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Origens da Primeira Guerra

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ECLOSÃO DA GUERRA
Antes de entramos nos detalhes da dinâmica do conflito, é necessário destacar um ponto relevante e decisivo para alguns autores que trataram das origens da Primeira Grande Guerra: a lógica de alianças.
Além das transformações sistêmicas e econômicas que sacudiram a Europa na segunda metade do século XIX, dois grandes eventos políticos que, além de alterarem o desenho do mapa da Europa, também impactaram o cálculo estratégico dos demais Estados europeus foram:
Unificação da Itália
UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA
A Alemanha rapidamente se tornou um novo ator político relevante no continente. O seu poder político estava baseado na combinação de:
Uma população relativamente grande
Uma impressionante força e capacidade industrial e tecnológica
A sua existência e capacidade produtiva reorganizaram os arranjos internacionais e a correlação de forças na Europa.
A partir dos anos 1880, os Estados europeus, gradativamente, foram se dividindo em dois grandes blocos opostos de nações. A diplomacia ficou cada vez mais parecida com um verdadeiro jogo de xadrez, no qual a movimentação de uma peça no tabuleiro de uma nação rival levaria, inevitavelmente, à movimentação de outra peça por outra nação.
O período de 1890 a 1910 foi marcado pelo binômio:
Alianças
Ameaças
As forças políticas e econômicas deram vazão plena à teoria da anarquia internacional.
De modo irrequieto, buscavam vantagens e ameaçavam, até que os processos políticos foram acelerados.
Arquiduque Frederico Ferdinando, Johann Stadler.
Ilustração representando o assassinato do arquiduque Frederico Ferdinando, pelo jornal francês Le Petit Journal.
O evento emblemático é o assassinato do arquiduque Frederico Ferdinando, iniciando um processo já cadenciado, depois de anos de ameaças. A morte é emblemática por se tratar de uma tensão local, que se desdobra. Os jovens que atiraram, vinculados a defesa da autonomia da Sérvia (principalmente região da Bósnia), foram considerados autores de um ataque direto ao Império austro-húngaro, e sendo aclamados como herói, os eventos fomentam os debates políticos que já estavam a caminho.
A situação local marca a disputa entre os Impérios Europeus e suas colônias, fomentando a luta a partir do evento acima descrito.
2
Quando o Império austro-húngaro passa a buscar aliados a vingar e as forças se dividem em novos equilíbrios, levando a um conflito armado, marca-se o papel das questões territoriais europeias.
Atenção
É importante destacar que, pela sua posição geográfica, a Alemanha se viu diante de uma guerra em duas frentes.
O plano dos alemães era resolver rapidamente as batalhas na frente ocidental, e depois partir para o ataque na frente oriental. A estratégia alemã estava fundamentada em uma guerra rápida e decisiva, uma campanha relâmpago. O exército alemão avançou sobre a França e chegou a algumas dezenas de quilômetros da capital, Paris.
Entretanto, os franceses, contando com o apoio do que restou da resistência belga e com uma força terrestre cada vez maior dos britânicos, conseguiram organizar uma resistência à invasão alemã marcando a sua posição através de fortificações defensivas de milhares de soldados entrincheirados na parte ocidental do país (HOBSBAWM, 2014, p. 33).
Soldados franceses em Paris, 1918.
Sobre as origens da Primeira Guerra, Hobsbawm destaca o seguinte:
“Ela começou como uma guerra essencialmente europeia, entre a tríplice aliança de França, Grã-Bretanha e Rússia de um lado, e as chamadas “potências centrais”, Alemanha e Áustria-Hungria, do outro, com a Sérvia e a Bélgica sendo imediatamente arrastadas para um dos lados devido ao ataque austríaco (que na verdade detonou a guerra) à primeira e o ataque alemão à segunda (como parte da estratégia de guerra da Alemanha). A Turquia e a Bulgária logo se juntaram às potências centrais, enquanto do outro lado a tríplice aliança se avolumava numa coalizão bastante grande. Subordinada, a Itália também entrou; depois foi a vez da Grécia, da Romênia e (muito mais nominalmente) de Portugal também. Mais objetivo, o Japão entrou quase de imediato, a fim de tomar posições alemãs no Oriente Médio e no Pacífico ocidental, mas não se interessou por nada fora da sua região, e – mais importante – os EUA entraram em 1917. Na verdade, sua intervenção seria decisiva.”
