo” versão 2.0 (Maia et al., 2019), no programa R 4.2.1 (R Core Team, 2023). Para simular a visão de predadores aviários, realizamos modelagens computacionais de como cada parte corporal dos caranguejos seria enxergada contra determinado substrato (i.e., papel branco ou preto), considerando a visão do pavão como modelo, representando o fenótipo de visão das aves costeiras, que em sua maioria são aquelas que apresentam fotorreceptores sensíveis ao violeta (VS) (Ödeen et al., 2010). A modelagem também foi realizada através do pacote “pavo” versão 2.0 (Maia et al., 2019) no programa R (R Core Team, 2023), sendo utilizados os parâmetros base da modelagem de predador adotados por Silva et al. (2022). Para isso, calculamos a captação quântica dos fotorreceptores do pavão, incluindo o seu cone duplo, fotorreceptor relacionado à percepção de luminância em aves. O cálculo da luminância se diferencia do cálculo do brilho médio, pois enquanto o brilho médio é apenas uma medida física de quanta luz está sendo refletida pelos caranguejos e pelos substratos, a luminância é uma medida fisiológica que leva em consideração a percepção de luminosidade do sistema visual do pavão. Utilizando as captações quânticas de cada fotorreceptor do pavão, também foi calculado o contraste cromático (ΔS), que é obtido através do modelo RNL (Receptor Noise Limited) (Vorobyev & Osorio, 1998). O modelo visual RNL foi calculado comparando as captações quânticas de todos os fotorreceptores do pavão, referentes a cada região corporal dos animais, contra as captações quânticas referentes ao substrato, sob o espectro de luz ambiente (Vorobyev & Osorio, 1998), usamos o iluminante padrão de luz natural (i.e., illum= “D65”) da biblioteca do pavo 2.0. Utilizamos a sensibilidade espectral do pavão (Pavo cristatus: 424 nm, 479 nm, 539 nm 607 nm; Hart & Hunt, 2007). Comparamos como esse sistema visual perceberia cada parte corporal das marias-farinhas contra o substrato branco e preto do experimento (Fig. 2). Para contraste cromático, adotamos os mesmos níveis de detectabilidade aplicados por Silva et al. (2022), considerando os seguintes valores de JND (Just Noticeable Difference): ΔS < 1 JND (o caranguejo estaria críptico), 1 JND < ΔS < 3 JND (o caranguejo seria detectável pelo pavão) e ΔS > 3 JND (o 13 caranguejo seria altamente detectável pelo pavão). Fig. 2. Espectros de refletância dos substratos branco e preto utilizados nos experimentos comportamentais. 2.6 Análise estatística Verificamos se houve mudança de coloração dos animais em cada substrato, comparando a cor do indivíduo antes de estar naquele substrato e como esse mesmo indivíduo ficou após passar 30 minutos naquele tratamento. Para isso, primeiramente foi realizado, no programa R 4.2.1 (R Core Team, 2023), o teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados. Os dados das partes corporais que apresentaram uma distribuição normal (Shapiro-Wilk, p > 0,05) foram submetidos ao teste T de Student pareado. Quando não houve distribuição normal (Shapiro-Wilk, p < 0,05), os dados foram transformados por log10 (Gotelli & Ellison, 2011) antes da realização do teste T pareado. Porém, algumas variáveis, mesmo após a transformação para log10, continuaram a apresentar distribuição não normal. Nesses casos, foi realizado o teste não paramétrico de Wilcoxon. Um resultado foi considerado como significativo se apresentasse um p < 0,05. 3. Resultados 3.1 Morfometria Através da média ponderada do tamanho da carapaça, observamos que os caranguejos amarelos coletados possuíam em média 25,74 mm de largura. Já os 14 caranguejos rajados apresentaram uma largura média da carapaça de 16,07 mm. 3.2 Luminância (visão do pavão) Os resultados da análise da luminância seguiram o mesmo padrão dos resultados do brilho médio tanto para os caranguejos amarelos (Fig. 3, Fig. S1, Tabela S1) quanto para os rajados (Fig. 4, Fig. S2, Tabela S2). Indivíduos amarelos não apresentaram diferença significativa na comparação da luminância de nenhuma parte corporal, em nenhum dos substratos (P > 0,05; Fig. 3, Tabela S3). Fig. 3. Luminância, segundo a visão do pavão, de cada parte corporal dos caranguejos amarelos, antes e depois de serem posicionados sobre (A) substrato branco ou (B) escuro. A linha inferior da caixa representa o primeiro quartil, a linha central representa a mediana, a linha superior representa o terceiro quartil, o bigode inferior representa o limite inferior e o bigode superior representa o limite superior. Os pontos indicam cada indivíduo testado. NS = Não Significativo. α = 0,05. Para os indivíduos rajados, houve aumento da luminância da carapaça, perna e região superior da quela quando os caranguejos estavam no substrato branco e diminuição quando estavam no substrato escuro (Tabela S4, Fig. 4.). Porém a região frontal da quela não se alterou significativamente (P > 0,05; Tabela S4). 