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Medicina Resumida, Sistema Imune - SANAR

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2019
Título: Sistema Imune
Editor: Diana Cruz
Projeto gráfico: Bruno Brum
Coordenador: Diego Barros
Edição de texto: Editorando Birô
Diagramação: caixadedesign.com
Capa: Fabrício Sawczen e Wesley Azevedo
Conselho Editorial: Caio Vinicius Menezes Nunes, Itaciara Larroza Nunes, Paulo Costa Lima, Sandra de Quadros Uzêda e Silvio José
Albergaria da Silva
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513
Assis, Evelyn Moura de
A848m          Medicina resumida: sistema imune / Evelyn Moura de Assis, Pedro Eustáquio Urbano Teixeira, autores ; Denise Carneiro
Lemaire, revisão técnica. – Salvador : SANAR, 2019. 258 p. : il. ; 16x23 cm. – (Medicina Resumida ; 5).               
                    ISBN 978-85-5462-127-8
 
                 1. Sistema imunológico. 2. Antígenos. 3. Anticorpos. 4. Citocinas. I. Teixeira, Pedro Eustáquio Urbano, aut. II. Lemaire, Denise
Carneiro, rev. III. Título. IV. Título: Sistema imune. V. Série                                      
                                                         CDU: 577.27
ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
1. Medicina.
2. Medicina.
 
 
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513
 
 
Editora Sanar Ltda.
Rua Alceu Amoroso Lima, 172
Caminho das Árvores
Edf. Salvador Office e Pool, 3º andar.
CEP: 41820-770 – Salvador/BA
Telefone: 0800 337 6262
sanarsaude.com
atendimento@sanar.com
Sumário
1. Imunidade inata
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Imunidade inata
4. Receptores do sistema imune inato
5. Células do sistema imune inato
Referências
Mapa mental
2. Células da imunidade adquirida
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Linfócitos T
4. Linfócitos B
Referências
Mapa mental
3. Órgãos e tecidos linfoides
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Órgãos linfoides primários e secundários
Referências
Mapa mental
4. Mhc e apresentação de antígenos
1. Caso clínico
2. Introdução
3. O complexo principal de histocompatibilidade (MHC)
4. Células apresentadoras de antígenos
Referências
Mapa mental
5. Antígenos e anticorpos
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Estrutura do anticorpo
4. Tipos de anticorpos
5. Síntese dos anticorpos
6. Ligação dos anticorpos a antígenos
7. Curiosidades
Referências
Mapa mental
6. Citocinas
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Citocinas que regulam a imunidade inata
4. Citocinas que regulam a imunidade adquirida
Referências
Mapa mental
7. Sistema complemento
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Vias de ativação
4. Via alternativa
5. Via clássica
6.  Via das lectinas
7. Etapas finais da ativação do complemento
8. Funções do complemento
Referências
Mapa mental
8. Imunidade celular
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Linfócitos T CD4+
4. TH1
5. TH2
6. TH17
7. Linfócitos T CD8+
Referências
Mapa mental
9. Imunidade humoral
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Ativação da célula B e a secreção de anticorpos
4. Resposta t-dependente
5.  Resposta t-independente
6.  Mecanismos efetores da imunidade humoral
Referências
Mapa mental
10. Reações de Hipersensibilidade
1. Caso clínico
2. Introdução
3. Classificação
4. Reações causadas por anticorpos IGG ou IGM
5. Reações causadas por linfócitos T
6. Hipersensibilidade  do tipo I ou imediata
7. Fase tardia da reação anafilática
Referências
Mapa mental
 
 AUTORES
EVELYN MOURA DE ASSIS
Graduação em Medicina pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Membro do canal Medicina Resumida.
PEDRO EUSTÁQUIO URBANO TEIXEIRA
Graduação em Medicina pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Membro do canal Medicina Resumida; Professor da plataforma
SanarFlix e do curso Residência Médica Sanar.  
 
REVISORA TÉCNICA
DENISE CARNEIRO LEMAIRE
Graduação em Biomedicina pela Universidade de Brasília (1981) e doutorado em imunologia pela Université D’aix Marseille II, França
(1992). Atualmente é professora plena da Universidade do Estado da Bahia. Tem experiência na área de imunologia, com ênfase em
imunogenética, imunosenescência e imunização. As linhas de pesquisa em desenvolvimento envolvem os seguintes temas: associação
entre polimorfismos genéticos e doenças crônicas; marcadores de risco de osteoporose; resposta imune à vacina contra hepatite B em
idosos, e em estudantes e profissionais da área da saúde.
 
AGRADECIMENTOS
Evelyn Assis
É com muita felicidade que produzo o primeiro livro da minha carreira profissional. Agradeço a Deus, por me manter firme nessa
jornada e por ser tão generoso comigo, e aos meus pais, Eliomar e Marlene, pelo apoio, cuidado e amor de sempre. Dedico este livro a
vocês!
Agradeço aos nossos seguidores do Medicina Resumida, por terem nos acolhido, apoiado e incentivado, sempre com feedbacks
construtivos, que nos ajudam muito. Obrigada pela confiança. Esse livro foi produzido com carinho para vocês. Espero que gostem e que
seja proveitoso!
Agradeço ao companheiro de escrita, Pedro. Muito obrigada por ter aceitado o desafio de escrever este livro comigo e pela dedicação
ao nosso projeto.
Agradeço ao amigo Diego por ter me escolhido para embarcar nessa gratificante e prazerosa jornada junto a ele, e aos outros amigos
dessa família Medicina Resumida, pela união, pelo apoio e por todo crescimento.
Agradeço à Editora Sanar, em especial a Maurício, pelo convite e confiança para produzir esta obra. Obrigada pela oportunidade. Deixo
meu agradecimento também a Isabela e Diana pela atenção e paciência durante a produção do livro.
Agradeço a professora e revisora deste livro, Denise, pelo cuidado e atenção ao livro. Obrigada pró por ter aceitado o convite e por ter
doado o seu tempo para a revisão do livro.
Por fim, espero que este livro seja uma boa experiência para todos que lerem.
Grande abraço.
 
