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CURSO DE EXTENSÃO Introdução SAFs em Regiões Semiáridas Histórico, abrangência e características gerais em Regiões Semiáridas Daniel Duarte Pereira 2 CURSO DE EXTENSÃO – SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM REGIÕES SEMIÁRIDAS FICHA TÉCNICA Realização: Projeto AKSAAM – Adaptando Conhecimento para a Agricultura Sustentável e o Acesso a Mercados, Instituto de Políticas Públicas e Desenvol- vimento Sustentável - IPPDS/UFV, Fundação Arthur Bernardes - FUNARBE e Universidade Federal de Viçosa - UFV. Financiamento: Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola - FIDA Coordenador projeto AKSAAM: Marcelo José Braga Coordenadores curso: Ricardo Henrique Silva Santos e Alex Carlos Silva Pi- mentel Autor: Daniel Duarte Pereira Layout: Adriana Helena de Almeida Freitas Diagramação: Bárbara Elen Sampaio Revisão linguística: Cinthia Maritz dos Santos Ferraz Machado 3 Fauno, Flora, Hidra e Terro são jovens que moram em uma comunidade rural do Semiárido Brasileiro. Eles têm uma professora muito aplicada e muito preocupada em explicar a origem de tudo!!! O nome dela é Dona Fida. Capítulo 01 - Semiárido Região Certa vez, Dona Fida apresentou para eles um mapa que eles acharam estranho, pois só conheciam além do Mapa Mundial, o Mapa do Brasil e das suas regiões geográficas. Fonte: Adaptado de IBGE (2002a) Fonte: Adaptado de IBGE (2022b) SAFs no Semiárido: Histórico, abrangência e características gerais 1 Conferir: IBGE (2022a). Atlas Escolar. Planisfério Político. https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/ mapas_mundo/mundo_planisferio_politico_a3.pdf; 2 Conferi: IBGE (2022b). Atlas Escolar. Mapas do Brasil. Político. https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/ atlas/mapas_brasil/brasil_politico.pdf; 4 Ela disse que era o Mapa da Região Semiárida – RSA ou do Semiárido Brasileiro – SAB. E que o SAB não era uma região geográfica, mas, sim, mais uma região administrativa e de planejamento. No Passado foi conhecido como Polígono das Secas, que surgiu em 1936, depois do grande episódio da Seca de 1930/32, também conhecido como a “Fome de 30”. Foram tantas perdas de vidas de pessoas e animais, tantos prejuízos para as zonas rurais e urbanas, que o Governo Federal, através do Ministério de Viação e Obras Públicas – MVOP e da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS, teve que tomar uma iniciativa para que as pessoas continuassem vivendo na região e não procurassem as grandes cidades ou emigrassem caso existissem outras secas posteriormente. Eram tantos flagelados que se criaram até Campos de Concentração para abrigar as pessoas – o que nem sempre deu certo… Fonte: Sudene (2021) 3 Conferir: Sudene (2021). DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO - 2021 RELATÓRIO FINAL.. https://www.gov.br/ sudene/pt-br/centrais-de-conteudo/02semiaridorelatorionv.pdf. O Polígono das Secas abrangia, a princípio, parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. O nome Polígono se deveu ao fato de a delimitação lembrar uma figura geométrica, quase um retângulo, com 672.281,98 km². 5 Então, Dona Fida aproveitou para perguntar às crianças se lembravam das aulas e lições de Geometria. Elas responderam: – Sim, Professora!!! Regiões Secas do Nordeste do Engenheiro Saturnino de Britto Junior. 1936 Fonte: Ferreira et al (2012)4 4Conferir: FERREIRA, Angela Lúcia; DANTAS, George Alexandre Ferreira; SIMONINI, Yuri. Cartografi a do (De) Sertão do Brasil: Notas sobre uma imagem em formação Séculos XIX e XX. Scripta Nova, Barcelona, v. 16, n. 418, p. 69, 2012. http://www.ub.edu/geocrit/coloquio2012/actas/16-A-Ferreira.pdf. – E de Matemática, se lembram dos cálculos de medidas? – Perguntou Dona Fida. – Lembro sim, Professora!!! –Respondeu Flora. Então a Professora perguntou mais uma vez: – Flora, quantos hectares (ha) tem 1,0 km²? – Professora, nas lições eu aprendi que 1,0 km² tem 1.000 m de cada lado. E 1,0 ha tem 100,0 m de cada lado. Logo 1,0 km tem dez divisões de 100,0 m de cada lado. E 1,0 km² vai ter estas divisões de cada lado, o que significa 10 divisões de 100,0 m por lado que multiplicados vai ser 10 x 10 = 100. Então, 1,0 km² tem 100,0 ha. – Respondeu Flora. 6 – Muito bem, Flora!!! A professora prosseguiu, perguntando a Terro: – Quantos hectares tinha então o Polígono das Secas em 1936? Terro respondeu: – Professora, se o Polígono tinha 672.281,98 km², a conta pode ser feita assim: 1,0 km² = 100,0 ha 672.281,98 km². = X ha Logo: X = 672.281,98 x 100/1,0 Onde: X= 67.228. 198,0 ha. Dona Fida continuou: – É muita terra, não é Fauno? Fauno aproveitou e disse: – Sim!!! Por exemplo, a nossa a Comunidade toda só tem 500,0 ha... Na sequência, Dona Fida disse que depois, em 1946, o Polígono das Secas mudou com a inclusão de parte do estado de Minas Gerais e que, em 1951, já apresentava novo formato. Fonte: Dantas (2019)5 Hidra, que é muito curiosa e passou a gostar dos mapas, perguntou: – Professora, como era que os estados, ou parte deles, eram incluídos no Polígono das Secas? Dona Fida respondeu: – Hidra, não havia um processo muito claro. Geralmente, eram relatos periódicos de áreas fortemente atingidas pelas secas, o que fazia com que elas fossem incluídas, ou mesmo critérios políticos... 5Conferir: DANTAS, Eustogio Wanderley Correia. O Nordeste desconstruído ou reconstruído?. Confi ns. Revue franco-brésilienne de géographie/Revista franco-brasilera de geografi a, n. 501, 2019. https:// journals.openedition.org/confi ns/21089. 7 Fonte: Carvalho e Egler (2002)7 A Professora explicou que, em 1988, com a nova Constituição Federal – CF, é que a palavra Semiárido, hoje com a grafia Semiárido, passou a ser mais utilizada e em 1989 realmente ocorreu uma delimitação técnica considerando incluído na Região todo e qualquer município onde a precipitação média fosse igual ou inferior a 800 mm nos últimos 30 anos. Daí foram incluídos 1.033 municípios, desde o Piauí até Minas Gerais. O Semiárido tinha, então, 1.085.187 km²6 ou 108.518.700,0 ha. Hidra perguntou: – Professora, o que é precipitação? E o que é 800 mm? Dona Fida respondeu: – Mas logo você perguntando, Hidra? Vamos lá!!! Precipitação é a mesma coisa que chuva. Pode ser entendida também como a quantidade de chuva que cai em um determinado local durante um certo tempo. Geralmente, se usa um tempo de 30 anos para se ter a certeza de que a média de precipitação daquele local realmente é aquela. 6Conferir: CARVALHO, Luzineide Dourado. Um sentido de pertencimento ao território semiárido brasileiro: a ressignifi cação da territorialidade sertaneja pela convivência. Revista de Geografi a (Recife), v. 28, n. 2, p. 60-76, 2011. https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistageografi a/article/viewFile/228949/23359; 7Conferir: DE CARVALHO, Otamar. Alternativas de desenvolvimento para o Nordeste semi-árido. Banco do Nordeste do Brasil, 2003. https://www.academia.edu/26832552/Alternativas_de_Desenvolvimento_ para_o_Nordeste_Semiarido. 8 Fonte: IRPAA (2010) 8 8Conferir: Cardoso, W. IRPAA. IRPAA. Laboratórios preveem chuvas próximas da média para o Semiárido em 2020 https://irpaa.org/noticias/2156/laboratorios-preveem-chuvas-proximas-da-media-para-o- semiarido-em-2020. E perguntou: – Vocês lembram do que é média, não é? As crianças responderam: – Sim!!! Fauno disse: – Se eu tenho, por exemplo, em 30 anos anotados 10.000 mm de chuvas, isto significa que em cada ano existe uma possibilidade de chover em média 333,33 mm. Dona Fida respondeu: – Muito bem, Fauno! Embora para precipitações o cálculo seja mais complexo, é mais ou menos por aí. Pois bem, disse a Professora. Vamos tentar continuar respondendo à Hidra. Entendido o que é precipitação, e como se faz, mais ou menos, o cálculo da média, vamos chegar aos 800 mm. Para isto, ela pegou um quadradocom 1,0 m de cada lado e o colocou no chão. Aí ela perguntou: – Quantos metros quadrados há aqui? Desta vez foi Flora que respondeu: – 1,0 m², pois é só multiplicar a base pela altura. Logo, 1,0 m de base vezes 1,0 m de altura vai ser igual a 1,0 m x 1,0 m ou 1,0 m². – Muito bem, Flora! – Respondeu Dona Fida. 9 – Ah! É isto mesmo! – Lembrou Fauno. Mas Flora perguntou: – E como eu sei que tem 800,0 litros em cada m²? – Simples! – Disse Terro: – Considere que um recipiente tem 1,0 m, ou 100,0 cm de comprimento de um lado da base, 1,0 m de largura do outro lado da base e que tem 80,0 cm ou 0,80 m de altura. A fórmula para calcular o volume de um recipiente como este é Volume = Largura x Comprimento x Altura. Logo, vamos ter V = 1,0 x 1,0 x 0,80 = 0,80 m³. – Agora, prestem bastante atenção!!! Quando se diz que choveu 800 mm, significa que, ao longo do ano cada metro quadrado de solo do Semiárido recebeu em cima dele 800 litros de água. Hidra disse: – Professora, disto aí eu entendo, pois ajudei a fazer a uma cisterna na minha casa e a calcular o volume de água. Eu aprendi que, em cada metro quadrado, cada centímetro de altura de água é igual a 100,0 litros (l) de água. Logo 10,0 cm é igual a 100,0 litros; 50,0 cm é igual a 500 litros e, portanto, 80,0 cm é igual a 800 litros. Mas Fauno ficou meio sem entender e perguntou: – Mas o que tem a ver 80,0 cm com 800,0 mm? Hidra respondeu: – É fácil!!! Se lembra daquelas réguas que nós usamos? Elas são divididas em centímetros (cm) que, por sua vez, são divididos em milímetros (mm), onde 1,0 cm tem 10,0 mm. Logo 80,0 cm tem 800,0 m. 10 – Sabemos, pelas lições dadas por Dona Fida, que 1,0 m³ tem 1.000 litros. Logo, 0,80 m³ terão 800 litros. Dona Fida, muito orgulhosa, disse: – Muito bem, crianças!!! Como vocês aprendem corretamente e já estão usando o aprendizado em casa e em várias situações! Isso se chama Educação Contextualizada!!! Continuando, ela disse: – Pois é, crianças! Já aprenderam, ou lembraram, o que significa 800 mm de chuva e o quanto isto significa em m³ ou litros de água em cada m² do Semiárido. Diga-se, de passagem, que 800,0 mm não é pouca água!!! Se bem que em toda a Região, e nem em todos os lugares, chove tanto assim. Existem alguns lugares onde chove 500,00 mm por ano; 300,0 mm por ano ou mesmo 250,0 mm por ano, o que matematicamente não é pouco. Imaginem 250 litros de água em cada m²!!! Daria para as plantas nativas, animais, pessoas e lavouras. Flora disse: – Professora, se eu dividir, por exemplo, 800 mm pelos 12 meses do ano, eu vou ter 66,66 mm/mês ou 66,66 litros em cada m². Paisagem do Semiárido/Caatinga. Camalaú. Cariri Paraibano. Fonte: Acervo do autor Dona Fida disse: – A conta ainda é melhor do que esta, Flora, pois em muitas regiões do Semiárido as chuvas se concentram praticamente em quatro meses ou “quadra invernosa”. Portanto, se dividíssemos 800 mm por 4 meses, teríamos 200 mm por mês ou 200 litros de água em cada m². E, melhor ainda, teríamos 200 mm divididos por 30 dias e 6,6 litros por m² todo dia, o que é uma boa quantidade de água. Mas aí Hidra disse: – Professora, mas por qual motivo somos tão secos como se diz por aí? Terro disse: – Ouvi dizer que é pelo fato de que as nossas terras/solos são jovens e rasas... 