15 Fig. 4. Luminância, segundo a visão do pavão, de cada parte corporal dos caranguejos rajados, antes e depois de serem posicionados sobre (A) substrato branco ou (B) escuro. A linha inferior da caixa representa o primeiro quartil, a linha central representa a mediana, a linha superior representa o terceiro quartil, o bigode inferior representa o limite inferior e o bigode superior representa o limite superior. Os pontos indicam cada indivíduo testado. Asteriscos indicam diferenças estatisticamentesignificativas (*** p < 0,001; ** p < 0,01; * p < 0,05; NS = Não Significativo). α = 0,05. 3.3 Contraste cromático (visão do pavão) Para contraste cromático, foi observado que os caranguejos amarelos apresentaram uma grande variação individual no seu nível de camuflagem. Alguns indivíduos chegaram a apresentar partes do corpo crípticas (JND < 1), enquanto a mesma região corporal de outros indivíduos foi altamente detectável (JND > 3) para o predador (Fig. 5). No entanto, do ponto de vista populacional, não foram encontradas diferenças consistentes significativas quanto à alteração do contraste cromático de nenhuma parte corporal após o animal ser colocado sobre fundo claro ou escuro (P > 0,05; Tabela S3). 16 Fig. 5. Contraste cromático, segundo a visão do pavão, de cada parte corporal dos caranguejos amarelos, antes e depois de serem posicionados sobre (A) substrato branco ou (B) escuro. A linha inferior da caixa representa o primeiro quartil, a linha central representa a mediana, a linha superior representa o terceiro quartil, o bigode inferior representa o limite inferior e o bigode superior representa o limite superior. Os pontos indicam cada indivíduo testado. JND < 1 (o caranguejo estaria críptico), 1 < JND < 3 (detectável) e JND > 3 (altamente detectável). NS = Não Significativo. α = 0,05. Para os caranguejos rajados, o teste de Wilcoxon identificou diferença significativa no contraste cromático da região superior da quela no tratamento branco (P < 0,05; Tabela S4), com indivíduos apresentando diminuição do contraste contra o substrato branco após passarem 30 minutos nesse tratamento (Fig. 6). Porém, apesar da diminuição, ainda seriam considerados altamente detectáveis para o predador (JND > 3). As demais comparações não mostraram alteração significativa (P > 0,05; Tabela S4). 17 Fig. 6. Contraste cromático, segundo a visão do pavão, de cada parte corporal dos caranguejos rajados antes e depois de serem posicionados sobre (A) substrato branco ou (B) escuro. A linha inferior da caixa representa o primeiro quartil, a linha central representa a mediana, a linha superior representa o terceiro quartil, o bigode inferior representa o limite inferior e o bigode superior representa o limite superior. JND < 1 (o caranguejo estaria críptico), 1 < JND < 3 (detectável) e JND > 3 (altamente detectável). Asteriscos indicam diferenças estatisticamente significativas (*** p < 0,001; ** p < 0,01; * p < 0,05; NS = Não Significativo). α = 0,05. 4. Discussão Aqui mostramos que os morfos amarelo e rajado parecem adotar diferentes estratégias de camuflagem. Os caranguejos do morfotipo amarelo não conseguiram alterar o brilho ou a cor dos seus corpos para ajustar sua aparência ao substrato onde se encontravam. Os animais rajados, por outro lado, foram capazes de modificar com mais eficiência o brilho de diferentes partes corporais, alinhando-o ao tipo de substrato utilizado. Essas modificações seriam possivelmente percebidas por aves com sistema visual similar ao dos predadores de caranguejo, como mostrado pelos valores de luminância. Ainda assim, animais rajados apresentaram uma mudança de cor limitada e, assim como encontrado para o morfo amarelo, houve grande variação individual de contraste cromático entre os indivíduos. 