Pedro Teixeira
Sem os milhares de seguidores do Medicina Resumida e sua busca constante por conhecimento, essa obra não teria razão de existir.
Meu primeiro agradecimento, então, vai pra todos vocês que confiam no nosso trabalho e nos dão ânimo para seguir em frente.
Aos meus amigos do MR, Kevin, Diego, Evelyn, Vinícius e Alana, fazer parte disso com vocês faz com que tudo seja mais prazeroso.
Agradecimentos especiais a Evelyn, pela parceria na difícil missão de escrever um livro de imunologia, e a Diego, pelo convite para fazer
parte dessa família.
Na citada missão de tornar esse livro realidade, as participações da Professora Denise Lemaire e de Diana Cruz foram fundamentais.
Obrigado pela paciência e empenho de vocês.
À Editora Sanar e todos os seus colaboradores, sua força de vontade permite que muitos dos nossos sonhos se tornem realidade. Mais
que isso, vocês nos impulsionam a continuar sonhando.
Por fim, agradeço a Beatriz pelo apoio incondicional, a meus amigos pela persistência na nossa amizade, e a toda minha família, em
especial à minha mãe, irmã e pai, por estarem presentes em todos os momentos importantes. 
APRENDER PODE SER MAIS FÁCIL
E aí, preparada(o) para dominar o conhecimento acerca do Sistema Imune? Sim, é possível! Nós sabemos o quanto pode ser difícil
compreender alguns temas nesse universo. Seja devido à linguagem demasiadamente rebuscada de algumas literaturas clássicas ou o
excesso de detalhes que facilmente se perdem em sua memória. Por isso, desde já, queremos estabelecer um compromisso: nosso
objetivo ao longo deste livro é fazer você absorver os principais pontos que são premissas para a formação de seu raciocínio clínico e,
consequentemente, para a sua prática profissional futura. Assim, acreditamos estar direcionando seu tempo e energia, o que permitirá o
aumento da sua eficiência no processo de aprendizado. Como bônus, estaremos abordando os pontos que, provavelmente, serão
cobrados em suas avaliações. Justamente por terem mais relevância para a prática clínica.
Entretanto, isso é um bônus. Nosso objetivo é fazer você se tornar um melhor profissional. E para isto, é imprescindível um
conhecimento integrado. Conhecimento decorado para a prova é facilmente esquecido, já o que é verdadeiramente compreendido, ficapara a vida.
Deixando mais uma vez o bônus de lado, vamos ao maior diferencial deste livro que é a sua metodologia. Você provavelmente deve
saber que há duas metodologias principais nos cursos de saúde: a tradicional e o PBL (Problem Based Learning - “Aprendizado baseado em
problemas”). Sendo que ainda há alguns cursos que adotam um modelo misto em que se mesclam as duas opções.
A metodologia tradicional é o modelo que nos acostumamos durante o período escolar. Professor é detentor do conhecimento, realiza
aulas expositivas abordando cada assunto e em alguns momentos são aplicadas avaliações para tentar mensurar o quanto foi aprendido
pelo aluno.
A metodologia PBL, em uma explicação simplificada, apresenta inicialmente um problema (geralmente um caso clínico), permite a
discussão em um grupo utilizando os conhecimentos prévios e motiva o estudante a buscar as respostas para que em um segundo
momento, os alunos possam compartilhar os seus aprendizados e construam conjuntamente o conhecimento. Desta forma, o professor
pode avaliar diversos pontos além do conhecimento adquirido: a capacidade de ser parte de um grupo, a organização do raciocínio, a
exposição do mesmo, dentre outras questões.
Contudo, desta forma que apresentamos, deixa-se a entender que a metodologia PBL apenas possui vantagens, porém esta está longe
de ser a absoluta verdade. Primeiro que é muito frequente se deparar com professores que não foram treinados para a metodologia, o
que permite que os alunos fiquem sem um guia ou indevidamente orientados. Outra queixa comum entre os estudantes é que algumas
instituições optam por um curto período entre a apresentação do problema e a discussão sobre o mesmo, não permitindo um tempo
adequado de estudo para os estudantes absorverem o conteúdo necessário. E dentre diversos outros pontos frequentes, o principal é a
insegurança. Os estudantes por não terem recebido o conhecimento do professor, fonte confiável, não conseguem sozinhos estabelecer
quais informações são importantes em um oceano de referências possíveis. As consequências disso são inúmeras para o aprendizado e
saúde mental dos estudantes. Por isso, talvez a resposta mais adequada seja o modelo misto, associado a professores devidamente
capacitados. Neste, além das discussões, ocorrem aulas expositivas dos professores, quando são contemplados os principais pontos e/ou
complementado o conhecimento exposto nas discussões.
Mas afinal, e o livro?
A coletânea Medicina Resumida foi concebida a partir da análise das principais vantagens e falhas de cada metodologia. Sendo assim,
em cada capítulo você será inicialmente apresentado a um caso clínico, quando gostaríamos que você tentasse reconhecer os principais
pontos e palavras chaves a serem estudadas. Este exercício mínimo irá aumentar o seu vínculo com o tema e, consequentemente, irá
consolidar melhor em sua memória quando obter as respostas. E não se preocupe que ao virar a página, você irá encontrar o que
consideramos importante e o(s) objetivo(s) do capítulo. O próximo passo então é a entrega do conteúdo. Essa é feita em cada capítulo com
as características que defendemos ser importantes até aqui: uma abordagem integrada, utilizando uma linguagem adequada e focando
nos pontos principais para a sua formação. Por fim, você ainda terá a sua disposição um mapa mental simplificado com os pontos
principais que você precisa recordar em uma revisão rápida.
Portanto, seja você de uma instituição com a metodologia tradicional ou PBL, esperamos te oferecer um recorte da experiência do que
há de melhor nos dois mundos. Faça um ótimo proveito!
O MEDICINA RESUMIDA
O Medicina Resumida é um canal do Youtube fundado em março de 2014 por Diego Barros, quando estava nas férias para o 3º
semestre do curso de medicina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
A proposta desde o início foi compartilhar o conhecimento e as experiências adquiridas com os demais estudantes dos cursos de saúde
em uma época em que aulas em vídeos para o nicho ainda eram muito escassas.
Após dois anos de crescimento, a demanda dos seguidores só aumentava e havia o desejo de contemplar todos os pedidos. Entretanto,
a rotina densa de estudos era impeditiva. A solução foi definida em 2016, quando o canal contou com a sua primeira grande mudança.
Foram convidados ao projeto mais cinco estudantes e amigos (Alana Rodrigues, Evelyn Assis, Gabriel Araponga, Kevin Gomes e Vinicius
Jesus) que além de competentes, se alinhavam com a filosofia do projeto.
Desde então, todos os esforços foram voltados à contemplar os conhecimentos do tripé básico dos sistemas orgânicos: a anatomia, a
histologia e a fisiologia. Porém, não se limitando apenas a estes temas.
O primeiro contato com a Editora Sanar ocorreu ainda em 2015 com a concepção da obra “100 Casos Clínicos Comentados em
Medicina”, lançada em 2016 e amplamente requisitada ainda nos dias de hoje.
O vínculo se fortaleceu em 2017 com a concepção da Coletânea Medicina Resumida e a união de esforços para o desenvolvimento de
uma plataforma de educação médica que complementasse integralmente toda a faculdade de medicina: o SanarFlix. Projeto este que foi
lançado no segundo semestre de 2017 e possui uma completa sintonia com esta coletânea lançada em 2018. Ambos frutos de um grupo
alinhado em inovar a educação médica, utilizando como premissas a qualidade e a acessibilidade de seus projetos.
E o Medicina Resumida? Apenas ganhou com essa união de esforços. Evoluiu em quantidade e qualidade para os seus seguidores. Pois
a estrutura disponibilizada para o SanarFlix, também se estende ao Medicina Resumida e isso permitiu garantir uma maior qualidade
técnica dos conteúdos (áudio e vídeo), assim como uma maior entrega na quantidade dos vídeos, inclusive com a participação de outros
professores.   
Ainda não conhece? Confira como nos encontrar:
• Canal Medicina Resumida: www.youtube.com/medicinaresumida
• Instagram Medicina Resumida: @medresumida
• SanarFlix: www.sanarflix.com.br
• Instagram SanarFlix: @sanarflix.med
 
Mapa Conceitual
Capítulo 1
IMUNIDADE INATA
1.  CASO CLÍNICO
João, um garoto de seis anos, chega em casa após um jogo de futebol com os amigos queixando-se de dor na parte posterior da perna
direita. Judite, sua mãe, percebe um corte na perna do filho e o orienta a lavar a região com água e sabão para evitar que algum bicho se
aproveite e penetre a pele machucada. João, como toda criança curiosa, pergunta: “Mãe, por onde o bicho pode entrar?”, e sua mãe
responde: “Pela sua pele lesada, filho”. João, insatisfeito, questiona: “E o que eu vou fazer para tirar esse bicho de dentro de mim, mãe? Eu
vou ficar doente?”. Sua mãe responde: “Filho, nosso corpo tem o sistema imunológico que produz barreiras e células de defesa para nos
proteger”. Ainda intrigado, João pergunta: Mãe, o que é sistema imunológico e como ele sabe que tem um bicho em meu corpo?”.
Se você fosse a mãe de João, o que você teria que estudar para responder a ele? Agora é sua vez!
1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS
• Sistema imunológico: conjunto de células e moléculas responsáveis pela imunidade, isto é, defesa contra substâncias
estranhas.
1.2 PALAVRAS-CHAVE
“Corte”, “Pele lesada”, “Barreira”, “Sistema imunológico”.
1.3 OBJETIVOS
• Conceituar e caracterizar o sistema imunológico.
• Identificar o papel da pele como barreira às infecções.
• Identificar e caracterizar as principais células efetoras do sistema imune.
• Identificar e caracterizar os componentes moleculares e celulares do sistema imunológico inato.
• Estabelecer os mecanismos de ativação dos componentes do sistema imune inato.
• Identificar as moléculas envolvidas no reconhecimento dos microrganismos pelo sistema imune inato.
2. INTRODUÇÃO
O sistema imunológico envolve um conjunto de células e moléculas que atuam de forma coordenada na defesa do corpo humano
contra substâncias danosas. Os mecanismos ativados em resposta a essas substâncias são classificados em: (1) forma inicial e imediata, a
qual chamamos deimunidade inata ou natural; e (2) outra forma mais tardia, que aparece após alguns dias, a qual chamamos de
imunidade adquirida ou adaptativa.
As substâncias que estimulam as respostas específicas do sistema imune são denominadas antígenos. Os antígenos podem estar
presentes em microrganismos, corpos estranhos, células tumorais, órgãos transplantados, substâncias que causem alergias etc. Você
perceberá durante todo o livro que nossos exemplos e explicações geralmente se associam a microrganismos infecciosos. Além da
principal função do sistema imune ser, sim, a defesa contra esses patógenos, a compreensão dos inúmeros mecanismos pelos quais o
sistema imune funciona é facilitada quando o agente agressor é um microrganismo patogênico. É simplesmente mais fácil explicar, e
entender, a atuação do sistema imune se for contra um vírus ou uma bactéria do que contra um órgão transplantado ou uma célula
tumoral.
Os mecanismos da imunidade inata, ou natural, constituem a primeira linha de defesa do nosso organismo e responde apenas à
microrganismos infecciosos ou aos produtos das células lesadas. Ele inclui estruturas celulares e bioquímicas de defesa que,
constitucionalmente, já estão prontas para atuar ou são ativados rapidamente. Esses mecanismos não se caracterizam pela especificidade
contra um determinado agente infeccioso, e sim pela identificação de estruturas que são comuns a grupos de microrganismos, a exemplo
do Lipopolissacarídeo (LPS) presente na parede celular de bactérias gram-negativas. Além de não haver diferenciação entre discretas
composições das substâncias estranhas, não há geração de memória imunológica. Ou seja, a imunidade inata é como o ferrolho em sua
porta ou o alarme em seu carro. Independentemente de quem tente invadir sua propriedade, seja um ladrão ou seja um parente, a porta
estará trancada e o alarme pronto para disparar. São mecanismos contra as infecções que existem, estando o agente infeccioso presente
ou não.
Por outro lado, a imunidade adquirida, também chamada adaptativa, envolve mecanismos que se caracterizam pela resposta específica
ao antígeno. O antígeno precisa estar presente. Após a exposição, há alterações nas funções de determinadas células para que aquele
antígeno, responsável pelo estímulo à resposta, seja eliminado. Os mecanismos de defesa não estão prontos, esperando o patógeno
aparecer. Eles são montados em resposta à presença dele. Além disso, esse tipo de resposta gera memória imunológica, a qual garante
uma resposta resolutiva mais rápida em um próximo contato com aquele mesmo antígeno.
As principais características das respostas imunes adaptativas são especificidade, diversidade, memória, especialização, expansão
clonal, autolimitação e homeostasia.
1. Especificidade: As respostas adquiridas são específicas para cada antígeno. Os antígenos têm porções chamadas epítopos, ou
determinantes, que são reconhecidos pelos receptores de linfócitos, desencadeando os mecanismos efetores. Especificidade
é exatamente a capacidade de reconhecer algo próprio de cada antígeno, não confundindo um com o outro.
2. Diversidade: Estima-se que o sistema imunológico de uma pessoa possa discriminar de 107 a 10 9 determinantes antigênicos
diferentes.
3. Memória: Linfócitos estimulados podem diferenciar-se em células com meia vida longa, denominados linfócitos de memória.
Essas permitem que as respostas secundárias, ou seja, aquelas posteriores a uma primeira exposição ao patógeno, sejam
mais rápidas, eficientes e específicas.
4. Especialização: Cada tipo de resposta envolve a ativação de mecanismos que protegem contra um determinado
microrganismo. Pode até ter respostas diferentes para um mesmo antígeno.
5. Expansão clonal: Após exposição e reconhecimento, há ativação e proliferação de linfócitos, com geração de um clone de
células que expressam receptores idênticos àqueles presentes na célula que deu origem ao clone (aquele que foi ativado por
um determinado antígeno).
6. Autolimitação e homeostasia: Se o antígeno for eliminado, o estímulo cessa, e as respostas imunes diminuem de
intensidade, retornando ao basal, com os linfócitos de memória em repouso.
A maioria das respostas imunológicas do hospedeiro aos antígenos são compostas pelos mecanismos dos dois tipos de imunidade:
inata e adquirida. Isso ocorre porque, durante o processo evolutivo, a maioria dos microrganismos criou mecanismos para evadir à
imunidade inata e permanecer no hospedeiro. Dessa forma, a resposta imune inicial consegue, por vezes, apenas conter a disseminação
do antígeno, mas será a resposta adquirida a responsável por sua eliminação. A resposta natural, na realidade, estimula a resposta
adquirida. Alguns microrganismos mais patogênicos, entretanto, são capazes de escapar dos mecanismos efetores da própria imunidade
adquirida. Eles sobrevivem e permanecem no hospedeiro, em uma forma de latência ou de multiplicação e disseminação. O principal
exemplo é o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
Voltando ao caso, quais são as barreiras que a mãe de João disse que compõem o sistema imunológico? Em se tratando de uma simples
ferida na perna ocorrida há poucas horas, qual tipo de resposta imunológica deve estar predominando no momento: inata ou adquirida?
 
