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Taís Brandão_Comentários_FFM

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Teoria das justificações e políticas públicas de fomento à agricultura 
alternativa 
 
Taís Faria Brandão de Arteaga 
Pós-graduanda no programa de Ecologia Aplicada, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 
Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, Brasil 
 
Resumo 
Nas últimas décadas, o modelo de desenvolvimento agrícola dominante no Brasil vem sendo questionado em 
razão de seus impactos socioambientais, e formas alternativas de agricultura estão sendo fortalecidas. Neste 
contexto, criou-se um intenso campo de debate, em que argumentos a favor e contra o modelo atual são evocados 
por atores sociais e políticos, na busca de convencimento e apoio de seus públicos de interesse. Assim, o presente 
artigo tem o objetivo de analisar, à luz da teoria das justificações, os discursos adotados por duas políticas públicas 
dedicadas ao fomento a agriculturas alternativas de base ecológica: Protocolo de Transição Agroecológica, no 
Estado de São Paulo, e Programa Paraná Mais Orgânico, no Estado do Paraná. Como resultados, foram 
identificadas motivações associadas à ordem de justiça ecológica como base de ambas as iniciativas, e de maneira 
secundária, são mobilizadas as justiças doméstica, cívica e mercantil no Protocolo de Transição Agroecológica, e 
as justiças mercantil, industrial e doméstica no Programa Paraná Mais Orgânico. 
 
Introdução 
A evolução da agricultura brasileira ao longo do último século, especialmente a partir da década de 1940, foi 
pautada por estratégias focadas no desenvolvimento urbano-industrial, colocando a atividade agrícola a serviço 
da industrialização da economia e direcionada a atender demandas do mercado externo (MUELLER, 2010). Neste 
período, ocorria a chamada Revolução Verde, caracterizada pela disseminação do uso de insumos químicos, 
maquinário e agrotóxicos, promovendo uma agricultura denominada como convencional, altamente dependente 
de recursos externos à propriedade, usuária de produtos químicos, e fortemente ligada à indústria. Entendia-se que 
a agricultura, com o papel de fomentar o desenvolvimento industrial brasileiro, possuía quatro principais funções: 
(i) fornecer mão de obra para a indústria, à medida em que a necessidade de trabalhadores na atividade agrícola 
diminuía com a aquisição de máquinas e equipamentos; (ii) fornecer alimentos a preços baixos para a população 
nas cidades e para a indústria de alimentos; (iii) comprar máquinas e equipamentos agrícolas; (iv) transferir capital 
para o setor industrial (MORUZZI MARQUES, 2013). 
 
