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SAF Semiárido MÓDULO 01 - AULA 05

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CURSO DE EXTENSÃO
Módulo i - Unidade i
Introdução SAFs em Regiões Semiáridas
SAFs e a redução das emissões de carbono e mitigação dos efeitos das mudanças 
climáticas: Mecanismos de redução das emissões de carbono nos SAFs
Organização: Financiamento:
Organização: Financiamento:
Sistemas 
Agroflorestais
em Regiões 
Semiáridas
Rafael da Silva Teixeira
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CURSO DE EXTENSÃO – SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM REGIÕES SEMIÁRIDAS
FICHA TÉCNICA
Realização: Projeto AKSAAM – Adaptando Conhecimento para a Agricultura 
Sustentável e o Acesso a Mercados, Instituto de Políticas Públicas e Desenvol-
vimento Sustentável - IPPDS/UFV, Fundação Arthur Bernardes - FUNARBE e 
Universidade Federal de Viçosa - UFV.
Financiamento: Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola - FIDA 
Coordenador projeto AKSAAM: Marcelo José Braga 
Coordenadores curso: Ricardo Henrique Silva Santos e Alex Carlos Silva Pi-
mentel 
Autor: Rafael da Silva Teixeira
Layout: Adriana Helena de Almeida Freitas
Diagramação: Bárbara Elen Sampaio
Revisão linguística: Cinthia Maritz dos Santos Ferraz Machado
Organização: Financiamento:
Organização: Financiamento:
Sistemas
Agroflorestais
em Regiões
Semiáridas
CURSO DE EXTENSÃO
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Resumo
1. Introdução
Aula V
SAFs e a redução das emissões de carbono e mitigação dos efeitos das mudanças 
climáticas: Mecanismos de redução das emissões de carbono nos SAFs
O atual cenário de aumento das concentrações dos gases de efeito 
estufa (GEE) principalmente de CO2, CH4 e N2O na atmosfera, e seus 
consequentes efeitos no aquecimento global e nas mudanças climáticas, 
tem despertado a atenção para a elaboração de práticas de manejos e 
sistemas de produção que não apenas apresentem menores emissões de 
GEE, mas que também proporcionem o “sequestro de C no solo”. 
Entre as possibilidades estão os Sistemas Agroflorestais – SAFs, os 
quais apresentam um sistema de produção diversificado, com aportes 
distintos de materiais orgânicos, incluindo espécies vegetais com diferentes 
profundidades de exploração do sistema radicular e consequente menor 
mobilização do solo, assim se configurando uma importante estratégia de 
produção com expressivo potencial de mitigar e sequestrar C no solo.
O último relatório intergovernamental das mudanças climáticas 
(IPCC, 2021) concluiu que a influência do homem nas mudanças climáticas 
é inequívoca, o que representa dizer que não resta dúvidas sobre a 
contribuição da atividade humana para os aumentos das concentrações 
de gases do efeito estufa (GEE) e suas consequências negativas para o 
clima do planeta. 
Em alguns cenários traçados pelo IPCC (2021), o aumento de 
temperatura na superfície da terra poderá chegar até 4oC se medidas 
protetivas e preventivas não forem tomadas a nível global. Nos piores 
cenários, mudanças drásticas no clima como alteração no regime de 
chuvas (com eventos excessivos em algumas regiões e de secas em 
outros), alteração da intensidade dos ventos e aumento do nível de mares 
e oceanos pelo derretimento de áreas polares e geleiras das montanhas 
impactarão grandemente na vida humana, animal e vegetal. Por isso, 
segundo o IPCC (2021), o melhor cenário para as condições futuras seria 
reduzir de 5 a 6 % as emissões ao ano de GEE a nível global, o que se 
constitui em um grande desafio.
4
Atualmente, o uso do solo representa 23 % das emissões globais de 
CO2 derivados das atividades humanas (IPCC, 2021), sendo a produção 
agropecuária correspondente à metade do CH4 e a dois terços do N2O 
emitido pelas atividades humanas (IPCC, 2021). 
Desta forma, a agricultura assume papel relevante para a mitigação 
das mudanças climáticas, dada a sua capacidade, por meio do uso do 
solo, de reduzir as emissões de GEE e de sequestrar carbono (C), quando 
o mesmo é manejado adequadamente. 
