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2019 Título: Sistema Renal Editor: Diana Cruz Projeto gráfico: Bruno Brum Coordenador: Diego Barros Edição de texto: Editorando Birô Diagramação: caixadedesign.com Capa: Fabrício Sawczen e Wesley Azevedo Conselho Editorial: Caio Vinicius Menezes Nunes, Itaciara Larroza Nunes, Paulo Costa Lima, Sandra de Quadros Uzêda e Silvio José Albergaria da Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513 J58m Jesus, Vinicius Santos Moura de Medicina resumida: sistema renal / Vinicius Santos Moura de Jesus. – Salvador : 2B, 2019. 252 p. : il. ; 16x23 cm. – (Medicina Resumida ; 4). ISBN 978-85-5462-127-8 1. Rins - Fisiologia. 2. Medicina. I. Título. II. Título: Sistema renal. III. Série. CDU: 612.46 ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 1. Medicina. 2. Medicina. Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513 Editora Sanar Ltda. Rua Alceu Amoroso Lima, 172 Caminho das Árvores Edf. Salvador Office e Pool, 3º andar. CEP: 41820-770 – Salvador/BA Telefone: 0800 337 6262 sanarsaude.com atendimento@sanar.com Sumário 1. Sistema Renal: Visão Geral e Anatomia 1. Caso clínico 2. Visão geral 3. Anatomia Referências Mapa mental 2. Histologia do Sistema Renal 1. Caso clínico 2. Introdução 3. O néfron 4. Os túbulos e ductos coletores 5. O interstício renal 6. As vias urinárias Referências Mapa mental 3. Manutenção do Volume dos Líquidos Corporais 1. Caso clínico 2. Entendimento inicial sobre os líquidos corporais 3. A troca de líquidos em condições normais 4. Controle hídrico através do rim 5. Compartimento dos líquidos corporais 6. Regulação da troca de líquidos entre os compartimentos Referências Mapa mental 4. Filtração Glomerular 1. Caso clínico 2. Introdução 3. Visão geral da formação da urina 4. A primeira etapa de formação da urina 5. Determinantes da filtração glomerular 6. Fluxo sanguíneo renal 7. Controle fisiológico da fg e do fluxo sanguíneo renal 8. Autorregulação da fg e do fluxo renal Referências Mapa mental 5. Reabsorção e Secreção Tubular 1. Caso clínico 2. Introdução 3. A reabsorção tubular e seus mecanismos ativos e passivos de transporte 4. Os mecanismos de reabsorção e secreção tubular ao longo do néfron 5. Mecanismos de regulação da reabsorção e secreção Referências Mapa mental 6. Concentração e diluição da urina 1. Caso clínico 2. Introdução 3. Excreção renal de H2O vs urina diluída 4. Conservação renal de H2O vs urina concentrada 5. Controle da osmolaridade do sódio no líquido extracelular Referências Mapa mental 7. Regulação renal dos demais íons (K+, CA2+, PO4 3-, MG2+) 1. Caso clínico 2. Regulação da concentração do potássio extracelular e sua excreção 3. Mecanismo de excreção renal do potássio 4. Regulação da concentração do cálcio extracelular e sua excreção 5. Controle da excreção renal do cálcio 6. Regulação da excreção renal de fosfato 7. Concentração e excreção do magnésio extracelular Referências Mapa mental 8. Equilíbrio acidobásico 1. Caso clínico 2. Introdução 3. Conceitos elementares – ácidos e bases 4. Regulação da concentração do íon H+ 5. Mecanismos corporais de defesa: pulmões, tampões e rins 6. Secreção tubular de H+ e reabsorção tubular de HCO3- 7. Produção de “novo” HCO3- pela ação dos sistemas-tampões fosfato e amônia 8. Como os rins corrigem a acidose 9. Como os rins corrigem a alcalose Referências Mapa mental AUTORES VINICIUS SANTOS MOURA DE JESUS Interno do Curso de Medicina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), membro do canal Medicina Resumida e professor do projeto SanarFlix, da Editora Sanar. MARCELO AUGUSTO DUARTE SILVEIRA Professor da Sanar Residência Médica (Clínica Médica e Nefrologia). Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), especialista em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da FMUSP, Membro da Diretoria de Fisiologia e Fisiopatologia Renal da Sociedade de Nefrologia (Biênio 2019-2020), Médico Assistente do Serviço de Nefrologia (Grupo de Injúria Renal Aguda e Ambulatório de Tubulopatias) do HCFMUSP, Professor Colaborador da Disciplina de Nefrologia da FMUSP [entre 2016 e maio de 2019], Médico Assistente do Serviço de Nefrologia do Hospital São Rafael (Salvador, BA), especialista em Clínica Médica pelo Hospital Santa Marcelina-SP, Graduado em Medicina pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). AGRADECIMENTOS Escrever esse livro partiu da vontade de desmistificar o sistema renal/urinário humano, de que ele é complexo, difícil de entender e, por isso, precisa ser decorado com bastante detalhes. É justamente o caminho oposto da grande maioria dos livros-texto que procurei trilhar e fazê-lo, buscando facilitar ao máximo o seu entendimento. Essa coletânea, como um todo, traduz um intenso e dedicado trabalho para entregar o melhor e o mais prático conteúdo ao estudante da área de saúde, cujo tempo é bastante escasso e o volume de informações que precisa lidar e absorver é enorme ao longo de sua vida acadêmica. Nesse sentido, sinto-me profundamente feliz e realizado ao entregar essa obra a vocês. Muito obrigado pelos feedbacks, pelo apoio contínuo, paciência e motivação diária, o que, de fato, foi imprescindível para tudo isso se tornar realidade. Agradeço imensamente à valiosíssima contribuição e upgrades do coautor dessa obra, Prof. Dr. Marcelo Silveira, cujos entusiasmo, seriedade e precisão cirúrgica foram fundamentais ao fomento e execução dessa obra. Sua bagagem de conhecimento, vivências e comprometimento com a educação continuada em saúde agregaram uma qualidade sem igual a este trabalho. Gratidão! Não poderia deixar de agradecer também à Editora Sanar, que tem sido minha segunda casa há alguns anos, acolhendo e revolucionando a mente de quem aqui passa. Obrigado pela confiança e por acreditar num projeto inovador e facilitador de conhecimento que, sem sombra de dúvidas, irá ajudar muitas pessoas. Em especial, agradeço à Mau Mau (Maurício Lima) pelo convite, à Diana Cruz (pela dedicação, paciência e organização), à Isabela Ribeiro e ao Geisel Alves. Vocês são sensacionais! Ao Medicina Resumida, em especial à figura de Diego Barros (Stark), um irmão que a vida e a medicina me deram de presente. Obrigado pela confiança, perseverança e dedicação, irmão! Estaremos sempre juntos! À Alana Rodrigues (Laninha), Kevin Gomes (Kevito) e Evelyn Assis (Eve) pela companhia, força e parceria ao trilhar esse caminho juntos. Muito Obrigado! À minha família, em especial ao meu filhinho Theo (que, mesmo pequenino, me inspira e motiva diariamente a fazer o meu melhor, cada vez mais), às minhas amadas mãe e avó. Vocês são o meu maior exemplo de vida, de luta, de perseverança e me deram todas as ferramentas possíveis para que eu pudesse chegar até aqui, me ensinando que “[...] tudo o que fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para os homens” (Colossenses 3:23). Gratidão! – Vinicius Jesus A vida acadêmica requer paciência, humildade e perseverança; estes elementos são essenciais para que se alcance o esperado: a transmissão do saber. Aos meus Pais (Braz e Sandra) e meus irmãos (Maciel e Milla), vocês são minha inspiração. A Renata, meu amor, companheira e fonte de muita força, acompanhada de um coração imenso. Aos mestres que me transmitiram o melhor de si. – Marcelo Augusto Duarte Silveira APRENDER PODE SER MAIS FÁCIL E aí, preparada(o) para dominar o conhecimento acerca do Sistema Renal? Sim, é possível! Nós sabemos o quanto pode ser difícil compreender alguns temas nesse universo. Seja devido à linguagem demasiadamente rebuscada de algumas literaturas clássicas ou o excesso de detalhes que facilmente se perdem em sua memória. Por isso, desde já, queremos estabelecer um compromisso: nosso objetivo ao longo deste livro é fazer você absorver os principais pontosque são premissas para a formação de seu raciocínio clínico e, consequentemente, para a sua prática profissional futura. Assim, acreditamos estar direcionando seu tempo e energia, o que permitirá o aumento da sua eficiência no processo de aprendizado. Como bônus, estaremos abordando os pontos que, provavelmente, serão cobrados em suas avaliações. Justamente por terem mais relevância para a prática clínica. Entretanto, isso é um bônus. Nosso objetivo é fazer você se tornar um melhor profissional. E para isto, é imprescindível um conhecimento integrado. Conhecimento decorado para a prova é facilmente esquecido, já o que é verdadeiramente compreendido, fica para a vida. Com isso, entramos em uma outra preocupação que tivemos: a integração dos três pilares básicos de cada sistema orgânico (a anatomia, a histologia e a fisiologia). Apesar de termos momentos destinados a cada pilar neste livro, estaremos frequentemente correlacionando-os e permitindo que você obtenha uma visão mais global do processo. Algo que já é amplamente defendido por metodologias de ensinos mais modernas e que, mais uma vez, possui um bônus: a economia. Adquirir um livro para cada pilar costuma pesar no orçamento financeiro. Sendo assim, se você possuir um atlas de anatomia para associar a este livro texto, será o suficiente para um ótimo aprendizado. E vale ressaltar que boas imagens de anatomia não faltam na internet. Deixando mais uma vez o bônus de lado, vamos ao maior diferencial deste livro que é a sua metodologia. Você provavelmente deve saber que há duas metodologias principais nos cursos de saúde: a tradicional e o PBL (Problem Based Learning - “Aprendizado baseado em problemas”). Sendo que ainda há alguns cursos que adotam um modelo misto em que se mesclam as duas opções. A metodologia tradicional é o modelo que nos acostumamos durante o período escolar. Professor é detentor do conhecimento, realiza aulas expositivas abordando cada assunto e em alguns momentos são aplicadas avaliações para tentar mensurar o quanto foi aprendido pelo aluno. A metodologia PBL, em uma explicação