Buscar

eja4

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CONTEÚDO E 
METODOLOGIA 
DA EDUCAÇÃO DE 
JOVENS E ADULTOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Relacionar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Educação de Jovens 
e Adultos (EJA).
 > Reconhecer o aluno da EJA como protagonista de sua aprendizagem.
 > Identificar o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem.
Introdução
O conhecimento e a aprendizagem não se constroem da mesma forma em todas 
as etapas de aprendizagem. As crianças, quando chegam à escola, encaram uma 
trajetória que se inicia na educação formal. Os estudantes da EJA costumam já 
ter passado por essa experiência, e nem sempre as suas representações sobre 
a escola são boas. Ainda assim, eles já conhecem muito mais sobre a vida, em 
razão das experiências vividas.
A EJA é uma modalidade de ensino que, por ter alunos com características 
muito específicas, precisa de uma organização curricular e pedagógica também 
específica. Afinal, boa parte dos estudantes da EJA vive no cotidiano práticas que 
envolvem a escrita e outros conhecimentos que serão aprofundados e sistema-
tizados na escola.
Conhecimento 
e aprendizagem 
na Educação de 
Jovens e Adultos
Rosemary Trabold Nicacio
Desde a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2020]) e a Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 (BRASIL, [2018]), a educação é vista como 
um direito de todos. Por isso, é preciso estudar a educação voltada ao público da 
EJA (jovens, adultos e idosos), reconhecendo-os como sujeitos históricos com um 
percurso significativo de experiências. Tais experiências são a base sobre a qual 
os professores devem pensar a educação.
Neste capítulo, você vai estudar a proposta curricular da EJA e a sua aproximação 
com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Além disso, vai identificar o perfil 
dos estudantes da EJA. Por fim, vai ver o papel do professor nessa modalidade 
de ensino.
Proposta curricular da Educação de Jovens e 
Adultos
A EJA, como modalidade de ensino da educação básica, deve ter um currículo 
organizado a partir das orientações da BNCC, o que foi reafirmado pelas 
Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos (BRASIL, 2021).
Ainda que não haja orientações na BNCC para um atendimento específico 
da EJA, esse público tem especificidades que precisam ser consideradas 
(BRASIL, 2017). Tais especificidades estão previstas no Plano Nacional de 
Alfabetização (PNA):
Ao jovem e ao adulto que não sabem ler e escrever busca-se não apenas proporcio-
nar autonomia para ler e escrever o próprio nome e algumas palavras relacionadas 
ao seu cotidiano, mas, além disso, apresentar a leitura e a escrita como meios de 
desenvolvimento pessoal e profissional, de acesso à literatura e de outras possibi-
lidades, conforme as motivações e aspirações de cada pessoa (BRASIL, 2019, p. 35).
Essa visão abrangente nos leva a pensar que o currículo na educação 
básica tem como ponto de partida os conhecimentos, as competências e as 
habilidades previstas na BNCC. No entanto, é fundamental que as escolas 
que atendam a EJA façam os devidos ajustes para o atendimento de jovens e 
adultos que, pela própria trajetória de vida, já têm competências e habilidades 
desenvolvidas. Por isso, é importante que os professores tenham clareza da 
história de vida de seus alunos e de suas experiências, principalmente com 
a escrita e a leitura. Assim, eles poderão reorientar o currículo a serviço da 
aprendizagem.
Na alfabetização de uma turma de EJA, deve-se ter ciência de que esses 
jovens e adultos já têm conhecimentos sobre a função social da escrita, pois 
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos2
convivem em um mundo letrado. No entanto, lhes falta o capital linguístico for-
mal, no sentido defendido por Soares (2017), que diferencia a alfabetização do 
letramento. O letramento é um valor social (capital) cultural e linguístico que 
é adquirido no convívio social. Esse conhecimento é construído socialmente, 
com uma herança de geração para geração. Já a alfabetização relaciona-se 
ao entendimento de como a escrita se organiza e de qual é a formação do 
sistema de escrita em toda a sua amplitude. Em resumo, a alfabetização é 
um saber formal que só é adquirido na escola. Segundo a BNCC, há eixos de 
conhecimento a serem aprofundados em relação ao ensino da língua, como 
a oralidade, a análise linguística e semiótica, a leitura, a escuta e a produção 
de textos.