Imagem 1: Imunidade inata e adaptativa.
Na imagem 1, acima, podemos perceber os principais componentes das imunidades inata e adquirida e o tempo, após o início da
infecção, para ativação dos mecanismos de cada tipo de resposta. Como dissemos anteriormente, as barreiras e células do sistema imune
natural estão sempre a postos, prontos para prevenir ou eliminar a infecção assim que o microrganismo entra o nosso corpo. Seu início,
portanto, é imediato. Por outro lado, os mecanismos da imunidade adaptativa requerem apresentação adequada dos antígenos por
células especializadas e a montagem de um aparato específico para eliminar o microrganismo de forma mais efetiva. Geralmente
demoram mais de um dia para entrar em cena; a resposta primária demora cerca de quinze dias em média, e a secundária pode ser mais
rápida, iniciando em um ou dois dias. No nosso caso, portanto, são os mecanismos da imunidade inata que estão predominando na
batalha contra os agentes infecciosos.
3. IMUNIDADE INATA
O conjunto de mecanismos da imunidade inata é composto por barreiras físicas, químicas e biológicas, células fagocitárias, sistema
complemento e resposta inflamatória. Sistema complemento? Sei que muitos pensam que o sistema complemento é parte da imunidade
adquirida, mas quando você estudar o capítulo que aborda especificamente o tema, vai perceber que algumas vias de ativação do sistema
complemento não dependem de mecanismos efetores da imunidade adquirida, podendo ser considerado parte da imunidade inata.
Para um agente infeccioso, ou qualquer corpo estranho, estimular a resposta imunológica, eles precisam primeiro invadir o corpo
humano. Isso ocorre quando as barreiras físicas e químicas são ultrapassadas. Uma abertura em alguma dessas barreiras, como o corte na
pele do nosso caso, pode facilitar a entrada desses agentes.
As barreiras físicas são compostas pelas superfícies epiteliais, como a pele, e pelas superfícies mucosas do trato digestório e
respiratório. Esses três (pele, trato gastrointestinal e trato respiratório) são os principais locais de entrada de patógenos, visto que estão
em contato direto com o ambiente externo. Essas barreiras estão associadas à microbiota de bactérias não patogênicas que competem
com os patógenos pelos nutrientes e pelos sítios de adesão. Dessa forma, acabam por tornar-se mais uma camada de proteção. Cada
região possui uma microbiota que pode produzir e liberar substâncias antimicrobianas, como o ácido lático produzido pelos lactobacilos
vaginais, que auxiliam dificultando a sobrevivência de microrganismos potencialmente danosos.
As superfícies epiteliais intactas têm junções ocludentes que não deixam brechas para invasão. Como dito anteriormente, além de
barreiras físicas, há barreiras químicas. Os epitélios e leucócitoslocais produzem peptídeos que atuam como antibióticos naturais:
defensinas e catelicidinas principalmente. As defensinas, produzidas pelas células epiteliais de superfícies mucosas e por leucócitos que
contêm grânulos, têm toxicidade direta, destruindo os microrganismos, e indireta, ativando células da resposta inflamatória. As
catelicidinas, liberadas pelos neutrófilos, pele, mucosa gastrointestinal e respiratória, agem de forma semelhante.
Veremos adiante, em outros capítulos, que os linfócitos B e T são as principais células da resposta imune adquirida. Acontece que em
nossos epitélios de barreira há alguns subconjuntos de linfócitos B e T que expressam receptores de antígenos com menor especificidade
e diversidade. Esses receptores, ao invés de reconhecerem estruturas que diferenciam os microrganismos, mesmo aqueles semelhantes,
reconhecem estruturas que são comuns a um conjunto de patógenos, da mesma forma que os receptores da imunidade inata. As células
que contêm esses receptores são os linfócitos T intraepiteliais, linfócitos B1 e linfócitos B da zona marginal do baço. Elas atuam secretando
citocinas, ativando fagócitos e auxiliando na eliminação de células infectadas.
As mucosas podem produzir e liberar muco, que são glicoproteínas (mucinas), e atuam recobrindo e imobilizando os antígenos. Sua
ação é auxiliada pela presença dos cílios, que promovem a expulsão do antígeno previamente imobilizado. Mucosas gastrointestinais
podem liberar substâncias ácidas, diminuindo o pH e causando desnaturação de proteínas e consequente inativação de alguns
microrganismos. Atuam, também, através da liberação de enzimas digestivas antibacterianas, que funcionam como barreira química.
Curiosamente, lágrimas e saliva também funcionam como barreiras, pois, além da ação mecânica, possuem enzimas com ação
antibacterianas, como a lisozima e a fosfolipase A.
4. RECEPTORES DO SISTEMA IMUNE INATO
Lembra-se da pergunta que João fez para a mãe, de como o sistema imunológico sabia que havia um microrganismo no corpo dele?
Tudo tem a ver com os receptores presentes em nossas células e sua interação com as moléculas expressas pelos patógenos.
As células da imunidade inata atuam identificando e fagocitando os antígenos ou ativando a reposta inflamatória. Essas células
reconhecem os antígenos através da ligação de alguns de seus receptores com estruturas características de patógenos. Que estruturas
são essas? Podem ser componentes da parede celular, algum carboidrato, ácido nucleico ou proteína que seja diferente do que nosso
organismo está acostumado etc. Ou seja, pode ser qualquer coisa que não seja comum ao nosso corpo. O interessante é que essas
estruturas geralmente são essenciais para a sobrevivência desses patógenos. Ou seja, elas têm que estar presentes para que o
microrganismo seja capaz de sobreviver. São chamadas de Padrões Moleculares associados a Patógenos (PAMPs). Os receptores que se
ligam a essas estruturas são chamados de Receptores de Reconhecimento de Padrões. Existem, também, os Padrões Moleculares
Associados ao Dano (DAMPs). Esses são expressos por células próprias que, por algum motivo, seja diferenciação maligna ou infecção,
estão lesionadas, danificadas.
Os principais PAMPs são: RNA de dupla-hélice nos vírus em replicação, proteínas bacterianas que são iniciadas pelo aminoácido N-
formilmetionina, Lipopolissacarídeos (LPS) em bactérias gram-negativas, ácido tecoico em bactérias gram-positivas e oligossacarídeos
ricos em manose.
A classificação gram-negativa e gram-positiva das bactérias é devido ao método de Gram de coloração. O pesquisador
Christian Gram, em 1884, desenvolveu esse método de coloração em que trata o esfregaço bacteriano com os reagentes
cristal violeta, lugol, álcool e fucsina. Toda bactéria cora-se de roxo devido à absorção do complexo cristal violeta e o lugol.
Quando lavadas pelo álcool, entretanto, as bactérias ditas gram-positivas continuam coradas, enquanto as bactérias gram-
negativas perdem a cor. Assim, essas bactérias quando tratadas com a fucsina, adquirem sua coloração avermelhada. Quando
observadas no microscópio, as gram-positivas são roxas e as gram-negativas são avermelhadas. Essa diferença na coloração
ocorre devido às diferenças estruturais das bactérias. O peptídeoglicano espesso nas bactérias gram-positivas são os
principais responsáveis.
É importante recordar que o sistema imune adquirido tinha especificidade para cada antígeno, podendo diferenciar um do outro por
mais parecidos que fossem. A imunidade inata não funciona assim. Se o microrganismo A e o microrganismo B apresentarem o
carboidrato manose, será o carboidrato o responsável pela identificação, e não algo que os diferencie. Já no reconhecimento pela
imunidade adaptativa, o carboidrato pode até estar presente, mas os receptores irão se ligar a outros componentes que sejam específicos
de cada microrganismo. Isso ocorre porque, de maneira geral, os receptores da imunidade inata reconhecem carboidratos, lipídeos e
ácidos nucleicos, ao passo que os receptores da imunidade adquirida reconhecem, principalmente, proteínas.
Imagem 3: Especificidade
Há vários receptores de reconhecimento de padrões: receptores semelhantes à Toll, Lectinas tipo C, receptores scavenger ou
varredores, receptores a N-formil Met-Leu-Phe, receptores NLRs e receptores CARD. Eles podem ser expressos na superfície celular ou no
interior das células, como na vesícula endossômica, na membrana do retículo endoplasmático e no citoplasma.
Os receptores semelhantes à Toll (TLRs) são expressos nas membranas de superfície e nas membranas intracelulares, onde detectam
ácidos nucleicos microbianos. Suas vias de sinalização levam à ativação do fator de transcrição NF-Kappa B (NFkB) que estimula a
expressão de genes que codificam moléculas da resposta inata, como citocinas e moléculas de adesão endotelial. Sabemos que às vezes,
quando juntamos muitas siglas em um parágrafo só, fica um pouco difícil de entender. Vamos explicar com mais detalhes esse tipo de
receptor, já que é o principal, e você aplica o conhecimento adquirido aos outros.
Os TLRs estão presentes tanto na membrana celular, virados para o lado de fora da célula, quanto em vesículas endossomais, virados
para dentro deste compartimento membranar. Dessa forma, se um antígeno está no meio extracelular ou foi fagocitado e está em alguma
vesícula endossomal, ele pode se ligar a um desses receptores. Eles detectam ácidos nucleicos microbianos e, após o reconhecimento,
ativam alguns mecanismos intracelulares que culminam na secreção de citocinas e na expressão de moléculas de adesão. As citocinas vão
ajudar a recrutar leucócitos para o local onde o microrganismo foi detectado e as moléculas de adesão vão garantir que os leucócitos que
estejam passando por perto “grudem” e sejam capturados para os tecidos infectados. Entendeu? Basicamente, o que acontece é contato ⇒
