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ABORDAGENS E MODELOS DE GESTÃO AMBIENTAL Ana Beatriz Ribeiro e Orlando Marques ENGENHARIA DO MEIO AMBIENTE - UFES 01 A solução ou minimização dos problemas ambientais requer uma mudança de atitude por parte dos empresários e gestores, incorporando o meio ambiente em suas decisões e adotando práticas administrativas e tecnológicas que contribuam para a sustentabilidade do planeta. INTRODUÇÃO Três principais forças – governo, sociedade e mercado – têm impulsionado a criação de modelos de gestão para lidar com esses desafios. O mercado também desempenha um papel importante, com iniciativas de autorregulamentação surgindo em resposta à competição global e ao aumento da conscientização dos consumidores por produtos e serviços sustentáveis. 02 Há três diferentes abordagens de que as empresas podem se valer para lidar com os problemas ambientais relacionados com suas atividades, aqui denominadas de: Controle da poluição; Prevenção da poluição; Abordagem Estratégica. Elas também podem ser vistas como fases de um processo de implementação gradual de práticas de gestão ambiental em uma dada empresa. ABORDAGENS DE GESTÃO AMBIENTAL 03 Esta abordagem se caracteriza pelo estabelecimento de práticas administrativas e operacionais para impedir os efeitos da poluição gerada pela empresa. As soluções tecnológicas típicas dessa abordagem procuram controlar a poluição sem alterar significativamente os processos e os produtos que a produziram, podendo ser de dois tipos: tecnologia de remediação e tecnologia de controle no final do processo (end-of-pipe). CONTROLE DA POLUIÇÃO 04 Conforme o tipo e a quantidade dos poluentes, as soluções end-of-pipe tornam-se complexas e custosas. Não raro envolvem mais de um tipo de tecnologia. Do ponto de vista empresarial, essa abordagem significa elevação de custos de produção. Do ponto de vista ambiental, o controle da poluição é fundamental, mas insuficiente. CONTROLE DA POLUIÇÃO 05 PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO 06 A prevenção da poluição requer mudanças em processos e produtos a fim de reduzir ou eliminar os desperdícios, entre eles os resíduos e poluentes, antes que eles sejam produzidos e lançados ao meio ambiente. Os que ainda sobram, são captados, tratados e dispostos por meio de tecnologias de controle da poluição do tipo end-of-pipe. Aumenta a produtividade da empresa, pois reduz poluentes na fonte, economizando recursos. PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO 07 Resultados esperados: redução de custos com materiais e energia, menor custo de controle da poluição, melhoria das condições de trabalho e imagem da empresa. A prevenção da poluição não elimina completamente a abordagem de controle, mas reduz sua necessidade e seu custo. Práticas de Prevenção: Redesenho de produtos; revisão do layout do chão de fábrica; programa de manutenção preventiva; gestão de estoques; inovações de produto e processo podem ser necessárias a longo prazo PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO Combinação de Práticas Ambientais: Uso sustentável dos recursos (redução de consumo de insumos, reúso, reciclagem) e controle da poluição (tecnologias end-of-pipe). Figura - Prevenção da poluição – Prioridades 08 ABORDAGEM ESTRATÉGICA Nessa abordagem os problemas ambientais são tratados como questões estratégicas da empresa. Relacionados à busca de vantagens competitivas, como lucratividade, participação em mercados, domínio de tecnologias, acesso a capitais e reputação. Além do controle e prevenção da poluição, a empresa busca oportunidades de mercado e neutraliza ameaças ambientais. Beneficia proprietários, acionistas, investidores, trabalhadores e comunidade local. 09 ABORDAGEM ESTRATÉGICA A gestão ambiental pode proporcionar os seguintes benefícios estratégicos: melhoria da imagem institucional; renovação do portfólio de produtos; aumento da produtividade; maior comprometimento dos funcionários e melhores relações de trabalho; melhores relações com autoridades públicas, comunidade e grupos ambientalistas ativistas; acesso assegurado aos mercados externos; e maior facilidade para cumprir os padrões ambientais. 10 ABORDAGENS DE GESTÃO AMBIENTAL Quadro - Gestão ambiental na empresa – Abordagens 11 Um modelo de gestão é um conjunto de conceitos, princípios, normas e práticas que orientam a tomada de decisão em uma organização, harmonizando os diferentes modos de ver as mesmas questões, o que confere coerência na realização de atividades desenvolvidas por diferentes pessoas em diversos momentos e locais. MODELOS DE GESTÃO AMBIENTAL 12 GESTÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL TOTAL Combina gestão ambiental com os princípios da Gestão da Qualidade Total (TQM). Criada pela Global Environmental Management Initiative (Gemi) em 1990. Objetivo: incorporar questões ambientais à gestão baseada no TQM. Amplia o TQM para incluir questões ambientais. Foco