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Farmacotécnica I Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Esp. Rosana Maria Zanoli Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos • Desenvolver a habilidade técnica para a produção de diferentes formas farmacêuticas, aplicáveis para manipulação; • Aprimorar o conhecimento nos cálculos gerais e farmacotécnicos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Cálculos Gerais de Medicamentos; • Preparações das Principais Bases Galênicas E Veículos; • Principais Preparações Magistrais e Oficinais. UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos Introdução Le Hir (1997) utiliza a definição de Maurice-Maria Janot para o termo “Farmácia Galênica”, como sendo a Ciência e a Arte de preparar, conservar e apresentar os me- dicamentos, e reitera as palavras Arte e Ciência para esta Disciplina, hoje conhecida como Farmacotécnica, devido aos múltiplos aspectos de um medicamento, e ao rigor implicado nisso. O termo galênico provém de Claudius Galenus, que muito se interessou pela formu- lação de medicamentos e forneceu inúmeros detalhes sobre o modo de preparo. O principal objetivo desta Disciplina é encontrar para o fármaco a apresentação medicamentosa que se adéque à finalidade terapêutica, preservando a preparação – fármaco + excipientes – de qualquer mecanismo de degradação durante o seu tempo de prateleira, por meio de estudos de estabilidade e prazo de validade, e garantindo a biodisponibilidade para que, dessa forma, o medicamento seja seguro e eficaz. Nosso objetivo, ao término de Farmacotécnica I, é apresentar o mínimo que todo pro- fissional farmacêutico deve conhecer sobre as formas farmacêuticas mais utilizadas, tendo se dividido desde os estudos de desenvolvimento de um medicamento até a sua produção, com os métodos mais comumente envolvidos nesse processo, seus principais adjuvantes e a classificação das formas farmacêuticas, por via de aplicação e de apresentação física. A tradição artesanal, na qual são preparados os medicamentos pelas Farmácias, seguia as regras Fac secundum artem “Faça segundo a arte – F.S.A., as quais, com o desenvolvimento da Tecnologia, foram se adaptando ao conceito de Garantia da Qua- lidade, cujo objetivo é o controle dos processos, por meio de registros e validação das operações, garantindo regularidade e diminuindo a dispersão – desvios – entre as pre- parações, com um padrão exigido. A palavra adjuvante tem sua etimologia no latim adjuvare – auxiliar –, ou seja, auxilia o fármaco – princípio ativo – a desempenhar a sua função. O excipiente, do latim excipere – receber – recebe o fármaco e, como já esclarece- mos, é um termo que está relacionado, principalmente, às formas farmacêuticas sólidas e semissólidas, embora também seja utilizado em algumas Literaturas por ser de uso comum na profissão farmacêutica. O veículo, como o próprio nome define, transporta – veicula – o fármaco ao local de absorção em um organismo, sendo frequentemente utilizado para as Formas Farmacêu- ticas líquidas. A água, por exemplo, é o veículo, ou excipiente, mais utilizado na Farmácia, devendo passar por processo de purificação e validação, por meio de análises, antes de ser utilizada. Saiba mais sobre os processos de purificação, procedimentos utilizados e validação por meio de registros, amostras e métodos utilizados nos artigos abaixo: • Entendendo a água de uso farmacêutico, disponível em: https://bit.ly/3lYXM3C 8 9 • Validação do sistema de água purificada, para uso na indústria de produtos para a saúde humana. Disponível em: https://bit.ly/31vej64 • Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 67, de 8 de Outubro de 2007. Disponí- vel em: https://bit.ly/3u5w9bM E, por fim, os cálculos matemáticos utilizados na Farmácia Magistral, comumente envolvendo Sistemas Numéricos em algarismos arábicos. Entretanto, esporadicamente, o Sistema de Algarismos Romanos é utilizado para indi- car dosagens escritas em Unidades Farmacêuticas, como na Farmacotécnica Homeopata. Veja a prescrição a seguir: • Bryonia alba30CH XX/30 ml – Dose única; • Tomar todo o conteúdo do frasco