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Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão 5ª Turma Cível Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0701489-91.2021.8.07.0012 APELANTE(S) JORGE FRANCISCO DA SILVA APELADO(S) HEITOR DANIEL PAREDES LOPES Relatora Desembargadora MARIA IVATÔNIA Acórdão Nº 1814843 EMENTA APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. DIREITO DE VIZINHANÇA. VAZAMENTO DE FOSSA. LAUDO PERICIAL. CONCLUSÕES PELA FALHA NO SISTEMA DE FOSSA DO IMÓVEL DO RÉU. OBRIGAÇÃO DE FAZER OBRAS PARA REPARAR A IRREGULARIDADE. DANOS MORAIS. SITUAÇÃO QUE ULTRAPASSA MERO DISSABOR. VALOR INDENIZATÓRIO. FINALIDADE. INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. TUTELA ANTECIPADA EM SENTENÇA. PROPORCIONALIDADE E ADEQUAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA.ASTREINTES. OBRIGAÇÃO CUMPRIDA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. ORDEM DE PREFERÊNCIA DE ARBITRAMENTO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NÃO CONFIGURAÇÃO. 1. Dispõe o Código Civil no artigo 1.277 que “O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o Na hipótese, no laudo pericialhabitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.”. 1.1. produzido em juízo sob o crivo do contraditório, as conclusões do perito foram no sentido de comprometimento da rede de esgoto do imóvel do réu/apelante, com inundação de tubulação, sem saída para sumidouro (tanque instalado ao lado de fossa), de modo que as águas extravazam e se infiltram pelo solo, atingindo o terreno do autor/apelado. Evidenciado que as falhas no sistema de1.2. fossa no imóvel do réu/apelante repercutiram no imóvel limítrofe do autor/apelado, mostrando-se prejudiciais, sobretudo à saúde, nenhum reparo à definição em sentença de condenação a obrigação de fazer: promover obras no local para reparo das irregularidades. 2. Dano moral implica reconhecimento de ofensa a direitos da personalidade, causando aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Exata hipótese dos autos, já que patente a ofensa a2.1. direitos da personalidade do autor: o réu/apelante somente executou a obra de reparação da fossa em 25/7/2023 (ID49438783), após a condenação constante da sentença ora recorrida. Ou seja: evidente que o que sofrido pelo autor (vazamento do residual de fossa e águas pluviais em seu imóvel) no considerável intervalo de tempo (2 anos e 8 meses) transcorrido entre as reclamações do autor/apelado (novembro de 2020) e a resolução do problema (julho de 2023) ultrapassa, e muito, a esfera de mero dissabor, nenhum reparo ao reconhecimento do dano moral indenizável. 3. Diante dos acontecimentos, das consequências sofridas pelo autor no longo lapso temporal a que se viu exposto ao vazamento de esgoto e de águas pluviais em seu imóvel, nenhum reparo ao módico valor (R$5.000,00) definido em sentença para reparação pelos danos morais reconhecidos 4. “4. O termo a quo de incidência dos juros de mora na condenação por danos morais, no caso de responsabilidade extracontratual, é o do evento danoso e o da correção monetária, a data do arbitramento definitivo da indenização (Súmula n. 362/STJ). (..)” (AgInt no AREsp n. 1.912.732/RJ, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 6/3/2023, DJe de 9/3/2023), exatamente o que definido em sentença: a indenização de R$5.000,00 deve ser corrigida monetariamente pelo INPC a contar de 06/06/2023 (data da prolação da sentença e arbitramento definitivo da indenização) e acrescida de juros de mora de 1% ao mês a contar de 05/03/2021 (data do não atendimento à notificação extrajudicial enviada pelo autor ao réu). 5. Nenhuma dúvida quanto à probabilidade do direito e à urgência de se promover a obra para regularizar o sistema de fossa do imóvel do réu, razão por que adequado e proporcional o deferimento da tutela de urgência em sede de sentença (artigo 300, CPC). 