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AULA 4 GESTÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Profª Rita G. Barchik de Paula 2 INTRODUÇÃO Anteriormente, estudamos que a maioria dos conflitos surgem quando há divergências entre os colaboradores, podendo prejudicar o bom desempenho dos negócios. Essas divergências podem estar relacionadas às falhas no processo de comunicação, sendo historicamente um grande problema para o universo corporativo. Trabalhar de forma a atingir uma comunicação assertiva, uma cultura de paz e um clima organizacional adequado dentro das organizações é um desafio frequente aos gestores, principalmente para a área de recursos humanos. TEMA 1 – COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL COMO ELEMENTO GERADOR DA PAZ OU DO CONFLITO: A COMUNICAÇÃO COMO ELEMENTO PACIFICADOR Você sabia que a comunicação é uma das maiores causas de um conflito? A comunicação (ou a falta dela) pode influenciar no surgimento de conflitos no ambiente organizacional. Boa parte dos conflitos está relacionada com a comunicação deficiente, apesar dos avanços dos meios de comunicação, como e-mail e aplicativos de mensagens. O uso inadequado dessas tecnologias pode atrapalhar a sua principal função, que é a melhoria da comunicação. Já na comunicação direta, ou seja, de forma presencial, muitas vezes a forma como as pessoas falam em determinadas situações e a capacidade de escutar podem ser decisivas para que um conflito seja construtivo e garanta ganhos para ambas as partes. O desenvolvimento de uma boa capacidade comunicativa é essencial para o sucesso, garantindo a transmissão correta de uma informação, seja na comunicação entre pessoas ou entre empresas, seja na comunicação interna ou externa, seja na comunicação formal ou informal, seja na comunicação escrita ou verbal. Segundo Rosenberg (2006), é preciso reformular a maneira de expressar a mensagem, ouvir mais e procurar separar a avaliação da observação, pois quando são combinadas observações com avaliações, outros tendem a receber isso como crítica e resistir ao que é dito. O autor ainda afirma que, para melhorar a comunicação, é preciso exercitar a consciência, a responsabilidade e o envolvimento com as pessoas, o que significa melhorar a percepção interpessoal. Muitos autores abordam que a comunicação é um processo com várias etapas. Segundo esse entendimento, Robbins (2015) afirma que o processo de 3 comunicação é constituído das seguintes partes: a fonte de comunicação; a codificação; a mensagem; o canal; a decodificação; o receptor; o ruído e o feedback. Na Figura, 1 exemplificamos esse processo. Figura 1 – Processo de comunicação Fonte: Robbins, 2015. Todas as etapas são importantes. No entanto, percebemos que o ruído é a etapa que geralmente afeta o processo de comunicação, criando uma perturbação indesejável que pode provocar danos ou desvios na mensagem, reverberando assim os conflitos. Cuidar com o ambiente onde será feita a comunicação, conhecer bem o público-alvo a que se destina a comunicação, manter o carisma, interagir com as pessoas e pedir feedback são ações que podem minimizar os possíveis ruídos da comunicação. Segundo Freitas et al. (2015), algumas condutas podem minimizar os conflitos, tais como: utilizar a comunicação presencial sempre que possível, evitar o uso de termos técnicos e, caso seja imprescindível utilizá-los, deve-se explicar o significado no primeiro momento em que o termo foi utilizado. Deve-se usar de forma adequada as informações (sem excesso ou escassez). Esses são alguns exemplos que podemos adotar no sentido de trazer a comunicação como elemento pacificador nas organizações. É muito importante que o gestor identifique as causas geradoras de conflito entre colaboradores na 4 empresa, analise os tipos de conflitos mais comuns entre as pessoas no contexto organizacional e apresente formas de comunicação que eliminem ou reduzam os conflitos nas organizações. Outro aspecto importante é a endocomunicação. Segundo Torquato (2002, p. 38), a missão básica da comunicação interna é “contribuir para o desenvolvimento e a manutenção de um clima positivo, propício ao cumprimento das metas estratégicas da organização e ao crescimento continuado de suas atividades e serviços e à expansão de suas linhas de produtos”. A endocomunicação ou comunicação interna pode ser entendida como