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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 939-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Processos não comentados pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista. Serão 
comentados assim que chegarem ao fim: HC 148558/SP; HC 151881/SP; Rcl 31937 AgR/ES. 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
DIREITOS POLÍTICOS 
 A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da CF, aplica-se tanto para condenados a penas privativas 
de liberdade como também a penas restritivas de direitos. 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 Possibilidade de conhecimento da ADPF mesmo que a lei atacada tenha sido revogada antes do julgamento, se 
persistir a utilidade em se proferir decisão com caráter erga omnes e vinculante. 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
 É inconstitucional lei estadual que crie hipóteses de isenção de pagamento de direitos autorais fora do rol trazido 
pela Lei federal nº 9.610/98. 
 CE não pode exigir autorização da ALE para que o Governador (ou o Vice) se ausente do país qualquer que seja o 
prazo. 
 
IMUNIDADES PARLAMENTARES 
 Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os parlamentares federais no art. 53 
da CF/88. 
 Assembleia Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as medidas cautelares impostas pelo Poder Judiciário 
contra Deputados Estaduais. 
 
LIVRE INICIATIVA 
 Os Municípios, ao editarem as leis locais regulamentando o transporte de passageiros mediante aplicativo, deverão 
observar as regras impostas pela Lei federal nº 13.640/2018. 
 São inconstitucionais leis municipais que proíbam o serviço de transporte de passageiros mediante aplicativo. 
 
DIREITO PENAL 
CONTRABANDO 
 A importação de arma de pressão por ação de gás comprimido, ainda que de calibre inferior a 6 mm, configura o 
crime de contrabando, sendo inaplicável o princípio da insignificância. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
RECLAMAÇÃO 
 Deve ser aplicado o art. 798 do CPP (contagem dos prazos de forma contínua) em caso de recurso contra decisão 
que julgou reclamação em matéria penal. 
 
INDULTO 
 O Decreto nº 9.246/2017, que concedeu indulto natalino de 2017, é constitucional. 
 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
DIREITOS POLÍTICOS 
A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da CF, aplica-se tanto para condenados 
a penas privativas de liberdade como também a penas restritivas de direitos 
 
A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal, aplica-se no 
caso de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. 
Havendo condenação criminal transitada em julgado, a pessoa condenada fica com seus 
direitos políticos suspensos tanto no caso de pena privativa de liberdade como na hipótese de 
substituição por pena restritiva de direitos. Veja o dispositivo constitucional: 
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: 
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; 
STF. Plenário. RE 601182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 8/5/2019 (repercussão geral) (Info 939). 
 
Condenação criminal e suspensão dos direitos políticos 
A Constituição Federal prevê que a pessoa condenada criminalmente, após o trânsito em julgado, fica com 
seus direitos políticos suspensos. Isso significa que essa pessoa fica impedida de votar e ser votada. 
Veja o dispositivo constitucional: 
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos 
de: 
(...) 
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; 
 
Essa norma é autoaplicável? 
SIM. Trata-se de norma autoaplicável. 
O art. 15, III, da CF/88 é norma constitucional de eficácia plena, não necessitando de regulamentação para 
produzir todos os seus efeitos (STF. Plenário. AP 470, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 17/12/2012). 
 
Esse inciso III é uma hipótese de perda ou de suspensão dos direitos políticos? 
Suspensão. 
 
Para que o condenado readquira os direitos políticos, é necessária a reabilitação criminal? 
NÃO. Veja o entendimento do TSE: 
Súmula 9-TSE: A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado 
cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação 
dos danos. 
 
Nunca houve dúvida de que se o indivíduo é condenado a uma pena privativa de liberdade, seus direitos 
políticos ficam suspensos. No entanto, e se a pena privativa de liberdade for substituída por restritiva 
de direitos, também haverá a suspensão? Aplica-se o art. 15, III, da CF/88 também no caso de pena 
restritiva de direitos? 
SIM. 
A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal, aplica-se no caso de 
substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. 
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STF. Plenário. RE 601182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 8/5/2019 (repercussão geral) (Info 939). 
 
Assim, havendo condenação criminal transitada em julgado, a pessoa condenada fica com seus direitos 
políticos suspensos tanto no caso de pena privativa de liberdade como na hipótese de substituição por 
pena restritiva de direitos. 
Na história das constituições brasileiras, somente a Constituição de 1824 restringia a aplicabilidade da 
suspensão dos direitos políticos às hipóteses de sentença condenatória a pena privativa de liberdade 
(Constituição de 1824, art. 8, II). A partir da Constituição republicana de 1891, até a atual, não há mais 
essa diferenciação. O texto constitucional fala, portanto, apenas em condenação criminal transitada em 
julgado, o que abrange as penas restritivas de direito. 
A razão de ser do art. 15, III, da CF/88 é impedir aos condenados — após o devido processo legal e com 
sentença transitada em julgado — o exercício dos direitos políticos enquanto cumprirem pena. Não há 
nenhuma arbitrariedade no fato de a própria Constituição estabelecer, de forma excepcional, a 
possibilidade, seja temporária – no caso de suspensão –, seja permanente – no caso de perda –, do 
afastamento do exercício dos direitos políticos. Isso porque o exercício dos direitos políticos, assim como 
o exercício de qualquer outro direito fundamental, não é absoluto. 
 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É inconstitucional lei estadual que crie hipóteses de isenção de pagamento de direitos autorais 
fora do rol trazido pela Lei federal nº 9.610/98 
 
É inconstitucional lei estadual que isenta entidades filantrópicas de recolher as taxas de 
retribuição autoral arrecadadas pelo ECAD. 
A lei estadual que cria novas hipóteses de não recolhimento de direitos autorais não previstas 
na Lei federal usurpa a competência privativa da União para legislar sobre direito civil, direito 
de propriedade e para estabelecer regras de intervenção no domínio econômico (art. 22, I, da 
CF/88). 
Além disso, essa lei estadual retira dos autores das obras musicais o seu direito exclusivo de 
utilização, publicação ou reprodução das obras ou do reconhecimento por sua criação, 
afrontando o art. 5º, XXII e XXVII, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 5800/AM, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 8/5/2019 (Info 939). 
 
Direitos autoraisSe houver a execução de obras musicais em um evento, a pessoa responsável pela organização deverá 
fazer o pagamento de direitos autorais. 
A cobrança realizada é feita com base no art. 68 da Lei nº 9.610/98: 
Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras 
teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções 
públicas. 
 
Vale ressaltar que a Lei nº 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais), em regra, não exige que o evento tenha 
finalidade lucrativa (direta ou indireta) para que seja obrigatório o pagamento dos direitos autorais. Em 
outras palavras, em regra, mesmo que a exibição da obra não tenha objetivo de lucro, ainda assim é devido 
o pagamento da retribuição autoral. 
O fato gerador do pagamento dos direitos autorais é a exibição pública da obra artística, em local de 
frequência coletiva. 
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ECAD 
Esses direitos autorais devem ser pagos ao ECAD que, então, irá repassar os valores arrecadados aos 
autores das músicas. 
ECAD é a sigla para Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Trata-se de uma sociedade civil, de 
natureza privada, instituída pela Lei federal nº 5.988/73 e mantida pela atual Lei de Direitos Autorais 
Brasileira (Lei nº 9.610/98). 
É entidade organizada e administrada por nove associações de gestão coletiva musical e cumpre a ela 
formular a política e a normatização da arrecadação e distribuição de direitos autorais decorrentes da 
execução pública de composições musicais ou literomusicais e de fonogramas, possuindo legitimidade 
para defender em juízo ou fora dele a observância dos direitos autorais em nome de seus titulares. 
 
Lei estadual isentando certas pessoas do pagamento dos direitos autorais 
No Amazonas, foi editada a Lei estadual nº 92/2010 prevendo que associações, fundações ou instituições 
filantrópicas e aquelas oficialmente declaradas como de utilidade pública estadual ficariam dispensadas 
do pagamento de direitos autorais ao ECAD. Confira: 
Art. 1º As associações, fundações ou instituições filantrópicas e as oficialmente declaradas de 
Utilidade Pública Estadual, sem fins lucrativos, em todos os eventos que realizarem com a 
finalidade de angariar renda destinada à manutenção, funcionamento e melhoramento de suas 
instalações e desenvolvimento de suas atividades, segundo as finalidades dispostas em seus 
estatutos e atos constitutivos, excluídas as empresas com fins lucrativos que destinam parte de 
seus lucros às referidas instituições, ficam isentas de recolher as taxas de retribuição autoral 
arrecadas pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD). 
Art. 2º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em 
contrário. 
 