5.1. Ademais, destinam-se aastreintes estimular a efetivação da tutela específica perseguida ou à obtenção de resultado prático equivalente nas ações de obrigação de fazer ou não fazer. E como o réu/apelante já executou a obra de reparação da fossa em 25/7/2023 (ID49438783), dias após a prolação da sentença em 06/06/2022, sequer houve incidência de multa diária. 6. fazer obras de adequação de seu sistema de esgoto com a totalNa hipótese, houve condenação ( contenção de vazamento no lote do autor; pagar o valor de R$ 5.000,00 pelos danos morais reconhecidos). Por isto e com fundamento na ordem de preferência de arbitramento estabelecida no art. 85, §2º do CPC, os honorários de sucumbência devem ser fixados em 10% (dez por cento) do valor da condenação, e não da causa. 7. Nos termos do art. 80, VII, CPC, considera-se “(..) litigante de má-fé aquele que:( ) VII - interpuser o que, evidentemente, não é o caso pela elementarrecurso com intuito manifestamente protelatório”, razão do parcial provimento do recurso interposto pelo réu. Dispensam-se delongas. 8. Recurso conhecido e parcialmente provido. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, MARIA IVATÔNIA - Relatora, FÁBIO EDUARDO MARQUES - 1º Vogal e LUCIMEIRE MARIA DA SILVA - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 21 de Fevereiro de 2024 Desembargadora MARIA IVATÔNIA Presidente e Relatora RELATÓRIO Adoto, em parte, o relatório da sentença proferida pelo juízo da 16ª Vara Cível de Brasília: “Trata-se de ação de obrigação de fazer c/c indenização de danos materiais e morais com pedido de tutela de urgência ajuizada por HEITOR DANIEL PAREDES LOPES em desfavor de JORGE FRANCISCO DA SILVA, ambos qualificados no processo. Afirma a parte autora que comprou o imóvel compreendido pelo Lote 17, Quadra 24, Condomínio Residencial Mônaco, Distrito Federal, CEP – 71.680-601, o qual é vizinho ao imóvel do requerido. Sustenta que o lote possuía muito lixo acumulado, tais como sacos plásticos, garrafas, etc., os quais eram provenientes do imóvel do requerido. Aduz que percebeu, também, que resíduos de fossa e de águas pluviais escoavam do terreno do requerido para seu terreno. Diz que entrou em contato com o requerido para que esse cessasse tanto o descarte de lixo quanto o escoamento dos dejetos para seu terreno, haja vista que ia dar início à edificação no lote. Argumenta que, apesar de diversas conversas com o condomínio e com o requerido, o problema não foi resolvido. Diz que notificou o requerido para sanar o problema, mas esse não tomou qualquer providência. Diz que sofreu danos de ordem moral e finaliza com os seguintes pedidos: ‘IV – DO PEDIDO - Assim posto, antes de apresentar o pedido, o autor manifesta seu interesse na realização de audiência de conciliação, em consonância com o previsto no artigo 319, VII, do CPC, bem como o réu seja compelido a apresentar os dados faltantes em sua qualificação, como dispõe o artigo 319, parágrafo primeiro, do mesmo Códex. Quanto ao pleito em si é imprescindível postular: a) Por necessário e urgente, posto que preenchidos os requisitos legais, seja concedida tutela de urgência, inaudita altera pars, para determinar que o réu seja compelido a fazer obra urgente, necessária, eficaz e efetiva para cessar o nefasto vazamento de água contaminada, bem como não mais lançar lixo no lote do autor, sob pena de aplicação de multa diária e responder civilmente por danos de toda natureza; b) Citado o réu para, querendo, vir responder aos termos desta ação, sob pena de aplicação dos efeitos da revelia; c) Quanto ao mérito, confirmada a liminar e julgado procedente, integralmente o pedido, para condenar o réu a promover obra segura, eficaz e efetiva visando sanar, definitivamente, o vazamento de água contaminada para o terreno do autor, bem como proibido de jogar lixo no mesmo terreno, sob pena de aplicaçãode multa diária e conversão da presente demanda em indenização por perdas e danos, nos moldes dos