11 Paisagem do Semiárido/Caatinga. Sumé. Cariri Paraibano. Fonte: Acervo do autor – Por isso que, sabiamente, aqui na Comunidade muitos proprietários deixam a mata nativa para fornecer madeira, forragem, produtos medicinais, mel, lenha… Tem alguns até que estão replantando árvores nativas misturadas com espécies de fora (exóticas) produtoras de alimentos e forragem, ou utilizando a própria mata nativa para fazer o enriquecimento dela com espécies nativas ou de fora. Flora disse: – Também ouvi dizer que em muitos locais já não temos tantas matas para funcionarem como “esponjas” para ajudar a água a entrar na terra e a permanecer mais tempo lá. Dona Fida disse: – É um pouco de tudo isso!!! Primeiro, é fato que as precipitações do Semiárido não são muito bem distribuídas ao longo dos dias, meses e anos. Há locais em que a precipitação média anual é de 500,0 mm ano e só em um dia podem ser precipitados cerca de 100,0m. Ou seja, 20% da precipitação de um ano cai em um só dia!!! A Professora continua: – O que é um verdadeiro desastre, pois, como disse Flora, em muitos lugares, a vegetação nativa, mesmo não mexida, não oferece tanta proteção e, em outros, ela já foi muito explorada ou nem existe mais. Isto faz com que os solos jovens, como disse Terro, não possam absorver e guardar tanta água. 12 Mata de Caatinga SAF produzindo com frutas nativas, Cajá, na caatinga sergipana Fonte: SBF (2012)9 Fonte: Instituto Paêbiru (s.d.)10 9Conferir: SBF. 2012. Fundos ambientais fomentam uso sustentável para conservar caatinga https://www. fl orestal.gov.br/ultimas-noticias/933-fundos-ambientais-fomentam-uso-sustentavel-para-conservar- caatinga; 10Conferir: Instituto Paêbirú. Agrofl oresta Experimental Paêbirú. SAF produzindo frutas na caatinga sergipana.https://institutopaebiru.wordpress.com/2014/12/16/saf-produzindo-frutas-na-caatinga- sergipana/. – Assim, quando a chuva vem, ela encontra o solo protegido pelas copas das árvores, pelas folhas caídas no solo e, assim, ela tem tempo de se infiltrar e, graças à cobertura das folhas e das copas, permanecer mais tempo “guardada” no solo. – E muitos já estão usando uma técnica chamada Sistemas Agroflorestais – SAFs, por meio da qual recuperam áreas que foram de agricultura e de pastagem plantando árvores nativas e de fora, misturadas com frutíferas, capins e cactos para que os locais que estavam quase virando “desertos” possam voltar a produzir com maior diversidade de plantas e de funções, como alimentar, forrageira, medicinal, energética, conservação do solo e da água. E tantas outras coisas mais. 13 – Mas quero dizer que moramos em um local onde existe muita insolação e ventos rápidos e quentes. Isto significa que o sol, “trabalhando” 12 horas por dia, e os ventos, 24 horas por dia, carregam boa parte da umidade do solo e fazem com que as plantas nativas e as de fora transpirem mais e percam mais água. E concluiu: – Isto se chama Evapotranspiração!!! Hidra perguntou: – Evapotranspiração? O que é isso? Então, Dona Fida explicou: – Vamos imaginar que, em um determinado local, sejam precipitados 500 mm. E que neste mesmo local o vento e sol poderiam, se tivesse chovido, “carregar” 1.500 mm. Hidra disse: – E pode? Chover 500 mm e “perder” 1.500 mm? Dona Fida disse – Gostei do “perder”!!! Isto significa que potencialmente, se tivesse chovido 1.500 mm, isto seria perdido pela ação do sol e dos ventos. Claro que parte ficaria no solo, nos reservatórios e nas plantas e animais. Mas, potencialmente, isto poderia acontecer. – A isto nós chamamos de Evapotranspiração em potencial. Ou seja, caso chovesse 1.500 mm, potencialmente poderíamos perdê-los quase que totalmente. Entenderam? Ciclo da água no mundo e os seus estoques Fonte: Aduan et al. (2004)11 11Conferir: ADUAN, R. Engel; VILELA, M. de F.; DOS REIS JÚNIOR, F. B. Os grandes ciclos biogeoquímicos do planeta. Embrapa Cerrados-Documentos (INFOTECA-E), 2004.https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/ infoteca/handle/doc/569371. 14 Fonte: Conama (1997)12 12Conferir. CONAMA.RESOLUÇÃO nº 238, de 22 de dezembro de 1997. Dispõe sobre a aprovação da Política Nacional de Controle da Desertifi cação. http://extwprlegs1.fao.org/docs/pdf/bra173490.pdf. – Entendi! – Respondeu Hidra. – Mas o que isso tem a ver com a nossa aula, Professora? – Perguntou Terro. – Tudo!!! Para entender o Semiárido Região, primeiro é preciso entender que existe um limite de 800 mm de Precipitação Média Anual para um município ser enquadrado nele. Este é o Primeiro Critério e que existe desde 1989. O Segundo critério é o Índice de Aridez (IA)!!! – Índice de Aridez? – Perguntou Fauno, queestava muito caladinho. – Sim!!! O Índice de Aridez é muito utilizado para classificar determinadas regiões com relação à Aridez ou ao potencial da mesma ser mais seca ou não. É mais ou menos isto! – Disse Dona Fida. – O IA pode variar de ≤ 0,05 a > 1,00. E assim escreveu no quadro: – Como vocês podem ver, para sermos Semiárido, o IA tem que estar entre > 0,2 e ≤ 0,5. – E como se calcula isto, Professora? – Perguntou Fauno. – Um dos cálculos mais simples é dividir a Precipitação pela Evapotranspiração em Potencial de cada local. Assim, se em um local chove 500 mm e evapotranspira 1.500 mm, o IA vai ser igual a 0,33. Portanto, este local está em uma classificação climática de Semiárido. – Não é simples?! – Comentou Dona Fida. – Sim!!! Responderam as crianças. Dona Fida, então, disse: – Resumindo até agora, se um município, por exemplo, apresentar 500 mm de Precipitação Média Anual e um IA de 0,33, ele será considerado como pertencente à Região Semiárida. Mas, vejam bem, em alguns casos, o município pode estar enquadrado em um ou outro critério e não necessariamente nos dois. Mas, continuando, ainda tem outro critério!!! – Qual? – Perguntou Flora. 15 – Trata-se do Percentual Diário de Déficit Hídrico Igual ou Superior a 60%, considerando todos os dias do ano!!! – Eita!!! Desta vez não entendemos, Professora!!! – Assim disseram Flora, Fauno, Terro e Hidra de uma vez só! – Calma!!! Não é tão difícil! – Tranquilizou Dona Fida, que continuou explicando: – Quantos dias tem um ano? Perguntou. – 365, se não for bissexto!!! – Responderam. – Pois bem! Lembram dos cálculos de regra de três e de percentagem? – Lembramos sim! Inclusive, já utilizamos em alguns exemplos nesta aula! –Responderam. – Vamos fazer a seguinte conta: 365 dias = 100% dos dias do ano X dias = 60% dos dias do ano Logo X dias = 365 x 60/100, que é igual a 219 dias. – Isto quer dizer que, se for provado que, dos 365 dias do ano, 219 dias foram secos, então o município está enquadrado no critério Percentual Diário de Déficit Hídrico Igual ou Superior a 60%, considerando todos os dias do ano. Claro que também isto tem que ser observado ao longo de vários anos para se ter uma média. Esta é a melhor forma para se entender, embora existam cálculos mais complicados. Hidra então perguntou: – Tem que ser os 219 dias seguidos, Professora? – Não! – Respondeu Dona Fida. – Podem ser dias ou meses alternados ou não. Flora então perguntou: – Quer dizer, Professora, que todo e qualquer município do Brasil que se enquadrar em um ou mais dos critérios Precipitação Anual Média ≤ 800 mm; IA ≤ 0,50 e ≥ 60% dos dias do ano secos será considerado da Região Semiárida? – Isto mesmo, Flora! – Respondeu Dona Fida. – E digo mais!!! De 1989 até 2005, o critério único era o da Precipitação. Em 2005 foram acrescentados o IA e os 60%. Daí, o Semiárido, que tinha 1.033 municípios e 1.085.187 km², passou a ter 1.135 municípios e 980.133,079 km², incluindo partes dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. 16 Fonte: Instituto Humanitas Unisinos (2019)13 Portanto, partes de estados e de duas Regiões Geográficas Nordeste e Sudeste. Aí o mapa passou a ser este: – Ficou decidido, também, que a cada 10 anos, mais ou menos, haveria uma revisão sobre a Região, pois, em 2005, se trabalhava principalmente com dados de 1975 para Precipitação e de 1985 para Evapotranspiração e Dias Secos. E que, em 2015, deveria se trabalhar com dados a partir de 1985 e assim sucessivamente. Terro então perguntou: – Quer dizer, professora, que a Região Semiárida vai mudar sempre? – Sim! – Respondeu Dona Fida. – A partir do Polígono das Secas de 1936 tivemos mudanças em 1946, 1951, 1989, 2005 e, mais recentemente, em 2017, pois não deu para fazer a atualização em 2015. 13Conferir: Instituto Humanitas Unisinos. 2019. O ainda desconhecido Semiárido brasileiro. https://www. ihu.unisinos.br/78-noticias/592171-o-ainda-desconhecido-semiarido-brasileiro. 