simplificada, apresenta inicialmente um problema (geralmente um caso clínico), permite a discussão em um grupo utilizando os conhecimentos prévios e motiva o estudante a buscar as respostas para que em um segundo momento, os alunos possam compartilhar os seus aprendizados e construam conjuntamente o conhecimento. Desta forma, o professor pode avaliar diversos pontos além do conhecimento adquirido: a capacidade de ser parte de um grupo, a organização do raciocínio, a exposição do mesmo, dentre outras questões. Contudo, desta forma que apresentamos, deixa-se a entender que a metodologia PBL apenas possui vantagens, porém esta está longe de ser a absoluta verdade. Primeiro que é muito frequente se deparar com professores que não foram treinados para a metodologia, o que permite que os alunos fiquem sem um guia ou indevidamente orientados. Outra queixa comum entre os estudantes é que algumas instituições optam por um curto período entre a apresentação do problema e a discussão sobre o mesmo, não permitindo um tempo adequado de estudo para os estudantes absorverem o conteúdo necessário. E dentre diversos outros pontos frequentes, o principal é a insegurança. Os estudantes por não terem recebido o conhecimento do professor, fonte confiável, não conseguem sozinhos estabelecer quais informações são importantes em um oceano de referências possíveis. As consequências disso são inúmeras para o aprendizado e saúde mental dos estudantes. Por isso, talvez a resposta mais adequada seja o modelo misto, associado a professores devidamente capacitados. Neste, além das discussões, ocorrem aulas expositivas dos professores, quando são contemplados os principais pontos e/ou complementado o conhecimento exposto nas discussões. Mas afinal, e o livro? A coletânea Medicina Resumida foi concebida a partir da análise das principais vantagens e falhas de cada metodologia. Sendo assim, em cada capítulo você será inicialmente apresentado a um caso clínico, quando gostaríamos que você tentasse reconhecer os principais pontos e palavras chaves a serem estudadas. Este exercício mínimo irá aumentar o seu vínculo com o tema e, consequentemente, irá consolidar melhor em sua memória quando obter as respostas. E não se preocupe que ao virar a página, você irá encontrar o que consideramos importante e o(s) objetivo(s) do capítulo. O próximo passo então é a entrega do conteúdo. Essa é feita em cada capítulo com as características que defendemos ser importantes até aqui: uma abordagem integrada dos três pilares, utilizando uma linguagem adequada e focando nos pontos principais para a sua formação. Por fim, você ainda terá a sua disposição um mapa mental simplificado com os pontos principais que você precisa recordar em uma revisão rápida. Portanto, seja você de uma instituição com a metodologia tradicional ou PBL, esperamos te oferecer um recorte da experiência do que há de melhor nos dois mundos. Faça um ótimo proveito! O MEDICINA RESUMIDA O Medicina Resumida é um canal do Youtube fundado em março de 2014 por Diego Barros, quando estava nas férias para o 3º semestre do curso de medicina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). A proposta desde o início foi compartilhar o conhecimento e as experiências adquiridas com os demais estudantes dos cursos de saúde em uma época em que aulas em vídeos para o nicho ainda eram muito escassas. Após dois anos de crescimento, a demanda dos seguidores só aumentava e havia o desejo de contemplar todos os pedidos. Entretanto, a rotina densa de estudos era impeditiva. A solução foi definida em 2016, quando o canal contou com a sua primeira grande mudança. Foram convidados ao projeto mais cinco estudantes e amigos (Alana Rodrigues, Evelyn Assis, Gabriel Araponga, Kevin Gomes e Vinicius Jesus) que além de competentes, se alinhavam com a filosofia do projeto. Desde então, todos os esforços foram voltados à contemplar os conhecimentos do tripé básico dos sistemas orgânicos: a anatomia, a histologia e a fisiologia. Porém, não se limitando apenas a estes temas. O primeiro contato com a Editora Sanar ocorreu ainda em 2015 com a concepção da obra “100 Casos Clínicos Comentados em Medicina”, lançada em 2016 e amplamente requisitada ainda nos dias de hoje. O vínculo se fortaleceu em 2017 com a concepção da Coletânea Medicina Resumida e a união de esforços para o desenvolvimento de uma plataforma de educação médica que complementasse integralmente toda a faculdade de medicina: o SanarFlix. Projeto este que foi lançado no segundo semestre de 2017 e possui uma completa sintonia com esta coletânea lançada em 2018. Ambos frutos de um grupo alinhado em inovar a educação médica, utilizando como premissas a qualidade e a acessibilidade de seus projetos. E o Medicina Resumida? Apenas ganhou com essa união de esforços. Evoluiu em quantidade e qualidade para os seus seguidores. Pois a estrutura disponibilizada para o SanarFlix, também se estende ao Medicina Resumida e isso permitiu garantir uma maior qualidade técnica dos conteúdos (áudio e vídeo), assim como uma maior entrega na quantidade dos vídeos, inclusive com a participação de outros professores. Ainda não conhece? Confira como nos encontrar: • Canal Medicina Resumida: www.youtube.com/medicinaresumida • Instagram Medicina Resumida: @medresumida • SanarFlix: www.sanarflix.com.br • Instagram SanarFlix: @sanarflix.med Capítulo 1 SISTEMA RENAL: VISÃO GERAL E ANATOMIA 1. CASO CLÍNICO Dona Tereza, paciente do sexo feminino, 74 anos de idade, trabalhadora rural, compareceu ao Centro de Saúde do bairro onde mora com queixa de dor lombar de forte intensidade do lado direito, em cólica, associada à disúria, polaciúria e hematúria há 4 dias. Entretanto, há 2 dias, refere astenia e calafrios, que julgou ser resultante do calor que estava fazendo em sua cidade. Assim que entrou no consultório, onde foi atendida pelo Dr. Theo, sentou-se e mostrava-se agitada e incomodada; relatou que “éa pior dor que já sentiu na vida”. O jovem médico tentou tranquilizá-la e começou a fazer a anamnese. Dona Tereza, além de contar-lhe sua queixa principal, alegou também ser diabética, hipertensa e beber pouca água; e relatou dois episódios anteriores de infecção urinária tratada em casa com antibióticos orais. Após realizar exame físico, o Dr. Theo explicou para Dona Tereza que ela precisaria fazer um sumário de urina e uma ultrassonografia de rins e vias urinárias. Ele ainda explicou que, provavelmente, a Dona Tereza teve um episódio de nefrolitíase, e que esses exames ajudariam a confirmar sua hipótese diagnóstica, para que pudesse iniciar o seu tratamento. Dona Tereza, bastante questionadora, indagou o jovem médico: “Doutor, o que é isso? É uma doença? É grave? Tem cura?”. Prontamente, o médico explicou que a nefrolitíase era conhecida popularmente como “pedra nos rins” ou cálculos renais. Disse ainda que, provavelmente, ela iria expelir alguns cálculos pela urina, os quais seriam a causa da dor e do quadro clínico apresentado. Também a tranquilizou, dizendo que não é tão grave, mas requeria cuidado, e que ela poderia ser tratada e viver com uma boa qualidade de vida. Mostrou ainda a localização anatômica dos rins e explicou que eles eram os órgãos responsáveis pela filtração do sangue. Dona Tereza ficou bastante surpresa, uma vez que não sabia que tinha dois rins (e não apenas um, como supunha). Também não sabia onde exatamente eles ficavam; sabia apenas que tinha “formato de feijão”. Então, resolveu perguntar ao seu médico: “Se essas pedras são feitas nos rins, como eu vou botar pra fora essas pedras, meu filho?” Então, o Dr. Theo sanou as dúvidas de sua paciente, explicou o trajeto que os cálculos renais deveriam fazer até serem expelidos, explicando a anatomia do sistema renal e esclarecendo as dúvidas da Dona Tereza. Então, ela foi medicada com analgésicos e saiu do consultório com as requisições para realizar os exames complementares, além de estar menos preocupada e ansiosa como antes. 1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS DESCONHECIDAS Disúria; polaciúria; hematúria; astenia; calafrios; ultrassonografia; nefrolitíase; analgésico. 1.2 PALAVRAS-CHAVES Dor lombar; cólica; agitada; hipertensa; diabética; beber pouca água; infecções urinárias prévias; rins; vias urinárias. 2. VISÃO GERAL Os rins filtram, diariamente, cerca de 170 litros de sangue, sendo que cerca de 20% do débito cardíaco diretamente são filtrados pelos rins. Nós, seres humanos, nos adaptamos de tal forma no curso evolutivo que adquirimos diversas habilidades, e uma delas, que é vital à nossa existência, é a capacidade de obter energia de maneira eficiente e abundante. Obtemos essa energia, no entanto, dos alimentos que ingerimos diariamente através da nutrição e de processos metabólicos celulares. Entretanto, o nosso metabolismo celular é exotérmico – que libera energia a partir da degradação de moléculas orgânicas energéticas – e, em consequência disso, produzimos diversas outras substâncias que são inúteis, e algumas delas até tóxicas, que comprometem a nossa homeostasia orgânica. Essas substâncias derivam da oxidação dos carboidratos (açúcares), dos lipídios (gorduras) e das proteínas. Quando nossas células oxidam os carboidratos e lipídios, há obtenção de energia metabólica na forma de ATP e liberação de CO2 (gás carbônico) e H2O (água). Esse gás carbônico será eliminado, evidentemente, através dos alvéolos pulmonares pelas trocas gasosas. Já a oxidação das proteínas, aminoácidos e demais substâncias nitrogenadas faz liberar como subproduto o H2O, mas também são liberadas excretas nitrogenadas, sobretudo o NH3 (amônia), que é relativamente tóxico ao organismo fisiológico. Além da amônia, outros resíduos metabólicos são produzidos com certa frequência, tais como: o ácido úrico (derivado da metabolização dos ácidos nucleicos, como DNA e RNA); a creatinina (derivada da metabolização da creatina