nas expectativas dos clientes internos e externos em termos ambientais. Meta: poluição zero. Eliminação de desperdícios é central. TQM: Produção de bens e serviços que atendam ou superem as expectativas dos clientes. TQEM: Superação das expectativas ambientais dos clientes. TQM busca defeito zero; TQEM busca poluição zero. Origem Modelo Comparação 13 Table of contents 01 Figura - Ferramentas da qualidade – Exemplos 14 CUSTO TQM X TQEM Quadro -Custos da qualidade e custos ambientais 15 Custos de prevenção (CP) | Custos de avaliação (CA) | Custos de falhas internas (CFI) e Custos de falhas externas (CFE) PRODUÇÃO MAIS LIMPA A P+L é um modelo baseado na abordagem preventiva aplicada a processos, produtos e serviços. Desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Unep) e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi/Unido). Inspirado por propostas como a tecnologia limpa e o Desenvolvimento Industrial Ecologicamente Sustentável. 16 PRODUÇÃO MAIS LIMPA Estratégia de gestão ambiental preventiva. Objetivo: eliminar resíduos antes de serem criados, reduzindo sistematicamente a geração global de poluição e melhorando a eficiência no uso de recursos. Resultados Esperados: Aumento da produtividade: Uso eficiente de matérias-primas, energia e água; melhor desempenho ambiental: Redução de emissões e resíduos na fonte e redução dos impactos ambientais. 17 PRODUÇÃO MAIS LIMPA Figura -Produção Mais Limpa – Níveis de intervenção 18 1 Liderança: Atrair e convencer as partes interessadas em sua área de influência para que adotem práticas de produção e consumo sustentável; PRINCÍPIOS P+L Conscientização, educação e treinamento: Construir capacitação, desenvolvendo programas internos de conscientização, educação e treinamento, e encorajando a inclusão dos conceitos da P+L nos curricula de todos os níveis de ensino; Integração: Incentivar estratégias preventivas na organização e no Sistema de Gestão Ambiental, usando avaliação ambiental, ciclo de vida do produto, contabilidade ambiental e práticas P+L 2 3 4 Pesquisa e desenvolvimento: Promover inovação, mudando de controle de poluição para prevenção em P&D, e desenvolvimento de bens e serviços eficientes. Comunicação: Compartilhar as experiências, fomentando o diálogo sobre a implementação das estratégias preventivas e informando as partes interessadas externas sobre seus benefícios; Implementação: Adotar P+L, definir metas, relatar progresso, incentivar financiamento em tecnologias preventivas e promover cooperação e transferência de tecnologias ambientais. 5 6 19 Figura - Implementação da P+L – Sequência de etapas IMPLEMENTAÇÃO P+L 20 ECOEFICIÊNCIA Ecoeficiência é uma abordagem estratégica de gestão ambiental. Combina desempenho financeiro e ambiental para criar mais valor com menos impacto adverso. Definição 1 2 Objetivo Entregar produtos e serviços competitivos que atendam às necessidades humanas. Melhorar a qualidade de vida. Reduzir progressivamente impactos e intensidade dos recursos ao longo do ciclo de vida. Práticas Uso eficiente de recursos naturais. Minimização de impactos ecológicos. Foco na sustentabilidadee capacidade de carga do planeta. 21 Uma empresa se torna ecoeficiente por meio de práticas para: Minimizar a intensidade de materiais nos produtos e serviços; Minimizar a intensidade de energia nos produtos e serviços; Minimizar a dispersão de qualquer tipo de material tóxico pela empresa; Aumentar a reciclabilidade dos seus materiais; Maximizar o uso sustentável dos recursos renováveis; Aumentar a durabilidade dos produtos da empresa; e Aumentar a intensidade dos serviços nos seus produtos e serviços. ECOEFICIÊNCIA 22 Baseia-se na redução de materiais e energia por unidade de produto ou serviço. Objetivo: aumentar a competitividade da empresa e reduzir pressões ambientais. Foco na produção e consumo sustentável. Promover uma nova relação com os consumidores para reduzir impactos ambientais negativos. Assumir responsabilidade estendida do produtor. Relação entre valor do produto/serviço e influência ambiental ou recursos consumidos. Busca criar valor econômico com mínimo impacto ambiental. ECOEFICIÊNCIA 23 ECOEFICIÊNCIA O progresso na implantação das práticas recomendadas pelo modelo da ecoeficiência é medido pelo valor do produto ou serviço por unidade de influência ambiental ou de recursos consumidos, ou seja, pela seguinte relação: 24 PROJETO PARA O MEIO AMBIENTE Design for Environment (DFE) é um modelo de gestão que se concentra no desenvolvimento de produtos e processos, integrando preocupações ambientais, saúde e segurança dos trabalhadores e consumidores, conservação de recursos, prevenção de acidentes e gestão de resíduos. Surgiu na década de 1990 para incluir questões ambientais no desenvolvimento de produtos.. Foco na fase de projeto: Atacar problemas ambientais na fase de projeto para reduzir dificuldades e custos futuros. Objetivos ambientais variados: Aumentar reciclagem, reduzir