Essa lei é constitucional? 
NÃO. O STF, ao julgar ADI contra essa norma, decidiu que: 
É inconstitucional lei estadual que preveja hipóteses de não pagamento de direitos autorais fora do rol 
trazido pela Lei federal nº 9.610/98. 
A lei estadual que cria novas hipóteses de não recolhimento de direitos autorais não previstas na Lei 
federal usurpa a competência privativa da União para legislar sobre direito civil, direito de propriedade 
e para estabelecer regras de intervenção no domínio econômico (art. 22, I, da CF/88). 
Além disso, essa lei estadual retira dos autores das obras musicais o seu direito exclusivo de utilização, 
publicação ou reprodução das obras ou do reconhecimento por sua criação, afrontando o art. 5º, XXII e 
XXVII, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 5800/AM, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 8/5/2019 (Info 939). 
 
Veja o que diz a CF/88: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e 
do trabalho; 
 
Art. 5º (...) 
XXII - é garantido o direito de propriedade; 
(...) 
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XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas 
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; 
 
A competência legislativa concorrente sobre produção e consumo e responsabilidade por dano ao 
consumidor, prevista no art. 24, V e VIII, da Constituição Federal, não autoriza os Estados-membros e o 
Distrito Federal a disporem sobre direitos autorais. 
 
O diploma impugnado estabelece a gratuidade para a execução pública de obras musicais e literomusicais 
e de fonogramas por associações, fundações ou instituições filantrópicas e aquelas oficialmente 
declaradas de utilidade pública estadual, sem fins lucrativos. 
 
 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
CE não pode exigir autorização da ALE para que o Governador (ou o Vice) 
se ausente do país qualquer que seja o prazo 
 
A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o governador e o vice-
governador do Estado ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território nacional mostra-se 
incompatível com os postulados da simetria e da separação dos Poderes. 
A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é da competência do 
Congresso Nacional autorizar o Presidente e o Vice-presidente da República a se ausentarem 
do País quando a ausência for por período superior a 15 dias. 
Logo, afronta os princípios da separação dos Poderes e da simetria a norma da Constituição 
estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o Governador e o Vice-
governador se ausentem do País por qualquer prazo. 
Os Estados-membros não podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de outro que 
não derivem explícita ou implicitamente de regra ou princípio previsto na Constituição 
Federal. 
STF. Plenário. ADI 5373 MC/RR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/5/2019 (Info 939). 
 
CE/RR 
A Constituição do Estado de Roraima previu o seguinte: 
Art. 59. O Governador e o Vice-Governador não poderão ausentar-se do Estado por mais de 15 
(quinze dias) consecutivos, e do País em qualquer tempo, sem prévia autorização da Assembleia 
Legislativa, sob pena de perda do cargo. 
 
Essa previsão é compatível com a CF/88? 
NÃO. Essa previsão é inconstitucional. 
A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o governador e o vice-governador do 
estado ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território nacional mostra-se incompatível com os 
postulados da simetria e da separação dos Poderes. 
A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é da competência do Congresso 
Nacional autorizar o Presidente e o Vice-presidente da República a se ausentarem do País quando a 
ausência for por período superior a 15 dias. 
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Logo, afronta os princípios da separação dos Poderes e da simetria a norma da Constituição estadual 
que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o Governador e o Vice-governador se 
ausentem do País por qualquer prazo. 
Os Estados-membros não podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de outro que não 
derivem explícita ou implicitamente de regra ou princípio previsto na Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 5373 MC/RR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/5/2019 (Info 939). 
 
Esta previsão viola o princípioda separação dos poderes. 
O legislador constituinte estadual excedeu-se ao prever que a ausência do Governador ou do Vice para o 
exterior por qualquer tempo deve ter prévia autorização da Assembleia Legislativa. 
Essa regra de “por qualquer tempo” está em desacordo com o parâmetro estabelecido pela CF/88, 
considerando que, para o Presidente da República, somente se exige autorização do Congresso Nacional 
se a ausência for superior a 15 dias. Desse modo, houve violação ao princípio da simetria. Confira: 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a 
ausência exceder a quinze dias; 
 
A Constituição Federal impõe ao Estado-membro, em caráter vinculante, em razão de sua índole 
hierárquico-normativa, o dever de estrita observância quanto às diretrizes e aos princípios nela 
proclamados e estabelecidos (art. 25, caput). Em outras palavras, as Constituições estaduais devem 
respeitar o modelo imposto pela Carta Magna. 
 
 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
Possibilidade de conhecimento da ADPF mesmo que a lei atacada tenha sido revogada antes do 
julgamento, se persistir a utilidade em se proferir decisão com caráter erga omnes e vinculante 
 
Em Fortaleza, foi editada a Lei municipal nº 10.553/2016 proibindo o serviço de transporte 
em aplicativos. Foi ajuizada ADPF contra a lei. Antes que a ação fosse julgada, a referida Lei foi 
revogada. 
Mesmo com a revogação, o STF conheceu da ADPF e julgou o mérito, declarando a Lei nº 
10.553/2016 inconstitucional. 
O Tribunal considerou que a revogação da Lei atacada na ADPF por outra lei local não retira o 
interesse de agir no feito. Isso porque persiste a utilidade da prestação jurisdicional com o 
intuito de estabelecer, com caráter erga omnes e vinculante, o regime aplicável às relações 
jurídicas estabelecidas durante a vigência da norma impugnada, bem como no que diz 
respeito a leis de idêntico teor aprovadas em outros Municípios. 
Trata-se da solução mais consentânea com o princípio da eficiência processual e o imperativo 
aproveitamento dos atos já praticados de maneira socialmente proveitosa. 
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 8 e 9/5/2019 (Info 939). 
 
Imagine a seguinte situação: 
Em Fortaleza, foi editada a Lei municipal nº 10.553/2016 proibindo o serviço de transporte em aplicativos 
(ex: Uber). 
O Partido Social Liberal (PSL) ajuizou, no STF, uma ADPF contra esta lei argumentando que ela violaria 
diversos preceitos fundamentais da CF/88. 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Se o partido entende que essa lei é inconstitucional, por que ele não propôs uma ADI contra ela? 
Porque não cabe ADI contra lei municipal, conforme se pode observar pela redação do art. 102, I, da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação 
declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; 
 
Voltando ao caso concreto. Antes que a ADPF fosse julgada, a Lei nº 10.553/2016 (objeto da ação) foi 
revogada pela Lei nº 10.751/2018. O STF declarou a perda do objeto (perda do interesse de agir) da ADPF? 
NÃO. O STF conheceu da ADPF e julgou o mérito, declarando a Lei nº 10.553/2016 inconstitucional. 
O Tribunal considerou que a revogação da Lei nº 10.553/2016 por outra lei local não retira o interesse 
de agir no feito. Isso porque persiste a utilidade da prestação jurisdicional com o intuito de estabelecer, 
com caráter erga omnes e vinculante, o regime aplicável às relações jurídicas estabelecidas durante a 
vigência da norma impugnada, bem como no que diz respeito a leis de idêntico teor aprovadas em 
outros Municípios. 
Trata-se da solução mais consentânea com o princípio da eficiência processual e o imperativo 
aproveitamento dos atos já praticados de maneira socialmente proveitosa. 
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 8 e 9/5/2019 (Info 939). 
 