presente nos músculos); os produtos terminais de hormônios (modulando a concentração desses hormônios na corrente sanguínea) e da hemoglobina das hemácias (quando essas são destruídas no baço pelo processo denominado hemocaterese). Portanto, a natureza sabiamente percebeu que se fazia necessário ter alguma estrutura capaz de eliminar esses rejeitos do nosso organismo, e assim se fez. Mas essas substâncias inúteis não apenas derivam das moléculas orgânicas que delas nos utilizamos para benefício próprio. Constantemente, ingerimos substâncias estranhas ao nosso corpo e que em algum dado momento será necessário excretá-la. Por exemplo, quando um indivíduo tem uma amigdalite bacteriana e febre associada, por vezes é necessário tomar antibiótico, antitérmico e, às vezes, anti-inflamatórios para tentar resolver de maneira mais rápida e eficaz essa infecção. Após realizar seus respectivos mecanismos de ação e extinguir o processo infeccioso, esses fármacos – que são substâncias químicas de estrutura química bem definida, cujos efeitos são conhecidos, podendo ser benéficos ou não – são modificados e se transformam em substâncias inúteis que precisam ser eliminadas. Daí emerge a importância do sistema renal em eliminar tais substâncias químicas. Em resumo, o sistema renal se constitui como a principal via de eliminação de fármacos; no entanto, não é a única. Vários fármacos são eliminados por via biliar, sendo excretado nas fezes; outros têm menor eliminação através de secreções, tais como no leite materno, glândulas salivares, lágrima etc. Para além disso, também entramos em contato com substâncias nocivas sem percebermos; por exemplo, quando comemos aquela deliciosa salada e, às vezes, nos sentimos mal depois. Com o advento dos agrotóxicos e pesticidas, muitos legumes, verduras e hortaliças são contaminados por essas substâncias tóxicas, e o sistema renal, às vezes, é a única via de eliminação dessas substâncias. Então, já imaginaram o que seria de nós se não fosse esse papel vital dos rins? Os rins são responsáveis por filtrar e eliminar outras diversas substâncias (por exemplo, toxinas exógenas e endógenas, frutos do metabolismo celular), porém existem outras funções desempenhadas pelos rins que são essenciais para a homeostase. São órgãos bastante polifuncionais e, há um bom tempo, já se sabe que os rins realizam mais processos reguladores do que excretórios. E aí, você pode se questionar: os rins regulam o quê? Os rins regulam: (1) o volume dos líquidos corporais, sua concentração e o balanço e concentração de eletrólitos no corpo, (2) o balanço ácido-base e a (3) produção de alguns hormônios que serão secretados na corrente sanguínea. (1) Nosso corpo é formado predominantemente por líquidos, que em sua maioria são constituídos de H2O e eletrólitos (sais minerais). Um indivíduo jovem, do sexo masculino, e que pesa 70 Kg, por exemplo, possui cerca de 42 litros de água corporal total. Esse líquido corporal total está distribuído dentro e fora das células, assim como dentro dos vasos sanguíneos e em algumas cavidades do nosso corpo, porém a maior parte encontra-se no compartimento intracelular. Para que haja manutenção adequada do volume celular e tecidual normal, assim como a função do sistema cardiovascular precisa se manter estável, é necessário que os rins estejam controlando esses volumes e concentrações para que não ocorra desequilíbrio à condição vital celular. O número total de partículas dos solutos das soluções corporais é rotineiramente medido em miliosmol (mOsm). A partir daí, surgem as definições que expressam as concentrações dos líquidos celulares, que são a osmolalidade – quando a concentração é expressa em osmóis do soluto em questão por quilograma de água (mOsm/Kg de H2O); e a osmolaridade – que é a concentração de um soluto expressa em osmóis por litro de solução (mOsm/L de solução). Entretanto, em sistemas biológicos, costuma-se usar esses dois conceitos como sinônimos. O principal determinante da osmolalidade ou osmolaridade plasmática é o sódio, o qual é regulado, mantendo concentrações sanguíneas normais,graças aos rins. Vamos abordar essa discussão com mais detalhes no capítulo 6. A água é o solvente dos líquidos corporais, que, por sua vez, são soluções muito diluídas (os líquidos corporais possuem solvente em grande quantidade e uma quantidade muito baixa de solutos). Portanto, os volumes da solução e do solvente acabam sendo muito próximos. Além disso, a água tem densidade de 1 kg/L, e isso significa que cada litro de água “pesa” 1 kg. Então, concluímos que o volume do solvente é praticamente o mesmo da solução, permitindo, dessa forma, que possamos utilizar ambos conceitos – osmolalidade e osmolaridade – como sinônimos. É importante destacar, ainda, que é mais comum que a maioria das expressões de concentração dos líquidos corporais seja baseada muito mais na osmolaridade do que na osmolalidade. Ou seja, de maneira prática, quando você ler que quanto mais concentrado é um meio, entenda que maior será a sua osmolaridade. Além do mais, os rins, através do hormônio antidiurético (ADH), são os principais responsáveis pela manutenção da água, evitando, em situações normais, do fenômeno da desidratação. Além dos líquidos, os rins fazem a regulação da quantidade de eletrólitos, que são de vital importância para as funções celulares – p.ex., contração muscular, propagação do impulso nervoso, formação de energia metabólica celular na forma de ATP etc. – em todo o organismo, tais como o sódio (Na+), o potássio (K+), o cálcio (Ca2+), o magnésio (Mg2+), cloreto (Cl-), o íon hidrogênio (H+), o fosfato (PO4 3-) e o bicarbonato (HCO3 -). Para que a quantidade desses eletrólitos em nosso organismo se mantenha estável, com um balanço favorável à homeostase, a ingestão diária deve ser relativamente igual à excreção. Imagine que esse mecanismo funcione da seguinte maneira: você tem uma balança antiga de 2 bandejas, sendo que uma representa a ingestão e a outra a excreção. Na medida em que você vai ingerindo mais eletrólitos (por meio da água e dos alimentos) do que os excretando, a bandeja da ingestão vai se prevalecendo e essa bandeja desce; assim, quando a ingestão supera a excreção, há aumento na quantidade de eletrólitos no organismo e haverá um balanço positivo desses íons. Dessa maneira, algum sistema deve existir para garantir a eliminação do excesso. Em oposição, quando a excreção supera a ingestão, essa bandeja agora penderá no sentido da excreção e se prevalecendo sobre a ingestão; então, quando a excreção dos eletrólitos (principalmente por meio da urina) for maior que a ingestão destes, as quantidades no organismo irão reduzir e haverá um balanço negativo desses eletrólitos. Esse mecanismo é crucial, pois o sistema renal é a principal e, em muitas ocasiões, a única via de eliminação de muitos eletrólitos. (2) Diversos processos celulares metabólicos (conjunto de reações químicas que a célula realiza para obter produtos úteis e energia) são bastante sensíveis às variações bruscas do potencial hidrogeniônico (pH). Dessa forma, o sistema renal “desenvolveu” a capacidade de manter os líquidos corporais em níveis toleráveis de pH, a fim de que se evitem bruscas variações desse potencial. Não podemos esquecer, no entanto, que esse pH mede a concentração de íons H+ no organismo; quanto mais íons H+ tem em um meio, mais ácido ele fica, e menor será o seu pH. Como os rins fazem isso? Existe um mecanismo bastante eficiente e preciso para regular essas reações que são os tampões – proteínas plasmáticas produzidas no fígado que circulam na corrente sanguínea e nos fluidos corporais, as quais têm por objetivo principal evitar essas variações bruscas de pH, capturando os íons H+ e OH-. Além dos tampões, os rins e os pulmões possuem também uma enorme contribuição para a manutenção de um ambiente sem grandes perturbações que sejam danosas ao organismo. Como o rim ajuda a equilibrar esse balanço? Os aminoácidos são produzidos diariamente, de forma fixa (cerca 1 mmol de [H+]/Kg de peso), fruto do nosso metabolismo de proteínas. Os rins ajudam no balanço ácido-base através da eliminação desse H+, principalmente na forma de amônio (NH4) e reabsorvem todo o bicarbonato (HCO3 -) filtrado. (3) Os rins possuem ainda uma capacidade endócrina, por serem capazes de produzir hormônios (hormônio – substância química produzida por um grupo de células especializadas que será transportada pela corrente sanguínea, a fim de induzir uma resposta específica em outros tecidos). Dentre essas substâncias estão: a renina, que ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), responsável por participar ativamente no controle da pressão sanguínea arterial e no balanço do Na+ e K+ ao nível dos túbulos distais dos néfrons (vamos abordar esse tema no capítulo de reabsorção e secreção tubulares); o calcitriol, que é a vitamina D ativa, a qual possui atividade biológica, crucial para que o trato gastrointestinal absorva o Ca2+ de maneira adequada, além de contribuir posteriormente para a deposição desse íon no tecido ósseo; e a eritropoietina, um hormônio responsável por estimular a medula óssea vermelha a produzir a série eritroide, que dará origem aos eritrócitos (hemácias adultas), em diversas condições fisiológicas e patológicas. 