pela manhã, em jejum. Será utilizada a matriz homeopática do medicamento Bryonia albana potência 30CH, na quantidade de 20 gotas (XX) em 30ml de água purificada. As Operações Aritméticas básicas como frações decimais, porcentagem para expres- sar concentrações, regra de três (razão e proporção), diluição e concentração, densidade e sistemas de medidas e interconversões são frequentes e associadas às Técnicas Básicas e indispensáveis na manipulação de Formas Farmacêuticas. Cálculos Gerais de Medicamentos É muito importante dominar o uso de fração decimal – denominador 10 ou qualquer múltiplo de 10 – e lembrar que a vírgula decimal é o ponto de referência utilizado para determinar o valor do lugar de um dígito em um número. Veja um exemplo: 0,3 = 0,30 = 0,300 A soma de zeros à direita da fração decimal não muda o valor da fração. Porcentagem Extremamente importante e utilizado em formulações farmacêuticas constante- mente, por cento significa “partes por 100” e seu símbolo é o %. Ao afirmarmos que uma solução possui concentração de 3%, significa dizer que sua concentração está expressa em três partes em 100 partes totais. Perceba que dois valores estão envolvidos. Dessa forma, agora vejamos como a expressão em concentrações de porcentagem é utilizada associada a unidades de medida: 9 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos • Porcentagem peso por volume – % p/v: expressa o nº de gramas (g) de um soluto em 100ml de uma solução, por exemplo; • Porcentagem peso por peso – % p/p: como a própria expressão define, é o nº em gramas do insumo ativo em 100g de um creme de ácido salicílico, por exemplo; • Porcentagem volume por volume – % v/v: em 100 ml de uma solução capilar com tintura de jaborandi 5%, por exemplo, temos 5ml de tintura de jaborandi em 100ml de solução capilar; • Miligrama por centro – mg%: significa que determinado nº de miligramas de um constituinte está presente em 100g ou 100ml de uma preparação. Observe que se a concentração estiver expressa em % p/p e o insumo ativo a ser utili- zado for líquido, você deve pesá-lo ao invés de medi-lo, pois, de acordo com a densidade do líquido, ocorrem diferentes proporções de massa e volume, portanto, a quantidade a ser pesada do insumo ativo pode não ocupar o mesmo volume ao ser medido e, como consequência, teremos uma alteração na concentração correta. Observe: Para o preparo de 30g de um creme com colágena a 5% (p/p), a quantidade de co- lágeno será pesada, conforme o solicitado e, calculando a quantidade de acordo com a proporção, que você já aprendeu, teremos: 5/100 = x g/30g 100 . X = 30 x 5 X = 1,5g deve ser pesado de colágeno e q.s.p. (quantidade suficiente para) 30g de creme base. Diluição e Concentração Muitas vezes, é preciso calcular a concentração de uma solução preparada por meio da diluição de uma solução de concentração conhecida. Para essa finalidade, emprega- mos a fórmula: V1 x C1 = V2 x C2 Onde: • V: volume; • C: concentração; • 1: expressa o volume e concentração conhecidos; • 2: expressa o volume e concentração final após diluição. Supondo que você possui 50ml de uma solução aquosa do fármaco Z a 20%p/v, e você recebeu uma prescrição desse mesmo fármaco em solução aquosa a 10% para manipular 100ml, como você faria para utilizar a solução a 20%p/v? 10 11 Primeiramente, você faria o cálculo, utilizando a fórmula anterior: V1 x 20 (%p/v) = 100 x 10 (%p/v) V1 = 1000/20 V2 = 50ml Portanto, em 50ml de solução 20%, temos a quantidade que precisamos de fármaco Z para preparar a solução 10%, apenas completaremos o volume com solução aquosa q.s.p. 100ml. Densidade Conforme mencionado, a densidade é utilizada como quantidadede medidas quando relacionamos massa e volume. Você já sabe que a densidade é definida como massa por unidade de volume em temperatura e pressão fixas, sendo expressa em g/ml. A densidade aparente (Dap) corresponde ao volume ocupado por um sólido, sendo importante para determinar a capacidade volumétrica de formas farmacêuticas sólidas como as cápsulas, sobre as quais você encontrará conteúdo na Disciplina de Farmaco- técnica II. A informação da densidade de cada constituinte para a preparação sólida em cáp- sulas determina qual o tamanho de cápsula deve ser utilizado, de acordo com o volume disponível nesse envoltório – cápsula, cálculo que utiliza a seguinte fórmula: Dap = massa (g)/volume (ml) A Ligação e Redução e Aumento de Formulações Cálculos de concentrações percentuais em preparações líquidas, por exemplo, como saber qual é a concentração de álcool na preparação a seguir: Solução capilar de Minoxidil 5% ........................... 