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julgado TJDFT - obrigação de fazer

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Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Órgão 5ª Turma Cível
Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0701489-91.2021.8.07.0012
APELANTE(S) JORGE FRANCISCO DA SILVA
APELADO(S) HEITOR DANIEL PAREDES LOPES
Relatora Desembargadora MARIA IVATÔNIA
Acórdão Nº 1814843
EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. DIREITO DE VIZINHANÇA. VAZAMENTO DE
FOSSA. LAUDO PERICIAL. CONCLUSÕES PELA FALHA NO SISTEMA DE FOSSA DO
IMÓVEL DO RÉU. OBRIGAÇÃO DE FAZER OBRAS PARA REPARAR A
IRREGULARIDADE. DANOS MORAIS. SITUAÇÃO QUE ULTRAPASSA MERO
DISSABOR. VALOR INDENIZATÓRIO. FINALIDADE. INCIDÊNCIA DE JUROS DE
MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. TUTELA ANTECIPADA EM SENTENÇA.
PROPORCIONALIDADE E ADEQUAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA.ASTREINTES.
OBRIGAÇÃO CUMPRIDA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. ORDEM DE
PREFERÊNCIA DE ARBITRAMENTO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NÃO CONFIGURAÇÃO.
1. Dispõe o Código Civil no artigo 1.277 que “O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o
direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o
 Na hipótese, no laudo pericialhabitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.”. 1.1.
produzido em juízo sob o crivo do contraditório, as conclusões do perito foram no sentido de
comprometimento da rede de esgoto do imóvel do réu/apelante, com inundação de tubulação, sem
saída para sumidouro (tanque instalado ao lado de fossa), de modo que as águas extravazam e se
infiltram pelo solo, atingindo o terreno do autor/apelado. Evidenciado que as falhas no sistema de1.2.
fossa no imóvel do réu/apelante repercutiram no imóvel limítrofe do autor/apelado, mostrando-se
prejudiciais, sobretudo à saúde, nenhum reparo à definição em sentença de condenação a obrigação de
fazer: promover obras no local para reparo das irregularidades.
2. Dano moral implica reconhecimento de ofensa a direitos da personalidade, causando aflições,
angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Exata hipótese dos autos, já que patente a ofensa a2.1.
direitos da personalidade do autor: o réu/apelante somente executou a obra de reparação da fossa em
25/7/2023 (ID49438783), após a condenação constante da sentença ora recorrida. Ou seja: evidente que
o que sofrido pelo autor (vazamento do residual de fossa e águas pluviais em seu imóvel) no
considerável intervalo de tempo (2 anos e 8 meses) transcorrido entre as reclamações do autor/apelado
(novembro de 2020) e a resolução do problema (julho de 2023) ultrapassa, e muito, a esfera de mero
dissabor, nenhum reparo ao reconhecimento do dano moral indenizável. 
3. Diante dos acontecimentos, das consequências sofridas pelo autor no longo lapso temporal a que se
viu exposto ao vazamento de esgoto e de águas pluviais em seu imóvel, nenhum reparo ao módico
valor (R$5.000,00) definido em sentença para reparação pelos danos morais reconhecidos
4. “4. O termo a quo de incidência dos juros de mora na condenação por danos morais, no caso de
responsabilidade extracontratual, é o do evento danoso e o da correção monetária, a data do
 arbitramento definitivo da indenização (Súmula n. 362/STJ). (..)” (AgInt no AREsp n. 1.912.732/RJ,
relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 6/3/2023, DJe de 9/3/2023),
exatamente o que definido em sentença: a indenização de R$5.000,00 deve ser corrigida
monetariamente pelo INPC a contar de 06/06/2023 (data da prolação da sentença e arbitramento
definitivo da indenização) e acrescida de juros de mora de 1% ao mês a contar de 05/03/2021 (data do
não atendimento à notificação extrajudicial enviada pelo autor ao réu).