3. ANATOMIA 3.1 OS RINS Anatomicamente, de acordo com a imagem 1, o sistema renal é composto pelos rins, ureteres, bexiga urinária e uretra. Quando se faz uma descrição macroscópica, os rins (direito e esquerdo) se assemelham a grãos de feijão e têm um diâmetro médio de 12 cm longitudinalmente (de “cima” para “baixo”), pesam aproximadamente 160 g em um homem adulto e estão situados na porção dorsal do abdome – denominado retroperitônio –, um de cada lado da coluna vertebral, entre a 12ª vértebra torácica (T12) e a 3ª vértebra lombar (L3). Imagem 1: Anatomia macroscópica do sistema renal (ou urinário humano) e seus órgãos constituintes. Se fizermos um corte longitudinal no rim, perceberemos que o seu tecido funcional, ou parênquima renal, é formado por 2 camadas visivelmente distintas entre si: a cortical e a medular. Envolvendo a camada cortical, externamente, há um revestimento de tecido conjuntivo, que é a cápsula renal, que por sua vez é revestida pela gordura perirrenal, conforme ilustra a imagem 2. Além disso, os rins possuem 2 bordas (ou faces): a borda convexa e a borda côncava, sendo esta denominada hilo renal – local por onde chegam os vasos sanguíneos, vasos linfáticos e fibras nervosas e de onde saem as pelves renais, que darão origem aos ureteres. Imagem 2: Estruturas que fazem parte da anatomia macroscópica dos rins. Note também a presença de estruturas microscópicas, como os glomérulos, túbulos e pequenos vasos sanguíneos. A córtex renal (ou camada cortical) – camada mais externa do parênquima renal – mede aproximadamente 1 cm (até aproximadamente 2 cm é o normal) de espessura em um homem adulto e contém estruturas microscópicas denominadas glomérulos renais, responsáveis pelo clearance (limpeza, depuração ou filtração) do sangue que chega aos rins, dando início à formação do filtrado glomerular, que é o precursor da urina. Depois que a urina é formada no parênquima, ela é ejetada em uma rede de cavidades: os cálices renais (cálices maiores, cálices menores) e a pelve renal, conforme mostra a imagem 3. Cerca de 3 a 4 cálices menores formam 1 cálice maior, e estes, quando se juntam em número de 2 ou 3, formam a pelve renal, que é contínua com o ureter e conduzirá a urina até a bexiga urinária. imagem 3: Cálices renais (cálices maiores, cálices menores), a pelve renal e o início do ureter, que conduzirá a urina até a bexiga urinária. Já a medula renal (ou camada medular) – camada mais interna do parênquima – é dividida em porção interna e externa, além de ser formada por 14 a 18 estruturas cônicas: as pirâmides de Malpighi, sendo que, entre uma pirâmide e outra, existe tecido cortical adjacente, denominado colunas de Bertin. As bases dessas pirâmides estão em contato com a camada cortical e os seus vértices estão em contato com os cálices menores por meio de saliências.Essas saliências das pirâmides são as papilas renais, as quais possuem, aproximadamente, 18 a 25 orifícios minúsculos para a passagem da urina recém-formada. Cada grupo de papilas renais acaba se abrindo para um cálice menor. Na porção final das papilas renais existe uma irregularidade epitelial (conhecida como placas de Randall) que facilita a calcificação e precipitação de microcristais, favorecendo assim a formação de cálculos renais (imagem 4). Imagem 4: ilustração esquemática da teoria que visa explicar a formação de alguns cálculos renais a partir das placas de Randall. Do ponto de vista didático, há uma outra classificação do tecido renal: por meio de lobos, sendo cada um formado por uma pirâmide de Malpighi e tecido cortical periadjacente, que será bastante útil para descrever posteriormente a complexa vascularização sanguínea renal. Destaco ainda que o entendimento claro da vascularização renal lhe será muito útil para compreender de forma mais fácil os mecanismos fisiológicos abordados nos próximos capítulos, os quais descreverão a formação da urina. As artérias renais são responsáveis por perfundir, ou seja, por nutrir o parênquima renal e derivam diretamente da artéria aorta abdominal. Elas se bifurcam de maneira progressiva até formar as artérias interlobares; dessas artérias se originam as artérias arqueadas que contornam perto do limite entre as camadas cortical e medular. Das artérias arqueadas surgem as artérias interlobulares que fazem o sangue fluir no sentido perpendicular e em direção à cápsula renal, ou seja, de modo ascendente, atravessando a córtex renal. Das artérias interlobulares se originam as tão famosas arteríolas aferentes, as quais darão origem às alças capilares glomerulares, que por sua vez se apresentam como um emaranhado de capilares dentro de uma estrutura coletora denominada cápsula de Bowman (a cápsula de Bowman será abordada com maiores detalhes no capítulo seguinte) (imagem 5). Da união dessas alças capilares vão surgir as arteríolas eferentes, que continuam seu trajeto para nutrir o restante da camada cortical renal com sangue arterial. Quando dizemos que o sangue é arterial, entende-se que ele tem alta pressão parcial de O2, ou simplesmente, “rico” em O2. Dessas arteríolas irão se formar os vasos peritubulares (fundamentais para o mecanismo de reabsorção tubular) e, posteriormente, originarão as arteríolas secundárias que se projetam agora no sentido medular para haver a perfusão dessa região. Estas arteríolas são conhecidas como vasos retos. Imagem 5: Ilustração da complexa vascularização renal. Note que da artéria renal surgem várias ramificações importantes (artérias interlobares, artérias arqueadas, artérias lobulares e, a partir destas, as arteríolas aferentes, capilares glomerulares e arteríolas eferentes). Entretanto, a vascularização da região medular realizada, sobretudo, pelos vasos retos é muito pobre, o que torna essa região bastante sensível a alterações de perfusão, por menores que sejam. Uma vez que o sangue arterial nutriu o parênquima renal e teve suas impurezas depuradas nos glomérulos, ele retornará, agora venoso, à circulação sistêmica por meio das veias (o sangue é dito venoso quando tem baixa pressão parcial de O2, ou simplesmente, “pobre” em O2). Portanto, os vasos do sistema venoso renal farão essa função. Esses vasos são paralelos às artérias, formando progressivamente as veias interlobulares, as veias arqueadas, as veias interlobares e as veias renais, que irão se inserir na veia cava inferior. 3.2 AS VIAS URINÁRIAS São formadas a partir dos cálices renais, que darão origem aos ureteres (direito e esquerdo). Os ureteres são ductos musculares derivados das pelves renais com cerca de 26 a 30 cm de comprimento em um indivíduo adulto e contêm lumens estreitos responsáveis por conduzir a urina formada até a bexiga urinária. A perfusão dessas estruturas tubulares é realizada por ramos diretos da aorta abdominal, das artérias renais (também da artéria polar inferior) e das artérias testiculares (ou ováricas nas mulheres) (imagem 6). Imagem 6: Vascularização do ureter esquerdo, em uma vista anterior da aorta abdominal (e ramos renais e bifurcação das artérias ilíacas comuns). Note os ramos arteriais abdominais e pélvicos que irrigarão este ureter. Já a drenagem venosa desses órgãos (ou seja, o sangue que retornará à circulação sistêmica após perfundir um órgão ou tecido) é realizada por veias que se unirão progressivamente e irão se ligar às veias renais e testiculares (ou ováricas, nas mulheres). A inervação responsável por controlar e possibilitar a contração e relaxamento dos ureteres é derivada dos plexos nervoso aórtico, renal e hipogástrico, que contêm fibras nervosas aferentes viscerais, responsáveis por conduzir a sensação dolorosa quando há algum estímulo (tal qual ocorreu com D. Tereza, com seu quadro de nefrolitíase) (imagem 7). Imagem 7: Ilustração da inervação do ureter, em uma vista anterior da aorta abdominal (e ramos renais e bifurcação das artérias ilíacas comuns). Note em destaque as fibras nervosas dos plexos renal, aórtico e hipogástricos, com seus ramos para o ureter direito. Essas fibras conduzem estímulos através das aferências viscerais e simpáticas para os gânglios sensitivos de nervos espinhais e segmentos medulares toracolombares (T10-L2/L3). 3.3 A BEXIGA URINÁRIA A bexiga urinária tem seu formato e tamanho modificados a depender se está cheia ou vazia. É uma víscera oca, com tecidos musculomembranosos, está em contato com as demais vísceras pélvicas vizinhas, funciona como reservatório temporário para a urina e se caracteriza por sua capacidade de distensibilidade na medida em que vai se enchendo de urina. A (imagem 8) ilustra uma pelve feminina em corte sagital mediano, na qual temos uma bexiga quando está vazia. Está situada na pelve menor, em relação direta com os ossos do púbis e tem o formato semelhante a um tetraedro achatado com o vértice voltado para frente. Possui um vértice (ou ápice), um fundo (ou base), um corpo, um colo e uma úvula. Quando a bexiga está cheia, seu formato é mais ou menos oval, como mostra a (imagem 9), que ilustra uma pelve masculina também em corte sagital mediano. • Ápice – aponta para a margem superior da sínfise púbica; • Fundo – formado pela parede posterior; é um tanto convexa e com íntimo contato com o peritônio (camada serosa que reveste as vísceras abdominais) • Corpo – parte entre o ápice e o fundo; • Colo – formado pelo encontro das faces laterais inferiores com o fundo; • Úvula – pequena projeção do trígono da bexiga (local onde se encontram os óstios, ou orifícios, dos ureteres e o óstio interno da uretra). Imagem 8: Corte sagital mediano de uma pelve feminina. Note a conformação da bexiga quando está vazia. Imagem 9: Corte sagital mediano de uma pelve masculina. Note a conformação da bexiga quando está cheia. A bexiga urinária das mulheres está em contato íntimo com o útero e a parte superior da vagina, na porção dorsal (ou posterior). Já a bexiga urinária dos homens tem sua porção posterior em contato íntimo com a ampola retal e a região inferior da próstata. A perfusão sanguínea vesical (da bexiga) é realizada por artérias derivadas dos ramos das artérias ilíacas internas, vesicais superior e inferior, obturatórias e glúteas inferiores. As veias que fazem a drenagem venosa desse órgão têm os mesmos nomes das respectivas artérias, e todas irão convergir e se inserir nas veias ilíacas internas. A inervação vesical é constituída pelos nervos esplâncnicos (viscerais) pélvicos, que contêm fibras nervosas que medeiam sua contração, efetuada pelo músculo detrusor da bexiga. 