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Graziela G. Santana CONCEITOS: • Trauma: doença de instalação súbita, quebrando a homeostase orgânica. • Politrauma: trauma que acomete mais de 2 sistemas. • Horas de ouro: primeiras horas de manejo do paciente que influenciam diretamente no sucesso do tratamento -> avaliação + reanimação imediatamente - curva precoce. • Tratar primeiro a maior ameaça à vida. • Não deixar que a falta de diagnóstico definitivo impeça o tratamento indicado. • A história detalhada não é essencial para iniciar avaliação do doente com lesões agudas. • Repetir avaliação primária frequentemente para identificar qualquer sinal de piora. ÓBITOS: • Implica que a morte por trauma ocorre em um dos 3 períodos/picos. ❖ 1º pico: imediatamente, primeiros segundos ou minutos após o trauma (geralmente, a morte é por apneia). ❖ 2º pico: de minutos a várias horas depois do trauma. ❖ 3º pico: de vários dias a semanas, o óbito tende a ser devido à sepse e à disfunção de múltiplos órgãos. BIOMECÂNICA DO TRAUMA: • É importante conhecer a mecânica do trauma, pois a partir da cinética e do impacto podemos supor a intensidade da troca de energia que ocorreu e, consequentemente, predizer grande parte das lesões que serão encontradas. • Fases: 1. Pré-evento (prevenção). 2. Evento traumático (troca de energia). 3. Pós-evento (atuação médica nos cuidados com o traumatizado). • Lesões por contragolpe: desaceleração -> hiperextensão = impacto do cérebro x crânio. AVALIAÇÃO INICIAL: 1. Preparação + triagem. 2. ABCDE + reanimação imediata. 3. Avaliar necessidade de transferência. 4. Exame secundário + história do paciente. 5. Reavaliação + monitorização contínua. 6. Cuidados definitivos. FASE PRÉ-HOSPITALAR: • Contatar hospital antes da chegada. • Passo 1 (sinais vitais): ❖ Transportar para centro de trauma se: ➢ Glasgow < 13 (TEC moderado). ➢ PA sistólica < 90 (pode indicar choque). ➢ FR <10 ou >29 ou necessidade de ventilação. • Passo 2 (anatomia – lesões): ❖ Transportar para centro de trauma se: ➢ 2 ou mais fraturas de ossos longos. Graziela G. Santana ➢ Tórax instável. ➢ Amputação. ➢ Fratura pélvica, exposta ou afundamento de crânio. ➢ Déficit motor ou neurológico. ➢ Lesões penetrantes. ➢ Esmagamento; desluvamento. • Passo 3 (mecanismo de trauma): ❖ Levar para centro de trauma quando: ➢ Queda (> 3 metros já é grave). ➢ Acidente automobilístico ou atropelamento de alto risco. ➢ Ejeção (total ou parcial) da vítima. ➢ Morte no mesmo local. ➢ Automotor x pedestre/bicicleta. ➢ Acidente de moto > 32 km/h. • Passo 4 (condições especiais do paciente): ❖ Idosos (maior risco > 55 anos). ❖ Crianças. ❖ Gestantes. ❖ Queimados. ❖ Uso de anticoagulantes. TRIAGEM: Múltiplas vítimas: • Número de doentes e gravidade das lesões NÃO excedem a capacidade de atendimento. • Pacientes com risco de morte iminente e com traumatismos multissistêmicos serão atendidos primeiro. Vítimas em massa: • Excedem a capacidade de atendimento. • Pacientes com maior possibilidade de sobreviva serão atendidos primeiro. IMOBILIZAÇÃO (COLAR CERVICAL): • Durante a abordagem. o colar cervical pode ser aberto, enquanto um membro da equipe faz a imobilização manualmente. PROTOCOLO MIST: • M – mecanismo do trauma. • I – injúria (lesões). • S – sinais e sintomas. • T – tratamento e transporte. FASE HOSPITALAR: • Deve ter disponível área de reanimação. • Equipamentos para estabelecer VVAA. • Soluções cristaloides aquecidas. • Acordos com centros de trauma. • Equipe de trauma: líder, um responsável pelas vvaa, enfermeira e técnico de trauma. • O líder da equipe supervisiona, verifica e direciona a avaliação. