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Autoria Mediata em Crimes

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 Katanga não era indutor ou cúmplice, como outrora seria considerado se 
fosse aplicada o critério objetivo-formal, mas sim, autor mediato, pois os crimes 
ocorreram em virtude de ordens dadas por ele dentro de um aparato 
organizado51, e não por uma resolução conjunta entre todos (comandante e 
subordinados). Também não se poderia denominar de coautoria, pois ela é 
recíproca entre as pessoas, o que não se observou no caso, o que se constatou 
ao cabo foi, uma estrutura vertical, de ordem entre as pessoas, dada a hierarquia 
desse aparato organizado de poder. 
Havia nessa estrutura o sujeito de quem partiam as ordens (Katanga) e o 
executor (os subordinados), ao invés de uma execução conjunta, de forma que, 
quem deu a ordem, não poderia ser considerado autor direto ou coautor. 
Também não pode ser chamado indutor (cúmplice, para Kai Ambos), pois não 
havia uma divisão do trabalho entre essas pessoas, o sujeito que tem poder não 
suja as mãos (Katanga) e não é cúmplice, pois não pratica os atos executórios. 
Se fosse um mero indutor, Katanga não estaria no centro da divisão52, 
assim, é possível afirmar que se trata do autor mediato. Katanga, como autor 
mediato, não deixa os atos na mão do induzido (do miliciano), que não tem o 
domínio do ato, apenas o executa, inclusive sendo substituível por outro 
(fungibilidade) se ocorrer desse soldado não conseguir cumprir o ato ou de 
recusar-se a cumprir esse mesmo ato. Como o sujeito de trás, Katanga tinha um 
poder de fato muito maior e um domínio que o sujeito da frente não tinha e que 
desconhece por completo as relações de domínio e a organização inteira. Assim, 
não pode ser confundida a autoria mediata nos aparatos organizados com a 
indução (não no contexto do tribunal penal internacional, que julga crimes de 
guerra), sendo consideradas figuras distintas, pois uma é hipótese de autoria e a 
outra de participação stricto sensu. 
 
51 MAIA, Vitor Bastos. A autoria mediata … p. 90. 
52 MAIA, Vitor Bastos. A autoria mediata … p. 90-91.

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