17 – Em 2017 a Região Semiárida além de incluir parte do estado do Maranhão continuou a incluir partes dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais e parte das Regiões Nordeste e Sudeste. Isto fez com que houvesse 1.262 municípios e a área passasse a ser de 1.128.697,40 km². Conforme consta no mapa abaixo. Fonte: Sudene (2017)14 14Conferir: Sudene. 2017. DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO. http://antigo.sudene.gov.br/images/arquivos/ semiarido/arquivos/mapa-semiarido-1262municipios-Sudene.pdf. – Puxa, Professora...! Que viagem no tempo e na História!!! – Disse Fauno. – Com certeza, Fauno. Muita gente acha que o Semiárido é mais uma Região Geográfica do Brasil e que é apenas no Nordeste. E o pior: acham que todo o Nordeste é Semiárido. – Mas vocês já viram que o Semiárido está no Nordeste e no Sudeste, e que só ocupa parte dos estados e nunca toda a área destes estados. 18 Fonte: Sudene (2017)15 15Conferir: Sudene. 2021. Sudene (2021). DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO - 2021 RELATÓRIO FINAL. https:// www.gov.br/sudene/pt-br/centrais-de-conteudo/02semiaridorelatorionv.pdf. – Recentemente, em dezembro de 2021, houve nova delimitação. A Região Semiárida passou a ter 1.322.680,27 km² e 1.427 municípios. Além de incluir partes dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais e parte das Regiões Nordeste e Sudeste, a grande novidade foi a inserção de parte do estado do Espírito Santo. – Sim, Professora! – Responderam todos. – Pois na próxima aula continuaremos com o Semiárido Clima. Até mais!!! 19 Capítulo 02 - Semiárido e o Clima para Sistemas Agrofl orestais I Estava um dia muito “abafado” e Fauno, Flora, Hidra e Terro reclamavam como o tempo estava quente. Aí Dona Fida aproveitou para começar com o tema do dia: O Semiárido Clima! Primeiro, ela disse que existia uma diferença entre Tempo e Clima. Aí Terro disse: – Pois eu pensava que era a mesma coisa! – Não, não é! – disse Dona Fida. – Quando se diz Tempo, na verdade, está se referindo a uma situação de momento: “O tempo está quente!”. “O tempo está frio!” Isto pode durar minutos, horas ou alguns dias. – Mas quando se diz Clima significa que é mais duradouro. Décadas, séculos, milênios!!! Por exemplo, temos o Clima Semiárido, que é muito antigo!!! – Antigo como, Professora? – Perguntou Fauno. – Ah! Para entender o Clima Semiárido, temos que fazer uma viagem no tempo!!! – Oba! Viagem no tempo!!! Vai ser legal!!! Responderam as crianças. – Pois bem, disse Dona Fida, lembram-se daquela figura que eu mostrei para vocês? Aquela em que os continentes da Terra nem sempre foram os mesmos? – Lembramos!!! – Vou mostrar de novo. Vejam como nós éramos há cerca de 280 milhões de anos (280 Ma). – Eita, Professora! Então, nós éramos “irmãos” da África? – Perguntou Terro. SAFs no Semiárido: Histórico, abrangência e características gerais 20 Fonte: Vilallonga (2013)¹ – Mais ou menos isto, Terro. Na verdade, nos mapas atuais dá para ver que a costa do Brasil se encaixava perfeitamente na costa africana. Naquela época, havia apenas um Supercontinente denominado Pangea/ Pangeia, que vem do grego e significa Pan = Todo; e Geia = Terra. Ou seja, Toda a Terra. Fonte: Vilallonga (2013)² – Eu já expliquei também que a Terra é formada por placas tectônicas e que elas, vez por outra, “acordam” e provocam terremotos, erupções vulcânicas, maremotos etc. 1Conferir: VILALLONGA, Filipa Andrade Santos Robalo. Análise de proveniência sedimentar das bacias de carbónico e do triásico do SW de Portugal (Alentejo e Algarve): contributo para o conhecimento dos processos de formação e fragmentação do supercontinente Pangeia. 2013. https://dspace.uevora.pt/ rdpc/handle/10174/16319 2Conferir: VILALLONGA, Filipa Andrade Santos Robalo. Análise de proveniência sedimentar das bacias de carbónico e do triásico do SWde Portugal (Alentejo e Algarve): contributo para o conhecimento dos processos de formação e fragmentação do supercontinente Pangeia. 2013. https://dspace.uevora.pt/ rdpc/handle/10174/16319 21 Fonte: IBGE (2022)³ 3Conferir: IBGE (2022). Atlas Escolar. A Terra. Formação dos Continentes. https://atlasescolar.ibge.gov. br/a-terra/formacao-dos-continentes; 4Conferir: IBGE (2022). Atlas Escolar. A Terra. Formação dos Continentes. https://atlasescolar.ibge.gov. br/a-terra/formacao-dos-continentes – Pois não é que mais ou menos entre 145 e 135 milhões de anos algumas delas, ou todas, “acordaram” e aí houve uma das muitas grandes modificações da Terra! Fonte: IBGE (2022)4 – Certo, Professora, mas onde está o clima nesta história? – Perguntou Hidra. – Muito bem, Hidra! Nesta história nos interessa justamente este período entre 145 e 135 milhões de anos. Foi aí que começou a Semiaridez. Foi quando a América do Sul se separou da África e quando se começou a formar o Oceano Atlântico Sul. Isto se chamou Deriva Continental. 22 Fonte: Souza et al (2001 )5 Esta Deriva Continental fez com que parte do Brasil, e consequente- mente o que hoje denominamos de Região Semiárida, ficasse próxima à linha do Equador, que é uma das áreas que recebe mais luminosidade no mundo e, portanto, tende a ser mais quente. É a chamada Zona Tropical ou Intertropical. Fonte: IBGE (2022)6 – Mas isto só justifica a Semi, Semu... como é mesmo o nome? – Perguntou Flora. – É Semiaridez, Flora! Disse Dona Fida. Não! Não justifica. É preciso que se entenda que foi aí que começou parte da Semiaridez. – Por exemplo, além de se situar nesta área mais iluminada e mais quente, a futura Região Semiárida também ficou quase toda “cercada” de elevações do tipo serras, serrotes, chapadas, planaltos… Vejam na imagem abaixo para o Semiárido de 2017. Quanto mais escuro, mais alto. Quanto mais claro, mais baixo. 5Conferir: SOUZA, G. C.; OLIVEIRA, K. C.; CERQUEIRA, Mílvia Oliveira. Inselbergs e sua gênese no semi- árido Baiano. VIII Encontro Baiano de Geografi a. Bahia, Brasil: Vitória da Conquista, p. 1-15, 2011. https:// docplayer.com.br/1385208-Inselbergs-e-sua-genese-no-semi-arido-baiano.html; 6Conferir: IBGE (2022). Atlas Escolar. Mapas. Temperatura. https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/ mapas_mundo/mundo_temperatura.pdf 23 – Isto faz com que os ventos e as nuvens carregadas de umidade, vindos do Oceano Atlântico e mesmo do Continente, como da Região Amazônica, passassem a encontrar barreiras… São conhecidas pelo menos três mecanismos destes “barramentos” e destas chuvas chamadas orográficas, de montanhas ou de elevações. Fonte: Alves (2019) 7 Mecanismo de Autoconversão Mecanismo Seeder-Feeder Mecanismo de Convecção Disparada Fonte: Cândido e Nunes (2008)8 – Vocês já notaram como por detrás daquela serra chove mais e a vegetação é mais verde e mais diferente? – Sim! –Responderam Hidra e Flora. – Inclusive a parte que mais chove está virada para o mar... – E até os solos são mais profundos...? ⁷Conferir: ALVES, Grace Bungenstab (2019) A formação das paisagens sertanejas no tempo e no espaço.https://www.researchgate.net/profi le/Grace-Alves/publication/334045556_A_formacao_das_ paisagens_Sertanejas_no_tempo_e_no_espaco/links/5ef52d24a6fdcc4ca431004e/A-formacao-das- paisagens-Sertanejas-no-tempo-e-no-espaco.pdf; 8Conferir:CÂNDIDO, Daniel Henrique; NUNES, Lucí Hidalgo. Infl uência da orografi a na precipitação da área entre o vale do rio Tietê e a Serra da Mantiqueira. GEOUSP Espaço e Tempo (Online), v. 12, n. 1, p. 08-27, 2008. https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/74094 24 ⁹Conferir: PELEJA, José Reinaldo Pacheco; MOURA, José Mauro Sousa. A FORMAÇÃO GEOLÓGICA DA AMAZÔNIA: UMA VISÃO ELEMENTAR. ESTUDOS INTEGRATIVOS DA AMAZÔNIA-EIA, p. 57.http://rosepepe. com.br/acquerello/wp-content/uploads/2016/02/Livro_EIA_1.pdf#page=58 10Conferir:BORSATO, Victor da Assunção; MASSOQUIM, Nair Glória. Os movimentos, as áreas de atuação e as propriedades das massas de ar no Brasil. Revista de Geografia, Meio Ambiente e Ensino, v. 11, n. 1, p. 27-56, 2020. http://www.fecilcam.br/revista/index.php/geomae/article/viewFile/2201/pdf_377 – Sim! – Respondeu Terro. – Agora vamos somar! Insolação Maior + Orografia + Ventos Secos = Semiaridez? – Parece que sim! – Responderam todos. – É... nem tudo que parece é!!! – Disse Dona Fida. – Vejam: apenas isto não é suficiente para explicar a Semiaridez. – E agora Professora? – Perguntou Fauno. – E agora é que, para entendê-la, temos que incluir mais informações nesta soma. Por exemplo, já se sabe que há cerca de 50 milhões de anos se formou a Cordilheira dos Andes, que atualmente tem fortes influências na Região Amazônica Brasileira, a qual, por sua vez, influencia parte do Semiárido com as chuvas vindas de lá e chamadas Massa Equatorial Continental - mEc. Encontro entre a placa da América do Sul e a placa Nazca (oceano Pacífi co). Press et al. (2006). Fonte: Peleja e Moura (2012)9 Variações da Massa Equatorial Continental ao longo do ano de 2010 Fonte: Borsato e Massoquim (2020)10 25 11Conferir: BERLATO, Moacir A.; FONTANA, Denise Cybis. El niño e a agricultura da região Sul do Brasil. Passo Fundo: Embrapa, 2011. – Portanto, a nossa conta agora será Semiaridez = Insolação Maior + Orografia + Ventos Secos + Massa Equatorial Continental. Mas não para por aí. Sabe-se também da influência do El Niño e da La Niña (ENOS – El Niño Oscilação Sul) que, para alguns estudiosos, existe há 1 milhão de anos, e para outros, há 130 mil anos. Para outros, o efeito maior seria de 7.000 anos para cá... No El Niño chove menos no Semiárido e no La Niña chove mais no Semiárido. Vejam nas figuras abaixo como isto acontece. Fonte Berlato e Fontana (2011)11 – Agora a conta será Semiaridez = Insolação Maior + Orografia + Ventos Secos + Massa Equatorial Continental + El Niño + El Niña (Enos). – Eita, que a conta está ficando grande! – Disse Flora. – E vai aumentar mais ainda!!! Vamos acrescentar a esta conta a Zona de Convergência Intertropical – ZCIT. Ela, mais do que a mEc e o Enos, influencia, e muito, as chuvas no Semiárido. Mas, primeiro, precisam lembrar das famosas Calmarias. Lembram? – Sim, Professora! – Disse Hidra. – Era um período que “faltava” vento para que as caravelas pudessem se deslocar nos Oceanos. – Muito bem, Hidra! – Disse a Professora. Pois estas calmarias eram (e são) provocadas pelo “descanso” dos ventos alísios úmidos, que vêm, principalmente, dos polos Norte e Sul e seguem também em direção de Leste a Oeste. E estes ventos “terminam” numa área chamada de Zona de Convergência, que por estar entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, passou a ser chamada de Zona de Convergência Intertropical ou ZCIT. Estes ventos, quando chegam nesta Zona, podem causar calmarias, chuvas ou secas. 