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INTOXICAÇÕES POR FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS E TETRACÍCLICOS · Amitriptilina, imipramina, nortriptilina, bupropiona, mirtazapina etc · Grande disponibilidade oral e a maior parte dos efeitos tóxicos atingem pico de ação por volta das primeiras 6 horas · Doses acima de 10 – 20mg/kg apresentam risco de vida (cardiovascular e neurológico) · Drogas altamente lipofílicos rapidamente distribuídas ao coração, cérebro, fígado e rins, onde as concentrações tissulares se apresentam em razão das plasmáticas na ordem de 10:1 · Meia-vida é longa e imprevisível (7 – 58 horas), maior em idosos · Baixo índice terapêutico pequenos incrementos no nível sérico podem resultar em toxicidade QUADRO CLÍNICO · Mecanismo de ação inibição da recaptação pré-sináptica de vários neurotransmissores · Bloqueio dos receptores de acetilcolina (síndrome anticolinérgica) taquicardia, pele seca e quente, sedação e coma · Bloqueio dos canais de sódio depressão miocárdica, prolongamento do QRS (taquiarritmias graves) · Bloqueio dos receptores alfa-adrenérgicos hipotensão · Bloqueio da recaptação da noradrenalina, serotonina e dopamina convulsões, taquicardia · Podem se apresentar oligossintomáticos, porém toxicidade cardiovascular e ao SNC ameaçadora à vida podem ocorrer, usualmente dentro de 1 – 2 horas pós-ingesta · Intoxicações moderadas predomínio de efeitos anticolinérgicos (pele e mucosas secas e quentes, hipertensão, midríase, retenção urinária, confusão mental etc) · Com a ingestão de doses maiores podem surgir as demais manifestações, com predomínio de efeitos cardiovasculares (hipotensão, arritmias) e neurológicos (convulsões) · ACV taquicardia sinusal, prolongamentos de intervalos PR, QRS e QT, distúrbios de condução elétrica · Neurológico alteração do nível de consciência em diversos níveis (delirium, psicose, agitação, leargia e coma), convulsões · Alterações típicas do ECG: · Taquicardia · Desvio do eixo QRS para a direita · Relação R/S em aVR · Prolongamento QRS acima de 100ms · Prolongamento do intervalo QTc DIAGNÓSTICO · Essencialmente clínico · Suspeitar em todo paciente inconsciente com história de doença psiquiátrica, dor crônica, que utiliza a droga ou nos casos de alteração de nível ou conteúdo de consciência associado a sintomas anticolinérgicos (mucosas e pele secas, rubor, taquicardia, convulsão) · Alterações eletrocardiográficas: · Prolongamento QRS · Onda R em aVR > 3mm · Onda R em aVR maior que a onda S · Seriar o ECG é apropriado, uma vez que alguns achados se associam a maior risco de desenvolvimento de complicações QRS > 100s, QTc > 430ms e R/S > 0,7 em Avr MANEJO · Medidas de suporte monitorização, suporte de oxigênio e IOT se necessário, exames laboratoriais, correção de eventuais distúrbios hidroeletrolíticos e ECG contínua · Essa intoxicação retarda o esvaziamento gástrico e pode causar vômitos e alto risco de aspiração, especialmente em pacientes com RNC · Descontaminação gástrica com carvão ativada se < 1 – 2h · Lavagem gástrica pode ser considerada somente em intoxicações ameaçadoras à vida · Alcalinização sérica (alvo de pH entre 7,45 – 7,55) com bicarbonato de sódio em pacientes com arritmia ou hipotensão, mesmo na ausência de acidose · Arritmia não responsiva administrar sulfato de magnésio 1 – 2g em 15m EV · Emulsões lipídicas com o intuito de se contrapor aos efeitos tóxicos 1,5mL/kg em bolus ANTIDEPRESSIVOS SEROTONINÉRGICOS · Inibem a recaptação de serotonina em SNC, SNP e plaquetas, estimulando os receptores serotoninérgicos · Necessitam de doses muito elevadas para que haja intoxicação · Quadro pode ser agravado pelo uso