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01 UNIDADE PROFª DRA. LUCÍLIA PANISSET TRAVASSOS ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) EM CONTEXTO ESCOLAR O Atendimento Educacional Especializado (AEE) FICHA LIVRO Disciplina: Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar Autora: Profª. Dra. Lucília Panisset Travassos Ementa: Conceitos através dos tempos e fundamentos do Atendimento Educacional Especializado. Marcos legais do AEE. Política Nacional de Educação Especial na Pers- pectiva da Educação Inclusiva. O público-alvo da Educação Inclusiva. A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular. A Nota Técnica MEC/SECADI/DPEE nº 04/2014. Barreiras a serem vencidas. Deficiência X Incapacidade X Funcionalidade. A Sala de Recursos Multifuncionais. O objetivo do Atendimento Educacional Especializado. Formação e atribuições do professor para o AEE. O papel dos gestores na formação e na articulação da equipe para a inclusão. O Projeto Peda- gógico Inclusivo. FICHA CATALOGRÁFICA Presidente: Renato Casagrande Diretor Executivo: Ronaldo Casagrande Diretora Pedagógica: Josemary Morastoni Coordenador de EaD: Isabelle Christine Moletta Designer Instrucional: Iara Aparecida Pereira Penkal Revisora: Eryka Kalana Torisco da Silva Projeto Gráfico: Fabiano Nichetti Diagramação: Fabiano Nichetti Foto de capa: © Freepik Ícones: © Flaticon Clique nos títulos para ir até a página. APRESENTAÇÃO 4 1. CONCEITOS DE ATENDIMENTO ESPECIAL ATRAVÉS DOS TEMPOS E FUNDAMENTOS 5 2. OS MARCOS LEGAIS DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: DA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DE 1948 À ATUALIDADE 8 3. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 13 4. O PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 14 CONCLUSÃO 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 16 SUMÁRIO 4Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 APRESENTAÇÃO Antes de começarmos a nossa conversa sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar, faremos um resgate da importância de conhecermos a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Nesta disciplina vamos, juntos, trocar ideias sobre os conceitos e fundamentos da inclusão através dos tempos, os marcos legais do AEE, desde a Declaração dos Direitos Humanos (ONU, 1948) até a atualidade, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e o público-alvo do AEE. 5Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 Conceitos de atendimento especial através dos tempos e fundamentos01 Vamos iniciar o nosso percurso com uma pergunta muito especial para você responder ao final dessa unidade: “Há alguma situação em que todos os seres humanos são iguais?”. Apesar de termos a impressão de que o atendimento às pessoas com necessidades espe- ciais no Brasil é recente, isso não é tão novidade assim. As ações voltadas para apoio e assis- tência tiveram início na época do Império, com a criação de duas instituições no Rio de Janeiro: em 1854, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atualmente chamado Instituto Benjamin Constant (IBC); em 1857, o Instituto dos Surdos Mudos, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES). Logo no início do século XX, em 1926, foi fundado o Instituto Pestalozzi, especializado no atendimento às pessoas com deficiência mental. Posteriormente, na Sociedade Pestalozzi, em 1945, Helena Antipoff criou o primeiro atendimento educacional especializado para pessoas com características de superdotação e, em 1954, foi criada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Não há dúvidas de que essas foram intervenções pontuais e resolveram os problemas da época de forma parcial. Contudo, não podemos negar que elas certamente foram fundamentais para que a ideia de inclusão germinasse em nosso país. Para que os conceitos gerais de atendimento especial através dos tempos fiquem bem claros, podemos fazer uma analogia de cada um deles com uma aula de natação, imagi- nando as seguintes cenas: Cena A – Uma família vai até uma escola para matricular o seu casal de filhos e é recebida com a seguinte pergunta: “Seus filhos sabem nadar?”. Os pais explicam que a menina já sabe, mas que o menino, por sua vez, ainda não. Diante desses fatos, a matrícula da menina é aceita, mas a do menino... não! Ele é rejeitado, com a sugestão de que os pais encontrem uma escola que seja somente para quem não sabe nadar. Esse tipo de atitude é denominada exclusão, do latim exclusĭo, a ação e o efeito de expulsar ou afastar uma pessoa de determinado contexto. Tal prática ‒ que começou na Antigui- dade e perdurou por séculos e séculos ‒ marginalizava as pessoas com necessidades espe- 6Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 ciais, eliminando-as ou mantendo-as escondidas dos cidadãos “comuns”. Cena B – Um grupo de alunos matriculados é recebido por um professor na beira da piscina de uma escola e dá a seguinte ordem para o grupo todo: “Quem sabe nadar, pule na piscina e quem não sabe, saia logo daqui e vá brincar em outro lugar!”