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Unidade I COERÊNCIA E COESÃO NA LINGUAGEM EM USO – ORAL E ESCRITA Prof. Adilson Oliveira Coerência Os falantes de uma língua têm a capacidade de perceber o que é um texto incoerente e o que é um texto coerente e diferenciá-los. O que é um texto? Um texto não é um amontoado de frases isoladas. Pode-se utilizar uma metáfora para compreender isso mais claramente: um texto apresenta entrelaçamento de palavras bem-articuladas, assim como uma teia de aranha deve apresentar um entrelaçamento de fios firmes. Conceito de texto Para Bakhtin (“Marxismo e filosofia da linguagem”, 2002): “Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra se apoia sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor.” Conceito de texto Para Koch (“Introdução à linguística textual”, 2009): “Poder-se-ia, assim, conceituar o texto, como uma manifestação verbal constituída de elementos linguísticos selecionados e ordenados pelos falantes durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com práticas socioculturais.” Conceito de texto Para Marcuschi (“Linguística textual: o que é e como se faz”, 1983): “A Linguística Textual trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações humanas. Por um lado, deve preservar a organização linear que é o tratamento estritamente linguístico, abordado no aspecto da coesão e, por outro lado, deve considerar a organização reticulada ou tentacular, não linear: portanto, dos níveis do sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas.” Macroestruturas e microestruturas A coerência depende do que existe registrado na memória para que o texto se torne compreensível. Pode-se dizer que essa é a dimensão semântica da coerência. A interação entre dois usuários da língua depende das intenções comunicativas dos interlocutores. É ela que torna um texto com sentido para os usuários. Essa é a dimensão pragmática da coerência. Coerência A coerência é algo intrínseco ao texto? Não, a coerência não está no texto, ela deve ser construída. Segundo Van Dijk (1983), as macroestruturas são estruturas globais e fundamentais para a compreensão textual, abarcando o conteúdo semântico global, ou seja, relacionam-se ao conteúdo do texto e estão subjacentes à superfície textual. Os recursos coesivos presentes na superfície textual (nível das microestruturas) têm a função de orientar o leitor/ouvinte na construção desse sentido. Coerência Deve-se estabelecer, dessa forma, um sentido global para o texto, ou seja, uma relação significativa entre seus elementos. Isso só pode ocorrer a partir da interação na comunicação e com os elementos que o falante armazenou em sua memória no decorrer de sua experiência de vida. Coerência Considerando tudo isso, o que é um texto incoerente? Texto incoerente é aquele no qual o receptor (leitor ou ouvinte) não consegue descobrir continuidade de sentido, pois o conteúdo não está em acordo com as informações acumuladas em sua memória. Por exemplo, grande parte de uma tese de doutorado em física quântica não fará sentido para um leigo nesse assunto. Coerência Na atividade de produção textual, portanto, os interlocutores utilizam vários sistemas de conhecimentos que têm representados na memória. Portanto, o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no curso de uma interação. Interatividade Considere as afirmações abaixo e assinale alternativa correta. I. Um texto não é um aglomerado de frases. II. Isolando frases do texto, podemos conferir-lhe o significado que se deseja. III. Para entender qualquer passagem de um texto, é necessário confrontá-la com as demais partes que o compõem sob pena de dar-lhe um significado oposto ao que ela de fato tem. IV. Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o produziu. a) Apenas as alternativas I e III estão corretas. b) Apenas as alternativas I, II e IV estão corretas. c) Apenas as alternativas II, III e IV estão corretas. d) Apenas as alternativas I, III e IV estão corretas. e) Todas as alternativas estão corretas. Coerência Para ilustrar a afirmação a partir do que foi dito nos slides anteriores, utilizaremos a metáfora do iceberg. Como um iceberg, todo texto possui apenas uma pequena superfície exposta e uma imensa área imersa subjacente. Para se chegar ao implícito e dele extrair sentido, faz-se necessário recorrer a sistemas de conhecimento e ativação de estratégias interacionais. Coerência É a coerência assim estabelecida que, em uma situação concreta de interlocução, vai levar os participantes a identificar um texto como um texto. Assim, por meio de várias “dicas”, representadas por elementos linguísticos de várias ordens, de acordo com a estrutura de cada língua, haverá comunicação eficaz. Coerência Aliás, uma vez que a coerência não constitui uma propriedade do texto, o leitor/ouvinte deverá levar em conta não somente os elementos linguísticos que compõem o texto, mas também o conhecimento enciclopédico, conhecimento compartilhado, crenças, convicções, atitudes, intenções explícitas ou implícitas do texto, pressuposições, situação comunicativa imediata, contexto sociocultural, que, segundo Koch (1989), são fatores de coerência do texto. Coerência e conhecimento linguístico Os elementos linguísticos são importantes para o estabelecimento da coerência, mas não entendemos o significado de uma mensagem com base apenas nas palavras e na sintaxe. O conhecimento gramatical e lexical compõem o conhecimento linguístico. Este organiza o material na superfície textual, pelo uso dos elementos coesivos que a língua nos oferece para estruturar o texto, selecionando também o léxico. Coerência e conhecimento linguístico Veja o cartaz abaixo: Palestra “Alguns aspectos da estrutura narrativa