5. Nenhuma dúvida quanto à probabilidade do direito e à urgência de se promover a obra para
regularizar o sistema de fossa do imóvel do réu, razão por que adequado e proporcional o deferimento
 da tutela de urgência em sede de sentença (artigo 300, CPC). 5.1. Ademais, destinam-se aastreintes
estimular a efetivação da tutela específica perseguida ou à obtenção de resultado prático equivalente
nas ações de obrigação de fazer ou não fazer. E como o réu/apelante já executou a obra de reparação da
fossa em 25/7/2023 (ID49438783), dias após a prolação da sentença em 06/06/2022, sequer houve
incidência de multa diária.
6. fazer obras de adequação de seu sistema de esgoto com a totalNa hipótese, houve condenação (
contenção de vazamento no lote do autor; pagar o valor de R$ 5.000,00 pelos danos morais
reconhecidos). Por isto e com fundamento na ordem de preferência de arbitramento estabelecida no
art. 85, §2º do CPC, os honorários de sucumbência devem ser fixados em 10% (dez por cento) do valor
da condenação, e não da causa.
7. Nos termos do art. 80, VII, CPC, considera-se “(..) litigante de má-fé aquele que:( ) VII - interpuser
 o que, evidentemente, não é o caso pela elementarrecurso com intuito manifestamente protelatório”,
razão do parcial provimento do recurso interposto pelo réu. Dispensam-se delongas.
8. Recurso conhecido e parcialmente provido.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, MARIA IVATÔNIA - Relatora, FÁBIO EDUARDO MARQUES - 1º Vogal
e LUCIMEIRE MARIA DA SILVA - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora
MARIA IVATÔNIA, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO
AO RECURSO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 21 de Fevereiro de 2024
Desembargadora MARIA IVATÔNIA
Presidente e Relatora
RELATÓRIO
Adoto, em parte, o relatório da sentença proferida pelo juízo da 16ª Vara Cível de Brasília:
“Trata-se de ação de obrigação de fazer c/c indenização de danos materiais e morais com pedido de
tutela de urgência ajuizada por HEITOR DANIEL PAREDES LOPES em desfavor de JORGE
FRANCISCO DA SILVA, ambos qualificados no processo.
Afirma a parte autora que comprou o imóvel compreendido pelo Lote 17, Quadra 24, Condomínio
Residencial Mônaco, Distrito Federal, CEP – 71.680-601, o qual é vizinho ao imóvel do requerido.
Sustenta que o lote possuía muito lixo acumulado, tais como sacos plásticos, garrafas, etc., os quais
eram provenientes do imóvel do requerido.
Aduz que percebeu, também, que resíduos de fossa e de águas pluviais escoavam do terreno do
requerido para seu terreno.
Diz que entrou em contato com o requerido para que esse cessasse tanto o descarte de lixo quanto o
escoamento dos dejetos para seu terreno, haja vista que ia dar início à edificação no lote.
Argumenta que, apesar de diversas conversas com o condomínio e com o requerido, o problema não
foi resolvido.
Diz que notificou o requerido para sanar o problema, mas esse não tomou qualquer providência.
Diz que sofreu danos de ordem moral e finaliza com os seguintes pedidos:
‘IV – DO PEDIDO - Assim posto, antes de apresentar o pedido, o autor manifesta seu interesse na
realização de audiência de conciliação, em consonância com o previsto no artigo 319, VII, do CPC,
bem como o réu seja compelido a apresentar os dados faltantes em sua qualificação, como dispõe o
artigo 319, parágrafo primeiro, do mesmo Códex.
Quanto ao pleito em si é imprescindível postular:
a) Por necessário e urgente, posto que preenchidos os requisitos legais, seja concedida tutela de
urgência, inaudita altera pars, para determinar que o réu seja compelido a fazer obra urgente,
necessária, eficaz e efetiva para cessar o nefasto vazamento de água contaminada, bem como não mais
lançar lixo no lote do autor, sob pena de aplicação de multa diária e responder civilmente por danos de
toda natureza;
b) Citado o réu para, querendo, vir responder aos termos desta ação, sob pena de aplicação dos efeitos
da revelia;
c) Quanto ao mérito, confirmada a liminar e julgado procedente, integralmente o pedido, para condenar
o réu a promover obra segura, eficaz e efetiva visando sanar, definitivamente, o vazamento de água
contaminada para o terreno do autor, bem como proibido de jogar lixo no mesmo terreno, sob pena de
aplicaçãode multa diária e conversão da presente demanda em indenização por perdas e danos, nos
moldes dos artigos 815 a 820, do CPC, no caso de não realização da referida obra;
d) Ainda quanto ao mérito, julgada procedente a presente ação para condenar o réu a reparar os danos
morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), decorrentes da ingente perturbação, descaso,
desprezo ao sofrimento alheio com o mal cheiro, elevadíssimo risco de disseminação de doenças,
sentimento de perda da saúde do solo e higiene do terreno onde o autor construirá o lar de sua família;
A decisão de id 86618965 indeferiu o pedido de antecipação de tutela.