18 Em um estudo anterior, realizado com o caranguejo Carcinus maenas (Stevens et al., 2014), foi encontrada uma variação individual similar, mas com os animais exibindo uma grande variabilidade na capacidade de mudança de brilho, e não no contraste cromático. Enquanto alguns caranguejos mudaram substancialmente seu brilho, outros se alteraram em menos de 1%. Os autores discutem que isso pode estar associado a questões energéticas e dietéticas, evidenciando diferenças de condições entre os indivíduos, ou refletindo alguma mudança circadiana. Tais considerações também podem ser aplicadas para as diferenças individuais na capacidade de mudança de cor encontradas aqui em O. quadrata. Vale ressaltar que os caranguejos pertencentes ao morfotipo amarelo normalmente correspondem aos indivíduos de maior tamanho. Como foi visto, apresentaram, em média, quase 10 mm a mais que os caranguejos rajados. As tocas maiores de marias-farinhas são frequentemente localizadas no supralitoral (Turra et al., 2005; Neves & Bemvenuti, 2006), região da praia onde se encontra a vegetação, bem como rochas grandes. Estes componentes do supralitoral promovem abrigos e dificultam o acesso de predadores, pois as marias-farinhas conseguem cavar suas tocas por entre as raízes das plantas e nas cavidades das rochas. Além disso, indivíduos de maior tamanho apresentam maior capacidade de defesa ativa contra predadores (Nokelainen et al., 2017). Assim, a ausência de mudança de cor para camuflagem, neste morfo, pode estar sendo compensada por esses aspectos. Turra et al. (2005) mostraram que as tocas menores de O. quadrata estão concentradas na região da praia com areia mais grossa, que é comumente encontrada próximo à linha d’água. Um trabalho com Ocypode cursor também mostrou que o diâmetro das tocas diminui à medida que se aproxima da linha d’água (Rodrigues et al., 2016). Dessa forma, possivelmente, os caranguejos rajados ocupam majoritariamente a parte inferior da praia. Essa região é mais aberta, os expondo facilmente aos predadores. Consequentemente, a camuflagem por correspondência de fundo (background matching) é essencial para sua sobrevivência. Observamos que o padrão rajado de maria-farinha é similar aos grãos de areia mais grossos, fazendo com que os indivíduos se confundam com o ambiente (Fig. 1B). Além disso, mostramos que animais desse morfotipo ficam mais brilhantes quando estão em substrato branco e menos brilhantes em substrato preto, assim como foi encontrado em O. ceratophtalmus e C. maenas (Stevens et al., 2013; Stevens et al., 2014). Ainda, aqui detalhamos como essa mudança ocorre nas diferentes partes corporais e descobrimos que os animais alinham ao substrato em que se encontram não somente o brilho da sua carapaça, mas também dos apêndices locomotores e da região superior da quela. Isso evidencia uma importante função de camuflagem dessas regiões corporais com maior visibilidade para predadores aviários, maximizando a crípse dos caranguejos. Embora só tenha sido encontrada alteração significativa do contraste cromático dos animais rajados para a região superior da quela, é possível observar que houve uma clara tendência de diminuição do contraste cromático de todas as partes corporais, em ambos os substratos. Tal resultado indica que a camuflagem desses animais também pode se dar por meio da alteração da sua coloração, e não apenas do brilho. 19 Outro ponto importante é que a diferença de cor encontrada entre as marias-farinhas amarelas e rajadas deve ser determinada pela ontogenia, levando animais jovens e adultos a adotarem diferentes estratégias de camuflagem ao longo do desenvolvimento. Nokelainen et al. (2019) mostraram que o caranguejo costeiro C. maenas adquire uma cor verde mais homogênea à medida que se torna adulto e que essa coloração homogênea permite uma camuflagem mais generalista contra diferentes fundos, o que faz sentido, uma vez que caranguejos maiores normalmente tendem a ser mais móveis, deslocando-se para fundos de diferentes aparências. Dessa maneira, é possível que marias-farinhas amarelas utilizem a estratégia de uma coloração de compromisso que não combina perfeitamente com nenhum fundo específico, mas com muitos de uma maneira geral (Nokelainen et al., 2017). Enquanto isso, caranguejos rajados podem estar utilizando a estratégia de correspondência de fundo, apresentando uma coloração com um ajuste mais fino para o substrato de areia. Também foi observado que a região frontal da quela, tanto para o morfo amarelo quanto para o rajado, apresentou um alto brilho, tanto no substrato branco quanto no escuro. Essa é uma área corporal que tende a refletir luz paralelamente ao solo, e não em direção ao céu, podendo ser bem observada por coespecíficos e desempenharum importante papel na comunicação sociossexual (Detto et al., 2006), sem atrair predadores. De fato, em caranguejos chama-marés Leptuca leptodactyla (Silva et al., 2022), verificou-se que o brilho UV da região frontal da quela de machos é utilizado para a comunicação sexual e que a região superior da quela, ao contrário da região frontal, não reflete luz UV. 5. Conclusões Aqui mostramos que morfotipos de caranguejo maria-farinha O. quadrata diferem na capacidade de mudança de coloração, com apenas indivíduos rajados mudando seu brilho e cor, possivelmente para melhoria da crípse. Também