A extensão rural se desenvolveu nesses mesmos moldes. O serviço de assistência técnica e extensão rural (Ater) 
no Brasil foi institucionalizado entre as décadas de 1940 e 1950, e seu objetivo se centrou em disseminar o pacote 
tecnológico da Revolução Verde. Sob forte influência do modelo de extensão rural norte americano, os incentivos 
governamentais e o atendimento aos produtores focalizaram em poucas variedades de culturas, sobretudo cereais 
(LIMA, 2000). As instituições de ensino superior desenharam cursos de graduação e pós-graduação para formar 
profissionais preparados para incentivar o uso de agrotóxicos e insumos químicos. As instituições de pesquisa 
concentraram esforços em experimentações focadas na produção agrícola convencional (JACOB, 2016; 
CAPORAL e DAMBRÓS, 2017). 
Na década de 1970, acompanhando um movimento internacional de contestação ao padrão agrícola hegemônico 
devido a seus impactos socioambientais, começaram a surgir no Brasil importantes nomes que impulsionaram o 
movimento de agricultura alternativa, como a engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, então professora da 
Universidade Federal de Santa Maria, que viria a se tornar uma das principais referências em agroecologia no país 
(COSTA, 2017). 
Na década de 1980 surgiram organizações não governamentais que exerceram papel crucial na mobilização social 
em prol da agricultura alternativa, a exemplo da Associação de Agricultura Orgânica (AAO) e da Associação 
Mokiti Okada (IDEM). Esta pressão da sociedade civil organizada foi fundamental para que a agricultura orgânica 
ganhasse espaço na agenda pública. Uma das conquistas desse processo foi a Lei n. 10.831, publicada em 2003, 
conhecida com a Lei de Orgânicos, que trouxe regras para a produção e comercialização de produtos orgânicos. 
Atualmente, há uma diversidade de iniciativas dedicadas a fomentar a agricultura orgânica e a agroecologia no 
Brasil, em um constante esforço de transformar as bases da produção de alimentos no país, ainda dominada pelos 
preceitos da Revolução Verde e pautada na agricultura industrial, com uso intensivo de agrotóxicos e insumos 
químicos. No âmbito governamental, também existem esforços importantes neste sentido, a exemplo da Política 
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e políticas públicas estaduais, ainda que a agenda pública como 
um todo siga fortemente orientada ao fomento à agricultura convencional. 
Assim, é clara a existência de uma disputa no campo do debate e da atuação ligados aos sistemas agroalimentares. 
A ordem dominante é a agricultura convencional, mas há um crescente movimento de fortalecimento de 
agriculturas alternativas, que navegam em um amplo espectro de distância em relação aos valores que 
fundamentam esse modelo padrão. Para melhor compreender esse movimento e os processos sociais associados a 
ele, a teoria das justificações, de Boltanski e Thévenot (1991), se apresenta como uma abordagem propícia 
(MORUZZI MARQUES, 2013). 
A partir desse contexto, o presente artigo busca analisar, por meio da aplicação da teoria das justificações, os 
discursos adotados por duas iniciativas voltadas ao fomento à transição para agriculturas alternativas: o Protocolo 
de Transição Agroecológica, no Estado de São Paulo, e o Programa Paraná Mais Orgânico, no Paraná. Ambas 
consistem em políticas públicas de extensão rural de base ecológica. Não é a pretensão do artigo realizar uma 
 
ampla análise do debate agroalimentar como um todo, e sim focar em um pequeno recorte desse debate, no âmbito 
dessas duas políticas públicas. 
 
Teoria das justificações 
A teoria das justificações, criada em 1991 por Luc Boltanski e Laurent Thévenot, busca fundamentar análises de 
discursos em espaços públicos de disputa, em que pessoas buscam legitimar suas ações por meio de argumentações 
baseadas em princípios de justiça alinhados a valores reconhecidos e aceitos em determinado contexto. Esses 
princípios de justiça, por sua vez, embasam a formulação de ordens de mundo justo pelos autores. 
Inicialmente, foram identificadas seis ordens de mundo justo pelos autores: inspirado, doméstico, cívico, de 
renome, mercantil e industrial. Tendo em vista que as ordens de justiça estão fortemente relacionadas com os 
contextos nos quais navegam, cabe concluir que elas estão em constante mutação, sendo possível o surgimento de 
novas ordens de mundo justo, a fim de contemplar novas configurações sociais. Nesse sentido, anos após a 
formulação da teoria das justificações, como forma de abarcar as mudanças ocorridas na sociedade ao longo do 
tempo, em especial a globalização e o funcionamento do mundo em rede, Boltanski e Chiapello (1999) 
propuseram uma nova ordem de mundo justo: conexionista, ou de rede. Outra ordem de justiça, a ecológica, foi 
identificada por Lafaye e Thévenot em 1993, mas sofreu críticas na época, e em 2012 foi retomada por Denise 
Van Dam e Jean Nizet (MORUZZI MARQUES, 2013; RETIÈRE e MORUZZI MARQUES, 2019). Ela surge em 
resposta aos danos causados pela sociedade regida por valores associados às justiças mercantil e industrial, 
características do sistema capitalista. 
As oito ordens de justiça são brevemente descritas a seguir. 
O mundo justo inspirado está associado à dimensão filosófica-religiosa, e é baseado na crença de que o reino de 
Deus consiste no caminho para a salvação. Nessa ordem de justiça, são valorizados renúncias e sacrifíciospessoais 
em nome do bem comum. 
No mundo justo doméstico, o valor das pessoas está associado à posição ocupada em determinada hierarquia, 
reproduzindo ligações familiares. A noção de autoridade como forma de estabelecer uma ordem de dependências 
pessoais é especialmente relevante neste contexto. Princípios ligados a aspectos como proximidade, tradição e 
confiança são utilizados como fundamentos de argumentações. 
O mundo justo cívico está fortemente relacionado ao conceito de cidadania e de participação social. A priorização 
do interesse coletivo sobre as vontades individuais é o que determina a hierarquia de uma sociedade fundamentada 
nesta ordem de justiça. 
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Importante aqui referenciar as obras que trazem esses conceitos. Por exemplo, "de acordo com Boltanski;Thévenot (1991); Boltanski; Chiapello (1999) e Moruzzi-Marques (2013).
 