dos contos de Guimarães Rosa”. Prof. Dr. Mário Abranches Data: 20/10/2008 – Quarta-feira Horário: 16 horas Local: Novo Auditório Coerência e conhecimento linguístico O entendimento do cartaz de aviso depende ao menos dos seguintes conhecimentos (não presentes no cartaz) do produtor e do receptor do texto: a palestra tratará de um assunto relacionado à literatura; quem é o professor e se é bem-qualificado; onde é o novo auditório. É a coerência, portanto, que determina quais elementos vão constituir a estrutura superficial linguística do texto e como eles vão estar encadeados na sequência linguística superficial. As marcas linguísticas recuperam a coerência do texto. Coerência e conhecimento de mundo O sentido de um texto depende, em grande parte, do conhecimento de mundo do usuário. Pode haver não apenas informações adquiridas por meio de leituras e estudos, mas também conhecimento advindo de experiências vivenciadas. A partir do resgate desses elementos armazenados na memória, levantam-se hipóteses e se produzem inferências que permitem preencher as lacunas encontradas na superfície textual. Coerência e conhecimentode mundo Os modelos cognitivos organizam nosso conhecimento do mundo, pois são blocos completos de conhecimentos utilizados na interação humana. Entre os modelos cognitivos globais, os frames, os esquemas, os planos e os scripts são os tipos básicos utilizados no processo cognitivo para se compreender um texto. Coerência e conhecimento de mundo Frames: são modelos globais que contêm o conhecimento de senso comum sobre um conceito central, ou seja, os elementos que logo surgem na mente quando se pensa, por exemplo, em férias, ceia de Natal ou carnaval. Apresentam os elementos que, em princípio, são componentes de um todo, mas não estabelecem entre eles uma ordem ou sequência. Coerência e conhecimento de mundo Esquemas: diferem dos frames porque são modelos cujos elementos são ordenados em uma progressão, de modo que podem estabelecer hipóteses sobre o que será feito ou mencionado a seguir no universo textual. As ligações básicas são a proximidade temporal e a causalidade, sendo, pois, os esquemas ordenados e previsíveis. Por exemplo, ao entrarmos em um restaurante, sabemos que alguém nos atenderá, pediremos a refeição, a sobremesa e, em seguida, pagaremos a conta. Interatividade Q2. Um dos conceitos nos estudos do texto é o de contexto. Quando adotamos, para entender o texto, a metáfora do iceberg, que tem uma pequena superfície à flor da água (o explícito) e uma imensa superfície subjacente, que fundamenta a interpretação (o implícito), podemos chamar de contexto o iceberg como um todo, ou seja, tudo aquilo que, de alguma forma, contribui para a construção de sentido do texto. Leia a charge a seguir. Disponível em <webmundi.com>. Acesso em 04 out. 2015 Um dos conceitos nos estudos do texto é o de contexto. Quando adotamos, para entender o texto, a metáfora do iceberg, que tem uma pequena superfície à flor da água (o explícito) e uma imensa superfície que fundamenta a interpretação (o implícito), podemos chamar de contexto o iceberg como um todo, ou seja, tudo aquilo que, de alguma forma, contribui para construção de sentido do texto. Leia a charge a seguir: Interatividade Considere as afirmações abaixo relativas ao que foi exposto anteriormente. I. A ambiguidade instaura-se no texto imagético apresentado, no momento em que não conseguimos entender a inserção do último elemento na mensagem veiculada. Mesmo conhecendo o contexto socioeconômico-político atual, não é possível entender o texto como um todo. II. Além dos elementos linguísticos, a leitura do texto imagético demanda a (re)ativação de outros conhecimentos armazenados na memória que nos possibilitam, por exemplo, situar a charge no momento atual, relacionando-a às questões relativas ao universo da globalização. Interatividade III. A evolução veiculada na charge refere-se à evolução da humanidade, porém o último elemento apresentado (da esquerda para a direita) não faz parte dessa evolução, já que acrescenta um elemento inusitado. Desse modo, a leitura torna-se difícil, pois esse elemento novo quebra a linha de tempo estabelecida pelo autor do texto. Está correto o que se afirma apenas em: a) I. b) II. c) III. d) II e III. e) I e III. Coerência e conhecimento de mundo Superestruturas: um tipo particular de esquema são as superestruturas ou esquemas textuais. Elas representam estruturas globais que caracterizam qualquer texto, enquadrando-o em esquemas particulares de articulação sintática também global. Essa estrutura possui caráter convencional e é reconhecida pela maioria dos falantes de uma comunidade linguística. Por exemplo: textos narrativos (uma sequência de ações até o desfecho), textos dissertativos (introdução, desenvolvimento e conclusão) e textos descritivos (predomina a caracterização de ambientes, objetos e pessoas). Coerência e conhecimento de mundo Planos: são modelos globais de acontecimentos e estados que conduzem a uma meta pretendida. Além de terem todos os elementos em uma ordem previsível, levam a um fim planejado. Um manual de instruções para a montagem de um aparelho é um bom exemplo. Coerência e conhecimento de mundo Scripts: são planos estabilizados. Os participantes desempenham papéis específicos em ações previstas. Diferem dos planos por conterem uma rotina preestabelecida. Trata-se de um todo sequenciado de maneira estereotipada, inclusive em relação à linguagem, ou seja, com formas linguísticas cristalizadas e adequadas a um determinado contexto. Em rituais religiosos, por exemplo, aparecem esses estereótipos. Em uma cerimônia de casamento há uma sequência de ações previsíveis e espera-se que o padre diga “Eu vos declaro