26 – E tem mais!!! – Disse Dona Fida. Dependendo destes “humores” da ZCIT, podemos ter anos de maiores precipitações ou não no Semiárido. Normalmente, no mês de janeiro em diante, ela ocupa parte desta região e, de julho em diante, “sobe” um pouco mais. Isto é normal. Fonte: Haldin (2006)12 Como as nuvens se comportam próximo ao Semiárido Fonte: FUNCEME (2014)13 – Agora, basta que ela esteja mais acima da sua localização, que teremos um ano com menor quantidade de chuvas, ou mesmo praticamente sem chuvas. Observem na figura abaixo a posição da ZCIT e quando os anos são mais chuvosos ou secos. Fonte: Ferreira e Melo (2005)14 12Conferir:Haldin, M.ITCZ https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/ITCZ_january-july.png; 13Conferir: Funceme (2014). Sistemas Atmosféricos Atuantes Sobre o Nordeste. http://www.funceme. br/?p=967; 14Conferir:FERREIRA, Antonio Geraldo; DA SILVA MELLO, Namir Giovanni. Principais sistemas atmosféricos atuantes sobre a região Nordeste do Brasil e a infl uência dos oceanos Pacífi co e Atlântico no clima da região. Revista brasileirade climatologia, v. 1, n. 1, 2005.https://revistas.ufpr.br/revistaabclima/article/ download/25215/16909 27 - Quando se junta com a Massa Polar Atlântica – mPa, que também vem do Oceano Atlântico abaixo da Argentina, ela provoca as famosas chuvas do mês de julho no litoral e em parte do Semiárido. Variações da Massa Polar Atlântica ao longo do ano de 2010 Fonte: Borsato e Massoquim (2020) 15Conferir:BORSATO, Victor da Assunção; MASSOQUIM, Nair Glória. Os movimentos, as áreas de atuação e as propriedades das massas de ar no Brasil. Revista de Geografi a, Meio Ambiente e Ensino, v. 11, n. 1, p. 27-56, 2020. http://www.fecilcam.br/revista/index.php/geomae/article/viewFile/2201/ pdf_377; Variações da Massa Tropical Atlântica ao longo do ano de 2010 Fonte: Borsato e Massoquim (2020)15 – Agora, vamos atualizar a nossa conta? Semiaridez = Insolação Maior + Orografia + Ventos Secos + mEc + Enos + ZCIT. Só que tem mais coisa!!! – Disse Dona Fida. – E não termina, não? – Perguntou Terro. – Termina sim! Isto é o que se conseguiu estudar até hoje, Terro. Pode ser que futuramente possam existir mais informações. – No estudo do Clima do Semiárido, nós não podemos nos esquecer de incluir as influências da Massa Tropical Atlântica - mTa. Ela vem do Oceano Atlântico Sul e depende também dos “humores” deste. Mas, geralmente, ela é constante o ano todo e atua mais junto à parte litorânea do Semiárido ou com reflexos neste. 28 Variações da Massa Equatorial Atlântica ao longo do ano de 2010 Fonte: Borsato e Massoquim (2020)16 Fonte: Jorge (2015) 17 – E não podemos nos esquecer da Massa de Ar Kalahariana – mAk, que é mais seca e é originada principalmente no Deserto de Kalahari, na África, a qual exerce sua influência em parte do Semiárido. Ela é a letra B pontilhada na imagem abaixo. Temos, também, a Massa Equatorial Atlântica – mEa, que vem também do Oceano Atlântico Sul, principalmente da região dos Açores, e atua mais no litoral com participação nas chuvas do Semiárido. 16Conferir:BORSATO, Victor da Assunção; MASSOQUIM, Nair Glória. Os movimentos, as áreas de atuação e as propriedades das massas de ar no Brasil. Revista de Geografi a, Meio Ambiente e Ensino, v. 11, n. 1, p. 27-56, 2020. http://www.fecilcam.br/revista/index.php/geomae/article/viewFile/2201/pdf_377; 17Conferir: Jorge Felipe Vanhoni. A dinâmica pluvial do Clima Subtropical: variabilidade e tendência no Sul do Brasil. 2015. https://www.acervodigital.ufpr.br/handle/1884/45152 29 Fonte: Jatobá et al (2017)18 – Professora, eu não entendi aqueles “A”, “B” “C” e “E” na figura! – Disse Flora. – Daqui a pouco falamos sobre esta “sopa de letrinhas” que existe em muitos mapas e figuras sobre o Clima, Flora. Pode ser? – Sim, Professora! – Bem, agora vocês viram que a conta vai aumentando: Semiaridez = Insolação maior + Orografia + Ventos secos + mEc + Enos + ZCIT + mTa + mPa + mEa + mAk. E tenho que dizer a vocês que ainda não terminou!!! – Eita! – Disseram todos eles. – Existem ainda os Vórtices Ciclônicos de Alto Nível – VCAN, as Ondas de Leste, os Complexos Convectivos de Mesoescala – CCM e as Linhas de Instabilidade – LI. Fonte: FUNCEME (2014)19 18Conferir:JATOBÁ, Lucivânio; SILVA, Alineaurea Florentino; GALVÍNCIO, Josiclêda Domiciano. A dinâmica climática do Semiárido em Petrolina-PE. Embrapa Semiárido-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2017. https://www.alice.cnptia.embrapa.br/handle/doc/1090601; 19Conferir:Funceme (2014). Sistemas Atmosféricos Atuantes Sobre o Nordeste. http://www.funceme. br/?p=967 30 - Insolação Maior + Orografia + Ventos secos + mEc + Enos + ZCIT + mTa + mPa + mEa + mAk + VCAN + Ondas de Leste + CCM + LI. Acrescentando ainda a Evapotranspiração vamos tentar finalizar com: Semiaridez = Insolação maior + Orografi a + Ventos secos + mEc + Enos + ZCIT + mTa + mPa + mEa + mAk + VCAN + Ondas de Leste + CCM + LI + Evapotranspiração. – Dá pra tentar finalizar, Professora? – Disse Fauno. – Sim, Fauno, sim! Os estudos do clima ainda são grandes enigmas para a humanidade. – Mas, o mais importante disto tudo, é que qualquer decisão que for feita com relação à produção de alimentos e pastagens no Semiárido tem que ser muito afinada com o conhecimento do seu clima que, na maioria das vezes, pode apresentar instabilidades dentro do ano ou entre anos. Por exemplo: todos os anos, nós sabemos que em muitas partes do Semiárido os meses de “BRO” são os mais temidos por estarem associados aos períodos secos existentes dentro de todo ano. Os meses de “BRO” são: SetemBRO, OutuBRO, NovemBRO e DezemBRO. Embora não seja a realidade para todo o Semiárido, é para boa parte dele. E Professora Fida continuou: – Isto significa que existe apenas um Semiárido Região (mesmo que seja atualizado periodicamente), mas existem vários Semiáridos Clima, que têm que ser compreendidos e, principalmente, respeitados!!! – Por exemplo, poucos sabem que a Zona de Convergência Intertropical passou a interferir mais entre 12.000 e 8.000 anos, que este clima do Semiárido que nós conhecemos passou a existir há cerca de 4.240 anos20 , e que a caatinga que os indígenas e os nossos ancestrais conheceram, da qual resta muito pouco, tem cerca de 4.535 anos21 . Contudo, alguns pesquisadores já afirmaram que a caatinga se instalou desde cerca de 65 a 2,5 milhões de anos (AB’SABER,1994; FERNANDES 1990; ANDRADE-LIMA, 1982)22 , e que algumas plantas que hoje nós conhecemos já existiam cerca de 15 milhões de anos (com comprovação de cerca de 5,5 milhões de anos)23 , como a nossa tão conhecida Palmatória de Pelo, Pelo, Cumbeba, Quipá, Gogóia... 20Conferir:BARRETO, Alcina Magnolia Franca. Interpretação paleoambiental do sistema de dunas fi xadas do médio Rio São Francisco, Bahia. 1997. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.https:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44136/tde-24092015-160224/publico/Barreto_Doutorado.pdf; 21Conferir:Oliveira et al (2005). PALEOVEGETAÇÃO E PALEOCLIMAS DO QUATERNÁRIO DO BRASIL. Quaternário do Brasil. https://www.researchgate.net/publication/326518956_Quaternario_do_ Brasil_2Ed. 22Conferir: GUERRA, MDF; DO ARARIPE, Veredas da Chapada. contexto ecogeográfi co de subespaços de exceção no semiárido do estado do Ceará, Brasil. 2019. 2019. Tese de Doutorado. Tese (Doutorado em Geografi a)–Programa de Pós-Graduação em Geografi a, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza.http://www.uece.br/wp-content/uploads/sites/60/2020/02/maria_daniely_freire_guerra.pdf 23Conferir: LEAL,D.Y.B; MANFRIN, M.H.; Reconstrução da história evolutiva de Tacinga inamoena (K. Schum) N. P. Taylor & Stuppy (CACTACEAE) no bioma Caatinga (2017). https://repositorio.usp.br/ item/002941258 31 Fonte:UNIVASF/NEMA (2020)24 – Puxa, Professora, isso é bonito!!! – Disse Flora. – Sim, Flora! É uma história que deve ser conhecida e respeitada!!! – Na verdade, é toda uma construção! Vejam que lá atrás: eu falei principalmente de massas de ar, correntes atmosféricas... Mas houve, e ainda há, a influência das correntes oceânicas que, mesmo assim, tem seus efeitos nos continentes. Vou lembrar uma coisa para vocês. É sobre as glaciações. – Espere Professora, deixa eu falar! – Disse Terro. – As glaciações ocorreram com “muita força” no passado da Terra. Houve época até que a Terra era praticamente uma “bola de gelo”. Com o tempo, as glaciações foram ficando “menos fortes” e, praticamente, a última que tivemos, foi entre de 21.000 a 10.000 anos. Hidra acrescentou: – Também, toda vez que tinha uma glaciação, o nível do mar diminuía, pois boa parte da água se transformava em gelo. Tempo mais frio e menos água no mar significa menor evaporação e, portanto, menos nuvens e menos chuvas nos continentes. – Flora finalizou dizendo que: – Isto significava que, nos continentes, havia uma tendência de ser mais frio e mais seco, e a vegetação e a fauna tinham que se adaptar. Isto também não acontecia de uma hora para outra. Eram necessários milênios... – Muito Bem! Nota dez!!! –Disse Dona Fida. E completou: – Isto quer dizer que aqui, no que hoje chamamos Semiárido, não foi diferente. Tivemos períodos frios e secos (glaciações) e tivemos períodos mais quentes e úmidos (interglaciações). 