No eixo da oralidade estão as situações comunicativas e a aproximação 
das práticas de uso da linguagem oral, tão comum na vida cotidiana, em 
podcasts e programas de rádio e TV. Uma reorientação curricular deve estar 
voltada à reflexão sobre as condições de produção desses textos orais, os 
gêneros e o espaço de circulação desses discursos. O ensino da língua na 
oralidade deve ser atrelado ao aspecto crítico e reflexivo sobre as intenções 
do discurso nos diferentes espaços em que estes circulam, pois, como afirma 
Bakhtin (2003, p. 261), “todos os diversos campos da atividade humana estão 
ligados ao uso da linguagem”. A linguagem nunca é neutra, então é preciso 
orientar os alunos para que compreendam os gêneros do discurso em seu 
aspecto ideológico. Para isso, é preciso ter domínio da língua e da linguagem 
e conhecer o uso de determinadas expressões ou do léxico próprio do con-
texto de produção. Trata-se da palavra como ato, segundo Bakhtin (2003), 
que traduz um pensamento, uma intenção.
Nessa perspectiva, vinculamos o ensino a uma atitude política, no sentido 
freiriano de que preparamos o aluno para ler o mundo e libertar-se da alie-
nação que o analfabetismo produz. Também observamos no eixo da leitura o 
desenvolvimento de estratégias para a compreensão dos diferentes textos, 
como multissemióticos, orais e escritos, possibilitando aos alunos autonomia 
para a fruição de textos literários, muitas vezes inacessíveis aos analfabetos, 
além da leitura de textos jornalísticos, que promovem a informação sobre 
o momento presente, algo muito importante para incluir-se socialmente.
Na análise linguística e semiótica, os alunos devem mergulhar na própria 
produção do registro escrito, na organização do sistema, na relação grafo-
fônica, na fono-ortografia, na morfossintaxe, na sintaxe, na semântica, na 
variação linguística, nos elementos notacionais, etc. Vale ressaltar que o ensino 
da língua deve estar sempre a serviço da autonomia e do desenvolvimento da 
consciência crítica. Não é válida a imposição da língua unicamente na forma 
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos 3
culta, pois, como alerta Gadotti (2021), em uma educação formal corremos o 
risco de reproduzir o poder dominante e, assim, não produzir a emancipação 
dos alunos. Segundo o autor, o analfabetismo é a expressão da pobreza, por 
isso um programa de EJA não pode apoiar-se no rigor metodológico, mas no 
quanto os saberes da língua poderão impactar na qualidade de vida de seus 
estudantes. Afinal, “a educação de adultos está condicionada às possibilidades 
de uma transformação real das condições de vida do aluno-trabalhador” 
(GADOTTI, 2021, documento on-line).
É importante ressaltar que a BNCC organiza a formação do currículo consi-
derando o ensino fundamental em sua integralidade, ou seja, os anos iniciais 
e finais são como um percurso contínuo (Quadro 1).
Quadro 1. Organização da BNCC para o ensino fundamental
Anos iniciais Anos finais
Campo da vida cotidiana
Campo artístico-literário Campo artístico-literário
Campo das práticas de estudo e 
pesquisa
Campo das práticas de estudo e 
pesquisa
Campo da vida pública Campo jornalístico-midiático
Campo de atuação na vida pública
Fonte: Adaptado de Brasil (2017).
Observe que o campo da vida cotidiana é o ponto de partida. A ideia é 
aproximar os estudantes da linguagem escrita a partir dos gêneros textuais e 
dos discursos mais próximos de sua vivência para, aos poucos, introduzi-los 
no uso dos gêneros mais institucionalizados, como os do acesso à literatura, 
artigos científicos, textosjornalísticos e textos de atuação na vida pública 
(textos de cunho político, código de direito do consumidor e de interesse 
público), essenciais para o exercício pleno da cidadania (BRASIL, 2017).
Acima de tudo, a escola deve garantir o letramento por meio da alfabetiza-
ção. Como descreve Soares (2012, p. 12), “não basta apenas saber ler e escrever, 
é preciso também saber fazer uso do ler e do escrever e saber responder às 
exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente”.
As Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos enfatizam, 
em seu artigo 13, que, independentemente de os estudantes da EJA estarem no 
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos4
ensino fundamental ou no ensino médio, o currículo deve garantir os direitos 
e objetivos de aprendizagem, com destaque para as competências de língua 
portuguesa, matemática e inclusão digital (BRASIL, 2021). Este último porque 
as diretrizes também preveem o ensino a distância para os estudantes da EJA 
a partir dos anos finais do ensino fundamental, então é muito importante 
organizar um currículo que dialogue com as tecnologias. Tanto o discurso oral 
quanto o escrito precisam ser ressignificados no processo de alfabetização, 
pois a língua precisa ser conhecida na vida desses estudantes de forma viva 
(BRASIL, 2021).
O termo “letramento” tem origem na palavra “literacy”, que significa:
[...] estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Implícita 
nesse conceito está a ideia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, 
políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que 
seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la (SOARES, 2012, p. 9).
Assim, o processo de alfabetização de jovens e adultos deve contribuir 
para a sua ressignificação no mundo social, econômico e cultural, o que é um 
processo de inclusão.
Nesta seção, vimos que é necessário que os currículos escolares sejam 
reorientados para atender às especificidades do público da EJA, que não tem 
as mesmas necessidades das crianças em fase de escolarização. Na próxima 
seção, vamos ver as características do público da EJA, reconhecendo o seu 
protagonismo no processo de aprendizagem.
Perfil do aluno da Educação de Jovens e 
Adultos
Na EJA, os principais sujeitos envolvidos são o aluno e o professor. Nesta 
seção, vamos conhecer as características do aluno dessa modalidade de 
ensino, identificando o perfil que lhe confere a condição de protagonista da 
sua própria aprendizagem.
Segundo o artigo 37 da LDB (BRASIL, [2018]), a EJA é destinada àqueles que 
não tiveram acesso ou continuidade dos estudos em idade própria e, por isso, 
será responsabilidade do Estado garantir as condições para sua educação 
escolar. Para concluir o ensino fundamental, os alunos devem ter completado 
15 anos; para o ensino médio, devem ter completado 18 anos.
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos 5
Segundo Moraes, Araújo e Negreiros (2020), as políticas públicas voltadas 
para o atendimento dessa modalidade de ensino são secundárias em relação 
às demais políticas educacionais. Afinal, como uma política compensatória, 
imaginava-se que a EJA atenderia a um público de adultos por um determi-
nado período e se extinguiria. No entanto, a EJA tem se expandido para o 
atendimento de dois novos grupo sociais, idosos e jovens, caracterizando a 
juvenilização da EJA e descaracterizando a identidade original desse público.
Serra e Furtado (2016) destacam que os idosos passaram a usufruir do 
direito à educação como uma forma de participar da vida, pois foram privados 
do acesso à escola por diversos motivos, como trabalho, família, resistência 
dos maridos e inexistência de escolas próximas a suas moradias. Todavia, eles 
não perderam a vontade de aprender e mantiveram a esperança de mudar de 
vida, acreditando que aprender a ler e a escrever garante maior autonomia e 
independência, inclusive no acompanhamento dos estudos de filhos e netos.
A juvenilização, de acordo com Souza Filho, Cassol e Amorim (2021), tem 
crescido devido a vários fatores, predominando a própria adolescência e a 
indisciplina que acaba rotulando o adolescente como aluno problema. Ainda, 
há os constantes insucessos na aprendizagem e a busca por emprego, que 
afasta os jovens da escola. O maior problema da juvenilização é a exclusão 
da vida escolar e, consequentemente, da interação social e cultural.
O perfil da EJA tem ampliado a sua heterogeneidade, principalmente em 
relação aos interesses e saberes já construídos. Os adultos vão em busca do 
aperfeiçoamento para a manutenção no trabalho ou mesmo uma promoção. 
Já os idosos tendem a resgatar as oportunidades que lhes foram negadas, 
buscando autonomia a independência. Os jovens, por outro lado, buscam 
acolhimento e o resgate social de quando foram preteridos na escola regular. 