artigos 815 a 820, do CPC, no caso de não realização da referida obra; d) Ainda quanto ao mérito, julgada procedente a presente ação para condenar o réu a reparar os danos morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), decorrentes da ingente perturbação, descaso, desprezo ao sofrimento alheio com o mal cheiro, elevadíssimo risco de disseminação de doenças, sentimento de perda da saúde do solo e higiene do terreno onde o autor construirá o lar de sua família; A decisão de id 86618965 indeferiu o pedido de antecipação de tutela. Citado, o requerido apresentou contestação, arguindo preliminar de incompetência territorial e aduzindo que a área é inundada e é necessário realização de obra de aterro; que a lama havida no lote do autor não provém de vazamento nem de sua casa; que a água no solo da área é normal; que o vazamento não é causado por seu imóvel; que não joga lixo no imóvel do autor. Pugna pela improcedência do pedido inicial. O autor apresentou réplica. A decisão de id 108208356 acolheu a preliminar de incompetência territorial. Determinada a produção de prova pericial, o Laudo foi juntado ao id144957048. As partes se manifestaram sobre o Laudo e o Perito prestou esclarecimentos, com nova manifestação das partes. Os autos vieram conclusos para sentença.”- grifei (ID48438770). Pedidos julgados procedentes: “Diante do exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos iniciais para: a) condenar o requerido a fazer obras de adequação de seu sistema de esgoto com a total contenção de vazamento no lote do autor; b) condenar o requerido a pagar a título de indenização por danos morais, a quantia de R$ 5.000,00, corrigida monetariamente pelo INPC a contar de 06/06/2023 (súmula 362 STJ) e acrescida de juros de mora de 1% ao mês a contar de 05/03/2021 (art. 398, CC, e súmula 54 STJ). Extingo o processo com resolução de mérito na forma do art. 487, inciso I, CPC. Condeno o requerido ao pagamento de custas e de honorários advocatícios que arbitro no percentual de 10% do valor atualizado da causa. Defiro o pedido de antecipação de tutela e determino que o requerido faça as obras necessárias e contenha o vazamento no prazo de 30 dias a contar da intimação da sentença, sob pena de pagamento de multa diária de R$ 500,00, até o limite de R$ 12.000,00. Com o trânsito em julgado, cumpridas as formalidades de praxe, dê-se baixa e arquive-se.” (ID48131854). JORGE FRANCISCO DA SILVA (réu) apela. Afirma: “PERDA DO OBJETO E DO LAUDO INCONCLUSIVO. “(..) o Juiz da causa condenou o requerido para realizar obras de adequação em seu sistema de esgoto com a total contenção de vazamento no lote do autor foi fundamentada no entendimento de que havia afloramento de água de esgoto no terreno do autor devido à infiltração de água no solo. Contudo, essa condenação não merece ser mantida. (...) não se pode afirmar, como foi feito, que a ‘infiltração de água’ no terreno do autor seria causada por vazamento na rede de esgoto do apelante, uma vez que não foi encontrado qualquer indício de infiltração no terreno do - grifei (ID49438779 – p.10).autor/apelado.” Alega que “Embora o laudo pericial narre a existência de irregularidade na rede de esgoto do peticionante, não há provas de que tal irregularidade seja a causa da infiltração de água negra ou contaminada no terreno do apelado. Inclusive, o próprio laudo não afirma com certeza que a (...)infiltração havida foi realmente proveniente da casa do apelante; o perito disse que ‘PODE SER’. Além disso, é importante mencionar que o autor construiu um muro, uma casa e até mesmo fez um jardim no local que supostamente seria a área de infiltração, o que contradiz a narrativa autoral de (ID49438779 – p.14).que estaria jorrando água contaminada.” Sustenta se poder reconhecer : não danos morais “não há que se falar em existência de danos morais, pois a parte apelada não se desincumbiu do ônus de comprovar que teve sua honra ou