(HOBSBAWM, 2015, p. 32)
A guerra de trincheiras se tornou uma das maiores máquinas de massacre de pessoas sem precedentes na história da guerra. Milhares de soldados ficavam enfileirados uns diante dos outros nas trincheiras, nas barricadas ou nos sacos de areia.
A guerra de posições levou a um impasse sangrento na frente ocidental. Porém, na frente oriental, a Alemanha continuava em movimento. Com a ajuda dos austríacos, os alemães conseguiram expulsar o exército russo para fora da Polônia. A Rússia estava em uma clara posição defensiva e, para observadores, tanto externos quanto internos, era só uma questão de tempo para perder decisivamente a guerra.
Soldados alemães marchando na cidade polonesa Lódz, German Federal Archives, 1914.
Saiba mais
Tal impasse militar e político foi crucial para desestabilizar o Império czarista e abrir uma brecha aos eventos revolucionários de 1917 (HOBSBAWN, 2014, p. 35).
Na Europa, não havia espaço para três potências industriais rivais. Veja mais a seguir:
A pretensão alemã de ser reconhecida como potência global.
A insistência do Império britânico de continuar dando as cartas na política internacional.
A pretensão francesa de ser aceita no clube das grandes potências imperiais.
Na prática, isso representava a impossibilidade de uma existência pacífica entre os Estados.
Pensando nisso, e com o objetivo de isolar a ilha britânica, a estratégia alemã foi direcionar forças e recursos para a guerra marítima.
Como o submarino foi uma das inovações tecnológicas mais destacadas do período, os generais alemães pretendiam lançar uma grande frota de submarinos no Atlântico Norte para abater qualquer navio de suprimentos com direção à Inglaterra. Tal estratégia levou os alemães a atacar embarcações norte-americanas que forneciam mantimentos e armas para a Inglaterra.
Tradução livre: “Eu sou neutro, MAS não tenho medo de nenhum deles.” Charge sobre a neutralidade dos EUA durante a maior parte da Primeira Guerra Mundial, Wallace Robinson, 1915.
Diante desse ataque e da eminente vitória dos alemães, na frente oriental, devido ao enfraquecimento da Rússia, os Estados Unidos, que até então tentavam se manter neutros e lucrando com o conflito, decidiram entrar na guerra em apoio à Inglaterra e França contra a Alemanha.
A entrada norte-americana foi decisiva para o desenrolar do conflito e a consequente vitória da Entente. Pelo fato do conflito não se dar em seu amplo território e também por ser uma potência com alta capacidade industrial, os EUA conseguiram desequilibrar o conflito a favor da Entente fornecendo um grande volume de soldados, tanques, navios e aviões de guerra. Não demorou muito para que as exaustas tropas alemãs e austríacas fossem derrotadas na frente ocidental.
Repare que os conceitos de nacionalismo, direito, soberania, colônias, entre outros, foram discursos políticos que se manifestaram em um conflito armado, declarado em 28 de julho de 1914.
Havia a expectativa de que as novas tecnologias, sem o uso das velhas espadas, mas sim das armas de fogo, levariam a um conflito rápido; entretanto, descobriu-se o inferno da guerra imóvel, das guerras de trincheiras!
A longa guerra, os custos de batalha e de pessoas fizeram estragos inimagináveis na economia europeia, permitindo que a potência norte-americana emergente se apresentasse como a financiadora do mundo.
O desequilíbrio entre as nações fundamentou, de maneira emblemática, as tensões, fazendo com que as próprias demandas econômicas de capital gerassem pressões internas mais intensas do que, muitas vezes, o desejo de conquista; é a velha metáfora de “ao vencedor as batatas.”
Com o fim da batalha, o rancor e a amargura do peso violento do processo eram críticos. Em um ícone do Antigo Regime, os chefesde Estado são chamados a negociar. A rendição da Alemanha, por exemplo, fora contestada pela não perda do território. Em Versalhes (França), a liderança norte-americana se consolida e uma nova fase do mundo é definitivamente alicerçada.
Com o fim da guerra, em 1918, o acordo de paz imposto pelas potências vitoriosas (EUA, Grã-Bretanha, França e Itália) ficou conhecido como Tratado de Versalhes, e tentava estabelecer a paz e redesenhar o mapa político do mundo no pós-Primeira Guer
Segundo Hobsbawm (1995), o Tratado de Versalhes era dominado por cinco considerações urgentes para estabelecer a paz:
1
A manutenção de ordenamento nos regimes que estavam em declínio, evitando que os ventos da revolução bolchevique alimentassem as forças revolucionárias em outros Estados da Europa.