80ml (50% álcool) Tintura de jaborandi .......... 10ml (20% álcool) Tintura de cantáridas .......... 10ml (20% álcool) 1º passo O volume total dessa mistura será de: 80 + 10 + 10 = 100ml 2º passo 80 x 50 = 4000 10 x 20 = 200 10 x 20 = 200 Total: 4400 11 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos 3º passo 4400 ÷ 100 = 44% de álcool na preparação Para reduzir e aumentar formulações, devemos nos lembrar de que a relação quan- titativa entre os componentes da formulação é fixa, independente da quantidade total a ser preparada. Dessa forma, utilizamos essa característica proporcional por meio de uma fórmula simples, que gera um fator que aplicamos à quantidade de cada componente da formu- lação, multiplicando-o. Assim, determinamos a quantidade necessária para aumentar ou reduzir uma fórmula: F quantidadeda fórmula deseja quantidadetotal da fórmula = Onde: • F: fator Observe o exemplo a seguir: Para preparar 1l (1000ml) de uma fórmula que contém 6g de um fármaco, quantos gramas serão necessários para preparar 60ml da preparação? 1º passo Encontrar o fator: F = 60ml/1000ml = > F = 0,06 2º passo Como temos apenas um componente na fórmula: 6g x 0,06 = 0,36g do fármaco serão utilizados para preparar 60ml da formulação. Unidades de Medidas em UI e UTR UI – Unidade Internacional – refere-se à atividade específica do fármaco presente em determinada quantidade padrão. Expressa a potência ou a atividade do fármaco. Veja: Vitamina D3 → 40 000 000 UI/g UTR – Unidade de Turbidez Enzimas como hialuronidase e thiomucase são expressas em UTR, sendo especi- ficado o valor de UTR para determinado peso (em mg) no Certificado de Análise de matéria-prima. Por exemplo: Thiomucase → 350 UTR/mg Aplicando regra de três, descobrimos a quantidade necessária para uma formulação. 12 13 Observe: Para determinar a formulação, será utilizado 5000UTR de thiomucase. Quanto deve ser pesado? Em primeiro lugar, temos de observar se as unidades serão proporcionais. Caso não sejam, faremos a conversão e, de preferência, na unidade em g, para que possamos pesar. Dessa forma: 1º passo 350 UTR/mg = 350 UTR ________ 1 mg Se multiplicarmos por 1000 ambos os lados, teremos: 350 000 ________ 1000 mg (1g) 2º passo Agora, podemos aplicar a regra de três: 350 000/1 = 5 000/x X = 0,014g Diluições Os insumos ativos podem ser utilizados puros ou diluídos.Neste último caso, é realiza- da a diluição por motivos farmacotécnicos, como para facilitar a pesagem, e/ou por mo- tivos de segurança, inclusive, a RDC nº 67/2007, que regulamenta as Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em Farmácias, estabelece que as substâncias submetidas a processo de diluição devem estar claramente identificadas com os alertas: • Concentrado: “Atenção! Esta Substância Somente Deve Ser Utilizada Quando Diluída”; • Diluído: “Substância Diluída” – Nome da substância + Fator de diluição. O Fator de Correção (FCr) para Thiomucase, por exemplo, que costuma ser diluído em 1:1000 para uso interno, será Fc = 1000, ou seja, multiplicaremos a dosagem pres- crita por 1000, de forma a obtermos 100% do insumo ativo. As diluições podem ser originadas do fabricante, isto é, determinadas substâncias são comercializadas em sua forma diluída, e para saber se precisamos corrigir o valor aplican- do o fator de correção, precisamos nos informar, verificando o Certificado de Análise do fornecedor ou entrando diretamente em contato com ele para nos certificarmos de que a dose ou a concentração utilizada é calculada em relação ao produto puro ou diluído. Como exemplo, citamos o PCA-Na, utilizado topicamente, que é comercializado a 50%, e para o qual devemos aplicar o