Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MA NU AL DE EN DO CRI NO LO GIA CA PÍT UL O 1 SIS TE MA ME TABÓLICO MANFESTAÇÕES CLÍNICAS: ● PERDA DE PESO OU SINDROME CONSUPTIVA: Uma perda de peso involuntária significativa pode constituir um anunciador de doença sistêmica subjacente. A história médica de rotina deve incluir sempre uma indagação acerca de mudanças no peso. As flutuações rápidas do peso no transcorrer de alguns dias sugerem perda ou ganho de líquidos, enquanto as mudanças a longo prazo costumam envolver uma perda de massa tecidual. A perda de 5% do peso corporal durante 6 a 12 meses deve levar à realização de uma avaliação adicional. A perda de peso gradual é fisiológica em pessoas com mais de 80 anos, mas esse grupo demográfico também tem alto risco de doença maligna ou de outras doenças graves. ETIOLOGIA: As causas principais da perda de peso involuntária podem ser classificadas em quatro categorias: 1. Neoplasias malignas, 2. Doenças crônicas inflamatórias ou infecciosas, 3. Distúrbios metabólicos, ou 4. Transtornos psiquiátricos Nas pessoas mais velhas, as causas mais comuns da perda de peso são a depressão, o câncer e a doença GI benigna. Os cânceres pulmonares e GI são as doenças malignas mais comuns nos pacientes com perda de peso. Em indivíduos mais jovens, devem ser considerados o diabetes melito, o hipertireoidismo, a anorexia nervosa e a infecção, especialmente pelo HIV. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: é importante confirmar que de fato ocorreu a perda de peso. A história deve incluir perguntas sobre febre, dor, falta de ar ou tosse, palpitações e evidência de doença neurológica. Deve ser obtida uma história de sintomas GI, como dificuldade de comer, disgeusia, disfagia, anorexia, náuseas e mudança nos hábitos intestinais. Ê necessário rever história de viagem, consumo de cigarro, álcool e medicações, devendo os pacientes ser interrogados acerca de enfermidade ou cirurgia anterior assim como de doenças em membros da família. Os fatores de risco para HIV devem ser determinados. Devem ser analisados sinais de depressão, evidência de demência e fatores sociais, incluindo isolamento, solidão e problemas financeiros que possam afetar a ingestão de alimentos. O exame físíco deve começar com a determinação do peso e a documentação dos sinais vitais. A pele deve ser examinada para possível presença de palidez, icterícia, turgor, cicatrizes cirúrgicas e estigmas de doença sistêmica. Deve ser feita uma avaliação para candidiase oral, doença dentária, aumento de volume da tireoide e adenopatia, bem como para anormalidades respiratórias, cardíacas ou abdominais. Os homens devem ser submetidos a exame retal que inclua a próstata; as mulheres devem fazer um exame pélvico; e ambos precisam realizar exames de fezes para sangue oculto. O exame neurológico deve abranger a avaliação do estado mental e uma triagem para depressão. O tratamento apropriado basear-se na causa subjacente da perda de peso. Se não for encontrada uma etiologia para a perda de peso (redução ponderal),será muito mais razoável o acompanhamento clínico minucioso do que a realização persistente de testes às cegas. A ausência de exames laboratoriais anormais é um sinal prognóstico favorável. ● TRASTORNOS ALIMENTARES: Os transtornos alimentares geralmente apresentam as suas primeiras manifestações na infância e na adolescência. De uma maneira geral, as alterações do comportamento alimentar neste período se dividem em dois grupos: Primeiramente, aqueles transtornos que ocorrem precocemente na infância e que representam alterações da relação da criança com a alimentação. Estas condições parecem não estar associadas a uma preocupação excessiva com o peso e/ou a forma corporal, mas podem interferir com o desenvolvimento infantil. Aqui encontramos o transtorno da alimentação da primeira infância, a pica e o transtorno de ruminação. O segundo grupo de transtornos tem o seu aparecimento mais tardio e é constituído pelos transtornos alimentares propriamente ditos: a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. O modelo etiológico mais aceito atualmente para explicar a gênese e a manutenção dos transtornos alimentares é o modelo multifatorial que baseia- se na hipótese de que vários fatores biológicos, psicológicos e sociais estejam envolvidos, interrelacionando-se. PICA - Transtorno da alimentação da primeira infância: É a ingestão persistente de substâncias não nutritivas, inadequadas para o desenvolvimento infantil e que não fazem parte de uma prática aceita culturalmente. As substâncias mais freqüentemente consumidas são: terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais. Atrasos no desenvolvimento, retardo mental e história familiar de pica são condições que podem estar associadas. Várias complicações clínicas podem ocorrer, principalmente relacionadas com o sistema digestivo e com intoxicações ocasionais, dependendo do agente ingerido. Inicia-se antes da idade de seis anos. Os sintomas parecem não ser devidos a nenhuma condição médica geral, a um outro transtorno psiquiátrico ou à falta de alimentos. O objetivo principal do tratamento é a melhora do estado nutricional do paciente. Deve-se proceder uma avaliação dos pais e de fatores psicossociais que estejam contribuindo para o desenvolvimento e a manutenção do problema. Transtorno de ruminação: Inclui episódios de regurgitação (ou "remastigação) repetidos que não podem ser explicados por nenhuma condição médica. As principais complicações médicas podem ser desnutrição, perda de peso, alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, desidratação e morte. O tratamento envolve o acompanhamento clínico das complicações e tratamento comportamental. Anorexia nervosa (AN): Apesar de cerca de 45% das crianças de ambos os sexos em idade escolar quererem ser mais magras e 37% tentarem perder peso, somente uma pequena proporção delas desenvolvem um transtorno alimentar. A AN ocorre predominantemente em mulheres jovens, com uma prevalência pontual de 0,28% e taxas de prevalência ao longo da vida oscilando entre 0,3% e 3,7%. Existem dois picos de incidência: aos 14 e aos 17 anos. Evidências sugerem que fatores psicossociais desempenham um importante papel na distribuição dos transtornos alimentares. A influência da "cultura do corpo" e da pressão para a magreza que as mulheres sofrem nas sociedades ocidentais (especialmente as adolescentes) parece estar associada com o desencadeamento de comportamentos anoréticos. Na sua forma típica, a AN se inicia geralmente na infância ou na adolescência. O início é marcado por uma restrição dietética progressiva com a eliminação de alimentos considerados "engordantes", como os carboidratos. As pacientes passam a apresentar certa insatisfação com os seus corpos assim como passam a se sentir obesas apesar de muitas vezes se encontrarem até emaciadas (alteração da imagem corporal). O medo de engordar é uma característica essencial, servindo muitas vezes como um diferencial para outros tipos de anorexia secundárias a doenças clínicas ou psiquiátricas. Gradativamente, as pacientes passam a viver exclusivamente em função da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, restringindo seu campo de interesses e levando ao gradativo isolamento social. O curso da doença é caracterizado por uma perda de peso progressiva e continuada. O padrão alimentar vai se tornando cada vez mais secreto e muitas vezes até assumindo características ritualizadas e bizarras. Segundo o sistema classificatório da última edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders(DSM-IV2), existem dois tipos de apresentação clínica da doença: no primeiro, as pacientes apenas empregam comportamentos restritivos associados à dieta ("tipo restritivo"); no outro grupo ("tipo purgativo") ocorrem episódios de compulsão alimentar e/ou comportamentos mais perigosos, como os vômitos auto-induzidos, o abuso de laxativos e de diuréticos. A classificação dos transtornos mentais e do comportamento da Classificação Internacional de Doenças ¾ 10ª Edição (CID- 103) já nãodistingue tipos de anorexia e, portanto, pacientes anoréticas que apresentam episódios bulímicos podem receber os dois diagnósticos: anorexia e bulimia. A prática de exercícios físicos é freqüente, sendo que as pacientes chegam a realizar exercícios físicos extenuantes com o objetivo de queimar calorias e perder peso. Há uma ausência completa de inquietação com sua condição física com negação dos riscos. Várias complicações médicas podem surgir em decorrência da desnutrição e dos comportamentos purgativos, tais como anemia, alterações endócrinas, osteoporose e alterações hidroeletrolíticas (especialmente hipocalemia, que pode levar a arritmia cardíaca e morte súbita), dentre outras. A associação dos transtornos alimentares com outros quadros psiquiátricos é bastante freqüente, especialmente com transtornos do humor, transtornos de ansiedade e/ou transtorno de personalidade, mesclando os seus sintomas com os da condição básica e complicando a evolução clínica. As mais freqüentes razões dadas para a recusa alimentar, além do medo de engordar ou do desejo de emagrecer, costumam ser: náuseas, dor abdominal, sensação de plenitude, perda de apetite ou incapacidade para engolir. A AN pode se instalar de forma aguda (com sintomas obsessivo- compulsivos), podendo existir uma associação com transtornos neuropsiquiátricos auto-imunes desencadeados por infecções estreptocócicas na infância. O diagnóstico diferencial deve ser feito tanto com doenças físicas como psiquiátricas que podem cursar com anorexia e emagrecimento. No entanto, quando a causa da anorexia e do emagrecimento é uma doença clínica, a pessoa não apresenta as alterações da imagem corporal e o medo de ganhar peso presentes nas pacientes com AN. Outro diagnóstico diferencial importante e por vezes difícil é com a BN, comentado mais adiante. Devido a sua etiologia multifatorial, a AN é considerada uma condição de difícil tratamento. A integração das