24Conferir:UNIVASF. Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental. Espécie do mês. Quipá. https:// nema.univasf.edu.br/site/index.php?page=newspaper&record_id=67 32 - Mas é bom lembrar que, mesmo nos longos períodos de glaciação, tivemos dentro deles alguns períodos mais quentes e úmidos, enquanto que, nos períodos das interglaciações, tivemos períodos mais frios e secos. O Clima é assim. Não tem ainda quem possa explicar!!! Vejam na figura abaixo como isto está claro. Fonte: Nunes et al (2012)25 Professora Fida emenda: – Por exemplo: tem quem acredite que nós estamos em um período mais quente e úmido desde há mais de 4.000 anos? Tem quem acredite que o Semiárido já foi Para Árido e que parte da Região Amazônica e do Pantanal foi Semiárida há cerca de 11.000 anos? E que, além das influências das massas de ar já citadas, também tivemos, e temos, muita influência das correntes oceânicas? - Vejam na figura abaixo. Do lado direito é uma datação de 10 a 13.000 anos e do lado esquerdo é a situação atual em que vivemos. Observem que algumas correntes mudaram o sentido ou reduziram a sua ação e outras até mesmo desapareceram. O mesmo aconteceu com os ventos. 25Conferir: NUNES, F. C.; BOAS, G. da SV; DA SILVA, E. F. Mudanças climáticas e seus refl exos na paisagem do quaternário: primeiras Refl exões. Embrapa Solos-Documentos (INFOTECA-E), 2012.https:// www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/950779/1/Doc157MudancasQuaternario.pdf 33 – Professora, é muita informação e muita coisa, mas deu para entender sim!!! –Disseram Fauno, Flora, Hidra e Terro. – O mais importante que vocês devem entender é que, ao chegarem perto de qualquer planta ou animal nativos do Semiárido, assim como de um tipo de solo, ou mesmo de um rio ou riacho, lembrem-se de que ali existem milênios e milhares de anos de construções pelo clima. Fonte: Nunes et al (2012)26 Fonte: Birolo (2014)27 26Conferir: NUNES, F. C.; BOAS, G. da SV; DA SILVA, E. F. Mudanças climáticas e seus refl exos na paisagem do quaternário: primeiras Refl exões. Embrapa Solos-Documentos (INFOTECA-E), 2012.https:// www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/950779/1/Doc157MudancasQuaternario.pdf 27Conferir:Birolo, F.M.B. Embrapa.Multimédia. Image Bank. https://www.embrapa.br/en/busca-de- imagens/-/midia/1465001/caatinga 34 – Assim, antes de desmatar ou desflorestar qualquer área, e principalmente onde está a vegetação de caatinga, perguntem se aquilo é realmente necessário. Se vocês não estão reproduzindo erroneamente o que os nossos ancestrais acharam que era o melhor. E Professora Fida continua: – E mais!!! Que quando vocês forem trabalhar, ou orientar trabalhos em terras já desflorestadas e que foram usadas para agricultura (agriculturização) ou pastagem (pecuarização), e que estejam muito “cansadas”, que se espelhem sempre na vegetação nativa! Vejam como ela é formada por várias espécies com raízes mais rasas ou mais profundas, copas mais altas ou mais baixas, ou mais fechadas ou mais abertas. Umas com espinhos, outras sem. Umas frutíferas, outras não... Tentem reproduzir parte do que viram nas matas nestas áreas. Misturar árvores, arbustos, culturas alimentares, culturais de pastagem ou frutas. Isto se chama Sistemas Agroflorestais - SAFs. A Professora ainda pontua, encerrando: – A catingueira pode se dar bem com o milho. O pereiro pode se dar bem com a palma forrageira. O jucá pode se dar bem com o feijão. O angico pode se dar bem com o capim Buffel. A gliricídia pode se dar bem com o jerimum. E, no meio de tudo isso, ainda podemos ter o umbuzeiro!!! Mas tudo tem que ser plantado de acordo com o clima!!! – Na próxima aula a gente continua!!! 35 Dona Fida começou perguntando: – Vocês lembram como eu terminei a aula de ontem? Flora respondeu: – Sim, Professora! Depois de fazer a gente viajar no tempo, a senhora disse que, para plantar espécies nativas ou de fora (exóticas), é preciso sempre observar o clima. – Isto mesmo, Flora!!! Vejam só! Primeiro, é preciso que vocês entendam que não existe Clima Semiárido só no Brasil. Existe em muitos países do mundo. E uma surpresa: para ser Clima Semiárido não precisa ser quente!!! – Não entendi Professora! – Disse Terro. – Quer dizer que tem Clima Semiárido Frio? – Sim!!! Existem muitas classificações de clima no mundo. Mas uma das mais usadas mostra duas variações de clima para o Semiárido. Vejam que nela o clima semiárido é identificado por três letrinhas BSh. Clima Semiárido Quente Fonte: Peel et al (2011)1 1Conferir: Peel, M.C.; Finlayson, B.L.; McMahon, T.A. Koppen Word Map. https://commons.wikimedia.org/ wiki/File:Koppen_World_Map_BSh.png. Capítulo 03 - Semiárido e o Clima para Sistemas Agrofl orestais II SAFs no Semiárido: Histórico, abrangência e características gerais 36 – Ah! A “Sopa de Letrinhas”! – Lembrou Flora. – Isto mesmo. Lembrando que o Clima Semiárido que interessa para a gente é o quente. Logo é o BSh, em que o “B” significa o Grupo Climático Seco (Áridos a Semiáridos) com baixo nível de precipitação durante o ano, o “S” significa o Tipo Semiárido e o “h” significa o Subtipo Quente. – Explicado isto, vamos agora para um assunto mais detalhado. Hoje em dia é possível não mais perder plantio, quer seja por meio dos sistemas tradicionais, quer seja por meio dos Sistemas Agroflorestais. Além dos avisos dados a, pelo menos, um mês antes da “quadra invernosa” pelos órgãos ligados ao Clima, pelos “Profetas e Profetisas das Chuvas”, pelas plantas e animais e pelo firmamento, as pessoas que plantam no Semiárido podem, e muito, consultar os Bancos de Dados, sites ou plataformas. Fonte: Inmet Clima (2022)3 Fonte: Secult (2022)4 2Conferir: Peel, M.C.; Finlayson, B.L.; McMahon, T.A. Koppen Word Map. https://commons.wikimedia. org/wiki/File:Koppen_World_Map_BSh.png. 3Conferir: Inmet Clima. Abril de 2022. https://clima.inmet.gov.br/progp/0; 4Conferir: Secult. CE. 2022. 26º Encontro dos Profetas das Chuva. https://www.secult.ce.gov. br/2022/01/03/26o-encontro-dos-profetas-das-chuva/. Clima Semiárido Frio Fonte: Peel et al (2011)2 E na outra pelas letrinhas BSk. 37 Fonte: MAPA (s.d.)5 5Conferir: MAPA. Zoneamento Agrícola de Risco Climático.(s.d.) https://indicadores.agricultura.gov.br/ zarc/index.htm. – Banco de Dados? – Perguntou Fauno. – Sim! Hoje existem muitos Bancos de Dados que ajudam quem vive no Semiárido a “prever” se o que vai plantar dará certo. Vou dar um exemplo: Flora, escolha uma planta de alimento, uma de forragem e uma frutífera plantadas aqui na nossa região. – Milho, palma forrageira e goiaba! – Escolheu Flora. – Pois bem, se a gente organizar direitinho, podemos misturar estas três plantas numa mesma área formando o início de um Sistema Agroflorestal. Agora,Terro, você que é bom de desenho, faça este esquema aqui no quadro, por favor! – Estão vendo como é mais ou menos fácil criar um Sistema Agroflorestal? Este é do tipo Agrossilvipastoril, em que o Agro é o Milho, o Silvo é a Goiaba e o Pastoril é a Palma Forrageira. – Agora procurem nos seus computadores, celulares ou tablets uma sigla chamada ZARC Zoneamento. O que ela significa? – Zoneamento Agrícola de Risco Climático! – Disse Hidra. 38 – Isto! Vejam que é uma espécie de pesquisa para saber se a cultura que você quer plantar na sua região é recomendada ou não recomendada. E, se recomendada, quais os riscos que existem em função do ano, estado, se é perene ou não, tipo de solo e município. Mas não esqueçam que, ao escolher o ano diretamente, vocês estão trabalhando com as previsões climáticas históricas para o local da sua escolha. – Agora procurem em Safra, à esquerda, e coloquem 2021/2022. Em Cultura, escolham Feijão 1ª Safra. Em Unidade da Federação, escolhamParaíba. Em Grupo, escolham o I, pois o Feijão é uma variedade de ciclo curto. Em município, escolham Cabaceiras, que é o município que menos chove no Semiárido e no Brasil. Fonte: MAPA (s.d.)6 – Vejam que vai aparecer uma figura onde existe um risco de 30% para o plantio do Feijão neste município e que, nesta figura, há uma numeração que vai de 1 a 36. Nela, 1,2,3 = janeiro; 4,5,6 fevereiro; 7, 8, 9 = março; 10, 11, 12 = abril; 13, 14, 15 = maio e assim sucessivamente. Logo, do meio do mês de março (8,9) a início de abril (10) o risco é de 40%. Mas do meio do mês de abril (11,12) a início de maio (13,14) o risco passa a ser de 30%, o que, mesmo assim, não é um bom valor. O ideal seria, no máximo, 20%. 6Conferir: MAPA. Zoneamento Agrícola de Risco Climático.(s.d.) https://indicadores.agricultura.gov.br/ zarc/index.htm. 39 – Vamos agora para a Palma Forrageira, repetindo praticamente o que fizemos com Feijão. Só que a Palma é considerada Perene. Vejam que o risco principal agora é de apenas 20% e que mudaram também os períodos de plantio. 40 – Com relação à Goiaba, o procedimento é o mesmo. Só que na escolha para a Goiaba não Irrigada ou de Sequeiro, o sistema não aceita para o estado da Paraíba. Logo, o risco é muito grande. O mesmo acontece se escolher a Goiaba Irrigada. – Então, o que viria a ser um Sistema Agroflorestal ficou reduzido a apenas duas culturas: Feijão e Palma forrageira. Ou seja, apenas um Consórcio, pois para ser um SAF teria que ter o componente lenhoso. – Se a gente trocar a Goiaba pelo Caju, dá tudo certo, pois o risco é de apenas 20%. – Mas prestem atenção para as épocas de plantio no caso do Caju, da Palma Forrageira e do Feijão. Elas não são iguais e isto tem que ser respeitado. Então, Fauno comentou: Professora, tanto conhecimento, tanta tecnologia e as pessoas continuam errando? – Isto mesmo, Fauno. Erram por não saberem. Erram por saberem e não usarem. E o pior: erram porque querem, muitas vezes. 