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119Ginástica: um modelo antigo com roupagem nova? Ou uma nova maneira de aprisionar os corpos? Educação Física Mas quando os métodos ginásticos passaram a ser trabalhados no espaço escolar? De acordo com os estudos de Soares, podemos com- preender que: “Um primeiro esboço de sistematização científica da atividade física fora do mundo do trabalho, genericamente denominada ginástica, que tem seu lu- gar na Europa no início do século XIX e traz em seu interior as noções de vigor, energia e moral vinculadas a sua aplicação. Constituem um conjunto sofistica- do de prescrições e justificativas elaboradas a partir de conhecimentos científi- cos acerca da educação do corpo.” (SOARES apud GONZÁLEZ, 2005, p. 278) Com a afirmação de Soares, é possível com- preender que, no início do século XIX, tivemos, na escola, as primeiras formas organizadas de exercícios físicos, denominados mais tarde de ginástica. O objetivo dessa atividade era a “edu- cação do corpo”, para formar corpos com “por- te rígido”, “reto” e uma “altivez de postura”. Pa- ra tanto, havia a preocupação com a técnica e com a repetição de movimentos. Além disso, acreditava-se ainda que havia uma relação dire- ta entre “a ginástica e o desenvolvimento do ca- ráter da moral e da virtude” por meio da valo- rização do vigor físico, da energia e da moral. (SOARES, 1998, p. 21) É nesta época que o corpo começa a ser objeto de novas regras, de novos códigos e de novas práticas. Para tanto, utilizava-se de técnicas de ginástica, que resultaram num novo universo de gestos e de perfor- mances. O exercício físico transforma-se em uma atividade precisamente co- dificada, cujos movimentos se apresentam em detalhes e os resultados se calculam. Os estudos do corpo eram voltados para conhecê-lo bio- logicamente, buscava-se estudá-lo em aspectos como: a anatomia, a fi- siologia, a mecânica e a termodinâmica. O vigor e o funcionamento adequado do corpo eram fundamentais no que se refere ao desenvol- vimento da moral, tão necessária para a convivência em sociedade. No entanto, havia a necessidade de organizar rigorosamente os exercícios físicos, pois estes eram instrumentos importantes que contribuiriam pa- ra uma maior eficiência no trabalho. Ginásio parisiense de Amoros, fundador da escola normal de ginástica mi- litar e civil onde a formação era baseada sobre as práticas espetaculares e utilização intensiva dos aparelhos. n 120 Ginástica Ensino Médio Estamos nos referindo aos aspectos da ginástica na Europa, mas co- mo esse processo de inserção da ginástica se deu no Brasil? No Brasil, houve forte influência do processo de industrialização e a implantação da ginástica foi muito semelhante ao que ocorreu na Eu- ropa. Foi a partir “dos conhecimentos e das teorias” construídas na Eu- ropa, que, no Brasil, os médicos reorganizaram um novo modelo de ginástica para a população brasileira. A proposta pedagógica era baseada nos estudos da anatomia e da fi- siologia – “retirada do interior do pensamento médico higienista” (SOARES, 2001, p.71). Havia uma certa preocupação com questões que se referem à saúde, à higiene e ao corpo dos indivíduos. O “pensamento médico higienista” passou a organizar a escola co- mo um todo, desde a sua ”arquitetura até o conteúdo curricular, tu- do era minuciosamente pensado, “tempo e espaço, a alimentação (...) tudo passou a ser determinante na metodologia utilizada” (SOARES, 2001, p.77). A propósito, você sabe o que significa o pensamento médico hi- gienista? “(...) movimento social que envolveu intelectuais de diversas áreas, tais como Medicina, Engenha- ria, Arquitetura, Educação, Educação Física e outras, que tinham como objetivo promover novos há- bitos saudáveis para o aprimoramento da saúde individual e coletiva. Surgiu em um contexto de cres- cimento do capitalismo industrial, manufatura e grande indústria, na Inglaterra, França e Alemanha”. (GÓIS JUNIOR, apud GONZÁLEZ, 2005, p. 227) Na sociedade industrial, o exercício físico tinha uma função relevante, que era a de corrigir vícios posturais provenientes dos hábitos adquiridos no trabalho. Somando-se a isso, também a questão médica, a ginástica tinha cunho disciplinador, visto ser essencialmente necessária, pois contribuia pa- ra a “ordem fabril e a nova sociedade.” (SOARES, 2001, p.52)