3.4 A URETRA MASCULINA A uretra masculina é um tubo muscular tem uma dupla função: conduzir a urina armazenada na bexiga urinária para o meio ambiente no ato da micção e conduzir o esperma proveniente dos testículos durante o ato sexual. Possui em sua extensão cerca de 20 cm de comprimento e inicia-se do óstio interno da uretra e termina no óstio externo dauretra, situado na glande peniana (imagem 10). Imagem 10: Corte sagital da anatomia descritiva da uretra masculina, que está dividida didaticamente em quatro partes. Anatomicamente, a uretra masculina é dividida em 4 partes: • Porção pré-prostática – ou porção intramural, é um segmento curto, tem mais ou menos 1 cm de comprimento e está compreendida entre o colo da bexiga urinária até a parte superior da próstata; • Porção prostática – é um segmento mais largo e dilatável, possui cerca de 3 cm de comprimento; nela, há vários orifícios (ductos ejaculatórios) por onde irão passar o esperma antes/durante a ejaculação; • Porção membranácea – é um segmento curto, com mais ou menos 2 cm de comprimento, é a menos dilatável e contém as glândulas bulbouretrais, responsáveis pela secreção do fluido pré- ejaculatório; • Porção esponjosa – é o segmento mais longo de todos, com cerca de 15 cm de comprimento e está contida no corpo esponjoso peniano; A perfusão arterial dessa estrutura é realizada por meio de ramos prostáticos das artérias vesicais inferiores, retais médias, e a drenagem venosa é realizada por meio de veias que obedecem a mesma nomenclatura das respectivas artérias (imagem 11). A inervação é realizada por fibras nervosas do plexo prostático, nervo pudendo e demais fibras que conduzirão as aferências para os nervos esplâncnicos pélvicos. Imagem 11: Ilustração, em uma vista posterior, artérias importantes que irrigarão a uretra masculina e estruturas próximas (parte pélvica dos ureteres, bexiga urinária, glândulas seminais, parte terminal do ducto deferente e próstata). 3.5 A URETRA FEMININA Em comparação com a uretra masculina, de acordo com a imagem 12, é relativamente menor e tem apenas a função excretora do conteúdo armazenado na bexiga urinária. Possui aproximadamente 4 cm de comprimento, 6 mm de diâmetro luminal e conduz a urina de um orifício interno de saída (óstio interno) até um orifício externo de saída da urina para o meio ambiente (óstio externo da uretra) – sendo este último situado no vestíbulo da vagina. Imagem 12: A ilustração, além de evidenciar a uretra feminina (e seu tamanho menor em comparação com a uretra masculina), ilustra a pelve feminina em um corte sagital mediano e as estruturas dos órgãos aí contidos. A uretra feminina é perfundida por sangue arterial, que chega pelas artérias pudenda interna e vaginal, e o recolhimento do sangue venoso é realizado pelas veias de mesmo nome das respectivas artérias (imagem 13). A inervação é realizada pelas fibras nervosas do nervo pudendo e outras fibras que irão conduzir as aferências para os nervos esplâncnicos pélvicos, à semelhança do que ocorre nos homens. Imagem 13: Irrigação arterial das estruturas uterinas, ovário, vagina e outros ramos arteriais importantes que irrigam a uretra feminina. REFERÊNCIAS IMAGENS 1. GOOGLE IMAGENS. Acesso em: 28 abril. 2019. 2. GOOGLE IMAGENS. Acesso em: 28 abril. 2019. 3. BERNE; LEVY. Fisiologia. Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2009. 4. GOOGLE IMAGENS (adaptada). Acesso em: 28 abril. 2019. 5. GOOGLE IMAGENS (modificada). Acesso em: 28 abril. 2019. 6. MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2014. 7. MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2014. 8. MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2014. 9. MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2014. 10. GOOGLE IMAGENS. Disponível em <https://www.lucasnicolau.com/img/postagem/4/uretra.jpg.>. Acesso em: 28 abril. 2019. 11. MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2014. 12. GOOGLE IMAGENS (modificada). Acesso em: 28 abril. 2019. 13. GOOGLE IMAGENS (adaptada). Acesso em: 28 abril. 2019. REFERÊNCIAS 1. MOORE, K. L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2014. 2. STANDRING, S. Grays Anatomia. A base anatômica da prática clínica. 40a Ed. Elsevier Editora Ltda: Rio de Janeiro: 2010. 3. DANGELO, J. G. et al. Anatomia humana sistêmica e segmentar. Rio de janeiro: Livraria Atheneu, 2007. 4. BERNE; LEVY. Fisiologia. Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2009. 5. HALL, J. E; GUYTON & HALL: Tratado de Fisiologia Médica, 12 ed. Rio de Janeiro; Editora Elsevier, Rio de Janeiro. 2011. 6. AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. 4 Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2012. 7. SILVERTHORN, Dee U.; Fisiologia Humana: Uma abordagem integrada. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 8. BARRET, Kim E. et al. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. https://pt.dreamstime.com/foto-de-stock-sistema-urin%C3%A1rio-f%C3%AAmea-image5564010 http://www.bibliomed.com.br/bibliomed/bmbooks/anatomia/livro2/cap/fig05-41.htm https://jasn.asnjournals.org/content/jnephrol/28/1/333/F9.medium.gif https://ruadaconstituicao.files.wordpress.com/2015/01/2015010601.png https://www.auladeanatomia.com/genitais/bexiga2.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ae/Gray1170.png 9. COSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. CONFERÊNCIAS Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida sobre os assuntos abordados nesse capítulo! Capítulo 2 HISTOLOGIA DO SISTEMA RENAL 1. CASO CLÍNICO Diego, um jovem menino de 7 anos, foi trazido à Unidade Básica (UBS) do bairro onde mora por seu pai, seu Bira, com queixa de otalgia à esquerda com saída de secreção amarelada, há doze dias. Nesse período, não apresentou nenhum outro sintoma e foi iniciado o tratamento com amoxicilina com clavulanato. Dez dias após este episódio, evoluiu com um edema periorbital e, após dois dias, abriu um quadro febril de 39,5° C. Dessa vez, foi levado por seu genitor a uma unidade de pronto-atendimento (UPA) anexa a um hospital geral, onde foi medicado com cetoprofeno. No dia seguinte, Diego evoluiu com tosse, dispneia e alteração na coloração urinária. Tendo em vista o quadro apresentado, prontamente o médico plantonista entrou em contato com a regulação e achou prudente encaminhá-lo ao hospital ao lado para uma investigação mais detalhada do quadro. Seu pai referiu que as demais crianças que têm contato com ele na escola e na rua onde moram apresentam “inflamação de garganta” constantemente. Na admissão, Diego encontrava-se com regular estado geral, taquidispneico, anictérico, acianótico, hidratado, febril e descorado (+/IV). O exame físico evidenciou como achados relevantes uma redução do murmúrio vesicular em base pulmonar do hemitórax esquerdo. Preocupado, o Dr. Maurício solicitou um hemograma completo, com contagem diferencial, PCR, ASLO, testes laboratoriais de função renal, como ureia e creatinina, além de um sumário de urina. Enquanto aguardava o resultado dos exames laboratoriais, pensou em algumas hipóteses diagnósticas e as discutiu com seu colega plantonista, o residente em nefrologia Dr. Léo, com quem dividia o plantão, e os internos de medicina da UPA. 1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS DESCONHECIDAS Otalgia; edema; amoxicilina com clavulanato; cetoprofeno; murmúrio vesicular; taquidispneia; hemograma; PCR; ASLO. 1.2 PALAVRAS-CHAVES Otalgia com saída de secreção amarelada; edema periorbital; febre; tosse; dispneia; alteração na coloração urinária; “inflamação de garganta” constante; testes de função renal; sumário de urina. 2. INTRODUÇÃO É muito provável, quando você está estudando um tema interessante ou que já tenha alguma bagagem prévia, que tenda a pular as partes mais introdutórias ou assuntos que julga ser menos importantes, para que possa chegar logo aos “finalmente”. Realmente, acontece que essa tática pode, em alguns casos, até dar certo e não comprometer significativamente o seu entendimento de todo um conteúdo. No entanto, quando estamos estudando sistema renal, pular esse capítulo de histologia pode trazer complicações ao seu entendimento da fisiologia e aos mecanismos patológicos desse sistema. Talvez pelo não entendimento correto desse sistema, muitos estudantes acabam decorandoos processos e, dessa forma, torna-se uma temática chata e bastante penosa de decorar tantas características. É fácil, no entanto, visualizar a importância fundamental que a histologia renal tem para fornecer subsídios a fim de que compreendamos aspectos mais complexos. Por exemplo, como é possível compreender as glomerulonefrites se não soubermos o que é um glomérulo, o que o constitui, suas funções e quais células formam essa estrutura? Como é possível entender as nefropatias mesangiais sem saber o que são células mesangiais e as suas funções? Como também é possível entender as síndromes nefrótica e nefrítica sem conhecer os componentes da barreira de filtração? Como é possível entender os processos fisiológicos de filtração, secreção e reabsorção ao longo dos néfrons sem saber do que são constituídos e o que fazem os néfrons? Talvez, tenha ao menos te convencido um pouco a não perder essa oportunidade de entender esse tema de uma vez por todas. Então, ao longo desse capítulo, vamos tentar desfazer essa impressão de assunto difícil de entender e tentar eliminar possíveis aversões que possam existir. 