41 – Por que querem? – Perguntou Terro. – Sim. Muitas vezes ficam presos a motivos religiosos de só plantar aquela cultura e no dia de determinado santo ou santa. Como, por exemplo, plantar milho e feijão no Dia de São José, que é 19 de março. Vocês viram que para o Feijão em Cabaceiras o risco é de 40% nesta data para a safra 2021/2022!!! Sobre esse aspecto cultural de influência tem até música interpretada por Luiz Gonzaga sobre isto!!! São João do Carneirinho “Eu plantei meu milho todo no dia de São José. Se me ajuda a providência, vamos ter milho à grané. Vou "coiê" pelos meus "caico" 20 espiga em cada pé. Fonte: Arquivo Nacional (s.d.)7 7Conferir: Arquivo Nacional. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Luiz_Gonzaga_(1957).tif 8Conferir: ANA. 2019. Monitor de Secas. TABELA DE CLASSIFICAÇÃO DE SEVERIDADE DA SECA. https:// monitordesecas.ana.gov.br/tabela-de-classifi cacao – E vocês querem saber? Tem mais onde buscar informações!!! – Onde, Professora? – Perguntou Hidra. – Ah! No Monitor de Secas do Brasil!!! Ele não é utilizado para prever as secas, mas para informar, entre outras coisas, o que ocorreu naquele determinado mês de um determinado ano. Por exemplo, vejam o que ocorreu nos meses de janeiro de 2022 a 2015. Em 2015 se analisava apenas a Região Nordeste e, consequentemente, boa parte do Semiárido, mas a partir de 2019 foi inserida parte da Região Sudeste, com ampliações para outras regiões entre 2021 e 2022. A professora continua: – Vocês devem ter observado as diferentes Classificações de Secas existentes: Seca Fraca, Seca Moderada, Seca Grave, Seca Extrema e Seca Excepcional8. Eu tentei colocar uma estrelinha mais ou menos onde fica o município de Cabaceiras, no estado da Paraíba. Vejam que em oito anos de estudos, ele teve dois de Seca Moderada, dois de Seca Grave, dois de Seca Extrema e dois de Seca Excepcional. Ou seja, 75% de anos com secas mais intensas. Contudo, há certa previsão para 2022 de uma situação mais moderada. 42 Fonte: ANA (s.d.)9 9Conferir: Ana. Monitor de Secas. https://monitordesecas.ana.gov.br/o-monitor-de-secas E Professora Fida vai concluindo: – Resumindo: Consultando as previsões climáticas, o ZARC e o Monitor de Secas dificilmente vocês irão errar na época de plantio e sobre quais as culturas mais indicadas tanto para monoculturas quanto para consórcios e SAFs. Inclusive, dentro dos padrões do Seguro Safra. - Qualquer dúvida, tiraremos na próxima aula! 43 Capítulo 04 - Semiárido e os Solos para SAFs Fauno, Flora, Hidra e Terro são jovens que moram em uma comunidade rural do Semiárido Brasileiro. Eles têm uma professora muito aplicada e muito preocupada em explicar a origem de tudo!!! O nome dela é Dona Fida. A aula deste dia começou com Terro perguntando: – Professora eu ouvi um dia destes alguém comentar que as terras da nossa região eram rasas e fracas. Isto é verdade? – Muito bem Terro, vamos tentar responder! É comum as pessoas usarem estas referências. É bem verdade que algumas “terras” (na verdade solos) do Semiárido são jovens e, portanto, com pouca profundidade. Mas dizer que todas elas são fracas, ou poucos férteis, aí já é querer generalizar. 1Conferir: Jarbas et al (s.d.) Embrapa. Ageitec. Litólicos. https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/ bioma_caatinga/arvore/CONT000gdhgdwhv02wx5ok0rofsmqv90tsmc.html Fonte: Jarbas et al (s.d.)1 SAFs no Semiárido: Histórico, abrangência e características gerais 44 – Para entender os solos do Semiárido é preciso, mais uma vez, voltar no tempo... – Oba! Vamos viajar de novo na máquina do tempo da Professora Fida!!! – Disse Fauno. – Mais ou menos crianças! Mais ou menos!!! – Sorriu a Professora Fida. – Vamos voltar para mais ou menos 64 milhões de anos até 1,6 milhões de anos. Estamos, portanto, saindo do Cretáceo e entrando no Terciário e depois no Quaternário. Pois, nestes 64 milhões de anos, ocorreram grandes mudanças planetárias, atingindo também o que hoje é o Semiárido2 . Fonte: IBGE (2022)3 – Puxa, Professora!!! Que história!!! – Disse Hidra. – Pois é!!! Por esta época ocorreram muitos períodos secos e muitos períodos com chuvas muito intensas. Estas chuvas praticamente “lavaram” as superfícies e fizeram com que muito solo fosse carregado (carreado) das áreas mais altas para as áreas mais baixas. Chama-se a isto arrasamento do relevo e também de Pediplanação, onde Pedo é solo e Planação é aplainamento. Mas isso não se deu de um dia para outro. Foram processos que duraram séculos e talvez milênios dentro destes 64 milhões de anos. – Interessante, Professora! Por isso eu li um dia destes que existe, por exemplo, o Pediplano Sertanejo. – Disse Terro. 2Conferir:CUNHA, Tony Jarbas Ferreira et al. Principais solos do semiárido tropical brasileiro: caracterização, potencialidades, limitações, fertilidade e manejo. Embrapa Semiárido-Capítulo em livro científi co (ALICE), 2010. https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/861913/principais- solos-do-semiarido-tropical-brasileiro-caracterizacao-potencialidades-limitacoes-fertilidade-e- manejo; 3Conferir: IBGE (2022). Atlas Escolar. A Terra. Formação dos Continentes. https://atlasescolar.ibge.gov. br/a-terra/formacao-dos-continentes 45 Limite do Pediplano Sertanejo com o Planalto da Borborema Fonte: Vasconcelos et al (2019)⁴ – Sim, Terro! Neste processo de construção foram criadas muitas áreas “aterradas”, os Pediplanos, mas, por sua vez, muitas áreas, devido à dureza das rochas ou à redução das chuvas, conseguiram permanecer. São estas elevações que conhecemos como serras, serrotes, picotes, picoites e picoitos. Isto se chama relevo residual. Alguns têm até nomes interessantes como Inselbergs ou Morros Testemunhos, pois eles ajudam a entender até que, alguns deles, há milhões de anos, poderiam até estar embaixo da terra e foram aos poucos sendo “descobertos” pelas chuvas. InselbergFonte: Vasconcelos et al (2019)⁵ 4Conferir:VASCONCELOS, Paulo Roberto Medeiros et al. Caracterização Geomorfológica da Carta Jardim do Seridó (SB. 24-ZBV), Nordeste do Brasil. Caderno de Geografi a, v. 29, n. 59, p. 1182-1200, 2019. http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografi a/article/view/21058 5Conferir:VASCONCELOS, Paulo Roberto Medeiros et al. Caracterização Geomorfológica da Carta Jardim do Seridó (SB. 24-ZBV), Nordeste do Brasil. Caderno de Geografi a, v. 29, n. 59, p. 1182-1200, 2019. http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografi a/article/view/21058 46 – Puxa, professora... quer dizer que este Picote que nós temos aqui perto poderia, no passado, estar coberto de solo? – Perguntou Flora. – Sim!!! E antes que vocês me perguntem para onde foi este solo, eu digo que existiram também “rios” ou drenagens muito largas e extensas que, por milhões de anos, levaram parte destes solos para criar as plataformas continentais ou áreas de grande aterros ou sedimentação no Semiárido. Estes grandes rios ou drenagens foram chamados de Paleocorrentes. Paleocorrentes em parte do atual Semiárido Brasileiro Fonte: Custódio (2017)6 – Inclusive, algumas destas paleocorrentes originaram as “Linhas de Pedras” ou Cascalheiras, que são muito encontradas em alguns solos e mostram o poder das chuvas por aquelas épocas, visto que muitas destas pedras foram arredondadas pela constante fricção. São os “xêxos” (seixos) rolados, que podem estar aterrados ou, muitas vezes, na superfície. Solo do Semiárido com Linha de Pedra ou Cascalheira Fonte: Amorim (2015)⁷ 6Conferir: CUSTÓDIO, Michele Andriolli. Arquitetura estratigráfi ca da formação Romualdo, pós-rifte da Bacia do Araripe, Brasil. 2017. 7Conferi: AMORIM, Rodrigo de Freitas. Integração entre dinâmicas geomorfológicas multitemporais no planalto da Borborema, semiárido do NE do Brasil. 2015. – Por isso é que o Semiárido é mais ou menos dividido em áreas sedimentares (aterros) e áreas do cristalino (rochosas). Nos sedimentos, os solos são mais profundos, enquanto que nos cristalinos eles são mais rasos ou jovens, pois foram muito “lavados” no passado. 47 – Isto, Terro! Quando a chuva carregava o solo e encontrava uma área mais baixa (depressão) aí o solo ficava acumulado. Muitos conhecem estas áreas como Depressões ou Depressões Sertanejas, que são espécies de Pediplanos. Depressão Sertaneja entre Quixadá e Banabuiú. CE Fonte: Dantas et al (2014)9 Fonte: Alves (2019)8 8Conferir:ALVES, Grace Bungenstab. A formação das paisagens sertanejas no tempo e no espaço. 2019. https://www.researchgate.net/profi le/Grace-Alves/publication/334045556_A_formacao_das_ paisagens_Sertanejas_no_tempo_e_no_espaco/links/5ef52d24a6fdcc4ca431004e/A-formacao-das- paisagens-Sertanejas-no-tempo-e-no-espaco.pdf 9Conferir:DANTAS, Marcelo Eduardo et al. Origem das paisagens. Embrapa Solos-Capítulo em livro científi co (ALICE), 2014.https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/113296/1/ Geodiversidade-p37.pdf – Agora eu entendi!!! Perto do Picote, Professora, tem uma área de solo muito profundo que a gente chama de baixio!!! – Disse Terro. – Bem...parte deste solo conseguiu “ficar” e resistir às chuvas muitos fortes. Outra parte foi se formando ao longo de milênios, ou séculos, quando a chuva não era tão forte e era mais bem distribuída. E se lembre Vejam a riqueza de representações no mapa ao lado, do Semiárido de 2017. – Mas, Professora, como é que a gente encontra algumas áreas de solos mais profundos em cima de algumas serras, tabuleiros ou chãs? – Perguntou Fauno. 