reconhecimento ⇒ estímulo a algum mecanismo que vai ajudar a eliminar o microrganismo.
Além de receptores voltados para o meio extracelular e para vesículas endossomais (TLRs), temos alguns voltados para o citosol,
prontos para reconhecer microrganismos intracelulares. Os NLRs são um conjunto de moléculas citoplasmáticas. Um subconjunto das
NLRs chamado de Nods, especialmente o Nod1 e o Nod2, reconhece peptideoglicanos da parede celular bacteriana. Nas células epiteliais,
por exemplo, o Nod1 é um importante ativador da resposta imunológica, pois a concentração de receptores semelhantes à Toll é pequena.
Imagem 4: Localizações celulares das moléculas de reconhecimento de padrões do sistema imune inato.
As lectinas tipo C são moléculas que reconhecem estruturas de carboidratos, principalmente manose, encontradas nas paredes
celulares de microrganismos. Elas são expressas nas membranas plasmáticas.
Os receptores varredores (scavenger) representam um grupo de moléculas que medeiam a captação de lipoproteínas oxidadas e
microrganismos para dentro das células. Por isso, estão associados à formação de células deespuma (macrófagos repletos de LDL-
colesterol oxidado) na aterosclerose.
Os receptores a N-formil Met-Leu-Phe detectam proteínas bacterianas, já que estas são iniciadas por N-fomilmetionina.
Os receptores CARD, que são as proteínas que contêm domínio de ativação e recrutamento de caspase, são receptores citoplasmáticos
que se ligam ao RNA viral.
5. CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE INATO
As células que expressam esses receptores são os neutrófilos, basófilos, células mononucleares do sistema fagocítico, eosinófilos e
células dendritícas.
Os neutrófilos, na maioria das respostas imunológicas, são as células que chegam primeiro nos locais de inflamação e são as mais
abundantes nas fases iniciais das respostas inflamatórias (até 72h). Representam a maioria das células sanguíneas brancas circulantes.
Recebem o termo leucócitos polimorfonucleares porque seu núcleo é segmentado em pequenos lóbulos. Seu citoplasma contém 2
grânulos: (1) os específicos, contendo lisozima, colagenase e elastase e (2) os azurófilos, que são lisossomos. Após atuarem no local da
infecção, eles morrem e compõem o pus, que é constituído por bactérias, neutrófilos mortos, material semidigerido e líquido extracelular.
Se não houver recrutamento dos neutrófilos, eles circulam no sangue por aproximadamente 6h, morrem por apoptose e são fagocitados
por macrófagos residentes do fígado e do baço. Nosso corpo produz em torno de 1011 neutrófilos por dia.
Os fagócitos mononucleares são os monócitos e os macrófagos. Os monócitos são células circulantes, incompletamente diferenciadas
que, ao atravessar o endotélio, chegam ao tecido maturam-se e se transformam em macrófagos. Os macrófagos atuam promovendo a
fagocitose de microrganismos e liberando citocinas que promovem a inflamação. Encontram-se em abundância no local de inflamação,
geralmente após 72h do início do processo inflamatório. Além disso, podem produzir espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio. Além
de células da imunidade inata, são consideradas células efetoras da imunidade adquirida celular, já que os linfócitos os ativam para tornar
mais efetivo o processo de degradação dos microrganismos fagocitados. Os macrófagos recebem diferentes denominações dependendo
do tecido onde estão. São chamados de micróglia no sistema nervoso central (SNC), de células de Kupfer no fígado e de macrófagos
alveolares no parênquima pulmonar, atuando em todos esses tecidos como células de defesa. No tecido ósseo são chamados de
osteoclastos, promovendo a reabsorção e o remodelamento ósseo.
Imagem 5: Maturação dos fagócitos mononucleares.
Os eosinófilos são células que participam da defesa contra parasitas. Como esses microrganismos são muito grandes para serem
fagocitados, os eosinófilos atuam liberando, para o meio extracelular, substâncias capazes de destruir os patógenos, como uma proteína
chamada proteína básica, que é rica em arginina e lisossomos. Ou seja, essas células contêm grânulos em seu interior compostos por
essas substâncias. Além disso, têm um núcleo que é geralmente bilobulado, o que auxilia em seu reconhecimento à microscopia.
Os basófilos têm um citoplasma carregado de grânulos grandes, que obscurecem o núcleo. Esse núcleo é volumoso, de forma
retorcida e irregular, com o aspecto da letra S. Seus grânulos contêm histamina, fatores quimiotáticos para eosinófilos e neutrófilos e
heparina, que são liberados para o meio extracelular durante a resposta imunológica. Seu citoplasma também têm receptores para a
imunoglobulina E, que participam da resposta alérgica.
Os mastócitos atuam como uma barreira de proteção nas superfícies internas do organismo, que ajuda a estimular a resposta
inflamatória. Além disso, coordenam as respostas alérgicas e também estão envolvidos, com os eosinófilos, na resposta contra helmintos.
Na atuação do sistema imunológico inato, observamos que essas células citadas acima, a fagocitose, a inflamação e o sistema
complemento, são os principais mecanismos de proteção contra microrganismos extracelulares, como bactérias extracelulares e parasitas.
Para a proteção contra microrganismos intracelulares, entretanto, é necessária a atuação das células Natural-Killer (NK).
As células NK são derivadas do progenitor linfoide, comum na medula óssea que origina os linfócitos. Essas células, entretanto, não
fazem parte da imunidade adquirida porque não têm especificidade para o antígeno. Elas reconhecem células infectadas e/ou estressadas
e respondem liberando grânulos que induzem a apoptose e secretam citocinas inflamatórias.
As células NK expressam receptores ativadores e receptores inibitórios. Uma das formas de ativação destas células envolve a interação
desses receptores com seus respectivos ligantes. Isso funciona da seguinte forma: durante o repouso dessas células, os sinais ativadores
são bloqueados pelos sinais inibitórios e, assim, as células NK não atuam contra as células normais. As células sadias expressam moléculas
do MHC classe I, que é um dos ligantes dos receptores inibitórios. Esses desencadeiam cascatas de sinalização dependentes de fosfatases
que inibem a sinalização dependente de cinases gerada pelos receptores ativadores. Na vigência de uma infecção, a expressão de
moléculas do MHC classe I é reduzida. Dessa forma, haverá mais sinais ativadores do que inibitórios e, então, as células NK são ativadas.
Imagem 6: Funções dos receptores ativadores e inibidores das células NK.
A importância das células NK é que elas começam a atuar de forma mais rápida do que as células TCD8+ da imunidade adquirida,
conseguindo conter a infecção até que a imunidade especializada seja desenvolvida. Além disso, a particularidade de serem ativadas pela
redução ou ausência de moléculas do MHC de classe I permite que as células infectadas sejam identificadas e destruídas. É importante
lembrar que a redução da expressão de moléculas do MHC pode tornar as células infectadas invisíveis às células TCD8+, que dependem da
expressão de moléculas do MHC de Classe I para o reconhecimento do antígeno ou da célula-alvo.
Moléculas MHC são peptídeos antigênicos ligados à complexos proteicos que são codificados pelos genes do complexo
principal de histocompatibilidade (MHC) e são expressas na superfície celular. As células da imunidade adquirida (linfócitos T e
B) dependem dessas moléculas para o reconhecimento de antígenos. Isso será abordado no capítulo de apresentação de
antígenos
As células NK, quando ativadas, liberam as proteínas de seus grânulos, e promovem a destruição da célula-alvo. As proteínas liberadas
são as perforinas e as granzimas. As perforinas promovem a formação de poros na membrana plasmática que facilita a entrada das
granzimas no citoplasma. As granzimas irão induzir a apoptose, destruindo, portanto, os reservatórios da infecção. Ou seja, perforinas
perfuram e granzimas destroem.
As células NK têm sua atividade citotóxica acentuada pela citocina IFN tipo 1, que possui ação importante na proteção contra o vírus.
Além disso, as células NK ativadas produzem e liberam a citocina IFN-γ, que ativa os macrófagos, aumentando sua capacidade de
destruição.
Por fim, devemos conhecer as células dendríticas (DCs), que são apresentadoras de antígenos e importante ligação entre a imunidade
inata e a adquirida. Elas podem ser derivadas de progenitores mieloide ou linfoide na medula óssea. As primeiras são denominadas de
células dendríticas mieloides (mDCs) e as segundas de plasmocitoides (pDCs). As mDcs são encontradas em praticamente todos os órgãos,
com exceção do cérebro, dos olhos e dos testículos, e estão presentes principalmente nos linfonodos, pele e tecido conjuntivo. Essas
células têm como função principal a apresentação dos antígenos aos linfócitos. Já as pDCs são encontradas principalmente nos órgãos
linfoides e sua principal função é a produção de interferons tipo I para atuar nas infecções virais.
Referências imagens:
1. ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2015.
2. ABBAS,Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
3. Imagem Adaptada de ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
4. ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 
5. ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
6. ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier.
Referências
1. ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 
2. MURPHY, K.; TRAVERS, P.; WALPORT, M. Imunobiologia de Janeway. 7 ed. Porto Alegre: ArtMed. 2010.
3. KUMAR, V. et al. Patologia básica. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida sobre os assuntos abordados nesse capítulo!
 