2
A necessidade de estabelecer algum controle sobre a Alemanha.
3
Redesenhar o mapa da Europa a fim de evitar a influência alemã e preencher os vazios de poder deixados pela queda dos impérios russo, otomano e dos Habsburgo.
4
Considerar os aspectos domésticos das potências vitoriosas, sendo que o congresso norte-americano se recusou a ratificar uma série de pontos do tratado que, em grande medida, foi proposto pelo próprio presidente Woodrow Wilson (1856-1924).
5
Pensar práticas e políticas que impedissem a repetição de um conflito dessa magnitude.
A tentativa falhou de forma monumental, pois, passados vinte anos, o mundo estava em guerra novamente!
Tentativas importantes precisam ser destacadas, como o estabelecimento de um foro coletivo no qual as nações consideradas relevantes tinham direito a voz e a se manifestarem: a Liga das Nações.
Exemplo
Havia um problema: quem era ou não relevante nesse contexto? Por exemplo, o Japão considerou ofensivo o órgão defender que ele não possuía o direito de invadir a Manchúria e se retirou da Liga no período entre guerras.
Mas esse não foi o único evento emblemático do período. Antes, precisamos falar de outro passo importante para a mudança do mundo.
REVOLUÇÃO RUSSA
A Revolução Russa de 1917, que aboliu o regime czarista e estabeleceu no poder o socialismo, abriu caminho para uma extraordinária atmosfera de inquietude e renovação nos campos social, político e cultural.
Nas artes visuais, na literatura e no cinema jovens artistas manifestaram uma tendência acentuada em direção a novos procedimentos estéticos e ao descontentamento em relação à linguagem convencional e passadista.
Soldados carregam a bandeira “Comunismo” pelas ruas de Moscou, artista desconhecido, 1917.
The Bolshevik, Boris Kustodiev, 1920.
Essa renovação foi acompanhada, ao mesmo tempo, pela exigência de um retorno às origens, às fontes primeiras da cultura russa, e da negação de valores considerados ultrapassados.
Atenção
A Revolução Russa, também conhecida como Revolução de Outubro, é um marco de ruptura importante. A associação entre o proletário urbano e as forças campesinas contra um regime que não tinha passado pelas revoluções burguesas e ainda era marcado por traços do Antigo Regime é entendida como uma marca da modernização.
O simbolismo e o decadentismo produziram, em solo russo, no campo da poética e do pensamento filosófico, proposições e experiências estéticas de impacto decisivo na cultura russa, desempenhando um papel determinante para o surgimento de tendências e correntes estéticas que conformariam, poucos anos depois, um amplo movimento que se convencionou chamar de Vanguardas Russas.
Exemplo de trabalho de um artista das vanguardas russas: Design para o catálogo da Vkhutemas, El Lissitzky, 1927.
Essa junção teve fases e disputas muito intensas de negociações entre:
“Brancos”
Defensores da pequena burguesia.
“Rubros”
Defensores de uma ruptura intensa e da implementação de um regime efetivamente socialista.
Liderados por Vladimir Lênin (1870-1924), em um primeiro momento, o regime recrudesce e ganha outras características com a ascensão de Josef Stalin (1878-1953).
Vladimir Lênin e Josef Stalin, autor desconhecido, 1919.
NOVOS CONCEITOS: NAZISMO E FASCISMO
O regime nazista esteve em vigor na Alemanha entre 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler ao poder, e 1945, ano da derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, e da consequente queda do governo após a morte do ditador.
Em 1918, a Alemanha saiu derrotada da guerra e os vencedores impuseram ao país, como condição de negociação da paz, a implantação de um governo democrático.
Voltando aos aspectos políticos desse período, a república foi então proclamada, e a rendição assinada em 11 de novembro de 1918.
O acordo de paz, contudo, não se restringia apenas ao tipo de regime que deveria vigorar na Alemanha. Pelos termos do Tratado de Versalhes, além da Alemanha ser responsabilizada do ponto de vista moral e financeiro, no plano territorial ela perdia:
Suas colônias
Togo, Camarões e Sudoeste africano.
Cerca de um oitavo de seu território
Compreendia a disputada região da Alsácia-Lorena, conquistada em 1871.