48 Fonte: Santos e Reichert (2010)10 10Conferir: SANTOS, Danilo Reinheimer dos; REICHERT, José Miguel. Gênese e propriedades do solo. 2010.https://www.researchgate.net/publication/344493599_Genese_e_Propriedades_do_Solo 11Conferir:CUNHA, Tony Jarbas Ferreira et al. Principais solos do semiárido tropical brasileiro: caracterização, potencialidades, limitações, fertilidade e manejo. Embrapa Semiárido-Capítulo em livro científi co (ALICE), 2010. https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/861913/principais- solos-do-semiarido-tropical-brasileiro-caracterizacao-potencialidades-limitacoes-fertilidade-e-manejo 12Conferir:DA SILVA, Flávio Hugo Barreto Batista et al. Principais solos do semi-árido do Nordeste do Brasil:" Dia de Campo". In: Embrapa Semiárido-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: CURSO [SOBRE] MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA, 2., 2006, Juazeiro. Palestras... Juazeiro: MAPA; SFA-BA; Embrapa Semi-Árido; Embrapa Solos, 2006., 2006. https://www.alice.cnptia.embrapa.br/ bitstream/doc/157855/1/OPB1114.pdf – Isto quer dizer que nós podemos encontrar no Semiárido solos resultados de “aterros” e solos formados da rocha mãe, que geralmente são os mais jovens ou rasos. Para vocês terem uma ideia, existem solos formados entre 443 e 416 milhões de anos (Siluriano); solos formados entre 416 e 359 milhões de anos (Devoniano); solos formados entre 145 e 65 milhões de anos (Cretáceo); solos formados de 65 a 2,6 milhões de anos (Terciário) e solos formados de 12.000 anos para cá (Holoceno)11 . Inclusive, muitas destas paisagens que nós conhecemos hoje foram formadas há 65.000.00 de anos12 . – Puxa vida, como é interessante!!! Quer dizer que, quando um agricultor vai cultivar um solo, ele deveria se ajoelhar e agradecer por todo este tempo de formação, né?! – Disse Terro. – Deveria ser assim, Terro. Mas muitos desconhecem isto. E o que a natureza levou milhares de anos para construir, o homem pode destruir com uma simples e rápida passagem de um trator. Em questão de minutos. Mas, mesmo usando uma simples enxada, se ele plantar de “ladeira abaixo” também pode haver destruição do solo. Chama-se a isto de Erosão!!! – Seguindo na explicação, acredita-se que só no ambiente de Caatinga no Semiárido existam mais de 15 tipos de solos. Cerca de 66% desta área seria ocupada, principalmente, por Latossolos (19%); Neossolos Litólicos (19%), Argissolos (15%) e Luvissolos (13%). que estes locais, por serem mais altos, também são mais úmidos, pois a chuva, juntamente com microrganismos, temperatura, vegetação e outros fatores, contribui para formar o solo a partir da pedra, rocha matriz ou rocha mãe. 49 – Mas, no Semiárido, há muitos outros tipos de solos, como na figura abaixo. Fonte:Cunha et al (2010)14 13Conferir:Embrapa. Publications. 2018.Sistema Brasileiro de Classifi cação de Solos. https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1094003/sistema-brasileiro-de- classifi cacao-de-solos; 14CUNHA, Tony Jarbas Ferreira et al. Principais solos do semiárido tropical brasileiro: caracterização, potencialidades, limitações, fertilidade e manejo. Embrapa Semiárido-Capítulo em livro científi co (ALICE), 2010. https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/861913/principais-solos- do-semiarido-tropical-brasileiro-caracterizacao-potencialidades-limitacoes-fertilidade-e-manejo 15Conferir:GAMA, Dráuzio Correia; DE JESUS, Janisson Batista. Principais solos da região semiárida do Brasil favoráveis ao cultivo do Eucalyptus L’Heritier. BIOFIX Scientifi c Journal, v. 5, n. 2, p. 214-221, 2020. https://revistas.ufpr.br/biofi x/article/view/70968 Classes de Solos no Semiárido de 2005. Fonte: Gama e Jesus (2020)15 – Que nomes complicados! – Disse Terro. – São nomes técnicos, Terro. Obedecem ao Sistema Brasileiro de Classificação de Solos13. 50 – Mas o mais importante, além de saber a origem dos solos, é saber das texturas deles. Lembram do exercício que fizemos no ZARC, em que era necessário saber da textura do solo? – Lembramos!!! – Responderam todos. – Pois é... os solos são formados por muitos materiais, mas, – Sim, Hidra! Embora eles passem muito tempo “secos”, existe toda uma vida adaptada a eles. São bactérias, fungos, actinomicetos e muitos outros microrganismos adaptados às condições de semiaridez. Portanto, muito particulares doSemiárido! Não é à toa que estão fazendo tantas pesquisas sobre os Microbiomas18 de solos do Semiárido. Estes Microbiomas têm formas de vida que estão ajudando, por exemplo, outras plantas mais exigentes em água a se adaptarem melhor quando, por exemplo, falta água. 16Conferir: IBGE/BDIA. Pedologia. https://bdiaweb.ibge.gov.br/#/consulta/pedologia 17Conferir:Embrapa. Publications. 2018.Sistema Brasileiro de Classifi cação de Solos.https://www. embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1094003/sistema-brasileiro-de-classifi cacao-de- solos 18Conferir: http://gmicsesalq.com.br/o-microbioma-do-solo-e-a-interacao-planta-microbioma/ semiárida do Brasil favoráveis ao cultivo do Eucalyptus L’Heritier. BIOFIX Scientifi c Journal, v. 5, n. 2, p. 214-221, 2020.https://revistas.ufpr.br/biofi x/article/view/70968 Fonte: IBGE/BDIA (2021)16 Fonte: Embrapa (2018)17 – E é possível saber o tipo de solo para cada município do Brasil. Por exemplo, vejam os tipos de solos do município de Cabaceiras na Paraíba (imagem ao lado). principalmente, por Argila, Areia e Silte. A maior ou menor quantidade de um destes materiais é que interfere na sua textura. Além disso, o solo é formado por nutrientes, poros, microrganismos, matéria orgânica, água... Ele é vivo! Ele tem vida!!! – Eita!!! – Disse Terro. – Mas existe tanta vida nos solos do Semiárido, Professora? – Perguntou Hidra. 51 – Acontece que, quando você “broca” (corta) toda a vegetação nativa ou destoca e queima (coivaras), você mexe em toda esta organização do solo. A vegetação nativa, embora passe boa parte do tempo sem folhas, diminui a velocidade do vento, faz um pouco de sombra, “abre” o solo com as suas raízes, cobre o solo de folhas (manta, liteira, serapilheira), torna o solo poroso (flocula o solo com matéria orgânica) e, quer queira, quer não, fornece nutrientes ao solo, mesmo tendo pouca umidade para os microrganismos mineralizarem estas folhas, ou seja, transformarem efetivamente em nutrientes pela decomposição (humificação). Fonte: Medeiros e Vicente (2019)19 Fonte: Associação Caatinga (s.d..)20 – Estudos na caatinga21 mostram que podem ser depositados cerca de 2.068,55 kg/ha de serapilheira distribuída em folhas, galhos e cascas, miscelânea e material reprodutivo. Fonte: Santana e Souto (2011)22 19Conferir:Medeiros, M.; Vicente, M. Embrapa.Brazil participates in unprecedented discovery on plant defense mechanism.https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias?p_p_id=buscanoticia_WAR_ pcebusca6_1portlet&p_p_lifecycle=0&p_p_state=pop_up&p_p_mode=view&p_p_col_id=column- 1&p_p_col_count=1&_buscanoticia_WAR_pcebusca6_1portlet_groupId=1355145&_buscanoticia_WAR_ pcebusca6_1portlet_articleId=47867285&_buscanoticia_WAR_pcebusca6_1portlet_viewMode=print 20Associação Caatinga. (s.d.).Bioma Caatinga. https://www.acaatinga.org.br/sobre-a-caatinga/ 21Conferir:DA SILVA SANTANA, José Augusto; SILVA SOUTO, Jacob. Produção de serapilheira na Caatinga da região semi-árida do Rio Grande do Norte, Brasil. Idesia (Arica), v. 29, n. 2, p. 87-94, 2011. https:// scielo.conicyt.cl/scielo.php?pid=S0718-34292011000200011&script=sci_arttext&tlng=p 22DA SILVA SANTANA, José Augusto; SILVA SOUTO, Jacob. Produção de serapilheira na Caatinga da região semi-árida do Rio Grande do Norte, Brasil. Idesia (Arica), v. 29, n. 2, p. 87-94, 2011. https://scielo. conicyt.cl/scielo.php?pid=S0718-34292011000200011&script=sci_arttext&tlng=p 52 – Primeiro, ele fica exposto às gotas da chuva. Uma gota de chuva, tão querida pelos povos do Semiárido, é quase uma pequena bomba atômica. Quando “bate” em um solo desnudo, cria uma microcratera, destrói a estabilidade e faz com que os macroporos e microporos do solo comecem a ficar entupidos na superfície. Chama-se Erosão de Embate ou “Splash”. Assim, ela cria uma camada dura que muitos chamam “capa” ou “beiju”, mas que, tecnicamente, chama-se Selamento ou Colmatação (entupimento) dos poros. Fonte: Holanda (2017)24 Broca e coivaras Fonte: Arquivo do autor 23Conferir:HOLANDA, Alan Cauê de et al. Aporte de serapilheira e nutrientes em uma área de caatinga. Ciência Florestal, v. 27, p. 621-633, 2017. https://www.scielo.br/j/cfl o/a/ GJDksfHHPFyPdZ3TgYRqYLr/?format=pdf&lang=pt 24Conferir:HOLANDA, Alan Cauê de et al. Aporte de serapilheira e nutrientes em uma área de caatinga. Ciência Florestal, v. 27, p. 621-633, 2017. https://www.scielo.br/j/cfl o/a/ GJDksfHHPFyPdZ3TgYRqYLr/?format=pdf&lang=pt - E que esta serapilheira pode acrescentar muitos nutrientes23 ao solo. – Quer dizer, Professora, que quando se tira a vegetação de cima do solo, ele sofre muito? – Perguntou Flora. – Sim, Flora, e muito!!! 53 Fonte: Brizzi et al (2018)25 – Puxa!!! Uma gota de chuva faz tudo isto? – Perguntou Hidra. – Sim! E muito mais!!! Um solo desnudo de vegetação e da camada protetora de folhas, além de estar selado, passa pelo segundo processo, que é o arraste sucessivo, pelas chuvas, das suas camadas, milímetro por milímetro, centímetro por centímetro, todos os anos. Chama-se Erosão Laminar! Muitas vezes, os proprietários dizem que nas suas áreas estão “nascendo pedras”. Isto se chama pavimento detrítico. É, mais ou menos, como uma pessoa ficando careca. Perdendo fios de cabelo todos os dias sem notar... Solo com erosão laminar onde “nascem” as pedras. Fonte: Acervo do autor 25Conferir:BRIZZI, Raphael Rodrigues; DE SOUZA, Andréa Paula; DA COSTA, Alexander Josef Sá Tobias. 