Citado, o requerido apresentou contestação, arguindo preliminar de incompetência territorial e
aduzindo que a área é inundada e é necessário realização de obra de aterro; que a lama havida no lote
do autor não provém de vazamento nem de sua casa; que a água no solo da área é normal; que o
vazamento não é causado por seu imóvel; que não joga lixo no imóvel do autor.
Pugna pela improcedência do pedido inicial.
O autor apresentou réplica.
A decisão de id 108208356 acolheu a preliminar de incompetência territorial.
Determinada a produção de prova pericial, o Laudo foi juntado ao id144957048.
As partes se manifestaram sobre o Laudo e o Perito prestou esclarecimentos, com nova manifestação
das partes.
Os autos vieram conclusos para sentença.”- grifei (ID48438770).
Pedidos julgados procedentes:
“Diante do exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos iniciais para:
a) condenar o requerido a fazer obras de adequação de seu sistema de esgoto com a total contenção de
vazamento no lote do autor;
b) condenar o requerido a pagar a título de indenização por danos morais, a quantia de R$ 5.000,00,
corrigida monetariamente pelo INPC a contar de 06/06/2023 (súmula 362 STJ) e acrescida de juros de
mora de 1% ao mês a contar de 05/03/2021 (art. 398, CC, e súmula 54 STJ).
Extingo o processo com resolução de mérito na forma do art. 487, inciso I, CPC.
Condeno o requerido ao pagamento de custas e de honorários
advocatícios que arbitro no percentual de 10% do valor atualizado da causa. Defiro o pedido de
antecipação de tutela e determino que o requerido faça as obras necessárias e contenha o vazamento no
prazo de 30 dias a contar da intimação da sentença, sob pena de pagamento de multa diária de R$
500,00, até o limite de R$ 12.000,00.
Com o trânsito em julgado, cumpridas as formalidades de praxe, dê-se baixa e arquive-se.” 
(ID48131854).
JORGE FRANCISCO DA SILVA (réu) apela. Afirma: “PERDA DO OBJETO E DO LAUDO
INCONCLUSIVO. “(..) o Juiz da causa condenou o requerido para realizar obras de adequação em
seu sistema de esgoto com a total contenção de vazamento no lote do autor foi fundamentada no
entendimento de que havia afloramento de água de esgoto no terreno do autor devido à infiltração de
 água no solo. Contudo, essa condenação não merece ser mantida. (...) não se pode afirmar, como foi
feito, que a ‘infiltração de água’ no terreno do autor seria causada por vazamento na rede de esgoto
do apelante, uma vez que não foi encontrado qualquer indício de infiltração no terreno do
 - grifei (ID49438779 – p.10).autor/apelado.”
Alega que “Embora o laudo pericial narre a existência de irregularidade na rede de esgoto do
peticionante, não há provas de que tal irregularidade seja a causa da infiltração de água negra ou
contaminada no terreno do apelado. Inclusive, o próprio laudo não afirma com certeza que a
 (...)infiltração havida foi realmente proveniente da casa do apelante; o perito disse que ‘PODE SER’.
Além disso, é importante mencionar que o autor construiu um muro, uma casa e até mesmo fez um
jardim no local que supostamente seria a área de infiltração, o que contradiz a narrativa autoral de
 (ID49438779 – p.14).que estaria jorrando água contaminada.”
