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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E COMPORTAMENTO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MARIA LEIDJANY CLAUDIO DE LIMA FORMIGAS GIGANTES TÊM MEMÓRIAS GIGANTES? INVESTIGANDO A MEMÓRIA EM DINOPONERA QUADRICEPS (PONERINAE) NATAL/RN 2023 MARIA LEIDJANY CLAUDIO DE LIMA FORMIGAS GIGANTES TÊM MEMÓRIAS GIGANTES? INVESTIGANDO A MEMÓRIA EM DINOPONERA QUADRICEPS (PONERINAE) Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para a obtenção do título de bacharel em Ciências Biológicas. Orientador: Prof. Dr. Arrilton Araújo de Souza Co-orientador: Msc. Igor Eloi Moreira NATAL/RN 2023 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências - CB Lima, Maria Leidjany Claudio de. Formigas gigantes têm memórias gigantes? investigando a memória em Dinoponera Quadriceps (Ponerinae) / Maria Leidjany Claudio de Lima. - 2023. 25 f.: il. Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Graduação em Ciências Biológicas. Natal,RN, 2023. Orientação: Prof. Dr. Arrilton Araujo. Coorientação: Me. Igor Eloi Moreira. 1. Aprendizagem - Monografia. 2. Formiga - Monografia. 3. Labirinto - Monografia. I. Araujo, Arrilton. II. Moreira, Igor Eloi. III. Título. RN/UF/BSCB CDU 591.513 Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 MARIA LEIDJANY CLAUDIO DE LIMA FORMIGAS GIGANTES TÊM MEMÓRIAS GIGANTES? INVESTIGANDO A MEMÓRIA EM DINOPONERA QUADRICEPS (PONERINAE) Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Biológicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para a obtenção do título de bacharel em Ciências Biológicas. Aprovada em: ______/______/______ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Arrilton Araújo Orientador Universidade Federal do Rio Grande do Norte Profa. Drª Ana Carolina Luchiari Membro Interno Universidade Federal do Rio Grande do Norte Drª Dina Lilia Oliveira de Azevedo Membro externo AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família que me ofereceu todo o apoio ao longo da minha trajetória na graduação. Muitas vezes, transformei a confiança deles em mim na minha força ao longo desses anos. Em especial, agradeço à minha mãe, Lucimeire, por sempre acreditar que os estudos podem abrir portas e proporcionar as condições necessárias para que essa primeira porta se abrisse em minha vida. Agradeço também ao meu irmão, Jeferson, por todo o cuidado e apoio incondicional durante esse tempo. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que preza pelo ensino de qualidade, agradeço pelas inúmeras oportunidades que tive durante a graduação e pelo acolhimento constante na Residência Universitária. Ao curso de Ciências Biológicas e aos meus professores. Ao professor Arrilton Araujo, meu orientador, que me acolheu e proporcionou oportunidades para realizar pesquisas com a Dinoponera quadriceps, e me fez acreditar que posso ir muito longe com dedicação e proatividade. Agradeço por todo o tempo dedicado à orientação, conselhos e apoio desde o momento que entrei no Laboratório. Agradeço também ao meu coorientador, Igor Eloi, que me auxiliou de maneira excepcional. Obrigada por todo o conhecimento compartilhado e por manter um ambiente sempre descontraído, favorecendo uma produtividade repleta de boas ideias. Ao pessoal do laboratório, que torna tudo mais harmonioso, em especial à Shirley e à Marília, que se tornaram verdadeiras irmãs. Agradeço por todo o apoio, zelo, puxão de orelha, verdades na cara e pelo elo que formamos e fortificamos dentro deste mundinho acadêmico. Agradeço a Luiza, Mikael, Eloisy, Dziane e Willon meus amigos de longa data que compartilharam todas as fases de evolução durante esse tempo na graduação. Agradeço às meninas que moraram comigo na Residência: Ana, Camila, Amanda, Tamires, Jaque, Juliana, Larícia e Maria Rosiemilly. Obrigada, por de forma direta ou indireta, contribuírem para minha evolução pessoal. Reforço meu agradecimento a todos que mencionei e a tantos outros que contribuíram de alguma forma para a minha jornada acadêmica. Eu acho que nem