No mundo justo de renome, ou de opinião, o valor do indivíduo está relacionado a elementos como reputação e 
honra, sendo que seu poder está associado à quantidade de pessoas que lhe atribuem estima e reconhecimento. 
Esta ordem de justiça está bastante presente no universo das celebridades e da mídia. 
O mundo justo mercantil se baseia na lógica de mercado, em que bens são considerados mercadorias avaliadas 
por preços, e estes estabelecem a base para trocas, tendo o lucro como resultado almejado. Neste cenário, maior 
importância é dada aos pertences das pessoas do que ao bem-estar em si, de maneira que o valor do indivíduo é 
diretamente associado a seu consumo e riqueza. 
No mundo justo industrial, a sociedade é vista como uma espécie de máquina, e seus componentes exercem 
diferentes funções, assegurando eficiência nos processos produtivos. Nesta ótica, as organizações que atendem 
esse interesse são as industriais, e a contribuição das pessoas, em termos de utilidade, para a eficácia desse sistema 
rege a hierarquia dos valores. 
A ordem de justiça conexionista é baseada em um contexto bastante atual, em que o capitalismo é fortemente 
pautado pela globalização e pelo mundo em rede. Nela, a vida social é caracterizada como uma rede de inúmeros 
encontros temporários, criando conexões entre diversos grupos com diferentes culturas. A grandeza é atribuída à 
capacidade de mobilidade, pertencimento a muitas redes e habilidade de engajar pessoas. 
O mundo justo ecológico se baseia na necessidade de reconstruir relações equilibradas entre homem, sociedade e 
natureza. Nessa ordem de justiça, valoriza-se atitudes como a preocupação com os outros, o respeito à natureza e 
a consciência ambiental. Considera-se importantes não só as pessoas, mas também os outros seres vivos e demais 
componentes do ambiente natural. 
Um ponto importante a se considerar recai na convivência, em nossa sociedade moderna ocidental, de uma 
pluralidade de ordens de mundo justo, de maneira que estas se permeiam e compõem o contexto diverso de 
princípios de justiça e valores nos quais as pessoas sustentam suas argumentações, comportamentos e provas 
(MORUZZI MARQUES, 2013). 
 
Teoria das justificações e as formas de agricultura 
A partir do referencial da teoria das justificações, e levando-se em consideração o exposto anteriormente acerca 
da evolução da agricultura brasileira, é possível concluir que o setor viveu seu processo de modernização 
fortemente baseado nas ordens mercantil e industrial de mundo justo. As políticas agrícolas incentivaram a 
produção de poucas culturas consideradas mais úteis ao segmento industrial, que as usaria como matéria prima 
em seus processos produtivos. Os programas de crédito buscavam atender agricultores de maior porte dedicados 
ao cultivo de grãos para exportação, e promoviam a produção intensiva em insumos químicos e agrotóxicos. Os 
principais argumentos que sustentaram as decisões tomadas nesta trajetória são fortemente ancorados nas ideias 
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indivíduos
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Como essas justiças são mobilizadas ao longo do trabalho como parte fundamental da análise, elas poderiam ser um pouco mais detalhadas, em especial a mercantil, industrial, cívica, doméstica e ecológica.
 