consumo de energia, facilitar manutenção, favorecer separação de materiais pós-uso. 25 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DO (DFE) Para organizar as atividades de DFE diante das muitas e variadas possibilidades, Joseph Fiksel, um dos seus formuladores, apresenta quatro estratégias principais, e cada qual se realiza por meio de projetos específicos 26 1. Projeto para desmaterialização: 2. Projeto para desintoxicação: 3. Projeto para revalorização: 4. Projeto para a renovação e proteção do capital: Figura - As principais estratégias do DFE EXEMPLOS DE PRÁTICAS DO (DFE) 27 Quadro -Projeto para o Meio Ambiente – Exemplos NATURAL STEP Origem Criado pelo oncologista sueco Karl-Henrik Robèrt. Baseia-se em considerações científicas sobre o funcionamento dos ecossistemas e no conceito de metabolismo social. Condições Manter e melhorar o meio ambiente. Atender às necessidades básicas da sociedade. Equilibrar fluxos de materiais e energia. Evitar riscos aos ecossistemas e seres humanos. Estrutura Reduz a complexidade dos temas. Baseada em conhecimentos científicos revisados permanentemente. Estimula soluções sistêmicas e foco nas questões essenciais. 28 NATURAL STEP Quadro -Natural Step: condições sistêmicas de uma sociedade sustentável – Resumo 29 NATURAL STEP O modelo de gestão Natural Step usa a abordagem ABCD e o backcasting para alcançar a sustentabilidade. O backcasting é um estudo do futuro que explora como alcançar situações desejadas, ao invés de prever o futuro mais provável. Isso é útil quando o futuro desejável difere do futuro mais provável, como no caso da sustentabilidade. Conscientização (A): Entender o que a sustentabilidade significa para a organização e como ela afeta a organização. Análise (B): Identificar onde a organização está atualmente em relação à sustentabilidade e identificar os problemas que tornam a organização insustentável. Soluções Criativas (C): Desenvolver soluções inovadoras para superar os problemas identificados e alcançar o futuro desejável. Decidir Prioridades (D): Desenvolver um plano para implementar as soluções criativas com base nas prioridades identificadas. Figura - Abordagem ABCD e backcasting 30 Os modelos de gestão ecológica tentam aproximar os sistemas de produção humanos dos ecossistemas naturais. Os resíduos de produção de algumas empresas podem ser insumos para outras. Ecologia industrial: modelo de gestão que identifica sistemas industriais com sistemas naturais. Visa melhorar a eficiência dos sistemas industriais imitando ecossistemas naturais, transformando resíduos em insumos materiais. Metabolismo industrial: conjunto de processos físico-químicos que transforma os compostos orgânicos em energia para as atividades biológicas dos organismos. . É um programa de estudos sobre os fluxos de materiais em diferentes níveis de abrangência. 31 MODELOS INSPIRADO NA NATUREZA MODELOS INSPIRADO NA NATUREZA Fluxo de materiais: A natureza tem um ciclo fechado de materiais, onde não há resto que não desempenhe uma função. Em contraste, o sistema industrial tem um ciclo aberto e insustentável, onde os recursos extraídos retornam ao ambiente como resíduos que não são completamente reciclados. Sempre haverá a necessidade de extrações adicionais de recursos para manter o nível de produção devido às perdas nos sistemas industriais. Figura -Ciclos biogeoquímicos e ciclos de materiais industriais 32 Parque industrial de Kalundborg: Exemplo de implementação desses modelos, com diversas empresas integradas que aproveitam os resíduos e excedentes uns dos outros. Simbiose industrial: A experiência de Kalundborg é um exemplo de simbiose industrial, onde empresas de diferentes segmentos formam um relacionamento permanente e harmônico, semelhante ao mutualismo em biologia. Parque Industrial de Kalundborg Figura - Parque Industrial de Kalundborg (Dinamarca) 33 CONCLUSÃO Figura - Modelos de gestão em relação à escala de tempo e espaço O capítulo apresenta diferentes modelos de gestão ambiental que podem ser adotados por empresas. Os cinco primeiros modelos podem ser implementados de forma isolada, enquanto os inspirados na natureza são aplicáveis a um conjunto de empresas, formando uma comunidade empresarial semelhante a uma comunidade biológica. Nos modelos individuais, os resíduos são vistos como problemas. Nos modelos baseados na natureza, os resíduos podem ser o início da solução, pois permitem a articulação entre diferentes unidades produtivas. A ecologia industrial, a simbiose industrial e outros modelos semelhantes eliminam resíduos mais pela sua circulação nos sistemas produtivos, semelhante aos ciclos de nutrientes na natureza, do que pela prevenção da poluição e controle no final do processo. Esses modelos dão grande importância à reciclagem e ao reúso externo às fontes geradoras. 34 OBRIGADO! 35 REFERÊNCIA Barbieri, J. C. Gestão ambiental empresarial. 5ª edição. 36
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