 
 
 
 
Capítulo 2
CÉLULAS DA IMUNIDADE ADQUIRIDA 
1. CASO CLÍNICO
Paciente N.S.O., sexo masculino, 6 anos, cursa com febre baixa intermitente há 1 mês, associado a astenia e hipoatividade. Genitora
relata que exame de sangue realizado na UPA há 2 semanas evidenciou anemia leve. Foi prescrito dipirona para a febre e sulfato ferroso
para a anemia. Há 1 semana, o paciente apresenta piora da febre, além de tosse produtiva e dispneia. Atualmente, recusa ingestão de
alimentos.
Ao exame: T axilar = 38ºC. Dispneico e taquipneico, pálido (hipocromia 2+/4). Chama atenção umas pequenas petéquias em MMII.
Cabeça e pescoço: orofaringe levemente hiperemiada, linfonodos palpáveis em cadeias cervicais e submandibulares, doloridos, móveis
e não aderidos. Um linfonodo cervical, à direita, apresenta-se indolor, imóvel e aderido, medindo 2,5 cm.
Tórax: Macicez à percussão do terço inferior do hemitórax D, com abolição do frêmito toracovocal e do murmúrio vesicular nessa
localização. Crépitos inspiratórios e expiratórios acima do local de abolição do murmúrio.
Abdome: leve esplenomegalia
Extremidade: petéquias em MMII e palpação óssea discretamente dolorida.
Dr. Kevin, o pediatra de plantão, suspeita de pneumonia, solicita radiografia de tórax, exames laboratoriais e inicia antibioticoterapia.
Radiografia de tórax: pneumonia lobar à direita associada a derrame pleural.
Hemograma: anemia normocítica e normocrômica, trombocitopenia, leucocitose < 20 mil células, presença de linfócitos atípicos.
Dr. Kevin solicita biópsia da medula óssea, que evidencia achados compatíveis com leucemia linfoide aguda. Nesse momento, ele se
lembra da sua professora de imunologia na época da faculdade, que lhe deu uma bronca quando ele disse que ninguém precisava saber
para que serviam os linfócitos.
1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS
• Linfócitos naïves/virgens: linfócito plenamente desenvolvido que ainda não foi ativado por contato com o seu antígeno
específico.
• Linfócitos efetores: células que realizam funções efetoras durante as respostas imunes, tais como secreção de citocinas,
produção de anticorpos, destruição de microrganismos ou células infectadas.
• Células de memória: linfócitos B e T produzidos pelo estímulo do antígeno a linfócitos inativos. Medeiam respostas imunes
secundárias.
• CD4 e CD8: marcadores de superfície dos linfócitos T que facilitam as interações dos mesmos com as APCs ou com as células-
alvo. Apresentam padrões distintos de restrição do MHC. CD4 apresenta afinidade a moléculas da classe II enquanto CD8
apresenta afinidade a moléculas da classe I.
1.2 PALAVRAS-CHAVE
“Linfócitos T CD4+”, “Linfócitos T CD8+”, “Linfócitos B”, “Células Apresentadoras de Antígenos (APCs)”.
1.3 OBJETIVOS
• Reconhecer os diferentes tipos e subtipos de linfócitos.
• Determinar a origem e as características dos linfócitos T e B.
• Conhecer as funções dos linfócitos no sistema imune adquirido.
2. INTRODUÇÃO
Agora que já sabemos tudo sobre imunidade natural e ativação de células dendríticas para apresentação de antígenos a linfócitos T
virgens, chegou a hora de adentrarmos o mundo da imunidade adquirida. Recapitulando de forma bem grosseira o que já foi discutido no
capítulo anterior deste livro, temos as barreiras epiteliais e células de defesa que compõem o sistema imune inato, ou natural, que atuam
impedindo ou controlando a ação de microrganismos danosos ao nosso organismo, principalmente nas portas de entrada dos mesmos no
nosso corpo. Algumas células especializadas, denominadas células apresentadoras de antígenos (APCs) “profissionais”, são capazes de
capturar esses agentes exógenos, processá-los e apresentar porções desses aos linfócitos T. Agora, finalmente chegamos aos linfócitos.
Vamos só fazer umas observações importantes aqui para caso você não tenha lido o capítulo anterior (leia!).
Nosso sistema imune atua contra bactérias, vírus, protozoários, células tumorais, corpos estranhos, antígenos próprios etc. Usamos
como exemplo o “ataque” contra microrganismos, porque é melhor para ilustrar as ações imunológicas.
Quase todas as nossas células nucleadas são capazes de apresentar antígenos intracelulares a algum tipo de linfócito T, mas apenas as
APCs “profissionais” são especializadas o suficiente para capturar antígenos extracelulares, transportá-los aos linfonodos e ativar linfócitos
T virgens.
As APCs imaturas, localizadas nos tecidos epiteliais de revestimento, quando ativadas por PAMPs ou DAMPs (ver capítulo 1), são levadas
pela linfa e percorrem o sistema linfático até os linfonodos, em que há grande probabilidade de encontrarem linfócitos T específicos para
os antígenos que estas estão apresentando.
Imagem 1: Visão geral da ativação dos linfócitos e da resposta imunológica desde a entrada de agentes infecciosos até a migração de
células efetoras aos locais de infecção.
Agora que relembramos, de forma extraordinariamente resumida, os eventos que antecedem a participação dos linfócitos nos
mecanismos efetores do sistema imunológico, vamos falar dessas células. Nesse capítulo não vamos discutir sobre os mecanismos
efetores da imunidade adquirida. Vamos, apenas, nos familiarizar com suas principais células.
As células da imunidade adquirida têm alguns aspectos que já foram discutidos anteriormente, como características da própria
imunidade adquirida. Uma delas é a especificidade. Elas possuem receptores de membrana altamente específicos, que são capazes de
distinguir diferentes moléculas antigênicas. Dessa especificidade decorre a diversidade, visto que os receptores celulares do sistema
imunológico, marcadamente aqueles de mecanismos da imunidade adquirida, são capazes de discriminar de 107 a 109 determinantes
antigênicos diferentes. Quanto à memória, temos os próprios linfócitos de memória, que são células diferenciadas, que detém meia-vida
consideravelmente longa, cuja função é de aumentar a capacidade de resposta do organismo a uma exposição subsequente ao mesmo
antígeno.
Sei que você está ansioso para iniciarmos a discussão sobre linfócitos T e B, mas há outros conceitos que precisamos aprender antes. O
que é linfócito? O que é linfócito naïve, virgem ou imaturo? O que é linfócito ativado?
Linfócitos T e B são as únicas células capazes de reconhecer e distinguir os determinantes antigênicos. Por isso são as responsáveis
pela especificidade da resposta imune adquirida. Desempenham, portanto, o papel de sensores do sistema imune adquirido e, também, o
de mediadores das imunidades humoral e celular. Essas células se originam do precursor linfoide, na medula óssea. Voltaremos a este
assunto adiante, neste capítulo, mas desde já é bom comentar que alguns linfócitos terminam seu processo de maturação em outros
órgãos linfoides. Acontece que desenvolvimento e maturação não são iguais a ativação. Um linfócito plenamente desenvolvido e maduro
ainda não entrou em contato com seu antígeno específico. Assim, não iniciou ainda a resposta imune adquirida. Esse linfócito é chamadode linfócito naïve. Naïve significa ingênuo em francês. Podemos chamá-lo de linfócito virgem. Parece estranho, mas algumas fontes usam
a nomenclatura “imaturo” para se referir a estes linfócitos, ainda que estas células já tenham passado por seu processo de maturação, e
isso pode fazer com que você se confunda. Assim, neste livro, serão usadas as denominações “virgem” ou naïve. A diferenciação entre
linfócitos B imaturos e inativos é feita com base nos tipos de receptores de Ag (anticorpos de membrana) expressos na membrana celular.
As células B imaturas são aquelas que expressam IgM, mas ainda não expressam IgD, enquanto as maduras, virgens, expressam ambas as
classes de anticorpos na membrana celular. Essa informação só foi trazida para que você não se confunda quando for ler em alguma outra
fonte.
Imagem 2: Maturação de linfócitos. Os linfócitos, gerados de células-tronco na medula óssea, se desenvolvem nos órgãos linfoides.
Esses linfócitos já “nascem” com o “relógio celular” ativado e morrem por apoptose, em cerca de quatro meses, caso não reconheçam
algum antígeno. Assim, o reconhecimento do Ag resgata o linfócito da morte celular programada. Os linfócitos virgens e as células de
memória estão em repouso antes da ativação, na fase G0 do ciclo celular. Em resposta ao estímulo antigênico, entram na fase G1, mas
dependem de outros sinais para progredir no ciclo e entrar na fase S e se dividir. Agora vamos revisar mitose e meiose? É brincadeira, pode
voltar aqui. Só precisamos entender que enquanto o linfócito não é ativado, ele se mantém em repouso, mas não indefinidamente.
As células naïve são capazes de reconhecer antígenos próprios, porém fracamente. Dessa forma, não há sinais suficientemente fortes
para ocorrer ativação e iniciar a expansão clonal, mas há sinais que estimulam a sobrevida dessas células. Algumas citocinas agem
aumentando a sobrevida dos linfócitos. A IL-7, por exemplo, é um dos principais agentes de estímulo à sobrevida de linfócitos T, assim
como é o fator ativador de células B (BAFF) para os linfócitos B naïve.
Após a ativação, os linfócitos adquirem a capacidade de coordenar as ações da imunidade adquirida. Tornam-se maiores e entram em
fases sucessivas de mitose, adquirindo características de células blásticas, sendo, então, denominados linfoblastos. Cerca de 75% das
células de um clone se diferenciam em células efetoras: clones de células T em linfócitos T auxiliares ou T citotóxicos; clones de células B
em células especializadas na secreção de  anticorpos, os plasmócitos. Descreveremos esses tipos celulares mais adiante nesse capítulo. As
demais células (cerca de 25% do clone gerado) podem se diferenciar em células de memória, capazes de sobreviver em um estado de
ciclagem lenta durante anos, mesmo após a eliminação do antígeno. Essas são as células responsáveis pela maior efetividade e agilidade
da resposta imune secundária.
3.LINFÓCITOS T
Os linfócitos T são as células efetoras da imunidade celular. Desempenham algum papel na regulação da ação das células B? Sim.
Algumas populações específicas de linfócitos T atuam auxiliando as células B na imunidade humoral, mas a célula T é, majoritariamente,
mediadora da imunidade celular. Essas células são originalmente produzidas na medula óssea, mas completam seu processo de
maturação no timo.
Há diferentes populações de linfócitos T que atuam mediando respostas imunes distintas. Enquanto os linfócitos T CD8 reconhecem
antígenos de microrganismos principalmente intracelulares, destruindo as células que porventura estejam infectadas, os linfócitos T CD4
ativam-se por microrganismos extracelulares e atuam auxiliando outras células efetoras. Seus receptores de antígenos são diferentes
daqueles dos anticorpos, visto que reconhecem apenas peptídeos antigênicos ligados a proteínas do complexo principal de
histocompatibilidade (MHC). Existem três tipos diferentes de linfócitos T que merecem destaque.
Primeiro, célula T CD4+, cuja ativação pode originar o linfócito T auxiliar ou helper (TA ou TH). São células especializadas na secreção
de citocinas, que atuam em outras células, tais como macrófagos e linfócitos B, ativando-as ou regulando suas funções. Ou seja, se preciso
de imunidade celular, ativo macrófagos e os transformo em células efetoras da imunidade celular. Se preciso de imunidade humoral, ativo
células B que se diferenciam em plasmócitos, secretam anticorpos e medeiam a imunidade humoral. Isso se dá através da secreção de
determinadas citocinas. Além de ativar células B e macrófagos, há ação sobre as próprias células T, estimulando sua proliferação e
diferenciação. Os subtipos de linfócitos T auxiliares, classificados de acordo com o padrão de citocinas secretadas por estas células, são
peças-chaves na modulação da resposta imunológica.
Temos também os linfócitos T CD8+, cuja ativação pode originar os linfócitos T citotóxicos (CTLs ou TC). Esses atuam matando as
células que estejam produzindo antígenos estranhos. Ou seja, células infectadas ou danificadas. O nome “linfócito citotóxico” é bastante
sugestivo, visto que essas células têm a capacidade de destruir outras células, tumorais ou infectadas por vírus, por exemplo. Só para
constar: CD4 e CD8 são marcadores proteicos presentes na superfície dos linfócitos. Desempenham alguns papéis na ativação e função
dessas células, mas não entraremos nesses detalhes.
Além dos tipos celulares já descritos, existe o linfócito T regulador (TREG). Sua ação é mais inibitória, freando as respostas
imunológicas, para que estas não lesem os tecidos em consequência de uma intensidade de resposta exacerbada, ou fazendo com que as
respostas deixem de acontecer a partir do momento que não são mais necessárias.
A tabela a seguir resume as características mais importantes das três principais populações de linfócito T:
Tabela 1: Características das principais populações de linfócitos T.
Linfócitos T auxiliares CD4+
Diferenciação de célula B (imunidade humoral)
Ativação de macrófago (imunidade mediada por células)
Ativação da resposta inflamatória
Linfócitos T citotóxicos CD8+ Morte de células infectadas com vírus, ou bactérias ou parasitas intracelulares,
ou células tumorais
Células T regulatórias Suprime a função de outras células T (regulação de respostas imunes,
manutenção da autotolerância)
 