Neste contexto, manejos e sistemas de produção que priorizam 
a reduzida ou nenhuma mobilização (revolvimento) do solo, o aporte 
de resíduos orgânicos, e utilizam mais eficientemente as fontes de 
N têm ganhado destaque quanto à sua grande capacidade de agir 
como mitigadores das mudanças climáticas. Dentre estes, destacam-
se os Sistemas Agroflorestais – SAFs, uma vez que constitui: i) Sistemas 
diversificados (presença de espécies arbóreas, arbustivas e gramíneas 
com capacidades de fixarem quantidades expressivas de C em sua 
biomassa); ii) elevado aporte de resíduos orgânicos de diferentes 
qualidades na superfície do solo (principalmente advindos de plantas 
leguminosas e não-leguminosas); iii) presença de espécies possuindo 
diferentes profundidades de exploração radicular, que garantem grande 
aporte de C em subsuperfície e iv) ausência ou reduzida mobilização do 
solo (reduzidas perdas de CO2).
Assim, para compreendermos o potencial dos SAFs de mitigar as 
mudanças climáticas dada a sua capacidade de não só reduzir as emissões 
de GEE, mas também de sequestrar o C (biomassa vegetal e solo), é 
necessário conhecermos quais os mecanismos envolvidos nos processos 
de formação da matéria orgânica do solo e os fatores que propiciam as 
emissões dos GEE nesses sistemas.
O C na natureza está presente em formas inorgânicas e orgânicas, 
transitando em diferentes compartimentos do planeta (atmosfera, 
oceanos, solo e biosfera). A transferência desse C é o que denominamos 
de “Ciclagem do C”, o qual é composto de um ciclo longo e um ciclo curto. 
O ciclo longo do C envolve o C presente em reservatórios geológicos, 
processo de intemperismo e sedimentação de carbonatos em ambientes 
marinhos, demorando muito tempo para ser ciclado. No entanto, iremos 
focar no ciclo curto do C, o qual envolve a transferência do C da atmosfera 
2. Ciclagem do C nos SAFs
5
para compartimentos terrestres de plantas, biota do solo e matéria 
orgânica do solo (MOS). 
Ao considerarmos um SAFs, poderemos compreender a atuação 
do mesmo em três pontos quanto à mitigação das emissões dos GEE e 
consequentes mudanças climáticas: i) Sequestro de C no ecossistema; ii) 
Sequestro de C no solo (na MOS) e iii) Redução das emissões dos GEE.
 2.1 Sequestro de C no ecossistema
Inicialmente, o C-CO2 da atmosfera é fixado no processo de fotossíntese 
(conversão do C-CO2 para C orgânico) e alocado nos diferentes tecidos 
vegetais, constituindo o que denominamos de produção primária bruta 
(PPB) (Figura 1). Uma fração do C é retornada para a atmosfera por 
meio da respiração das plantas, sendo o que permanece na biomassa 
das plantas denominado de produção primária líquida (PPL). Alguns 
microrganismos autotróficos de vida livre (ex: algas) também contribuem 
par a PPL. Por sua vez, a produção secundária líquida (PSL) é o consumo 
da PPL pela fauna e microrganismos. Assim, o estoque permanente de C 
em um ecossistema é denominado de produção líquida do ecossistema 
(PLE) e é definido por: PPB – respiração de organismos autotróficos – 
respiração de organismos heterotróficos (decompositores). 
Figura 1 - Representação esquemática de um Sistema Agroflorestal 
(SAF) com os componentes da produção do ecossistema e alocação de C 
CO2 CO2
CO2
CO2 CO2
CO2
FOTOSSÍNTESE
6CO2 + 6H2O + ENERGIA C6H12O6 + 602Produção primária bruta (PPB): 
C fotossintetizado 
Produção primária líquida 
(PPL): PPB - Respiração de 
organismos autotróficos
Produção secundária líquida 
(PSL): PPL - Consumo pela 
fauna e microbiota do solo
Produção líquida do 
ecossistema (PLE): PPB - 
Respiração de organismos 
autotróficos - Consumo pela 
fauna e microbiota do sol
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Desta forma, os SAFs, por possuírem vários extratos vegetais 
(arbóreos, herbáceos e/ou gramíneos) e um tempo de permanência 
maior quando comparado a sistemas de manejo menos diversificados, 
participam grandemente do sequestro de C pela otimização na produção 
de biomassa vegetal no sistema, expressando uma maior PLE. 