de eficácia, na busca pela redução dos preços dos alimentos e, para isso, pela produção ao menor custo possível 
(MORUZZI MARQUES et al, 2019). 
Neste contexto, é evidente que o alimento ocupava um lugar de mercadoria e fonte de lucro, remetendo a valores 
associados à justiça mercantil, e o forte processo de mecanização da agricultura e sua subordinação ao setor 
industrial se conectam com os valores que pautam uma ordem de mundo justo industrial (MORUZZI MARQUES, 
2013). 
A agricultura priorizada ao longo desse processo foi, portanto, uma agricultura convencional com enfoque 
mercantil-industrial. Há, no entanto, diferentes formas de agricultura, que foram reivindicadas nas últimas décadas 
como respostas aos impactos negativos gerados pelo sistema agrícola convencional. Buquera e Moruzzi Marques 
(2020) realizaram um estudo do debate sobre a produção de alimentos à luz da teoria das justificações, e 
analisaram os discursos de atores relevantes ligadas à agricultura convencional, orgânica e à agroecologia. No 
caso da agricultura convencional, foram avaliados os discursos da Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG) 
e a Rockefeller Foundation. Ambos apresentam argumentação fortemente baseada nos valores de justiça industrial 
e mercantil. 
Em relação à agricultura orgânica, a organização selecionada para o estudo foi a AAO. Seu discurso, que traz uma 
perspectiva técnica, é voltado para a causa ecológica, buscando a harmonização entre o ser humano e a natureza, 
e promove a atuação local com um olhar para questões globais, em linha com os valores que embasam a justiça 
ecológica. O estudo também identificou argumentos ligados à justiça industrial, uma vez que é promovida a 
adoção de técnicas produtivas sustentáveis. 
No caso da agroecologia, o estudo considerou os discursos de alguns dos principais autores defensores desta 
ciência. Foram identificados princípios ligados às justiças industrial e ecológica, assim como no caso da 
agricultura orgânica. No entanto, também foram encontrados elementos associados às ordens doméstica e cívica, 
principalmente nos discursos de Guzmán (2002) e Altieri (2012), em que os autores valorizam a participação 
social, em especial o papel dos agricultores e das comunidades locais, na construção do conhecimento 
agroecológico. Além disso, a agroecologia possui enfoque na agricultura familiar e em métodos tradicionais de 
produção, aspectos bastante ligados à justiça doméstica. A análise realizada neste estudo permite melhor 
compreender o desafio de se promover a agroecologia no Brasil, pois o modelo de agricultura dominante no país, 
intimamente conectado com nosso processo de desenvolvimento agropecuário, está fortemente enraizado em 
valores e princípios que se contrapõem àqueles enfatizados pela agroecologia. 
Há outras linhas de agriculturas alternativas, a exemplo da agricultura biodinâmica e agricultura natural, que 
inclusive, inspiraram o movimento de agricultura alternativa no Brasil. Estas mobilizam, além de valores da ordem 
de justiça ecológica, elementos do mundo justo inspirado, pois se baseiam em ideias ligadas à espiritualidade e 
religião (MORUZZI MARQUES, 2013). 
 
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Seria interessante aqui desenvolver as consequências sociais e ambientais desse tipo de justificação adotada como política pública de expansão e modernização agrícola, levando à padronização dos sistema agroalimentares, êxodo rural, extinção de espécies e variedades da agrobiodiversidade, etc., em detrimento das justiças cívica e ecológica.
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Desenvolver melhor a vinculação com a justiça industrial e mercantil a partir do modelo produtivista da agricultura intensiva em insumos, sejam eles químicos ou orgânicos..
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Seriainteressante aqui uma análise no que se diferem enquanto justiças ecológica-industrial-mercantil-cívica-doméstica a agricultura orgânica e agroecologia: agricultura de insumos x agricultura de processos; produtividade x diversidade; mercado x soberania.
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Em todos os tipos de agricultura citados (orgânica, agroecológica, convencional, biodinâmica e natural) poderia estar acompanhado de um exemplo prático a partir de estudos referenciados.
 
As políticas públicas de fomento à agricultura de base ecológica 
Conforme explicitado anteriormente, este artigo tem o objetivo de analisar, à luz da teoria das justificações, os 
discursos que sustentam duas políticas públicas voltadas ao fomento a agriculturas alternativas: o Protocolo de 
Transição Agroecológica e o programa Paraná Mais Orgânico. A análise foi realizada com base em conteúdos 
disponíveis nos sites das iniciativas, além de informações complementares sobre as mesmas, obtidas pela autora 
deste artigo por meio de interações com seus representantes em outras circunstâncias, no âmbito da condução de 
projeto aplicado com foco no fortalecimento da agricultura familiar. 
 