Houve ainda a concessão para a exploração de minas de carvão – fonte básica de energia –, para a França por um período de quinze anos.
Outras cláusulas estabeleciam o seguinte:
1
A desmilitarização da margem esquerda do Reno e de uma parte a Leste desse rio.
2
A abolição do serviço militar obrigatório.
3
A limitação do exército e da marinha.
4
A redução de armamentos e a possibilidade de julgamento que levaria à extradição dos considerados responsáveis pelo conflito, desde o imperador, Guilherme II, até os oficiais mais modestos.
Saiba mais
O montante da indenização foi decidido posteriormente. A Alemanha propusera 50 bilhões de marcos-ouro, e os aliados exigiram 132 bilhões. A França, especialmente, exigiu o pagamento de pesadas indenizações, e isso trouxe enormes dificuldades financeiras para os alemães, que responsabilizaram o governo pela situação.
De 1918 a 1933, a Alemanha tornou-se uma república. A revolução que determinou a queda do Kaiser (“imperador”, em alemão), em novembro de 1918, levou ao poder uma coalização de socialistas, centristas e democratas. Veja mais a seguir:
A Constituição de Weimar em formato de livreto, autor desconhecido, 1919.
Em 1919, os líderes desses partidos redigiram a Constituição de Weimar, de caráter progressista e democrático, contra a qual se insurgiu a extrema direita nacionalista, favorável a um governo autoritário.
Em abril de 1920, Hitler decidiu alterar o nome do partido (que vinha crescendo desde que ele assumira sua liderança) de Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP, na língua alemã) para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP, na língua alemã). A denominação socialista foi dada para atrair operários e fazer frente aos grupos socialistas e comunistas; seus membros, na verdade, combatiam a bandeira da esquerda. Em meados de 1921, a agremiação já contava com 3.300 membros; no final de 1922, estava com 20 mil.
Emblema do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, RsVe e Barliner, 2006.
Cartão de membro de Hitler na DAP (mais tarde NSDAP), Eloquence, 2005.
Ao longo da década de 1920, impulsionado pela crise econômica e pelo clima de humilhação e injustiça, provocado pelas sanções oriundas do Tratado de Versalhes, o pequeno partido cresceu à medida que a crise se aprofundou.
No início dos anos 1930, a crise social e econômica se aprofundou com a queda da Bolsa de Nova York.
Nota de 20 Reichsmark, moeda oficial da Alemanha entre 1924 e 1948.
Hitler com membros do Partido Nazista, autor desconhecido, 1930.
A partir de 1933, com a ascensão do nazismo ao poder, toda essa efervescência chegaria ao fim. O Partido Nacional-Socialista, surgido na Baviera, contava entre seus membros com Adolf Hitler, que rapidamente se transformou no principal líder da nova agremiação.
Horst Wessel Lied, também conhecida como Die Fahne hoch, era o hino oficial da SA, tornando-se posteriormente o hino do Partido Nacion
Fortalecimento do Estado
Engrandecimento da Alemanha
Intensificação do antissemitismo
Nacionalização dos trustes
Hitler e seus apoiadores no dia de sua nomeação como chanceler,Robert Sennecke, 1933.
Os nazistas foram favorecidos pelo agravamento da crise econômica, canalizando o desespero e o descontentamento do povo alemão. A votação do partido foi crescendo junto com o descontentamento, até que, em 1933, os nazistas se tornaram o partido mais forte do parlamento. Devido ao intenso apoio popular, Hitler foi convidado pelo presidente Paul von Hindenburg (1847-1934) a ocupar o cargo de chanceler. A ascensão dos nazistas ao poder, em janeiro de 1933, foi por eles chamada de a “revolução legal”.
Atenção
A Alemanha não foi o único palco do crescimento de características totalitárias que entendemos como Fascismo e Nazismo. Vários países viveram seus importantes embates entre fascistas e comunistas. Foi o caso da Espanha, por exemplo: durante uma terrível guerra civil, o general Francisco Franco (1892-1975), de inspiração fascista, assumiu o poder.
Mural Guernica, Pablo Picasso, 1937.
A arte, como sempre, ajuda a expressar o horror vivido.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Mais uma vez, relembramos que o objetivo aqui é um passo acima de fazer um inventário de eventos da Segunda Guerra Mundial. Sabemos que é apaixonante para quem gosta da temática perceber a dinâmica da movimentação dos tanques – criados para romper as guerras de fronteira etc.