imagem atingidas devido ao suposto vazamento. Além disso, a fim de minimizar qualquer problema que fosse atribuído ao apelado, o apelante, agindo de vontade livre e consciente, realizou vistoria e obras nas caixas de esgoto e fossa de sua residência, fazendo limpezas e testes de vazamento, mas nenhum vazamento foi encontrado. Mesmo assim, o autor realizou a vedação em todas as caixas de esgoto e fossa, conforme demonstrado na peça de defesa e constatado no laudo pericial. No entanto, tais fatos (ID49438779 – p.15).foram ignorados pelo Juiz.” Subsidiariamente, pugna pela (redução do valor indenizatório “a indenização fixada, além de não atender aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, ofende diversos dispositivos do ) e Código Civil. Portanto, deve ser reduzida por este Egrégio Tribunal.” incidência de juros (ID49438779 – p.16).moratórios e correção monetária a partir da data do arbitramento Postula : gratuidade de justiça “é uma pessoa idosa, com 84 anos, e não possui mais capacidade produtiva. Além disso, é enfermo, o que se comprova pelos gastos ordinários com medicamentos, tendo juntado comprovação de compras de remédio para Alzheimer (...), condomínio (..), IPTU (..), (ID49438779 – p.20).IPVA (..).” Assevera que os devem incidir honorários sucumbenciais “sobre o verdadeiro valor da causa, já que o valor constante na inicial não corresponde ao valor correto da causa. Além disso, deve ser suspensa a exigibilidade devido à gratuidade de justiça que faz jus o apelante, e que será deferida por esta (ID49438779 – p.21).respeitável Turma Cível do TJDFT.” Aduz que não “demonstrada nenhuma irregularidade praticada por parte do Réu, pelo que não merece guarida o pedido de concessão de Antecipação de Tutela. Ademais, os fundamentos trazidos pela Parte Agravada não preencheram os requisitos necessários elencados nos artigos 300 e seguintes (ID49438779 – p.22).do CPC/2015, para a concessão da medida.” E afirma: “Com relação a multa diária no valor de R$ 500,000 (quinhentos reais), limitada a R$ 12.000,00 (doze mil reais), resta notória a ausência de razoabilidade e proporcionalidade, pois, a cobrança do valor, sob a fundamentação de eventual descumprimento de ordem judicial não deve prosperar. Tal montante é altamente arbitrário e excessivo, contrariando o real objetivo da estipulação de multa pelo descumprimento (ou demora no cumprimento) de obrigação de fazer, a chamada astreinte. (...) A aplicação de uma multa com valor elevado, como a que fora fixada, deixa de focar o objetivo principal da demanda para tomar lugar a uma medida acessória, qual seja a execução da multa. Portanto, procurando evitar que o foco da demanda seja outro, necessário se faz REVOGAR a tutela concedida, ou mesmo REDUZIR a multa aplicada.” (ID49438779 – p.23) Requer: “(...) o apelante requer que o presente recurso de apelação seja conhecido e provido, a fim de que a r. .sentença seja cassada A sentença se baseou em um laudo pericial inconclusivo, pois nada relacionado a ‘infiltração, água negra e contaminada’ foi encontrado. Não podendo atribuir ao apelante culpa apenas pelo erro entrado no sistema de fossa. Caso não seja entendido pela cassação da sentença, requer a reforma da dela (sentença), a fim de que com base nos princípios daa condenação por dano moral seja afastada ou reduzido o valor razoabilidade e proporcionalidade. Além disso, roga-se pela incidência de juros e correções a partir .da data do arbitramento É fundamental também a reforma da r. sentença em relação à questão da , a qualgratuidade de justiça deve ser deferida, prestigiando a dignidade da pessoa humana e idosa, bem como a proteção da família, tendo em vista que o apelante não pode arcar com as despesas processuais sem prejuízo próprio e de sua família. No que diz respeito aos , a r. sentença deve ser reformada parahonorários sucumbenciais arbitrados que a condenação seja baseada no verdadeiro valor