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Doenças cardíacas atendimentos diminuem e medo da covid-19 pode impactar nas taxas de mortalidade


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Doenças cardíacas: atendimentos diminuem e medo da
covid-19 pode impactar nas taxas de mortalidade
Os hospitais que atendem pacientes cardiopatas registraram queda nas demandas de urgência com a
chegada da pandemia de covid-19. O medo de se infectar ao procurar ajuda médica é uma das razões
apontadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Porém, a demora desses pacientes em
buscar atendimento nas emergências é uma postura arriscada e que pode refletir no aumento da
mortalidade desse tipo de doença, que é uma das que mais mata no país, segundo o presidente da
SBC, Marcelo Queiroga.
Em entrevista ao portal, Queiroga aponta os sintomas que precisam de assistência médica imediata, e
que devem ser observados pelos pacientes. “É a hora, também, de todos se atentarem para a
prevenção, adotando uma alimentação balanceada, eliminando o tabagismo e reduzindo o
sedentarismo”, completa. Leia a entrevista completa abaixo:
Houve redução de atendimento a pacientes cardiopatas pelo medo de irem aos hospitais por
causa da covid-19?
Marcelo Queiroga: A pandemia do novo coronavírus tem reduzido atendimentos cardiológicos de
urgência em o todo o país. Somente no hospital em que atuo, na Paraíba, costumávamos atender 16 mil
pacientes por mês na emergência. Hoje, não ultrapassamos 3 mil atendimentos mensais.
No Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP), uma das principais referências de serviços de saúde do Brasil, a redução das
angioplastias primárias em março deste ano foi de 50%, quando comparada com o mesmo período de
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2019. A média mensal é de 40 casos; mas nos primeiros 13 dias de abril, apenas nove procedimentos
foram realizados. 
Esses dados são um indicativo de que podemos ter impacto nas taxas de mortalidade. Ainda não há
informações consolidadas e nem uma explicação única sobre essa diminuição. As hipóteses vão desde
a possibilidade de estar havendo, de fato, uma diminuição das ocorrências, até a teoria mais plausível,
de que as pessoas estão retardando a busca por socorro durante a pandemia, o que pode agravar o
quadro cardíaco ou levar à morte repentina em casa. Há também a hipótese dos riscos competitivos.
O fato é que as pessoas não estão chegando às emergências, mas vão continuar morrendo de causas
cardíacas. A covid-19 é um fator complicador. O medo pode atrasar a busca por socorro e complicar as
doenças cardiovasculares agudas e crônicas.
Quais as consequências futuras para estes pacientes que estão deixando de procurar assistência
agora por medo do coronavírus?
Marcelo Queiroga: A demora dos pacientes portadores de doenças cardiovasculares em buscar
atendimento nas emergências pode refletir em aumento da mortalidade. Ao procurar ajuda somente na
última hora, esses pacientes assumem uma postura considerada arriscada para quem tem a doença que
mais mata no país. O problema é grave porque essas doenças, principalmente o infarto, foram
responsáveis por cerca de 30% de todas as mortes em 2017, segundo divulgamos em nosso
Cardiômetro. Foram 383.961 óbitos por doença cardiovascular naquele ano no Brasil. É um problema de
saúde pública que agora é agravado pela pandemia de covid-19, especialmente pelos riscos
competitivos.
Quais sintomas não podem ser ignorados por pacientes cardiopatas e que são sinal de que
precisam buscar ajuda médica imediatamente?
Marcelo Queiroga: A dor ou desconforto na região do peito, podendo irradiar para as costas, rosto,
braço esquerdo e, mais raramente, o braço direito, é o principal sintoma do infarto. Esse desconforto
costuma ser intenso e prolongado, acompanhado de sensação de peso ou aperto sobre tórax, com suor
frio, palpitações, palidez e vômitos. 
Os portadores de doenças cardiovasculares precisam procurar o médico e as emergências, como faziam
anteriormente à pandemia, caso tenham esses sinais de alerta para o infarto do miocárdio. A demora em
procurar o atendimento médico de emergência pode levar à morte.
Como os pacientes podem seguir com seus tratamentos em segurança?
Marcelo Queiroga: É muito importante que os pacientes cardiopatas tomem todos os cuidados para
evitar a infecção pelo novo coronavírus, já que a letalidade da covid-19 é maior quando há essa
comorbidade. Além disso, eles jamais devem abandonar seus tratamentos, mantendo o uso regular de
seus medicamentos conforme prescrição médica e fazendo mudanças apenas com orientação, uma vez
que a suspensão abrupta dos esquemas terapêuticos em uso pode causar instabilidade clínica e
desfechos adversos. É a hora, também, de todos se atentarem para a prevenção, adotando uma
alimentação balanceada, eliminando o tabagismo e reduzindo o sedentarismo.
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Os pacientes cardíacos são portadores de doenças crônicas e se, porventura, contrair a infecção pelo
novo coronavírus, também devem continuar tomando os medicamentos que utilizam para o tratamento
da doença cardíaca. Só deve fazer modificação com orientação do seu médico. 
Como os hospitais têm garantido a segurança dos atendimentos não-covid?
Marcelo Queiroga: Os atendimentos de urgência e emergência nos hospitais e unidades de saúde
continuam normais em todas as especialidades. Este tipo de atendimento não pode parar. Uma
mudança importante nos hospitais e unidades de saúde foi a separação dos pacientes com sintomas
respiratórios dos demais. A classificação deve ser feita logo na porta de entrada, onde um profissional
deve oferecer máscara e direcionar os pacientes com sintomas respiratórios para uma área isolada.
Já os pacientes sem sintomas respiratórios devem ser direcionados para outra sala para receber
atendimento e outros procedimentos, sem cruzar com os que têm sintomas respiratórios. Dessa forma,
busca-se proteger os pacientes, proporcionar o atendimento mais eficiente e mais seguro a todos e
garantir que as pessoas não fiquem sem assistência ou acompanhamento médico por medo da
pandemia.

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