Além disso, entre os alunos da EJA estão os presidiários, que diminuem suas 
penas ao estudarem. Eles podem ou não participar das aulas nos presídios.
Como visto, os alunos da EJA já percorreram uma certa trajetória de vida, 
por isso tiveram experiências diversas, inclusive com a escrita. Afinal, hoje 
o mundo está conectado, e muitas regiões distantes dos grandes centros já 
se encontram ligadas por algum meio de comunicação que usa a linguagem 
tanto oral quanto escrita. A organização do discurso exige que as pessoas 
acionem a sua gramática interior, que é uma aprendizagem informal, mas que 
pode ser aperfeiçoada à medida que o tempo passa. Além disso, as pessoas 
adquirem um vocabulário específico do seu universo de trabalho e de suas 
experiências sociais.
Ramos e Martins (2022, p. 7) falam sobre o discurso oral como um espaço 
de autoria quando os alunos podem interpretar a partir de suas próprias 
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos6
referências, pois “o conhecimento prévio tem um caráter ‘acumulativo, ex-
pandível e modificável’ que recai sobre o conhecimento linguístico”. Assim, 
entendemos que há uma base de conhecimento sobre a língua.
Os jovens e adultos também apresentam como característica predominante 
a condição de serem trabalhadores, o que representa um dos principais mo-
tivos para o retorno à escola, qualificando-se para o trabalho e melhorando 
as condições de vida (MORAES; ARAÚJO; NEGREIROS, 2020).
Independentemente de serem de áreas urbanas ou rurais, esses estudantes 
convivem com relações de comércio, pois são consumidores e, muitas vezes, 
produtores de bens e/ou serviços, evidenciando práticas com objetos e ar-
tefatos do mundo letrado. No entanto, muitos deles ainda são classificados 
como semianalfabetos ou analfabetos funcionais.
O termo “alfabetização funcional”, difundido mundialmente pela 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(Unesco) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA) na década de 1960, 
teve origem nos Estados Unidos na década de 1930, quando foi constatado que 
os militares tinham dificuldades para compreender as instruções escritas, ainda 
que tivessem conhecimento da língua inglesa. Esse termo impulsionou muitos 
países a investir em programas de alfabetização para adultos, como ocorreu no 
Brasil com o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) em 1968. No entanto, 
foi apenas em 1976 que esse movimento ganhou um aspecto mais humanista, 
com a participação de Paulo Freire (ESCOBAR, 2007; STIEG; ARAÚJO, 2017).
Os estudantes da EJA, conforme Arroyo (2013, p. 274), se encontram fora 
do lugar na escola regular, por isso é preciso inventar “outros lugares, outros 
tempos inclusivos educativos: extraturnos, extratempos, extrapercursos, 
extradisciplinas, extraordenamentos curriculares, extra-avaliações”. Em 
outras palavras, o que a escola oferece precisa ser revisto. Afinal, mais que 
trabalhadores anônimos, excluídos e defasados na escolarização, os alunos 
da EJA são sujeitos de direitos:
[...] constituídos por e nas relações sociais,na vida em sociedade, pela intermedia-
ção da cultura, dos valores e crenças que dotam essas relações de significados e 
sentidos. Inserem-se em um contexto histórico, político e econômico e nele en-
saiam suas trajetórias de vida. Ao mesmo tempo, realizam um movimento próprio 
para interpretar esse mundo e traduzi-lo a si mesmo, percebendo-se como parte 
constituinte de um ou de vários grupos (SANTOS; SILVA, 2020, p. 3).
Os estudantes devem ser vistos como pessoas com conhecimentos sobre 
o mundo em que vivem, realizam trocas sociais e comerciais, cultuam valores 
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos 7
e atribuem sentidos diversos, conferindo uma autonomia sobre o seu lugar no 
mundo. Portanto, nessa perspectiva, esses alunos precisam ser envolvidos 
nos processos educacionais, principalmente quanto às práticas de alfabe-
tização e letramento, pois cabe a eles estabelecer as relações entre as suas 
experiências cotidianas e os saberes formais que a escola apresenta. Em 
outras palavras, é preciso que assumam seu protagonismo também na escola.