marido e mulher”. Os eixos de análise textual – coerência A coerência faz parte do nível macroestrutural de análise. Esse nível refere-se às relações de coerência textual, responsáveis por construir a significação global no texto pelos processos de produção e compreensão textual, analisados em uma leitura top-down (no eixo vertical). A coerência textual é considerada fundamental para a textualidade, pois dela depende em grande parte o sentido do texto. A construção da coerência textual depende da organização tentacular de fatores de diversas ordens: linguísticos, cognitivos, socioculturais, interacionais e pragmáticos. Níveis de coerência Coerência narrativa é a que ocorre quando se respeitam as implicações lógicas existentes entre as partes da narrativa. A coerência argumentativa diz respeito às relações de implicação ou de adequação que se estabelecem entre certos pressupostos ou afirmações explícitas colocadas no texto e as conclusões que se tira deles, as consequências que se fazem deles decorrer. Coerência figurativa diz respeito à combinatória de figuras para manifestar um dado tema ou à compatibilidade de figuras entre si. Níveis de coerência Coerência temporal é aquela que respeita as leis da sucessividade dos eventos ou apresenta uma compatibilidade entre os enunciados do texto, do ponto de vista da localização no tempo. Coerência espacial diz respeito à compatibilidade entre os enunciados do ponto de vista da localização espacial. Coerência no nível de linguagem usado é a compatibilidade, do ponto de vista da variante linguística escolhida, no nível do léxico e das estruturas sintéticas utilizados no texto. Critérios de textualidade 1. Princípio de interpretabilidade – depende da coparticipação dos sujeitos envolvidos na situação de comunicação e da intenção comunicativa. Não há textos incoerentes em si, eles são coerentes dentro de um contexto interacional e o que pode ser incoerente para um poder fazer todo sentido para outro. 2. Situação comunicativa – diz respeito à situacionalidade que envolve a interação e interfere na produção/recepção do texto, podendo ser entendida em sentido estrito (contexto imediato) e em sentido amplo (contexto sociopolítico-cultural). Critérios de textualidade 3. Conhecimento de mundo e conhecimento partilhado – conhecimento de mundo é toda memória de vida (social, histórica e individual) armazenada mentalmente e o conhecimento partilhado é a intersecção de conhecimentos comuns compartilhados por produtor e receptor na interação comunicativa. 4. Polifonia (várias vozes) – diz respeito ao jogo de vozes e pontos de vista presentes no texto. Muitas vezes, a mudança de vozes nem sempre aparece nitidamente marcada no texto. Critérios de textualidade 5. Inferência – relaciona-se às estratégias cognitivas que, com base no conhecimento de mundo, organizam e acionam os modelos globais de estruturas textuais: frames, esquemas, planos, scripts. 6. Intertextualidade – éum fator importante para o processamento cognitivo do texto, na medida em que recorre ao conhecimento de outros textos. Todo texto traz em si, em níveis variáveis, um grau de intertextualidade, seja ela explícita (quando há indicação da fonte) ou implícita (quando não há indicação da fonte). Critérios de textualidade 7. Intencionalidade – esse critério tem uma forte relação com a argumentatividade e refere-se à forma como os sujeitos usam textos a fim de perseguir e realizar suas intenções, de modo que seus textos produzam-se adequados à obtenção dos efeitos desejados. 8. Informatividade – é o grau de previsibilidade informacional presente no texto que também está condicionado à intencionalidade e é regulado pelo contexto situacional mais amplo. O grau de informatividade vem imediatamente da relação “dado-novo” referente às informações do texto. Com base no texto a seguir, fica evidente que: Interatividade Com base no texto a seguir, fica evidente que: Disponível em <melissabrasil2007http://propaganda1247.mp5247>. Acesso em 02 out. 2015. Interatividade I. Para o entendimento do sentido de um texto, o conhecimento linguístico é insuficiente. II. O sentido de um texto resulta da atividade conjunta dos sujeitos envolvidos na interação. III. Os itens explícitos, e não os implícitos, possibilitam a identificação do sentido do texto. IV. No processo de leitura e produção de sentido, a situação da interação é de grande significação. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I, II e III b) II, III e IV c) I, III e IV d) I, II e IV e) I, II, III e IV Os eixos de análise textual – coesão A coesão textual faz parte do nível microestrutural. Esse nível refere-se às relações coesivas lineares que dizem respeito ao modo como os elementos presentes na superfície textual (no eixo horizontal) estão interconectados por meio de recursos linguísticos, constituindo sequências veiculadoras de sentido. Os eixos de análise textual – coesão Diferentemente da coerência, a coesão diz respeito à estrutura formal do texto. Trata da manifestação linguística da coerência e apresenta-se na forma como conceitos e relações subjacentes são expressos no texto. A coesão é construída por meio de elementos gramaticais (pronomes anafóricos, catafóricos, artigos, elipse, concordância, correlação entre os tempos verbais, conjunções etc.), que definem as relações entre frases e sequências de frases e no interior delas, e elementos lexicais, por meio da reiteração, da substituição e da associação. Tipos de coesão As várias possibilidades de coesão textual podem ser agrupadas dentro de três grandes tipos: 1. Coesão referencial Diz respeito aos elementos que têm a função de estabelecer referência. Não são interpretados pelo seu sentido próprio, mas referem-se