Sustenta se poder reconhecer : não danos morais “não há que se falar em existência de danos morais,
pois a parte apelada não se desincumbiu do ônus de comprovar que teve sua honra ou imagem
atingidas devido ao suposto vazamento. Além disso, a fim de minimizar qualquer problema que fosse
atribuído ao apelado, o apelante, agindo de vontade livre e consciente, realizou vistoria e obras nas
caixas de esgoto e fossa de sua residência, fazendo limpezas e testes de vazamento, mas nenhum
vazamento foi encontrado. Mesmo assim, o autor realizou a vedação em todas as caixas de esgoto e
fossa, conforme demonstrado na peça de defesa e constatado no laudo pericial. No entanto, tais fatos
 (ID49438779 – p.15).foram ignorados pelo Juiz.”
Subsidiariamente, pugna pela (redução do valor indenizatório “a indenização fixada, além de não
atender aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, ofende diversos dispositivos do
) e Código Civil. Portanto, deve ser reduzida por este Egrégio Tribunal.” incidência de juros
 (ID49438779 – p.16).moratórios e correção monetária a partir da data do arbitramento
Postula : gratuidade de justiça “é uma pessoa idosa, com 84 anos, e não possui mais capacidade
produtiva. Além disso, é enfermo, o que se comprova pelos gastos ordinários com medicamentos,
tendo juntado comprovação de compras de remédio para Alzheimer (...), condomínio (..), IPTU (..),
 (ID49438779 – p.20).IPVA (..).”
Assevera que os devem incidir honorários sucumbenciais “sobre o verdadeiro valor da causa, já que o
valor constante na inicial não corresponde ao valor correto da causa. Além disso, deve ser suspensa a
exigibilidade devido à gratuidade de justiça que faz jus o apelante, e que será deferida por esta
 (ID49438779 – p.21).respeitável Turma Cível do TJDFT.”
Aduz que não “demonstrada nenhuma irregularidade praticada por parte do Réu, pelo que não
merece guarida o pedido de concessão de Antecipação de Tutela. Ademais, os fundamentos trazidos
pela Parte Agravada não preencheram os requisitos necessários elencados nos artigos 300 e seguintes
 (ID49438779 – p.22).do CPC/2015, para a concessão da medida.”
E afirma:
“Com relação a multa diária no valor de R$ 500,000 (quinhentos reais), limitada a R$ 12.000,00
(doze mil reais), resta notória a ausência de razoabilidade e proporcionalidade, pois, a cobrança do
valor, sob a fundamentação de eventual descumprimento de ordem judicial não deve prosperar. Tal
montante é altamente arbitrário e excessivo, contrariando o real objetivo da estipulação de multa pelo
descumprimento (ou demora no cumprimento) de obrigação de fazer, a chamada astreinte. (...) A
aplicação de uma multa com valor elevado, como a que fora fixada, deixa de focar o objetivo principal
 da demanda para tomar lugar a uma medida acessória, qual seja a execução da multa. Portanto,
procurando evitar que o foco da demanda seja outro, necessário se faz REVOGAR a tutela concedida,
 ou mesmo REDUZIR a multa aplicada.” (ID49438779 – p.23)
Requer:
“(...) o apelante requer que o presente recurso de apelação seja conhecido e provido, a fim de que a r.
.sentença seja cassada
A sentença se baseou em um laudo pericial inconclusivo, pois nada relacionado a ‘infiltração, água
negra e contaminada’ foi encontrado. Não podendo atribuir ao apelante culpa apenas pelo erro
entrado no sistema de fossa.
Caso não seja entendido pela cassação da sentença, requer a reforma da dela (sentença), a fim de que
 com base nos princípios daa condenação por dano moral seja afastada ou reduzido o valor
razoabilidade e proporcionalidade. Além disso, roga-se pela incidência de juros e correções a partir
.da data do arbitramento
É fundamental também a reforma da r. sentença em relação à questão da , a qualgratuidade de justiça
deve ser deferida, prestigiando a dignidade da pessoa humana e idosa, bem como a proteção da
família, tendo em vista que o apelante não pode arcar com as despesas processuais sem prejuízo
próprio e de sua família.