Há uma vasta literatura disponível para se aprofundar nessa área. Assim, pretendemos manter o nosso objetivo de pensar a Segunda Guerra como um conflito global de grandes proporções que marcou uma ruptura política de grande escala no sistema internacional.
A crise de 1929 abalou as bases do liberalismo econômico e político e contribuiu, de maneira decisiva, para que grupos de extrema direita, admiradores do militarismo, aproveitassem essa janela de oportunidade histórica para conquistar o poder na Alemanha, no Japão e na Itália. As condições criadas para a manutenção da paz estavam cada vez mais precárias.
Multidão em frente a um banco no início da Grande Depressão, autor desconhecido, 1929.
O novo ordenamento mundial pós-Tratado de Versalhes não foi capaz de conter as insatisfações, tanto dos derrotados quanto dos vencedores – caso da Itália e do Japão. O sistema internacional estava cada vez mais instável e incapaz de integrar as economias industriais em bases mais vantajosas.
Propaganda japonesa postada da era Shōwa mostrando Adolf Hitler, Fumimaro Konoe e Benito Mussolini, os líderes políticos das três principais potências do Eixo, autor desconhecido, 1938.
Por mais que pensar sobre as origens da Segunda Guerra seja um exercício complexo, diante de um cenário instável da conjuntura política mundial, a postura agressiva de três potências descontentes com a ordem internacional vigente foi um fator relevante para estourar o conflito.
Alemanha, Itália e Japão, por uma série de iniciativas diplomáticas, e até militares, estavam decididos a alterar as regras políticas que definiam as relações internacionais nos anos 1930.
Aproveitando-se da falta de capacidade de articulação de ingleses e franceses e da então neutralidade dos soviéticos, os alemães, mais uma vez, se lançaram em uma ofensiva rápida, assim como em 1914.
Temos muitos debates que valem a pena sua busca, como:
 Sir Winston Churchill, Yousuf Karsh, Library and Archives Canada, 1941.
A resistência inteligente de Winston Churchill (1874-1965), primeiro-ministro inglês, que, durante o período da guerra, chegou ao poder após seus antecessores negociarem por duas vezes com a Alemanha e a Itália, e virem o descumprimento dos acordos e a promessa de paz como solução do Estado moderno cair fragorosamente.
Adolf Hitler em uma cerimônia de construção das Autobahn, autor desconhecido, 1933.
A confusão causada pela política de investimento econômico de Hitler, como se investimento público fosse necessariamente uma ação de direita e esquerda — sendo essa uma modelagem econômica, mas princípios de valorização de etnia, raça, costumes e valores são preceitos tipicamente conservadores, conceituais, não mal nem bem em si.
Aeronaves em operação na frente oriental, Richard Opitz, 1943.
Perceber como a Guerra tornou-se efetivamente mundial com os combates no Norte da África e que, se Hitler, com sua Blitzkrieg, forçou e assombrou a Europa colocando, em um primeiro momento, muitos países em condição de negociação, venceu a Polônia, Holanda, Bélgica e França com uma velocidade só menos impressionante do que seus bombardeios da Luftwaffe, que foram usados inclusive contra os ingleses em larga escala.
Vamos considerar essas inserções como norteadoras para suas buscas e para entender como a Segunda Guerra Mundial rompeu com as geopolíticas tradicionais, fazendo com que discutamos eventos importantes, como:
A emblemática entrada norte-americana na guerra — depois de uma assombrosa escalada no Pacífico do Japão, sendo inclusive seu território –, ainda que o Havaí fosse considerado um ataque em território norte-americano, gerando uma verdadeira batalha naval no Pacífico.
Fotografia tirada de um avião japonês durante o ataque a Pearl Harbor, no Havaí, Marinha Imperial Japonesa, 1941.
Soldados soviéticos atacando posições alemãs em Stalingrado, Zelma / Георгий Зельма, 1943.
Hitler apresentava boa dianteira e parecia ter conseguido certa estabilidade na Europa, mas essa mundialização do conflito, inclusive com a entrada dos norte-americanos e seus aliados – como o Brasil –, influenciou no conflito. A situação ficou crítica por conta do intenso e mortal combate pela União Soviética. Batalhas terríveis com números de morte absolutamente impressionantes!