da causa, já que o valor constante na inicial não corresponde verdadeiramenteà causa. Além disso, requer a devido à concessão da gratuidade de justiça aosuspensão da exigibilidade apelante. Por fim, a ausência de pressupostos para a concessão da antecipação da tutela deve resultar na em caso de descumprimento oureforma da r. sentença, inclusive para extinguir a multa arbitrada reduzido o seu valor para fins de adequação aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.” (ID49438779). Em 25/7/2023, o réu/apelante informou que “(..) cumpriu a determinação da antecipação de tutela deferida, realizando as obras necessárias para conter o ‘vazamento’ dentro do prazo estipulado. Aliás, as desativações do sumidouro e da fossa em frente à casa, bem como a contenção do ‘vazamento’, E juntou foram concluídas nos primeiros 10 dias após a publicação da sentença.” “Termo de Entrega e fotografias (ID49438783).da obra do esgoto” Em contrarrazões, o autor/apelado pugna pela manutenção da sentença e afirma que “A apelação (ID49438788).encerra em si mesma litigância de má fé.” Pela decisão de ID51963618, determinado ao réu/apelante demonstrar a alegada hipossuficiência econômico-financeira ou apresentar comprovante de recolhimento em dobro do preparo (ID51963618). Preparo recolhido em dobro (ID52352172 – ID52352175 - ID52352179). Pelo despacho de ID53539161, oportunizado ao réu/apelante (artigos 9 e 10, CPC) manifestar-se sobre as alegações deduzidas em contrarrazões, do que se tem a manifestação de ID53928755. Processo redistribuído em razão da aposentadoria do Desembargador João Luís Fischer Dias (Portaria GPR 2.157, de 6 de setembro de 2023). É o relatório. VOTOS A Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA - Relatora Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso e o recebo no efeito devolutivo (art. 1.012, §1º, inciso V, CPC). MÉRITO - Do vazamento na fossa do imóvel do réu/apelante Na inicial, HEITOR DANIEL PAREDES LOPES (autor) narrou que “(...) comprou o imóvel compreendido pelo Lote 17, Quadra 24, Condomínio Residencial Mônaco, Distrito Federal, (...) , e tão logo procedeu à limpeza do mesmo observou que havia muito lixo, comolimítrofe ao do réu sacos plásticos, garrafas, vasilhas, etc, e, destaque-se, como mais grave, águas negras (residual da fossa e águas pluviais) extravasando do imóvel deste último e contaminando a propriedade do autor, causando com isso sérios riscos à saúde da família, comunidade, condomínio, danos ao solo e ao meio ambiente como um todo. O autor pôde observar depois, enquanto limpava o terreno e o trator fazia o nivelamento, que ,constantemente algo era lançado do terreno do réu para o dele confirmando, dessarte, que o descarte do lixo é proveniente do mesmo imóvel de onde jorra a água , e sempre acumulando deste lado do lote. Ele resolveu, então, em nome da “política dacontaminada boa vizinhança”, procurar o(s) proprietário(s) do imóvel vizinho e informar que agora era o novo proprietário do imóvel ao lado, e que estava preparando o terreno para construir a moradia da família, e, portanto, necessitava, com urgência, que fizessem cessar o vazamento da água contaminada para seu lote, assim como, não mais lançassem lixo nele. A via do diálogo não trouxe , o que forçou o autor procurar o Síndico do Condomínio, a fim de serem tomadasnenhum resultado providências em relação a esta inadmissível invasão séptica. (...) Dessa forma, o autor foi obrigado a notificar o réu, com o desiderato acima noticiado, porém, transcorrido o prazo estabelecido (05/03/21), este continuou ignorando o direito do autor, o que o obrigou, infelizmente, a tomar esta (ID49438513 – p.p.1-2).medida judicial.” Ao contrário do alegado pelo réu/apelante, no laudo pericial produzido em juízo sob o crivo do contraditório, as conclusões do perito foram no sentido de comprometimento da rede de esgoto do imóvel do réu/apelante, com inundação de tubulação, sem saída para sumidouro (tanque instalado ao lado de fossa), de modo que as águas extravazam e se infiltram pelo solo, atingindo o terreno do autor/apelado: “1. A rede de esgoto do imóvel do Requerido está completamente comprometida, apresentando inundação em sua tubulação. 