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: A – airway: • Ofertar O2 em máscara com reservatório 10-15L/min para toda vítima de trauma. • Verificar e garantir via aérea pérvia. A: vias aéreas + proteção coluna cervical. B: ventilação + respiração. C: controle da hemorragia. D: disfunção neurológica. E: exposição (despir paciente). intra-hospitalar para extra-hospitalar Graziela G. Santana • Avaliar se é necessário vvaa definitiva. • Glasgow < 8: VVAA definitiva. • Aspirador: de ponta rígida. • Paciente com colar cervical -> retira colar -> imobilização + intubação (precisa de 2 pessoas) = coloca colar = ABCDE -> RX ou TC e avalia possibilidade de retirada de colar. B – breathing: • Verificar: funcionamento de pulmões, parede torácica e diafragma; lesões prejudiciais à ventilação; intoxicação por CO. • Lesões que prejudicam a ventilação: pneumotórax hipertensivo/aberto, hemotórax massivo e lesões traqueal/brônquica. • Ver distensão das vv jugulares, posição da traqueia e expansibilidade parede torácica. • Exame físico: ausculta + percussão do tórax para identificar possíveis alterações. C – circulation: • Parar sangramento + pegar 2 acessos + administrar 1L de cristalóide + 1g de transamin (até 3h após trauma) → se não houver resposta = transfusão sanguínea. • Hemorragia externa: pressão manual ou torniquete. • Hemorragia interna: ex. físico ou imagem (FAST; RX de tórax) → descompressão do tórax e estabilização da pelve e/ou talas de extremidade. • Verificar se há sinais de choque, cor da pele, nível de consciência e pulso. D – disability: • Avaliação neurológica rápida: nível de consciência, pupilas, presença de sinais de lateralização e nível de lesão medular. • Glasgow tende a melhorar se estiver tudo certo em ABC. • Glasgow ≤ 8 = intubar. E – exposition: • Despir e examinar o paciente, procurar lesões, lacerações e fraturas. • Manter temperatura corporal adequada (temperatura da sala, cobertor, soro aquecido – evitar hipotermia), evitar acidose (dar O2) e não hemodiluir excessivamente → geram coagulopatia. • Lesões distrativas (impactantes), não podem passar despercebidas, mas também não são as mais importantes. • É preconizado tirar a prancha em até 1h (evitar lesão por pressão). AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA: • Paciente já estável, se desestabilizar volta para a avaliação primária. AMPLA: história do paciente. ❖ A: alergias. ❖ M: medicamentos que usa. ❖ P: HPP, gestação. ❖ L: líquidos e alimentos. ❖ A: ambientes e eventos relacionados. • Exame físico craniocaudal completo. • Avaliação pupilar. • Escala de coma de Glasgow (3 – 15). • Flexão anormal x extensão anormal: ❖ Flexão anormal: decorticação. ❖ Extensão anormal: descerebração. • Lesões medulares. • Transferência de paciente (se necessário). Suspeita de lesão de base de crânio -> sonda orogástrica Graziela G. Santana MANEJO DE VVAA E VENTILAÇÃO: Formas de comprometimento VVAA: 1. Súbito e completo (vvaa definitiva). 2. Insidioso e parcial (queimadura de vvaa, considerar intubação precoce). 3. Progressivo e recorrente (vômito ou obstrução por secreção). Traumas – comprometimento (imediato) vvaa: • Trauma de face (pode comprometer naso e orofaringe). • Trauma cervical (hematomas cervicais expansivos -> complicação de acesso venoso central -> compressão de vvaa). • Trauma de laringe (tríade: rouquidão + enfisema subcutâneo + fratura palpável). Sinais de obstrução de via aérea: • Agitação/agressividade (hipóxia) ou obnubilação (retenção CO -> hipercapnia). • Cianose (sinal tardio). • Retrações e uso de musculatura acessória. • Gorgorejo (obstrução por secreção). • Alteração na oximetria de pulso. • Rouquidão / disfonia. Sinais de ventilação inadequada: • Tórax assimétrico. • Diminuição/ausência do murmúrio vesicular. • Taquipneia. • Esforço respiratório. Capacete: deve ser retirado por 2 pessoas (uma retira e a outra imobiliza a cervical). Manobras de liberação da via aérea: • Chin-lift (eleva mento; risco hiperextensão).• Jaw-thrust (tração da mandíbula – manobra mais adequada). • Guedel (tubo orofaríngeo; só em paciente rebaixado – reflexo de vômito, desconforto). • Ventilação bolsa válvula máscara (ambu; 1 pessoa ventilando e 1 estabilizando cervical). Via aérea definitiva – 3 tipos: 1. Tubo orotraqueal (mais utilizado). 2. Tubo nasotraqueal. 