a alguma outra coisa, relacionando o signo a um objeto. A coesão referencial é obtida por meio da substituição e da reiteração de termos. A coesão referencial subdivide-se em dois tipos: substituição e reiteração. Tipos de coesão 2. Coesão recorrencial Esta se dá quando, apesar de retomadas estruturais, a informação progride, o discurso segue adiante. A coesão recorrencial é obtida por meio da recorrência de termos, paralelismo, paráfrase e recursos fonológicos. Tipos de coesão 3. Coesão sequencial Esta tem por função (assim como a recorrencial) fazer o texto progredir, encaminhar o fluxo informacional, porém não pela retomada de itens ou estruturas, mas pela sequenciação das sentenças por meio de mecanismos temporais e conectivos. Coesão referencial 1. Substituição – dá-se quando um elemento é retomado ou antecedido por uma proforma (elemento gramatical de baixa densidade sêmica – o pronome, por exemplo). As proformas podem ser: Pronominais: “Anita vendeu um carro. Ele é preto”. A proforma pronominal ELE retoma o referente UM CARRO. Verbais: “Laura caminha todos os dias no parque da cidade. Armando faz o mesmo”. A proforma verbal FAZ O MESMO retoma o referente CAMINHA TODOS OS DIAS NO PARQUE. Coesão referencial Numerais: “Evandro e Marta são primos. Ambos estudam numa escola do Estado”. A proforma numeral AMBOS retoma o referente EVANDRO e MARTA. Adverbiais: “PAMELA vai a Paris todos os anos em dezembro. Lá faz muito frio”. Coesão referencial No caso da retomada do referente, tem-se uma anáfora, por exemplo: A1) “Anita é uma moça trabalhadora e esforçada. Ela levanta cedo e dorme tarde, pois, para trabalhar, essa moça pega quatro conduções todos os dias”. No caso da sucessão do referente, tem-se uma catáfora, por exemplo: A2) “Juliana só me disse isso: não quero casar com Pedro”. Coesão referencial Anáfora esquemática: “Meu filho vai se casar. Ela é professora”. O pronome ELA retoma a ideia de que o filho vai se casar com uma mulher. Definitivização: “Era uma vez uma princesa encantada que vivia presa em uma torre. A princesa era filha...”. O referente é introduzido indefinidamente e retomado definidamente. Elipse: é a substituição por zero . _“O que você fez ontem o dia inteiro? _ Nada. _ Não fez nada durante o dia inteiro? _ Não”. Coesão referencial 2. Reiteração – dá-se quando há repetição de certas expressões no texto que possuem a mesma referência. Os tipos de reiteração são: Repetição do mesmo item lexical: “A água acabou com a cidade. A cidade ficou alagada. Da cidade não sobrou nada”. Sinonímia: “Tião é o meu cachorro” / “Tião é o meu cão”. Coesão referencial Hiperonímia: “Luciana comprou um imóvel. O apartamento tinha uma excelente vista”. Hiponímia: “Júlia foi vendedora de carros. Os veículos eram de primeira linha”. Interatividade Leia as frases que seguem. I. Machado de Assis é um grande escritor brasileiro. Ele escreveu “Dom Casmurro”. II. Machado de Assis escreveu estes livros: “Dom Casmurro”, “Memórias póstumas de Brás Cubas”, entre outros. III. Ele é um grande escritor. Machado de Assis ganhou vários prêmios literários. IV. O Romantismo e o Realismo são movimentos literários nos quais Machado de Assis mostrou sua genialidade. Esses movimentos são do século XIX. São catafóricas apenas as frases: a) I, II, III e IV. b) II e III. c) III e IV. d) I e IV. e) I, II e IV. ATÉ A PRÓXIMA! Unidade II COERÊNCIA E COESÃO NA LINGUAGEM EM USO – ORAL E ESCRITA Prof. Adilson Oliveira Coesão recorrencial A Coesão Recorrencial é voltada à recorrência temática para construir o movimento dado-novo que retoma as informações dadas e acrescenta informações novas, fazendo fluir o texto. Recorrência de termos: tem função de ênfase, intensificação e possibilita o fluir da informação no texto. “Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor...” (Manuel Bandeira) Coesão recorrencial Paralelismo: traz estruturas (lexicais) ou ideias (do mesmo campo semântico) paralelas. “Eia! Eia! Eia! Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria! Eia telegrafia sem fios, simpatia metálica do inconsciente! Eia túneis, eia canais, panamá, Kiel,Suez! ...”. (Fernando Pessoa) Coesão recorrencial Paráfrase: ato de reformulação pelo qual dizemos a “mesma coisa” com outras palavras, relacionando texto-fonte e texto-derivado. Recursos fonológicos: “a forma fonética é uma consequência da estrutura semântica fornecida pela sintaxe”, considerando-se nesse aspecto os funcionamentos pragmáticos, estilísticos e psicolinguísticos da produção textual. Os recursos fonológicos podem ser de dois tipos: segmentais: aliteração, assonância, cacofonia etc. suprassegmentais: ritmo, silêncio, entonaçãoetc. Coesão sequencial A Coesão Sequencial refere-se ao desenvolvimento textual propriamente dito por procedimentos de manutenção e progressão temática. Na prática, é aquela que se estabelece por meio de conectivos, cuja função é, basicamente, ligar as frases e estabelecer uma relação de sentido entre elas. Coesão sequencial Temporal: toda sequenciação é temporal, mas essa categoria quer indicar o tempo no “mundo real”. Aqui temos os seguintes subitens: Ordenação linear dos elementos: “Levantou cedo, tomou café e saiu”. Expressões ordenadoras ou continuadoras: “Inicialmente você lava os cabelos. Depois aplica a máscara capilar. A seguir você enxágua e escova os cabelos”. Partículas temporais: “Não deixe de escovar os dentes à noite”. Correlação dos tempos verbais: “Eu solicitei que saíssem da minha casa”. Coesão sequencial Por conexão: subordinação dos enunciados a outros para contribuir para a compreensão por meio de sua interdependência de ordem semântica, lógica ou pragmática. Operadores do tipo lógico: estabelece relações gramaticais lógicas de interdependência. → Disjunção inclusiva – “Há vagas para moças ou rapazes”. → Disjunção exclusiva – “Dilma ou Serra será eleito presidente do Brasil”. → Condicionalidade – “Se chover, não iremos à praia”. → Causalidade – “Se Sócrates é homem, então ele é mortal”. Coesão sequencial → Mediação – “Fugiu para que não o prendessem”. → Complementação – “Jéssica deu uma flor à professora”. → Restrição ou delimitação – “Atropelei a moça que faz artesanatos”. Coesão sequencial Operadores do discurso: estabelecem relações argumentativas, discursivas. → Conjunção – “Chove e faz sol”. → Disjunção – “Estude bastante para as provas. Ou vai querer pegar uma DP?”