4. LINFÓCITOS B
Os linfócitos B, quando ativados, são as únicas células capazes de produzir anticorpos. As células B também se originam na medula
óssea a partir do precursor linfoide, de onde saem, na sua maioria, ainda não completamente maduros, sendo denominados linfócitos B
imaturos. Como descrito anteriormente, essas células expressam  IgM na membrana celular, como receptor de Ag. Apenas após o término
do processo de maturação, que ocorre em tecidos linfoides secundários, é que as células B tornam-se maduras, passando a expressar IgM
e IgD, simultaneamente, com a mesma especificidade antigênica. Essas células são capazes de reconhecer antígenos e se diferenciar em
plasmócitos, que são as células realmente secretoras de anticorpos, moléculas efetoras da resposta imune humoral.
Como pode ser observado no quadro a seguir, há alguns tipos diferentes de linfócitos B, com funções e propriedades distintas. As
células B-2 e as células B foliculares correspondem aos linfócitos B “convencionais”, secretores de anticorpos, descritos anteriormente
neste capítulo. As células B da zona marginal e as células B-1 expressam receptores de antígeno com menor diversidade e afinidade, e
atuam precocemente na defesa, em mecanismos de imunidade inata. As células B da zona marginal correspondem a uma população de
linfócitos B localizados na zona marginal do baço, que produz anticorpos IgM de baixa afinidade em resposta a antígenos microbianos
presentes no sangue.
Tabela 2: Características das principais populações de linfócitos B.
Células B foliculares
B-2 Produção de anticorpo (imunidade humoral)
Células B da zona marginal
B-1 Produção de anticorpos naturais (imunidade inata)
 
A imagem 3 a seguirmostra, de forma resumida, as informações mais importantes para guardar sobre os linfócitos B e as principais
classes de linfócitos T.
Imagem 3: Classes de linfócitos. Linfócitos B se transformam em células secretoras de anticorpos. Linfócitos T auxiliares secretam citocinas
que estimulam vários mecanismos da imunidade. Linfócitos T citotóxicos destroem células infectadas. Células T reguladoras suprimem a
resposta imune.
Para finalizar, entendemos que os linfócitos são as principais células que atuam na resposta imunológica adquirida ou adaptativa. Cada
uma atua mediando um tipo de resposta. A célula B atua, principalmente, na imunidade humoral, e a célula T, principalmente, na
imunidade celular. A imagem 4 traz informações já apresentadas nesse capítulo, porém organizadas conforme o mecanismo efetor:
humoral ou celular.
Imagem 4: Tipos de imunidade adaptativa. Na imunidade humoral, linfócitos B secretam anticorpos que atuam contra microrganismos
intracelulares. Na imunidade celular, linfócitos T ativam macrófagos para matar microrganismos fagocitados ou linfócitos T citotóxicos
destroem células infectadas.
Vamos, a partir de agora, estudar esses mecanismos efetores e entender de que forma nosso sistema imune é capaz de bloquear a
ação ou efetivamente eliminar os microrganismos infectantes.
Referência das imagens
1. ABBAS, Abul K. ; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
2. ABBAS, Abul K. ; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
3. ABBAS, Abul K. ; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
4. ABBAS, Abul K. ; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia Celular e Molecular. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
REFERÊNCIAS
1. ABBAS, Abul K. Imunologia celular e molecular. Abul K. Abbas, Andrew H. Lichtman, Shiv Pillai; ilustrações de David L. Baker, Alexandra Baker
[tradução de Tatiana Ferreira Robaina … et al.]. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
2. MURPHY, Kenneth. Imunobiologia de Janeway [recurso eletrônico]/Kenneth Murphy, Paul Travers, Mark Walport; tradução Ana Paula Franco
Lambert ... [et al.]. 7.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
CONFERÊNCIAS
Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida sobre os assuntos abordados nesse capítulo!
 
 
 
 
 