Se eu já tivesse ganho, eu viveria sem Toda essa vontade de voar que tem Nessa caminhada que eu fiz virar estrada E que me faz sentir tão bem Um dia, eu sei Que a gente ainda vai rir de tudo isso ♫ - Sonho- Atitude 67 RESUMO O processo de aprendizagem envolve aspectos de modificações de comportamento com base em experiências, enquanto a memória é a habilidade de reter essas informações. No presente trabalho, avaliamos a duração da memória em Dinoponera quadriceps por meio de experimentos comportamentais, com foco na retenção de aprendizados ao longo do tempo. Para alcançar tal objetivo foi utilizado um labirinto bifurcado com estímulos visuais e duas opções de escolha relacionada aos lados. Durante o treino, as formigas acessaram um labirinto com recompensa, enquanto no teste, fizeram sem recompensa. Na fase de teste, 32 formigas foram avaliadas individualmente em intervalos de 24, 48 e 72 horas após o treino. Os resultados sugerem que em D. quadriceps há uma formação de memória de curto, apresentando diferentes níveis de performances individuais quanto à situação que as D. quadriceps foram expostas. Palavras-chave: aprendizagem, memória, formiga, labirinto. ABSTRACT The learning process involves aspects of behavior modification based on experiences, while memory is the ability to retain this information. In this study, we assessed the duration of memory in Dinoponera quadriceps through behavioral experiments, focusing on the retention of learning over time. To achieve this goal, a bifurcated maze with visual stimuli and two choice options related to the sides was used. During training, ants accessed a maze with a reward, while in the test, they navigated it without a reward. In the test phase, 32 ants were individually evaluated at intervals of 24, 48, and 72 hours after training. The results suggest that in D. quadriceps, there is the formation of short-term memory, with varying levels of individual performance regarding the situations to which D. quadriceps were exposed. Keywords: learning, memory, ant, maze. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1 2 OBJETIVO, HIPÓTESE E PREDIÇÃO ........................................................................................ 2 3 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 3 3.1 Sujeitos experimentais .................................................................................................................. 3 3.3 Procedimentoexperimental ....................................................................................................... 4 3.3.1 Sessão de treino........................................................................................................................ 4 3.3.2 Sessões de teste ......................................................................................................................... 5 4 RESULTADOS .................................................................................................................................. 6 5 DISCUSSÃO ...................................................................................................................................... 7 6 CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 10 7 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 11 Anexo I ............................................................................................................................................ 17 1 1 INTRODUÇÃO O processo de aprendizagem envolve aspectos de modificações de comportamento com base em experiências. Enquanto a memória é a habilidade de reter informações, permitindo que elas sejam resgatadas através da reativação dos sistemas nos quais o aprendizado ocorreu originalmente (Squire, 2004). Esses dois processos estão interligados, apresentando a capacidade de armazenar informações em um substrato fisiológico específico, a partir do qual pode ser recuperada em circunstâncias apropriadas para gerar respostas adaptativas (Tulving; Craik, 2000). Os insetos sociais, como formigas, abelhas e cupins, vivem em