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POLÍTICA DE SEGURIDADE SOCIAL - SAÚDE AULA 4 Prof. Rafael Muzi 2 CONVERSA INICIAL Na primeira parte deste texto, aborda-se a organização da gestão e formação de recursos humanos no SUS e quais são os desafios postos para a efetivação da política de gestão e educação em saúde no âmbito do sistema público brasileiro. No segundo momento, abordam-se as potencialidades do uso da ciência e tecnologia, campo estratégico na esfera do SUS. Ao mesmo tempo, discute- se o assistente social como profissional da saúde e sua vinculação às temáticas abordadas. TEMA 1 – ORGANIZAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO DO TRABALHO NO SUS Os trabalhadores da saúde são a base para viabilizar ações e serviços aos usuários do SUS. Portanto, garantir aos trabalhadores condições satisfatórias para o desempenho das suas funções é necessário para a obtenção de avanços na implementação do sistema de saúde brasileiro. A gestão do trabalho no SUS é apontada como aspecto fundamental na concepção do sistema. Trata-se, no entanto, da área que sofre o maior processo de desregulamentação dentro da política de reforma do Estado no país, sob os mais diversos mecanismos, como a terceirização (Brasil, 2005). Observam-se nas instituições de saúde trabalhadores com vínculos trabalhistas diversos, em desvio de função ou jornadas múltiplas de trabalho. São trabalhadores em diferentes níveis de governo e de entidades prestadoras de serviço que dividem os mesmos espaços de atuação com direitos e deveres desiguais. A Lei n. 8.080/901 previu normas para a elaboração da política de gestão do trabalho para o SUS, a ser realizada de maneira articulada pelas esferas de governo. Atendendo a essa condição legal, foi construído o documento “Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho no SUS” (NOB/RH–SUS), instrumento normativo que regulamenta a Política Nacional de Gestão do 1 Lei orgânica da Saúde: Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 3 Trabalho e da Educação em Saúde, fruto da participação democrática e das negociações entre os atores sociais na saúde. O documento define as atribuições e as competências de cada instância de governo, e traz alguns conceitos básicos para compreensão do tema, dentre os quais destacamos: Trabalhadores de Saúde: são todos aqueles que exercem as suas atividades ou funções em serviços de saúde, públicos ou privados [...]; Gestão do Trabalho no SUS: [...] considera-se Gestão do Trabalho no SUS a gestão e a gerência de toda e qualquer relação de trabalho necessária ao funcionamento do Sistema, desde a prestação dos cuidados diretos à saúde dos seus usuários até as atividades-meio necessárias ao seu desenvolvimento. (Brasil, 2005, p. 32) É importante destacar que o recebimento de recursos da União pelos entes federados na área da saúde só se efetiva diante da existência de comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários em cada nível de gestão do SUS. Um dos fatores que dificultam a implementação da política de gestão de trabalho no SUS é a histórica falta de priorização da temática, acentuada ao longo das reformas neoliberais no Estado. Verificam-se muitas ações a realizar para a efetivação de uma ampla política de gestão do trabalho no SUS, que se fará no processo de construção coletiva e de novas relações de trabalho na produção de saúde (Brasil, 2005). TEMA 2 – ORGANIZAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E EDUCAÇÃO EM SAÚDE A formação de trabalhadores especializados é fundamental para o SUS. As ações de atenção à saúde demandam qualificação específica, voltada às necessidades apresentadas pela população. De acordo com a Constituição Federal, a competência para ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde é do próprio SUS. O papel das instituições de ensino nesse processo é essencial, bem como o comprometimento em todos os níveis de ensino com o modelo assistencial previsto pela legislação que se dá por meio da formulação de diretrizes curriculares que contemplem as prioridades expressas pelo perfil epidemiológico e demográfico das regiões do País; da implementação de política de capacitação de docentes orientada para o SUS; da formação de gestores capazes de 4 romper com os atuais paradigmas de gestão; e da garantia de recursos necessários ao desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão. (Brasil, 2005, p. 53) A participação na formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento de trabalhadores é atribuição comum a todos os entes federados (Brasil, 1990). Portanto, contemplar o processo de Educação Permanente no SUS passa pela construção de um modelo baseado nas competências dos níveis de gestão, dos trabalhadores e suas equipes, integrando educação, trabalho e regulação. Diante desses apontamentos, cabe ainda uma breve análise do processo em que se insere o ensino superior no país. Verificam-se no setor público sucessivos cortes de verbas, privatizações, interferências e ataques ao princípio da autonomia universitária. No âmbito privado, a formação privilegia a visão lucrativa, aligeirada, que em alguns casos se verifica em modelos da Educação à Distância. A formação dos profissionais em saúde sofre os impactos desse contexto (Lanza et al, 2012). Passa a ser urgente a construção de processos formativos comprometidos com a saúde integral, universal, pública e de acordo com os interesses coletivos. TEMA 3 – ASSISTENTE SOCIAL: TRABALHADOR DA SAÚDE A interface do Serviço Social com a área da saúde é consolidada na Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 218/97, que reconhece a categoria de Assistentes Sociais como profissionais de área, e na Resolução do Conselho Federal de Serviço Social n. 383/99, que caracteriza o Assistente Social como profissional da saúde. Cabe destacar o papel relevante da categoria profissional na área, comprometida com o acesso e a garantia do direito à saúde e com a democratização e com a participação popular na gestão da política. Destaca-se a presença dos profissionais nos debates mais abrangentes da área e na crescente produção acadêmica do Serviço Social na saúde. O exercício dos assistentes sociais da saúde na atualidade aponta para a existência de práticas democráticas e limites da atuação que se ampliam ou se retraem nas disputas entre os atores sociais. 