A Itália, de Benito Mussolini (1883-1945) e seus camisas negras, pelo Mediterrâneo, se teve sucesso inicial, terminou de maneira trágica, com o ditador morto e pendurado em praça pública.
O corpo de Mussolini e outros fascistas na Piazzale Loreto, Milão, Vincenzo Carrese, 1945.
Desembarque na praia de Omaha, na Normandia, Dia D ou Operação Netuno, Robert F. Sargent, 1944.
Na Alemanha, tudo mudou a partir da reconquista da França, ainda que, com destaque para os combates do dia “D” pela dificuldade e pela manobra militar ousada, o grande peso da tecnologia para a espionagem fosse o fator primordial. Na retomada da França, iniciou-se uma marcha em três direções, uma pela Itália, uma pela França e, finalmente, o contragolpe de Stalin.
De uma paz efêmera e mais um tratado não cumprido por Hitler, um conjunto de batalhas emblemáticas – depois de uma tática de terra arrasada – levou a uma poderosa marcha para Berlim.
Assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, O Tratado de não agressão Germano-Soviético, autor desconhecido, 1939.
Jornal norte-americano anunciando a morte de Adolf Hitler, Stars and Stripes, 1945.
Mesmo quando a negativa de rendição de Hitler e a ideia de destruir suas próprias cidades não vingaram, a luta permaneceu e os aliados chegaram a Berlim, ou ao “ninho da águia”. A morte de Hitler foi um troféu, mas não o fim da guerra.
A resistência do Japão e a necessidade de deixar claro o peso de sua força levaram os norte-americanos, pela primeira vez, a usarem uma arma de destruição de escala impressionante, e assim foram bombardeadas Hiroshima e Nagazaki, e o mundo nunca mais foi o mesmo.
A nuvem de cogumelo sobre Hiroshima (esquerda), após a queda da Little Boy, e sobre Nagasaki, após o lançamento de Fat Man,
Antes de terminar esse debate – lembrando seu objetivo –, é necessário perceber os impactos desses movimentos no campo das ciências.
IMPACTOS NO CAMPO DAS CIÊNCIAS
Os conflitos mundiais foram esmiuçados pelo historiador Eric Hobsbawn, na grande obra chamada A era dos extremos (1991); e o autor destaca que tais eventos impulsionaram ideologias de modo impactante.
Electronic Numerical Integrator and Computer (ENIAC - em português: computador integrador numérico eletrônico) foi o primeiro computador digital eletrônico de grande escala, criado durante a Segunda Guerra, Exército dos EUA, 1946.
Se, durante o século XIX e o início do século XX, a Ciência apareceu como forma ideal de organizar a pesquisa e a busca por melhorias tecnológicas e de compreensão social,durante o período das Guerras, o impacto sobre as ciências gerou dois processos fundamentais:
Sob demanda, os avanços tecnológicos passaram a dar saltos como nunca até então a humanidade havia experimentado.
Uma revolução da velocidade e da tecnologia de informações, nunca as informações chegaram tão rápido e de maneira tão intensa.
Exemplo
Essa perspectiva trazida pelo autor pode ser pensada por meio dos desenvolvimentos da aeronáutica, da metalurgia, do tratamento de doentes, do aumento da produção e do princípio de mecanizações no campo, da produção de bens duráveis etc.
A noção de um mundo “sólido”, com concepções bem estruturadas e inquestionáveis, se esvaiu com os impactos da guerra e os horrores vividos a partir dela. Não precisamos, neste momento, separar os conflitos, aliás podemos, de certa forma, entender um período de contínuos conflitos, diretos e indiretos, ameaçados ou deflagrados. Esses conflitos provocaram a crise de fundamentos importantes, como, por exemplo: o nacionalismo, patriotismo, liberalismo e socialismo, só para citar alguns.
As ciências, se viveram um quadro de fetichismo no século XIX, sendo observadas de modo otimista e como garantia do futuro do homem, com as guerras, ao mesmo tempo em que avançaram poderosamente, também levaram aos homens uma profunda desconfiança desses avanços.
O mundo, após a Segunda Guerra Mundial, termina em meio à euforia e a contradições sobre o resultado desses avanços. Estudar as Guerras Mundiais é fazer o exercício máximo de compreensão dessas dinâmicas de transformações.
Máquina Enigma utilizada tanto para criptografar como para descriptografar códigos de guerra, desempenhou um papel importante durante a Segunda Guerra, autor desconhecido, 2003.