Fator de Correção (Fc = 100/50 → Fc = 2), por- tanto, multiplicamos o valor a ser utilizado por 2. O Manual de Equivalência e Correção do CRF-SP, relaciona alguns exemplos para calcular o Fator de Correção (FCr), que é encontrado dividindo-se 100 pelo teor da subs- tância ou do elemento: 13 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos • Prescrição: Betacaroteno.......................................10mg/cápsula Substância disponível: Betacaroteno 11% 1º passo: FCr = 100/11 = 9,09 Cálculo: 10mg x 9,09 = 90,9mg de Betacaroteno por cápsula • Prescrição: Kawa Kawa........................................ 100mg/cápsula Substância disponível: Fitoterápico com ativos padronizados – Extrato de Kawa Kawa com 30 % de kawalactonas Importante! A substância Referência (para cálculo do fator) é o Extrato de KawaKawa com 70 % de kawalactonas. 1º passo: FCr = 70/30 = 2,33 Pois a nossa referência está padronizada a 70% 2º passo: Cálculo: 100mg x 2,33 = 23 mg de KawaKawa por cápsula Outras situações em que empregamos o uso de Fator: • Fármaco comercializado em forma de sal dosificado em relação à sua molécula base. Nesse caso, o Fator de Correção, é conhecido como Fator de Equivalência: FEq = PM do sal/PM da base; • Fármaco comercializado na forma de base ou sal hidratado, mas dosificado em relação à base ou sal anidro, isto é, não possui água de cristalização na sua es- trutura molecular. Nesse caso, também se utiliza o PM das moléculas, portanto, é utilizada a fórmula para cálculo de FEq; • Minerais, seja em forma de sais, seja em quelatos, em que a dose é baseada em seu teor elementar. Deve ser calculado o FCr, de forma a corrigir o teor; • Correção de Hidratação ou Umidade (CHU). Deve ser feita a partir do percen- tual de água ou de umidade indicado no Certificado de Análise, utilizando a seguinte fórmula: FCr = 100/100 – percentual de umidade; • Valores dosificados indicados no Certificado de Análise menores que os mínimos especificados pela monografia da Farmacopeia. O Manual de Equivalência e Correção (CRF-SP) orienta que a aplicação do FEq só é recomendada após a avaliação farmacêutica da prescrição. Há casos em que sais e/ou ésteres de um mesmo fármaco não podem ser substituídos ou intercambiados, por possuírem características farmacocinéticas diferentes, levando a diferentes respostas terapêuticas. Em síntese, várias situações podem gerar dúvidas e casos especiais podem ocorrer, sendo muito importante consultar Literaturas especializadas e obter o maior número 14 15 possível de informações e, caso seja necessário, ao surgirem dúvidas sobre uma prescri- ção, entrar em contato com o prescritor, após se certificar do uso devido de fatores nos diferentes casos. A especificação na aquisição da matéria-prima é fundamental para o correto preparo de medicamentos. Dessa forma, a DCB (Denominação Comum Brasileira) e, em sua ausência, a DCI (Denominação Comum Internacional) e o CAS (Número do produto no Chemical Abstracts Service) designam as diferentes substâncias. A utilização do CAS como item indispensável à especificação para aquisição e utilização de uma matéria-prima pode evitar o uso de produ- tos semelhantes na grafia, mas que são diferentes, oumesmo diferentes sais de um mesmo produto, que podem causar confusão e equívocos no seu uso, inclusive na aplicação do FEq. Analisar atentamente o certificado de análise da matéria-prima recebida, de forma a verifi- car a necessidade de possíveis correções, observando: • CAS; • Denominação; • Teor; • Diluições; • Hidratação; • Especificações. Em alguns casos, além do FEq, alguns princípios ativos podem necessitar do FCr do teor, de acordo com o teor de pureza fornecido pelo Certificado de Análise. Essas e outras infor- mações sobre aplicação de fatores de correção e equivalência podem ser consultadas no Manual de Equivalência e Correção do Conselho Federal de Farmácia. Disponível em: https://bit.ly/2PCvrE3 FEq Fator de Equivalência (FEq): fator utilizado para fazer o cálculo da conversão da massa do sal ou éster para a massa do fármaco ativo, ou da substância hidratada para a substância anidra (BRASIL, 2016). De acordo