No que diz respeito aos , a r. sentença deve ser reformada parahonorários sucumbenciais arbitrados
que a condenação seja baseada no verdadeiro valor da causa, já que o valor constante na inicial não
corresponde verdadeiramenteà causa.
Além disso, requer a devido à concessão da gratuidade de justiça aosuspensão da exigibilidade
apelante.
Por fim, a ausência de pressupostos para a concessão da antecipação da tutela deve resultar na
 em caso de descumprimento oureforma da r. sentença, inclusive para extinguir a multa arbitrada
reduzido o seu valor para fins de adequação aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.” 
(ID49438779).
Em 25/7/2023, o réu/apelante informou que “(..) cumpriu a determinação da antecipação de tutela
deferida, realizando as obras necessárias para conter o ‘vazamento’ dentro do prazo estipulado. Aliás,
as desativações do sumidouro e da fossa em frente à casa, bem como a contenção do ‘vazamento’,
 E juntou foram concluídas nos primeiros 10 dias após a publicação da sentença.” “Termo de Entrega
 e fotografias (ID49438783).da obra do esgoto”
Em contrarrazões, o autor/apelado pugna pela manutenção da sentença e afirma que “A apelação
 (ID49438788).encerra em si mesma litigância de má fé.”
Pela decisão de ID51963618, determinado ao réu/apelante demonstrar a alegada hipossuficiência
econômico-financeira ou apresentar comprovante de recolhimento em dobro do preparo (ID51963618).
Preparo recolhido em dobro (ID52352172 – ID52352175 - ID52352179).
Pelo despacho de ID53539161, oportunizado ao réu/apelante (artigos 9 e 10, CPC) manifestar-se sobre
as alegações deduzidas em contrarrazões, do que se tem a manifestação de ID53928755.
Processo redistribuído em razão da aposentadoria do Desembargador João Luís Fischer Dias (Portaria
GPR 2.157, de 6 de setembro de 2023).
É o relatório.
VOTOS
A Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA - Relatora
Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso e o recebo no efeito devolutivo
(art. 1.012, §1º, inciso V, CPC).
MÉRITO
- Do vazamento na fossa do imóvel do réu/apelante
Na inicial, HEITOR DANIEL PAREDES LOPES (autor) narrou que “(...) comprou o imóvel
compreendido pelo Lote 17, Quadra 24, Condomínio Residencial Mônaco, Distrito Federal, (...) 
, e tão logo procedeu à limpeza do mesmo observou que havia muito lixo, comolimítrofe ao do réu
sacos plásticos, garrafas, vasilhas, etc, e, destaque-se, como mais grave, águas negras (residual da
fossa e águas pluviais) extravasando do imóvel deste último e contaminando a propriedade do autor,
causando com isso sérios riscos à saúde da família, comunidade, condomínio, danos ao solo e ao
meio ambiente como um todo. O autor pôde observar depois, enquanto limpava o terreno e o trator
fazia o nivelamento, que ,constantemente algo era lançado do terreno do réu para o dele
confirmando, dessarte, que o descarte do lixo é proveniente do mesmo imóvel de onde jorra a água
, e sempre acumulando deste lado do lote. Ele resolveu, então, em nome da “política dacontaminada
boa vizinhança”, procurar o(s) proprietário(s) do imóvel vizinho e informar que agora era o novo
 proprietário do imóvel ao lado, e que estava preparando o terreno para construir a moradia da
família, e, portanto, necessitava, com urgência, que fizessem cessar o vazamento da água
contaminada para seu lote, assim como, não mais lançassem lixo nele. A via do diálogo não trouxe
, o que forçou o autor procurar o Síndico do Condomínio, a fim de serem tomadasnenhum resultado
providências em relação a esta inadmissível invasão séptica. (...) Dessa forma, o autor foi obrigado a
notificar o réu, com o desiderato acima noticiado, porém, transcorrido o prazo estabelecido
(05/03/21), este continuou ignorando o direito do autor, o que o obrigou, infelizmente, a tomar esta
 (ID49438513 – p.p.1-2).medida judicial.”