abordagens médica, psicológica e nutricional é a base da terapêutica. A constituição de uma equipe multiprofissional é fundamental para o sucesso terapêutico e os profissionais envolvidos devem trabalhar de forma integrada. TRATAMENT,O: A internação hospitalar deve ser considerada para as pacientes com peso corporal abaixo de 75% do mínimo ideal, quando estão perdendo peso rapidamente ou quando se faz necessária uma monitorização adequada das suas condições clínicas. O tratamento ambulatorial deve ser indicado quando a paciente tem um bom suporte social, não está perdendo peso rapidamente, encontra-se metabolicamente estável e não apresenta os critérios de gravidade. Apesar de não existir um agente farmacológico específico para a AN, vários medicamentos têm se mostrado úteis. O uso de antidepressivos ou ansiolíticos pode ser adequado em pacientes que desenvolvem uma comorbidade psiquiátrica associada. Os agentes inibidores da recaptação da serotonina (ISRS) parecem mais seguros. A psicoterapia em suas diversas modalidades (cognitivo-comportamental, interpessoal e a terapia de família) ainda é um dos pilares centrais do tratamento. Bulimia nervosa (BN): A BN é extremamente rara antes dos 12 anos. O transtorno é característico das mulheres jovens e adolescentes, com prevalência de 1,1% a 4,2% neste grupo. Fatores de ordem biopsicossocial se encontram relacionados com sua etiologia. O episódio de compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma surgir no decorrer de uma dieta para emagrecer. No início, pode se achar relacionado à fome, mas posteriormente, quando o ciclo compulsão alimentar-purgação já está instalado, ocorre em todo tipo de situação que gera sentimentos negativos (frustração, tristeza, ansiedade, tédio, solidão). Inclui um aspecto comportamental objetivo que seria comer uma quantidade de comida considerada exagerada se comparada ao que uma pessoa comeria em condições normais; e um componente subjetivo que é a sensação de total falta de controle sobre o seu próprio comportamento. Estes episódios ocorrem às escondidas na grande maioria das vezes e são acompanhados de sentimentos de intensa vergonha, culpa e desejos de autopunição. O vômito auto-induzido ocorre em cerca de 90% dos casos, sendo portanto o principal método compensatório utilizado. O efeito imediato provocado pelo vômito é o alívio do desconforto físico secundário à hiperalimentação e principalmente a redução do medo de ganhar peso. A sua freqüência é variável, podendo ser de um até 10 ou mais episódios por dia, nos casos mais graves. No começo, a paciente necessita de manobras para induzir o vômito, como a introdução do dedo ou algum objeto na garganta. Algumas bulímicas mais graves, com vários episódios de vômitos por dia, podem apresentar até ulcerações no dorso da mão pela uso da mesma para induzir a emese, o que se chama de sinal de Russell. Com a evolução do transtorno, a paciente aprende a vomitar sem necessitar mais de estimulação mecânica. As complicações clínicas são decorrentes principalmente das manobras compensatórias para perda de peso: erosão dos dentes, alargamento das parótidas, esofagites, hipopotassemia e alterações cardiovasculares, dentre outras. Como na AN, parece haver uma ocorrência aumentada de transtornos do humor e de transtornos de ansiedade em pacientes com BN. Assim, um grande número de pacientes com BN (46% a 89%) evidencia um transtorno depressivo associado em algum momento de sua evolução clínica. Particular atenção deve ser dada a ocorrência de transtornos de personalidade e de abuso de substâncias no diagnóstico das pacientes com BN. O abuso de álcool e de psicoestimulantes são descritos, mas também podemos encontrar o abuso múltiplo de substâncias. A bulimia é um diagnóstico diferencial da AN. Diferente da AN do tipo purgativo, na BN as pacientes conseguem manter o peso dentro do limiar de normalidade na maioria dos casos (cerca de 70%) ou, discretamente abaixo deste (15%), sendo que as pacientes restantes podem estar até acima do peso (15%). Como na AN, o tratamento da BN deve ser conduzido por uma equipe multiprofissional. A necessidade de internação hospitalar nos casos de BN está relacionada com a presença de complicações médico-psiquiátricas, de ciclos incoercíveis de compulsão alimentar-vômitos, de abuso de laxativos e/ou outras drogas e de outros comportamentos de risco. Na maioria das vezes, entretanto, o tratamento da BN é extra-hospitalar, devendo-se tentar um período inicial de abordagens como a psicoterapia cognitivo-comportamental, o aconselhamento nutricional e o uso de psicofármacos, o que pode conduzir a uma melhora das pacientes. Os estudos utilizando a fluoxetina no controle dos episódios de compulsão alimentar têm gerado um grande entusiasmo em relação à eficácia destes agentes no tratamento da BN, muito embora pareça improvável que todos os pacientes possam permanecer totalmente livres dos episódios de compulsão alimentar. A fluoxetina parece indicada em doses mais altas na BN (60 mg por dia em adultos). O transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP): Os pacientes com o transtorno apresentam os episódios de compulsão alimentar, mas não utilizam as medidas extremas para evitar o ganho de peso como pessoas com BN. A maioria dos pacientes com o transtorno é obesa. A sua prevalência na população em geral é em torno de 2%. Pessoas com TCAP diferem das obesas sem TCAP no que se refere à gravidade da psicopatologia, ao início mais precoce da obesidade, à maior gravidade da obesidade e à má resposta aos regimes de tratamento, podendo estar associado a obesidade em adolescentes. Berkowitz et al relataram que 30% de um grupo de adolescentes obesas que procurou tratamento para emagrecer apresentava compulsão alimentar. O tratamento do TCAP deve envolver uma orientação dietética adequada com refeições regulares, psicoterapia cognitivo-comportamental, o uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina ¾ ISRS (fluoxetina, fluvoxamina e sertralina) ou o uso de agentes que se encontram em fase inicial de avaliação como a sibutramina e o topiramato.CAPITULO 2: TIREOIDE Situada na laringe, em ambos os lados da traquéia e na sua parte anterior, secreta tiroxina (tetraiodotironina) e a triiodotironina, comumente denominados T4 e T3, aumentando o metabolismo do organismo. É constituída por numerosos folículos fechados, repletos de uma substância secretora, denominada colóide, e revestidos por células epiteliais cúbicas, que secretam seus produtos no interior dos folículos. O principal componente do colóide é uma grande glicoproteína, a tireoglobulina, que contém os hormônios tireóideos em sua molécula. Após a secreção ter alcançado o interior do folículo, ela deve ser reabsorvida, através do epitélio folicular para o sangue, podendo atuar no organismo. A tireóide possui um fluxo sanguíneo que corresponde à cerca de cinco vezes o peso da glândula por minuto; trata-se, portanto, de um suprimento sanguíneo tão rico quanto o observado em qualquer outra área do organismo, com a possível exceção do córtex supra- renal. A tireóide também secreta calcitonina, um importante hormônio relacionado ao metabolismo do cálcio, reduzindo a atividade osteoclastica e assim diminuindo a calcemia, de forma antagônica ao paratormônio. A falta completa de secreção da tireóide provoca, em geral, queda do metabolismo basal de cerca de 40% abaixo do normal, enquanto excessos extremos de secreção da glândula podem causar elevação do metabolismo basal de até 60 a 100% acima dos valores normais. A secreção da tireóide é controlada primariamente pelo hormônio tíreo- estimulante (TSH), secretado pelo lobo anterior da hipófise. FORMAÇÃO E SECREÇÃO: Cerca de 90% do hormônio secretado pela glândula tireóide consistem em tiroxina, e 10% em triiodotironina. Todavia, a maior parte da tiroxina é eventualmente convertida em triiodotironina nos tecidos, de modo que ambos os hormônios são importantes do ponto de vista funcional. As funções desses dois hormônios são qualitativamente idênticas, porém eles diferem na rapidez e intensidade de sua ação. A triiodotironina é cerca de quatro vezes mais potente que a tiroxina, mas corre em quantidades bem menores na circulação sanguínea e persiste por período de tempo bem menor que a tiroxina. IODO E TIROXINA: Para a síntese de quantidades normais de tiroxina, são necessários cerca de 50 mg de iodo na dieta por ano, na forma de iodetos, ou aproximadamente 7 mg/semana. Para evitar qualquer deficiência de iodo, o sal comum é iodado mediante a adição de uma parte de iodeto de sódio para cada 100.000 partes de cloreto de sódio. Destino dos iodetos ingeridos. Os iodetos ingeridos por via oral são absorvidos pelo tubo gastrintestinal e passam para o sangue de modo aproximadamente igual ao dos cloretos. Todavia, a maior parte é rápidamente excretada pelos rins, enquanto apenas cerca de um quinto é seletivamente removido da circulação pelas células da tireóide e utilizado na síntese dos hormônios tireóideos. A BOMBA DO IODETO (CAPTAÇÃO DE IOOETO): a primeira etapa da síntese dos hormônios tireóideos consiste no transporte dos iodetos do líquido extracelular para as células glandulares e os folículos da tireóide. A membrana basal da célula tireóidea tem capacidade específica de bombear ativamente o iodeto para o interior da célula. Esse processo é denominado captação de iodeto. Na glândula normal, a bomba de iodeto concentra o iodeto por cerca de 30 vezes sua concentração no sangue. Cada molécula de tireoglobulina contém 140 resíduos de tirosina, que constituem os principais substratos que se combinam com o iodo para formar os hormônios tireóideos. Esses hormônios são formados no interior da molécula de tireoglobulina. Em outras palavras, a tiroxina e a triiodotironina formadas a partir do aminoácido tirosina permanecem como parte da molécula de tireoglobulina durante a síntese dos hormônios tireóideos, e até mesmo posteriormente como hormônios armazenados no colóide folicular. Além de secretar