. Então, os alunos sem problemas, que já nadam bem, pulam juntos na água; aos outros, porém, só resta afastarem-se, sem qualquer chance de aprender o esporte! Essa atitude, muito comum em um passado mais recente, tem o nome de segregação, do latim segregatĭo.onis, a ação e o efeito de separar uma pessoa de algo ou de alguém, isolando-a. Os alunos segregados ficavam de lado, em asilos ou outras instituições à parte, sem apoio, nem oportunidades para transformarem fraquezas em pontos fortes. Cena C – Décadas depois, outro grupo de alunos é recebido na área de esportes da mesma escola. Agora, ela tem duas piscinas: uma delas é de tamanho olímpico; a outra, menorzinha, é bem rasa. O professor não se dirige mais ao grupo todo de uma vez, mas pergunta a cada aluno e aluna: “Você sabe nadar?”. Quando um aluno diz que sim, ele recebe a ordem: “Pule na piscina grande!”; quando o aluno diz “Não”, a recomendação é de que ele se dirija para a piscina menor, sem profundidade e fique apenas brincando por lá. Agora, todos têm acesso à água, mas em espaços separados. Ver os dois grupos brincando na água passa a impressão de que todos recebem a mesma chance. Aos alunos, porém, sem orientação adequada e com práticas “rasas” é negado o direito de realmente aprender a nadar! Esse tipo de atitude por parte das escolas teve um nome: integração, do latim inte- grare, que significa o ato ou efeito de assimilar ou reunir grupos de semelhantes. Todavia, isso não é suficiente, uma vez que a integração parte do princípio de que é o aluno que Fonte: Acervo da autora (2014). Fonte: Acervo da autora (2014). 7Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 tem que se adaptar à vida escolar, não o contrário. Cena D – A partir da década de 90, houve uma reforma na escola que descrevemos e a mesma passou a ter uma piscina apenas, de tamanho olímpico e com vários níveis dife- rentes de profundidade. O grupo de alunos também é recebido por um professor que, agora, não está apenas na área onde foi construída a piscina, mas já se encontra dentro da água. É de lá que faz a mesma pergunta de antes, mas dirigindo-se aos estudantes indivi- dualmente: “Você sabe nadar?”. Seu olhar encontra o de cada aluno(a) e, quando alguém diz “Sim!”, a conversa é a seguinte: “Pule na piscina e me mostre as suas habilidades. Vou avaliá-las e, partindo do que eu observar, vamos desenvolver um programa que lhe permita atingir mais competências aquáticas!”. A diferença de postura do professor é ainda mais notável quando o estudante lhe contaque não sabe nadar: nesse momento, o professor estende os seus braços para acolher o aluno dentro da piscina, dizendo: “Confie em mim! Pode pular sem medo, porque eu estou aqui para ampará-lo. Você pode aprender a nadar como os seus colegas que já são bons nisso! Nós vamos conseguir isso juntos!”. Esse tipo de atitude por parte das escolas e dos educadores recebe o nome de inclusão, do latim includere, cuja acepção é compreender, abranger, envolver, isto é, um conjunto de ações que permite que todos tenham direito de participar das várias dimensões de seu ambiente, sem sofrer qualquer tipo de discriminação e preconceito, seja em razão de diferenças religiosas, de classe, de idade e de gênero ou de deficiências físicas, cognitivas, emocionais e por suas altas habilidades/superdotação. Fonte: Acervo da autora (2014). Fonte: Acervo da autora (2014). 8Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 Das antigas práticas convencionais às do professor inclusivo, o sistema educacional final- mente entendeu que incluir é muito mais do que apenas colocar junto: é estar preparado para oferecer oportunidades iguais para todos, adaptando-se às necessidades individuais de seus alunos e alunas. 