3. O NÉFRON Já sabemos que o sistema renal possui a função de depuração, ou seja, é responsável por remover as toxinas e demais substâncias inúteis derivadas do metabolismo celular, as quais circulam no sangue, e as eliminam do corpo por meio da urina. Além disso, esse sistema tem a capacidade de manter a constância na concentração de vários eletrólitos – que são os sais minerais presentes nos líquidos corporais –, da glicose, de proteínas, do volume da água corporal e de outras substâncias químicas contidas no organismo. Sabemos também que esse sistema exerce papel fundamental na regulação da pressão sanguínea arterial e no equilíbrio ácido-básico, devido à capacidade de produzir, conservar e eliminar determinadas substâncias químicas no organismo. A compreensão da histologia renal está intimamente relacionada com os aspectos microscópicos da estrutura funcional desse sistema – responsável pela função de depuração e regulação –, que são os néfrons. Se alguma vez nós já ouvimos a célebre frase que “os rins são os filtros do nosso corpo”, isso se deve aos néfrons, pois se os rins são comparados aos filtros, os néfrons seriam as velas desse filtro, realizando assim o papel de limpeza do sangue. Os néfrons são estruturas tortuosas, contorcidas (ou convolutas), que fazem a modificação do líquido filtrado (derivado do plasma sanguíneo) que passa por eles, cujas substâncias, tais como água e os eletrólitos, serão eliminadas na forma urina, que é o produto final formado na excreção. Em cada rim humano podem existir até 1,5 milhão de néfrons. Esses diversos néfrons drenam o conteúdo líquido para um único túbulo coletor e vários túbulos coletores vão se confluindo até formar ductos cada vez maiores. Estes ductos maiores, denominados ductos de Bellini, perfuram a papila renal até escoar a urina até os cálices renais menores, conforme ilustra a imagem 1. Imagem 1: Anatomia microscópica do rim, evidenciando a anatomia descritiva do néfron. Nos rins da espécie humana há basicamente dois tipos de néfrons: os néfrons corticais – que são generosamente mais curtos –, e os néfrons justamedulares – que são mais longos, cujos corpúsculos renais estão na região do córtex renal e as porções tubulares estão na região da medula renal. À propósito, a região medular renal pode ser dividida – usando como critérios o tipo de células que a constitui e a localização dos dois tipos de néfrons – em zona interna e zona externa. A região glomerular renal recebe sua irrigação sanguínea por meio de alças capilares derivadas, por sua vez, da arteríola glomerular aferente e o sangue é drenado pela arteríola glomerular eferente. Ou seja, no que se refere à vascularização sanguínea glomerular, o sangue chega e sai dos glomérulos por meio de arteríolas que conduzem sangue arterial (sangue com alta pressão parcial em O2). Os néfrons, contudo, possuem várias adaptações celulares ao longo de sua extensão para desempenhar suas funções. Por isso esse formato tão característico. Cada néfron possui em sua porção inicial uma estrutura denominada corpúsculo renal (ou corpúsculo de Malpighi). Cada corpúsculo é constituído pela cápsula de Bowman e por um tufo de capilares glomerulares (ou simplesmente glomérulo), que tem a função de formar o líquido filtrado derivado do sangue (filtrado glomerular). Na continuidade do néfron, as porções tubulares – que são o túbulo proximal, os ramos da alça de Henle (ramos descendente fino, ascendente fino e ascendente espesso), túbulo distal, túbulo de conexão e túbulo coletor – são responsáveis por modificar o filtrado através de processos de reabsorção ao longo do túbulo e elaborar a urina. Ou seja, desde a chegada de sangue em arteríola aferente até a formação da urina, existem os seguintes mecanismos: filtração (a nível glomerular), reabsorção (a nível tubular) e excreção (processo final de eliminação da urina). Cada parte dos néfrons será descrita separadamente. 3.1 O Corpúsculo Renal Antes conhecido como corpúsculo de Malpighi, o corpúsculo renal está na extremidade proximal do néfron e tem um aspecto de bolsa oval dilatada. É formado pelo tufo de alças capilares – o glomérulo –, que está inserido dentro da cápsula de Bowman, localizado mais especificamente no espaço de Bowman. O glomérulo está separado da cápsula de Bowman pelo espaço de Bowman (ou espaço capsular), responsável por receber o filtrado glomerular advindo dos capilares glomerulares. Fazendo parte dos capilares glomerulares, formando a barreira de filtração glomerular, existem o endotélio fenestrado, membrana basal glomerular e podócitos – que iremos descrever suas funções logo mais adiante, separadamente. 3.1.1 O Glomérulo O glomérulo é uma estrutura vascular formada por um novelo de alças capilares fenestradas e anastomosadas entre si, cujos ramos formadores derivam da arteríola aferente e, posteriormente, irão se juntar até formar a arteríola eferente, responsável pela drenagem do sangue que percorreu os capilares. Os capilares glomerulares formam a Barreira de Filtração Glomerular. Essa barreira é formada por três estruturas: endotélio fenestrado, membrana basal glomerular (MBG) e as fenestrações (ou fendas dos podócitos). Essa barreira possibilita a passagem do filtrado e dos eletrólitos, mas impede a passagem dos elementos figurados sanguíneos (leucócitos, hemácias, plaquetas, albumina etc.), que são relativamente grandes. Esse impedimento é tanto mecânico quanto elétrico. Cada elemento dessa barreira possui uma função: O endotélio fenestrado possui diversos poros (fenestrações) com a função de permitir o trânsito livre de água e moléculas pequenas (Na+, glicose etc.) e de impedir que elementos grandes – como células sanguíneas e algumas proteínas plasmáticas – atravessem livremente; nesse sentido, funcionam como uma barreira mecânica. A membrana basal glomerular é formada por colágeno tipo IV e outras proteínas, como a laminina, a fibronectina e um proteoglicano polianiônico (que possui carga elétrica negativa) – que repele várias substâncias de carga negativa, impossibilitando de serem filtradas; portanto, funcionam como uma barreira elétrica. Os podócitos possuem processos denominados pedicelos que se interdigitam (cobrindo a membrana basal glomerular) e formam espaços visíveis separados chamados de fendas de filtração. Cada fenda de filtração é recoberta por um fino diafragma que contém poros muito pequenos e é constituído por várias proteínas (nefrina, NEPH-1 e podocina) (imagem 2). A função dessas fendas é filtrar e selecionar as moléculas pelos seus tamanhos, impedindo que proteínas e outras macromoléculas, ao cruzarem a membrana basal, adentrem o espaço de Bowman. Imagem 2: Anatomia dos processos podais dos podócitos, ilustrando as proteínas (nefrina, NEPH-1, podocina etc.) que formam o diafragma da fenda, situado entre dois processos podais adjacentes. Importante ainda destacar que os podócitosestão situados no folheto visceral da cápsula de Bowman (imagem 3) e são grandes células epiteliais especializadas. Elas possuem adaptações importantes para a realização da filtração, que são os longos e vários prolongamentos citoplasmáticos semelhantes a tentáculos ou pés (daí o seu nome; podócitos = células que têm pés), conhecidos como prolongamentos primários (os maiores) e os prolongamentos secundários (os menores) – que são ramificações menores daqueles, como mostra a imagem 4. Imagem 3: Esquematização dos podócitos, da membrana basal glomerular, do endotélio fenestrado e do transporte de algumas moléculas através dessa barreira. Imagem 4: Outra ilustração dos podócitos, da membrana basal glomerular e do endotélio fenestrado. Notem os prolongamentos primários e secundários dos podócitos. Além disso, em íntimo contato com o glomérulo, dentro da cápsula de Bowman, existe um tipo celular especial, denominado célula mesangial. As funções das células mesangiais (ou simplesmente mesângio) ainda não estão totalmente esclarecidas, elas possuem uma capacidade fagocitária, participando do sistema imune a nível renal, contribuindo para a defesa contra infecções, deposição de complexos de antígenos e/ou anticorpos e demais injúrias. Ou seja, é como se fosse o “carro do lixo”, que recolhe todas as impurezas filtradas. Outra função atribuída ao mesângio é que as células possuem uma atividade contrátil pelo fato de possuírem alguns receptores para a angiotensina II (uma substância de potente ação vasoconstritora), possibilitando que, após a contração, o fluxo sanguíneo que chega ao glomérulo seja reduzido. Fazem também algum grau de sustentação dos capilares glomerulares, além de possuírem receptores para o peptídeo natriurético atrial (PNA) – um hormônio de ação vasodilatadora que promove o relaxamento dessas células, possibilitando o aumento do aporte sanguíneo nos capilares e da taxa de filtração, ao contrário do que a angiotensina realiza. 3.1.2 A Cápsula de Bowman A cápsula de Bowman possui dois folhetos distintos: o folheto visceral e o folheto parietal, tendo entre eles uma região que é o espaço de Bowman. O folheto mais interno é o folheto visceral da cápsula de Bowman, formado pelos podócitos, ao passo que o folheto mais externo da cápsula, denominado folheto parietal, é constituído por células epiteliais simples. 3.2 O Túbulo Proximal Na continuidade do néfron, surge o túbulo proximal, que é constituído de duas regiões distintas: o túbulo contorcido proximal e a parte reta do túbulo proximal. Na medida em que se afasta do folheto parietal da cápsula de Bowman e se aproxima do túbulo proximal, há uma mudança histológica nessa parte do néfron, em que o epitélio pavimentoso simples começa a dar lugar ao epitélio cuboide simples. O túbulo proximal é constituído por uma região altamente contorcida, denominada túbulo contorcido proximal, cuja localização é mais proximal ao corpúsculo renal, e uma parte reta denominada ramo descendente espesso da alça de Henle – que desce pelo córtex em direção à medula e é contínua com a alça de Henle propriamente dita. O túbulo proximal é dividido em porções S1, S2 e S3. A porção S1 compreende 2/3 do segmento convoluto, o S2 compreende o final da porção convoluta e início da porção renal, e o S3 compreende-se na maior parte do segmento reto. As células localizadas em túbulo proximal possuem muitas mitocôndrias, o que reflete numa alta intensidade metabólica e gasto energético para realizar intensas taxas de reabsorção de água, eletrólitos e glicose, e possuem também a modificações na membrana plasmática apical com função de otimizar a reabsorção dessas substâncias, que são as bordas em escova. Nessa porção proximal do túbulo, as células aí presentes fazem uma intensa reabsorção (até cerca de 65-70%) de sódio, cloreto, água e outras substâncias presentes no ultrafiltrado glomerular. Além disso, nesta porção existe a secreção de substâncias (por exemplo, creatinina e alguns fármacos), bem como o processo de amoniogêse renal – produção de amônia e bicarbonato de sódio a partir do aminoácido glutamina (imagem 5). Imagem 5: Esquematização das células do túbulo proximal, das substâncias as quais serão reabsorvidas (sódio, cloreto, água etc.) e serão secretadas (creatinina e alguns fármacos). 