concomitante de substâncias que aumentam o nível de serotonina, como inibidores da MAO, tricíclicos, opioides, anfetaminas, cocaína, sibutramina, crack e LSD · Intoxicação isolada geralmente é oligossintomática, porém em casos mais graves podem ocorrer síndrome serotoninérgica, convulsões, depressão do SNC e anormalidades cardíacas · São rapidamente absorvidos e atingem pico sérico dentro de 6 horas QUADRO CLÍNICO · Casos leves ataxia e letargia · Casos mais graves bradicardia, hipotensão, RNC e coma · Síndrome serotoninérgica é incomum e quando presente tende a não ser grave, exceto casos de cointoxicação com outras drogas serotoninérgicas · Trata-se de uma condição clínica secundária à excessiva estimulação de receptores 5-HT1A e 5-HT2 tipicamente causada pela combinação de duas ou mais medicações serotoninérgicas, caracterizada pela tríade: · Alterações do estado mental agitação, ansiedade, confusão mental e hipomania · Instabilidade autonômica taquicardia, hipertensão, sudorese hipertermia e midríase · Hiperatividade neuromuscular hiper-reflexia, mioclonias, rigidez e tremores DIAGNÓSTICO · Clínico · ECG na entrada, principalmente tratando-se de intoxicação por citalopram ou escitalopram · Nos casos graves, monitorar CPL e mioglobinúria (risco de rabdomiólise), função renal, função hepática, hemograma, coagulograma e D-dímero (risco de CIVD) MANEJO · Apenas medidas de suporte, pois a maioria dos casos não se desenvolve gravemente · Exposições acidentais menores, assintomáticos, podem ser observadas no domicílio · Intoxicação por citalopram ou escitalopram devem ser monitorizados por pelo menos 6 horas devido á presença de metabólitos tóxicos; recomenda-se: · Descontaminação GI com carvão ativado · Taquicardia com QRS alargado bicarbonato de sódio 1 – 2mEq/L · Monitorização cardíaca contínua · Intervalo QTc > 560ms sulfato de magnésio 2g EV em 2min · Manejo de síndrome serotoninérgica: · Resfriamento corporal com medidas físicas · Se temperatura central > 41 IOT + sedação com BZD e BNM · Casos refratários antagonistas de serotonina (ciproeptadina 12mg VO/SNE) PARACETAMOL · Grave, portanto, identificação precoce · Medicação com efeitos analgésicos de ação central e propriedades anti-inflamatórias mínimas · Metabolização hepática e excreção renal · Pico de concentração por volta de 4 horas · Fatores que aumentam o risco de hepatoxicidade: · Idade > 40 anos · Estoques reduzidos de glutation (má nutrição, jejum, doença hepática crônica) · Combinação com opioides · Up-regulation do citocromo p450 · Ingesta aguda de álcool · Doses potencialmente hepatotóxicas são ingesta única > 200mg/kg ou 10g em período > 8h · Após doses excessivas, os sistemas glicuroniltransferase e sulfoniltransferase, que facilitam a conjugação e excreção urinária da droga, tornam-se saturados · O excedente passa a ser metabolizado pela via do citocromo p450, da qual se origina o metabólito hepatotóxico NAPQI, que esgota a glutationa celular · Quando cerca de 70% da glutationa está esgotada, a NAPQI liga-se a proteínas do hepatócito, levando a alterações de membrana e morte celular QUADRO CLÍNICO · Sintomas são raros antes da iminência da falência hepática · Apresentação clínica dividia em quatro fases: · Primeiras 24 horas · Sem achados específicos precoces que indiquem toxicidade · Sintomas inespecíficos náuseas, vômitos, dor abdominal, anorexia, letargia, diaforese · Exames laboratoriais normais · 24 – 72h · Sintomas melhoram ou desaparecem · Anormalidade bioquímica (elevação de TGO, TGP, bilirrubinas e tempo de protrombina) · Lesão hepática progressiva pode se apresentar com dor em QSD e hepatomegalia · 72 – 96h · Pico da lesão hepática · Reaparecimento de náuseas e vômitos, assim como icterícia, coagulopatia, LRA, encefalopatia e manifestações do SNC · 96h – 14 dias · Paciente começa a melhorar e pode apresentar recuperação total dentro de 3 meses · Na ausência de melhora, progressão com disfunção orgânica múltiplas e óbito DIAGNÓSTICO · Suspeita clínica e quantificação dos níveis séricos da medicação, feito com pelo menos 4 horas da ingestão · Momento da ingesta conhecido resultado deve ser plotado no nomograma de Rumack-Matthew, que determina a potencial toxicidade baseada no nível sérico de acetaminofeno e horas da ingesta aguda · Exames podem indicar anormalidade na função hepática, tipicamenteapós 24 – 72h MANEJO · Descontaminação com CA · Lavagem gástrica não é indicada pela potencialidade de dano · N-acetilcisteína (NAC) é o antídoto para a toxicidade dos metabólitos do acetaminofeno, porém não afeta os níveis séricos da droga · Atua no clareamento do NAPQI e na recuperação da síntese de glutationa hepática, permitindo a regeneração hepatocitária · VO ou EV a depender do estado mental · VO ataque de 150mg/kg + manutenção de 70mg/kg por 72h até que permaneça assintomático, sem sinais de hepatotoxicidade · EV ataque de 150mg/kg em 1h diluídos em 200 – 300mL de SF ou SG 5% · Reações anafilactoides são frequentes · Hemodiálise intermitente é considerada em casos que a NAC foi insuficiente · Transplante hepática única intervenção que melhora a sobrevida de pacientes com lesão hepática irreversível e falência hepática aguda · Monitorização diária de INR e creatinina em pacientes com coagulopatia e LRA LÍTIO · Mecanismo de ação inibição de inositol monofosfatases e modificação de glicogênio sintase quinase 3 e seus alvos bioquímicos · Durante sua excreção nos túbulos renais, ele compete com outros cátions (Na e K), de tal forma que em situações de aumento de absorção desses íons (desidratação) o lítio também é pouco excretado · Isso favorece seu acúmulo no organismo em níveis tóxicos, muito próximo dos níveis terapêuticos nos pacientes (0,8 – 1,2mmol/L) · Rápida absorção gastrointestinal, com picos séricos em aproximadamente 0,5 – 2 horas · A redistribuição tecidual é complexa e prolongada e a estabilidade dos níveis séricos e cerebral podem demorar até 24h para ocorrer · Droga não metabolizada, não circula ligada a proteínas e excretada pelos rins QUADRO CLÍNICO · Três formas distintas: · Toxicidade aguda · Ingesta única, sem exposição prévia ao lítio (tentativa de suicídio) · Em geral são menos graves devido à penetração lenta da droga no SNC, predominando sintomas GI · Manifestações neurológicas leves, como tontura, e tardias à medida que haja distribuição da droga no SNC (nistagmo, hiper-reflexia, ataxia e alteração do nível de consciência) · Toxicidade crônica · Alteração no balanço entre ingesta e eliminação · Sintomas inespecíficos, com manifestações GI pouco proeminentes · Predomina o quadro neurológico tontura, fotofobia, confusão mental · Exame clínico nistagmo, tremores, hiper-reflexia, clonus, fasciculação, ataxia e RNC · Toxicidade crônica-agudizada · Ingesta aguda se associa a exposição prévia ao lítio · Sobrepõem-se as manifestações clínicas de toxicidade aguda e crônica DIAGNÓSTICO · Suspeitar em qualquer paciente com alteração do estado mental que faz uso de medicações neuropsiquiátricas ou sintomas neurológicos novos na vigência de alteração de função renal · Níveis de lítio podem vir baixos numa primeira dosagem · Monitorização de níveis séricos a cada 6h · Solicitar glicemia capilar, eletrólitos, função renal, hemograma, função tireoidiana e ECG MANEJO · Indicações de internação: · Litemia > 1,2mEq/L, não modificada ou que