2. Os Marcos Legais do Atendimento Educacional Especializado: da Declaração dos Direitos Humanos de 1948 à atualidade Segundo Mazzota (1996 apud TOMPOROSKI et al., 2019), são três os períodos históricos da Educação Especial no Brasil: • 1854-1956, iniciativas oficiais e particulares isoladas; • 1957-1993, surgimento de iniciativas oficiais de abrangência nacional; • a partir de 1993, com uma nova fase caracterizada por movimentos pela inclusão escolar. Uma vez que a disciplina “Fundamentos e Políticas Públicas para a Educação Especial Inclusiva” já oferece detalhes sobre os documentos que garantem o direito de todos os cidadãos à educação de qualidade, como é previsto na Constituição da República Fede- rativa de 1988 (BRASIL 1988), nessa matéria vamos apenas relembrar quais são eles e, posteriormente, reservar um espaço para darmos ênfase nas práticas atuais. Tudo começou em 1948, quando ‒ por ser membro da Organização das Nações Unidas (ONU) ‒ o Brasil se tornou signatário da Carta Universal dos Direitos Humanos. A partir de então, iniciaram-se as seguintes atualizações, tanto por iniciativa da ONU quanto por ações especificamente do Brasil: • 1988 – Constituição da República Federativa do Brasil, cujo Art. 205 determina que a educação é direito de todos; • 1989 – Lei no. 7853/89: dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência, sua integração social e sobre a Coordenadoria para a Integração da Pessoa com Deficiência (CORDE). O Art. 8º dessa lei determina que qualquer escola pública ou particular que negar matrícula Vale a pena ler o artigo “EDUCAÇÃO ESPECIAL, O LONGO CAMINHO: da Antiguidade aos nossos dias”, de Tomporoski, Lachman e Bortolini (2019). Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/ bauman/article/view/12546 SAIBA + 9Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 a um aluno com deficiência comete crime punível com reclusão; • 1990 – Declaração Mundial de Educação Para Todos: um documento que reconfirma a Carta Universal dos Direitos Humanos (1948). Essa importante declaração sobre Educação Para Todos foi aprovada pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien -Tailândia; »Foi nesse ano que o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/90, foi promulgado e reforçou a ideia de que crianças e adolescentes também são sujeitos de direitos, como todo cidadão; • 1994 – Da Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Quali- dade, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que ocorreu na Espanha, resultou a Declaração de Salamanca, marco impor- tantíssimo em razão de apresentar princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais; »No Brasil, a Portaria nº 1.793/94 dispõe sobre ser imprescindível complementar os currículos de formação de docentes e dos cursos das áreas de saúde sobre a interação com pessoas com necessidades especiais; »Também nesse ano, foi publicada uma Política Nacional de Educação Especial (PNEE). Com foco nas pessoas com deficiências, condutas típicas e superdotação, essa PNEE foi amplamente discutida com representantes de organizações governamentais e não gover- namentais e representou a ciência e a arte de estabelecer objetivos gerais e específicos rela- cionados com interesses e necessidades dessas pessoas e orientar atividades que garan- tissem a conquista e a manutenção de tais objetivos; • 1996 – Lei nº. 9394/95 (LDBEN): em seu Capítulo III, no art. 4º, inciso III, encontramos que “é dever do Estado garantir o atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”. Além disso, todo o Capítulo 5 é dedicado à Educação Especial. Entre os pontos tratados, o art. 58, § 1º, deter- mina que, sempre que for necessário, haverá serviços de apoio especializado para atender às necessidades peculiares de cada aluno com necessidades especiais; • 1999 – A Convenção da Guatemala, cujo nome oficial é Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, explica que discriminação é qualquer condição de diferenciação, exclusão ou restrição baseada na deficiência com “efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício, por parte das pessoas portadoras de deficiência, de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais”; »Em nosso país, foi publicado o Decreto nº 3.298/99, para regulamentar a Lei nº 7.853/89 (que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), ficando mais claros os direitos das pessoas com deficiências física, auditiva, visual, mental e múltipla; • 2001 – No Congresso Internacional Sociedade Inclusiva, realizado no Canadá, é aprovada a Declaração Internacional de Montreal sobre inclusão; »No Brasil, o Decreto nº 3.956/2001 promulga a Convenção da Guatemala; »As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica são, então, publi- 10Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 cadas pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (Resolução CNE/CEB nº 2/2001); • 2002 – A Resolução CNE/CP nº 1/2002 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, que inclui conhecimentos sobre alunos com necessidades especiais; »Simultaneamente, é promulgada a Lei nº 10.436, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e outros recursos de expressão a ela associados como meio legal de comu- nicação, expressão; • 2003 – O Programa Educação Inclusiva é implementado pelo MEC, reforçando o direito à diversidade; • 2004 – O Ministério Público Federal divulga um documento sobre o acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular; »O