com o Manual de Equivalência e Correção do CRF-SP: • O Fator de Equivalência será igual a 1,00, quando o fármaco e a matéria-prima disponível forem a mesma substância, conforme exemplo a seguir: » Matéria-prima disponível: Cloridrato de Amitriptilina; » Fármaco: Cloridrato de Amitriptilina. As doses são expressas em Cloridrato de Amitriptilina. » O Fator de Equivalência será maior que 1,00 quando: » A matéria-prima disponível para o preparo do medicamento for um sal ou éster e o fármaco terapeuticamente ativo for a forma livre, sendo as doses Expressas na forma livre; » Quando o fármaco terapeuticamente ativo for um sal ou éster diferente daquele em questão, sendo as doses expressas no sal ou no éster de referência; » Quando a matéria-prima for hidratada e o fármaco terapeuticamente ativo for anidro, sendo as doses expressas na forma anidra. 15 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos Oliveira (2000) e Brasil (2016) descrevem que, para calcular o Fator de Equivalên- cia (FEq), deve-se usar o Equivalente-Grama das substâncias envolvidas. Divide-se o Equivalente-Grama do sal pelo Equivalente-Grama da base ou o Equivalente-Grama da substância hidratada pelo Equivalente-Grama da substância anidra, e exemplificam: Sulfato de Salbutamol: fazer a conversão para Salbutamol 1º passo: • Fórmula Molecular do Sulfato de Salbutamol: (C13H21NO3)2.H2SO4; • Peso Molecular do Sulfato de Salbutamol: 576,71g; • Equivalente-Grama do sal: 288,35g. 2º Passo: • Fórmula Molecular do Salbutamol: C13H21NO3; • Peso Molecular do Salbutamol: 239,31g; • Equivalente-Grama da base: 239,31g. FEq Eqg sal Eqg base = " " " " FEq = 288,35/239,31 = 1,20 Relembre Eqg, para calcular Eqg de uma substância: • E: massa molar/ k O valor de k é interpretado de acordo com o comportamento químico da subs- tância: • Ácido: k é igual ao número de hidrogênios ionizáveis (H+) Eqg ácido = massa molar/nº de H+ • Base: k é igual ao número de hidroxilas (OH–) Eqg base = massa molar/nº de OH– • Sal: k é igual à valência total do cátion ou do ânion considerado Eqgsal = massa molar/ valência total Veja um exemplo simples: o número de equivalentes-gramas de Ca (OH)2 (massa molar = 74g/mol) é: E = 74g/2 => 37g Cálculos de Doses Ansel e Stoklosa (2008) definem a dose de um fármaco como a quantidade adminis- trada ou tomada por um paciente com o intuito de se obter o efeito terapêutico desejado, podendo ser expressa das seguintes formas: • Dose única: a quantidade é administrada uma única vez; • Dose diária: pode ser subdividida e administrada em doses divididas, ou seja, duas ou mais vezes ao dia, fator que é dependente das características do fármaco e da doença; • Dose total: quando a quantidade é administrada durante o período da terapia. 16 17 As doses variam conforme o fármaco, sendo baseadas em suas propriedades físico- -químicas, forma farmacêutica desenvolvida e via de administração, conforme abordado anteriormente, e atividade bioquímica e farmacológica, além dos fatores relacionados ao paciente, em função de: • Idade; • Peso; • Área de superfície corporal; • Função renal; • Função hepática; • Condições físicas gerais; • Patologia a ser tratada. Portanto, fatores vistos na Disciplina de Farmacologia, estando intimamente relacio- nados a ambas as Disciplinas. O farmacêutico, ao receber uma prescrição, deve avaliá-la quanto aos parâme- tros físico-químicos de cada componente da formulação e sua compatibilidade, além dos fatores farmacológicos, desde a dose adequada ao paciente até possíveis interações medicamentosas. Dessa forma, a dose adulta e pediátrica usual dos fármacos é parâmetro utilizado pelos médicos para selecionar e/ou modificar a dose, de acordo com as necessidades e/ ou condições de seus pacientes. A variação da dose usual de fármacos pode ocorrer, pois as quantidades de fármaco prescritas também seguem diretrizes de prática médica e protocolos de regime de doses, que podem ser verificadas nas diferentes especialidades da Clínica Médica, contendo: • Orientações diagnósticas terapêuticas e, quando aplicável, preventivas baseadas em evidências científicas; • Informações da Área Médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocí- nio e a tomada de decisão do médico; • Apresentam grau de recomendação, baseada em evidências científicas, preservan- do a autonomia dos médicos. Portanto, inicialmente, as informações sobre a dosagem e o uso de um fármaco podem ser encontradas nas Bulas profissionais das Especialidades Farmacêuticas, em Literaturas Científicas como: • Drug Information Handbook; • Pediatric Dosage Handbook; • Geriatric Dosage Handbook. Caso o farmacêutico note alguma irregularidade na dose ou no regime de dosagem, bem como interações medicamentosas e incompatibilidades físico-químicas na formu- lação, deve agir de forma ética e com embasamento científico, entrando em contato com o prescritor, certificando-se que a prescrição foi interpretada corretamente, está de acordo com o tratamento do paciente e é adequada a suas condições físicas. 17 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos Colher de Chá e deSopa Allen e Stoklosa (2008) relacionam a capacidade de uma colher de chá a 5ml e de uma colher de sopa a 15ml, e alertam para os fatores que podem influenciar no volume real medido dessa forma, tais como: • A viscosidade e a tensão superficial de diferentes líquidos; • A técnica empregada pelo paciente ou pelo cuidador que administra o medicamento; • A variação da capacidade das colheres domésticas. O ideal é que sejam utilizados os copos-medida ou seringa oral-pack calibrados, que são fornecidos com a medicação. Gotas A forma farmacêutica de solução em gotas é utilizada para pequenos volumes de medicamentos na forma líquida de soluções. Nesse caso, se a característica das gotas dos diferentes líquidos variarem, não podem representar uma quantidade definida. Para que a gota seja padronizada como unidade de volume, o diâmetro da cânula de um conta-gotas deve ser definido e cada gota deve possuir variação de peso de acordo com o líquido. Conforme Allen e Stoklosa (2008), a água em conta-gotas segurado verticalmente libera água em gotas pesando entre 45-55mg, sendo oficialmente calibrado para liberar aproximadamente 20 gotas de água por mililitro, sendo, portanto, 1ml de água = 1g + 50mg (média)/gota. Sendo poucos líquidos com as mesmas características que as da água, o tamanho da gota irá variar, devendo ter seu volume determinado por meio da calibração do conta-gotas. A calibração pode ser feita contando-se as gotas de um líquido que caem em um recipiente graduado e calibrado, até obter um volume mensurável. Dessa maneira, esta- belece-se o nº de gotas por unidade de volume. Supondo que 40 gotas de uma solução tenham sido medidas até a graduação de 2,5ml de uma proveta calibrada, quantas gotas o conta-gotas liberou em 1ml? 40 gotas/x gotas = 2,5 ml/1ml X = 16 gotas/ml (16 gotas em ml da solução) Nº de DosesBaseado na quantidade total de doses e no tamanho da dose, podemos calcular o nº de doses disponíveis em um frasco de medicamento, mas devemos lembrar-nos de que as uni- dades de peso ou volume devem ser as mesmas utilizadas, assim como podemos reorganizar os termos da equação a seguir, dependendo da resposta que necessitamos encontrar: n dedoses Quantidade total Tamanho da dose º = 18 19 Veja os exemplos e a organização dos termos da equação utilizados conforme a ne- cessidade, de acordo com Allen e Stoklosa (2008): • Se a dose de um fármaco é de 200mg, quantas doses estão contidas em 10g? Convertendo a unidade de medidas para a mais utilizada, neste caso em mg: 10g = 10 000mg. E, agora, ao aplicarmos a equação para encontrar o nº de doses, temos: Nº de doses = 10 00 mg/200mg Nº de doses = 50 doses • Utilizando a equação de forma reorganizada, de maneira que precisamos encontrar o tamanho da dose, teremos: Tamanhoda dose Quantidade total N de doses = º Podemos utilizar o tamanho da dose expresso em qualquer denominação escolhida para medir a quantidade total indicada, como gotas, comprimidos e colheres, como no exemplo a seguir: Como saber quantas colheres de chá seriam prescritas em cada dose de um elixir caso 180ml contivessem 18 doses? Tamanho da dose = 180 ml/18 doses Tamanho da dose = 10ml (equivalente a 2 