sendo as interações, os processos de troca e os relacionamentos dentro de uma organização. Ela é responsável por fazer circular as informações e o conhecimento, de forma vertical, ou seja, da direção para os níveis subordinados, e, horizontalmente, entre os empregados de mesmo nível de subordinação. TEMA 2 – A CULTURA DA PAZ COMO UM ELEMENTO A SER IMPLEMENTADO NO AMBIENTE CORPORATIVO Um dos subsistemas da área de gestão de pessoas, o recrutamento e seleção de pessoas estão em uma busca comum, ou seja, pessoas que tenham um bom relacionamento interpessoal, que consigam se adaptar às mudanças, capazes de se relacionar com facilidade e de resolver problemas de forma transparente e por meio de diálogos construtivos, empatia e acolhimento. Porém, essas competências não são fáceis de encontrar na maioria das pessoas. Essas competências, as quais chamamos de soft skills, que são as competências comportamentais (não técnicas), podem ser: comunicação, criação de empatia, confiança com grupos e capacidade de resiliência em um ambiente de trabalho com incerteza, segundo Agnate (2005). Podemos relacionar o desenvolvimento dessas competências usando o conceito de Cultura de Paz. Mas o que é Cultura de Paz? É um princípio baseado em tolerância e solidariedade, que respeita os direitos individuais e resolve conflitos por meio do diálogo, da negociação e da mediação. De acordo com Andrea dos Santos Pereira Nunes, responsável pelo Programa Senac de Cultura de Paz, para criar uma cultura que permita à empresa se adaptar a um mundo cada vez mais dinâmico, que demanda rapidez na tomada de decisões e na identificação de oportunidades, é preciso antes desenvolver um ambiente caloroso, que incentive as boas ideias, a inovação e uma conexão 5 genuína entre as pessoas. A implementação desse tipo de cultura requer a participação de toda a organização e cada indivíduo torna-se responsável pelos resultados do todo. “Essas são habilidades e atitudes imprescindíveis hoje para o desenvolvimento de equipes motivadas, eficientes, capazes de planejar e gerir projetos estratégicos”, afirma Andrea. A Cultura de Paz é uma proposta para que as relações humanas sejam permeadas pelo diálogo, pela tolerância, pela consciência da diversidade dos seres humanos e de suas culturas. A ONU define Cultura da Paz como: Uma Cultura de Paz é um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: No respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não-violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação; No pleno respeito aos princípios de soberania, integridade territorial e independência política dos Estados e de não ingerência nos assuntos que são, essencialmente, de jurisdição interna dos Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e o direito internacional; No pleno respeito e na promoção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais; No compromisso com a solução pacífica dos conflitos; Nos esforços para satisfazer as necessidades de desenvolvimento e proteção do meio-ambiente para as gerações presente e futuras; No respeito e promoção do direito ao desenvolvimento; No respeito e fomento à igualdade de direitos e oportunidades de mulheres e homens; No respeito e fomento ao direito de todas as pessoas à liberdade de expressão, opinião e informação; Na adesão aos princípios de liberdade, justiça, democracia, tolerância, solidariedade, cooperação, pluralismo, diversidade cultural, diálogo e entendimento em todos os níveis da sociedadee entre as nações; e animados por uma atmosfera nacional e internacional que favoreça a paz. (ONU, 2004 citada por Senac SP) Em resumo, os seis princípios que envolvem a Cultura da Paz são: 1. respeitar a vida; 2. rejeitar a violência; 3. ser generoso; 4. ouvir para compreender; 5. preservar o planeta; 6. redescobrir a solidariedade. Nas empresas, a Cultura de Paz deve estar alinhada ao respeito dos direitos individuais, criação de um ambiente acolhedor, escuta de forma respeitosa, promovendo uma conexão genuína entre as pessoas e estimulando o diálogo e a negociação. Os principais benefícios dessa prática nas empresas é o estímulo à diversidade de talentos e à inovação, trabalho em equipe de forma ética e colaborativa, resolução de conflitos por meio do diálogo e empatia, 6 desenvolvimento de competências como a negociação e a comunicação não violenta e resiliência. De acordo com um material desenvolvido pelo Senac (2020), existem alguns passos para implementar a Cultura de Paz nas organizações: 1. Implementar um código de ética profissional, declarações de missão, visão, valores institucionais que explicitamente convergem com as diretrizes do Programa de Cultura de Paz da Unesco. 