colônias altamente organizadas, exibindo uma notável divisão de trabalho entre castas específicas. Como destaca (Hölldobler; Wilson, 1990), essas castas incluem a rainha, responsável pela reprodução, as operárias, encarregadas de tarefas diárias, e, em algumas espécies, os soldados, especializados na defesa da colônia. A comunicação dentro da colônia é facilitada principalmente por feromônios, substâncias químicas que transmitem informações vitais, como trilhas, localização de alimentos e perigos. No estudo do comportamento aprendido das formigas, há uma interação complexa e pouco compreendida entre comportamentos inatos e aprendidos, utilizados de maneira bimodal na orientação espacial (Wenig et al., 2021; Azevedo et al., 2022; Czaczkes et al., 2022). Experimentos sugerem que a fidelidade desses insetos às suas rotas direcionais refere-se a sua memória visual e olfativa (Czaczke; Kumar, 2020). As formigas possuem a capacidade de aprender rapidamente, com memórias que podem durar até três dias e serem altamente resistentes à extinção mesmo após uma única exposição ao novo estímulo (Piqueret et al., 2019). Pesquisas evidenciam que as formigas operárias podem formar memórias de longa duração, retendo informações olfativas e visuais por até 72 horas, e utilizar essas informações para aprimorar o forrageamento (Piqueret et al., 2019), sendo adequadamente classificável dentro do que é conhecido como memória de longo prazo (Menzel, 1999). Algumas formigas possuem uma notória capacidade de memorização, como é o caso da Formica uralensis, que podem acessar memórias até seis meses após treino (Salo; Rosengren, 2001). A capacidade de memorização é especialmente importante para formigas que atuam no forrageio, uma vez que memorizar pistas ambientais possibilita o ajuste adaptativo das formigas em resposta a estímulos, seja atribuindo valor positivo ou negativo a determinadas rotas ou simplesmente ignorando aquelas que apresentam pistas desfavoráveis (Dukas, 2004). Todavia, além de mal adaptativo, é pouco provável manter a memória a respeito de tudo (Schooler; Hertwig, 2005; Storm, 2011). No que agora é considerado um artigo clássico, McNamara; Houston, 1987) demonstraram como a capacidade de aprendizado e memorização dos animais 2 reflete sua ecologia. A aprendizagem pode ser definida como um processo pelo qual uma atividade tem origem ou é modificada e ela é dividida em dois mecanismos principais, que são a aprendizagem não associativa e associativa (Hawkins et al.,2015). O primeiro é considerado a forma mais simples do aprendizado, sendo dividido em dois subgrupos habituação e sensibilização. A habituação é a forma mais simples, na qual um estímulo único e simples é apresentado repetidamente, já a sensibilização é mais complexa, na qual o indivíduo aprende a fortalecer as suas respostas após a aplicação repetida a um estímulo mais alarmante. A investigação sobre aprendizagem associativa em insetos sociais teve seu início com o condicionamento da resposta à extensão da tromba das abelhas melíferas (Menzel et al., 1978). Ao longo das décadas, essa abordagem tem sido extremamente aplicada. Destaca-se que a aprendizagem associativa é importante para para as formigas, pois permite a formação de relações preditivas entre estímulos ambientais e recompensas, como a presença de alimento. Esse tipo de aprendizado é difundido entre os animais e possui consequências ecológicas e evolutivas de longo alcance (Giurfa, 2007). As formigas da espécie Dinoponera quadriceps Kempf (1971) (Ponerinae) apresentam forrageio solitário com fidelidade direcional (Azevedo et al., 2014). Nesse tipo de forrageio, o processo de memorização de informações pode ser custoso, uma vez que há imprevisibilidade durante o forrageio e as rotas precisam ser atualizadas. Em um estudo recente (Azevedo et al., 2021), foi demonstrado que essa espécie possue a capacidade de ajustar rapidamente suas rotas de forrageio em resposta a novos elementos na paisagem, sugerindo uma habilidade de aprendizado. No entanto, pouco se sabe sobre a capacidade desses animais em reter e acessar informações ao longo do tempo. Nesta perspectiva, o processo de aprendizado e memória em formigas é de fundamental importância para avançarmos na compreensão da cognição animal em geral, bem como suas implicações ecológicas e evolutivas. Considerando que a espécie em questão pode habitar ambientes caracterizados por uma heterogeneidade ambiental entre Mata Atlântica e Caatinga, é de interesse explorar como essa formiga lida com a memorização de informações relevantes para o seu sucesso adaptativo. 