Decreto nº 5.296/04, que regulamentou as Leis nº 10.048 e nº 10.098, ambas do ano 2000, estabelece as normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida; • 2005 – Decreto nº 5.626/05: regulamenta a Lei nº 10.436/2002, sobre o acesso dos alunos surdos à escola e dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, sobre o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e sobre a organização dessa educação bilíngue no ensino regular; • 2005 – Finalmente chegou o momento de o Ministério da Educação ter um olhar inclusivo para as pessoas com Altas Habilidades ou Superdotação! Há a implantação dos Núcleosde Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) em todos os estados e no Distrito Federal e a publicação, em 2006, do Documento Orientador de Execução da Ação dos NAAH/S; • 2006 – A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência é aprovada pela ONU e o Brasil, como Estado-Parte, deve assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta da plena participação e inclusão; • 2007 – É divulgado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que também tem como eixos a formação de professores para a Educação Especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, o acesso e a permanência das pessoas com deficiência na Educação Superior e o monitoramento do acesso à escola dos favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC); »O Decreto nº 6.094/2007 estabelece, então, as Diretrizes do Compromisso Todos pela Educação: a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas públicas; • 2008 – A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva define o público-alvo do AEE: alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- mento (hoje, TEA) e altas habilidades/superdotação; 11Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 »Decreto nº 6.571/2008: dispõe sobre Atendimento Educacional Especializado comple- mentar ao ensino regular para o público-alvo da Educação Especial e o seu financiamento por meio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valori- zação dos Profissionais da Educação (FUNDEB); • 2009 – É realizada a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi- ciência e, no Brasil, o Decreto nº 6.949/2009 ratifica a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, dando-lhe o status de Emenda Constitucional. A partir disso, a Resolução CNE/CEB nº 4/2009 institui as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial; • 2010 – A Portaria nº 2.344/2010, da Secretaria de Direitos Humanos, seguindo a Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE), atualiza a nomen- clatura em relação às pessoas com deficiência; • 2011 – Decreto nº 7.612: institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, conhecido como Plano Viver sem Limite; • 2012 – A Lei nº 12.764 é um passo a mais, instituindo a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; • 2013 – Decreto nº 8.368: regulamenta a Lei nº 12.764/2012 e a Nota Técnica nº 24, do MEC, orienta os Sistemas de Ensino a como implementá-la; • 2014 – A Lei nº 13.005, conhecida como Plano Nacional da Educação, reserva uma de suas metas, a de número 4, para a determinação de que o Brasil deve universalizar o acesso à Educação Básica e ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) para crianças e adoles- centes de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habi- lidades até 2024; »Sobre isso, a NOTA TÉCNICA Nº 04/2014 do MEC, que orienta quanto aos documentos comprobatórios do público-alvo da inclusão para o Censo Escolar, dá um passo importan- tíssimo ao alertar que “o direito das pessoas com deficiência à educação não poderá ser cerceado pela exigência de laudo médico” (BRASIL, 2014); • 2015 ‒ É promulgada a Lei nº 13.146, o Estatuto da Pessoa com Deficiência; • 2019 ‒ A estrutura regimental e o quadro demonstrativo dos cargos em comissão e das funções de confiança do Ministério da Educação foram reformulados pelo Decreto nº 9.465, que apresenta a Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação, cujas diretorias se ocupam de Acessibilidade, Mobilidade, Inclusão e Apoio a Pessoas com Deficiência, Políticas de Educação Bilíngue de Surdos e Políticas para Modalidades Especializadas de Educação e Tradições Culturais Brasileiras. Suas tarefas são: formular e implementar políticas para apoiar os sistemas de ensino na inclusão de estudantes com deficiência, TEA e altas habi- lidades ou superdotação, favorecer o acesso, a permanência e a aprendizagem nas insti- tuições educacionais, em ambientes que maximizem seu desenvolvimento acadêmico e social, assim como definir e implementar ações de apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino, visando à garantia da