Protocolo de Transição Agroecológica 
O Protocolo de Transição Agroecológica foi criado em 2016 pelas Secretarias Estaduais de Agricultura e 
Abastecimento e de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo em parceria com a Associação de Agricultura 
Orgânica (AAO). A seguir está a descrição do objetivo da iniciativa, conforme consta no site da Coordenadoria 
de Assistência Técnica Integral (CATI) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento: 
Promover boas práticas agroambientais e o uso sustentável dos recursos naturais por 
agricultoras e agricultores, além de fomentar o incremento da produção, da oferta e do 
consumo de alimentos saudáveis e agrobiodiversos. (...) O Protocolo tem como 
proposta apoiar e viabilizar esse processo gradual de mudanças do sistema produtivo 
convencional para um agroecossistema em acordo com os princípios da Agroecologia 
nas áreas rurais, urbanas e periurbanas do estado de São Paulo (SÃO PAULO, s.d.). 
O Protocolo fornece apoio técnico para a transição agroecológica no estado de São Paulo. Isso envolve a 
capacitação de profissionais de ATER pública e não pública para o apoio à transição, e a realização do 
acompanhamento contínuo de agricultores atendidos. No início do acompanhamento, o extensionista e o agricultor 
traçam juntos um plano de transição, e a partir deste momento, o agricultor tem até 5 anos para completar o 
processo. 
O Protocolo não exige que o agricultor obtenha a certificação orgânica ao final do processo, mas tem o intuito de 
torná-lo apto a obtê-la, se desejar. No entanto, a fim de promover a inserção dos produtores no mercado, o 
Protocolo emite aos agricultores em estágio inicial da transição uma Declaração de Transição Agroecológica, e 
para os mais avançados um Certificado de Transição Agroecológica. Ambos são emitidos gratuitamente. Esses 
documentos podem ser utilizados para a diferenciação dos alimentos provenientes desses sistemas produtivos no 
mercado. 
Ao analisar as informações disponíveis na página do Protocolo, no site da CATI, é possível identificar elementos 
que rementem a algumas ordens de justiça. Inicialmente, saltam aos olhos a mobilização das justiças ecológica e 
cívica. A noção do uso sustentável dos recursos naturais é um valor associado à busca por relações mais 
harmônicas entre homem e natureza. Ao mesmo tempo, a promoção de uma agricultura que cuida da natureza 
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Quem emite não é o "Protocolo", mas sim a secretaria ao qual se vincula.
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Citar como exemplo a possibilidade de aumento de 30% do valor dos alimentos destinados à merenda escolar por meio do PNAE, vinculado-se assim a políticas públicas de apoio à agricultura familiar e agroecológica.
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ser humano
 