2. Criar e realizar políticas que promovam a igualdade e a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade (mulheres, pessoas com deficiência, negros, transgêneros etc.); e que oriente o estabelecimento de regras para tratar situações de violência corporativa, como assédios e bullying corporativo. 3. Estabelecer mecanismos que estimulem diariamente comportamentos em acordo com as políticas e diretrizes para uma convivência harmoniosa. 4. Estruturar os processos de seleção em que os valores individuais sejam condicionantes durante a contratação. 5. Manter programas de treinamento que traduzam os conceitos, as metodologias e as vivências necessárias para incorporar esse estilo de vida e lidar com os desafios do dia a dia. Adotando essa prática, os resultados esperados são um ambiente mais harmônico e colaborativo, no qual as pessoas convivem pacificamente e evoluem juntas a partir da diversidade de talentos e contribuições individuais. Tudo isso graças à capacidade de analisar adequadamente os cenários com critérios objetivos e tomar decisões consensuais éticas e responsáveis. No entanto, para que esse resultado seja atingido, é necessária a colaboração de todos dentro da organização, desde os níveis hierárquicos mais elevados até o nível operacional. TEMA 3 – O CLIMA ORGANIZACIONAL NAS CORPORAÇÕES E A RELAÇÃO COM O ADOECIMENTO NO TRABALHO Qualquer conflito interno ou externo precisa ser identificado e gerenciado a fim de que situações negativas não atrapalhem as relações de trabalho e, consequentemente, afetem o clima organizacional da empresa, gerando desmotivação e baixa efetividade. 7 Maximiano (2010) afirma que o clima organizacional em essência é uma medida de como as pessoas se sentem em relação à empresa e seus administradores, tendo seu conceito evoluído para o conceito de qualidade de vida no trabalho. Segundo Chiavenato (2010), toda organização possui clima organizacional que é constituído pelo meio interno, ou seja, uma atmosfera psicológica própria de cada organização. Esse clima organizacional está relacionado com a moral e a satisfação daquilo que os membros têm por necessidades, podendo ser: saudável ou doentio, quente ou frio, negativo ou positivo, satisfatório ou insatisfatório. Percebemos que o clima organizacional é influenciado pelas possibilidades de desenvolvimento profissional, pelo sentido do trabalho, pela escalação do grupo, maneira de lideranças, dentre outros. Cabe às organizações buscar formas de criar um ambiente de trabalho que se preocupa com a saúde de seus colaboradores. Essa demanda tem sido inserida na área de Gestão de Pessoas, visando promover mudanças no ambiente interno, na estrutura da organização, nas relações interpessoais e consequentemente, nas relações de trabalho. Essa preocupação em manter bons gestores que colaboram no desenvolvimento e manutenção de um clima organizacional favorável ajuda a evitar o adoecimento dos colaboradores. Esta responsabilidade, contudo, não é somente do gestor de pessoas, mas da organização como um todo a fim de identificar e implementar ações de prevenção e redução dos fatores de risco à saúde física e mental no ambiente de trabalho. Guljor (2020) afirma que para garantir um ambiente organizacional saudável, é necessário que haja algumas ações, tais como: • ter um canal de comunicação aberto de psicólogos e gestores de pessoas com os trabalhadores para identificar e, se possível, tratar previamente problemas de transtornos mentais; • ter um ambiente de trabalho participativo e flexível, em que as pessoas possam colocar seus objetivos, anseios e necessidades e alinhá-los com os objetivos organizacionais; • incentivar atividades físicas laborais; • incentivar uma alimentação saudável; • promover palestras motivacionais, dentre outros. 