 2.2 Sequestro de C no solo
Quando nos referimos ao sequestro de C no solo em um SAF, temos 
que compreender os processos como uma balança, na qual o sequestro 
de C será alcançado (saldo positivo) quando asentradas de C no solo e 
sua permanência são maiores que as saídas de C (Figura 2). 
Figura 2 - Esquema representativo do sequestro de C no solo similar 
a uma “balança”, em que o sequestro de C no SAF ocorre quando as 
entradas de C são superiores as saídas de C do solo
Nos SAFs, a fonte primária de entrada de C ao solo é via aporte de 
compostos orgânicos derivados de vegetais (Figura 3). A alta diversificação 
de espécies vegetais (principalmente leguminosas e não leguminosas, 
arbóreas, herbáceas e gramíneas) favorece o aporte de materiais vegetais 
em quantidade e qualidade distintas na superfície do solo. Devido à 
senescência natural de folhas, galhos e estruturas reprodutivas, associada 
às podas programadas no sistema, o material aportado é constante e 
diverso.
Saída 
de C
Entrada 
de C
Entrada de C no solo
7
Assim, os diferentes resíduos vegetais aportados na superfície do solo, 
possuindo distintas relações C/N, C/P e C/S (BOX 1), teores de compostos 
solúveis em água, celulose, hemicelulose, pectina, lignina e compostos 
aromáticos irão apresentar padrões de decomposições variados (Berg, 
2014), contribuindo, desse modo, de forma diferenciada para a formação 
da MOS (COTRUFO et al., 2013). Nesse contexto, resíduos vegetais com 
C/N < 20, C/P < 200 e C/S < 200 apresentam uma rápida decomposição 
no solo, enquanto C/N > 30, C/P > 300 e C/S > 200 decompõem mais 
lentamente.
Figura 3 - Representação esquemática de um Sistema Agroflorestal 
(SAF) com os aportes de C no sistema
Além do aporte da superfície do solo, grande contribuição de C via 
compostos orgânicos diversos ocorre mediante atividade dos sistemas 
radiculares no volume de solo imediatamente sobre a influência das 
raízes (Rizosfera; BOX 2). Os SAFs, por constituírem espécies arbóreas e 
herbáceas (com sistema radicular com raiz pivotante e mais profundas) 
e espécies gramíneas (com sistema radicular fasciculado), possibilitam 
que haja uma intensa exploração radicular em diferentes camadas na 
subsuperfície do solo. Por sua vez, a intensa atividade das raízes finas 
(raízes com Ø < 2,0 mm), importantes na absorção de água e nutrientes, 
possui também grande contribuição na liberação de compostos orgânicos 
com distintas finalidades no solo.
CO2 CO2
CO2
CO2 CO2
CO2
FOTOSSÍNTESE
6CO2 + 6H2O + ENERGIA C6H12O6 + 602
Aporte de resíduos de 
parte aérea
FOTOSSÍNTESE
6CO2 + 6H2O + ENERGIA C6H12O6 + 602
Rizodeposições 
(Exsudados, secreções, 
mucilagens e lisados)
8
Os compostos orgânicos liberados pelas plantas compõem parte 
das chamadas “rizodeposições”, as quais são constituídas principalmente 
por exsudados, secreções, mucilagens e lisados (BOX 2). Este aporte 
de C na rizosfera promove uma intensa abundância e diversidade 
de microrganismos nessa região, chegando a possuir quase 30 vezes 
mais microrganismos no solo rizosférico em relação ao não rizosférico 
(KUZYAKOV, 2002).
BOX 1. Você sabe qual a influência da relação C/N, C/P 
e C/S dos resíduos aportados ao solo para a disponibilidade 
de N, P e S no solo?
R. A “Estequiometria” dos nutrientes nos resíduos 
(proporção de C/nutrientes) irá direcionar os processos 
de “mineralização” e “imobilização” desencadeados pelos 
microrganismos do solo. Nesse sentido, os resíduos vegetais 
com relação C/N < 20, C/P < 200 e C/S < 200 (Resíduo de alta 
qualidade) irão favorecer o processo de mineralização por 
atender à demanda microbiana de C/N: 10/1 e apresentar 
um excedente, assim aumentando a disponibilidade dos 
mesmos no solo (Figura 4). No entanto, C/N > 30, WC/P > 
300 e C/S > 200 (Resíduo de baixa qualidade) irão favorecer 
o processo de imobilização, uma vez que o fornecimento de 
N, P e S pelo resíduo não será suficiente para atender à 
demanda dos microrganismos e que os mesmos terão que 
absorver os nutrientes inicialmente disponíveis no solo.