a tireoglobulina, as células glandulares também processam o iodo e fornecem as enzimas e outras substâncias necessárias para a síntese dos hormônios tireóideos. Oxidação do íon iodeto. A primeira etapa essencial na síntese dos hormônios tireóideos consiste na conversão dos íons iodeto em uma forma oxidada de iodo, quer como iodo nascente (Iº) ou como I3-, que é capaz de se combinar diretamente com o aminoácido tirosina. Essa oxidação do iodo é promovida pela enzima PEROXIDASE e seu peróxido de hidrogênio acompanhante, que constituem, assim, um poderoso sistema capaz de oxidar os iodetos. A peroxidase localiza-se na membrana apical da célula ou fixa-se a ela, fornecendo, assim, o iodo oxidado exatamente no ponto da célula onde surge à molécula de tireoglobulina a partir do aparelho de Golgi e, daí, através da membrana, para o interior do colóide armazenado. Na ausência hereditária desse sistema de peroxidase, ou nos casos em que ocorre bloqueio desse sistema, a velocidade de formação dos hormônios tireóideos cai a zero. A ligação do iodo à molécula de tireoglobulina é denominada organificação da tireoglobulina. O iodo oxidado, mesmo na forma molecular, liga-se de modo direto. porém lentamente, ao aminoácido tirosina; todavia, nas células da tireóide, o iodo oxidado está associado à enzima iodinase, que desencadeia o processo em segundos ou minutos. Por conseguinte, à medida que a molécula de tireoglobulina é liberada do aparelho de Golgi ou à medida que ela é secretada através da membrana da célula apical para o folículo, o iodo liga-se quase tão rapidamente a cerca de um sexto dos aminoácidos tirosina existentes na molécula de tireoglobulina. A tirosina é inicialmente iodetada a monoiodotirosina e, em seguida, a diiodotirosina. A seguir, dentro de poucos minutos, de algumas horas e até mesmo de alguns dias, quantidades cada vez maiores de resíduos de diiodotirosina acoplam-se entre si (embora se desconheça o mecanismo desse acoplamento). O produto da reação de acoplamento é a molécula de tiroxina, que também permanece como parte da molécula de tireoglobulina. Por outro lado, uma molécula de monoiodotirosina acopla-se a uma molécula de diiodotirosina, formando triiodotironina. ARMAZENAMENTO DA TIREOGLOBULINA: Uma vez ocorrida a síntese dos hormônios tireóideos, cada molécula de tireoglobulina contém 1 a 3 moléculas de tiroxina e, em média, 1 molécula de triiodotironina para cada 10 moléculas de tiroxina. E nessa forma que os hormônios tireóideos são armazenados nos folículos em quantidades suficientes para atender às necessidades normais de hormônios tireóideos do organismo por um período de 2 a 3 meses. Por conseguinte, mesmo nos casos em que a síntese de hormônios tireóideos cessa por completo, os efeitos da deficiência podem não ser observados por vários meses. LIBERAÇÃO DE T3 E T4 DA TIREOIDE: A própria tireoglobulina não é liberada no sangue circulante, em quantidades detectáveis; com efeito, a tiroxina e a triiodotironina são inicialmente clivadas da molécula de tireoglobulina, sendo os hormônios livres liberados a seguir. Esse processo ocorre da seguinte maneira: A superfície apical da célula tireóidea emite extensões em forma de pseudópodos, que se fecham em torno de pequenas porções de colóide, formando vesículas pinocíticas. A seguir, os lisossomas fundem-se imediatamente com essas vesículas, formando vesículas digestivas que contém as enzimas digestivas dos lisossomas misturadas com o colóide. Dentre essas enzimas, as proteinases digerem as moléculas de tireoglobulina e liberam tiroxina e triiodotironina, que, então, difundem-se através da base da célula tireóidea para os capilares circundantes. Assim, os hormônios tireóideos são liberados no sangue. Cerca de 75% da tirosina iodetada na tireoglobulina nunca se transformam em hormônios tireóideos, mas permanecem na forma de monoiodotirosina ou diiodotirosina. Durante o processo de digestão da molécula de tireoglobulina para a liberação da tiroxina e da triiodotironina, essas tirosinas iodetadas também são liberadas das células tireóideas. Todavia, não são secretadas nosangue. Com efeito, o iodo é clivado pela enzima desiodinase, que torna a maior parte desse iodo disponível para reciclagem no interior da glândula, visando a síntese de quantidades adicionais de hormônios tireóideos. Na ausência congênita da enzima desiodinase, o indivíduo fica quase sempre deficiente em iodo, devido à falta desse processo de reciclagem. Mais de 90% do hormônio tireóideo liberado pela glândula tireóide consistem normalmente em tiroxina, enquanto um pouco menos de 10% são representados pela triiodotironina. Todavia, nos poucos dias que se seguem, enquanto esses hormônios entram em contato com os tecidos alvo, a maior parte da tiroxina é lentamente desiodetada para formar quantidades adicionais de triiodotironina. Por conseguinte, o hormônio finalmente liberado e utilizado pelos tecidos consiste sobretudo em triiodotironina, perfazendo um total de cerca de 35 μg de triiodotironina por dia. (Diariamente, formam-se também 35 μg de triiodotironina reversa mediante a remoção de um dos iodos da tiroxina próximo à extremidade carboxila. Todavia, a triiodotironina reversa é quase totalmente inativa e é eventualmente destruída.) TRANSPORTE DA T4 E DA T3 PARA OS TECIDOS: Ao serem liberadas no sangue, toda a tiroxina e a triiodotironina, à exceção de uma quantidade diminuta, combinam-se imediatamente a várias proteínas plasmáticas. Os hormônios ligam-se aproximadamente da seguinte maneira: 80% à globulina de ligação da tiroxina; 10 a 15% ã pré-albumina de ligação da tiroxina; e o restante à albumina. A quantidade de globulina de ligação da tiroxina no sangue é de apenas 1 a 1,5 mg/dl de plasma, mas sua afinidade pelos hormônios tireóideos é tão grande que essa proteína fixa a maior parte dos hormônios. Sua afinidade de ligação (bem como a das outras proteínas plasmáticas) é mais de seis vezes maior para a tiroxina do que para a triiodotironina. Essa diferença, somada ao fato de a concentração plasmática de tiroxina ser consideravelmente maior do que a triiodotironina, faz com que a quantidade total de tiroxina ligada ã proteína seja cerca de 60 vezes maior do que a da triiodotironina ligada à proteína. Liberação lenta da tiroxina e da triiodotironina nas células teciduais: Devido à afinidade muito elevada das proteínas plasmáticas de ligação pelos hormônios tireóideos, essas substâncias, em particular a tiroxina, são liberadas apenas muito lentamente para as células teciduais. Metade da tiroxina no sangue circulante é liberada para as células teciduais aproximadamente a cada 6 dias, enquanto metade da triiodotironina, devido à sua menor afinidade, é liberada para as células em aproximadamente 1 dia. Uma vez no interior das células, ambos os hormônios fixam-se novamente a proteínas intracelulares, sendo a ligação da tiroxina também mais forte que a da triiodotironina. Por conseguinte, os hormônios são novamente armazenados, mas, dessa vez, nas células funcionais, onde vão ser lentamente utilizados no decorrer de um período de dias ou semanas. Após a injeção de grande quantidade de tiroxina no ser humano, praticamente não se verifica qualquer efeito sobre o metabolismo durante 2 a 3 dias, indicando, assim, a existência de um período latente longo antes de aparecer a atividade hormonal. Uma vez iniciada essa atividade, ela aumenta de modo progressivo e atinge seu valor máximo cm 10 a 12 dias. Posteriormente, ela diminui, com meia-vida de cerca de 15 dias. Parte da atividade ainda persiste por 6 semanas a 2 meses. As ações da triiodotironina são cerca de quatro vezes mais rápidas do que as da tiroxina, com período latente de apenas 6 a 12 horas e atividade celular máxima dentro de 2 a 3 dias. Grande parte da latência e do período prolongado de ação desses hormônios decorre provavelmente de sua ligação a proteínas no plasma e nas células teciduais, seguida de sua lenta liberação. Todavia, em discussões posteriores, teremos a oportunidade de constatar que parte do período latente também resulta do modo como esses hormônios exercem suas funções nas próprias células. EFEITO: O efeito geral do hormônio tireóideo consiste em promover a transcrição nuclear de grande número de genes. Assim, em praticamente todas as células do organismo, verifica-se um aumento de grande número de enzimas, proteínas estruturais, proteínas de transporte e outras substâncias. O resultado global disso tudo é o aumento generalizado da atividade funcional por todo o organismo. Antes de atuar sobre os genes para aumentar a transcrição gênica, quase toda a tiroxina é desiodetada, com remoção de um íon iodeto e a conseqüente formação de triiodotironina. Esta, por sua vez, exibe afinidade de ligação muito elevada pelos receptores celulares dos hormônios tireóideos. Conseqüentemente, cerca de 90% das moléculas de hormônio tireóideo que se ligam aos receptores consistem em triiodotironina, enquanto apenas 10% são representados pela tiroxina. Os receptores de hormônios tireóideos estão fixados aos filamentos de ADN ou em estreita proximidade a eles. Ao fixar o hormônio tireóideo, esses receptores são ativados e desencadeiam o processo da transcrição. A seguir, forma-se grande número de diferentes tipos de ARN-mensageiro, sendo o processo seguido, dentro de poucos minutos a horas, de tradução do ARN nos ribossomas citoplasmáticos, com a conseqüente formação de centenas de novos tipos de proteínas. Todavia, nem todas as proteínas aumentam em percentagens semelhantes - algumas o fazem apenas ligeiramente, enquanto outras sofrem aumento de pelo menos seis vezes. Acredita-se que a maior parte (se não todas) das ações do hormônio tireóideo resulta das funções enzimáticas e de outras funções dessas novas proteínas. Os hormônios tireóideos aumentam as atividades metabólicas de todos (ou de quase todos) os tecidos do organismo. O metabolismo basal pode aumentar por até 60 a 100% acima do normal, quando são secretadas grandes quantidades desses