2 OBJETIVO, HIPÓTESE E PREDIÇÃO Objetivo: Investigar a duração da memória em Dinoponera quadriceps, por meio de experimentos comportamentais. Hipótese: A retenção de aprendizado em Dinoponera quadriceps ao longo do tempo não demonstra diferença em até 72h após o aprendizado. Predição: 72h após o último treino, as formigas ainda demonstrarão modificação em seu comportamento. 3 3 METODOLOGIA 3.1 Sujeitos experimentais Foram coletadas quatro colônias de formiga da espécie Dinoponera quadriceps na Floresta Nacional de Nísia Floresta do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (6°5′S, 35°12′O), localizado no município de Nísia Floresta região costeira do estado do Rio Grande do Norte. As colônias coletadas foram colocadas em ninhos artificiais feitos de gesso de secagem rápida. Esses ninhos foram então colocados em arenas de madeira revestidas com laminado de fórmica e foi utilizado a vermiculita como substrato, que apresentava uma área de 100 cm². As formigas foram marcadas com caneta edding com as cores: azul, rosa, amarelo e sem cor, essa combinação de cores gerou códigos para cada formiga, facilitando sua identificação. O laboratório ficava em temperatura controlada 24 ± 2ºC e mantido a um ciclo claro-escuro (12:12h). As formigas tiveram acesso livre a água e, foram alimentadas três vezes por semana usando larvas de Tenebrio molitor, mel e frutas. No início do experimento, foi considerado um grupo de 57 operárias aototal. Conforme o experimento progrediu, algumas operárias (n= 25) foram excluídas devido ao comportamento de inatividade ao longo do processo, além daquelas que morreram. 3.2 Aparato experimental Para a condução dos experimentos, adotou-se um labirinto de acrílico de dimensões 57 x 20 x 10 cm em configuração bifurcada do tipo fork, estrategicamente alocado no interior de uma arena de madeira com uma área total de 100 cm² (Figura 1 a). Com a intenção de mitigar qualquer possível interferência de pistas visuais externas no comportamento das formigas, implementou-se uma cobertura com tecido branco na arena (Azevedo et al., 2021). Na entrada da arena localizava-se uma caixa preta de dimensões 20 x 10 cm, na qual cada indivíduo era posicionado antes de entrar no labirinto (Azevedo et al., 2021). As operárias tinham a possibilidade de retornar a essa caixa a qualquer momento durante os testes no labirinto (Figura 1 a). Ao centro da cobertura foi posicionada uma câmera de vídeo ligada a um computador que fez os registros em vídeo de todo os experimentos. No labirinto, implementou-se um estímulo visual composto por padrões zebrados em tons de azul, (Figura 1b). A tonalidade azul é relatada como uma cor que está no espectro visual das formigas (Cammaerts, 2007) que foram dispostos em um dos braços, de acordo com os sorteios gerados pelo Software R. A região onde a formiga estabeleceu contato visual com esse estímulo foi identificada como “área de recompensa”, que ficava na parede do labirinto demarcado com fita azul. 4 Figura 1: Representação esquemática da arena utilizada (a), onde eram realizados os treinos e testes com as operárias de Dinoponera quadriceps. (b) O labirinto em que as formigas foram testadas era bifurcado, tipo fork e apresentava padrões zebrados em um dos ramos. * caixa de partida da formiga. Esquema produzido por Marília Fernandes. 