 
IMUNIDADES PARLAMENTARES 
Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os parlamentares 
federais no art. 53 da CF/88 
Assembleia Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as medidas cautelares impostas pelo 
Poder Judiciário contra Deputados Estaduais 
 
Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os parlamentares 
federais no art. 53 da CF/88 
São constitucionais dispositivos da Constituição do Estado que estendem aos Deputados 
Estaduais as imunidades formais previstas no art. 53 da Constituição Federal para Deputados 
Federais e Senadores. 
A leitura da Constituição da República revela, sob os ângulos literal e sistemático, que os 
Deputados Estaduais também têm direito às imunidades formal e material e à inviolabilidade 
que foram conferidas pelo constituinte aos congressistas (membros do Congresso Nacional). 
Isso porque tais imunidades foram expressamente estendidas aos Deputados pelo § 1º do art. 
27 da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min. Edson Fachin, 
red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019 (Info 939). 
 
Assembleia Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as medidas cautelares impostas pelo 
Poder Judiciário contra Deputados Estaduais 
É constitucional resolução da Assembleia Legislativa que, com base na imunidade 
parlamentar formal (art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga a prisão preventiva e as 
medidas cautelares penais que haviam sido impostas pelo Poder Judiciário contra Deputado 
Estadual, determinando o pleno retorno do parlamentar ao seu mandato. 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
O Poder Legislativo estadual tem a prerrogativa de sustar decisões judiciais de natureza 
criminal, precárias e efêmeras, cujo teor resulte em afastamento ou limitação da função 
parlamentar. 
STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min. Edson Fachin, 
red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019 (Info 939). 
 
APLICAÇÃO DAS IMUNIDADES FORMAIS PARA OS DEPUTADOS ESTADUAIS 
O que são as chamadas imunidades parlamentares? 
Imunidades parlamentares são algumas prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que 
eles possam exercer seu mandato com liberdade e independência. 
 
Espécies de imunidade: 
ESPÉCIES DE IMUNIDADE 
MATERIAL 
(inviolabilidade) 
Significa que os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por 
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos (art. 53 da CF/88). 
FORMAL 
(imunidade 
processual 
ou adjetiva) 
Podem ser de duas espécies: 
a) Em relação à prisão (art. 53, § 2º): desde a expedição do diploma, os membros do 
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime 
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de 24 horas à Casa 
respectiva para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. 
b) Em relação ao processo (art. 53, § 3º): se for proposta e recebida denúncia 
criminal contra Senador ou Deputado Federal, por crime ocorrido após a diplomação, 
o STF dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela 
representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, 
sustar o andamento da ação. 
 
Imunidadeformal quanto à prisão (art. 53, § 2º) 
IMUNIDADE FORMAL QUANTO À PRISÃO 
Em REGRA, Deputados Federais e Senadores não poderão ser presos. 
Exceção 1: 
Poderão ser presos em flagrante de crime 
inafiançável. 
Exceção 2: 
O Deputado ou Senador condenado por sentença 
judicial transitada pode ser preso para cumprir pena. 
Trata-se de exceção prevista expressamente na 
CF/88. 
 
Trata-se de exceção construída pela 
jurisprudência do STF. 
Obs: os autos do flagrante serão remetidos, em até 
24h, à Câmara ou ao Senado, para que se decida, 
pelo voto aberto da maioria de seus membros, pela 
manutenção ou não da prisão do parlamentar. 
Poderíamos ter, em tese, a esdrúxula situação de um 
Deputado condenado ao regime semiaberto que, 
durante o dia vai até o Congresso Nacional trabalhar 
e, durante a noite, fica recolhido no presídio. 
 
A CF/88, ao tratar sobre as imunidades, no art. 53, fala em Deputados Federais e Senadores. Indaga-se: 
os Deputados Estaduais e os Vereadores também gozam das mesmas imunidades? 
Deputados Estaduais: SIM Vereadores: 
A CF/88 determina que os Deputados Estaduais 
possuem as mesmas imunidades que os 
parlamentares federais (art. 27, § 1º): 
Os Vereadores gozam de inviolabilidade por suas 
opiniões, palavras e votos no exercício do 
 Informativo 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos 
Deputados Estaduais, aplicando-sê-lhes as regras 
desta Constituição sobre sistema eleitoral, 
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda 
de mandato, licença, impedimentos e 
incorporação às Forças Armadas. 
Logo, os Deputados Estaduais gozam tanto da 
imunidade material como formal. 
mandato e na circunscrição do Município (art. 29, 
VIII). 
 
Resumindo: 
• Imunidade formal: NÃO gozam; 
• Imunidade material: possuem, mas desde que 
relacionada com o mandato e por manifestações 
feitas dentro do Município. 
 
Reafirmação do entendimento 
No Info 939, o STF reafirmou o entendimento acima e decidiu que são constitucionais as normas previstas 
nas Constituições estaduais que conferem aos Deputados Estaduais as imunidades formais com relação à 
prisão (art. 53, § 2º, da CF/88) e com relação ao processo (art. 53, § 3º). 
É o caso, por exemplo, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, que prevê o seguinte: 
Comparativo da CE/RJ com a CF/88 
CE/RJ CF/88 
Art. 102. (...) 
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros 
da Assembleia Legislativa não poderão ser presos, 
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse 
caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e 
quatro horas à Assembleia Legislativa, para que, 
pelo voto da maioria de seus membros, resolva 
sobre a prisão. 
Art. 53 (...) 
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros 
do Congresso Nacional não poderão ser presos, 
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse 
caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e 
quatro horas à Casa respectiva, para que, 
pelo voto da maioria de seus membros, resolva 
sobre a prisão. 
§ 3º Recebida a denúncia contra o Deputado, por 
crime ocorrido após a diplomação, o Tribunal de 
Justiça dará ciência à Assembleia Legislativa, que, 
por iniciativa de partido político nela representado 
e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, 
até a decisão final, sustar o andamento da ação. 
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou 
Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, 
o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa 
respectiva, que, por iniciativa de partido político 
nela representado e pelo voto da maioria de seus 
membros, poderá, até a decisão final, sustar o 
andamento da ação. 
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela 
Assembleia Legislativa no prazo improrrogável de 
quarenta e cinco dias do seu recebimento pela 
Mesa Diretora. 
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela 
Casa respectiva no prazo improrrogável de 
quarenta e cinco dias do seu recebimento pela 
Mesa Diretora. 
§ 5º A sustação do processo suspende a 
prescrição, enquanto durar o mandato. 
§ 5º A sustação do processo suspende a 
prescrição, enquanto durar o mandato. 
 
Assim, o STF indeferiu medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada contra esses 
dispositivos da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. 
 
São constitucionais dispositivos da Constituição do Estado que estendem aos Deputados Estaduais as 
imunidades formais previstas no art. 53 da Constituição Federal para Deputados Federais e Senadores. 
A leitura da Constituição da República revela, sob os ângulos literal e sistemático, que os Deputados 
Estaduais também têm direito às imunidades formal e material e à inviolabilidade que foram conferidas 
pelo constituinte aos congressistas (membros do Congresso Nacional). Isso porque tais imunidades 
foram expressamente estendidas aos Deputados pelo § 1º do art. 27 da CF/88. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ 
o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019 (Info 939). 
 
Art. 27, § 1º, fala em “imunidades”, no plural 
O art. 27, § 1º, não abre campo para controvérsias semânticas. Isso porque esse dispositivo fala 
expressamente que deverão ser aplicadas aos Deputados Estaduais as regras previstas na CF/88 sobre 
“imunidades” (palavra utilizada no plural e de forma genérica). Logo, a CF/88 conferiu aos parlamentares 
estaduais a imunidade tanto no campo material como formal. 
Se o constituinte quisesse estabelecer imunidade com menor amplitude para os Deputados Estaduais, o 
teria feito expressamente, como o fez no caso dos Vereadores no inciso VIII do art. 29. 
 
Intepretação que valoriza o pacto federativo e a harmonia entre os Poderes 
A extensão do estatuto dos congressistas federais aos parlamentares estaduais (ou seja, a extensão das 
mesmas imunidades dos Deputados Federais e Senadores aos Deputados Estaduais) traduz dado 
significante do pacto federativo. O reconhecimento da importância do Legislativo estadual viabiliza a 
reprodução, no âmbito regional, da harmonia entre os Poderes da República. 
É inadequado, portanto, extrair da Constituição Federal proteção reduzida da atividade do Legislativo nos 
Estados-membros, como se fosse menor a relevância dos Deputados Estaduais para o Estado Democrático 
de Direito. 
 