Capítulo 3
ÓRGÃOS E TECIDOS LINFOIDES
1. CASO CLÍNICO
Paciente de 6 anos, sexo masculino, comparece à unidade de pronto atendimento acompanhado pela genitora que refere surgimento
de “caroço” em região submandibular direita há 3 dias. Ela relatou infecção de vias aéreas superiores de início há 5 dias, cursando com
rinorreia, tosse e dor de garganta.
Ao exame, paciente inquieto, choroso, pouco colaborativo com o exame físico.
Apresenta rinorreia amarelada e fluida, além de tosse esporádica pouco produtiva.
Presença de linfonodo aumentado em região submandibular direita, de consistência fibroelástica, aproximadamente 2,5 cm em seu
maior diâmetro, móvel e doloroso à palpação. Não há rubor ou calor local.
Após minutos de insistência, muita luta e 12 abaixadores de língua quebrados, foi possível, em meio ao choro vigoroso do menor,
observar hiperemia e hipertrofia de amídalas, bilateralmente, com presença de placas de aspecto purulento em amídala direita.
O heroico dr. Ulisses, ainda buscando fôlego após a batalha travada, porém tomado por uma alegria estonteante pelo exame físico
realizado, explica à genitora que seu filho apresenta uma “infecção de garganta”, e que essa “íngua” no pescoço é na verdade um linfonodo
que está “reagindo” à infecção. Dr. Ulisses recompõem-se e volta-se para a interna da pediatria que estava acompanhando o atendimento,
e aproveita para explicar um pouco sobre o sistema linfático: “A presença de infecção em determinado tecido leva a eventos imunológicos
na cadeia linfática que realiza a drenagem daquele tecido. Células presentes no local da infecção sofrem migração para os linfonodos,
levando os antígenos para reconhecimento pelos linfócitos. Por isso, algumas vezes há linfonodomegalias associadas aos quadros de
infecção ou de câncer”.
- CÂNCER?! – Grita a genitora, e uma nova batalha se inicia para o Dr. Ulisses.
1.1 POSSÍVEIS  PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS
• Linfonodo: órgãos nodulares, ricos em linfócitos, distribuídos por todo o corpo, onde as respostas imunes adaptativas aos
antígenos surgidos na linfa se iniciam.
• Timo: órgão linfoide situado no mediastino anterior onde ocorre a maturação dos linfócitos T.
• Hematopoese: desenvolvimento de células sanguíneas maduras.
1.2  PALAVRAS-CHAVE
“Sistema linfático”, “Apresentação de antígenos”,  “Linfócitos”,  “Baço”, “Homing de linfócitos”,  “Recirculação”.
1.3 OBJETIVOS
• Conhecer a anatomia do sistema linfoide e linfático.
• Identificar os órgãos e tecidos linfoides primários e secundários.
• Relacionar a estrutura e a localização dos tecidos e órgãos linfoides secundários à ativação da resposta imunológica.
2. iNTRODUÇÃO
Poucas vezes, quando estudamos imunologia, estamos atentos para a quantidade de eventos que ocorre no sistema linfático.
Apresentação de antígenos, homing de linfócitos, seleção e expansão clonal: tudo acontecendo em órgãos e tecidos linfáticos (e nós só
lembramos que as células T maturam no Timo). Trazemos esse capítulo para que você possa entender esses eventos de forma mais fluida
e lógica, sem precisar sair memorizando o que acontece com cada célula isoladamente.
O foco não será anatomia, fisiologia ou histologia do sistema linfático, mas é preciso ter uma noção básica desse sistema para
compreender os fenômenos imunológicos que nele ocorrem. Através do sistema cardiovascular temos a circulação do sangue no corpo
humano. Há contínuo extravasamento de plasma desses vasos para os espaços intersticiais, ou intercelulares. Parte desse plasma retorna
para os próprios capilares sanguíneos, retomando seu percurso original. Ocorre que outra parte desse líquido intercelular é recolhida
pelos capilares linfáticos. A esse líquido chamamos de linfa. Essa linfa percorrerá vasos linfáticos de maior calibre até retornar ao sangue
pelo ducto torácico (imagem 1). Durante todo esse trajeto, a linfa irá passar por órgãos especializados chamados linfonodos, onde é
“filtrada”. O que realmente acontece dentro do linfonodo? O encontro entre antígenos (substâncias virais, bacterianas etc.) e células do
sistema imune, como linfócitos, células dendríticas e macrófagos. Esse encontro se dá por conta dos fenômenos de recirculação de
linfócitos e apresentação de antígenos, e dele decorre a ativação dos linfócitos e, consequentemente, a principal via de estimulação do
sistema imune adquirido.
Imagem 1: O sistema linfático. Ilustração dos principais vasos linfáticos e coleções de linfonodos.
Passada essa introdução geral, vamos recortar o conhecimento em partes para facilitar seu entendimento do assunto. Já que falaremos
muito dos linfócitos, vale destacar onde esses são gerados e amadurecem.
3. ÓRGÃOS LINFOIDES PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS
Todas as células sanguíneas circulantes, inclusive os linfócitos T e B, são gerados na medula óssea. Elas se originam de uma célula
tronco hematopoiética podendo seguir dois caminhos distintos: linhagem mieloide ou linhagem linfoide (Imagem 2). Os linfócitos são
originados da célula precursora da linhagem linfoide. Algumas citocinas produzidas por macrófagos e outros componentes celulares do
estroma da própria medula óssea fornecem o ambiente propício para a geração dessas células sanguíneas. Linfócitos T, macrófagos e
outros tipos celulares também produzem citocinas que influenciarão a hematopoese de forma a repor as células consumidas durante as
reações imunológicas. Além disso, na medula óssea também ocorre o desenvolvimento, ou maturação, dos linfócitos B.
Imagem 2: Hematopoese. Desenvolvimento das principais linhagens de células sanguíneas.
Embora a medula óssea seja o grande órgão da hematopoese, nem sempre essa funçãoé desempenhada pela medula. No início do
desenvolvimento fetal, a hematopoese é estabelecida no saco vitelínico. Por volta do terceiro e quarto meses de gestação, o grande órgão
da hematopoese passa a ser o fígado, e só posteriormente, a medula óssea assume essa função. Após o nascimento, em algumas
condições clínicas, pode ocorrer hematopoese extramedular, principalmente no fígado e no baço.
As células da linhagem T, por sua vez, migram da medula óssea para o Timo, onde amadurecem. O timo é uma glândula linfoide
localizada na parte superior do mediastino, logo atrás do osso esterno (Imagem 3). As células da linhagem T localizados no Timo, também
chamados de timócitos, estão em diversos estágios de desenvolvimento. À medida que eles vão se desenvolvendo, essas células migram
do córtex do timo para sua medula. Apenas os linfócitos T maduros são capazes de deixar o timo e ganhar a circulação. Há uma
observação importante com relação à nomenclatura dos linfócitos. Esses linfócitos desenvolvidos ainda não foram ativados. Podemos
chamá-los de inativos, naïve ou virgens. Os linfócitos só serão ativados após contato com algum antígeno, apresentados pelas células
dendríticas associados à moléculas do MHC. Discutiremos MHC com detalhes no capítulo “MHC e apresentação de antígenos”.
 
 
Imagem 3: Localização anatômica do timo no mediastino superior.
A medula óssea e o timo são chamados de órgãos linfoides geradores, ou primários. Neles, os linfócitos são produzidos ou alcançam
maturidade fenotípica e funcional. Existem, também, os órgãos linfoides secundários, ou periféricos, onde são iniciadas e desenvolvidas as
respostas dos linfócitos aos antígenos. Os principais são os linfonodos, mas também são órgãos secundários o baço, o tecido linfoide
associado ao tecido cutâneo e o tecido linfoide associado às mucosas (MALT).
Através dos vasos linfáticos, os antígenos são transportados para os linfonodos. Podemos pensar nos linfonodos como “barreiras de
verificação” da linfa. Após passar por todos os linfonodos no percurso, a linfa será devolvida à circulação pelo ducto torácico, por isso é
importante ter a certeza de que não se está permitindo que antígenos estranhos passem despercebidos. Por isso, a distribuição dos
linfonodos por todo o corpo é essencial para a eficácia e a celeridade da resposta imune. Dentro desses pequenos órgãos as células
dendríticas apresentam os antígenos aos linfócitos T naïves (inativos).
As células apresentadoras de antígenos (APCs), em especial as células dendríticas, capturam os antígenos em diversos órgãos e
tecidos. Alterações da expressão de moléculas de adesão e o aumento da drenagem linfática causada pelo acúmulo de líquido intersticial
conduzem essas APCs aos vasos linfáticos. Assim, os antígenos capturados são “carregados” até os linfonodos. Alguns antígenos são
transportados livremente, sem o intermédio de APCs. Além dos antígenos, mediadores inflamatórios solúveis, como algumas quimiocinas,
também são transportadas pelos vasos linfáticos. Além das quimiocinas produzidas nos locais de infecção que chegam aos linfonodos, há
quimiocinas produzidas nos próprios linfonodos, que serão discutidas ainda nesse capítulo.
Por que precisamos de mediadores inflamatórios, quimiocinas e citocinas no linfonodo? Primeiro, para ajudar no recrutamento de
leucócitos. Se o antígeno está sendo conduzido para um linfonodo, nada melhor do que conduzir linfócitos ao mesmo local. Isso facilita o
reconhecimento de antígenos e posterior ativação dos linfócitos T e B. Segundo, para que as células dendríticas sejam conduzidas aos
mesmos locais dentro do linfonodo para onde os linfócitos foram. Ou seja, além de chamar os linfócitos para o linfonodo em que há
presença de antígenos, ainda arranja o encontro dos dois para ver se eles “dão match”. O encontro do linfócito com o antígeno é o evento
mais importante que acontece no linfonodo. Ainda temos outros componentes do sistema linfático para discutir, mas antes vamos esgotar
todos os conceitos que podemos aprender olhando apenas para o linfonodo.
Antes de qualquer coisa, é essencial que entendamos qual é a origem da especificidade dos linfócitos. Os linfócitos não se adequam a
um determinado antígeno. Muitos estudantes acham que os linfócitos são uma tela em branco que é preenchida com as informações
necessárias para sua atuação apenas após a ativação pelo antígeno. Alguns pesquisadores, a exemplo de Linus Pauling, defendiam esta
teoria “instrucionista”, em que se acreditava que todos os anticorpos tinham a mesma sequência e eram “moldados” pela molécula de Ag.
Por mais que isso pareça lógico, não é assim que funciona. Nosso organismo já detém informações genéticas que, após recombinação
durante a fase de maturação dos linfócitos, determinarão a especificidade do Receptor de Linfócito T (TCR) ou do anticorpo. Assim, cada
linfócito já nasce direcionado para aquela determinada sequência antigênica. O linfócito, então, vai ficar circulando pelos sistemas
cardiovascular, linfático e órgãos e tecidos linfoides sem nunca ser ativado. Cada linfócito passa por um linfonodo em média uma vez por
dia. Esse vai e vem de linfócitos pelo sistema linfático é chamado de recirculação de linfócitos (imagem 4). E se nenhum antígeno
detentor daquela sequência aparecer? Os linfócitos não ativados, virgens ou naïves, morrem por apoptose (morte celular programada) em
aproximadamente quatro meses.
Imagem 4: Vias de recirculação dos linfócitos T. Células T naïves entram no linfonodo pela corrente sanguínea enquanto as células
dendríticas entram pelos vasos linfáticos. Após ativação, as células efetoras ganham a circulação e migram para os locais de infecção.
A imagem 5 apresenta uma estrutura do linfonodo muito importante no processo de direcionamento dos linfócitos dentro desse órgão
secundário, as vênulas endoteliais altas (HEV). Os linfócitos que chegam aos linfonodos pela corrente sanguínea deixam a circulação e
entram no estroma do linfonodo através das HEVs. Isso se dá por conta de moléculas de adesão dentro dessas vênulas. As células ficam
aderidas à parede desses vasos específicos pela ligação de selectinas e integrinas, de forma semelhante à rolagem dos leucócitos nos
leitos vasculares. Assim, os linfócitos passam mais tempo dentro do linfonodo, aumentando a chance de encontrar seu antígeno
específico.
Imagem 5: Microanatomia do córtex do linfonodo.
Não basta, porém, que o antígeno e o linfócito estejam dentro do mesmo linfonodo. Eles precisam entrar em contato lá dentro. Antes
de entender como que se dá a migração dessas células para seus locais específicos nos linfonodos, é preciso saber que locais são esses. Os
linfócitos T se encontram em estruturas chamadas cordões paracorticais. A maioria é de linfócitos T CD4+, mas no curso de uma infecção
viral, por exemplo, pode haver aumento da população de linfócitos T CD8+. As células B estão em estruturas mais marginais chamadas
folículos (imagem 6).
Imagem 6: Morfologia de um linfonodo, contendo as zonas ricas em células T e B e as vias de entrada dos linfócitos e antígenos.
Nas regiões mais centrais dos folículos, quando ocorre ativação da resposta imunológica, observamos estruturas denominadas centro
germinativos. Esses são locais de proliferação acentuada de células B. Respondem à estimulação antigênica selecionando células B que se
diferenciam em plasmócitos secretores de anticorpos de alta afinidade e gerando células B de memória.
Agora, como que se dá o encontro entre antígenos e células T e B dentro do linfonodo? A resposta é simples: eles saem caminhando aí
por dentro. Você se lembra que os antígenos foram transportados ao linfonodo pelas células dendríticas? E também que algumas
quimiocinas são levadas ao linfonodo enquanto outras são produzidas dentro desses órgãos? Pois bem, tanto os linfócitos T quanto as
células dendríticas têm receptores CCR7 semelhantes. Esses receptores são específicos paras as quimiocinas CCL19 e CCL21, que são
expressas por células do estroma das zonas de célulasT do linfonodo. Como os receptores são semelhantes, as quimiocinas são capazes
de guiar esses tipos celulares para as mesmas regiões do linfonodo. Assim, o destino do antígeno e do linfócito T acaba sendo o mesmo
(imagem 7).
 