ascende a despeito de ressuscitação volêmica · Litemia elevada associada a função renal alterada · Alteração de nível de consciência ou sintomas neurológicos em pacientes usuários crônicos de lítio, independentemente das concentrações séricas · Medidas de suporte monitorização, suporte de oxigênio e IOT se necessário, correção de eventuais distúrbios hidroeletrolíticos e controle de agitação · Irrigação intestinal com PEG podem ser úteis em grandes intoxicações com formulações de liberação prolongada · Comumente são depletados em volume · Hidratação com solução salina, objetivando diurese de 2 – 3mL/kg/h · Monitorizar sódio de 6/6h devido ao risco de diabetes insipidus · Em casos graves hemodiálise; indicações: · Lítio > 5mEq/L, independente dos sintomas · Lítio > 4 e IRA · Lítio > 2 e IRA + sintomas neurológicos · Interromper quando litemia < 1mEq/L BENZODIAZEPÍNICOS · Mecanismo de ação ativação de receptores gabaérgicos no SNC, diminuindo a excitabilidade neuronal e levando a depressão dos reflexos medulares e do sistema ativados reticular ascendente, o que resulta em efeitos sedativos, antiansiedade, anticonvulsão e relaxamento generalizado muscular · Alto índice terapêutico dose tóxica é muito superior à terapêutica QUADRO CLÍNICO · Principais RNC e depressão respiratória · Gravidade maior quando associada com outras substâncias depressoras do SNC álcool, antidepressivos, barbitúricos, opioides etc · Pode causar reações paradoxais, incluindo excitação, ansiedade, agressividade e delírio (bastante incomum) · O propietilenoglicol é o diluente usado nas preparações parenterais de Diazepam e lorazepam; assim, o uso prolongado dessas medicações pode causar intoxicação por propietilenoglicol DIAGNÓSTICO · Clínico · Dosagem sérica não apresenta boa sensibilidade · Avaliação da glicemia capilar e gasometria MANEJO · Suporte monitorização, suporte de oxigênio, hidratação, exames laboratoriais e correção de eventuais distúrbios hidroeletrolíticos · Não postergar IOT se RNC e incapacidade de proteção de VA · Hipotensão secundária a BZD geralmente responde bem a cristaloide · Apesar de haver um antagonista amplamente disponível, o flumazenil, ele não é recomendado de rotina, em especial nos usuários crônicos de BZD, devido ao risco de precipitar grave síndrome de abstinência e diminuir o limiar convulsivo; indicações: · Pacientes sedados com BZD para procedimentos que não fazem uso crônico, em que é necessário reverter o efeito da medicação · PCR ou PR presumidamente atribuída a BZD · 0,1 – 0,2mg EV em bolus, pode repetir até dose máxima de 1mg · Intoxicação isolada, assintomáticos ou levemente sintomáticos, 6 horas após ingesta alta hospitalar OPIOIDES · Mecanismo de ação se ligam a receptores no SNC, TGI e nervos periféricos de três tipos diferentes (mu, kappa ou delta) · Nos receptores centrais, determinam depressão do SNC e respiratória · No TGI, acarretam lentificação do esvaziamento gástrico e do trânsito colônico · Nos nervos periféricos, reduzem a sensação de dor · Início da ação depende da via de administração e do agente específico · Via EV ação mais rápido QUADRO CLÍNICO · Sonolência, RNC, miose (pupilas puntiformes), depressão respiratória, redução do peristaltismo e constipação intestinal · Bradipneia < 12 é o sinal que melhor prediz intoxicação por opioides DIAGNÓSTICO · Clínico · Alguns opioides podem ser dosados na urina MANEJO · Restauração da oxigenação e ventilação, seguidas de potencial reversão com naloxone · Medidas de suporte · Naloxone tem como principal indicação a depressão respiratória grave (FR < 12irpm) · Dose inicial de 0,4mg EV em bolus
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