como um bem público e o fomento à oferta e ao consumo de alimentos saudáveis e biodiversos se conectam com 
princípios reconhecidos na ordem de mundo cívico. Entende-se aqui que este modelo de agricultura tem o 
potencial de contribuir para o acesso a alimentos de qualidade e para a conservação ambiental, sendo estas causas 
comuns associadas ao conceito de desenvolvimento sustentável. 
O trecho reproduzido da página do Protocolo também menciona o alinhamento com os princípios da Agroecologia. 
No próprio site da CATI, há uma página que traz esses princípios, como a instituição os considera, citando como 
referências Miguel Altieri e Ana Maria Primavesi. São eles: 
1. Conservar e ampliar a biodiversidade dos ecossistemas tendo em vista o 
estabelecimento de numerosas interações entre solo, plantas e animais, ampliando a 
auto-regulação do agroecossistema da propriedade; 2. Assegurar as condições de vida 
do solo que permitam a manutenção de sua fertilidade e o desenvolvimento saudável 
das plantas, por meio de práticas como: cobertura permanente do solo (viva ou 
mülching), adubação verde, proteção contra os ventos, práticas de conservação do solo 
(controle da erosão), rotação de culturas, consorciação de culturas, cultivo em faixas, 
entre outras; 3. Usar espécies ou variedades adaptadas às condições locais de solo e 
clima, minimizando exigências externas para um bom desenvolvimento da cultura; 4. 
Assegurar uma produção sustentável das culturas sem utilizar insumos químicos que 
possam degradar o ambiente, fazendo uso da adubação orgânica, de produtos minerais 
pouco solúveis (fosfato de rocha, calcário, pó de rocha etc.) e de um manejo 
fitossanitário que integre as práticas culturais, mecânicas e biológicas para o controle 
de pragas e doenças; 5. Diversificar as atividades econômicas da propriedade, 
buscando a integração entre elas para maximizar a utilização dos recursos endógenos 
e assim diminuir a aquisição de insumos externos à propriedade; 6. Favorecer a auto-
gestão da comunidade produtora respeitando sua cultura e estimulando sua dinâmica 
social (SÃO PAULO, s.d.). 
Nesses princípios, fica clara a aplicação de conhecimentos técnicos a serviço da causa ecológica associada ao 
processo de transição agroecológica, dialogando com os achados do estudo de Buquera e Moruzzi Marques (2020) 
em relação ao discurso da AAO, representando o movimento ligado à agricultura orgânica. 
A iniciativa possui um olhar para a comercialização, ao buscar a diferenciação dos alimentos frente ao mercado 
por meio dos documentos comprobatórios da transição agroecológica, diferenciação esta que se reflete em valores 
de venda acima dos preços dos alimentos convencionais. No entanto, os mercados nos quais os agricultores 
atendidos pelo Protocolo têm se inserido por meio desses documentos comprobatórios consistem, principalmente, 
em circuitos curtos de comercialização, como feiras, grupos de consumo e o Programa Nacional de Alimentação 
Escolar (PNAE), apesar de este enfoque não estar explicitamente colocado no site. Estes mercados estão ligados 
a princípios das ordens de justiça doméstica e cívica, pois se associam a valores como a proximidade entre 
agricultor e consumidor, e o favorecimento de uma agricultura que promove a conservação dos recursos dos quais 
a sociedade depende para seu bem-estar (MORUZZI MARQUES, 2013). Isso mostra que o Protocolo possui claro 
foco em fortalecer um modelo de agricultura alternativa àquela favorecida ao longo das últimas décadas, ao 
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Atentar para não misturar os conceitos de agricultura orgânica e agroecologia.
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ok
 
mesmo tempo em que mantém um diálogo com as bases do modelo dominante de desenvolvimento. Essa conexão 
com o modelo dominante é necessária para que a iniciativa se viabilize, permitindo a inserção dos produtores 
agroecológicos no mercado e, então, uma melhor remuneração da atividade agrícola. 
Neste sentido, pode-se dizer que a abordagemadotada pelo Protocolo está em consonância com as análises 
apresentadas por Buquera e Moruzzi Marques (2020) em relação à agricultura orgânica e à agroecologia. A 
iniciativa é fortemente ancorada em princípios da justiça ecológica, mas se insere no contexto regido pelos valores 
dominantes de ordem mercadológica. Por outro lado, este posicionamento é importante para viabilizá-la e 
promover a transição para uma agricultura de base ecológica em maior escala. 
 
Programa Paraná Mais Orgânico 
O programa Paraná Mais Orgânico (PMO) é realizado por meio da parceria entre o Instituto de Desenvolvimento 
Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), ligado à Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, a 
Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, o Instituto de Tecnologia do Paraná 
(Tecpar) e instituições estaduais de ensino superior. Criado em 2009, o programa possui três objetivos, de acordo 
com o site: 
Ofertar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural que estimulem a adoção de 
inovações tecnológicas baseadas na agricultura orgânica; Apoiar a organização dos 
agricultores familiares nos processos de comercialização da produção orgânica; 
Contribuir para a consolidação do Estado como o de maior número de produtores 
orgânicos do País (PARANÁ, s.d.). 
 