3.3 A Alça de Henle É uma região tubular contínua, com o túbulo proximal no formato da letra U, possuindo quatro regiões diferentes: (1) o ramo descendente delgado, (2) a alça de Henle propriamente dita, (3) o ramo ascendente delgado e (4) o ramo ascendente espesso (imagem 6). Imagem 6: Esquematização do néfron como um todo e suas principais porções tubulares. Observe o destaque para a alça de Henle com formato da letra U e sua divisão em quatro regiões diferentes: (1) ramo descendente delgado, (2) alça de Henle propriamente dita, (3) ramo ascendente delgado e (4) ramo ascendente espesso. Como já descrito anteriormente, a porção reta do túbulo proximal é contínua com o ramo delgado da alça de Henle. Essa porção delgada da parte ascendente da alça de Henle é formada, histologicamente, por células epiteliais pavimentosas. Nos néfrons corticais, esse segmento delgado é bastante curto; já os néfrons justamedulares, que são maiores, têm ramos delgados descendentes mais compridos, os quais descem profundamente em direção à medula até a região da papila renal. Em seguida, há uma região contínua da alça que forma uma curva fechada em forma de U, é a alça de Henle (propriamente dita) e, posteriormente, a região que se segue após essa curva é o ramo ascendente delgado da alça de Henle, que se liga ao ramo ascendente espesso e, logo adiante, à parte reta do túbulo distal. O ramo descendente delgado é bastante permeável à água e pouco permeável à ureia, cloreto de sódio e outros eletrólitos. Não perca de vista que a principal diferença entre os ramos ascendente delgado e descendente delgado é que a porção ascendente é muito menos permeável à água, porém mais permeável a solutos, tais como os eletrólitos. A porção descendente fina sendo permeável a água e a porção ascendente fina sendo impermeável a água e permeável a eletrólitos permite um mecanismo conhecido como contracorrente, no qual, devido à porção ascendente, faz a osmolaridade intersticial aumentar à medida que a alça desce em direção a medula renal. 3.4. O Túbulo Distal Depois da alça de Henle vem o túbulo distal, e ele possui três segmentos principais: a parte reta – que é contínua com o ramo ascendente espesso da alça de Henle –, a mácula densa e a região contorcida – chamada de túbulo contorcido distal. A mácula densa nada mais é do que um segmento modificado do túbulo distal, com função de monitorar a chegada ou não de sódio nesse segmento, estando localizada entre o ramo ascendente espesso e o túbulo contorcido distal, como mostra a imagem 7. Imagem 7: Cápsula de Bowman, os glomérulos, as arteríolas (aferente e eferente) e células especializadas do ramo ascendente espesso e túbulo contorcido distal – formadoras da mácula densa. Histologicamente, o ramo ascendente espesso é formado por células epiteliais cuboides baixas, que possuem bastante microvilosidades, as quais serão importantes no processo de secreção e reabsorção tubulares. Do ponto de vista funcional, esse segmento é impermeável à água e à ureia, além de suas células possuírem bombas de cloreto e sódio, auxiliando no transporte ativo desses íons para fora da luz do túbulo. Essa característica permite que o filtrado que chega ao túbulo distal, sobretudo, ao nível do córtex renal, tenha concentração iônica baixa e concentração alta de ureia. NOTA – O Aparelho Justaglomerular O aparelho justaglomerular é uma estrutura formada pela mácula densa do ramo ascendente espesso e do túbulo distal, por células justaglomerulares – majoritariamente da arteríola aferente adjacente, e poucas da arteríola eferente – e células mesangiais extraglomerulares, como ilustra essa imagem 8. Imagem 8: Aparelho justaglomerular – estrutura formadapor células da mácula densa, por células justaglomerulares e células mesangiais extraglomerulares. A mácula densa possui células com diversas modificações já descritas, apresentando células altas, estreitas e com núcleos bastante corados. Já as células justaglomerulares são células musculares lisas, com algumas modificações estruturais que permitem sintetizar e secretar a Renina – importante substância na ação do sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona – e estão situadas na túnica média das arteríolas aferentes; e as células mesangiais estão entre a arteríola aferente, mácula densa, arteríola eferente e os capilares glomerulares. Quando uma quantidade excessiva de líquido é filtrada pelo glomérulo para o sistema tubular, sinais de feedback da mácula densa – cujas células são sensíveis às alterações do cloreto de sódio tubular – provocam a constrição das arteríolas aferentes, reduzindo assim o fluxo sanguíneo renal e a filtração glomerular para níveis normais ou próximos a eles. Dessa forma, o aparelho justaglomerular protege essas estruturas vasculares e regulam a pressão arterial sanguínea sistêmica. 4. OS TÚBULOS E DUCTOS COLETORES Embora suas estruturas sejam contínuas com os segmentos do néfron, eles não fazem parte do néfron propriamente dito apenas porque têm uma origem embriológica distinta. Descritivamente, tanto os túbulos quanto os ductos coletores são retilíneos. A urina, após sofrer várias modificações de composição e concentração ao longo do néfron, é drenada dos túbulos contorcidos distais até os túbulos coletores, que irão se unir progressivamente até formar tubos mais calibrosos denominados ductos coletores. Vale reiterar que a urina é derivada da modificação do ultrafiltrado glomerular, e o túbulo coletor possui um papel-chave na determinação da composição e concentração final da urina que será conduzida até a papila renal (situada na medula renal). Do ponto de vista histológico, os túbulos coletores são formados por epitélio cuboide simples e sua função é modificar e transportar a urina recém-formada do néfron até os cálices menores. Portanto, destacaremos os dois tipos de células que não podem ser esquecidas: As Células Principais – possuem núcleos centralizados e ovais, além de curtas bordas em escova. Sua membrana basal possui bastante invaginações, sua membrana lateral é lisa e a sua função ainda não está esclarecida; As Células Intercaladas (Intercalares) – têm muitas vesículas na face apical da membrana, núcleos centralizados e redondos. Sua principal função é transportar e secretar ativamente o H+ contra o gradiente de concentração, ajudando a regular o equilíbrio ácido-básico corporal. Em contrapartida, os túbulos coletores medulares são mais calibrosos, devido ao fato de serem formados pela junção de vários túbulos coletores corticais. As células principais e intercalares estão nos túbulos da zona externa da medula. Já os túbulos coletores papilares – conhecidos como ductos de Bellini – contêm apenas células principais, são grandes e formados pela união sucessiva dos túbulos coletores medulares. Do ponto de vista funcional, os túbulos coletores são normalmente impermeáveis à água. No entanto, quando o hormônio antidiurético (ADH) está presente, eles se tornam permeáveis à água e garantem a concentração urinária final (a fisiologia do ADH sobre esses túbulos e mecanismo da diluição e concentração da urina serão abordados detalhadamente no capítulo 6). 5. O INTERSTÍCIO RENAL O interstício renal – ou tecido renal – é constituído, basicamente, de tecido conjuntivo entremeado por fibroblastos, macrófagos e células intersticiais. O tecido que envolve externamente os rins é formado por tecido conjuntivo denso não modelado, com fibras colágenas e elásticas. O interstício renal tem sua importância na funcionalidade desses órgãos, pois são responsáveis por produzir e liberar a eritropoietina. A despeito de ainda ser uma hipótese (sim, porque os mecanismos envolvidos ainda não são bem estabelecidos), acredita-se que sua síntese e secreção devam ser realizadas provavelmente pelas células endoteliais da rede capilar peritubular, ou das células do tecido conjuntivo cortical e da medula renal externa. 6. AS VIAS URINÁRIAS Realmente, fica mais fácil compreender as estruturas das vias urinárias quando imaginamos que a sua formação nada mais é do que a união de estruturas menores entre si até formar estruturas cada vez maiores, de modo que a urina possa ser conduzida ao seu destino final. Do ponto de vista macroscópico, cada ápice de uma pirâmide renal se encaixa em um cálice menor, que se une uns aos outros até formar um cálice maior, o qual irá se juntar com os demais cálices maiores até convergir e formar a pelve renal, que é contínua com os ureteres e considerada o início das vias urinárias, como descrevemos no capítulo 1. Microscopicamente, o ápice da pirâmide renal que se projeta no cálice menor é formada em parte por epitélio de transição. Sob a lâmina própria desse epitélio, há uma delgada túnica muscular composta totalmente de células musculares lisas e sua função básica é impulsionar a urina para as partes posteriores das vias urinárias, até que a urina alcançar a bexiga urinária. 