3. Via cirúrgica: ❖ Cricotireoidostomia (vvaa definitiva na urgência e emergência, pois é mais rápida e mais segura). ❖ Traqueostomia. ➢ Usar bougie aumenta a chance de sucesso da intubação (tenta pré oxigenar antes e tentar intubar com bougie antes de partir para vvaa definitiva). Preditores de via aérea difícil: • Lesão de coluna cervical. • Artrite grave de coluna cervical. • Trauma maxilofacialmandibular grave. • Abertura limitada da boca. • Obesidade. CHOQUE: • Alteração no sistema circulatório que gera perfusão e oxigenação tecidual inadequadas. L: localize externamente. E: examine as distâncias (regra 3:3:2). M: Mallampati (classificação hipofaringe). O: obstrução. N: neck Mobility (reduzida em todo politrauma). Graziela G. Santana • Taquicardia -> sinal + precoce de choque. • Diagnóstico é clínico!!!! Tipos de choque: • Hipovolêmico (hemorrágico): considera como choque hemorrágico até que se prove o contrário. • Obstrutivo: pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco • Distributivo: séptico; anafilático; neurogênico. • Cardiogênico: cardiopatia descompensada ou trauma cardíaco. Classes de choque: • Classe I: ❖ < 15% de perda do volume sanguíneo. ❖ Pulso < 100. ❖ Reposição volêmica: cristaloide. • Classe II: ❖ 15 a 30% de perda do volume sanguíneo. ❖ Pressão de pulso diminuída. ❖ Reposição volêmica: cristaloide. • Classe III: ❖ 31 a 40% de perda do volume sanguíneo. ❖ Déficit de base menor < 6 (choque -> anaerobiose -> consume lactato -> consume base -> déficit de base). ❖ Pressão de pulso diminuída. ❖ PA diminuída. ❖ Reposição volêmica: cristaloide ou sangue. • Classe IV: ❖ > 40% de perda do volume sanguíneo. ❖ Déficit de base menor < 6. ❖ Pressão de pulso diminuída. ❖ PA diminuída. ❖ Diurese desprezível. ❖ Reposição volêmica: cristaloide ou sangue. Ácido tranexâmico: • Melhor sobrevida quando o ác. tranexâmico é administrado nas primeiras 3 horas. • 1 g EV nas 3 primeiras horas. Transfusão maciça: • Mais de 10 unidades de concentrado de hemácias dentro das primeiras 24h da admissão hospitalar. OU • Mais de 4 unidades de CH na 1ª hora. TRAUMA TORÁCICO: • Tratar na letra B: é frequente em politraumatizados e apresenta risco de vida se não identificado rapidamente. Pneumotórax hipertensivo: • Ar entra e não consegue sair -> acumula-se no espaço pleural. • Causa choque obstrutivo. • Acúmulo de ar gera pressão -> mediastino deslocado para lado oposto -> diminui retorno venoso -> comprime pulmão contralateral. • Diagnóstico clínico!!! • Não adiar tratamento aguardando confirmação radiológica. • Sinais e sintomas: dor torácica, dispneia, desvio da traqueia, desconforto respiratório, Graziela G. Santana taquicardia, hipotensão, contralateral, cianose, expansibilidade torácica ausente, murmúrio abolido, percussão hiper timpânica, turgência jugular. • Tratamento inicial: toracocentese descompressiva imediata → drenagem. • Toracocentese descompressiva: jelco 14 no 5º EIC linha axilar média. • Drenagem: anestesia -> incisão no 5º EIC -> divulsionar -> toque -> passa tubo de dreno. Pneumotórax aberto: • Lesão na parede torácica 2⁄3 maior que o diâmetro da traqueia do paciente. • Passa ar pela lesão a cada inspiração. • NÃO suturar!!! • Tratamento de urgência: curativo de 3 pontas + drenagem torácica. Hemotórax maciço: • Acúmulo > 1.500 mL de sangue em um hemitórax. • Drenagem imediatamente 1500ml ou ⅓ da volemia do paciente para o tórax. • Não faz toracocentese. • Choque (grau III); sem murmúrio vesicular; macicez à percussão; sem turgência jugular; sem expansibilidade torácica. • Tratamento definitivo: cirurgia. Tamponamento cardíaco: • É a compressão do coração por um acúmulo de líquido no saco pericárdico. • Diminuição do débito cardíaco = choque obstrutivo. • Pneumotórax hipertensivo + tamponamento cardíaco = choque obstrutivo. • Conduta imediata: toracotomia de emergência ou esternotomia; administrar volume; punção de Marfan. • Tratamento definitivo: cirurgia. • Tríade de beck: turgência jugular + hipotensão arterial + hipofonese de bulhas cardíacas. • FAST: positivo (líquido no espaço pericárdico).
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