Destinado exclusivamente a agricultores familiares do Paraná, o PMO fornece orientação a interessados em 
produzir alimentos orgânicos, e oferece certificação orgânica gratuita aos que realizam a conversão. Para isso, 
atua em três principais frentes: formação de profissionais de ATER com conhecimentos em agricultura de base 
ecológica e produção orgânica, por meio da atuação das universidades estaduais; oferta de serviços de ATER 
qualificada para orientar para a produção orgânica; oferta de certificação pública gratuita para os agricultores, por 
meio do Tecpar. O agricultor interessado entra em contato com um dos núcleos do programa e recebe a visita de 
um agente de ATER, que irá orientá-lo para as adequações necessárias na propriedade. Após o período de 
adaptação, uma auditoria é conduzida e, estando de acordo com a legislação, a certificação orgânica é concedida 
ao produtor (PARANÁ, s.d.). 
Neste caso, apesar de tanto o Protocolo quanto o PMO terem, em linhas gerais, atuações similares – fornecimento 
de serviços gratuitos de ATER para apoiar a transição para sistemas agrícolas mais ecológicos – nota-se na 
descrição do PMO uma abordagem distinta daquela adotada pelo Protocolo de Transição Agroecológica. Ambos 
possuem como base as premissas da justiça ecológica. No entanto, o PMO apresenta um olhar mais focado em 
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Desenvolver melhor essa tese: quais seriam essas bases? Até que ponto se aproxima ou se distancia do modelo hegemônico?
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Essa questão precisa ser colocada em perspectiva para se entender melhor em quais aspectos se aproxima e em quais se distancia da justiça mercantilista.
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Essa distinção é a chave para se diferenciar a agricultura orgânica da agroecológica. Ver pesquisador banca do Rodrigo Buquera. 
 
aspectos mercadológicos e produtivos, ao apontar a adoção de inovações tecnológicas para a agricultura orgânica 
e a promoção da comercialização de alimentos orgânicos como objetivos centrais. Ainda, o programa envolve a 
concessão da certificação orgânica, condição necessária para a comercialização dos alimentos a preços 
diferenciados no mercado. Estes elementos podem se associar a valores de ordens de justiça mercantil e industrial. 
Atualmente, em geral, há uma crítica relacionada ao caráter mercadológico que a certificação adquiriu. Temos 
empresas privadas que oferecem serviços de auditoria e certificação a preços impeditivos a pequenos agricultores, 
atendendo principalmente produtores maiores e mais capitalizados, que buscam a lucratividade. Este processo 
acaba por excluir agricultores familiares do mercado de orgânicos. A produção certificada remete a uma 
padronização dos processos produtivos, associado à ordem de justiça industrial. 
Com efeito, Buquera e Moruzzi Marques (2020) mencionam a crítica feita por Altieri em relação às “práticas 
alternativas” que não questionam a lógica mercadológica característica da agricultura convencional, e cada vez 
mais presente no âmbito da agricultura orgânica, tanto com a certificação excludente para agricultores familiares, 
quanto com as práticas comerciais excludentes para consumidores. No caso do PMO, o fato de a certificação ser 
concedida gratuitamente busca solucionar a questão relacionada ao caráter excludente da verificação da 
conformidade. 
Outra ordem de justiça identificada no programa é a doméstica. O PMO atende somente agricultores familiares, 
buscando fortalecer uma classe de produtores caracterizada por valores associados à família e à tradição, em 
contraponto à agricultura empresarial, mais ancorada em elementos ligados ao mercado e à indústria. O foco na 
agricultura familiar é comumente motivado pela intenção de se reconhecer e potencializar a atuação desses 
produtores enquanto aliados da garantia da segurança alimentar e nutricional da população, uma vez que estes 
cumprem um importante papel na produção de alimentos frescos, como legumes e verduras (MORUZZI 
MARQUES, 2013). 
Outro ponto interessante em relação às duas iniciativas se refere às nomenclaturas adotadas por cada uma. O termo 
“transição agroecológica” remete à priorização de aspectos socioambientais, como o favorecimento de circuitos 
curtos, o redesenho de todo o agroecossistema etc. Já o uso da palavra “orgânico” possui outra conotação, 
consideravelmente mais próxima de noções ligadas ao mercado e à lucratividade. Atualmente, há um nicho de 
mercado, em franco crescimento, de produtos orgânicos e mais caros do que os convencionais, permitindo 
margens de lucro maiores e inviabilizando o acesso por boa parte da população. Produtores e distribuidores de 
alimentos orgânicos não necessariamente buscam a comercialização em mercados locais a preços justos. Além 
disso, é possível certificar uma parte da produção, e não toda a unidade produtiva, limitando os benefícios 
ambientais obtidos. Neste sentido, valores que caracterizam às ordens de justiça mercantil e industrial podem ser 
mais facilmente associados à palavra “orgânico” do que ao termo “transição agroecológica”. 
 