Ao contrário do alegado pelo réu/apelante, no laudo pericial produzido em juízo sob o crivo do
contraditório, as conclusões do perito foram no sentido de comprometimento da rede de esgoto do
imóvel do réu/apelante, com inundação de tubulação, sem saída para sumidouro (tanque instalado ao
lado de fossa), de modo que as águas extravazam e se infiltram pelo solo, atingindo o terreno do
autor/apelado:
“1. A rede de esgoto do imóvel do Requerido está completamente comprometida, apresentando
inundação em sua tubulação.
2. Como não há saída de água da fossa para o “sumidouro”, pode-se concluir que ela extravasa para
.o solo ao redor
3. Como ”, pode-se concluir que ela extravasa para o solo aonão há saída de água do “sumidouro
redor.
4. Não há água na superfície do terreno do Autor, devido ao plantio de grama.
5. Não foi constatada a infiltração de água através do muro divisório, embora haja marcas escuras
dessas infiltrações.
6. Não foi possível constatar o afloramento de água do lençol freático.
7. Segundo o síndico do condomínio, há regiões de solo turfoso em que o lençol freático apresenta-se
a pouca profundidade, o que não é o caso do imóvel do Autor.
8. Segundo o Autor, nos períodos de seca há forte emanação de forte odor de esgoto.
9. Segundo o Autor, mesmo nos períodos de seca, a grama na região da alegada infiltração de solo
contaminado permanece mais verde e cresce mais que o restante do jardim.
10. É urgente a execução de nova rede de esgotos no imóvel do Requerido, de forma a garantir
inclinação suficiente para o perfeito escoamento da água servida, com fossa séptica dimensionada
para o número de moradores e sumidouro que permita a infiltração da água excedente no subsolo.
11. Considerando-se as condições da rede de esgoto da casa do lote 15, pode-se afirmar que a
infiltração de água reclamada pelo Autor pode ser causada por vazamento dessa rede de esgoto
comprometida.” (ID49438707 – p.p.14-15).
Além disto, destacado no laudo pericial, que “Foi realizada uma pormenorizada vistoria do sistema
de esgoto sanitário da , tendo sido verificada uma condição de residência do Requerido falha
 e que (...)”generalizada desse sistema de esgoto residencial. “...a tubulação de esgoto não tem
inclinação adequada e está alagada com água em excesso no seu interior, dificultando o escoamento
 - grifei – ID49438707. lançados diretamente nos vasos sanitários.”das fezes e dos papéis higiênicos
No , anotado pela perícia que [sic] imóvel do autor/apelado “Em algumas partes do muro nota-se
, compatível commarcas características de infiltração de água com material orgânico de cor escura
a cor escura da grama na região onde foi escavada. Essas marcas só não são maiores pelo fato de o
 - grifei – ID49438707.Autor ter construído outro muro paralelo ao muro do imóvel do Requerido.”
Dispõe o Código Civil no artigo 1.277 que “O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito
de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam,
provocadas pela utilização de propriedade vizinha.”
E, no caso, evidenciado que as falhas no sistema de fossa no imóvel do réu/apelante repercutiram no
imóvel limítrofe do autor/apelado, mostrando-se prejudiciais, sobretudo, à saúde, anenhum reparo
conclusão contida em sentença: “Os danos causados ao autor dão a esse o direito de exigir que o
requerido faça intervenções em sua propriedade a fim de corrigir as falhas técnicas apontadas pelo
 – ID49438770.Perito em seu Laudo.”
E, em 25/7/2023 (após a prolação da sentença , o réu/apelante informou que em 6/6/2022) “(..) 
cumpriu a determinação da antecipação de tutela deferida, realizando as obras necessárias para
. Aliás, as desativações do sumidouro e da fossa emconter o ‘vazamento’ dentro do prazo estipulado
frente à casa, bem como a contenção do ‘vazamento’, foram concluídas nos primeiros 10 dias após a
 E juntou e fotografias do local, naspublicação da sentença.” “Termo de Entrega da obra do esgoto”
quais (ID49438783).
- Dos danos morais
Dano moral implica reconhecimento de ofensa a direitos da personalidade, causando aflições, angústia
e desequilíbrio em seu bem-estar.