hormônios. A velocidade de utilização dos alimentos para a obtenção de energia fica acentuadamente acelerada. Apesar de a velocidade de síntese protéica ficar aumentada, a velocidade de seu catabolismo também é aumentada. A velocidade de crescimento dos indivíduos jovens exibe aceleração acentuada. Os processos mentais são estimulados, e a atividade de muitas das glândulas endócrinas aumenta. Quando se administra tiroxina ou triiodotironina a um animal, observa-se aumento do tamanho e do número das mitocôndrias na maioria das células do organismo. Além disso, a área total da superfície da membrana das mitocôndrias aumenta em proporção quase direta com o aumento do metabolismo do animal. Por conseguinte, parece ser quase óbvio deduzir que uma das principais funções da tiroxina pode consistir simplesmente em aumento do número e da atividade das mitocôndrias, que aumentam, por sua vez, a velocidade de formação de trifosfato de adenosina (ATP) para energizar a função celular. Infelizmente, o aumento do número e da atividade das mitocôndrias poderia ser tanto o resultado da atividade aumentada das células, quanto a causa desse aumento. Quando se administram concentrações extremamente elevadas de hormônio tireóideo, as mitocôndrias intumescem excessivamente, e verifica-se desacoplamento do processo de fosforilação oxidativa, com produção de grandes quantidades de calor, porém de pouca quantidade de ATP. Todavia, em condições naturais é duvidoso que a concentração dos hormônios tireóideos se torne alta o suficiente para ocasionar esse efeito, mesmo nos indivíduos que apresentam tireotoxicose. A Na,K-ATPase é uma das enzimas que aumentam em resposta ao hormônio tireóideo. Por sua vez, essa enzima acelera a velocidade de transporte do sódio e do potássio através da membrana celular de alguns tecidos. Como esse processo utiliza energia e também aumenta a quantidade de calor produzida no organismo, foi também sugerido que esse poderia ser um dos mecanismos pelos quais o hormônio tireóideo aumenta o metabolismo do corpo. Com efeito, o hormônio tireóideo também atua sobre as membranascelulares da maioria das células, tornando-as permeáveis aos íons sódio, com a conseqüente ativação da bomba de sódio e aumento adicional da produção de calor. Efeito do hormônio tireóideo sobre o crescimento: O hormônio tireóideo exerce efeitos gerais específicos sobre o crescimento. Por exemplo, sabe-se há muito tempo que o hormônio tireóideo é essencial para a metamorfose do girino em rã. No ser humano, o efeito do hormônio tireóideo sobre o crescimento se manifesta principalmente nas crianças em fase de crescimento. Nos indivíduos hipotireóideos, a velocidade de crescimento sofre retardo acentuado. Por outro lado, nos indivíduos hipertireóideos, é freqüente a ocorrência de crescimento excessivo do esqueleto, de modo que a criança se torna consideravelmente mais alta numa idade mais precoce. Todavia, os ossos também amadurecem mais rapidamente, e as epífises fecham-se em idade mais precoce, de modo que a duração do crescimento ou a altura eventual do adulto podem, na realidade, ficar reduzidas. Um importante efeito do hormônio tireóideo é a promoção do crescimento e o desenvolvimento do cérebro durante a vida fetal e durante os primeiros anos de vida pós-natal. Se o feto não secretar quantidade suficiente de hormônio tireóideo, o crescimento e a maturação do cérebro ficam acentuadamente retardados, tanto antes quanto depois do nascimento. Se a criança não receber terapia tireóidea específica dentro de dias ou semanas após o nascimento, ela permanecerá mentalmente deficiente pelo resto da vida. Esse aspecto será discutido com maiores detalhes em seção posterior. Metabolismo dos carboidratos. O hormônio tireóideo estimula quase todos os aspectos do metabolismo dos carboidratos, incluindo a rápida captação de glicose pelas células, aumento da glicólise e da gliconeogênese, maior velocidade de absorção pelo tubo gastrintestinal e, inclusive, aumento da secreção de insulina, com os conseqüentes efeitos secundários sobre o metabolismo dos carboidratos. Todos esses efeitos resultam provavelmente do aumento global das enzimas ocasionado pelo hormônio tireóideo. Metabolismo das gorduras: Praticamente todos os aspectos do metabolismo das gorduras também são intensificados sob influência do hormônio tireóideo. Todavia, como as gorduras constituem a principal fonte de suprimento de energia a longo prazo, as reservas de gordura do organismo sofrem maior grau de depleção do que a maioria dos outros elementos; teciduais. Os lipídios, em particular, são mobilizados do tecido adiposo, aumentando a concentração de ácidos graxos livres no plasma; o hormônio tireóideo também acelera acentuadamente a oxidação de ácidos graxos livres pelas células. Gorduras plasmáticas e hepáticas: O aumento do hormônio tireóideo diminui a quantidade de colesterol, de fosfolipídios e de triglicerídios no plasma, embora aumente os ácidos graxos livres. Por outro lado, a secreção diminuída de hormônio tireóideo eleva muito a concentração de colesterol, fosfolipídios e triglicerídios e quase sempre provoca deposição excessiva de gordura no fígado. No hipotireoidismo prolongado, o aumento acentuado do colesterol plasmático circulante está quase sempre associado ao desenvolvimento de arteriosclerose grave. Um dos mecanismos pelos quais o hormônio tireóideo diminui a concentração plasmática de colesterol consiste em aumentar significativamente a velocidade de secreção de colesterol na bile, com sua conseqüente perda nas fezes. Um mecanismo possível para o aumento da secreção de colesterol envolve a capacidade do hormônio tireóideo de induzir aumento do número de receptores de lipoproteínas de baixa densidade nas células hepáticas, resultando na rápida remoção das lipoproteínas de baixa densidade do plasma, com secreção subseqüente do colesterol dessas lipoproteínas pelas células hepáticas. Metabolismo das vitaminas: Como o hormônio tireóideo aumenta as quantidades de numerosas e diferentes enzimas, e como as vitaminas são partes essenciais de" algumas enzimas ou coenzimas, o hormônio tiraóideo provoca aumento das necessidades de vitaminas. Por conseguinte, pode-se verificar o desenvolvimento de deficiência relativa de vitaminas quando o hormônio tireóideo é secretado em quantidades excessivas, a não ser que haja disponibilidade simultânea de quantidades aumentadas das vitaminas. Metabolismo basal. Como o hormônio tireóideo aumenta o metabolismo em quase todas as células do organismo, a presença de quantidades excessivas do hormônio pode, em certas ocasiões, aumentar o metabolismo basal por até 60 a 100% acima do normal. Por outro lado, quando não há produção de hormônio tireóideo, o metabolismo basal sofre queda para quase a metade de seu valor normal, isto é, atinge -30 a -50. São necessárias quantidades extremamente altas dos hormônios para resultar em valor muito elevado de metabolismo basal. Efeito sobre o peso corporal. A produção acentuadamente aumentada de hormônio tireóideo diminui quase sempre o peso corporal, enquanto a forte redução de sua produção quase sempre aumenta o peso corporal. Todavia, esses efeitos nem sempre são observadas, visto que o hormônio tireóideo aumenta o apetite, o que pode contrabalançar a alteração do metabolismo. Efeito sobre o sistema cardiovascular, fluxo sanguíneo e débito cardíaco. O aumento do metabolismo nos tecidos determina utilização de oxigênio mais rápida do que o normal, além de causar liberação de produtos de degradação do metabolismo dos tecidos em quantidade maior do que a normal. Esses efeitos produzem vasodilatação na maioria dos tecidos, com o conseqüente aumento do fluxo sanguíneo. Em particular, a velocidade do fluxo sanguíneo na pele aumenta, em virtude damaior necessidade de eliminação de calor. Em conseqüência do fluxo sanguíneo aumentado, o débito cardíaco também aumenta, atingindo por vezes 60% ou mais acima de seu valor normal na presença de hormônio tireóideo em quantidades excessivas, mas caindo para apenas 50% de seu valor normal no hipotireoidismo grave. Freqüência cardíaca. A freqüência cardíaca, sob a influência do hormônio tireóideo, aumenta considerável mente mais do que o previsto pelo aumento do débito cardíaco. Por conseguinte, é provável que o hormônio tireóideo exerça efeito direto sobre a excitabilidade do coração, que, por sua vez, aumenta a freqüência cardíaca. Esse efeito é de suma importância, visto ser a freqüência cardíaca um dos sinais físicos sensíveis de que dispõe o médico para determinar a ocorrência de produção excessiva ou diminuída de hormônio tireóideo no paciente. Força dos batimentos cardíacos. O aumento da atividade enzimática ocasionada pela maior produção de hormônio tireóideo intensifica aparentemente a força do coração quando ocorre secreção de ligeiro excesso de hormônio tireóideo. Esse processo é análogo ao aumento da força dos batimentos cardíacos que ocorre nas febres baixas e durante o exercício. Todavia, quando o hormônio tireóideo está muito aumentado, a força do músculo cardíaco fica deprimida, devido ao catabolismo protéico excessivo. Com efeito, alguns pacientes com Ureotoxicose grave falecem por descompensação cardíaca secundária à insuficiência do miocárdio e ao aumento da carga cardíaca imposto pelo débito aumentado. Volume sanguíneo. O hormônio tireóideo provoca ligeiro aumento do volume sanguíneo, E provável que esse efeito resulte, pelo menos em parte, da vasodilatação que permite o acúmulo de quantidades aumentadas de sangue no sistema circulatório. Pressão arterial. Em geral, não ocorre qualquer modificação da pressão arterial média. Entretanto, devido ao aumento do débito sistólico em cada batimento cardíaco e ao aumento do fluxo sanguíneo pelos tecidos entre os batimentos, a pressão de pulso se eleva, com aumento da pressão sistólica no hipertireoidismo de 10 a 15 mm Hg e redução correspondente da pressão diastólica. Efeito sobre a respiração. O aumento do metabolismo intensifica a utilização de