2018.RELAÇÃO ENTRE A INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NOS SOLOS E A ESTABILIDADE DOS AGREGADOS EM SISTEMAS DE MANEJOS DIFERENTES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO ROMÃO–NOVA FRIBURGO/ RJ.https://www.researchgate.net/fi gure/Figura-1-Efeito-splash-provocando-o-inicio-do-processo- erosivo-nas-encostas_fi g1_328436756 54 – Eita! Meu pai está assim... Ficando careca aos poucos! – Disse Fauno. – Pois é... os solos também podem ficar “carecas”. Pois, a Erosão Laminar vai progredir para a Erosão em Sulcos. Aí é como se estivessem surgindo “rugas” no solo... Estas rugas, por enquanto, podem ter poucos centímetros de profundidade. Mas vão aumentando com o tempo. Erosão em sulcos progredindo para voçorocas Fonte: Acervo do autor – Se não cuidarmos, a erosão em sulcos vai progredindo e as rugas se transformam em valas profundas. Algumas com muitos metros de profundidade e largura. É a Erosão em Valas ou Voçoroca. - Voçoroca, Professora? – Perguntou Terro. – Sim, Terro! Alguns escrevem também vossoroca. Mas vem da língua Tupi Guarani = Ibi-coroca ou terra rasgada. Ela pode ser originada pelas chuvas ou por desmoronamentos por águas subterrâneas26 . Voçoroca/Vossoroca Fonte: Augustin e Aranha (2006)27 26Conferir:Dicionário Ilustrado TupiGuarani. Voçoroca. https://www.dicionariotupiguarani.com.br/ dicionario/vocoroca/ 27AUGUSTIN, Cristina Helena Ribeiro Rocha; ARANHA, Paulo Roberto Antunes. A OCORRÊNCIA DE VOÇOROCAS EM GOUVEIA, MG: CARACTERÍSTICAS E PROCESSOS ASSOCIADOS. Geonomos, 2006. Conferir:https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/11541 55 – Puxa... Como as matas são importantes!!! – Disse Flora. – Sim, Flora! Não só por funcionarem como “esponjas” por absorverem as águas das chuvas e serem “fazedoras” de água, principalmente as de encostas, como também por reduzirem os impactos dos ventos e da insolação, e por “doarem” as suas folhas para cobrirem os solos e fornecerem matéria orgânica. – Mas, Professora, o que fazer com estas áreas com erosão? – Perguntou Fauno. – Bem... Existem muitas técnicas. A primeira delas seria evitar a erosão plantando em curva de nível ou, no mínimo, “cortando” as águas. Por vezes, se faz necessário também utilizar o terraceamento, patamares, banquetas individuais etc. Plantio em Curva de Nível Fonte: Capeche (2012)28 – É importante também fazer o uso da cobertura morta, da rotação de cultura, do cultivo mínimo, do cultivo em faixas, do pousio, dos cordões de pedra e do uso adequado de tratores e arados de acordo com a textura e a umidade do solo.Cobertura Morta 28Conferir:Capeche, C.L. 2012. Embrapa. Multimedia: Image bank. https://www.embrapa.br/en/busca- de-imagens/-/midia/189001/plantio-em-curva-de-nivel 29Conferir:Capeche, C.L. 2012. Embrapa Soils. Multimedia Image Banks. Cobertura Morta. Palhada. https://www.embrapa.br/en/solos/busca-de-imagens/-/midia/193001/cobertura-morta---palhada Fonte: Capeche (2012)29 56 Rotação de Culturas Fonte: Altman et al (s.d.)30 Cordões de Pedra Fonte:Silva (1995)31 Sempre lembrar que as plantas exportam nutrientes e que eles devem ser repostos. Neste caso, pode ser usado o fertilizante químico, o fertilizante organoquímico ou, o mais indicado, o adubo orgânico. Este, representado pela incorporação dos restos de cultura no solo, pela adição de estercos e compostos, pelo uso de biofertilizante e até mesmo de produtos como ácidos fúlvicos e húmicos. – Puxa, Professora, como é complexo e, ao mesmo tempo, interessante! – Disse Terro. 30Altman, N.; Pavinato, A.; Penteado, M.; Richetti, A.; Hernani, L.C. .Características do Sistema Santanna. s.d. Embrapa. Ageitec. https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/sistema_plantio_direto/arvore/ CONT000fx4zsnbz02wyiv80u5vcsv2uytj5w.html 31Conferir:SILVA, Francisco José da. Efeitos de cordões de pedra em contorno na produtividade de solo litólico. 1995. https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/43494 57 – Isto quer dizer que, para recuperar uma área, você pode “misturar” espécies nativas, exóticas, frutíferas, energéticas, medicinais, hortaliças, tintoriais, forrageiras e alimentícias. E mais! Tudo isto na forma de árvores, arbustos, ervas, lenhosas ou herbáceas.Cordões de pedra em um sistema agrofl orestal na caatinga. Fonte:Farias (2021)32 32Conferir: FARIAS, Ezequiel Sóstenes Bezerra et al. Manejo e conservação dos solos na recuperação de área degradada em APP pluvial na bacia do Paraíba do Norte. Água: uso racional e sustentável, p. 38.https://www.researchgate.net/profi le/Paulo-Roberto-Francisco/publication/353550097_Agua_ uso_racional_e_sustentavel/links/61029d051e95fe241a96a3f6/Agua-uso-racional-e-sustentavel. pdf#page=39 – Mais complexo é para recuperar as áreas quando estão erodidas!!! Muitas vezes, é muito caro e difícil, e pode levar muito tempo. Mas uma das técnicas ou ações mais eficientes trata-se dos Sistemas Agroflorestais - SAFs. Quer sejam ecológicos ou de produção, eles têm a função de tentarem “reproduzir” uma mata com todas as suas “arquiteturas” e diversidade. - Assim, os SAFs podem simplesmente ser feitos a partir de uma mata nativa, onde se faz um raleamento e se plantam espécies econômicas dentro. Foi o caso, por exemplo, dos plantios do Cacau. Neste caso, se mantém a diversidade ecológica da mata, a função protetora da mesma e se adiciona uma espécie econômica. Isto aconteceu muito na Mata Atlântica. Na Caatinga, por exemplo, existem algumas iniciativas com o enriquecimento da mesma com Palma Forrageira, Capim Buffel, Sisal/ Agave etc. Assim, se conserva a mata, a diversidade de fauna e flora, a água e, principalmente, o solo. – Mas existem os casos em que o solo foi muito utilizado por agricultura ou pastagem e foi abandonado por não produzir mais. Neste caso, a função dos SAFs é extraordinária!!! – O primeiro passo é fazer curvas de nível e, depois, fazer cordões com pedras ou com vegetação para conter o solo e a água. Depois, se procura, através do ZARC, quais espécies econômicas são as mais indicadas. E se procura, em remanescentes de matas nativas próximas, que espécies podem ser plantadas. Ademais, deve-se buscar espécies de fora (exóticas) e que historicamente tenham uso adequado para a região. 58 – Além de “cobrirem” os solos de diversas formas, os SAFs também usam a profundidade (horizonte) dos solos. As plantas têm diversos tipos de raízes. Mais rasas, mais profundas, mais largas, mais estreitas... Estas raízes trazem nutrientes mais profundos para as folhas, caules, flores, frutos, ramos, os quais, quando caem no solo, enriquecem-no na parte mais superior. Fonte: Cordeiro (2018)33 – Professora, e sobre os solos “salgados”? – Perguntou Terro. – Boa pergunta, Terro! Na verdade, são solos salinos. Esta é uma das grandes preocupações no Semiárido, pois existem os solos naturalmente salinos e os que foram salinizados pela ação do homem. Ciclo e ciclagem do Carbono Fonte: Aduan et al (2003)34 33Conferir: CORDEIRO, Max Sheldon et al. Sistema agrofl orestal do sítio Paêbirú: contribuições do alto sertão sergipano para áreas de caatinga. 2018.http://www.repositorio.ufal.br/handle/riufal/5185 34Conferir: ADUAN, Roberto Engel; VILELA, M. de F.; KLINK, Carlos Augusto. Ciclagem de carbono em ecossistemas terrestres: o caso do cerrado brasileiro. Embrapa Cerrados-Documentos (INFOTECA-E), 2003 .https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/40543/1/Ciclagem-de-Carbono-em- Ecossistemas-Terrestres-O-Caso-do-Cerra do-Brasileiro-.pdf 59 35Conferir: LIMA, Paulo César Fernandes. Manejo de áreas individuais de algaroba: plano de manejo. Embrapa Semiárido-Outras publicações científi cas (ALICE), 2006. http://www.cpatsa.embrapa.br/ public_eletronica/downloads/OPB892.pdf – Para as duas situações, os SAFs também são muito indicados. Muitas vezes, não precisa nem fazer drenagem, nem o uso do gesso ou outras substâncias. A vegetação dos SAFs pode ser resistente à salinidade, ou ela pode ajudar a reduzi-la. Quanto mais matéria orgânica entra no SAF, mais “flocula” ou abre o solo e os sais, que são mais prejudiciais quando estão na superfície, voltam para dentro do solo, assim causando menos danos. Por outro lado, a sombra feita pelas árvores diminui a evaporação e a nova adição de sais na superfície. A redução do vento também ajuda muito na redução da evaporação. – Existem, também, plantas que retiram os sais do solo, como o Coqueiro, a Cana de Açúcar, a Atriplex e o Capim Elefante. Outras, como a Algaroba e a Jurema Preta “gostam” destas áreas e, muitas vezes, ocupam-nas sem serem plantadas. Algarobal não manejado (esquerda). Algarobal manejado (direita) Fonte: Lima (2006)35 – Estas plantas, entretanto, devem ser manejadas depois, de modo que possam haver outras plantas econômicas entre elas formando um SAF a partir de uma área salinizada colonizada naturalmente. – Pois bem... na próxima aula continuamos!!! Até logo!!! 60 Capítulo 05 - Semiárido Vegetação e a Vegetação para SAF’s 1Conferir: IBGE. 2022. CONCLA. Biomas Brasileiros. https://cnae.ibge.gov.br/en/component/content/ article.html?catid=0&id=1465 Fauno, Flora, Hidra e Terro são jovens que moram em uma comunidade rural do Semiárido Brasileiro. Eles têm uma professora muito aplicada e muito preocupada em explicar a origem de tudo!!! O nome dela é Dona Fida. Flora, no início da aula, perguntou: – Professora, eu ouvi dizer que não existe só um Semiárido, mas vários Semiáridos. É verdade? – É verdade Flora!!! Por exemplo, vocês já viram que existe o Semiárido Região, o Semiárido Clima, o Semiárido Solos e hoje vamos ver o Semiárido Vegetação. Para entender o Semiárido Vegetação, primeiro é preciso entender que ele é parte de três biomas e que três biomas fazem parte dele. – Professora, o que é bioma? – Perguntou Hidra. – Bem, Hidra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE1 “Bioma é um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação que são próximos e que podem ser identificados em nível regional, com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de SAFs no Semiárido: Histórico, abrangência e características gerais 61 2IBGE. 2022. Educa Jovens. Biomas Brasileiros. https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/ territorio/18307-biomas-brasileiros.html; 3Imagem oriunda do SIGSAB/INSA/MCTIC não mais existente. formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria”. E Dona Fida continuou: – Desta forma, o IBGE dividiu
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