Exata hipótese dos autos, já que patente a ofensa ante a demora do réu/apelante de reparar as falhas na
.fossa mesmo diante das evidências de transtornos ao imóvel vizinho
Veja-se que o autor/apelado juntou registrada em 10/03/2021 peranteo Condomínio“ocorrência”
onde residem ambas as partes, relatado: desde , novembro de 2020 “enfrento o problema de
vazamento residual de fossa e águas pluviais provenientes do lote vizinho (..)o despejo irregular de
esgoto causa sérios problemas a toda comunidade: proliferação de doenças, danos permanentes ao
 – ID49438519.solo e ao meio-ambiente”
Em 25/3/2021, o autor/apelado consignou perante a“Reclamação – Protocolo Re 059065/2021”
Ouvidoria do Distrito Federal, relatado o vazamento de fossa. E, em resposta, em 26/4/2021, a
, após fiscalização, informando ter notificado oOuvidoria confirmou o problema no local
“responsável”: “Prezado Cidadão, realizamos . No momento da vistoria, ação fiscal no local a
 - infiltração no muro entre os imóveis 15 e 17 proveniente do fiscalização constatou a irregularidade
 15- e transbordamento da fossa da casa foi lavrado o lavrado Notificação, para o responsável
, para preservação das condições de estabilidade e segurança do murorealizar a manutenção
limítrofe. Dessa forma, foi iniciado procedimento administrativo cujo prazo é definido em legislação
 –específica. Atenciosamente, Ouvidoria Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística - DF Legal.”
ID49438564.
O autor enfatiza que antes das referidas providências acima destacadas, tentou resolver o problema
diretamente com o réu (“ ”); logrou êxito. Salientou, também, terpolítica de boa vizinhança não
notificado extrajudicialmente o réu para cessar “(..) integralmente com o vazamento do residual de
fossa e águas pluviais em meu imóvel, e promover a reparação integral dos prejuízos causados em
 diligência também sucesso (ID49438517).meu terreno por conta desta invasão séptica”, sem
E como se viu, o réu/apelante somente executou a obra de reparação da fossa em 25/7/2023
(ID49438783), a condenação constante da sentença ora recorrida. É dizer: evidente que o queapós
sofrido pelo autor ( no considerávelvazamento do residual de fossa e águas pluviais em seu imóvel)
intervalo de tempo (2 anos e 8 meses) transcorrido entre as reclamações do autor/apelado (novembro
) e a resolução do problema ( ) ultrapassa, e muito, a esfera de mero dissabor.de 2020 julho de 2023
Como bem destacado em sentença, “Os requisitos da responsabilidade civil extracontratual
mostram-se presentes, na medida em que o requerido adotou conduta que causou danos de ordem
moral ao autor, agindo com culpa. De fato. O despejo de esgoto no terreno do autor no período em
que esse erigia a construção de sua morada provocaram danos de ordem moral, superiores aos
” (ID49438770)..meros dissabores do quotidiano
Igualmente, reparo ao módico valor definido em sentença R$5.000,00 (cinco mil reais),nenhum
diante dos acontecimentos, das consequências sofridas pelo autor no longo lapso temporal a que se viu
exposto.
Igualmente insubsistente o pedido de definição da data do arbitramento como o dos jurostermo inicial
moratórios e da correção monetária (ID49438779 – p.16): “4. O termo a quo de incidência dos juros
de mora na condenação por danos morais, no caso de responsabilidade extracontratual, é o do
evento danoso e o da correção monetária, a data do arbitramento definitivo da indenização (Súmula
 n. 362/STJ). (..)” (AgInt no AREsp n. 1.912.732/RJ, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, julgado em 6/3/2023, DJe de 9/3/2023.)
Assim, reparo ao que definido em sentença: a indenização de R$5.000,00 deve ser corrigidanenhum
monetariamente pelo INPC a contar de 06/06/2023 (data da sentença - arbitramento definitivo da
indenização) e acrescida de juros de mora de 1% ao mês a contar de 05/03/2021 (data do não
atendimento à notificação extrajudicial enviada pelo autor ao réu).