. → Contrajunção – “Estudou muito, porém não passou no vestibular” [contudo / todavia / entretanto...]. → Explicação ou justificativa – “Deve haver um engano, pois eu cheguei aqui desde ontem”. → Conclusão – “Não gosto de você, portanto, saia da minha casa”. Coesão sequencial Pausas: restabelecem a conexão entre dois enunciados, mesmo com a ausência do conectivo. “Não mexa nesses fios; levará um choque”. “Não fui ao enterro; mandei uma coroa de flores”. Interatividade Leia a tirinha e as afirmativas que seguem. Disponível em <http://soumaisenem.com.br/redacao/coesao-e-coerencia/tipos- de-coesao-sequencial-e-recorrencial-0>. Acesso em 15 out. 2015. Interatividade I. Na frase “Vou ao mercado e já volto.”, há uma relação de oposição. II. Na frase “Não abra a porta para ninguém mesmo que a pessoa insista.”, tem-se o sentido de concessão. III. Na frase “E se for a felicidade?”, há uma ideia de condição. Está correto o que se afirma apenas em: a) I, II e III. b) II e III. c) I e III. d) I e II. e) II. Texto oral e texto escrito: algumas considerações O ensino tradicional não considera a noção de variação linguística. Ele torna-se ainda mais precário no que se refere ao trabalho: com a linguagem oral e com os níveis de formalidade do discurso; com a conceituação do que vem a ser o texto e seus critérios de textualidade; e com o processo de leitura e produção escrita. Infelizmente, a realidade escolar mostra sérios problemas relacionados à aquisição da linguagem escrita, envolvendo os processos de leitura e produção. Texto oral e texto escrito: algumas considerações O discurso oral é tomado apenas como “antimodelo”, ou seja, o que deve ser evitado na escrita, deixando de ser explorado como processo ativo na linguagem. Os níveis de formalidade textual são encarados apenas como dois parâmetros que classificam a linguagem como formal (escrita) ou informal (oral), deixando de conferir ao texto (oral ou escrito) uma posição em uma “escala” de formalidade, atribuindo-lhe a propriedade de ser mais ou menos formal de acordo com sua natureza. Texto oral e texto escrito: algumas considerações O texto, na maioria das vezes, é tido como um conjunto de palavras a serem decodificadas sem se levar em conta elementos como autoria e sentido. O processo de escrita é considerado como cópia do padrão da escrita literária e acadêmica, sem que se ensine como se dá esse processo, nem quais as implicações da relação entre a passagem da oralidade para a escrita e o exercício da produção textual escrita. Texto oral e texto escrito: algumas considerações É urgente buscar soluções no sentido de se adotar uma postura mais séria e comprometida que supere e redimensione as concepções tradicionais de ensino de língua, veiculadas convencionalmente nas escolas. Assim, justifica-se a ênfase na importância acerca da reflexão sobre um “continuum” na relação fala/escrita e suas implicações na aquisição da linguagem escrita e processos de leitura e produção, para uma aprendizagem mais proveitosa e adequada. Texto oral e texto escrito: algumas considerações Outro ponto merecedor de destaque é que refletir sobre a relação oralidade/escrita inevitavelmente traz à tona questões relacionadas à variação linguística e, nesse sentido, é importante refletir sobre os aspectos teóricos que dizem respeito às modalidades oral e escrita em relação aos diferentes níveis de formalidade da linguagem e da variação que compõem um “continuum” fala-escrita. Texto oral e texto escrito: algumas considerações A elaboração textual está baseada em uma diversidade de gêneros textuais que se bem explorada, a partir das diversas situações do dia a dia, nos diferentes níveis de formalidade, tanto no que se refere a textos falados, quanto textos escritos, propicia uma reflexão acerca da influência mútua entre as modalidades oral e escrita, uma vez que tudo o que se fala pode se tornar escrito e vice-versa. Texto oral e texto escrito: algumas considerações Os modelos cognitivos organizam nosso conhecimento do mundo, pois são blocos completos de conhecimentos utilizados na interação humana. Entre os modelos cognitivos globais, os frames, os esquemas, os planos e os scripts são os tipos básicos utilizados no processo cognitivo para se compreender um texto. Exemplos de gêneros escritos: cartas, memorandos, ofícios, anúncios, formulários, e-mails etc. Exemplos de gêneros orais: telefonemas, aulas, entrevistas de emprego, conferências, palestras, comunicações etc. Variação linguística A variação linguística pode ser investigada tanto na oralidade quanto na escrita. No entanto, é interessante enfocarmos a fala, já que esta é uma atividade muito mais fundamental que a escrita na vida das pessoas. O homem é essencialmente um ser que fala. Entretanto, como temos visto, a escola não considera esse lugar da fala e confere, no ambiente acadêmico, uma posição inferior, desvalorizada, centralizando a atenção dos alunos nas atividades de escrita. Variação linguística Se parar para pensar um pouco sobre a questão, o que é possível observar é que a atenção dada à fala no