8 Diferentes estratégias que podem ser desenvolvidas pensando na promoção da saúde dos colaboradores são: as terapias grupais, palestra de prevenção ao uso abusivo de drogas e álcool, programas de qualidade de vida (ginástica laboral, ergonomia, atividades culturais e de lazer, cursos de dança, massagem, canto coral, ioga etc.). Dentre essas ações, há também as medidas que valorizam os trabalhadores, investindo em cursos, pós-graduação e implantação de sistemas de qualidade na organização. Ebert ([S.d.]) aponta que o clima organizacional é o único medicamento preventivo contra o sofrimento e o adoecimento do trabalhador. E isso é tarefa das lideranças, ao estabelecer metas factíveis, manter os funcionários motivados e reconhecer o esforço de todos e resultados alcançados. “O cuidado fundamental baseia-se na organização do trabalho, ou seja, na coerência entre o trabalho prescrito e o trabalho real. Cobranças fazem parte de qualquer grupo social, mas não se pode cobrar quando não há contrapartida, ou seja, as empresas devem oferecer condições de trabalho adequadas, ambiente favorável, remuneração compatível. Por mais que se desenvolvam melhores e maiores empresas para o futuro, é preciso desenvolver pessoas melhores para trabalhar nessas empresas. E isso não significa profissionais cada vez mais tecnicamente competentes, mas sim pessoas cada vez mais humanas, capazes de relacionarem-se com elas mesmas e com os outros de maneira sadia, ética, afetiva. Capazes de fazer com que o sofrimento, caso tenha que existir, seja sempre menor do que o prazer”. (Ebert, [S.d.]) Esse cuidado com as pessoas e com as suas necessidades gera um ambiente agradável de trabalho, e isso não quer dizer que as pessoas perderão o foco no trabalho ou que diminuirão a produtividade e, consequentemente, o lucro. Infelizmente, ainda temos gestores que pensam dessa forma e confundem um ambiente acolhedor com um ambiente que não dará resultado. Quanto antes os gestores perceberem questões emocionais ou qualquer tipo de sofrimento dos colaboradores, dando uma atenção especial a esses aspectos e se antecipando, mais fácil será prevenir situações de adoecimento, acidentes de trabalho, rotatividade e turnover. TEMA 4 – O RH COMO INTERLOCUTOR E SEU PAPEL NA MEDIAÇÃO E PACIFICAÇÃO DOS CONFLITOS A área de Gestão de Recursos Humanos tem passado por constantes evoluções e todas as mudanças trazem desafios para os gestores. Tais desafios podem estar relacionados à implantação do compliance, nas tomadas de decisões, nos planejamentos estratégicos ou nos novos processos de admissões, 9 treinamentos e demissões dos colaboradores e desafios relacionados às inovações na resolução de conflito dentro das empresas. É importante salientar que o departamento de recursos humanostem grande relevância para a organização, visto que é a área responsável pela conexão entre os colaboradores e lideranças, o que requer de qualquer especialista da área de recursos humanos experiência e habilidade no trato com as pessoas (Chiavenato, 2010). Assim sendo, é possível dizer que um bom gerenciamento desse departamento e dos conflitos existentes pode influenciar na própria capacidade produtiva da organização, assim como na dos seus colaboradores. A má gestão de conflitos pode acarretar consequências indesejáveis para a organização, reduzindo a produtividade, motivação dos colaboradores, divisão das equipes, entre outros fatores negativos que podem prejudicar a empresa. Dessa forma, é de suma importância que os gestores dessa área sejam muito flexíveis e estratégicos na gestão de conflitos dentro das organizações, proporcionando um clima de harmonia, transparência entre os colaboradores para que eles possam sentir partes da organização. Ainda na perspectiva de Chiavenato (2010), os conflitos resolvidos apenas parcialmente ou até de forma inadequada podem afetar negativamente os resultados da organização, gerando um ambiente de estresse e baixa produtividade para organização. De acordo com Berg (2012), as duas formas assertivas que já estudamos para administrar os conflitos são: • Acordo: é uma posição intermediária entre a assertividade e cooperação, onde o indivíduo procura soluções mutuamente aceitáveis, que satisfaçam parcialmente os dois lados. O acordo significa trocar concessões ou então procurar por uma rápida solução de meio termo. • Colaboração: é uma atitude tanto assertiva quanto cooperativa, em que ao colaborar, o indivíduo procura trabalhar com a outra pessoa tendo em vista encontrar uma solução que satisfaça plenamente os interesses das duas partes. De acordo com a ARO Advogados (2020), quando o gestor verifica