O conhecimento da língua portuguesa e da linguagem escrita repercute 
não apenas nas relações desses estudantes com o mundo, mas também na 
forma de organização do pensamento. A língua não é apenas um código; é 
um campo ideológico e de poder. Por isso, conhecer sua organização e os 
elementos constituintes pode promover a inclusão e ampliar a visão de 
mundo desses sujeitos.
Para Paulo Freire (2010), os alunos da EJA precisam envolver-se no processo 
de construção da aprendizagem. Eles precisam conscientizar-se das verdades 
ocultas pelas ideologias que circundam a realidade. Entre essas ideologias, 
está a própria ideia de escola, pois não é possível incluir os alunos da EJA em 
estruturas excludentes, com tempos, rituais e conteúdos a serviço da educação 
regular. Nessa perspectiva, o protagonismo desses estudantes não aflora e, 
se aflorar, será incômodo para a ordem estabelecida. O protagonismo vem da 
presença, do direito de fala, do ser ouvido, do pensar junto, da possibilidade 
de transformação que eles buscam na escola.
Para os alunos da EJA, a escola tem um significado totalmente diferente 
do que tem para as crianças. Os alunos da EJA não estão na escola porque 
são obrigados ou precisam aprender sobre diversos conteúdos, mas porque 
precisam buscar sua dignidade e autonomia para viverem num mundo letrado, 
com exigências para inclusão que passam por saberes que só são adquiridos 
na escola. Assim, a função social da escola é definida pela inclusão social e 
formação humana, pelo empoderamento que saber ler e escrever traz para 
as pessoas que vivem em uma sociedade letrada. Ao protagonizarem sua 
história de vida escolar, os alunos da EJA podem reconstrui-la como sonharam.
Nesta seção, conhecemos o perfil dos estudantes da EJA, seus anseios e 
seu protagonismo no processo de ensino. Entretanto, a escola não é formada 
apenas por alunos; também precisamos identificar o perfil dos professores e 
o papel deles na aprendizagem dos estudantes da EJA. É o que estudaremos 
na próxima seção.
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos8
Perfil do professor da Educação de Jovens e 
Adultos
Atuar na docência exige do profissional conhecimento técnico e, principal-
mente, conhecimento humano. Assim, toda técnica deve estar a serviço da 
formação humana, não o contrário. Os professores que atuam na EJA precisam 
conhecer as técnicas e tecnologias da sua profissão, como a didática, e os 
conteúdos que vão ensinar. Além disso, precisam organizar tudo isso para que 
seus alunos encontrem o que estão buscando: dignidade, aperfeiçoamento 
profissional, acolhimento, inclusão, ressignificação de sua visão de mundo 
e empoderamento oferecido pelo conhecimento para quem o detém na 
sociedade contemporânea.
Para Charlot (2013, p. 114), “ensinar é, ao mesmo tempo, mobilizar a atividade 
dos alunos para que construam saberes e transmitir-lhes um patrimônio de 
saberes sistematizados legado pelas gerações anteriores de seres humanos”. 
Em outras palavras, o que se propõe é uma viagem intelectual. Portanto, será 
preciso questionar as certezas e provocar as contradições, o que nos orienta 
como seres pensantes.
Como já visto, na EJA, o professor precisa lidar com uma enorme heteroge-
neidade. Na perspectiva de Charlot (2013, p. 162), isso permite combater a ideia 
de carência dos alunos dos meios populares, pois “eles não têm carências; 
têm, sim, outra forma de se relacionar com o mundo, outro tipo de vínculo 
com o mundo, outra forma de entrar em um processo de aprender”. Portanto, 
não trata-se de um ambiente carente, mas de um ambiente riquíssimo de 
saberes e experiências que podem promover o desenvolvimento reflexivo por 
meio das relações dialógicas e dialéticas conduzidas pelo professor. Afinal, 
“na medida em que, enquanto falamos, somos leitor um do outro, leitores de 
nossas próprias falas, o que ocorre aqui é que cada um de nós é estimulado 
a pensar e repensar o pensamento do outro” (FREIRE; SHOR, 1986, p. 3).