colheres de chá) Preparações das Principais Bases Galênicas E Veículos Atualmente, muitas preparações desenvolvidas em décadas passadas foram substitu- ídas ou inovadas. Existem diversos agentes farmacotécnicos para as mais diferentes finalidades, aumen- tando as combinações possíveis para elaboração de bases e veículos, com o intuito de melhorar a adesão do paciente ao tratamento e mesmo ao uso de cosméticos e, princi- palmente, que seja adequada e garanta a estabilidade do fármaco e do produto. Entretanto, vamos nos ater às preparações clássicas utilizadas atualmente e descritas no Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira. Preparações Líquidas Dentre as clássicas preparações líquidas, muito utilizadas até os dias atuais, estão os xaropes, as preparações aquosas doces e de consistência viscosa. 19 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos De acordo com Le Hir (1997), são preparados com sacarose, apresentam não menos que 45% (p/p) de sacarose ou outros açúcares na sua composição. Assim, trata-se de uma solução próxima da saturação, e com densidade da ordem de 1,32, garantindo com um mínimo de precauções, proteção antimicrobiana. Entretanto, a sacarose pode ser substituída, também, por polióis, como o sorbitol. Figura 1 – Xarope simples Fonte: ANVISA, 2012 O xarope simples (Figura 1) é utilizado como veículo para diversos princípios ativos ou su- plementos alimentares, como aminoácidos, vitaminas e minerais, dentre outras substâncias. A adição de princípios ativos em estado sólidos deve preceder a sua dissolução em solvente como álcool, por exemplo, ou pela técnica de trituração e levigação, de acordo com as características da substância. A quantidade de sacarose deve estar dentro dos limites estabelecidos, como no For- mulário Nacional e outras literaturas específicas ou compêndios oficiais, pois alterações no xarope podem ocorrer, como: • Excesso de sacarose e temperatura durante o preparo, pode causar cristalização da sacarose; • Teor insuficiente de sacarose – Pode ocorrer proliferação de leveduras e mofos e fermentação alcoólica. Como sugestão de fórmula de xarope simples para a preparação de veículo a ser utilizado por período de até três meses, adicionamos os conservantes: Sacarose (açúcar refinado) ..................................85% Nipagin® (metilparabeno)...................................0,15% 20 21 Nipazol® (propilparabeno)..................................0,05% Água purificada qsp ...........................................100 % Método de Preparo Pesar a sacarose; • Dissolver o nipagin e o nipazol em qs (quantidade suficiente) de álcool; • Misturar todos os componentes e aquecer até a dissolução, sem ferver; • Armazenar em vidro âmbar. Xaropes diet (Figura 2) são obtidos com a adição de edulcorantes, espessantes para atingir a viscosidade ideal e, assim como o xarope tradicional – à base de sacarose – po- dem conter agentes aromatizantes, corantes e o imprescindível uso de conservantes, de forma a garantir a inibição do crescimento de qualquer microrganismo, pois, geralmente, não se destinam ao consumo imediato. Figura 2 – Xarope dietético Fonte: ANVISA, 2012 A sugestão para xarope dietético está no agente espessante utilizado, no agente edul- corante e na concentração de uso específico segundo às características físico-químicas de cada substância, como a viscosidade, o pH e incompatibilidades CMC (carboximetilcelulose) .........................................2,0% Nipagin® ....................................................................0,15% Sacarina ......................................................................0,1% Ciclamato ...................................................................0,05% Água purificada ..........................................................100ml 21 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos Método de preparo • Dissolver o nipagin em água quente; • Adicionar os outros componentes e agitar até completa dissolução. Preparações Semissólidas As bases galênicas desempenham função preponderante nos medicamentos e nos produtos de higiene e dermocosméticos, sendo a escolha