IMPACTOS NA HISTORIOGRAFIA
As Guerras Mundiais transformaram o mundo sob muitos aspectos. Um dos campos mais intensamente afetados foi sem dúvida o da História.
Cerimônia de assinatura do Pacto Tripartido de Potências do Eixo, Hoffman, 1940.
Os líderes aliados: Josef Stalin, Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill, U.S. Signal Corps, 1943.
A noção de construir uma grande história total, linear, capaz de resgatar um passado verdadeiro fora utilizada de maneira tão violenta por líderes do conflito para legitimar suas ações, suas violências e atrocidades que, ao fim do conflito, a maneira de fazer e pensar história estava fatalmente ferida.
Por esse motivo, alguns autores propuseram um revisionismo de métodos, inclusive relativizando a cientificidade da História. Outros questionaram, até mesmo, a sua utilidade, diante de um uso tão marcado, no exercício de legitimar ditadores, colonizadores e imperialistas aos quais serviria a ação feita pela ciência histórica.
Há, ainda, outros modos de pensar o exercício da História, como os debates sobre as linhas marxistas, as abordagens interdisciplinares, transdisciplinares, e finalmente as linhas conhecidas como correntes pós-modernas, que questionam até mesmo se seria possível “reproduzir” o passado, como o senso crítico pensava sobre a função da História.
O certo é que a História foi obrigada, a partir de então, a pensar novos agentes políticos e sociais.
IMPACTOS NAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Nenhuma concepção se modificou mais intensamente do que a de sociedade! Autores que vivenciaram o conflito, como Claude Lévi-Strauss (1908-2009), se viram na obrigação de serem agentes de uma crítica necessária e de um compromisso intelectual para que tais processos não se reproduzissem.
Retrato de Claude Lévi-Strauss, Michael Ravassard, 2005.
Retrato de Hannah Arendt, Autor Desconhecido, 1933.
Hannah Arendt (1906-1975), em Eichmann em Jerusalém (2003), fez uma intensa discussão sobre como foi possível atingir níveis tão complexos de crueldade e violência em graus tão elevados.
Como fora possível a sociedade alemã naturalizar eventos drásticos contra judeus, ciganos e doentes diversos, sem que se levantassem horrorizados?
Ao analisar o julgamento de um militar nazista e seus argumentos, ela forjou um raciocínio que concebeu como “a banalidade do mal”.
Seu estranhamento emerge das respostas de Adolf Eichmann (1906-1962), que defendia que “estava cumprindo ordens” ou “eu só estava fazendo a minha função”.
Retrato de Otto Adolf Eichmann, Autor Desconhecido, 1942.
O debate complexo e importante trazido pela autora é somente um dos elementos que demarcam uma mudança de postura das Ciências Sociais, fortalecendo o seu papel de não meramente descrever ou identificar, mas necessariamente se comprometer e compreender sua função social, como, também, a do pesquisador.
Jürgen Habermas, Wolfram Huke, 2008.
A Escola de Frankfurt, grupo intelectual que existia antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, se estrutura como um espaço de debates e reconfigurações, em especial, a chamada segunda geração, com Jürgen Habermas sendo ícone, e a potencialidade da razão comunicativa, sustentando a necessidade de repensar o paradigma da filosofia da consciência – a origem do saber de maneira muito simplória –, para mudar o foco potencial para o estudo da ação comunicativa e sua decorrente crítica.
Propondo romper com os fundamentos científicos que foram naturalizados e levaram o mundo a seu quadro de conflitos, o campo das Ciências Sociais viu surgir, em proximidade com a Filosofia, entre muitos outros:
 Jean-François Lyotard, Bracha L. Ettinger, 1995.
Jean-François Lyotard
(1924-1998)
Michel Foucault, Arquivo Nacional, 1974.
Michel Foucault
(1926-1984)
Jacques Derrida, nepoznato, 2015.
Jacques Derrida
(1930-2004)
IMPACTOS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Após quase um século do seu início do conflito, ainda sentimos muito dos seus efeitos sobre a política internacional. A consolidação da área de Relações Internacionais como ciência autônoma e a ordenação do mundo como conhecemos são produtos diretos dessas duas guerras. Estudar os seus princípios auxilia a compreender como essas duas grandes máquinas de destruição entraram em movimento e transformaram o mundo e o sistema internacional de maneira decisiva.