ambiente escolar e nos manuais didáticos é também resquício dos pressupostos teóricos linguísticos dos últimos séculos, que não mantinham uma preocupação com a fala “real”, ou autêntica e, portanto, desprezava a produção oral efetiva. “Fenômenos como a prosódia e até mesmo aspectos e efeitos expressivos de usos variados da língua e a própria variação socioletal não estavam nos horizontes da Linguística” (MARCUSCHI, 1997). Variação linguística O ensino de língua deve garantir que a oralidade assuma o seu papel e o seu lugar na sala de aula e, portanto, deve ter em vista que variedade textual é adequada para ser trabalhada, considerando também a diversidade contextual. O principal objetivo em veicular um ensino baseado nessas questões é o de evitar a criação de uma concepção “monolítica” restrita ao modelode escrita padrão. A variedade linguística tanto se faz observar na fala como na escrita e o estudo dessas variedades deve ser conduzido de maneira continuada em ambas as modalidades. Interatividade Observe o anúncio abaixo: Transcrição: “Cara, se, tipo assim, o seu filho escrever como fala ele tá ferrado”. Interatividade Na parte superior do anúncio, há um comentário escrito à mão que aborda a questão das atividades linguísticas e sua relação com as modalidades oral e escrita da língua. Esse comentário deixa evidente uma posição crítica quanto a usos que se fazem da linguagem, enfatizando ser necessário: a) Implementar a fala, tendo em vista maior desenvoltura, naturalidade e segurança no uso da língua. b) Conhecer gêneros mais formais da modalidade oral para a obtenção de clareza na comunicação oral e escrita. c) Dominar as diferentes variedades do registro oral da língua portuguesa para escrever com adequação, eficiência e correção. d) Empregar vocabulário adequado e usar regras da norma padrão da língua em se tratando da modalidade escrita. e) Utilizar recursos mais expressivos e menos desgastados da variedade padrão da língua para se expressar com alguma segurança e sucesso. Língua falada É de fundamental importância ter em mente que a língua falada é: variável de cultura para cultura; de sociedade para sociedade; de grupo para grupo; de situação para situação; de indivíduo para indivíduo; a visão do dialeto padrão uniforme é uma visão teórica que não tem constatação no mundo real, não há um equivalente empírico para essa sistematização da língua(gem). Ensino de língua Assim, não podemos perder de vista, no ensino de língua materna, noções como: Padrão Norma Jargão Dialeto Gênero Gíria Variante Sotaque Registro Estilo etc. Análise dos níveis de formalidade Outro aspecto que não devemos perder de vista é a análise dos níveis de formalidade (+/- Formal; +/- Informal) e dos níveis de uso da língua e suas funções e valores sociais do mais ao menos formal, tanto na escrita quanto na fala, sem que tal abordagem se prenda restritamente à observação lexical. Análise dos textos orais A análise dos textos orais pode revelar as relações mútuas e diferenciadas que a fala mantém com a escrita, influenciando uma à outra nos diferentes processos de aquisição da escrita. O estudo da oralidade pode revelar a contribuição da fala na formação sociocultural e na preservação de tradições orais que persistem mesmo em culturas decisivamente letradas. Além disso, viabiliza, também, a investigação das diferenças e semelhanças nas atividades que relacionam fala e escrita, facilitando a abordagem da diversidade de processos de contextualização inserida nas produções orais e escritas. Desafios para as obras didáticas: aprender a lidar com a variação linguística em seus mais variados aspectos Variação sociolinguística. Variação dialetal. Variação de registros e níveis de fala. Variação de gêneros textuais realizados na fala. Variação de estratégias organizacionais da interação verbal. Variação de estratégias comunicativas. Variação de estratégias e processos de compreensão na interação. Variação de situações sociocomunicativas. Variação de construções sintáticas. Variação de seleção lexical. Fala e escrita: peculiaridades próprias A Fala e a Escrita são duas modalidades de uso da língua que se utilizam do mesmo sistema linguístico, mas têm suas próprias peculiaridades. Isso não significa que devam ser encaradas de maneira dicotômica (oposta, sendo uma superior e outra inferior). Marcuschi (2007) deixa bem clara a natureza do “continuum” tipológico, mostrando que as diferenças entre oralidade e escrita dão-se dentro de um “continuum” tipológico das práticas sociais de produção de texto e não na relação dicotômica de dois polos opostos. Visão de alguns autores na década de 1960 Fala Escrita Contextualizada Descontextualizada Implícita Explícita Redundante Condensada Não planejada Planejada Predominância do “modus pragmático” Predominância do “modus sintático” Fragmentada Não fragmentada Incompleta Completa Pouco elaborada Elaborada Visão de alguns autores na década de 1960 Fala Escrita Pouca densidade informacional Densidade informacional Predominância de frases curtas, simples e coordenadas Predominância de frases complexas e subordinadas Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas Poucas nominalizações Abundância em nominalizações Menor densidade lexical Maior densidade lexical Linhas gerais Em linhas gerais, é possível considerar que as características apresentadas não são exclusivas nem de uma nem de outra modalidade e que elas foram estabelecidas a partir dos parâmetros da escrita por visão preconceituosa que discriminava a fala. Nesse sentido, é mister entender que a fala possui características próprias, particulares à sua situação enunciativa, sua forma de organização e realização. Características essenciais da natureza da fala