oxigênio e a formação de dióxido de carbono; esses efeitos ativam todos os mecanismos queaumentam a freqüência e a profundidade da respiração. Efeito sobre o tubo gastrintestinal. Além de aumentar o apetite e a ingestão de alimentos, conforme discutido antes, o hormônio tireóideo também aumenta a velocidade de secreção dos sucos digestivos, bem como a motilidade do tubo gastrintestinal. Com freqüência, verifica-se o aparecimento de diarréia. A falta de hormônio tireóideo causa constipação. Sistema nervoso central. Em geral, o hormônio tireóideo aumenta a rapidez da celebração, mas, com freqüência, também a dissocia. Por outro lado, a falta de hormônio tireóideo diminui essa função. O indivíduo hipertireóideo está sujeito a apresentar nervosismo extremo e tendências psiconeuróticas, como complexos de ansiedade, preocupação extrema ou paranóia. Efeito sobre a função dos músculos. Em geral, um ligeiro aumento da secreção de hormônio tireóideo determina vigorosa reação muscular; todavia, quando a quantidade de hormônio se torna excessiva, ocorre fraqueza muscular devido ao catabolismo excessivo das proteínas. Por outro lado, a falta de hormônio tireóideo faz com que a reação dos músculos seja extremamente lenta, com relaxamento lento após a contração, Tremor muscular. Um dos sinais mais característicos do hipertireoidismo é o tremor muscular fino. Não se trata do tremor grosseiro que ocorre na doença de Parkinson ou no calafrio, visto que atinge rápida freqüência de 10 a 15 vezes por segundo. O tremor pode ser facilmente observado ao se colocar uma folha de papel sobre os dedos estendidos e ao se verificar o grau de vibração do papel. Acredita-se que esse tremor seja causado pela maior reatividade das sinapses neuronais nas áreas da medula que controlam o tônus muscular. O tremor constitui um meio importante de se avaliar o grau de efeito do hormônio tireóideo sobre o sistema nervoso central. Efeito sobre o sono. Devido ao efeito exaustivo do hormônio tireóideo sobre a musculatura e o sistema nervoso central, o indivíduo hipertireóideo tem quase sempre sensação de fadiga constante; entretanto, devido aos efeitos excitatórios do hormônio tireóideo sobre as sinapses, o sono torna-se difícil. Por outro lado, a sonolência extrema é típica do hipotireoidismo. Efeito sobre outras glândulas endócrinas. O aumento da secreção de hormônio tireóideo acelera a velocidade de secreção da maioria das outras glândulas endócrinas, mas também aumenta a necessidade por hormônios dos tecidos. Por exemplo, a secreção elevada de tiroxina aumenta a velocidade de metabolismo da glicose em todo o organismo e, por conseguinte, determina necessidade correspondente de maior secreção de insulina pelo pâncreas. Além disso, o hormônio tireóideo aumenta muitas atividades metabólicas relacionadas à formação do osso e, em conseqüência, aumenta a necessidade de hormônio paratireóideo. Por fim, o hormônio tireóideo acelera a velocidade de inativação dos glicocorticóides supra-renais pelo fígado. Esse efeito resulta em aumento da produção adeno-hipofisária de hormônio corticotrópico por feedback e, por conseguinte, em maior velocidade de secreção de glicocorticóides pelas supra-renais. Efeito do hormônio tireóideo sobre a função sexual: Para que a função sexual seja normal, a secreção de hormônio tireóideo também precisa ser aproximadamente normal. Nos homens, a falta tende a causar perda total da libido; grandes excessos do hormônio quase sempre provocam impotência. Nas mulheres, a falta produz com frequência menorragia e polimenorréia. Contudo, apesar de ser raro pode ocasionar períodos irregulares e, em certas ocasiões, até mesmo amenorréia total. Para tornar o quadro ainda mais confuso, a oligomenorréia, é comum na mulher hipertireóidea, resultando ocasionalmente em amenorréia. REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE HORMÔNIO TIREÓIDEO: feedback que opera por meio do hipotálamo e do lobo anterior da hipófise para controlar a secreção da tireóide. O hormônio tíreo-estimulante (TSH) aumenta a secreção de tiroxina e de triiodotironina pela glândula tireóide. Seus efeitos específicos sobre a tireóide são: 1. Aumento da proteólise da tireoglobulina armazenada nos folículos, com conseqüente liberação dos hormônios tireóideos no sangue circulante e redução do próprio conteúdo folícular. 2. Maior atividade da bomba de iodeto, que aumenta a velocidade de "captação de iodeto" pelas células glandulares, aumentando, por vezes, a proporção entre a concentração intracelular e concentração extracelular de iodeto por até oito vezes o normal. 3. Aumento do processo de iodetação da tirosina e acoplamento aumentado para formar os hormônios tireóideos. 4. Aumento do tamanho e da atividade secretora das células tireóideas. 5. Número aumentado de células tireóideas, com transformação das células cubóides em colunares e acentuação do pregueamento do epitélio tireóideo para o interior dos folículos. Em resumo, o TSH aumenta todas as atividades conhecidas das células glandulares da tireóide. Após a administração de TSH, o efeito inicial mais importante consiste na proteólise da tireoglobulina, que determina a liberação de tiroxina e de triiodotironina no sangue dentro de 30 minutos. Os demais efeitos necessitam de várias horas ou até mesmo de alguns dias ou semanas para seu pleno desenvolvimento. PAPEL DO MONOFOSFATO DE ADENOSINA CÍCLICO NO EFEITO DE ESTIMULAÇÃO DO TSH: a maior parte de seus efeitos resulta da ativação do sistema de "segundo mensageiro" do monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) da célula. Nessa ativação, o primeiro evento consiste na ligação do hormônio tíreo-estimulante a receptores específicos para ele na superfície da membrana basal da célula. Esse processo ativa, então, a adenilciclase da membrana, que aumenta a formação de AMPc na célula. Por fim, o AMPc atua como segundo mensageiro, ativando a proteína quinase que determina a ocorrência de múltiplas fosforilações por toda a célula. O resultado consiste em elevação imediata da secreção dos hormônios tireóideos e crescimento prolongado do tecido glandular da tireóide. Esse método de controle da atividade das células tireóideas assemelha-se à função do AMPc em muitos outros tecidos-alvo do organismo. REGULAÇÃO HIPOTALÂMICA DA SECREÇÃO DE TSH PELO LOBO ANTERIOR DA HIPÓFISE: controlada por hormônio da liberação da tireotropina (TRH), que é secretado por terminações nervosas na eminência média do hipotálamo e, a seguir, transportado até a adeno-hipófise no sangue porta hipotalâmico-hipofisário> O hormônio esta presente em numerosos locais hipotalâmicos diferentes, incluindo (1) o núcleo dorsomedial, (2) o núcleo supraquiasmático, (3) o núcleo ventromedial, (4) o hipotálamo anterior, (5) a área pré-óptica, e (6) o núcleo paraventricular. O TRH afeta diretamente as células da adeno-hipófise, aumentando o débito de TSH. Quando ocorre bloqueio completo do sistema porta do hipotálamo para o lobo anterior da hipófise, a velocidade de secreção adeno- hipofisária de TSH encontra-se acentuadamente diminuída, sem, contudo, atingir zero. O mecanismo molecular pelo qual o TRH induz a produção de TSH pelas células adeno-hipofisárias secretoras de TSH envolve, primeiro, sua ligação e receptores de TRH na membrana da célula hipofisária. Essa ligação, por sua vez, ativa o sistema de segundo mensageiro de fosfolipídios, que passa a produzir grandes quantidades de fosfolipídio C, seguidas pela de muitos outros produtos de segundos mensageiros, incluindo íons cálcio e diacilglicerol, resultando, eventualmente, na liberação de TSH. Efeitos do frio e de outros estímulos neurogênicos sobre a secreção de TRH e de TSH. A exposição do animal ao frio constitui um dos estímulos mais bem conhecidos para aumentar a velocidade de secreção de TRH pelo hipotálamo e, por conseguinte, a secreção de TSH pela adeno-hipófise. Esse efeito resulta quase certamente da excitação da área anterior do hipotálamo e da área pré-óptica, que constituem os centros hipotalâmicos relacionados ao controle da temperatura corporal. Com efeito, sabe-se que as pessoas que viajam para regiões árticas desenvolvemmetabolismo basal de 15 a 20% acima do normal; todavia, a tendência com porta mental do ser humano a proteger-se do frio geralmente impede a manifestação desses efeitos. A excitação e a ansiedade — condições que estimulam acentuadamente o sistema nervoso simpático — provocam redução aguda da secreção de TSH, talvez pelo fato de esses estados aumentarem a intensidade metabólica e o calor corporal, exercendo efeito inverso sobre o centro de controle térmico. Nem esses efeitos emocionais, nem o efeito do frio são observados após secção do pedúnculo hipofisário, ilustrando que ambos os efeitos são mediados pelo hipotálamo. REGULAÇÃO DA SECREÇÃO TIREÓIDEA POR FEEDBACK: O aumento da concentração de hormônio tireóideo nos líquidos corporais diminui a secreção de TSH pela adeno-hipófise. Quando a secreção do hormônio tireóideo aumenta para cerca de 1,75 vez o valor normal, a secreção do TSH torna-se praticamente nula. Quase todo esse efeito depressor por feedback ocorre até mesmo quando a adeno- hipófise é totalmente separada do hipotálamo. É provável que o aumento do hormônio tireóideo possa inibir a secreção adeno-hipofisária de TSH principalmente por meio de efeito direto sobre a própria adeno-hipófise, embora, talvez secundariamente, por meio de efeitos muito mais fracos que atuam pelo hipotálamo. Há redução, pelo hormônio tireóideo, do número de receptores de TRH nas células que secretam TSH. Por conseguinte, o efeito estimulante do TRH hipotalâmico sobre essas células fica muito reduzido. Qualquer que seja o mecanismo de feedback, seu efeito consiste em manter concentração quase constante de hormônios tireóideos livres nos líquidos corporais circulantes. Se houver efeito de feedback que atue pelo hipotálamo, além do feedback direto sobre a própria hipófise, ele provavelmente opera muito lentamente e poderia resultar, pelo menos em parte, de