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17 Katanga não era indutor ou cúmplice, como outrora seria considerado se fosse aplicada o critério objetivo-formal, mas sim, autor mediato, pois os crimes ocorreram em virtude de ordens dadas por ele dentro de um aparato organizado51, e não por uma resolução conjunta entre todos (comandante e subordinados). Também não se poderia denominar de coautoria, pois ela é recíproca entre as pessoas, o que não se observou no caso, o que se constatou ao cabo foi, uma estrutura vertical, de ordem entre as pessoas, dada a hierarquia desse aparato organizado de poder. Havia nessa estrutura o sujeito de quem partiam as ordens (Katanga) e o executor (os subordinados), ao invés de uma execução conjunta, de forma que, quem deu a ordem, não poderia ser considerado autor direto ou coautor. Também não pode ser chamado indutor (cúmplice, para Kai Ambos), pois não havia uma divisão do trabalho entre essas pessoas, o sujeito que tem poder não suja as mãos (Katanga) e não é cúmplice, pois não pratica os atos executórios. Se fosse um mero indutor, Katanga não estaria no centro da divisão52, assim, é possível afirmar que se trata do autor mediato. Katanga, como autor mediato, não deixa os atos na mão do induzido (do miliciano), que não tem o domínio do ato, apenas o executa, inclusive sendo substituível por outro (fungibilidade) se ocorrer desse soldado não conseguir cumprir o ato ou de recusar-se a cumprir esse mesmo ato. Como o sujeito de trás, Katanga tinha um poder de fato muito maior e um domínio que o sujeito da frente não tinha e que desconhece por completo as relações de domínio e a organização inteira. Assim, não pode ser confundida a autoria mediata nos aparatos organizados com a indução (não no contexto do tribunal penal internacional, que julga crimes de guerra), sendo consideradas figuras distintas, pois uma é hipótese de autoria e a outra de participação stricto sensu. 51 MAIA, Vitor Bastos. A autoria mediata … p. 90. 52 MAIA, Vitor Bastos. A autoria mediata … p. 90-91.
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