2. Como não há saída de água da fossa para o “sumidouro”, pode-se concluir que ela extravasa para .o solo ao redor 3. Como ”, pode-se concluir que ela extravasa para o solo aonão há saída de água do “sumidouro redor. 4. Não há água na superfície do terreno do Autor, devido ao plantio de grama. 5. Não foi constatada a infiltração de água através do muro divisório, embora haja marcas escuras dessas infiltrações. 6. Não foi possível constatar o afloramento de água do lençol freático. 7. Segundo o síndico do condomínio, há regiões de solo turfoso em que o lençol freático apresenta-se a pouca profundidade, o que não é o caso do imóvel do Autor. 8. Segundo o Autor, nos períodos de seca há forte emanação de forte odor de esgoto. 9. Segundo o Autor, mesmo nos períodos de seca, a grama na região da alegada infiltração de solo contaminado permanece mais verde e cresce mais que o restante do jardim. 10. É urgente a execução de nova rede de esgotos no imóvel do Requerido, de forma a garantir inclinação suficiente para o perfeito escoamento da água servida, com fossa séptica dimensionada para o número de moradores e sumidouro que permita a infiltração da água excedente no subsolo. 11. Considerando-se as condições da rede de esgoto da casa do lote 15, pode-se afirmar que a infiltração de água reclamada pelo Autor pode ser causada por vazamento dessa rede de esgoto comprometida.” (ID49438707 – p.p.14-15). Além disto, destacado no laudo pericial, que “Foi realizada uma pormenorizada vistoria do sistema de esgoto sanitário da , tendo sido verificada uma condição de residência do Requerido falha e que (...)”generalizada desse sistema de esgoto residencial. “...a tubulação de esgoto não tem inclinação adequada e está alagada com água em excesso no seu interior, dificultando o escoamento - grifei – ID49438707. lançados diretamente nos vasos sanitários.”das fezes e dos papéis higiênicos No , anotado pela perícia que [sic] imóvel do autor/apelado “Em algumas partes do muro nota-se , compatível commarcas características de infiltração de água com material orgânico de cor escura a cor escura da grama na região onde foi escavada. Essas marcas só não são maiores pelo fato de o - grifei – ID49438707.Autor ter construído outro muro paralelo ao muro do imóvel do Requerido.” Dispõe o Código Civil no artigo 1.277 que “O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.” E, no caso, evidenciado que as falhas no sistema de fossa no imóvel do réu/apelante repercutiram no imóvel limítrofe do autor/apelado, mostrando-se prejudiciais, sobretudo, à saúde, anenhum reparo conclusão contida em sentença: “Os danos causados ao autor dão a esse o direito de exigir que o requerido faça intervenções em sua propriedade a fim de corrigir as falhas técnicas apontadas pelo – ID49438770.Perito em seu Laudo.” E, em 25/7/2023 (após a prolação da sentença , o réu/apelante informou que em 6/6/2022) “(..) cumpriu a determinação da antecipação de tutela deferida, realizando as obras necessárias para . Aliás, as desativações do sumidouro e da fossa emconter o ‘vazamento’ dentro do prazo estipulado frente à casa, bem como a contenção do ‘vazamento’, foram concluídas nos primeiros 10 dias após a E juntou e fotografias do local, naspublicação da sentença.” “Termo de Entrega da obra do esgoto” quais (ID49438783). - Dos danos morais Dano moral implica reconhecimento de ofensa a direitos da personalidade, causando aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Exata hipótese dos autos, já que patente a ofensa ante a demora do réu/apelante de reparar as falhas na .fossa mesmo diante das evidências de transtornos ao imóvel vizinho