9
Figura 4 - Esquema de mineralização e imobilização de N, P e K
Aumentada Diminuída
Célula 
microbiana
(C/N = 10/11)
O2 Respiração CO2
Resíduo de alta 
qualidade
Resíduo de baixa 
qualidade
NH4+, NO3-,
PO42-, SO42-
Monômeros
Enzimas
extracelulares
Monômeros
Enzimas
extracelulares
Mineralização
líquida
Imobilização
líquida
C/N<20
C/P<200
C/S<200
C/N>30
C/P>300
C/S>200
Fonte: Adaptado de Moreira e Siqueira (2002).
Formação da matéria orgânica do solo (MOS)
Uma vez na superfície do solo ou em subsuperfície, os resíduos 
vegetais e inúmeros rizodepósitos servirão como substrato para uma 
diversidade de organismos vivos. O solo, devido à sua heterogeneidade 
de “microhabitats” (poros de diferentes diâmetros com condições abióticas 
distintas), possibilita que toda uma cadeia trófica esteja presente, sendo a 
mesma alimentada pelos diferentes aportes de compostos orgânicos que 
chegam ao solo e que servem de substratos aos organismos vivos.
10
BOX 2. Você sabe o que Rizosfera?
R. Rizosfera refere-se ao volume de solo adjacente 
às raízes com diferentes propriedades físicas, químicas e 
biológicas e relação ao solo não explorado pelas raízes 
(Figura 5) (FAGERIA; STONE, 2006). Nesse volume de solo, 
inúmeros compostos orgânicos são liberados pelas raízes, 
como exsudados (substâncias de baixo peso molecular, 
principalmente açucares e ácidos orgânicos moleculares), 
secreções (substâncias de elevado peso molecular, 
principalmente carboidratos, lipídios e proteínas), mucilagens 
(recobrem as raízes e são compostos principalmente de 
polissacarídeos e ácidos poligalacturônicos de alto peso 
molecular) e lisados (liberados das células após a autólise, 
composta de descartes celulares).
Figura 5 - Esquema de uma Rizosfera
Fungo Micorrizo Arbuscular
Rizosfera
Nódulo de bactéria
Mucilagem
Ponta da raiz
Células da borda da raiz
Pelo radicular
Fonte: Adaptado de Philippot et al. (2013).
11
Esses indivíduos da fauna do solo atuam principalmente realizando 
um processamento inicial dos resíduos, o qual promove, principalmente, a 
fragmentação física e a redistribuição do C presentes no solo, de maneira 
vertical e horizontal. Posteriormente, a decomposição química/molecular 
será processada pelos microrganismos do solo (comunidades de fungos, 
bactérias e actinobactérias) (Figura 6).
Assim, uma fração do C presente nos compostos orgânicos no solo 
segue diferentes trajetórias ao ser metabolizada por vias anabólicas, 
de construção de biomoléculas ou por vias catabólicas, transformando 
o componente em produtos finais de CO2 e/ou compostos orgânicos 
alterados, os quais serão excretados pelos organismos. Adicionalmente, 
uma fração dos resíduos orgânicos permanece inalterada ou parcialmente 
decomposta no solo.
Figura 6 - Representação esquemática da diversidade biológica do 
solo
CentopéiaColêmboloÁcaroAmebaFungoBactéria
Matéria 
Orgânica Nematoide
Ameba
Nematoide
Bactéria
Ácaro
400 µm
15 µm
100 µm
2 µm
5 mm
500 µm
0.2 µm
2-3 µm
30 µm
Fonte: Adaptado de Erktan et al. (2020).
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Estudos recentes têm demonstrado que sistemas agrícolas que 
apresentam um aporte diversificado de resíduos vegetais (principalmente, 
com diferentes relações C/N e teores de lignina) possuem uma maior 
eficiência de formação da MOS (COTRUFO et al., 2015). Assim, a MOS 
(BOX 3) apresenta duas vias de formação: i) via resíduos microbianos, 
nos quais resíduos de alta qualidade são rapidamente decompostos e o C 
presente nos mesmos é incorporado na biomassa de microrganismos; após 
a sua morte, o C presente nesses “resíduos microbianos” é incorporado 
na MOS (principalmente, na MOS associada aos minerais do solo) e 
ii) via de transferência física, no qual resíduos de lenta decomposição 
(baixa qualidade) tendem a permanecer no sistema por mais tempo e 
gradualmente; ao serem fragmentados, são incorporados à MOS como 
parte da matéria orgânica particulada no solo (COTRUFO et al., 2015). 