JUDICIÁRIO PODE IMPOR AOS PARLAMENTARES AS MEDIDAS CAUTELARES DO ART. 319 DO CPP AOS 
PARLAMENTARES FEDERAIS E ESTADUAIS? 
Medidas cautelares diversas da prisão 
A prisão preventiva é uma espécie de “prisão cautelar”. 
A prisão cautelar, por sua vez, é uma das espécies de “medida cautelar”. 
Assim, além da prisão existem outras espécies de medidas cautelares. 
As medidas cautelares são providências urgentes que devem ser decretadas na fase pré-processual ou 
durante o processo penal com o objetivo de assegurar a apuração do fato delituoso, a instrução 
processual, a aplicação da sanção penal, a proteção da ordem pública ou o ressarcimento do dano causado 
pelo delito. 
Como já disse, a prisão processual é uma espécie de medida processual. As demais medidas cautelares 
diversas da prisão estão elencadas no art. 319 do CPP: 
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: 
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar 
e justificar atividades; 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato,deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o 
risco de novas infrações; 
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias 
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; 
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária 
para a investigação ou instrução; 
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou 
acusado tenha residência e trabalho fixos; 
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira 
quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; 
 Informativo 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave 
ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código 
Penal) e houver risco de reiteração; 
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, 
evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; 
IX - monitoração eletrônica. 
 
Segundo o art. 53, § 2º, da CF/88, o Deputado ou Senador não pode ser preso antes do trânsito em 
julgado, salvo prisão em flagrante de crime inafiançável. Assim, pelo texto da Constituição, o Judiciário 
não pode decretar a prisão preventiva de um Deputado ou Senador. E quanto às demais medidas 
cautelares? O Judiciário pode decretar medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP) em 
desfavor de Deputados ou Senadores que estejam sendo investigados ou que sejam réus? 
SIM. 
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as medidas 
cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por crime 
inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, 
em circunstâncias de excepcional gravidade. 
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas cautelares é do 
STF (art. 102, I, “b”, da CF/88). 
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 11/10/2017 (Info 881). 
 
Medidas cautelares que impossibilitem direta ou indiretamente o exercício do mandato 
Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta ou 
indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste caso, o Supremo 
deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal 
para que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida. 
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares previstas no 
art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado 
ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá afastar (“derrubar”) a 
medida cautelar que havia sido determinada pelo Poder Judiciário. 
Conforme decidiu o STF: 
A decisão judicial que estabelecer medidas cautelares que impossibilitem, direta ou indiretamente, o 
pleno e regular exercício do mandato parlamentar e de suas funções legislativas, será remetida, dentro de 
24 horas, a Casa respectiva, nos termos do §2º do art. 53 da CF/88, para que, pelo voto nominal e aberto 
da maioria de seus membros, resolva sobre a medida cautelar. 
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 11/10/2017 (Info 881). 
 
Exemplo: 
O Senador Aécio Neves era alvo de diversas investigações criminais. 
A pedido do PGR, o STF impôs ao investigado que cumprisse as seguintes medidas cautelares diversas da 
prisão: 
• suspensão das suas funções como Senador (art. 319, VI); 
• obrigação de recolhimento domiciliar noturno (art. 319, V); 
• proibição de entrar em contato com outros investigados por qualquer meio (art. 319, III); 
• proibição de se ausentar do país, com a entrega do passaporte (art. 319, IV). 
 
 Informativo 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
O Senado Federal, aplicando o entendimento do STF na ADI 5526/DF acima explicada, entendeu que as 
medidas cautelares impostas a Aécio Neves impossibilitavam que ele exercesse o seu mandato 
parlamentar. Em razão disso, o Senado se reuniu e decidiu rejeitar as medidas cautelares que haviam sido 
impostas pelo STF em desfavor de Aécio Neves. 
 
De onde o STF tirou essa conclusão de que deveria encaminhar a sua decisão para o Parlamento avaliar 
se deveria ou não ser mantida? 
Do art. 53, § 2º da CF/88: 
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, 
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso (ou seja, na hipótese de o parlamentar ser 
preso), os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo 
voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. 
 
Mas o art. 53, § 2º da CF/88 fala em resolver sobre a “prisão” e não sobre “medidas cautelares” do art. 
319 do CPP... 
O STF entendeu que o mesmo raciocínio que vale para a prisão dos parlamentares deve ser aplicado 
também no caso de medidas cautelares. 
O art. 53, § 2º da CF/88 foi pensado com um objetivo, qual seja, o de fazer com que o parlamentar somente 
fosse afastado do exercício de seu mandato conferido pelo povo em uma única hipótese: prisão em 
flagrante delito por crime inafiançável. Dessa forma, esta norma constitucional estabeleceu, 
implicitamente, a impossibilidade de qualquer outro tipo de prisão cautelar. 
Diante disso, o STF entendeu que impor ao Deputado ou Senador medidas cautelares que impeçam o 
exercício do mandato seria uma forma de violar a imunidade formal que protege o livre exercício do 
mandato parlamentar contra interferências externas. 
Assim, a decisão do Poder Judiciário que aplique medida cautelar que impossibilite direta ou 
indiretamente o exercício regular do mandato legislativo deve ser submetida ao controle político da Casa 
Legislativa respectiva, nos termos do art. 53, § 2º, da CF/88. 
Obs: o resultado deste julgamento ocorreu por apertada maioria (6x5). 
Acrescentou que reconhecer a prerrogativa de o Legislativo sustar decisões judiciais de natureza criminal, 
precárias e efêmeras, cujo teor resulte em afastamento ou limitação da função parlamentar não implica 
dar-lhe carta branca. Prestigia-se, ao invés, a Carta Magna, impondo-se a cada qual o desempenho do 
papel por ela conferido. 
 
A posição manifestada pelo STF na ADI 5526/DF (poder do Parlamento de dar a última palavra sobre as 
medidas cautelares) aplica-se também aos Deputados Estaduais? 
SIM. 
É constitucional resolução da Assembleia Legislativa que, com base na imunidade parlamentar formal 
(art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga a prisão preventiva e as medidas cautelares penais que 
haviam sido impostas pelo Poder Judiciário contra Deputado Estadual, determinando o pleno retorno 
do parlamentar ao seu mandato. 
O Poder Legislativo estadual tem a prerrogativa de sustar decisões judiciais de natureza criminal, 
precárias e efêmeras, cujo teor resulte em afastamento ou limitação da função parlamentar. 
STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ 
o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em8/5/2019 (Info 939). 
 
Exemplo: 
O Poder Judiciário determinou a prisão preventiva e a medida cautelar de afastamento do cargo em 
relação ao Deputado Estadual Gilmar Donizete Fabris. 
 Informativo 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
A ALE/MT, com base no entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 5526/DF, reuniu-se e 
decidiu revogar a prisão e as medidas cautelares que haviam sido impostas em desfavor do Deputado. 
Para isso, editaram a Resolução nº 5.221/2017, que tem a seguinte redação: 
RESOLUÇÃO Nº 5.221, DE 2017. 
Dispõe sobre a revogação da prisão preventiva e todas as medidas cautelares impostas ao 
Deputado Estadual Gilmar Donizete Fabris. 
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, com base no que dispõe o art. 26, 
inciso XXVIII, da Constituição Estadual, combinado com o art. 171 do Regimento Interno, resolve: 
Art. 1º Fica revogada a prisão preventiva e todas as medidas cautelares impostas ao Deputado 
Gilmar Donizete Fabris decretadas pela Petição nº 7261/STF, atualmente em tramitação no 
colendo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Processo nº 0052465-25.2017.4.01.0000. 
Parágrafo único A presente deliberação está consubstanciada nos arts. 27, § 1º, e 53, § 2º, ambos 
da Constituição Federal, e no art. 29, § 2º, da Constituição Estadual, em consonância com a 
conclusão do julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal na ADI 5526. 
Art. 2º Atribui-se força executiva a esta Resolução, servindo como alvará de soltura ou qualquer 
outro instrumento que se fizer necessário para a liberação do Deputado Estadual. 
Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. 
Assembleia Legislativa do Estado, em Cuiabá, 24 de outubro de 2017. 
 