3.3 Procedimento experimental As operárias foram retiradas dos seus ninhos individualmente e transportadas para a caixa de partida, onde permaneciam por 1 minuto, com o intuito de aclimatação. Após o término do tempo estipulado, uma formiga por vez tinham acesso ao labirinto, sendo permitida a entrada à própria vontade. Após a entrada, o acesso era fechado manualmente, dando início à sessão. O estudo foi dividido em duas fases: treino e teste. Onde no treino a formiga tinha acesso ao labirinto que continha uma recompensa (alimento) ao final do braço com o padrão zebrado. Esta sessão de treino era encerrada quando a formiga chegava na área de recompensa ou após transcorridos 5 minutos. Com relação ao teste, a formiga foi observada dentro do labirinto, sem que qualquer recompensa fosse ofertada, e a sessão de teste era encerrada quando a formiga chegava na área de recompensa ou após transcorridos 5 minutos. 3.3.1 Sessão de treino Neste estudo, cada formiga (n= 32) realizou quatro sessões de treino, sendo um treino por dia iniciados no mesmo horário (08:00h), durante 10 minutos cada treino e ao todo, cada formiga poderia ser submetida a um total de 10 sessões de treino. Em cada um dos treinos, foi disponibilizado na área de recompensa uma oferta alimentar de forma a distribuí-los de maneira aleatória ao longo dos dias, assegurando a utilização de uma variedade de alimentos distintos: maçã, tenébrio, mortadela e doce de goiaba. A massa das ofertas em gramas foi padronizada, tendo em média 0,25 ± 0,03g (Média ± DP); exceto para a oferta “tenébrio”, em que foi disponibilizada uma única larva com 101 ± 28mg (Média ± DP) (Silva Neto, 2014). A oferta do 5 tenébrio não pôde ser uniformizada devido ao seu reduzido peso em comparação com as outras opções alimentares. A inserção de duas larvas seria inviável, dado que as formigas transportam um item alimentar de cada vez. A sequência de apresentação das ofertas também foi determinada através de sorteio com reamostragem, realizado no Software R, com o propósito de mitigar qualquer possível sensação de aversão nos indivíduos. 3.3.2 Sessões de teste Após uma formiga obter quatro sucessos em suas dez tentativas, elas foram avaliadas individualmente em intervalos de 24, 48 e 72 horas após a última sessão de treino. Um total de 32 formigas foram submetidas a esses testes, sendo oito formigas avaliadas após 24 horas, dezesseis após 48 horas e oito após 72 horas. A diferença no número de formigas testadas deu- se em função de que ao longo do experimento formigas foram morrendo ou sendo retiradas do experimento por inatividade. Essa abordagem assegurou que nenhuma operária fosse submetida a testes consecutivos. Ao termino de cada teste o labirinto era limpo com um pano molhado de àlcool 70%, cada formiga testada voltava para sua colônia transportada em uma caixa. 3.3.3 Análise Estatística Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando o software R versão 4.3.1 R Core Team, 2023) e com um nível de significância de 0,05 bicaudal. Para controlar a variação no tempo até a resolução do encontro de recompensa, a variável resposta foi transformada para sua forma proporcional, dividindo todos os valores por 300 (o máximo de segundos disponíveis para cada sessão). Para investigar a diferença no tempo gasto das formigas ao longo das sessões de treino e teste, foi desenvolvido um modelo misto com distribuição Gaussiana, utilizando o pacote glmmTMB (Brooks et al., 2017). Para controlar os efeitos da variação intracolonial, individual e das medidas repetidas, a identificação individual das formigas e das colônias foi incluída no modelo como um intercepto aninhado. Por outro lado, para mitigar o efeito de possível aprendizado latente (sem encontro de recompensa), adicionamos o número de sessões experienciadas pela formiga como fator randômico. Nesse arranjo, a quantidade de sessões pode variar de acordo com a identidade individual das formigas. Portanto, o modelo ajustado tem o seguinte formato: ● Modelo 1= proporção de tempo gasto∼sessão + fator randômico (1∣número total de sessões/indivíduo) A adequação residual do modelo foi avaliada utilizando o pacote DHARMa (Hartig, 2022), e posteriormente o modelo foi testado usando