Considerações finais 
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uma parcela dos
 
Este artigo buscou analisar os discursos adotados por duas iniciativas de apoio à transição para agriculturas de 
base ecológica, à luz da teoria das justificações. Ambas as iniciativas desenvolvem um trabalho de formação de 
agentes de extensão rural em agriculturas alternativas, em um esforço de promover um modelo de produção 
agrícola distinto daquele predominante no sistema agroalimentar. Apesar de ambas terem a mesma motivação, a 
de fortalecer agriculturas alternativas, os discursos e formatos de atuação possuem enfoques distintos. Como 
resultado, é possível afirmar que as duas iniciativas mobilizam, principalmente, valores da ordem de justiça 
ecológica, e em um plano secundário, cada uma evoca uma diferente combinação das demais ordens de mundo 
justo (mercantil, industrial, doméstica e cívica). No caso do Protocolo de Transição Agroecológica, as justiças 
cívica e doméstica parecem estar bastante presentes, e a mercantil em menor medida, enquanto o PMO apresenta 
elementos com maior afinidade com as justiças doméstica, mercantil e industrial. 
Ao realizar esse exercício de análise, nota-se que há um amplo espectro dentro das ordens de justiça, de maneira 
que o objeto de análise pode se associar mais ou menos intensamente a cada uma, e os valores ligados a elas 
podem se manifestar de diferentes formas. Assim, considerando que é possível que diferentes mundos justos 
coexistam em um mesmocontexto ou situação, e que suas manifestações podem ser dar em diferentes 
intensidades, há uma diversidade de possibilidades de combinações entre eles, permitindo análises aprofundadas 
acerca de motivações e argumentos utilizados para validar ações. 
Uma limitação deste artigo consiste no fato de que foram analisadas somente informações disponíveis nos sites 
das duas iniciativas, além de algumas adicionais. É possível que existam outras motivações tão relevantes quanto 
as identificadas pelo estudo, que embasam as políticas públicas analisadas, mas não estão públicas por razões 
estratégicas, por exemplo, e não estão sendo consideradas aqui. Uma possibilidade de aprofundamento desta 
análise consiste, portanto, na realização de entrevistas semiestruturadas com representantes das iniciativas, com o 
intuito de melhor compreender os demais elementos por trás delas. Neste sentido, seria importante conhecer a 
fundo os contextos nos quais elas foram criadas: quais eram os desafios presentes, os perfis dos dirigentes 
governamentais na época, bem como dos idealizadores de cada política. 
Por fim, a análise de discursos adotados por iniciativas ligadas a agriculturas alternativas, em um ambiente de 
disputa em que a agricultura convencional é dominante, traz importantes contribuições para a compreensão dos 
caminhos escolhidos e estratégias seguidas, e consequentemente, para o entendimento da composição da realidade 
atual na temática dos sistemas agroalimentares. 
 
 
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Agricultura alternativa é um termo muito abrangente, sugiro tratar como agricultura de base ecológica.
fabio
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Sugestão: apresentar de maneira mais objetiva esses argumentos em favor das justiças em cada categoria, por meio de tabela ou fluxograma.
fabio
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Sugiro como conclusão abordar de maneira mais explícita como a análise permite diferenciar a agricultura orgânica da agroecologia e como ambas se aproximam ou se distanciam do modelo agrícola hegemônico.
fabio
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Parabéns! O texto está muito bem escrito, vincula de maneira bastante objetiva a pesquisa com as teorias e discussões abordadas na disciplina, em especial a Teoria das Justificações, o que demonstra que os conceitos e conhecimentos foram apropriados e utilizados de maneira criativa e adequada para a análise da pesquisa. Algumas sugestões de detalhamento de conceitos e aprofundamento da análise foram incluídas ao longo do texto com o objetivo de aprimorar o artigo e encaminhá-lo para uma publicação.
 
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