verificamos que a mudança de coloração se dá de forma diferente entre as partes corporais. As regiões dos caranguejos rajados que são vistas de cima (carapaça, perna e região superior da quela) alinham seu brilho e cor à coloração do substrato onde se encontram, favorecendo uma melhor camuflagem contra predadores aviários. Enquanto isso, a região frontal da quela permanece sempre bem brilhante em ambos os morfotipos, o que hipotetizamos desempenhar uma função na comunicação intraespecífica. As diferenças de cor encontradas entre marias-farinhas rajadas e amarelas podem estar relacionadas ao desenvolvimento ontogenético e refletir diferentes estratégias anti-predação selecionadas para cada morfo. Trabalhos futuros deveriam investigar essa hipótese, ajudando a entender a evolução da mudança de cor e da camuflagem nessa espécie. 20 Referências BLANKENSTEYN, Arno. O uso do caranguejo maria-farinha Ocypode quadrata (Fabricius) (Crustacea, Ocypodidae) como indicador de impactos antropogênicos em praias arenosas Ilha de Santa Catarina, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, [s. l.], v. 23, ed. 3, p. 870–876, 2006. BRANCO, Joaquim et al. Bioecology of the Ghost Crab Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) (Crustacea: Brachyura) Compared with Other Intertidal Crabs in the Southwestern Atlantic. Journal of Shellfish Research, [s. l.], v. 29, ed. 2, p. 503-512, 2010. CARO, Tim. The functional significance of coloration in crabs. Biological Journal of the Linnean Society, [s. l.], v. 124, ed. 1, p. 1-10, 2018. CARO, Tim; KONERU, Manisha. Towards an ecology of protective coloration. Biological Reviews, [s. l.], v. 96, ed. 2, p. 611-641, 2021. CARO, Tim; RUXTON, Graeme. 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A linha inferior da caixa representa o primeiro quartil, a linha central representaa mediana, a linha superior representa o terceiro quartil, o bigode inferior representa o limite inferior e o bigode superior representa o limite superior. Os pontos indicam cada indivíduo testado. NS = Não Significativo. α = 0,05. 24 Tabela S1. Resultados das análises estatísticas comparando antes e depois do brilho médio de cada parte corporal do morfotipo amarelo em cada tratamento. Dados numéricos com arredondamento científico. Valores com asterisco “ * ” significam que os dados foram transformados para log10. (t) valor do teste-t pareado, (df) graus de liberdade, (P) valor de probabilidade do teste. 25 Fig. S2. Brilho médio de cada parte corporal dos caranguejos rajados, antes e depois de serem posicionados sobre (A) substrato branco ou (B) escuro. A linha inferior da caixa representa o primeiro quartil, a linha central representa a mediana, a linha superior representa o terceiro quartil, o bigode inferior representa o limite inferior e o bigode superior representa o limite superior. Os pontos indicam cada indivíduo testado. Asteriscos indicam diferenças estatisticamente significativas ( *** p < 0,001; ** p < 0,01; * p < 0,05; NS = Não Significativo). α = 0,05. 26 Tabela S2. Resultados das análises estatísticas comparando antes e depois do brilho médio de cada parte corporal do morfotipo rajado em cada tratamento. Dados numéricos com arredondamento científico. Valores com asterisco “ * ” significam que os dados foram transformados para log10. (t) valor do teste-t pareado, (df) graus de liberdade, (P) valor de probabilidade do teste. 27 Tabela S3. Resultados das análises estatísticas comparando antes e depois de cada parte corporal do morfotipo amarelo em cada tratamento. Dados numéricos com arredondamento científico. Valores com asterisco “ * ” significam que os dados foram transformados para log10. (t) valor do teste-t pareado, (V) valor do teste não-paramétrico de Wilcoxon, (df) graus de liberdade, (Iqr) amplitude interquartil dos dados em que foram realizados o teste de Wilcoxon, (P) valor de probabilidade do teste. 28 Tabela S4. Resultados das análises estatísticas comparando antes e depois de cada parte corporal do morfotipo rajado em cada tratamento. Dados numéricos com arredondamento científico. Valores com asterisco “ * ” significam que os dados foram transformados para log10. (t) valor do teste-t pareado, (V) valor do teste não-paramétrico de Wilcoxon, (df) graus de liberdade, (Iqr) amplitude interquartil dos dados em que foram realizados o teste de Wilcoxon, (P) valor de probabilidade do teste. a5a22eda94fe681e815ca0427ebc3cd32a4723655292d40c557a927e82580980.pdf a5a22eda94fe681e815ca0427ebc3cd32a4723655292d40c557a927e82580980.pdf a5a22eda94fe681e815ca0427ebc3cd32a4723655292d40c557a927e82580980.pdf
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