Sugerimos algumas questões para orientar seus estudos e estimular a sua reflexão:
Como foi possível os Estados se engajarem nesse nível de destruição?
Por que a diplomacia internacional não conseguiu evitar o conflito?
Como os soldados estavam tão empenhados em matar outras pessoas pelas suas nações?
Como a indústria de guerra se tornou um elemento central nos Estados contemporâneos?
As possibilidades de debates e reflexões são enormes e muito amplas, e passar por todas elas poderia nos fazer perder o foco no nosso objetivo, entretanto, acreditamos que ter essas perguntas em mente nos provocam a questionar criticamente a capacidade destrutiva e violenta das nossas organizações políticas e sociais.
As ciências das Relações Internacionais inauguram, nesse momento, o princípio norteador da:
Anarquia
A lógica de que todas as nações estão em processo de acordo ou em processo de conflito, conforme seus interesses.
Assim, o processo de anarquia, focado na ação do Estado como força fundamental na movimentação das forças políticas e ações sociais, se consolidou e teve sua cristalização pelo peso obtido naquele momento da ação desses entes. Acontece que, com o fim das Guerras Mundiais, essas concepções passam a ser questionadas, e são debatidos que outros agentes podem e fazem parte dessas relações.
Resumindo
Nas ciências das Relações Internacionais, os conflitos mundiais tornaram-se um poderoso palco de análise de suas relações e de seus papéis. Mais do que isso, a notoriedade dessa função, com a criação de organizações como a ONU, os processos de consolidação de embaixadas, e, principalmente, o papel desses novos agentes criaram uma emergência da forma e dos debates das Relações Internacionais.
Saiba mais
A ONU é constituída por seis órgãos principais: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado.
HORROR E EUFORIA
O fim da Segunda Guerra Mundial teve algumas consequências que vão além do campo de batalha,como destacamos, e que chegam à psique de um novo mundo. Veja mais a seguir:
A primeira grande reação foi de choque e perplexidade. Descobrir os campos de concentração, as táticas de assassinato em massa, o número de crianças órfãs foi chocante. Museus do Holocausto e museus da memória têm deixado um legado importante e que se manifestou nos interesses do mundo em políticas diversas sobre a questão da paz.
Memorial do Holocausto, Palace of the Legion of Honor, California.
A euforia experimentada com o fim da guerra e a noção de que finalmente estava tudo bem criaram uma geração, em números de natalidade, conhecida como Baby Boom, marcante nos quadros, nas fotografias e nos retornos do conflito. Pensar sobre os efeitos desses movimentos do mundo é tão vital como analisar o fenômeno e os eventos do conflito.
Outro fenômeno foi a relação de alianças e matérias-primas que permitiu, por exemplo, acelerar a industrialização de países como o Brasil, por substituição de importações ou ainda por investimento direto, em nosso caso, norte-americano.
Obras de construção do Congresso Nacional, Brasília, Arquivo Nacional, 1959.
Os países em desenvolvimento, ou Terceiro Mundo – como ficaram conhecidos após os conflitos ‒, marcam uma mudança de perspectiva complexa, afinal eram nações principalmente rurais e que passaram a ser incorporadas plenamente em uma nova dinâmica, não mais de Estado, mas de capital, abrindo perspectivas importantes de transformações decorrentes dos conflitos.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A história positivista e factual é doce. Ela dá uma vista de perfeição aos eventos históricos criando uma linha agradável e uma leitura apaixonante. Mas, via de regra, é parcial, limitada, e para fins acadêmicos precisamos nos desafiar.
Aqui, ainda que façamos algumas indicações de reconhecimento e espaço, a busca é que você perceba que esse conjunto de eventos só tem sentido se direcionado às percepções, às perguntas e às provocações necessárias. E esse foi o caminho que buscamos ao reconhecer que, com as alterações dos contextos, as visões passam a produzir, necessariamente, a possibilidade de mudanças mais duradouras do que a mudança de um político ou de um prédio destruído.
al Socialista (NSDAP).
Durante o Terceiro Reich, a canção tornou-se um dos hinos oficiais da Alemanha. Após a queda do nazismo, em 1945, a canção foi proibida no país.
A conformação herdada de Versalhes foi dolorosa para uma economia em crise e com pesadas dívidas, tal qual estava a alemã. Mas sua situação tinha uma solução, o empréstimo norte-americano. Porém, em 1929, isso mudaria novamente.
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