uma Análise de Deviância (ANODEV) tipo II. Para comparação pareada dos termos, foi conduzida uma análise de contraste, a qual foi corrigida usando o método de Benjamini-Hochberg (Benjamini; Hochberg, 1995). Além disso, https://www.zotero.org/google-docs/?broken=PBKDKi https://www.zotero.org/google-docs/?broken=PBKDKi 6 para agrupar as formigas em categorias discretas com base em seu desempenho no labirinto na fase de treino e teste, utilizamos um método de agrupamento usando o pacote cluster (Maerchler et al., 2022). Optou-se pelo método de Particionamento ao Redor de Medoides (PAM) (Kaufman; Rousseeuw 1990), um algoritmo de aprendizado não supervisionado. A escolha deste algoritmo apresenta algumas vantagens em relação ao método clássico de agrupamento por k-means. Principalmente, porque o PAM aceita uma matriz de dissimilaridade em vez de um vetor numérico, sendo assim mais flexível em relação à natureza da variável. Isso possibilita a inclusão de vários critérios para a classificação. Em nosso estudo, optou-se por usar uma matriz de dissimilaridade euclidiana, onde inclui-se a latência, a escolha do ramo sinalizado (binária) e a taxa de obtenção de recompensas. 4 RESULTADOS O tempo gasto de acesso à recompensa durante a fase de treino foi de 73,0 ± 62,7s (média ± DP). As formigas testadas 24h após a última sessão de treino, gastaram 95,7 ± 67,2s (média ± DP) para acessar o local da recompensa, aumentando para 194,0 ± 140,7s (média ± DP) no grupo de formigas que foram testadas 48h após o último treino. Por outro lado, as formigas testadas no tempo de 72h tiveram a menor tempo gasto para chegar a área de recompensa após o último treino, levando em média 71,1 ± 94,0s (média ± DP) (ANODEV 𝜒²=40,656; p=3,384x10-07) (Anexo 1 - Tabela 1) (Figura 2). Figura 2: O tempo gasto proporcional até resolução de tarefa em formigas operárias D. quadriceps. A performance das formigas durante o treino é demarcada pela região em cinza-claro. Enquanto a fase de teste é demarcada pela região em vermelho. 7 Observando os valores de desvio padrão no tempo gasto para chegar à área de recompensa do labirinto, tanto nos treinos como nas fases de teste, resolvemos analisar estatisticamente essas variações aplicando o método de agrupamento. Como resultado as operárias foram agrupadas em três grupos de operárias: rápidas, medianas e lentas. As formigas rápidas (n= 11) foram consideradas aquelas que gastaram 40,0 ± 22,3s (média ± DP) para identificar o lado correto da recompensa. Por outro lado, observou-se que 21% das formigas (n= 9) foram agrupadas como medianas, gastando 154 ± 33s (média ± DP), mais de 4 vezes o tempo gasto pelas operárias rápidas. Por fim, as formigas agrupadas como lentas (n= 12) apresentaram maior tempo gasto para chegar ao local da recompensa 289 ± 18,5s (média ± DP) sete vezes mais tempo que as formigas rápidas (Figura 3). Figura 3: Separação em grupos baseados no tempo gasto proporcional até resolução de tarefa em formigas operárias D. quadriceps (média ± desvio padrão). O grupo de formigas lentas apresenta maior tempo gasto na conclusão da tarefa, e, portanto, a menor modificação de comportamento baseado em experiência. 5 DISCUSSÃO Nossos resultados indicam que, por meio de uma série de repetições de ações, as formigas podem aprender a executar uma tarefa de baixa complexidade, como encontrar o caminho em um labirinto e, subsequentemente, identificar a oferta de recompensa. Durante a fase de treinamento, as formigas acessaram o labirinto bifurcado com estímulo visual e duas opções de lados para escolha e com recompensa. Essa abordagem visava eliminar quaisquer preferências de localização ou de oferta alimentar que pudessem surgir. 