Desta forma, os SAFs apresentam grande aporte de resíduos 
diversificados quanto à qualidade, assim desempenhando grande 
eficiência de formação da MOS comparativamente aos sistemasmenos 
diversificados. 
Figura 7 - Representação esquemática de um Sistema Agroflorestal 
(SAF) com os aportes de C no sistema, decomposição dos resíduos vegetais, 
rizodeposições e matéria orgânica do solo (MOS)
CO2
CO2
CO2
CO2 CO2
CO2
Aporte de resíduos de 
parte aérea
Rizodeposições 
(Exsudados, secreções, 
mucilagens e lisados)
N20
CH4
CO2
CO2
CO2
N20
CH4
CO2
CO2
CH4
CO2
N20
Decomposição da MOS
Microrganismos do solo
(Fungos, bactéria, actinobactérias)P S
Ca
Mg
N
Ciclagem de nutrientes
Emissão de GEE para a
atmosfera
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Os diferentes compostos orgânicos presentes na MOS (particulados e 
moleculares) não estão totalmente dissolvidos ou dispersos na solução do 
solo. Na realidade, a maior parte deles está associada aos minerais do solo 
ou oclusa (dentro) dos agregados de diferentes diâmetros do solo. Assim, a 
MOS se acumula (e, consequentemente, o C é estocado no solo) devido à 
atuação dos diferentes “mecanismos de proteção”, como a decomposição 
microbiana (acesso pelos microrganismos). Dentre eles, existe a: i) 
proteção bioquímica, referente à própria dificuldade dos microrganismos 
degradarem os compostos orgânicos de difícil decomposição (baixa 
relação C/N e altos teores de lignina) eu se acumulam no solo; ii) proteção 
química, devido à interação química dos diferentes compostos orgânicos 
moleculares com superfície dos minerais na fração argila do solo (Figura 
8) e iii) proteção física, quando os compostos orgânicos (principalmente 
os particulados) se apresentam no interior dos agregados do solo, 
restringindo fisicamente o acesso dos microrganismos.
Figura 8 - Representação da proteção química da matéria orgânica 
do solo, no qual compostos orgânicos interagem quimicamente com os 
minerais na fração argila
Fonte: Adaptado de Leinweber e Schulten (1999).
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O entendimento desses mecanismos de proteção é extremamente 
importante quando desejamos estocar o C no solo. Em solos arenosos, 
onde os teores de argila no são menores, naturalmente apresentam baixa 
capacidade de estocar C por possuírem limitada capacidade de proteger 
quimicamente a MOS. Consequentemente, também possuem limitada 
capacidade de proteger fisicamente a MOS, pois os teores de argilas são 
essenciais para a formação de agregados juntamente com a própria MOS.
BOX 3. O que é matéria orgânica do solo?
R. A matéria orgânica do solo (MOS) consiste em um 
continuum de compostos orgânicos em diferentes estágios 
das reações de decomposição, desde uma matéria orgânica 
particulada até os compostos moleculares. As moléculas 
mais simples podem formar conjuntos aleatórios, que 
chamamos de “estruturas supramoleculares” (LEHMANN; 
KLEBER, 2015).
Figura 9 - Esquema representativo dos componentes da matéria 
orgânica do solo
15
Saídas de C do solo
 Uma vez presente no solo na forma de MOS, o C poderá ser 
perdido e retornar novamente à atmosfera pelos diferentes estímulos à 
decomposição (Figura 9). O principal fator que favorece a perda de C 
do solo deve-se às práticas de manejo que promovem a mobilização do 
solo e a consequente quebra dos agregados (remoção da proteção física 
da MOS). Este fato possibilita a exposição da MOS incialmente protegida 
no interior dos agregados a condições que favorecem a decomposição 
microbiana. Assim, devido aos SAFs não incluírem práticas de manejo 
do solo que promovam a mobilização do mesmo, eles atuam reduzindo 
grandemente as perdas de MOS. Ocasionalmente, devido às raízes, 
microrganismos e animais do solo consumirem O2, somados às restrições 
físicas no solo para a difusão do O2, é comum encontrar concentrações de 
O2 no solo variando de completamente aeróbio (oxic), com baixos níveis 
(hypoxic), a completamente anaeróbio (anoxic) em distâncias de < 1 mm. 