5 Aos desafios atuais postos à formação do assistente social, em especialmente na saúde, salienta-se que as mudanças na área exigiram a adaptação das diversas profissões ao contexto do SUS, estimulando processos de revisão das instituições formadoras. No âmbito do Serviço Social, esse processo se insere num contexto de discussões profissionais mais profundas, que resultou em um novo projeto ético-político e em novas direções profissionais (Lanza et al, 2012). TEMA 4 – CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SAÚDE A Lei n. 8.080/90 atribui ao SUS “o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico”. Associado aos investimentos público/privado e ao papel regulador do Estado, o avanço dessas ações visa à concepção de produtos, serviços, insumos, medicamentos e equipamentos mais acessíveis, com possibilidade de incorporação pelo sistema de saúde. O conceito de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) é assim definido, conforme Tess (2010, p. 3): CT&I: [...] compreende ações conexas de ciência, tecnologia e inovação, incluídos educação, serviços de informação, registro de patentes, infraestrutura, recursos humanos e financeiros e outras atividades ligadas à inovação e difusão tecnológica. Na organização dos sistemas de saúde, observa-se a atuação de diversosatores ligados à CT&I. No Brasil – sistema público com participação considerável do setor privado –, os atores se inserem em papéis variados: formuladores de políticas, membros da comunidade científica, das agências de fomento e órgãos reguladores, da indústria farmacêutica, médico-hospitalar e gestores e usuários (Tess, 2010). São esses atores que se defrontam com o desafio de utilizar avanços científicos e tecnológicos na formulação de políticas em setores diversos, e que no campo da saúde passam necessariamente pela expectativa de promover a superação dos problemas de saúde, visando prolongar e melhorar a qualidade de vida da população. Tornar o país mais inovador e competitivo no campo de CT&I passa por muitos obstáculos. Planejamento, estabilidade de investimentos e parcerias são requisitos indispensáveis para direcionar a racionalidade, o foco e a 6 avaliação dos resultados dos investimentos das ações de CT&I em saúde (ibidem). Nesse sentido, a integração entre os sistemas poderá proporcionar maior equidade no acesso às inovações em saúde. TEMA 5 – SERVIÇO SOCIAL E A PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO O assistente social ocupa um importante espaço na dinâmica do atual modelo de gestão de saúde, pelo seu potencial de produção de informação e geração de conhecimentos, percebidos como um capital relevante nesse contexto. A busca pelo “novo”, na direção das demandas dos usuários, marca a inserção definitiva do assistente social na prática da pesquisa dentro das instituições (Sodré, 2010). A dimensão investigativa contínua no trabalho do assistente social diferencia a ação profissional, pois combina criticamente instrumentos no levantamento e na leitura de dados com o intuito de produzir análise de conjuntura e fornecer respostas criativas e teoricamente embasadas. Ao refletir sobre a realidade, o assistente social desenvolve ações que permitem verificar as necessidades de ampliação e de universalização, compreendendo o direito como um campo que não se esgota na lei, mas como “campo aberto”, em que novas demandas podem se reconfigurar (ibidem). O desafio do Serviço Social, diante do momento histórico atual, de novas requisições profissionais na dinâmica de trabalho coletivo e de avanços tecnológicos, permanece sendo a produção de informação qualificada orientada à concretização do direito à saúde, enfim, da consolidação da democracia, da cidadania e da justiça social. NA PRÁTICA O assistente social tem por conta de sua formação generalista a possibilidade de desenvolver sua ação em diversos espaços sócio- ocupacionais. O assistente social é reconhecido como profissional da saúde, embora não exclusivo da área. O trabalho em saúde para o profissional significa relacionar saberes entre o campo biológico e as condições sociais. Parcela considerável dessa 7 relação se dá mediante conteúdos ofertados na graduação. Na prática, é o exercício realizado agora. Portanto, quando passa a atuar no campo em questão, o profissional necessita absorver conhecimentos históricos da política de saúde, da área de epidemiologia, de instrumentos de gestão, e outros, “usando ferramentas, meios de trabalho e organizando os seus modos de uso de tecnologias, imprimindo sua marca pessoal nesse processo”, que, embora se trate de trabalho coletivo, tem o subjetivo como parte da objetivação desse mesmo trabalho (Sodré, 2010). FINALIZANDO O avanço na implementação da proposta do SUS passa pela valorização dos trabalhadores da saúde e pelo incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico, para que se promovam acessos mais equânimes às inovações em saúde. No setor de saúde, observa-se que os avanços e o uso da alta tecnologia não substituem a atuação de um trabalhador na função de atendimento àqueles que necessitam de atenção (Brasil, 2005). Cabe ao assistente social qualificar processos de formação profissional e a produção de informações no âmbito de atuação. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 8080/90, de 19 de setembro de 1990. Brasília, 1990. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8080.htm>. ______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Princípios e Diretrizes para Gestão do Trabalho no SUS (NOB/SUS-RH). 3. ed. Brasília, 2005. LANZA, L. M. B; CAMPANUCCI, F. S.; BALDOW, L. O. As profissões em saúde e o Serviço Social: desafios para a formação profissional. Rev. Katálysis, Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 212-220, dez. 2012. 8 SODRÉ, F. Serviço Social e o campo da saúde: para além de plantões e encaminhamentos. Rev. Serviço Social e Sociedade, n. 103, São Paulo, 2010. TESS, B. H. Ciência, tecnologia e inovação em saúde: desafios / Science, technology and innovation in health: challenges. Rev. direito sanit., n. 5, v. 2, p. 9-21, jul. 2004. http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis|database_name=TITLES|list_type=title|cat_name=ALL|from=1|count=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20direito%20sanit
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