variações do calor corporal e de seus efeitos sobre os centros de controle da temperatura corporal do hipotálamo. que exercem efeito significativo sobre o controle do sistema do hormônio tireóideo. SUBSTÂNCIAS ANTITIREÓIDEAS: As Ires substâncias antitireóideas mais bem conhecidas são o tiocianato, o propiltiouracil e iodetos inorgânicos em altas concentrações. Os mecanismos pelos quais cada uma dessas substâncias bloqueia a secreção tireóidea diferem entre si e podem ser explicados da seguinte maneira: Captação diminuída de iodeto causada por íons tiocianato. A mesma bomba ativa que bombeia íons iodeto para o interior das células tireóideas também pode bombear íons tiocianato, íons perclorato e íons nitrato. Por conseguinte, a administração de tiocianato (ou de um dos outros íons) em concentrações suficientemente altas pode causar inibição competitiva do transporte de iodeto da célula, isto é, a inibição do mecanismo de captação do iodeto. A disponibilidade diminuída de iodeto nas células glandulares não interrompe a formação de tireoglobulina; impede simplesmente que a tireoglobulina formada seja iodetada e, por conseguinte, impede a formação dos hormônios tireóideos. Por sua vez, essa deficiência de hormônio leva a secreção aumentada de TSH pela adeno-hipófise, determinando o crescimento excessivo da tireóide, apesar de a glândula não formar quantidades adequadas de hormônios tireóideos. Por conseguinte, o uso de tiocianatos e de alguns outros íons para bloquear a secreção da tireóide, ou a presença desses íons em certos alimentos, pode resultar em aumento da glândula tireóide, conhecido como bócio. Depressão da formação do hormônio tireóideo pelo propiltiouracil. O propiltiouracil (e outros compostos semelhantes, como metimazol e o carbimazol) impede a formação do hormônio tireóideo a partir dos iodetos e da tirosina. O mecanismo desse efeito consiste, em parte, no bloqueio da enzima peroxidase necessária para a iodetação da tirosina, mas, em parte, também no bloqueio do acoplamento de duas tirosinas lodctadas para formar tiroxina ou triiodotironina. O propiltiouracil, como o tiocianato, não impede a formação da tireoglobulina, mas a ausência de tiroxina e de triiodotironina nessa molécula pode resultar em aumento acentuado da secreção adeno- hipofisária de TSH por feedback promovendo, assim, o crescimento do tecido glandular, com a conseqüente formação de bócio. Diminuição da atividade da tireóide causada por iodetos: Quando existem iodetos no sangue em altas concentrações (100 vezes o nível plasmático normal), a maioria das atividades da tireóide fica diminuída; todavia, com freqüência, essas atividades reduzidas só permanecem assim por algumas semanas. O efeito observado consiste na redução da captação de iodeto c da velocidade de iodetação da tirosina para formar os hormônios tireóideos. Ainda mais importante é o efeito paralisante das altas concentrações de iodeto da endocitose normal de colóide dos folículos pelas células glandulares da tireóide. Como o processo de endocitose é a primeira etapa na liberação dos hormônios tireóideos do colóide de armazenamento, verifica-se a interrupção quase imediata da secreção dos hormônios tireóideos no sangue. Como os iodetos em altas concentrações diminuem todas as fases da atividade tireóidea, eles também reduzem o tamanho da glândula e, em particular, seu suprimento sanguíneo, contrastando com os efeitos opostos causados pela maioria dos outros agentes antitircóideos. Por essa razão, os iodetos são quase sempre administrados a pacientes durante 2 ou 3 semanas antes da remoção cirúrgica da tireóide para reduzir a extensão da cirurgia. CAPITULO 3: DOENÇAS DA TIREÓIDE HIPERTIREOIDISMO CAUSAS DO HIPERTIREOIDISMO (bócio tóxico, tireotoxicose, doença de Graves). Na maioria dos pacientes com hipertireoidismo, toda a glândula tireóide sofre aumento de tamanho de até duas a três vezes o normal, com acentuada hiperplasia e pregueamento da célula folicular que reveste os folículos, de modo que o número de células aumenta várias vezes mais do que o aumento de tamanho da glândula. Além disso, a velocidade de secreção de cada célula aumenta por várias vezes; estudos de captação com iodo radiativo mostram que algumas dessas glândulas hiperplásicas secretam hormônio tireóideo com intensidade de até 5 a 15 vezes o normal. Essas alterações da glândula tireóide assemelham-se às produzidas pelo excesso de TSH. Todavia, estudos com radioimunoensaio revelaram que as concentrações plasmáticas de TSH são inferiores aos valores normais em quase todos os pacientes, quase sempre caindo para praticamente zero. Por outro lado, na grande maioria desses pacientes, verifica-se no sangue a presença de outras substâncias que exercem ações semelhantes às do TSH. Essas substâncias consistem em anticorpos de imunoglobulina que se ligam aos mesmos receptores de membrana que fixam o TSH Adenoma tireóideo. Além da variedade de hipertireoidismo acima mencionada, o distúrbio raramente pode resultar em desenvolvimento de adenoma (tumor) localizado no tecido tireóideo, que secreta grandes quantidades de hormônio tireóideo. Essa forma difere do tipo mais habitual de hipertireoidismo, visto que não costuma estar associada a sinais de doença auto-imune. Um dos efeitos interessantes do adenoma é que, enquanto continua secretando grandes quantidades de hormônio tireóideo, a função da resto da glândula tireóide fica quase totalmente inibida, visto que o hormônio tireóideo secretado pelo adenoma deprime a produção hipofisária de TSH. NÇA DE GRAVES DOENÇA DE GRAVES ou bócio difuso tóxico é uma desordem autoimu ne, de etiologia ainda desconhecida, que apresenta como características uma síntese e secreção excessi vas de hormônios da tireoide e achados clínicos muito típicos, que consistem em bócio difuso, oftal mopatia, dermopatia (mixedema pré-tibial) e acropatia. A doença de Graves é mais comum em mulheres, cer ca de 9 vezes, e a prevalência geral na população é de 0,5%, sendo de 2% no sexo feminino. O pico de incidência deste distúrbio situa-se entre 20-50 anos. A doença de Gra- ves é a causa mais comum de hipertireoidismo es pontâneoem pacientes abaixo dos 40 anos. PATOGÊNESE: nesses pacientes, os linfócitos B sinteti zam anticorpos ‘‘contra’ receptores de TSH localiza dos na superfície da membrana da célula folicular da tireoide. Estes anticorpos são capazes de produzir um aumento no volume e função da glândula, justifi cando assim o hipertireoidismo encontrado: anticorpo antirreceptor de TSH estimulante (TRAb). O receptor do TSH é uma proteína ligada à pro teína G da membrana plasmática, ativando a adenilato ciclase para produção de AMF cíclico como segundo mensageiro. No caso de anticorpos estimuladores, eles se ligam ao receptor e desempe nham as funções do TSH, como hipertrofia glandu lar, aumento da vascularização da glândula e aumento da produção e secreção dos hormônios tireoidianos. Curiosamente, as imunoglobulinas que reconhecem receptores de TSH não necessariamente levam à hiperfunção da glândula. Alguns desses anticorpos provocam apenas aumento (bócio), sem hiperfunção, e outros levam a uma real atrofia do tecido tireoidiano. Estes últimos são os chamados anticorpos blo- queadores do TSH (TRAb-bloq). Essas variedades geralmente não são encontradas com frequência na doença de Graves, estando presentes, por exemplo, na tireoidite de Hashimoto, uma desordem mais co- mumente associada a hipotireoidismo. OFTALMOPATIA: presente em 20-40% dos casos, as células musculares lisas e, principalmente, os fibroblastos, exibem com certa frequência em sua su perfície de membrana antígenos mui to semelhantes ao receptor de TSH. Isso produz uma reação cruzada desses anticorpos, determinando um ‘ataque’ autoimune no tecido retroocular e periocular, com liberação de citocinas pró-inflamatórias e fibrosantes. Existem outros autoanticorpos tireoidianos na doença de Graves. Nos pacientes com oftalmopatia, os tecidos da órbi ta encontram-se edemaciados devido à presença de mucopolissacarídeos hidrofílicos e, somado a esta alteração, encontramos fibrose e infiltração linfocitária. A musculatura extraocular também apresenta ede ma, infiltração com células redondas, deposição de mucopolissacarídeos e fibrose. A tireotoxicose grave pode levar a alterações degenerativas na fibra muscu lar esquelética, hipertrofia cardíaca, necrose hepática focal com infiltração de linfócitos (principalmente necrose centro-lobular, fazendo diagnóstico diferen cial com a necrose hepática induzida pelo álcool e com a necrose hepática que pode ocorrer na insuficiência cardíaca congestiva), diminuição da densidade mineral óssea e queda de cabelos. A principal e mais característica manifestação dermatológica, o mixedema pré-tibial, apresenta deposição de mucopolissa carídeos e infiltração linfocitária em suas lesões. ESTRESS: A doença de Graves geralmente sur ge ou se toma evidente após episódios agu dos de estresse. Alguns dados sugerem que o estresse induz um estado de imunodepressão por mecanismos inespecíficos, talvez media dos pela ação do cortisol. Seguindo este perí odo de imunodepressão, existe aparentemente um estado de compensação imunológica, que poderia desencadear a doença de graves. SEXO: a maior incidência é no sexo feminino. Quando a doença acomete o sexo masculino, tende a ocorrer em idade mais avan çada e com maior gravidade e maior tendência de associação com a oftalmopatia. GRAVIDEZ:A presença de doença de Graves gra ve durante a gravidez é incomum, pois está as sociada à redução da fertilidade. Para aquelas mulheres que engravidaram, existe o risco au mentado de aborto espontâneo e complicações da gravidez, indicando um efeito tóxico direto do hormônio tireoidiano sobre o feto. A doen ça de Graves, tende a apresentar melhora, uma vez que sabemos que a gravidez é um pe ríodo de “imunodepressão fisiológica”. Pode haver piora da doença após o parto, sendo uma apresentação bastante comum da doença. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS TIREOTOXICOSE: decorre da esti mulação do metabolismo dos tecidos pelo excesso de hormônios tireoidianos. O quadro clínico mais comum é a associação de vári os sinais e sintomas, alguns clássicos e outros ines pecíficos. História (geralmente de longa data) de insônia, cansaço extremo, agitação psicomotora, incapacidade de concentração, nervo sismo. dificuldade em controlar emoções, agressivi dade com membros da família ou colegas de profissão. sudorese excessiva, intolerância ao calor, hiperdefecacão (aumento do número de evacuações diá rias) e amenorreia ou oligomenorreia. A perda ponderai geralmente é mais comum, a des peito da polifagia encontrada, entretanto a ingesta calórica pode exceder o gasto metabólico, e o paci ente na realidade passa a engordar. No exame físico, percebe-se uma pele quente e úmi da; as extremidades superiores, quando estendidas, evidenciam um tremor fino e sustentado, os cabelos caem ao simples passar de um pente. Os achados oftalmológicos, como retração palpebral, olhar fixo e brilhante e o piscar freqüente, representam uma exacerbação simpática e encontram-se presentes na tireotoxicose independente da causa. As manifestações cardiovasculares incluem hiper tensão sistólica, pressão de pulso alargada (maior diferença entre PA sistólica e diastólica - PA diver gente) e taquicardia sinusal. Esta hipertensão com PA divergente pode ser explicada pelo aumento dos receptores beta-adrenérgicos: no coração eles de terminam efeito cronotrópico e inotrópico positivo (aumentando a PA sistólica) e na periferia, a ação pre dominante nos receptores beta-2, que fazem vasodilatação, determinado uma redução da resistência vas cular periférica (diminuindo a PA diastólica). A ausculta, encontramos uma bulha, hiperfonética. um sopro sistólico inocente e eventualmente uma terceira bu lha ‘fisiológica’. A fibrilação atrial (FA) pode surgir a qualquer momento, levando em alguns casos a uma descompensação aguda da função miocárdica. Quem já tem doença coronariana pode descompensar, apre sentando angina pectoris, pois a tireotoxicose au menta o consumo miocárdico de oxigênio. Isso tam bém deve ser lembrado quando iniciarmos a reposi ção de levotiroxina em um paciente coronariopata, devendo-se iniciar com doses mais baixas e aumen tar gradativamente, para não descompensar o qua dro de isquemia miocárdica. O quadro clínico compõe-se ainda de atrofia e fra queza muscular (miopatia) e desmineralização óssea (osteopatia), algumas vezes acompanhada de hiper calcemia (em 20% dos casos), hipercalciúria (mais comum) e elevação da fosfatase alcalina. Disfunção hepática com hepatomegalia e icterícia podem ocor rer nos casos de tireotoxicose grave. Esplenomegalia é observada em até 10% dos pacientes. HIPERTIREOIDISMO APATÉTICO: Este termo define a tireotoxicose em alguns idosos. Nessa faixa etária, as manifestações adrenérgicas (agi tação, nervosismo, etc.) não se encontram presentes, dando lugar a alterações cardiovasculares (surgimen to de uma FAe/ou insuficiência cardíaca refratárias ao tratamento) e a sintomas como astenia, fraqueza mus cular intensa e depressão grave. Em alguns casos, o diagnóstico de tireotoxicose torna-se extremamente difícil. Um exemplo comum consiste em um idoso (com poucas manifestações do excesso de hormônio ti reoidiano) que dá entrada no Pronto- Socorro com FA de início abrupto, apresentando em sua avalia ção ecocardiograma sem aumento atrial. Nestes ca sos, a dosagem do TSH e do T4L é fundamental. BÓCIO: caracteristicamente difuso e simétrico à palpação, está presente em 97% dos ca sos (podendo estar ausente em até 20% dos idosos). E por isso que o outro nome da doença é Bócio Difuso Tóxico. Observamos, em alguns pacientes, sopro e frêmito sobre a glândula, ocorrendo este fenômeno devido a um aumento da vascularização local. Este achado é característico da doença. Até prova em contrário, qualquer paciente com bócio difuso e hi pertireoidismo tem doença de Graves. OFTALMOPATIA INFILTRATIVA: se manifesta por exoftalmia ou proptose bilateral, olhar fixo, retração palpebral levando à exposição da esclera acima da margem superior do limbo, edema periorbitário, ede ma e hiperemiaconjuntival e, eventualmente, oftalmoplegia. A doença unilateral é vista em 10% dos casos. No entanto, diante de um paci ente com oftalmopatia unilateral, estamos obrigados a solicitar um exame de imagem do crânio para afas tar causas locais de acometimento ocular unilateral, como tumores oculares, aneurisma de carótida inter na. entre outros. A retração das pálpebras e o olhar assustado ocor- rem na tireotoxicose de qualquer etiologia, não sen do exclusivos da doença de Graves. Quando grave, a exoftalmia pode impedir que o paciente feche os olhos durante o sono, o que é conhecido como lagoftal mo. A perda visual, quando ocorre, pode ser decor rente de ulceração e infecção da córnea devida ao fechamento incompleto das pálpebras ou isquemia do nervo óptico devida à redução do fluxo sanguí neo secundário ao aumento da pressão intraocular. Q tabagis mo é um fator clássico de piora da oftalmopatia. Paci entes tabagistas apresentam doença mais grave e com probabilidade de pior resposta ao tratamento. Outros fatores conhecidos são o hipotireoidismo e o tratamento com radioiodo. A oftalmopatia de Graves pode ser dividida em dois tipos: 1- Tipo afeta principalmente mulheres jovens, causando graus variados de proptose simétrica, com limitação mínima da motilidade ocular ou sem limitação, ausência de sinais inflamatórios e exames de imagem (TC ou RNM) revelando aumen to da gordura orbitária com alargamento mínimo ou ausente dos músculos orbitários. 2- Tipo causa uma miopatia restritiva, com diplopia e prop tose assimétrica, afeta mais mulheres do que ho mens, sendo que os exames de imagem revelam alar gamento dos músculos extraoculares sem alteração da gordura orbitária. SAIBA MAIS... O receptor de TSH parece ser o principal antígeno para desencadear a resposta in flamatória. Os anticorpos TRAb estimulariam estes receptores e dariam início à inflamação. Outros antí- genos que parecem estar envolvidos na oftalmopatia de Graves, porém com menor importância, são o re ceptor de IGF-1 eatireoglobulina. A inflamação e ativação dos fibroblastos levam à for mação de glicosaminoglicanos (GAG), principalmente o ácido hialurônico. O acúmulo de GAG gera uma alte ração na pressão osmótica, que por sua vez leva ao acúmulo de líquido e aumento da pressão intraorbitária. Estas alterações explicam a proptose, a alteração da musculatura ocular e a diminuição da drenagem ve nosa (que gera edema); A inflamação justifica o acha do de quemose. Histologicamente é observado ede ma da musculatura extraocular, perda de estriação das fibras musculares e fragmentação, além de infil tração de linfócitos; especialmente os linfócitos T. A gravidade da oftalmopatia de Graves é estimada por uma escala: ● Grau 0: sem sinais ou sintomas; ● Grau 1: somente sinais, sem sintomas (sinais: retração palpebral superior, olhar fixo, lid lag - atraso do movimento da pálpebra superior quando o paciente olha para baixo, o que leva à maior exposição da esclera - e proptose até 22mm); ● Grau 2: edema periorbitário (sinais e sintomas); Grau 3: proptose ou exoftalmia (>22mm no exoftalmômetro de Hertel); ● Grau 4: envolvimento dos músculos extraoculares (diplopia); ● Grau 5: lesão de córnea; ● Grau 6: perda da acuidade visual (comprometimento do nervo óptico). DERMOPATIA: é encontrada em menos de 5% dos pacientes, geralmente em associação com oftalmo patia moderada a grave e acropaquia (baqueteamento digital). A lesão é descrita como mixedema prétibial. Esta consiste em um espessamento da pele, principalmente sobre a região pré-tibial, devido ao acúmulo de glicosaminoglicanos. Raramente pode se desenvolver na face, cotovelos e dorso das mãos. O mixedema pré-tibial apresenta-se em placas, e seu aspecto é de uma “casca de laranja”, porém com co loração violácea. Em alguns casos a dermopatia aco mete toda a parte inferior da perna, podendo esten der-se para os pés. A predileção pela região pré-tibial ainda é incerta, mas pode estar relacionada a trau mas em áreas expostas. No comprometimento exten so pode lembrar a filariose. ACROPATIA: representada por baqueteamento digi tal, é observada em menos de 1% dos pacientes com doença de Graves e possui íntima relação com a dermopatia (pode ser observada em 20% dos paci entes com dermopatia). Esta associação é tão impor tante que devemos sempre pesquisar outras causas de baqueteamento na ausência de dermopatia e oftalmopatia concomitantes. Outra alteração que pode ser encontrada em pacientes com Graves são as unhas de Plummer, que consistem no descolamento da porção distai da unha do leito ungueal. DIAGNÓSTICO Função Tireoidiana: Encontramos, de forma clássica, um TSH suprimido ou menor do que 0,1 mUI/L (normal: 0,5-5,0 mUI/L), associado à elevação do T3 (normal: 70-190 ng/dL), T4 (normal: 5- 12jig/mL), T4 livre (normal: 0,9 a 2,0 ng/ dL) e T3livre (normal: 0,2-0,52ng/dL). Nas fases inici ais podemos encontrar apenas um TSH suprimido, o que define o hipertireoidismo subclínico. O diagnóstico de hipertireoidismo requer a demons tração de um TSH suprimido com T4 livre aumenta do. Em casos nos quais a dosagem do T4 livre não confirmar a suspeita clínica, devemos solicitar a do sagem do T3 total ou do T3 livre, que se encontram elevados em todos os casos de hipertireoidismo (lem brar que a desiodase tipo 1 encontra-se estimulada nos quadros de hipertireoidismo). AT3-toxicose é mais comumente observada nas fases iniciais da doença de Graves e em recidivas após tratamento. Assim, diante de um paciente com TSH suprimido e T.,L nor mal. sempre devemos solicitar a dosagem do Tv Por outro lado, em casos de pacientes que possuam ou tras doenças graves concomitantes, pode haver pre juízo na conversão periférica de T4 em T3, levando a valores normais de T3L, mas não de T4L, que se en- contram elevados (T4 tireotoxicose). Eventual mente, a doença de Graves pode se