Veja-se que o autor/apelado juntou registrada em 10/03/2021 peranteo Condomínio“ocorrência” onde residem ambas as partes, relatado: desde , novembro de 2020 “enfrento o problema de vazamento residual de fossa e águas pluviais provenientes do lote vizinho (..)o despejo irregular de esgoto causa sérios problemas a toda comunidade: proliferação de doenças, danos permanentes ao – ID49438519.solo e ao meio-ambiente” Em 25/3/2021, o autor/apelado consignou perante a“Reclamação – Protocolo Re 059065/2021” Ouvidoria do Distrito Federal, relatado o vazamento de fossa. E, em resposta, em 26/4/2021, a , após fiscalização, informando ter notificado oOuvidoria confirmou o problema no local “responsável”: “Prezado Cidadão, realizamos . No momento da vistoria, ação fiscal no local a - infiltração no muro entre os imóveis 15 e 17 proveniente do fiscalização constatou a irregularidade 15- e transbordamento da fossa da casa foi lavrado o lavrado Notificação, para o responsável , para preservação das condições de estabilidade e segurança do murorealizar a manutenção limítrofe. Dessa forma, foi iniciado procedimento administrativo cujo prazo é definido em legislação –específica. Atenciosamente, Ouvidoria Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística - DF Legal.” ID49438564. O autor enfatiza que antes das referidas providências acima destacadas, tentou resolver o problema diretamente com o réu (“ ”); logrou êxito. Salientou, também, terpolítica de boa vizinhança não notificado extrajudicialmente o réu para cessar “(..) integralmente com o vazamento do residual de fossa e águas pluviais em meu imóvel, e promover a reparação integral dos prejuízos causados em diligência também sucesso (ID49438517).meu terreno por conta desta invasão séptica”, sem E como se viu, o réu/apelante somente executou a obra de reparação da fossa em 25/7/2023 (ID49438783), a condenação constante da sentença ora recorrida. É dizer: evidente que o queapós sofrido pelo autor ( no considerávelvazamento do residual de fossa e águas pluviais em seu imóvel) intervalo de tempo (2 anos e 8 meses) transcorrido entre as reclamações do autor/apelado (novembro ) e a resolução do problema ( ) ultrapassa, e muito, a esfera de mero dissabor.de 2020 julho de 2023 Como bem destacado em sentença, “Os requisitos da responsabilidade civil extracontratual mostram-se presentes, na medida em que o requerido adotou conduta que causou danos de ordem moral ao autor, agindo com culpa. De fato. O despejo de esgoto no terreno do autor no período em que esse erigia a construção de sua morada provocaram danos de ordem moral, superiores aos ” (ID49438770)..meros dissabores do quotidiano Igualmente, reparo ao módico valor definido em sentença R$5.000,00 (cinco mil reais),nenhum diante dos acontecimentos, das consequências sofridas pelo autor no longo lapso temporal a que se viu exposto. Igualmente insubsistente o pedido de definição da data do arbitramento como o dos jurostermo inicial moratórios e da correção monetária (ID49438779 – p.16): “4. O termo a quo de incidência dos juros de mora na condenação por danos morais, no caso de responsabilidade extracontratual, é o do evento danoso e o da correção monetária, a data do arbitramento definitivo da indenização (Súmula n. 362/STJ). (..)” (AgInt no AREsp n. 1.912.732/RJ, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 6/3/2023, DJe de 9/3/2023.) Assim, reparo ao que definido em sentença: a indenização de R$5.000,00 deve ser corrigidanenhum monetariamente pelo INPC a contar de 06/06/2023 (data da sentença - arbitramento definitivo da indenização) e acrescida de juros de mora de 1% ao mês a contar de 05/03/2021 (data do não atendimento à notificação extrajudicial enviada pelo autor ao réu). - Do deferimento de tutela antecipada em sentença O réu/apelante afirma não comprovação dos requisitos para a antecipação da tutela definida em sentença, que deve ser reformada “inclusive para extinguir a multa arbitrada em caso de descumprimento ou reduzido o seu valor para fins de adequação aos princípios da razoabilidade e (ID49438779).proporcionalidade.” Isto o que fixado em sentença: “Defiro o pedido de antecipação de tutela e determino que o requerido faça as obras necessárias e contenha o vazamento no , sob pena deprazo de 30 dias a contar da intimação da sentença pagamento de multa diária de R$ 500,00, até o limite de R$12.000,00.” (ID49438779). Ao contrário do alegado pelo réu/apelante, nenhuma dúvida quanto à probabilidade do direito e à urgência de se promover a obra para regularizar o sistema de fossa do imóvel do réu, razão por que exigível e proporcional o deferimento da tutela de urgência em sede de sentença (artigo 300,CPC). Ademais, destinam-se a estimular a efetivação da tutela específica perseguida ou à obtençãoastreintes de resultado prático equivalente nas ações de obrigação de fazer ou não fazer. E como o réu/apelante executou a obra de reparação da fossa em (ID49438783), diasjá 25/7/2023 após a prolação da sentença em 06/06/2022, sequer houve incidência de multa diária. - Dos honorários de sucumbência Embora por outros fundamentos, o réu/apelante neste particular.com razão Isto o que fixado em sentença: “Condeno o requerido ao pagamento de custas e de honorários advocatícios que arbitro no percentual de 10% do valor atualizado da causa.” (ID48131854). No entanto, na hipótese, o pedido foi julgado procedente, o réu condenado “a obras defazer adequação de seu sistema de esgoto com a total contenção de vazamento no lote do autor;” e a pagar o valor de R$ 5.000,00 pelos danos morais reconhecidos. Por isto e com fundamento na ordem de preferência de arbitramento estabelecida no art. 85, §2º do CPC, os honorários de sucumbência devem ser fixados em 10% (dez por cento) do valor da , e da causa.condenação não Por oportuno: “PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. ( ) . ( ) 6. A 2ª SeçãoHONORÁRIOS. ORDEM DE PREFERÊNCIA do STJ, que, no julgamento do REsp 1.746.072/PR, uniformizou o entendimento desta Corte acerca da fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais, consignando que a regra geral a ser aplicada aos honorários advocatícios é a prevista no § 2º, do art. 85, do CPC/2015, que estabelece uma ordem : (i) primeiro, quando houver condenação, devem ser fixadosde preferência para o arbitramento entre 10% e 20% sobre o montante desta (art. 85, § 2º); (ii) segundo, não havendo condenação, serão também fixados entre 10% e 20%, das seguintes bases de cálculo: (ii. a) sobre o proveito econômico obtido pelo vencedor (art. 85, § 2º); ou (ii.b) não sendo possível mensurar o proveito econômico obtido, sobre o valor atualizado da causa (art. 85, § 2º).” ( ) (AgInt no AREsp n. 2.152.070/MG, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 5/12/2022, DJe de 7/12/2022.)” – - Da litigância de má-fé alegada pelo autor Insubsistente o pedido deduzido em contrarrazões de reconhecimento de litigância de má-fé por parte do réu/apelante. Nos termos do art. 80, VII, CPC, “(..) litigante de má-fé aquele que:( ) VII - interpuser recurso com o que, evidentemente, não é o caso pela elementar razão dointuito manifestamente protelatório”, parcial provimento do recurso interposto pelo réu. Dispensam-se delongas. DISPOSITIVO Forte em tais argumentos, tão somente para o fimconheço do recurso e dou-lhe parcial provimento de definir o como a base de cálculo dos honorários advocatícios, mantido ovalor da condenação percentual de 10% sobre tal valor (artigo 85, §2º, CPC). Sem majoração de honorários recursais (recurso parcialmente provido). É como voto. O Senhor Desembargador FÁBIO EDUARDO MARQUES - 1º Vogal Com o relator A Senhora Desembargadora LUCIMEIRE MARIA DA SILVA - 2º Vogal Com o relator DECISÃO CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.
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