Devido a sua interacionabilidade intrínseca, a fala é, a priori, “não planejável”. Ela precisa ser apenas “localmente planejável”. Possui sua verbalização e planejamento concomitantes, pois esses processos emergem no momento da interação – a fala é o seu próprio rascunho. Apresenta descontinuidades frequentes no fluxo discursivo: abandono de tópicos discursivos; retomadas de tópicos discursivos, inserções abruptas de novos tópicos discursivos, truncamentos etc. Características essenciais da natureza da fala Sintaxe característica/típica ligada, de certa forma, à sintaxe geral da língua. Um exemplo é a topicalização: “Esse menino eu não sei se tomou banho hoje”; “A violência, falta de segurança, eu não me acostumo com esse ritmo de grandes metrópoles no Brasil”. Fala é processo, portanto, é dinâmica: não é um produto pronto e acabado, pois está continuamente se (re)fazendo, indo-e-voltando nos tópicos de interesse dos interlocutores, definindo-se em razão de necessidades, escolhas e pressões comunicativas da interação. Interatividade O trecho a seguir é parte da transcrição de uma entrevista oral, concedida por uma senhora de 84 anos, moradora de Barra Longa (MG). Pertence ao corpus de uma pesquisa realizada na cidade, envolvendo pessoas idosas com pouca ou nenhuma escolaridade e que não habitaram outros lugares. A entrevistada fala sobre a existência da figura folclórica do lobisomem. “é... eu veju contá qui u... a mulher tava isfreganu ropa.... i quanu ea istendeu ropa nu secadô veiu um leitãozim... i pegô a fuçá a ropa dela... ea foi... cua mão chuja di sabão ea deu um tapa assim nu... nu... nu... nu fucim du leitão... u leitão sumiu.... quanu ea veiu i chegô dentru di casa... ea tinha dexadu u mininu nu berçu... quanu ea chegô u mininu tava choranu... eli tava cua marca di sabão.” [Adaptado de: AMARAL, E. T. R. A transcrição das fitas: abordagem preliminar. In: MEGALE, H. (Org.). Filologia bandeirante. São Paulo: Humanitas; FAPESP, 2000. p. 195-208 (Estudos, 1.)] Interatividade Leia o enunciado e julgue as assertivas que seguem. O texto falado possui alguns recursos próprios, particulares à sua situação enunciativa, que, em um modo contínuo de representação, muitas vezes, afastam-no dos mecanismos da produção escrita. Nesse sentido, a partir da entrevista oral da senhora, é adequado dizer que: I. A fala possui muitos recursos expressivos (expressão facial, gesticulação etc.), bem como a entonação das palavras. Na transcrição da entrevista, a maneira de reprodução e representação direta dos recursos entonacionais foi a utilização dos sinais gráficos, como as reticências e a repetição das palavras, como ocorre com “nu”. II. A fala permitea repetição e a redundância, uma vez que o planejamento e a execução do texto acontecem simultaneamente. Interatividade III. A fala demonstra aspectos como a descontinuidade discursiva, ou seja, retomadas de tópicos discursivos, truncamentos de ideias etc. Indique a alternativa correta. a) Apenas a afirmativa I está correta. b) Apenas a afirmativa II está correta. c) Apenas a afirmativa III está correta. d) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. e) As afirmativas I, II e III estão corretas. Principais interferências da oralidade na escrita Questão de referência: na oralidade, muitas vezes, os referentes são recuperados no próprio contexto (basta apontar, por exemplo), dispensando assim que os falantes precisem explicitá-los sempre. Mas na escrita não é bem assim, pois por ser não presencial há a necessidade de explicitar sempre os referentes, por meio das marcas linguísticas. Principais interferências da oralidade na escrita O trecho abaixo revela a produção escrita de um sujeito que ainda não consegue diferenciar bem os usos da situação oral dos da escrita. Exemplo: “... certo dia um homem muito rico mudou-se, para perto da fazenda do pobrehomem. Ese homen era mau e iguinorante. Assim que soube se sua existência, dia e noite não parava de atormentá-lo, então ele disse...” (KOCH, 1997). Principais interferências da oralidade na escrita Repetições: no texto falado, a repetição é muito frequente, aliás ela é um dos seus mecanismos de organização, desempenhando funções didáticas, sintáticas, argumentativas, enfáticas etc. O trecho abaixo revela a interferência clara de um recurso da fala na escrita. Exemplo: “... já estavam chegando no final da gruta andaram andaram-andaram chegaram no final da gruta virão o bau-cheio de joias moedas voutaram para casa e ficaram muito felizes.” (KOCH, 1997). Principais interferências da oralidade na escrita Uso de organizadores textuais: são continuadores tópicos da fala, por exemplo: e, aí, daí, então, daí então etc. Os textos das crianças são ricos em organizadores textuais típicos da oralidade. Exemplo: “era uma vês un castelo abandonado e um dia 2 mininos pobres que tinham passado por lá. comesaram a reformar o castelo e o tempo foi pasando e a notícia se espahol e os mininos creseram e finalmente o castelo ficol pronto os mininos foram entrando e lá dentro tinha 8 cuartos.” (KOCH, 1997). Principais interferências da oralidade na escrita Justaposição de enunciados sem marca de conexão explícita: é comum, nos textos, enunciados justapostos, sem elementos explícitos de conexão, ligação ou transição. O sujeito que está adquirindo a modalidade escrita ainda não aprendeu os mecanismos sequenciadores próprios dessa modalidade e mistura à escrita o padrão oral. Exemplo: “Entraram na gruta com lanterna [/] primeiro foi o leão muitos tigres e onças depois foi milhares de cobras e serpente e la no teto é cheio de morcegos [/] já estavam chegando no final da gruta [/] andaram andaram-andaram [/] chegaram no final da gruta [/] virão o bau-cheio de joias moedas [/] voutaram para casa e ficaram muito felizes.”