8 Durante a fase de treino, as formigas que completaram as 4 sessões apresentaram variação entre o tempo gasto de acesso a recompensa 73,0 ± 62,7s (média ± DP), sugerindo uma oscilação com relação à aprendizagem e memorização de maneira individual na D. quadriceps. Com isso, foi visto que as quatro sessões são suficientes para haver a memorização quanto a resolução da tarefa, apresentando certa similaridade com os trabalhos realizados com a formiga Solenopsis saevissima Stratton et al. (1973), como também em abelhas da espécie Apis mellifera (Nouvian et al.,2019). Diante deste cenário, as operárias de D. quadriceps apresentaram menor tempo para chegar na área de recompensa, quando foram testadas no intervalo de 72h, apresentando-se similar ao que acontece em outros insetos sociais, como abelhas, nas quais foram identificadas duas formas de memória: curto prazo entre 24 e 48h e longo prazo > 48h (Schwärzel; Müller , 2006). Durante o experimento, notou-se que as formigas demonstraram algum nível de melhora em sua performance: o tempo para encontrar a recompensa diminuiu rapidamente após as três primeiras sessões de treinos, sugerindo que essa espécie pode aprender de forma operante. Foi demostrado (Yilmaz et al., 2019) em um estudo com Camponotus blandus que o aprendizado de cores e a formação da memória levam ao possível aumento de volume de múltiplas regiões cerebrais em formigas, indicando potenciais neurais para memórias. Com isso, é possível especular que os circuitos neuronais destas áreas podem contribuir para resoluções de tarefas cognitivas, promovendo processos de decisão rápidos durante a exploração do ambiente inicialmente desconhecido que inclui diferentes tipos de estímulos (Jimenez et al.,2015). Os estímulos presentes no experimento foram a oferta de alimentos e a coloração visual em tons de azul nas bifurcações do labirinto, fazendo com que ambos ao entrarem em contato direto com a formiga, possam provocar uma resposta reflexa no sistema neural motor da formiga, aproximando-se ou afastando-se da fonte do estímulo. Estudos anteriores descrevem que tal comportamento é similar com o aprendizado visual demonstrado em forrageadoras de formigas do deserto Melophorus bagoti (Deeti et al., 2021), que demonstram uma notável capacidade de aprendizado, possibilitando a construção de memórias das tarefas previamente realizadas. Essa habilidade de aprendizado e memorização pode explicar porque algumas das formigas estudadas apresentaram desempenho superior na tarefa que foi proposta em comparação com outras quando enfrentam um cenário de labirinto. Nesse contexto, as observações realizadas em relação à formiga D. quadriceps revelaram uma semelhança com outros insetos como vespas (Tibbetts et al., 2013; Hoedjes et al., 2010), outras espécies de formigas (Muth, 2021; Fleischmann et al., 2017; Zeil et al., 2019) e abelhas (Scheiner et al., 1999; Raine et al., 2008). 9 O comportamento referente a performance de tempo gasto durante o acesso ao labirinto pôde ser observado durante o experimento no labirinto utilizado, onde as formigas demonstram a capacidade de modificar sua performance (latência até achar alimento) em função da experiência. Isso ocorre através da construção de memórias implícitas que lhes permitem também estabelecer rotas confiáveis nas subsequentes tentativas de exploração desse ambiente desafiador (Capaldi et al., 2000). Tais resultados, sugerem que, individualmente, essas formigas conseguem aprender informações sobre o entorno sem depender em orientação por pistas químicas, corroborando os resultados encontrados por Azevedo et al. (2021). Todavia, nosso estudo adiciona ao corpo de evidências, a sugestão de que essa capacidade sofre grande variação individual. Apesar de estudos Guerrieri; D'Ettorre. (2010), afirmarem que as formigas apresentam castas morfológicas, cada uma delas dedicada a tarefas específicas da sociedade, ao separar os grupos de formigas utilizadas no experimento em rápidas, medianas e lentas, foi possível observar que sua performance pode ser em parte explicada por fatores individuais. Dinoponera quadriceps não são consideradas derivadas (Schmidt 2013), essa espécie perderam a característica de castas por meio do polimorfismo, no entanto, apresentam polietismo, como demonstrado em estudos anteriores de Molet et al. (2012) e Azevedo et al. (em prep.), o que pode explicar seus desempenhos de