que o conflito realmente está acontecendo, ele pode atuar como mediador do conflito e reunir os envolvidos para esclarecer os fatos. É importante que o mediador não faça parte do contexto do conflito, pois ele precisa ser imparcial. As características 10 necessárias para o bom trabalho do mediador são: flexibilidade, agilidade e neutralidade. Então, o mediador escutará as duas partes e, à base de diálogo, vai buscar a melhor resolução para o conflito. É importante que as empresas, independentemente do porte, tenham métodos eficientes de gestão de pessoas. A gestão precisa incluir a mediação, a melhora no fluxo de comunicação e o bem- estar dos funcionários. O conflito pode trazer evolução dentro da empresa, mas é preciso que todos tenham maturidade para enxergar isso. O método da mediação está cada vez mais presente no mundo globalizado, sendo considerada como um novo paradigma na resolução de conflitos, na medida em que é confidencial, mais econômica, célere, voluntária e preserva o poder das partes de decidirem qual o melhor acordo, uma vez que nem sempre uma decisão baseada no direito é a mais justa (Taborda, 2018). Ademais, qualquer empresa pode se beneficiar do processo de mediação. Não seria para substituir a assessoria jurídica, seria para complementá-la. A mediação é uma ferramenta a mais para ser empregada na gestão de conflitos, visando economia de tempo e de dinheiro. De acordo com Lorenzi (2020), a mediação pode ser utilizada para tentar solucionar conflitos de diferentes áreas, naturezas e abordagens, como, por exemplo, a mediação familiar, empresarial, trabalhista, ambiental, comunitária, escolar e do terceiro setor. A mediação é um método que conta com um terceiro imparcial entre as partes. A ideia é que ela restabeleça o diálogo entre os envolvidos, de modo que eles enxerguem, por si mesmos, outros aspectos do impasse, de modo a chegar a uma solução. Por isso, é imprescindível que haja uma norma ética a pautar seu comportamento. Além de ajudar as partes a pensarem a controvérsia sob diferentes ângulos, tirando-as de posições preconcebidas, o mediador visa dar objetividade ao diálogo, incentivando os mediandos a exercitar o ouvir, o falar e o refletir, para que não haja discussões estéreis e agressividade. Cabe a ele também encontrar o local mais adequado para o desenvolvimento dos trabalhos e zelar por um clima que convide à mediação (Lorencini, 2020). 11 TEMA 5 – GESTÃO DE CONFLITOS CORPORATIVOS COMO UM DESAFIO ORGANIZACIONAL: DA TEORIA À PRÁTICA – CASOS PARA DISCUSSÃO Uma pessoa, diante de um conflito, tem à sua disposição várias alternativas para tentar solucioná-lo. Ela pode procurar diretamente a outra parte envolvida e tentar negociar o impasse sem a interferência de ninguém, mas pode também procurar um terceiro e este propor diferentes métodos de solução existentes (mediação, arbitragem, entre outros que veremos em conteúdos posteriores). Dias (2008) fez um estudo analisando alguns casos de solução de conflitos. Vamos refletir sobre quatro casos apresentados pelo autor. Pense de que forma você tentaria solucionar os casos apresentados abaixo e se há a necessidade de a área de gestão de pessoas interferir? 5.1 Caso a Imagine que aquele tão sonhado cargo no exterior está prestes a se tornar seu. Basta concluir com sucesso o atual projeto. Entretanto, você acabou de descobrir uma falha sutil, mas que em longo prazo poderá trazer prejuízos à empresa. É ainda o único que sabe. O que faz? A pergunta evidencia conflito de interesses: a empresa tem como principal interesse a conclusão com êxito de um projeto. O gerente do projeto tem como interesse o sonhado cargo no exterior. Ao respondente, foram oferecidas cinco possibilidades de resposta: 1. Revelo tudo e abandono o projeto, para ganhar em credibilidade. 2. Entrego o projeto e aceito o cargo. Afinal, “dei muito duro” para desistir agora. 3. Entrego o projeto, fico em silêncio e aceito o cargo, pois o risco poderá nunca vir a se concretizar. 4. Revelo tudo somente à equipe, a fim de ganhar tempo. 