O professor precisa olhar para seus alunos, não para suas carências, pois 
elas não os caracterizam. O que caracteriza uma pessoa, segundo Charlot (2013, 
p. 162), “é sua forma de se relacionar com o mundo, com os outros, consigo 
mesma e, portanto, com o saber e, de forma mais geral, com o aprender”. 
Nesse contexto, a primeira tarefa primordial do professor é conhecer seus 
alunos, suas histórias de vida, seus saberes e anseios e sua leitura de mundo. 
Freire (1989, p. 13) ressalta que “a leitura do mundo precede sempre a leitura 
da palavra, e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”. Assim, 
os alunos passam a protagonizar suas vidas.
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos 9
As práticas pedagógicas precisam promover uma ruptura ao paradigma 
dominante de mera transmissão de informações, pois, mesmo não sendo uma 
prática neutra, a educação não precisa reproduzir a ideologia dominante, 
que se articula a um saber mecânico. Segundo Freire (1989, p. 16), educadores 
críticos “sabem que não é o discurso que ajuíza a prática, mas a prática que 
ajuíza o discurso”. Portanto, é preciso mudar a ação educativa.
Todo esse movimento exige do professor uma escuta ativa, que entenda o 
outro no ponto de vista dele, não no seu próprio. É importante construir uma 
relação democrática de fala e escuta, na qual o aluno tem o direito de dizer 
a sua palavra, e é dever do professor escutá-la. O professor também tem o 
direito de dizer a eles, falar com eles e não para eles. Essa relação dialógica 
é fundamental como um ato de acolhimento desses alunos, principalmente 
porque eles chegam na escola sem a certeza de que serão bem-vindos.
A organização e o planejamento do ensino, bem como a concretização do 
currículo, exigirão do professor da EJA um movimento de partilha. É preciso 
dar oportunidade para que esses estudantes exerçam seu protagonismo, por 
isso o professor pode compartilhar o planejamento de seu curso. Os alunos 
poderão trazer contribuições preciosas para ajudar o professor a construir 
bons desafios, motivando-os na participação das atividades. Segundo Charlot 
(2013, p. 178), “o essencial é que o aluno se aproprie de conhecimentos que 
façam sentido para ele e, ao responderem a questões ou resolverem proble-
mas, esclareçam o mundo”. Nessa construção de si mesmo, aluno e professor 
estão em atividade de forma articulada e indissociável. Se o professor não 
oferecer as condições, o aluno não saberá construir novos conhecimentos.
A chave está no conhecimento que o professor tem de seus alunos. Esse 
conhecimento vem de uma boa avaliação diagnóstica que deve guiar as 
primeiras aulas, de uma roda de conversa ou de atividades que aproximem o 
cotidiano do saber formal. Assim, o professor vai conhecer o que sabem seus 
alunos, quais foram suas experiências e quais são suas expectativas. A partir 
disso, o professor vai organizar os movimentos metodológicosem suas aulas.
Na Figura 1, há uma representação do movimento metodológico da aula, 
que consiste em organizar o ensino de acordo com o grau de autonomia dos 
alunos frente ao conhecimento que será abordado. Quando algum conteúdo 
for de maior familiaridade aos estudantes, o professor pode propor desafios 
em grupos ou individuais. Por outro lado, quanto mais desconhecido for o 
tema ou maiores forem as dificuldades, o professor pode fazer a apresentação 
das atividades de forma coletiva, com todos apoiando uns aos outros. No 
momento coletivo, o professor pode levantar os conhecimentos prévios, de 
modo que os diferentes saberes possam circular na sala. Uma ideia pode gerar 
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos10
outra, o que amplia o repertório de toda a turma. À medida que os alunos 
se sentirem mais familiarizados com o conteúdo, o professor pode oferecer 
atividades em pequenos grupos e, depois, atividades individuais. Esse movi-
mento metodológico favorece o processo de construção de conhecimento e de 
partilha, permitindo que os alunos possam, aos poucos, construir autonomia 
e ter maior confiança em sua participação.
Figura 1. Movimento metodológico.
Maior autonomia
Menor autonomia
Aluno
Coletivo
Grupo
Individual
Os estudantes da EJA precisam ter a oportunidade de mostrar seus saberes 
e de se reconhecerem como sujeitos históricos, com uma trajetória social 
que lhes conferiu esses saberes. Cabe ao professor criar boas situações de 
aprendizagem para que os alunos possam exercer seu protagonismo.