Essa Resolução foi impugnada por meio de ADI e o STF, ao apreciar a medida cautelar, rejeitou o pedido de 
liminar afirmando que o ato da Assembleia Legislativa é compatível com o art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88. 
 
 
LIVRE INICIATIVA 
Os Municípios, ao editarem as leis locais regulamentando o transporte de passageiros mediante 
aplicativo, deverão observar as regras impostas pela Lei federal nº 13.640/2018 
São inconstitucionais leis municipais que proíbam o serviço 
de transporte de passageiros mediante aplicativo 
 
No exercício de sua competência para regulamentação e fiscalização do transporte privado 
individual de passageiros, os municípios e o Distrito Federal não podem contrariar os 
parâmetros fixados pelo legislador federal. 
Isso porque compete à União legislar sobre “trânsito e transporte”, nos termos do art. 22, XI, 
da CF/88. 
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux; RE 1054110/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados 
em 8 e 9/5/2019 (repercussão geral) (Info 939). 
 
São inconstitucionais leis municipais que proíbam o serviço de transporte de passageiros 
mediante aplicativo 
A proibição ou restrição da atividade de transporte privado individual por motorista 
cadastrado em aplicativo é inconstitucional, por violação aos princípios da livre iniciativa e da 
livre concorrência. 
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux; RE 1054110/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados 
em 8 e 9/5/2019 (repercussão geral) (Info 939). 
 Informativo 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
 
Lei nº 13.640/2019 
Em 2018, foi publicada a Lei federal nº 13.640/2018, que alterou a Lei nº 12.578/2012, com o objetivo de 
regulamentar o transporte remunerado privado individual de passageiros. 
 
O que é o serviço de transporte remunerado privado individual de passageiros? O Uber e similares estão 
incluídos nessa expressão? 
SIM. Transporte remunerado privado individual de passageiros é... 
- o serviço remunerado de transporte de passageiros, 
- não aberto ao público, 
- para a realização de viagens individualizadas ou compartilhadas (ex: uberPOOL) 
- solicitadas exclusivamente por usuários previamente cadastrados em aplicativos 
- ou outras plataformas de comunicação em rede. 
 
Em outras palavras, a Lei nº 13.640/2018 trouxe algumas regras para disciplinar o trabalho dos chamados 
motoristas de aplicativos (Uber, Cabify, 99 etc.). 
 
Em linhas gerais, o que fez a Lei nº 13.640/2018? 
Conferiu aos Municípios (e ao Distrito Federal) competência exclusiva para regulamentar e fiscalizar o 
serviço de transporte remunerado privado individual de passageiros. 
 
Diretrizes impostas pela lei federal 
A Lei nº 13.640/2018 afirmou que, quando os Municípios (ou DF) forem editar as suas leis regulamentando 
os serviços, eles deverão observar algumas diretrizes. 
Assim, a lei municipal (ou distrital) deverá exigir: 
a) que tais serviços de transporte por aplicativos sejam prestados com eficiência, eficácia, segurança e 
efetividade; 
b) a cobrança dos tributos municipais devidos pela prestação do serviço (ISS e taxas); 
c) a contratação de seguro de Acidentes Pessoais a Passageiros (APP) e do Seguro Obrigatório de Danos 
Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT); 
d) que o motorista seja inscrito como contribuinte individual do INSS (art. 11, V, “h”, da Lei nº 8.213/91). 
 
Condições pessoais impostas aos motoristas 
A Lei nº 13.640/2018 também trouxe algumas exigências pessoais ao motorista que trabalha com os 
serviços de transporte por aplicativo. 
Assim, os motoristas de Uber e similares deverão: 
I - possuir Carteira Nacional de Habilitação na categoria B ou superior que contenha a informação de que 
exerce atividade remunerada; 
II - conduzir veículo que atenda aos requisitos de idade máxima e às características exigidas pela 
autoridade de trânsito e pelo poder público municipal e do Distrito Federal. Exs: exigência de que o veículo 
tenha um limite máximo do ano de fabricação, que tenha adesivo ou uma placa removível do aplicativo 
no para-brisas etc. 
III - emitir e manter o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV); 
IV - apresentar certidão negativa de antecedentes criminais. 
 
O que acontece se o serviço for prestado no Município (ou DF) em contrariedade com a regulamentação? 
A exploração dos serviços remunerados de transporte privado individual de passageiros sem o 
cumprimento dos requisitos previstos na Lei nº 12.578/2012 e na regulamentação do poder público 
municipal (ou distrital) caracterizará transporte ilegal de passageiros. 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 
A regulamentação é obrigatória? Os Municípios (DF) são obrigados a editar leis regulamentando a 
atividade? 
NÃO. O Município (ou DF) poderá optar por não regulamentar tais serviços. 
 
Enquanto os Municípios não editarem a regulamentação, o serviço está permitido? 
SIM. Os serviços de transporte de passageiros mediante aplicativo não dependem de autorização prévia e 
podem continuar sendo prestados normalmente mesmo sem regulamentação municipal. 
 
Os Municípios, ao editarem as leis locais regulamentando o transporte de passageiros mediante 
aplicativo, poderão contrariar a Lei nº 13.640/2018? 
NÃO. 
No exercício de sua competência para regulamentação e fiscalização do transporte privado individual 
de passageiros, os municípios e o Distrito Federal não podem contrariar os parâmetros fixados pelo 
legislador federal. 
Isso porque compete à União legislar sobre “trânsito e transporte”, nos termos do art. 22, XI, da CF/88. 
STF.Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux; RE 1054110/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 8 
e 9/5/2019 (repercussão geral) (Info 939). 
 
Os Municípios podem proibir o transporte de passageiros mediante aplicativo? Podem proibir o serviço 
desempenhado pelo Uber e similares? 
NÃO. Se uma lei municipal ou distrital proibir essa atividade, ela deve ser considerada inconstitucional. 
A proibição ou restrição da atividade de transporte privado individual por motorista cadastrado em 
aplicativo é inconstitucional, por violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência. 
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux; RE 1054110/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 8 
e 9/5/2019 (repercussão geral) (Info 939). 
 
Exemplos: 
Com base no entendimento acima, o STF julgou inconstitucional a Lei nº 10.553/2016, do Município de 
Fortaleza, que vedou a utilização de carros cadastrados ou não em aplicativos (ADPF 449/DF). Em outras 
palavras, essa lei municipal havia proibido os serviços de aplicativos de transporte, como Uber, 99 e outros. 
Além disso, o STF considerou inconstitucional a Lei nº 16.279/2015, do Município de São Paulo, que 
igualmente proibia o uso de veículos cadastrados em aplicativos (RE 1054110/SP). 
 
Livre exercício da profissão 
O Ministro Luiz Fux entendeu que o motorista particular, em sua atividade laboral, é protegido pela 
liberdade fundamental prevista no art. 5º, XIII, da CF/88 e se submete apenas à regulação 
proporcionalmente definida em lei federal: 
Art. 5º (...) 
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações 
profissionais que a lei estabelecer; 
 
Compatibilidade com a legislação federal 
Além da Lei nº 13.640/2018, o serviço de transporte por aplicativos está também de acordo com a Lei de 
Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/2012) e com o art. 3º, VIII, do Marco Civil da Internet (Lei nº 
12.965/2014: 
Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: 
 Informativo 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
(...) 
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com 
os demais princípios estabelecidos nesta Lei. 
 
Livre iniciativa 
A liberdade de iniciativa, garantida pelos arts. 1º, IV, e 170 da CF/88, consubstancia cláusula de proteção 
destacada, no ordenamento pátrio, como fundamento da República. 
Por essa razão, é possível o controle judicial de atos normativos que afrontem as liberdades econômicas 
básicas. 
 