6.1 Os Ureteres Os ureteres são tubos musculares ocos condutores de urina, medindo cerca de 26 a 30 cm de comprimento cada e se inserem na base da bexiga. Sua estratificação histológica é bem definida em: 1. Túnica mucosa – responsável por revestir internamente o lúmen tubular. Possui um epitélio de transição, uma camada de tecido conjuntivo fibroelástico não modelado e uma lâmina basal, que a separa da lâmina própria; 2. Túnica muscular – possui duas camadas de músculo liso sobrepostas entre si: uma camada longitudinal interna e uma circular externa (ou seja, a disposição tecidual é oposta à encontrada no trato gastrointestinal). Na região do terço distal do ureter, mais próximo à bexiga, uma terceira camada muscular é encontrada mais externamente, com disposição longitudinal. Ou seja, nessa porção distal do ureter a disposição tecidual muscular é: longitudinal externa, circular média e longitudinal interna; 3. Cobertura fibrosa de tecido conjuntivo – reveste as vias urinárias externamente. 6.2 A Bexiga Urinária A bexiga urinária é um órgão armazenador de urina. O seu esvaziamento ocorre a partir do aumento progressivo da pressão interna até que se torne alta o suficiente para induzir o mecanismo neuromuscular da micção (esvaziamento da bexiga). A bexiga também possui uma túnica mucosa que apresenta várias dobras que desaparecem após a distensão da bexiga pelo seu enchimento com urina. Na realidade, esse “desaparecimento” das pregas é devido ao achatamento do epitélio de transição aí contido após o processo de distensão da bexiga, e não pela mudança de epitélio. A zona triangular da bexiga, cujos ápices são os orifícios dos dois ureteres e da uretra, é denominada trígono vesical. A mucosa do trígono é lisa e não forma dobras e a camada muscular da bexiga também é constituída de três túnicas de músculo liso. Na região do colo da bexiga, as túnicas musculares são dispostas em: camada longitudinal interna, camada circular média e camada longitudinal externa, sendo as camadas longitudinais finas e a camada circular mais robusta. É justamente essa camada circular média que forma o músculo do esfíncter interno em torno do óstio interno da uretra. Já a túnica adventícia (túnica mais externa) da bexiga é formada por tecido conjuntivo denso e, em algumas regiões, é coberta externamente por peritônio. 6.3 As Uretras A uretra nada mais é do que um tubo muscular oco responsável por conduzir a urina armazenada na bexiga até meio externo, tornando assim possível a sua eliminação. Pelo fato de conter o músculo do esfíncter externo que envolve a uretra, o controle voluntário da micção é possível em indivíduos saudáveis e com maturidade neuromuscular. A uretra feminina é menor que a masculina, como já descrito no capítulo 1, e contém um epitélio de transição, próximo à bexiga, e,no restante da sua extensão, possui um epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado. Além disso, possui uma lâmina própria fibroelástica e glândulas de Littré secretoras de muco, que irá lubrificar o revestimento interno. Já a uretra masculina tem uma função dupla (urinária e reprodutora) e possui uma divisão em 3 segmentos (e alguns autores até consideram 4 segmentos, sendo adicionada a uretra pré-prostática ou porção intramural da uretra, que está entre a bexiga urinária e a uretra prostática): 1. Uretra prostática – tem cerca de 3-5 cm de comprimento, é revestida por epitélio de transição e nela se abrem diversos pequenos ductos da próstata, o utrículo prostático e o par de ductos ejaculadores; 2. Uretra membranosa – tem cerca de 1,5-3 cm de comprimento, é revestida predominantemente por epitélio colunar estratificado; 3. Uretra esponjosa – ou uretra peniana, é a porção mais longa da uretra (15- 18 cm de comprimento) passa por toda a extensão do pênis, terminando na ponta da glande peniana no orifício externo da uretra; possui epitélio colunar estratificado e pseudoestratificado, além de pavimentoso estratificado não queratinizado. Há também em toda a extensão uretral masculina a lâmina própria fibroelástica e glândulas de Littré, produtoras e secretoras de muco que lubrifica a luz uretral. REFERÊNCIAS IMAGENS 1. GOOGLE IMAGENS. https://somepomed.org/articulos/contents/images/f15/2/15403.myextj? title=Nephron+anatomy+PI>M>. Acesso em: 28 abril. 2019. 2. BERNE; LEVY. Fisiologia. Rio de Janeiro: Editora Elsevier. 2009. (modificada) 3. GOOGLE IMAGENS (modificada). http://2.bp.blogspot.com/_j7jgM0dyPPY/S_yP5lUx- 8I/AAAAAAAAACU/VeEIXGmnpJ4/s320/membrana+de+filtracion.png>. Acesso em: 28 abril. 2019. 4. GOOGLE IMAGENS (modificada). http://professor.ufrgs.br/simonemarcuzzo/files/sistema_urinario_0.pdf>. Acesso em: 28 abril. 2019. 5. HALL, J. E; GUYTON & HALL: Tratado de Fisiologia Médica, 12ª ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2011. 6. 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Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 6. COSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. 7. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J.; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 8. GARTNER, L. P. & HIATT, J. L. Tratado de Histologia em Cores. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 9. KIERSZENBAUM, Abraham L. Histologia e Biologia Celular: uma introdução à patologia. 2ª edição, Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 10. ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas em correlação com a biologia celular e molecular. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. CONFERÊNCIAS Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida sobre os assuntos abordados nesse capítulo! Capítulo 3 MANUTENÇÃO DO VOLUME DOS LÍQUIDOS CORPORAIS 1. CASO CLÍNICO Seu Jorge, um jovem e preocupado pai, trouxe seu filho Iago, uma criança de 3 anos e 7 meses, à Unidade Básica de Saúde (UBS), onde são realizadas suas consultas de puericultura, apresentando um quadro de diarreia aquosa há 4 dias, sendo que apresentou cinco episódios no dia da consulta. O pai da criança referiu ainda que, após 24 horas do início do quadro diarreico, começou a apresentar vômitos alimentares. Alegou que, por conta própria, desde o início da diarreia, fez uma mudança na alimentação do filho, que passou a ter uma dieta mais branda e administrou Metoclopramida, na tentativa de cessarem os episódios de vômitos. Em paralelo, administrou também Sulfametoxazol-Trimetoprim em xarope, “por imaginar que a criança estivesse com alguma infecção intestinal”, admitiu o pai. À inspeção geral, a criança falava com dificuldade, apresentando agitação, irritabilidade, movimentos involuntários com o pescoço e membros superiores, além de a criança ter pedido água ao pai pelo menos 5 vezes no momento da consulta. Seu Jorge também relatou que o filho, desde o dia anterior, tem bebido mais água que o de costume. Ao exame físico, constatou-se desidratação, discreta rigidez de nuca, leve hipertonia muscular e movimentos clônicos e involuntários no pescoço e membros superiores. Após examinar a criança, a médica plantonista Dra. Lorrane, enquanto levantava suas hipóteses diagnósticas, entrou em contato com um colega pediatra e solicitou encaminhamento urgente para o hospital pediátrico, para que pudesse realizar exames laboratoriais mais específicos e dosagem rápida de eletrólitos e anticorpos para Rotavírus. 1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS DESCONHECIDAS Puericultura; diarreia; Metoclopramida; Sulfametoxazol-Trimetoprim; hipertonia muscular; movimentos clônicos; eletrólitos; Rotavírus. 1.2 PALAVRAS-CHAVES Criança; diarreia aquosa; vômitos alimentares; infecção intestinal; agitação; irritabilidade; desidratação; movimentos involuntários com o pescoço e membros superiores; sede. 2. ENTENDIMENTO INICIAL SOBRE OS LÍQUIDOS CORPORAIS Para compreender a importância dos líquidos corporais, bem como a manutenção do seu volume e composição, é necessário que relembremos que a primeira célula se originou no meio aquoso, ou, mais especificamente, na “sopa primordial” (ou oceano primitivo) da terra primitiva, há cerca de 4,5 bilhões de anos. Isso nos traz à tona, de acordo com a teoria da evolução das espécies, que as nossas células se especializaram e se adaptaram a realizar suas funções num ambiente aquoso, só que não mais externamente no tal oceano, mas internamente, no processo de formação e continuidade de espécies mais complexas, como a espécie humana. Ou seja, adquirimos nesse processo evolutivo o nosso próprio oceano (interno) e, invariavelmente, manter o equilíbrio desse ambiente aquoso interno é essencial para a nossa condição vital. Seja quando um neurônio gera e propaga um impulso nervoso, ou uma célula do miocárdio realiza contração e relaxamento no ciclo cardíaco, um hepatócito inativa uma substância tóxica, um enterócito produz e secreta alguma enzima, enfim, diversas são as situações que envolvem necessariamente o controle dos volumes dos líquidos, bem como da concentração de eletrólitos dispersos neles. Outras situações que evidenciam a importância da manutenção dos líquidos corporais são nas condições de excesso e escassez de água, para as quais o organismo desenvolveu, ao longo da sua história evolutiva, diversos mecanismos compensatórios para que o equilíbrio corporal não venha a ser prejudicado. Manter esse ambiente interno – seja o compartimento intra ou extracelular – com seus volumes mais ou menos constantes é fundamental para a homeostasia orgânica. Entende-se, no entanto, por homeostasia “a condição de relativa estabilidade da qual o organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para o equilíbrio do corpo”. 3. A TROCA DE LÍQUIDOS EM CONDIÇÕES NORMAIS É perfeitamente razoável aceitar o fato de que a ingestão e a excreção de água são bastante variáveis nos indivíduos (assim como alguns eletrólitos) e, nesse sentido, o organismo precisa dispor de alguns mecanismos que visem atenuar variações
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