5. Revelo tudo a meus superiores e peço-lhes ajuda de modo a preservar a empresa. Quais os possíveis conflitos que podem surgir no caso 1? E quais tipos de negociação podemos usar? 12 5.2 Caso b Você e seu superior saem para almoçar com um grupo de clientes chineses num restaurante requintado. A conta ultrapassa R$ 800,00. Seus clientes se oferecem para pagá-la. O que faz? A pergunta evidencia um tipo de relacionamento específico: a relação entre superior e subordinado. Existe a tensão entre o que é considerado aceito pela sociedade brasileira e a cultura estrangeira, no caso, chinesa: quem já não ouviu falar no Brasil que “quem convida paga”? Embora este seja um hábito comum no Brasil, será que também é para os chineses? Existe aí também outra questão: será que estarão comprometendo os interesses da empresa? A não aceitação em si é outro dilema, pois pode significar falta de confiança entre parceiros comerciais, o que é inaceitável para negociadores orientais, que priorizam o relacionamento antes dos acordos. O que fazer? Ao respondente, foram oferecidas cinco possibilidades de resposta, a saber: 1. Tomo a dianteira e pago a conta de todos. 2. Deixo que meu superior pague, afinal ele é quem manda. 3. Deixo que os clientes paguem, afinal não quero desagradá-los. 4. Combino com meu superior que permita que eles paguem, pois nenhum de nós comentará o assunto na empresa. 5. Peço para que todos paguem suas respectivas partes. Quais os possíveis conflitos que podem surgir no caso 2? E quais tipos de negociação podemos usar? 5.3 Caso c Você está negociando um aumento de salário com seu chefe. Ele é extremamente rude, mas gosta do seu trabalho e lhe dá duas opções. Nenhuma das duas é exatamente o que você queria. Qual sua resposta? A situação corresponde à negociação de aumento de salário realizada diretamente entrepatrão e empregado sem o envolvimento de terceiros. Esta é uma barganha tipicamente posicional, como a citada no item anterior. O chefe assume a posição que lhe é característica e oferece duas opções, tipo “pegar ou largar”. As respostas possíveis são as seguintes: 13 1. Garanto uma das duas opções o quanto antes. “Melhor um pássaro na mão que dois voando”. 2. Aceito uma das duas opções desde que seja transferido de departamento. 3. Afirmo que nenhuma delas me interessa e que meu desempenho merece uma proposta 10% melhor, no mínimo. 4. Mostro que estou disposto a cooperar com o sucesso da empresa, mas tenho uma oferta melhor e estou pronto a aceitá-la, caso não chegue a um acordo. 5. Aceito a opção que me prejudique menos, só para ver o sujeito longe de mim o mais rápido possível. Quais os possíveis conflitos que podem surgir no caso 3? E quais tipos de negociação podemos usar? 5.4 Caso d Um colaborador foi designado para atender a dois projetos, um deles o seu, que está começando agora. Você fica sabendo que ele anda dizendo que não vai se dedicar a seu projeto, pois não é da competência dele. O que você faz? Esta pergunta diz respeito ao relacionamento vertical com a autoridade e a maneira de lidar com impasses, pelo lado do superior. O colaborador, subordinado, demonstra nitidamente que não quer trabalhar no projeto designado pelo superior, obedecendo à conformidade e à necessidade de participação em dois projetos simultaneamente. Para piorar, o colaborador mostra sua resistência aos colegas, gerando comentários. As respostas oferecidas foram as seguintes: 1. Ameaço demiti-lo. 2. Procuro outro para substituí-lo. 3. Finjo que não escuto e tolero os desmandos do colaborador. 4. Chama-o no canto e prometo-lhe uma promoção. 5. Procuro o superior do colaborador e peço permissão para avaliá-lo. Quais são os possíveis conflitos que podem surgir no caso d? E quais tipos de negociação podemos usar? Em todos os casos apresentados, é importante pensar na forma da comunicação assertiva, como esses conflitos podem interferir no clima organizacional da empresa, bem como precisamos pensar em processos de 14 resolução que resultarão em num ambiente acolhedor e, com isso, promover a pacificação e a cultura de paz. 15 REFERÊNCIAS AGANTE, L. A importância das soft skills na vida profissional. Dinheiro Vivo. Disponível em: <https://www.dinheirovivo.pt/carreiras/a-importancia-das-soft- skills-na-vida-profissional/>. Acesso em: 12 abr. 2022. ARO advogados. O papel da mediação de conflitos nas empresas. Disponível em: <https://aroadvogados.com.br/trabalhista/o-papel-da-mediacao-de-conflitos- nas-empresas/>. Acesso em: 25 abr. 2022. BERG, E. A. Administração de conflitos: abordagens práticas para o dia a dia. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2012. CHIAVENATO, I. 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