Restrição da interferência do poder estatal sobre o funcionamento da economia 
Segundo o constitucionalismo moderno, é necessário que haja uma restrição da interferência do poder 
estatal sobre o funcionamento da economia de mercado. 
O “rule of law” deve se sobrepor a iniciativas estatais autoritárias que sejam destinadas a concentrar 
privilégios, a impor monopólios ou a estabelecer salários, preços e padrões arbitrários de qualidade. Tais 
iniciativas são arbitrárias e restringem a competição, a inovação, o progresso e a distribuição de riquezas. 
O processo político por meio do qual as regulações são editadas é frequentemente capturado por grupos 
de poder interessados em obter proveitos superiores aos que seriam possíveis em um ambiente de livre 
competição. Um recurso político comumente utilizado por esses grupos é o poder estatal de controle de 
entrada de novos competidores em um dado mercado, a fim de concentrar benefícios em prol de poucos 
e dispensar prejuízos por toda sociedade. 
Assim, o exercício de atividades econômicas e profissionais por particulares deve ser protegido da coerção 
arbitrária por parte do Estado. 
Compete ao Poder Judiciário, à luz do sistema de freios e contrapesos, invalidar atos normativos que 
estabeleçam restrições desproporcionais à livre iniciativa e à liberdade profissional, na linha do que 
decidido no RE 414.426: 
Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionadas ao cumprimento de condições legais para o 
seu exercício. A regra é a liberdade. Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser 
exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. A atividade de músico prescinde de controle. 
Constitui, ademais, manifestação artística protegida pela garantia da liberdade de expressão. 
STF. Plenário. RE 414426, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 01/08/2011. 
 
Limitações aos aplicativos de transportes não são proporcionais 
Eventuais restrições devem ser informadas por parâmetros constitucionalmente legítimos e adequar-se 
ao teste da proporcionalidade, com o ônus de justificação regulatória baseada em elementos empíricos 
que demonstrem os requisitos dessa intervenção estatal no domínio econômico. 
As normas que proíbem o uso de carros particulares, cadastrados ou não em aplicativos, para o transporte 
remunerado individual de pessoas, configuram limitação desproporcional às liberdades de iniciativa e de 
profissão, o que provoca restrição oligopolista do mercado em benefício de certo grupo e em detrimento 
da coletividade. 
 
Busca do pleno emprego 
A proibição dos aplicativos de transporte afronta ainda o princípio da busca pelo pleno emprego, que está 
consagrado como princípio setorial no art. 170, VIII, da CF/88. Isso porque essa proibição impede a 
abertura do mercado a novos entrantes eventualmente interessados em migrar para a atividade: 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, 
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados 
os seguintes princípios: 
(...) 
 Informativo 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
VIII - busca do pleno emprego; 
 
Leis de ordenação das cidades devem respeitar as liberdades fundamentais constitucionalmente previstas 
A Constituição impõe ao legislador municipal que, ao editar lei de ordenação das cidades, adote medidas 
que não imponham restrições injustificáveis às liberdades fundamentais de iniciativa e de exercício 
profissional. 
A necessidade de aperfeiçoar o uso das vias públicas não autoriza a criação de oligopólio prejudicial a 
consumidores e a potenciais prestadores de serviço do setor, notadamente quando há alternativas 
conhecidas para o atingimento da mesma finalidade. 
Vale ressaltar, ainda, que os aplicativos de transporte garantem uma maior fluidez do trânsito, de modo 
que proibir essa atividade nega ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente. 
 
Inovação disruptiva 
O ministro Roberto Barroso asseverou que vivemos um ciclo próprio do desenvolvimento capitalista, em 
que há a substituição de velhas tecnologias e velhos modos de produção por novas formas de produção, 
num processo chamado de inovação disruptiva, por designar ideias capazes de enfraquecer ou substituir 
indústrias, empresas ou produtos estabelecidos no mercado. 
Nesse cenário, é muito fácil perceber o tipo de conflito entre os detentores dessas novas tecnologias 
disruptivas e os agentes tradicionais do mercado: players já estabelecidos em seus mercados, por vezes 
monopolistas, são ameaçados por atores que se aproveitam das lacunas de regulamentação de novas 
atividades para a obtenção de vantagens competitivas, sejam elas regulatórias ou tributárias. 
A melhor forma de o Estado lidar com essas inovações e, eventualmente, com a destruição criativa da 
velha ordem, não é impedir o progresso, mas sim tentar produzir as vias conciliatórias possíveis. 
 
Três fundamentos invocados pelo Min. Barroso 
O MinistroRoberto Barroso destacou os três fundamentos pelos quais considerou inconstitucionais as leis 
municipais impugnadas. 
Em primeiro lugar, a Constituição estabelece, como princípio, a livre iniciativa. A lei não pode 
arbitrariamente retirar determinada atividade econômica da liberdade de empreender das pessoas, salvo 
se fundamento constitucional autorizar a restrição imposta. A edição de leis ou atos normativos 
proibitivos, pautada na exclusividade do modelo de exploração por táxis, não se amolda ao regime 
constitucional da livre iniciativa. 
Em segundo lugar, a livre iniciativa significa livre concorrência. A opção pela economia de mercado baseia-
se na crença de que a competição entre os agentes econômicos e a liberdade de escolha dos consumidores 
produzirão os melhores resultados sociais. 
Por fim, é legítima a intervenção do Estado, mesmo em um regime de livre iniciativa, para coibir falhas de 
mercado e para proteger o consumidor. Entretanto, são inconstitucionais a edição de regulamentos e o 
exercício de fiscalização que, na prática, inviabilizem determinada atividade. A competência autorizada 
por lei para os municípios regulamentarem e fiscalizarem essa atividade não pode ser uma competência 
para, de maneira sub-reptícia ou implícita, interditar, na prática, a prestação desse serviço. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
DIREITO PENAL 
 
CONTRABANDO 
A importação de arma de pressão por ação de gás comprimido, ainda que de calibre inferior a 6 
mm, configura o crime de contrabando, sendo inaplicável o princípio da insignificância 
 
Importante!!! 
Configura CONTRABANDO (e não descaminho) a conduta de importar, à margem da disciplina 
legal, arma de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola. 
A importação de arma de pressão está sujeita à autorização prévia da Diretoria de Fiscalização 
de Produtos Controlados do Exército Brasileiro e só pode ser feita por colecionadores, 
atiradores e caçadores registrados no Exército. Além disso, deve se submeter às normas de 
desembaraço alfandegário previstas no Regulamento para a Fiscalização de Produtos 
Controlados. 
Logo, trata-se de mercadoria de proibição relativa, sendo a sua importação fiscalizada não 
apenas por questões de ordem tributária, mas outros interesses ligados à segurança pública. 
Não é possível aplicar o princípio da insignificância mesmo que a arma de ar comprimido 
importada seja de calibre inferior a 6 mm, já que este postulado é incabível para contrabando. 
STJ. 5ª Turma. REsp 1428628/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 28/04/2015. 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.427.796-RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 14/10/2014 
(Info 551). 
STF. 2ª Turma. HC 131943/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
7/5/2019 (Info 939). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João voltava do Paraguai de carro quando foi parado pela Polícia Rodoviária Federal, que localizou, em 
seu poder, uma arma de ar comprimido (calibre inferior a 6mm) e uma caixa com 250 chumbinhos, ambas 
adquiridas no exterior. 
Vale ressaltar que ele não tinha a documentação hábil a comprovar a sua regular importação. 
 
A importação de arma de ar comprimido constitui crime previsto no Estatuto do Desarmamento? 
NÃO. As armas de ar comprimido não estão regidas pela Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) 
porque este diploma legal trata apenas de armas de fogo. 
As armas de pressão, por ação de mola ou gás comprimido, não são armas de fogo. 
 
A importação e comercialização de armas de ar comprimido são regidas por qual legislação? 
Pelo Decreto nº 9.493/2018 (que aprova o regulamento para a fiscalização de produtos controlados) e por 
regulamentações expedidas pelo Exército. 
 