manifestar com nódulos, impondo-se o diagnóstico diferencial com o bócio multinodular tóxico. Nesses casos, a dosagem do TRAb também pode ser de grande ajuda, mostrando-se positivo nos casos de doença de Graves. Achados laboratoriais no hipertiroidismo e no seu tratamento Clinica �3� �4� TSH Hipertireoidismo subclínico Normal Normal Baixo Hipertireoidismo clínico Alto Alto Baixo Início do tratamento Normal Normal Baixo Tratamento compensado Normal Normal Normal leucopenia (comum), hipercalciúria e hipercalcemia (ocasionais) e hiperbilirrubinemia (casos mais graves), além de aumento das transaminases, FAe GGT, demonstrando comprometimento hepático. Uma leve anemia normocrômica normocítica pode ocor rer, pois apesar de haver aumento da massa de células vermelhas, também há um aumento do volume plasmático. ANTICORPOS ANTITIREOIDIANOS O anticorpo anti-TPO (tireoperoxidase) está em títu los elevados em 80% dos casos. Tal anticorpo é apenas um marcador de doença tireoidiana autoimune e, na verdade, é mais típico da tireoidite de Hashimoto. O anticorpo característico da doença de Gra ves é o antirreceptor do TSH (TRAb). A pesquisa dessa imunoglobulina não é necessária na maioria dos casos, uma vez que o diagnóstico de doença de Graves baseia-se em achados clínicos acompanha dos de dosagem hormonal. No entanto, existem al gumas situações clínicas em que a pesquisa do TRAb torna-se necessária. Vamos descrevê-las abaixo: ● No diagnóstico da doença de Graves em indiví duos eutireoideos. ● No diagnóstico de casos de hipertireoidismo apatético. ● Para avaliar risco de recidiva após tratamento com antitireoidianos. ● No diagnóstico de doença de Graves em alguns pacientes com poucas manifestações clínicas e que apresentem doença sistêmica ● No diagnóstico do paciente eutireoidiano com exoftalmia, principalmente se unilateral. ● Em gestantes eutireoidianas com passado de doença de Graves submetidas a radioiodo ou tireoidectomia ou com doença de Graves presen te, para avaliar a predileção de tireotoxicoseneonatal (decorrente da passagem transplacentária de TRAb); Níveis maternos elevados do anticor- po durante o primeiro trimestre da gestação indi cam um risco aumentado de hipertireoidismo fetal, enquanto níveis aumentados no terceiro tri mestre associam-se ao risco de hipotireoidis- mo neonatal – ● No diagnóstico diferencial da tireotoxicose gestacional OBS: A deficiência de iodo pode interromper o hi pertireoidismo mesmo na presença do TRAb. O anticorpo anti-TPO (tireoperoxidase, antigamente chamado de antimicrossomal) está presente em 80% dos casos. Este anticorpo é uma espécie de um marcador uni versal da doença tireoidiana autoimune, estando pre sente em 95% dos casos de tireoidite de Hashimoto. Existem ainda os anticorpos antitireoglobulina (anti-Tg), mais importantes no acompanhamento do cân cer de tireoide, como veremos adiante. Existem ainda os anticorpos neutros, que não interferem na função do receptor do TSH. A maioria desses autoanticorpos é formada dentro da própria tireoide pelos linfócitos B que formam o infiltrado inflamatório na glândula. No entanto, esta produção de anticorpos não é exclusi va da tireoide, como sugerido ao se observar que alguns indivíduos tireoidectomizados ou que passa ram por ablação radioativa da glândula não apresen taram queda da secreção desses anticorpos. A pre sença do TRAb é de 90-100% dos casos de doença de Graves não tratada. Seus títulos tendem a cair com o tratamento da doença e, quando persistem, podem indicar recorrência da doença. Após o trata mento, pode haver predominância dós anticorpos bloqueadores, causando hipotiroidismo. É importante termos em mente a associação de doença de Graves com ou tras desordens autoimunes endócrinas, como o dia betes mellitus tipo I e a doença de Addison, e não endócrinas, como a miastenia gravis, hepatite crôni- ca ativa, anemia perniciosa, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjõgren e vitiligo. CAPTAÇÃO DO LODO RADIOATIVO NAS 24 HORAS (Radioidodine Uptake - RAIU): Este método tem como base a captação do iodo radi oativo e outros isótopos pelas células foliculares. Os isótopos mais empregados são: 131I e o 123I. O princípio do exame consiste em identificar uma capta ção excessiva destas substâncias por um tecido tireoi diano hiperfuncionante. Em regiões com dieta rica em iodo (EUA, Brasil), o normal da captação situa-se entre 5% a 20% da dose empregada nas 24 horas, enquanto em condições associadas ao hipertireoidismo, como a doença de Graves, esses valores se elevam, e muito. A indicação principal da RAIU na doença de Graves tem como objetivo a diferenciação desta condição com a tireotoxicose das tireoidites subagudas. que apresentam uma captação de iodo radioativo baixa a desprezível. No caso da diferenciação entre Hashitoxicose (esta do de exacerbação da tireoidite de Hashimoto, que cursa com tireotoxicose por destruição da glândula, mas não com hipertireoidismo) e doença de Graves, a RAIU também pode ser útil. É bom lembrarmos que este exame está contraindicado na gravidez. NÓDULO TIREOIDIANO NA DOENÇA DE GRAVES: Podemos encontrar no exame clínico de um paciente com doença de Graves um nódulo, que não esta associado a desordem. Nestes casos, devemos nos comportar diante de um quadro de nódulo solitá rio de tireoide a esclarecer; sendo assim, duas doen ças encontram-se presentes. Um nódulo que na cintilografia não evidencia captação, isto é, um nódulo frio, merece uma punção aspirativa com agulha fina para o diagnóstico (até 20% deles são malignos). De forma inversa, se o nódulo se mostrar “quente” à cintilografia, não está indicada a punção, pois a chance de ser um câncer está em torno de 1 % dos casos, não se justificando a punção. Além disso, a punção de nódulos quentes sempre encerra um elevado risco de sangramento, devido à sua hipervascularização. TRATAMENTO: Clí nico com drogas antitireoidianas é a primeira opção. FISIOLOGIA DO TRATAMENTO NO HIPERTIREOIDISMO. O tratamento mais direto do hipertireoidismo consiste na remoção cirúrgica da maior parte da glândula tireóide. Em geral, é conveniente preparar o paciente para a remoção cirúrgica da glândula antes de se efetuar a cirurgia. A preparação consiste em administrar propiltiouracil, geralmente durante várias semanas, ate obter a normalização do metabolismo basal do paciente. A seguir, a administração de iodetos em altas concentrações durante 1 a 2 semanas que antecedem a cirurgia provoca redução do tamanho da própria glândula, bem como de seu suprimento sanguíneo. Ao se utilizar esses procedimentos préoperatórios, o índice de mortalidade operatória é inferior a 1 cm 1.000 nos melhores hospitais, ao passo que, antes do desenvolvimento desses métodos, o índice de mortalidade operatória era de até 1 em 25. Tratamento da tireóide hiperplásica com iodo radiativo. Até 80 a 90% de uma dose injetada de iodeto são absorvidos pela glândula tóxica hiperplásica dentro de 1 dia após a injeção. Se o iodo injetado for radiativo, ele pode destruir internamente as células secretoras da glândula tireóide. Em geral, administram-se 5 mCi de iodo radiativo ao paciente, cujo estado é reavaliado depois de várias semanas. Se o paciente ainda se encontrar em estado hipertireóideo, administram-se doses adicionais até a normalização do estado tireóideo. BETABLOQUEADORES: O propranolol (20-40mg a cada 6 a 8 horas) e o atenolol (50-200mg/dia) podem ser utilizados. Os beta bloqueadores são úteis nas fases iniciais do trata mento com as drogas antitireoidianas devido ao seu rápido efeito sobre as manifestações adrenérgicas da tireotoxicose. Além disso, o propranolol inibe a conversão periférica de T4 em T3. Devemos lembrar que doses menores são ineficazes, uma vez que a droga é rapidamente metabolizada pelo fígado em estados de excesso de hormônio tireoidiano. Pacien tes com contraindicação absoluta aos betabloquea dores devem receber o antagonista do canal de cál cio diltiazem, para alentecer a frequência cardíaca. ANTITIREOIDIANOS (TIONAMIDAS): As tionamidas são representadas em nosso meio pelo propiltiouracil (PTU), o metimazol (MM1) e o carbimazol. O metimazol possui duas vantagens sobre o PTU: pode ser utilizado em dose única e tem custo mensal até 70% mais barato. Ocorre aumento da rela ção T3/T4 no plasma como conseqüência da maior formação de Tv Ambos são acumulados na tireoide e podem cruzar a placenta e inibir a tireoide fetal. Propiltiouracil (PropiltiouracilR, comp. lOOmg) Dose de ataque (4-8 semanas): 300-600mg/ dia, em 3 tomadas. Manutenção: 100-400mg/dia, em 2 tomadas. Possui meia-vida de cerca de l,5h. Mecanismo de ação: Inibe a peroxidase tireoidiana (TPO) e. portanto, as etapas de oxidação, organificação, que é a in corporação do iodeto aos resíduos de tirosina para a formação de monoiodo (MIT) e diiodotirosinas (DIT) na molécula de tireoglobulina, e acoplamen to, que consiste na junção de MIT e DIT para a formação de T3 e T4. Inibe, em doses altas (>600mg/dia). a conversão periférica de T4 em T3. o que contribui para a redução de 20% a 30% nos valores de T3. Possível efeito imunossupressor reduzindo os ní veis de anticorpos. Este efeito parece ocorrer den tro da tireoide, onde o fármaco é acumulado. Sua ação nas células tireoidianas parece reduzir a ex pressão de antígenos e a liberação de mediadores inflamatórios pelas células foliculares. Pode ainda reduzir a formação de radicais livres de oxigênio. Metimazol (TapazolR. comp. de 5 e lOmg) Dose de ataque (4-8 semanas): 40mg/dia, em 2 tomadas. Manutenção: 5-20mg/dia, em 1 tomada. Possui meia-vida em tomo de 6h, e uma única dose pode exercer efeitos antitireoidianos por mais de 24h, o que permite o seu uso em dose única diária nos casos leves a moderados de hipertireoi dismo. Foi demonstrado que induz a expressão do ligante do -receptor Fas, uma via que promove a apoptose dos linfócitos infiltrantes da tireoide. Mecanismo de ação: Semelhantes ao do PTU, exceto pela não inibição da conversão periférica de T4 em T3. A equivalência aproximada
Compartilhar