Nesse sentido, é importante lembrarmos que o solo possui agregados 
de diferentes tamanhos que pode também apresentar “microsítios” 
preenchidos por ar ou água, e, portando, com diferentes concentrações 
de O2; este fato explica encontrarmos, muitas vezes, bactérias produzindo 
N2O e CH4 de forma anaeróbia em um solo bem aerado (oxic). 
No entanto, solos, quando manejados de forma inadequada, 
podem proporcionar a degradação do mesmo com variados níveis de 
compactação. Neste caso, a restrição de oxigenação, somada à baixa 
permeabilidade da água no perfil do solo, intensifica a produção de 
N2O e CH4 quando há disponibilidade do acesso microbiano à MOS. 
Nos SAFs, no entanto, esse processo é drasticamente reduzido devido ao 
manejo favorecer uma maior estruturação e aeração ao solo dada a não 
mobilização, que é associada ao elevado aporte de resíduos orgânicos 
diversos que favorecem a formação da MOS.
Adicionalmente, a inclusão de espécies leguminosas nos SAFs com 
o manejo dos resíduos e de podas programadas garante um uso mais 
eficiente do N no sistema. Cumpre lembrar que os processos de nitrificação 
e desnitrificação são os principais responsáveis pelas emissões de N2O 
na agricultura, os quais são altamente dependentes da disponibilidade 
de nitrogênio (N), oxigênio (O2), umidade, temperatura do solo e do ar. A 
nitrificação ocorre em condições aeróbias e a desnitrificação em condições 
anaeróbias ( JANTALIA et al., 2006). Nesse âmbito, fontes minerais de 
fertilizantes nitrogenados utilizados na agricultura contribuem fortemente 
16
para as emissões de N2O para a atmosfera, sendo suas contribuições 
variáveis de acordo com as fontes, doses, épocas e forma de aplicação 
ao solo. 
No entanto, ao utilizarmos o manejo de resíduos de plantas 
leguminosas, conseguimos reduzir a utilização de fertilizantes nitrogenados 
minerais de forma que a disponibilização do N pelos resíduos irá ocorrer 
de forma mais gradual, assim promovendo uma potencial redução das 
emissões de N2O. No entanto, alguns estudos demonstram que solos 
manejados com culturas de leguminosas podem apresentar maiores 
emissões de N2O comparativamente aos solos manejados com culturas 
de não-leguminosas devido à maior disponibilidade de N no sistema 
quando há disponibilidade ótima de umidade e temperatura (GOMES 
et al., 2009). Entretanto, os mesmos autores sinalizam a necessidade 
de sincronização da decomposição dos resíduos de leguminosas (com 
consequente mineralização do N) com a demanda da planta ao longo do 
seu crescimento, o que se constitui estratégia primordial nos SAFs como 
nos sistemas de árvores com culturas anuais (Figura 10).
Figura 10 - Representação esquemática de um SAF composto por 
árvores leguminosas (Leucena) em faixas e culturas anuais
Fonte: Adaptado de Franco et al. (2015).
17
Adicionalmente, os SAFs, comparados a outros sistemas de manejos, 
privilegiam a deposição de resíduos sobre a superfície do solo, enquanto 
outros sistemas que utilizam plantas de cobertura tendem a incorporar os 
materiais ou também a deixa-los sobre a superfície do mesmo. No entanto, 
ao incorporar os resíduos de leguminosas há um expressivo aumento na 
decomposição e nas emissões de N2O para a atmosfera (ZSCHORNACK 
et al., 2011), fato pouco observado ou, pelo menos, observado em menor 
intensidade nos SAFs.
Considerações finais
Por que os Sistemas Agroflorestais (SAFs) possuem um grande potencial 
de redução das emissões de GEE e, consequente, ação mitigadora das 
mudanças climáticas?
i) Promovem o sequestro (estocagem) de C na biomassa vegetal 
altamente otimizada no sistema;
ii) Promovem o sequestro (estocagem) de C no solo devido ao alto 
aporte de C advindo de resíduos vegetais, associado a uma diversificação 
de resíduos (baixa e alta qualidade) que garante uma elevada atividade 
biológica, além de mais eficiente formação de matéria orgânica do solo 
em superfície e subsuperfície;
iii) Reduzem as emissões dos GEE (CO2, CH4 e N2O) devido à baixa 
mobilização do solo e utilização de fontes nitrogenadas minerais.
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Referências
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