comportamentos de resposta a tarefas como a resolução de labirinto com baixa complexidade, de forma semelhante a outras espécies de formigas como: Cataglyphis (Formicinae) (Wehner et al., 1996; Wehner et al., 2003; Graham et al., 2004); Forelius foetidus (Dolichoderinae) (Scheffrahn et al., 1984) e Diacamma indicum (Ponerinae) (Morgan et al.,2003). O polietismo refere-se à existência de diferentes tarefas e especializações dentro da colônia, onde as formigas desempenham funções específicas de acordo com as necessidades da colônia. Isso permite que formigas sem polimorfismo, como as do gênero Dinoponera, se organizem de maneira eficaz e cooperativa para realizar tarefas diversas e complexas. Portanto, embora não haja uma diferenciação de castas por polimorfismo operário, o polietismo desempenha um papel fundamental em suas expressões comportamentais (Ferguson-Gow et al., 2014). A formigas Dinoponera quadriceps possue um grau de cognição animal, desafiando a visão comum de insetos como seres dotados apenas de capacidades básicas de processamento de informações (Silva Neto, 2014). As decisões individuais durante a busca por alimento são aprimoradas por habilidades cognitivas como a capacidade de recuperar informações passadas, permitindo que as formigas adaptem suas decisões a pequenos atributos durante sua exploração do ambiente em busca de recursos alimentares. Essa observação foi reforçada no presente trabalho, onde as formigastestadas apresentaram um menor tempo gasto em encontrar o lado 10 correto do labirinto, resultando em uma redução de segundos no percurso e no alcance bem- sucedido do alimento. Tal comportamento também foi observado em outros estudos, conforme demonstrado que as formigas forrageadoras da espécie Temnothorax rugatulus memorizam tanto a localização das fontes de alimentos quanto os horários em que são rentáveis (Beugnon et al., 1996). A relevância dos aspectos cognitivos nos mecanismos de sobrevivência das diversas espécies de formigas é notável e certamente, pode estar ligado à própria estratégia de forrageio da espécie. 6 CONCLUSÃO A pesquisa revela uma variabilidade nas respostas das formigas da espécie estudada (D. quadriceps) ao treino de resolução de tarefas, refletida nos diferentes tempos gastos para alcançar a área de recompensa. A análise de agrupamento destaca a existência de operárias com três categorias de desempenho, indicando uma heterogeneidade considerável na capacidade de aprendizado e execução de tarefas. Por fim, os resultados deste trabalho corroboram a hipótese de que a retenção de aprendizado em Dinoponera quadriceps ao longo do tempo não demonstra diferença em até 72h após o aprendizado. 11 7 REFERÊNCIAS AZEVEDO, D. L. O., Medeiros, Jeniffer C., & Araújo, A. Ajustes no Tempo, Distância e Direção de Forrageamento em Operárias Dinoponera quadriceps. Journal of Insect Behavior 27, 177–191, 2014. AZEVEDO, D. L. O., Medeiros, Jeniffer C., & Araújo, A. Flexibility in the integration of environmental information by Dinoponera quadriceps Kempf during foraging. Revista Brasileira de Entomologia, 65, e20210084, 2021. AZEVEDO, D. L. O., Santos, P. F., Pereira, A. G. C., Corso, G., & Araújo, A. Effect of Chemical and Visual Cues in the Maze Performance of the Ant Dinoponera quadriceps. 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Comparação t p Treino 1 - Treino 2 -0,6 0,85 Treino 1 - Teste 24 -0,84 0,85 Treino 1 - Treino 3 -0,71 0,85 Treino 1- Treino 4 0,49 0,85 Treino 1 - Teste 48 -5,56 < 0,01 Treino 1 - Teste 72 -0,16 0,92 Treino 2 - Teste 24 -0,46 0,85 Treino 2 - Treino 3 -0,11 0,92 Treino 2 - Treino 4 1,09 0,65 Treino 2 - Teste 48 -5,07 < 0,01 Treino 2 - Teste 72 0,22 0,92 Teste 24 - Teste 72 0,53 0,85 Treino 3 - Teste 24 -0,39 0,86 Treino 3 - Treino 4 1,2 0,65 Treino 3 - Teste 48 -4,98 < 0,01 Treino 3 - Teste 72 0,29 0,91 Treino 4 - Teste 24 -1,14 0,65 Treino 4 - Teste 48 -5,95 < 0,01 Treino 4 - Teste 72 -0,46 0,85 Teste 48 - Teste 24 3,12 0,01 Treino 48 - Teste 72 3,17 0,00
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