escolarização e do Atendimento Educacional Especializado em salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados, em todos os níveis, etapas e modalidades (BRASIL, 2019). No ano de 2020, com a assinatura do Decreto 10.502, que foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal por ser inconstitucional, a educação inclusiva no país quase sofre um retrocesso! Ele 12Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 foi analisado por organizações e especialistas na área da educação inclusiva e demais inte- ressados nos avanços já alcançados e foi constatado que o documento defendia uma série de medidas que não caminhavam a favor da verdadeira inclusão e até voltavam à época da segregação. (Observação: até o momento da elaboração desse material, esse Decreto continua suspenso; portanto, não está vigorando no Brasil). Passado o ano das preocupações causadas pelo Decreto 10.502/2020, a educação inclu- siva voltou a ter ganhos significativos, na medida em que o Congresso Nacional aprovou as seguintes leis, propostas décadas atrás, debatidas em audiências públicas e ajustadas à atualidade: • Em março de 2021, a Lei nº 14.126 classifica a visão monocular como deficiência senso- rial, do tipo visual; • Em agosto do mesmo ano, a Lei nº 14.191 atualiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (No. 9394/96), alterando o seu artigo 3º, incluindo que deve ser respeitada a diver- sidade humana, linguística, cultural e identitária das pessoas surdas, surdocegas e com deficiência auditiva sinalizantes; • No mês de novembro, outra grande vitória foi a Lei nº 14.254: dispõe sobre o acompa- nhamento integral para estudantes com Dislexia, Transtorno do Déficit de Atenção/Hipe- ratividade ou outro transtorno de aprendizagem, o que amplia o leque de possibilidades para o acolhimento dos estudantes pelo AEE. O panorama geral da Educação Especial no Brasil reúne o direito de matrícula compulsória do público-alvo na escola regular, a oferta da Sala de Recursos Multifuncionais, com ativi- dades no contraturno e a necessidade de formação especializada para os professores. Os marcos legais mais relevantes até este momento do seu curso representam muitas décadas de reflexões, políticas públicas e aprendizagens ‒ por ensaio e erro ‒ sobre como fazer o que a legislação exige. Sabemos que, no sistema público e nas escolas privadas, os problemas continuam, mas isso é natural. Afinal, a educação inclusiva e o AEE são conceitos em permanente construção, e incertezas fazem parte de todos os momentos de transição e desenvolvimento. Todavia, não podemos nos deixar desanimar! Precisamos acreditar e continuar a jornada em busca de coerência, eficiência (realização das ações da melhor maneira possível), eficácia (alcance dos objetivos e das metas) e efetividade, ou seja, funcionamento regular e satisfatório, com um desempenho que represente a relação entre os resultados alcançados e as transforma- ções ocorridas eficientemente e com eficácia. Quer conferir os motivos de o Decreto 10.502/2020 ter sido suspenso, por maioria de votos, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal? Acesse: <https://www.conjur.com.br/2020-dez-20/stf-referenda-suspensao- -politica-educacao-especial-governo>. SAIBA + 13Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 3. Política Nacional de Educação Especial na Perspectivada Educação Inclusiva A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEE) é um documento que foi elaborado por um grupo de trabalho composto pela equipe da Secre- taria de Educação Especial do Ministério da Educação e por renomados pesquisadores da área, nomeados pela Portaria nº 555/2007, que foi posteriormente prorrogada pela Portaria nº 948/2007. A versão final do documento foi entregue ao Ministro da Educação, em 07 de janeiro de 2008. Após a apresentação sobre o movimento mundial pela inclusão, que é “uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação” (BRASIL, 2008), esse grupo de especialistas discorre sobre os marcos históricos e normativos nos quais se basearam e, por meio de reflexões sobre o Censo Escolar/MEC/INEP, apresenta um diagnóstico da educação especial para, então, propor os objetivos gerais e os específicos da PNEE, que são: [...] assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p. 14). A partir daí, esclarece quem são os alunos a serem atendidos pela educação especial, não mais uma população restrita, mas um grupo mais amplo. A PNEE apresenta as Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e chama atenção do ensino regular para o desafio de atender às diferenças. Apesar de nem todas as instituições educacionais terem projetos pedagógicos que contem- plem a inclusão escolar plena, é importante lembrarmos que ela deve ter início na Educação Infantil, continuar em todas as etapas da Educação Básica, inclusive nas modalidades de Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional, Educação Indígena, do Campo e Quilombola, assim como na Educação Superior. As leis são importantes para a implantação de políticas públicas, mas elas não garantem mudanças significativas, pois inclusão se faz com transformações da/na realidade escolar, o que depende de gestores, professores e demais participantes da rotina da escola dedi- carem-se à sua formação continuada, ao compartilhamento de saberes e ao acolhimento das diferenças, um elemento real que todos nós temos em comum. 14Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 4. O público-alvo da educação inclusiva Para nos aprofundarmos nas questões sobre inclusão e AEE em contexto escolar, é essen- cial termos em mente qual é o público-alvo da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. No entanto, é comum que muitas escolas e IES se preocupem mais com a inclusão de pessoas com deficiências físicas e cognitivas, deixando de lado os estudantes com altas habilidades/superdotação (AH/SD), que também fazem parte do público-alvo do Atendimento Educacional Especializado (AEE), conforme a Lei nº 12.796/2013. Precisamos nos manter em permanente estado de alerta e nos dedicarmos à formação continuada, para que escolas de Educação Básica e as instituições de Educação Superior possam melhor fazer cumprir a legislação educacional na íntegra. Amplie os seus conhecimentos sobre o AEE para pessoas com Altas Habi- lidades e Superdotação, assistindo ao vídeo indicado no link a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=avtbIf1gXJ8>. SAIBA + 15Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 Conclusão Esta unidade teve como objetivo contextualizar o Atendimento Educacional Especial e, para isso, partimos do antigo conceito de exclusão e chegamos ao de inclusão, que não é uma simples “invenção de moda”, mas uma inovação educacional que incorpora os prin- cípios de igualdade da Carta Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) e as recomenda- ções da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006). O objetivo é de que haja educação inclusiva em todos os níveis de ensino, assegurando-se sistemas e ambientes que maximizem o desenvolvimento biopsicossocial e acadêmico de todos os alunos e alunas. Também apresentamos os principais marcos legais que fundamentam o AEE, dentre eles, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que vem acompanhada do Decreto que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado (BRASIL, 2008) e das Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educa- cional Especializado na Educação Básica (BRASIL, 2009), conforme estabelecido na Reso- lução CEB/CNE nº 4 de 02/10/2009, por exemplo: Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos (BRASIL, 2009). Antes de você finalizar a Unidade 1 desta nossa disciplina, lembre-se de retomar aquela pergunta que fiz no início da nossa jornada: “Há alguma situação em que todos os seres humanos são iguais?”. Respondeu?... pois bem: se as concepções apresentadas nesta unidade ficaram claras para você, a sua resposta deve ser a mais próxima possível do seguinte: “Não podemos nos esquecer de que cada pessoa é única, mas... Sim! Todos os seres humanos são iguais. EM SEUS DIREITOS!”. 16Atendimento Educacional Especializado (AEE) em contexto escolar • UA01 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Atualizada até a EC n. 105/2019. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Documentação, 2019. Disponível em: <https://constituicao.stf.jus.br/>. Acesso em: 18 fev. 2022. ______. Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 4. ed. Atualizada até abril de 2020. Brasília, DF: Senado Federal, Coor- denação de Edições Técnicas, 2020. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bits- tream/handle/id/572694/Lei_diretrizes_bases_4ed.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 18 fev. 2021. ______. Legislação Específica/Documentos Internacionais [sobre necessidades educa- cionais especiais e inclusão]. Brasília: MEC, 2020. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ index.php?option=com_content&view=article&id=12716&Item>. Acesso em: 05 fev. 2022. ______. Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001. Institui as Diretrizes Nacio- nais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília, 2001. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2022. ______. Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008. Disponível em:<portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2022. ______. Ministério da Educação. 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