Telma Weisz e Ana Sanchez (1999), no livro O diálogo entre o ensino 
e a aprendizagem, apresentam quatro princípios para se organizar 
uma boa situação de aprendizagem. Esses princípios apoiam-se numa concepção 
construtivista de aprendizagem; ou seja, os estudantes são capazes de construir 
conhecimento à medida que o professor cria condições que favoreçam seu 
trabalho intelectual. Veja a seguir os quatro princípios de uma boa situação de 
aprendizagem (WEISZ; SANCHEZ, 1999).
1) Os alunos precisam pôr em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo 
em torno do qual o professor organizou a tarefa.
2) Os alunos têm problemas a resolver e decisões a tomar em função do que 
se propõem a produzir.
3) O conteúdo trabalhado mantém as suas características de objeto sociocul-
tural real.
4) A organização da tarefa garante a máxima circulação de informação possível 
entre os alunos, por isso as situações propostas devem prever a interação 
entre eles.
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos 11
Neste capítulo, identificamos a importância de articular a formação dos 
estudantes da EJA aos currículos da BNCC, principalmente por esses es-
tudantes terem características e necessidades específicas. Ensinar na EJA 
também requer um olhar diferenciado do professor, cujo papel é maior do que 
ensinar. Na EJA, o professor tem a missão de incluir e possibilitar dignidade 
e protagonismo aos estudantes.
Referências
ARROYO, M. G. Currículo, território de disputa. Petrópolis: Vozes, 2013.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 31 out. 2022. 
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da 
educação nacional. Brasília: Presidência da República, [2018]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 31 out. 2022.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. 
Brasília: MEC, 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. PNA – Política Nacional de Alfabetização. Brasília: 
MEC, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB nº 1, de 28 de maio de 2021. Institui 
Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos... Brasília: MEC, 2021. 
Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/media/acesso_informacacao/pdf/Di-
retrizesEJA.pdf. Acesso em: 31 out. 2022.
CHARLOT, B. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: 
Cortez, 1989.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São 
Paulo: Paz e Terra, 2010.
FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1986. 
GADOTTI, M. Educação de jovens e adultos: correntes e tendências. In: GADOTTI, M.; 
ROMÃO, J. E. (org.). Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 12. ed. 
São Paulo: Cortez, 2021. E-book.
MORAES, C. M.; ARAÚJO, L. F.; NEGREIROS, F. Educação de jovens e adultos e represen-
tações sociais: um estudo psicossocial entre estudantes da EJA. Interações, v. 21, n. 
3, p. 529-541, 2020.
RAMOS, P. É. G. T.; MARTINS, A. O. Letramento e autoria: uma proposta de sequência 
didática para o ensino de literatura. Educação e Pesquisa, v. 48, p. 1-18, 2022.
SANTOS, P.; SILVA, G. Os sujeitos da EJA nas pesquisas em educação de jovens e adultos. 
Educação & Realidade, v. 45, n. 2, p. 1-21, 2020.
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos12
SERRA, D. C.; FURTADO, E. D. P. Os idosos na EJA: uma política de educação inclusiva. 
Olhar de Professor, v. 19, n. 2, p. 149-161, 2016.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Contexto, 2017.
SOUZA FILHO, A. A.; CASSOL, A. P.; AMORIM, A. Juvenilização da EJA e as implicações 
no processo de escolarização. Ensaio — Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 
v. 29, n. 112, p. 718-737, 2021.
Leituras recomendadas
ESCOBAR, F. J. P. A Fundação Mobral e alguns registros sobre sua presença em Sorocaba-
-SP. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Sorocaba, Sorocaba, 
2007. 
STIEG, V.; ARAÚJO, V. C. As políticas de alfabetização para a infância no Brasil: algumas 
inquietações. Revista Brasileira de Alfabetização (Abalf), v. 1, n. 5, p. 69-86, 2017. 
WEISZ, T.; SANCHEZ, A. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos 
testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da 
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas 
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores 
declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou 
integralidade das informações referidas em tais links.
Conhecimento e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos 13

Continue navegando