(KOCH, 1997). Principais interferências da oralidade na escrita Discurso citado: o discurso citado é manifestado prioritariamente no estilo direto que o mais frequente na oralidade, em geral, sem a presença de um verbo que introduza a fala do outro (fulana disse:, fulana resmungou:, fulana gritou:). O sujeito ainda não aprendeu os mecanismos sequenciadores próprios da modalidade escrita e mistura a ela a estrutura mais típica da oral que é a que ele melhor conhece. Exemplo: “Dez oras depois o Lucas vil um navio pirata elegrito gente vamos nos conder um navio pirata sea prosima vamologo ja sei vamos nos esconder na quela caverna certo elá atras sera que é perigos ela fora rárá vamos ficaricos maos pirtas não acharão droga vam em bora viva camos ricos e turma vou ta para casa. Fim.” (KOCH, 1997). Principais interferências da oralidade na escrita Segmentação gráfica: também é comum que a segmentação gráfica, em textos de sujeitos iniciantes na modalidade escrita, seja feita em função do que ele ouve. É curioso notar que a criança, por vezes, tentando acertar a segmentação gráfica adequada, acaba dividindo no meio algumas palavras ou juntando outras em uma só. Exemplo: “sabiacomoaranjar, arainha, poriso, aguera, masantesdiso, convoce, masnã, elegrito, vamologo.” (KOCH, 1997). Principais interferências da oralidade na escrita Grafia correspondente à palavra: ou sequência de palavras tal como pronunciadas oralmente, isto é, reproduzindo o que a criança ouve. Exemplos: “virão (=viram), vamos nos conder (=nos esconder), perigos (=perigoso), maos piratas (=mas os), espahol (=espalhou), ficol, partil, vil (=viu)” (KOCH, 1997). Principais interferências da oralidade na escrita Correções feitas da forma como se fazem no texto oral: assim como na fala, o sujeito não apaga ou risca a forma que considera inadequada, mas justapõe a esta a forma corrigida. Exemplo: “Chegando lá a turma rezol rezolvrão to(mar) banho de cachoeira mas algen esquso o maio...” (KOCH, 1997). Coesão na conversação Coesão referencial – reiteração, repetição do mesmo item lexical por: autorrepetição: “... ele já ia à escola da manhã que eu comecei quando eu comecei trabalhar... comecei a trabalhar há dois anos... e quer dizer então... ele já à escola de manhã”. heterorrepetição: “L1 – nós somos:: seis filhos L2 – e a do marido? L1 – e a do marido... eram doze agora são onze...” Coesão na conversação Coesão recorrencial – paráfrase: “Contexto: o tópico que se desenvolve é mercado de trabalho, especificamente, a “procura de engenheiro”. “L2 ... a grande maioria é engenheiro administradores economistas L1... é que a gente está na:: na espera da tecnologia, né?... L2 [mas engenheiro o peso é muito grande...” Coesão na conversação Coesão sequencial – por conexão: “Contexto: o tópico que vem se desenvolvendo é o do planejamento familiar”. “L1 e:: nós havíamos programado Nove ou dez filhos... não é? ... L2 a sua família é grande? L1 nós somos:: seis filhos L2 e a do marido? L1 e a do marido... eram doze agora são onze... Interatividade Leia o enunciado e analise as assertivas a seguir. Considere a transcrição de um texto escrito em uma placa colocada em um edifício em construção. Esse recado pode ser considerado um texto e, para tanto, devemos considerar que: “ATENÇÃO Esta obra não se responçabelisa por cual quer danos que aja nas viatura junto a obra” Interatividade I. O texto não possui uma estrutura pronta e acabada, mas pertence a um processo com atividades globais de comunicação, ou seja, o planejamento, a verbalização e a construção. II. As atividades de comunicação envolvem aspectos linguísticos, semânticos e pragmáticos. III. O texto é um produto de um processo comunicativo estabelecido pela relação entre os sujeitos da produção; e, a partir dela, poderá fazer sentido. Indique a alternativa correta. a) I, II e III. b) I e II. c) II e III. d) I e III. e) III. ATÉ A PRÓXIMA! Slide Number 1 Coesão recorrencial Coesão recorrencial Coesão recorrencial Coesão sequencial Coesão sequencial Coesão sequencial Coesão sequencial Coesão sequencial Coesão sequencial Interatividade Interatividade Texto oral e texto escrito: algumas considerações Texto oral e texto escrito: algumas considerações Texto oral e texto escrito: algumas considerações Texto oral e texto escrito: algumas considerações Texto oral e texto escrito: algumasconsiderações Texto oral e texto escrito: algumas considerações Texto oral e texto escrito: algumas considerações Variação linguística Variação linguística Variação linguística Interatividade Interatividade Língua falada Ensino de língua Análise dos níveis de formalidade Análise dos textos orais �Desafios para as obras didáticas: aprender a lidar com a variação linguística em seus mais variados aspectos� Fala e escrita: peculiaridades próprias Visão de alguns autores na década de 1960 Visão de alguns autores na década de 1960 Linhas gerais Características essenciais da natureza da fala Características essenciais da natureza da fala ��Interatividade� � Interatividade Interatividade ��Principais interferências da oralidade na escrita� � �Principais interferências da oralidade na escrita� �Principais interferências da oralidade na escrita� Principais interferências da oralidade na escrita Principais interferências da oralidade na escrita Principais interferências da oralidade na escrita Principais interferências da oralidade na escrita Principais interferências da oralidade na escrita Principais interferências da oralidade na escrita Coesão na conversação Coesão na conversação Coesão na conversação Interatividade Interatividade Slide Number 58
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