Quais são as regras básicas envolvendo as armas de ar comprimido? 
• USO E PORTE: a arma de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola de calibre inferior a 
6mm é considerada de uso permitido e seu porte é livre em todo o território nacional, não necessitando 
de registro, licença ou guia de trânsito, desde que tenha sido adquirida no comércio especializado 
brasileiro. Em outras palavras, não é crime o uso de armas de ar comprimido de calibre inferior a 6mm. 
• COMERCIALIZAÇÃO: a venda é controlada, devendo o comerciante recolher cópia da carteira de 
identidade e do comprovante de residência do adquirente, mantendo-os à disposição da fiscalização pelo 
prazo de 5 anos. 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
• IMPORTAÇÃO: a importação de arma de pressão está sujeita à autorização prévia da Diretoria de 
Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro, e só pode ser feita por colecionadores, 
atiradores e caçadores registrados no Exército. Além disso, devem se submeter às normas de 
desembaraço alfandegário previstas no Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados. 
 
A importação de arma de ar comprimido configura algum crime? Em nosso exemplo, João teria 
praticado qual delito? 
SIM. 
Configura CONTRABANDO (e não descaminho) a conduta de importar, à margem da disciplina legal, 
arma de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola. 
A importação de arma de pressão está sujeita à autorização prévia da Diretoria de Fiscalização de 
Produtos Controlados do Exército Brasileiro e só pode ser feita por colecionadores, atiradores e 
caçadores registrados no Exército. Além disso, deve se submeter às normas de desembaraço 
alfandegário previstas no Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados. 
Logo, trata-se de mercadoria de proibição relativa, sendo a sua importação fiscalizada não apenas por 
questões de ordem tributária, mas outros interesses ligados à segurança pública. 
STJ. 5ª Turma. REsp 1428628/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 28/04/2015. 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.427.796-RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 14/10/2014 (Info 
551). 
STF. 2ª Turma. HC 131943/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
7/5/2019 (Info 939). 
 
É possível aplicar o princípio da insignificância no caso de importação de arma de ar comprimido? Se a 
arma de ar comprimido importada e os tributos que incidiriam na importação forem inferior a R$ 10 mil 
reais, é possível aplicar o princípio da bagatela? 
NÃO. Prevalece que não se aplica o princípio da insignificância para contrabando. Logo, ainda que a arma 
de ar comprimido importada e os tributos que incidiriam na importação sejam inferiores a R$ 20 mil reais, 
não será possível aplicar o princípio da bagatela. 
 
Resumindo: 
Não é possível aplicar o princípio da insignificância mesmo que a arma de ar comprimido importada seja 
de calibre inferior a 6 mm, já que este postulado é incabível para contrabando. 
STJ. 5ª Turma. REsp 1428628/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 28/04/2015. 
STJ. 6ª Turma. REsp 1.427.796-RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 14/10/2014 (Info 551). 
STF. 2ª Turma. HC 131943/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
7/5/2019 (Info 939). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
RECLAMAÇÃO 
Deve ser aplicado o art. 798 do CPP (contagem dos prazos de forma contínua)em caso de recurso contra decisão que julgou reclamação em matéria penal 
 
A contagem de prazos no contexto de reclamações cujo ato impugnado tiver sido produzido 
em processo ou procedimento de natureza penal submete-se ao art. 798 do CPP, ou seja, os 
prazos são contados de forma contínua (e não em dias úteis). 
STF. Plenário. Rcl 23045 ED-AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/5/2019 (Info 939). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João estava sendo investigado pela suposta prática de crime e pediu à autoridade policial, por intermédio 
de seu advogado, para ter acesso integral aos autos do inquérito. 
O Delegado de Polícia autorizou parcialmente o pedido, não permitindo o acesso às diligências que ainda 
estavam em curso. 
João entendeu que a decisão do Delegado violou a súmula vinculante 14 e, diante disso, ingressou com 
reclamação, no STF, com fundamento no art. 103-A, § 3º da CF/88. Veja a SV e o dispositivo constitucional: 
Súmula vinculante 14-STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos 
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com 
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 
 
Art. 103-A (...) 
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que 
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a 
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará 
que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. 
 
O que é a reclamação? 
Reclamação é uma... 
- ação 
- proposta pela parte interessada ou pelo MP 
- com o objetivo de cassar uma decisão judicial ou um ato administrativo que tenha violado: 
a) a competência de um tribunal (Tribunal de 2º grau ou Tribunal Superior); 
b) a autoridade de uma decisão do tribunal (Tribunal de 2º grau ou Tribunal Superior); 
d) súmula vinculante; 
e) decisão do STF em controle concentrado de constitucionalidade; 
f) acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de incidente 
de assunção de competência. 
 
Negar seguimento à reclamação 
Assim que uma reclamação chega ao STF, será sorteado um Ministro para ser o relator desta ação. 
Em regra, a reclamação deve ser julgada pelo colegiado (turma ou plenário), ou seja, o relator prepara seu 
voto e o submete aos demais Ministros. 
No entanto, o regimento interno do STF autoriza que, em determinados casos, o Ministro Relator, 
monocraticamente, negue seguimento à reclamação caso ela seja manifestamente: 
• inadmissível; 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
• improcedente; 
• contrária à súmula do Tribunal; 
• contrária à jurisprudência dominante do Tribunal; 
• ou quando for evidente a incompetência do Tribunal para julgá-la. 
 
Veja a previsão do RISTF: 
Art. 21 (...) 
§ 1º Poderá o(a) Relator(a) negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente inadmissível, 
improcedente ou contrário à jurisprudência dominante ou a Súmula do Tribunal, deles não 
conhecer em caso de incompetência manifesta, encaminhando os autos ao órgão que repute 
competente, bem como cassar ou reformar, liminarmente, acórdão contrário à orientação firmada 
nos termos do art. 543-B do Código de Processo Civil. 
 
Contra essa decisão do relator, cabe recurso? 
SIM. Cabe agravo regimental, no prazo de 5 dias corridos. 
 
O prazo e a forma de contagem estabelecidos pelo novo CPC não se aplicam aos agravos regimentais 
que questionam atos produzidos em processos ou procedimentos de natureza penal 
O CPC/2015 possui regra dizendo que o prazo para a interposição de qualquer agravo é de 15 dias úteis 
(art. 1.070 c/c art. 219). Essa regra, no entanto, não se aplica para o agravo regimental interposto contra 
decisões monocráticas proferidas por Ministros do STF ou STJ em processos de natureza criminal. Isso 
porque existem previsões específicas que regem o tema no processo penal: 
• o art. 39 da Lei nº 8.038/90 prevê que o prazo do agravo em matéria criminal é de 5 dias. 
• o art. 798 do CPP prevê que os prazos no processo penal são contínuos, ou seja, não são contados em 
dias úteis. 
Esse entendimento vale também para a reclamação contra ato ou decisão proferido em procedimento ou 
processo penal. Foi o que decidiu o STF: 
A contagem de prazos no contexto de reclamações cujo ato impugnado tiver sido produzido em 
processo ou procedimento de natureza penal submete-se ao art. 798 do CPP, ou seja, os prazos são 
contados de forma contínua (e não em dias úteis). 
STF. Plenário. Rcl 23045 ED-AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/5/2019 (Info 939). 
 
Assim, o STF decidiu que, em caso de agravo regimental em reclamação que trata de matéria penal ou 
processual penal, a contagem do prazo processual deve submeter-se a critérios de continuidade, nos 
termos do art. 798 do CPP, não se aplicando o art. 219 do CPC (que fala em dias úteis). 
Na hipótese de reclamação, a forma de contagem de prazo deve observar a natureza do processo ou 
procedimento em que se insere o ato reclamado. Logo, em caso de reclamação em processo ou 
procedimento criminal, devem ser aplicadas as regras do CPP. 
 
Mas o CPP não trata sobre reclamação... A disciplina da reclamação está no CPC (arts. 988 e ss)... Diante 
disso, não deveria ser aplicada a forma de contagem do CPC? 
NÃO. Realmente, o CPP não disciplina a reclamação. No entanto, em casos de reclamação para o STF 
envolvendo matéria penal, deve-se aplicar as regras previstas no Regimento Interno do STF. 
Segundo afirmou o Min. Edson Fachin: 
“Pelo critério da especialidade, deve ser observada norma regimental que possui status de lei e 
que disciplina a reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF).” 
 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
De acordo com o art. 15 do CPC, este diploma pode ser aplicado subsidiariamente ao processo eleitoral, 
trabalhista ou administrativo. Não menciona o processo penal. Veja: 
Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, 
as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. 
 