 
Imagem 7: Ilustração das vias pelas quais linfócitos T e B imaturos migram para diferentes áreas nos linfonodos, além da migração das
células dendríticas em direção às zonas ricas em células T.
As células B, por sua vez, respondem a outras quimiocinas, chamadas CXCL13. Desse modo, as quimiocinas e citocinas são importantes
no arranjo das células dentro dos linfonodos. Cada população de linfócito, portanto, fica em contato com a APC correspondente: T com
célula dendrítica e B com dendríticas foliculares, um tipo específico de APC que atua na apresentação de antígenos aos linfócitos B dentro
dos folículos. Vamos focar nos linfócitos T, por enquanto. Após contato com o antígeno há a ativação do linfócito T. Em seguida, ocorre o
que chamamos de seleção e expansão clonal. Esclareceremos esses processos adiante. Parte das células T ativadas, os linfócitos T
foliculares (Linf TFH) também expressam receptor para CXCL13. Migram, portanto, para os folículos, onde encontram as células B e
auxiliam na sua ativação. Em seguida, as células B migram para os centros germinativos, onde, como já foi dito, ocorre significativa
proliferação dos linfócitos B selecionados pelo antígeno. Ocorrendo a ativação dos linfócitos, inicia-se um novo modelo de migração. As
células T efetoras não expressam receptor de quimiocinas CCL19 e CCL21. Dessa forma, não há estímulos para que essas continuem nas
zonas de células T dos linfonodos. Por isso, ganham a circulação e seguem, principalmente, para o local da infecção. As células B ativadas,
além de ganharem a circulação, podem produzir células de memória que retornarão à medula óssea ou ficarão no linfonodo. Esses
diversos caminhos, entretanto, não são alvo deste capítulo.
Por isso, faço com vocês a brincadeira de dizer que nesse encontro o linfócito e o antígeno “dão match”. O linfócito circula o corpo
inteiro encontrando milhares de antígenos distintos sem ser ativado. Para sofrer a ativação tem que reconhecer algum antígeno que
contenha aquela sequência capaz de ativá-lo, praticamente sua “cara metade”. Ou seja, milhares, talvez milhões de linfócitos passam cara a
cara com antígenos produzidos pelo microrganismo, sem que haja reconhecimento, ativação e estímulo à resposta imunológica
adaptativa. Para que haja esse reconhecimento, as células precisam migrar de forma coordenada dentro dos linfonodos, e as quimiocinas
exercem papel fundamental para essa coordenação.
Pois bem, agora já entendemos que quimiocinas e citocinas promovem o encontro de antígenos e linfócitos dentro dos linfonodos,
assim como a ativação das células B e T. Para entendermos como se dá essa ativação, é essencial que tenhamos a compreensão acerca de
dois conceitos: seleção e expansão clonal. Como já explicamos anteriormente, os linfócitos já são gerados com a especificidade para um
determinado epítopo, ou sequência de antígeno, e circulam pelo corpo, principalmente pelo sistema linfático, esperando o momento em
que encontrarão essa sequência. Um antígeno, portanto, pode se deparar com milhares e milhares de linfócitos até encontrar aquele que
ele é capaz de ativar. Podemos enxergar esse linfócito como sendo “selecionado”. Esse processo em que um antígeno seleciona um
linfócito em meio a milhões de linfócitos praticamente iguais, mas com especificidade dos receptores diferente, é denominado seleção
clonal. Como temos uma diversidade muito grande entre os linfócitos, há apenas poucos linfócitos para determinado antígeno. Após o
linfócito específico para aquele antígeno ter sido selecionado, há a necessidade de aumentar significativamente o número de cópias dele
para que se tenha uma população suficientemente grande de células efetoras para combater a infecção que se encontra em curso
(lembrando que um antígeno não é necessariamente um agente infeccioso). O processo de proliferação do clone específico de linfócito se
chama expansão clonal.
Lembre-se de que tudo isso acontece, principalmente, em linfonodos. Temos, entretanto, outros componentes também classificados
como tecidos ou órgãos linfoides secundários ou periféricos. Dentre esses, vale destaque o baço, órgão linfoide capsulado localizado no
hipocôndrio esquerdo (imagem 8). Tem como funções hematológicas a hematopoese, na fase fetal, e a hemocaterese, processo fisiológico
contínuo de destruição de hemácias envelhecidas ou lesadas. Esse último ocorre num espaço chamado polpa vermelha.
Imagem 8: Ilustração das zonas de células T e B que formam a polpa branca do baço.
Além dessas funções, o órgão apresenta algumas funções imunológicas que merecem destaque. A polpa branca, espaço caracterizado
na imagem 8, é uma região rica em tecido linfoide. Pode-se observar que, assim como no linfonodo, há segregação entre células T e B,
cada uma tendo zonas específicas dentro do órgão. Mais uma vez, essa separação é coordenada por quimiocinas e seus receptores. Qual é
a diferença, então, entre o linfonodo e o baço, do ponto de vista imunológico? O baço é o principal local de respostas imunológicas a
antígenos provenientes do sangue. Muitas vezes ouvimos falar que o baço é o “filtro do sangue”. Isso é verdade quando analisamos os
eritrócitos, visto que a partir do baço selecionamos as células lesadas para serem descartadas e destruídas, mas também é verdade
quando analisamos sua função imunológica. Enquanto os antígenos que se encontram nos tecidos são levados aos linfonodos pelas APCs,
os microrganismos que se  encontram no sangue seguem o fluxo natural do sistema cardiovascular até o baço, que é o principal local de
fagocitose de microrganismos recobertos por anticorpos. Você já ouviu falar que pessoas que retiraram o baço, ou esplenectomizadas,
têm maior risco de desenvolver infecções por germes encapsulados, como pneumococo e meningococo? Esses germes são mais
comumente eliminados via opsonização por anticorpos e fagocitose. No baço temos um número muito grande de macrófagos e uma
estrutura capilar que facilita a fagocitose por essas células. Ou seja, o paciente sem baço perde um local em que ocorre boa parte da
fagocitose de microrganismos opsonizados.
Temos, também, dois sistemas de relativa importância para as respostas imunes que ainda precisamos discutir. O primeiro é o Sistema
Imunológico Cutâneo, um sistema especializado constituído de linfócitos e APCs presente na pele. Os três principais locais de contato
entre nosso organismo e os antígenos são a pele e os tratos gastrointestinal e respiratório. Muitas respostas imunológicas são, portanto,
iniciadas nessas três principais portas de entrada. Na pele, os próprios queratinócitos, que são células diferenciadas do tecido epitelial,
produzem citocinas que contribuem para reações inflamatórias e outras reações inatas.
Imagem 9: Componentes celulares do sistema imune cutâneo: queratinócitos, células de Langerhans e linfócitos intraepiteliais na
epiderme e linfócitos T, células dendríticas e macrófagos na derme.
Além dos queratinócitos, há células dendríticas imaturas, as Células de Langerhans, que formam uma rede praticamente contínua na
epiderme. Quando essas encontram microrganismos, são ativadas por receptores semelhantes a toll (TLRs). Após a ativação, perdem a
adesividade à pele e entram nos vasos linfáticos para seguir aos linfonodos para apresentarem os antígenos aos linfócitos. Por falar em
linfócitos, a pele contém linfócitos próprios chamados de linfócitos intraepidérmicos, ou intraepiteliais, sendo grande parte desses
constituída por linfócito T CD8+. Esses expressam um conjunto significativamente mais restrito de receptores. Há outros linfócitos T CD4+ e
CD8+ com características de linfócitos ativados e de células de memória presentes, principalmente, na derme. Não se sabe ao certo se
esses se mantêm de forma fixa na pele ou se estão transitando como parte do percurso

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