- Do deferimento de tutela antecipada em sentença
O réu/apelante afirma não comprovação dos requisitos para a antecipação da tutela definida em
sentença, que deve ser reformada “inclusive para extinguir a multa arbitrada em caso de
descumprimento ou reduzido o seu valor para fins de adequação aos princípios da razoabilidade e
 (ID49438779).proporcionalidade.”
Isto o que fixado em sentença:
“Defiro o pedido de antecipação de tutela e determino que o requerido faça as obras necessárias e
contenha o vazamento no , sob pena deprazo de 30 dias a contar da intimação da sentença
pagamento de multa diária de R$ 500,00, até o limite de R$12.000,00.” (ID49438779).
Ao contrário do alegado pelo réu/apelante, nenhuma dúvida quanto à probabilidade do direito e à
urgência de se promover a obra para regularizar o sistema de fossa do imóvel do réu, razão por que
exigível e proporcional o deferimento da tutela de urgência em sede de sentença (artigo 300,CPC).
Ademais, destinam-se a estimular a efetivação da tutela específica perseguida ou à obtençãoastreintes
de resultado prático equivalente nas ações de obrigação de fazer ou não fazer.
E como o réu/apelante executou a obra de reparação da fossa em (ID49438783), diasjá 25/7/2023
após a prolação da sentença em 06/06/2022, sequer houve incidência de multa diária.
- Dos honorários de sucumbência
Embora por outros fundamentos, o réu/apelante neste particular.com razão
Isto o que fixado em sentença:
“Condeno o requerido ao pagamento de custas e de honorários advocatícios que arbitro no percentual
de 10% do valor atualizado da causa.” (ID48131854).
No entanto, na hipótese, o pedido foi julgado procedente, o réu condenado “a obras defazer
adequação de seu sistema de esgoto com a total contenção de vazamento no lote do autor;” e a pagar
o valor de R$ 5.000,00 pelos danos morais reconhecidos.
Por isto e com fundamento na ordem de preferência de arbitramento estabelecida no art. 85, §2º do
CPC, os honorários de sucumbência devem ser fixados em 10% (dez por cento) do valor da
, e da causa.condenação não
Por oportuno:
“PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. ( ) . ( ) 6. A 2ª SeçãoHONORÁRIOS. ORDEM DE PREFERÊNCIA
do STJ, que, no julgamento do REsp 1.746.072/PR, uniformizou o entendimento desta Corte acerca
da fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais, consignando que a regra geral a ser aplicada
aos honorários advocatícios é a prevista no § 2º, do art. 85, do CPC/2015, que estabelece uma ordem
: (i) primeiro, quando houver condenação, devem ser fixadosde preferência para o arbitramento
entre 10% e 20% sobre o montante desta (art. 85, § 2º); (ii) segundo, não havendo condenação, serão
também fixados entre 10% e 20%, das seguintes bases de cálculo: (ii. a) sobre o proveito econômico
obtido pelo vencedor (art. 85, § 2º); ou (ii.b) não sendo possível mensurar o proveito econômico
obtido, sobre o valor atualizado da causa (art. 85, § 2º).” ( ) (AgInt no AREsp n. 2.152.070/MG,
relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 5/12/2022, DJe de 7/12/2022.)” –
- Da litigância de má-fé alegada pelo autor
Insubsistente o pedido deduzido em contrarrazões de reconhecimento de litigância de má-fé por parte
do réu/apelante.
Nos termos do art. 80, VII, CPC, “(..) litigante de má-fé aquele que:( ) VII - interpuser recurso com
 o que, evidentemente, não é o caso pela elementar razão dointuito manifestamente protelatório”,
parcial provimento do recurso interposto pelo réu.
Dispensam-se delongas.
DISPOSITIVO
Forte em tais argumentos, tão somente para o fimconheço do recurso e dou-lhe parcial provimento
de definir o como a base de cálculo dos honorários advocatícios, mantido ovalor da condenação
percentual de 10% sobre tal valor (artigo 85, §2º, CPC).
Sem majoração de honorários recursais (recurso parcialmente provido).
É como voto.
O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 1º Vogal
Com o relator
A Senhora Desembargadora LUCIMEIRE MARIA DA SILVA - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO
CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.

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