Isso não significa, porém, que as normas do processo civil não possam ser subsidiariamente aplicadas ao 
processo penal. Podem sim. O fundamento, contudo, não é o art. 15 do CPC, mas sim o art. 3º do CPP: 
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o 
suplemento dos princípios gerais de direito. 
 
Assim, eventual incidência do CPC no processo penal é supletiva e pode ocorrer como uma decorrência 
da integração prevista no art. 3º do CPP. Desse modo, sua incidência no processo penal restringe-se às 
hipóteses para as quais o direito processual penal não contenha disposição a respeito da matéria. 
Para o emprego da analogia como meio de integração do direito é indispensável que exista uma lacuna 
normativa. Desse modo, a analogia não é critério de resolução de conflitos entre regras, mas sim de 
preenchimento de espaços normativos não disciplinados pelo ordenamento jurídico. 
Como existem regras no CPP e no regimento interno tratando sobre o tema, não se aplica o CPC. 
 
 
INDULTO 
O Decreto nº 9.246/2017, que concedeu indulto natalino de 2017, é constitucional 
 
O Decreto nº 9.246/2017, que concedeu indulto natalino, é constitucional. 
O indulto é um mecanismo de freios e contrapesos exercidopelo Poder Executivo sobre o 
Judiciário, sendo consentâneo com a teoria da separação dos poderes. 
O indulto não faz parte da doutrina penal, não é instrumento consentâneo à política criminal. 
Trata-se, como já explicado, de legítimo mecanismo de freios e contrapesos para coibir 
excessos e permitir maior equilíbrio na Justiça criminal. 
O indulto é considerado um ato discricionário e privativo do Presidente da República. 
O decreto de indulto não é imune ao controle jurisdicional, no entanto, suas limitações se 
encontram no texto constitucional (art. 5º, XLIII, da CF/88). 
É possível a concessão de indulto para crimes de corrupção (em sentido amplo) e lavagem de 
dinheiro. Isso porque não há vedação na Constituição Federal. 
O parecer oferecido pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) 
acerca dos critérios de concessão do indulto não vincula o Presidente da República. 
STF. Plenário. ADI 5874/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 9/5/2019 (Info 939). 
 
Anistia, graça e indulto: 
- são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir; 
- classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP); 
- a anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso) ou pelo Poder 
Executivo (nos dois últimos), mas somente geram a extinção da punibilidade com a decisão judicial; 
- podem atingir crimes de ação penal pública ou privada. 
 
 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
ANISTIA 
GRAÇA 
(ou indulto individual) 
INDULTO 
(ou indulto coletivo) 
É um benefício concedido pelo Congresso 
Nacional, com a sanção do Presidente da 
República (art. 48, VIII, CF/88), por meio do 
qual se “perdoa” a prática de um fato 
criminoso. 
Normalmente, incide sobre crimes políticos, 
mas também pode abranger outras espécies 
de delito. 
Concedidos por Decreto do Presidente da República. 
 
Apagam o efeito executório da condenação. 
 
A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s): 
• Procurador Geral da República; 
• Advogado Geral da União; 
• Ministros de Estado. 
É concedida por meio de uma lei federal 
ordinária. 
Concedidos por meio de um Decreto. 
Pode ser concedida: 
• antes do trânsito em julgado (anistia 
própria); 
• depois do trânsito em julgado (anistia 
imprópria). 
 
Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios 
só podem ser concedidos após o trânsito em julgado da 
condenação. Esse entendimento, no entanto, está cada 
dia mais superado, considerando que o indulto natalino, 
por exemplo, permite que seja concedido o benefício 
desde que tenha havido o trânsito em julgado para a 
acusação ou quando o MP recorreu, mas não para 
agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto 
7.873/2012). 
Classificação 
a) Propriamente dita: quando concedida 
antes da condenação. 
b) Impropriamente dita: quando concedida 
após a condenação. 
 
a) Irrestrita: quando atinge indistintamente 
todos os autores do fato punível. 
b) Restrita: quando exige condição pessoal 
do autor do fato punível. Ex.: exige 
primariedade. 
 
a) Incondicionada: não se exige condição 
para a sua concessão. 
b) Condicionada: exige-se condição para a 
sua concessão. Ex.: reparação do dano. 
 
a) Comum: atinge crimes comuns. 
b) Especial: atinge crimes políticos. 
Classificação 
a) Pleno: quando extingue totalmente a pena. 
b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a pena 
(comutação). 
 
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer 
condição. 
b) Condicionado: quando impõe condição para sua 
concessão. 
 
a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.: 
exige primariedade. 
b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais do 
agente. 
Extingue os efeitos penais (principais e 
secundários) do crime. 
Os efeitos de natureza civil permanecem 
íntegros. 
Só extinguem o efeito principal do crime (a pena). 
 
Os efeitos penais secundários e os efeitos de natureza 
civil permanecem íntegros. 
O réu condenado que foi anistiado, se 
cometer novo crime, não será reincidente. 
O réu condenado que foi beneficiado por graça ou 
indulto, se cometer novo crime, será reincidente. 
É um benefício coletivo que, por referir-se 
somente a fatos, atinge apenas os que o 
cometeram. 
É um benefício individual 
(com destinatário certo). 
Depende de pedido do 
sentenciado. 
É um benefício coletivo 
(sem destinatário certo). 
É concedido de ofício (não 
depende de provocação). 
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Informativo 939-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
 
Vale ressaltar que a concessão do indulto está inserida no exercício do poder discricionário do Presidente 
da República (STF. ADI 2.795-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa). 
 
Indulto natalino 
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo 
indulto. Esse Decreto é conhecido como “indulto natalino”. 
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado 
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto. 
 
Indulto natalino de 2017 
Em 21 de dezembro de 2017, o então Presidente Michel Temer editou o Decreto nº 9.246/2017, 
concedendo indulto natalino. 
A Procuradora-Geral da República ajuizou ADI contra o art. 1º, I, o art. 2º, § 1º, I, e os arts. 8º, 10 e 11 do 
deste Decreto. 
Na ação, a PGR alegou que o Presidente extrapolou os limites da discricionariedade, violando o princípio 
da vedação da proteção insuficiente, tornando-se causa de impunidade. Ela apontou, ainda, violação ao 
“princípio da igualdade”, uma vez que o decreto beneficiaria “muito especialmente determinado grupo 
de condenados, notadamente aqueles que praticaram crimes contra o patrimônio público, sem qualquer 
razão humanitária que o justifique”. 
Segundo ela, em casos graves, como o da Lava-Jato, em que foram aplicadas penas corporais e multas 
elevadas, as sanções financeiras seriam simplesmente perdoadas. 
 
O STF concordou com os argumentos expostos? O pedido formulado na ação foi julgado procedente? 
NÃO. O STF julgou improcedente o pedido formulado na ADI e declarou a constitucionalidade do Decreto 
nº 9.246/2017. 
Vejamos abaixo um resumo do voto do Min. Alexandre de Moraes (relator para o acórdão). 
 
Concessão de indulto não viola a separação dos Poderes 
A Constituição Federal, visando evitar o arbítrio e o desrespeito aos direitos fundamentais, previu a 
existência dos Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre eles as funções 
estatais, bem como criando mecanismos de controles recíprocos. 
Esse mecanismo denomina-se teoria dos freios e contrapesos. 
A prerrogativa de o Presidente da República conceder indulto é um mecanismo de aplicação da teoria dos 
freios e contrapesos, considerando que o chefe do Executivo irá intervir na aplicação e cumprimento de 
sanções penais. 
Assim, não há que se falar em violação à separação dos Poderes, tendo em vista que a própria CF/88 prevê 
o indulto como forma de o Poder Executivo controlar a atuação do Poder Judiciário. 
“O exercício do poder de indultar não fere a separação de poderes por supostamente esvaziar a política 
criminal estabelecida pelo legislador e aplicada pelo Judiciário, uma vez que foi previsto exatamente como 
mecanismo de freios e contrapesos a possibilitar um maior equilíbrio na Justiça Criminal” (Min. Alexandre 
de Moraes). 
 
Natureza jurídica do indulto

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