de seus componentes um processo delicado, devido à necessidade de avaliar a compatibilidade entre eles e os pos- síveis princípios ativos a serem incorporados, a finalidade da formulação, fatores como a região e a área de aplicação, a idade e o estado da pele. A adesão do paciente é outro fator importante para o tratamento terapêutico e para a satisfação do cliente ao utilizar um dermocosmético. Assim, a base deve ter toque agradável, espalhabilidade fácil e bom aspecto visual. Dentre as bases galênicas comumente utilizadas para o preparo de formulações, estão o creme não iônico e o creme aniônico Lanette®, sendo as ceras mais indicadas as autoemulsionantes. A base aniônica comercialmente conhecida como Lanette® é preparada com a cera LanetteN® (álcool cetoestearílico e cetilestearil sulfato de sódio) e possui boa estabilidade, com a finalidade de incorporação de princípios ativos e a aplicação tópica. Os emulsionantes aniônicos se dissociam em solução aquosa formando íons carregados negativamente. São emulsionantes muito utilizados, mas podem ser mais irritantes para a pele, como LanetteN®. Outros exemplos de emulsões obtidas com aplicações de emulsificantes aniônicos são as emulsões cremosas de limpeza. Já os emulsificantes catiônicos, como o cloreto de cetiltrimetilamônio, formam emul- sões de pH ácido, apresentam propriedades antiestáticas – uso no preparo de condicio- nadores – e são mais irritantes que os emulsificantes aniônicos e não iônicos. Os emulsionantes não iônicos não possuem carga ionizável, apresentando equilíbrio entre as porções hidrofóbicas e hidrofílicas das moléculas. Como exemplo temos o estearato de polioxietileno 40,o álcool cetílico, o estearílico e o cetoestearílico, o monoestearato de glicerila, o monoestearato de sorbitano e o po- lissorbato 80. A cera autoemulsionante Polawax – agente emulsificante – é uma mistura de álcool cetoestearílico e monoestearato de sorbitanoetoxilado. 22 23 Figura 3 – Creme base não iônico Fonte: ANVISA, 2012 Com o creme base não iônico, podemos manipular diferentes formulações de cremes com a adição de insumos ativos e, dentre eles, o creme de ureia e o ácido salicílico que, de acordo com as concentrações utilizadas possui finalidade de hidratante a queratolí- tico, constante no Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2. ed. 2. rev., conforme descrito a seguir: Ureia ..................................................5 a 10 g Ácido salicílico ....................................1 a 10 g Propilenoglicol .............................................qs Água purificada .............................. 2,5 a 5 ml Creme base aniônico qsp .......................100g Método de Preparo • Triturar a ureia em um gral, acrescentar a água qs e homogeneizar bem; • Dispersar o ácido salicílico no propilenoglicol; • Incorporar ambos ao creme base aniônico, aos poucos, até a homogeneização. Notas A ureia em concentrações superiores a 10% apresenta pH básico e pode comprometer a estabilidade em cremes não iônicos. O ácido salicílico deve ser protegido da luz e, em concentrações superiores a 2%, pode apresentar problemas de incompatibilidade com emulsões não iônicas. Em concentrações de ácido salicílico acima de 2%, a formulação passa a ter ação queratolítica. 23 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos Principais Preparações Magistrais e Oficinais Medicamento magistral é todo medicamento cuja prescrição pormenoriza a com- posição, a forma farmacêutica e a posologia. É preparado na Farmácia, por um profissional farmacêutico habilitado ou sob sua supervisão direta, em que está estabele- cida a relação prescritor-farmacêutico-usuário e destinado a um paciente individualizado (FORMULÁRIO NACIONAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA). Preparação oficinal – medicamento – é aquela preparada na Farmácia, cuja fórmula esteja inscrita no Formulário Nacional ou em Formulários Internacionais reconhecidos pela ANVISA. O álcool gel é um exemplo de preparação oficinal, utilizando como base galênica o gel de carbopol, preparado a partir do polímero sintético de nome comercial carbopol®, apresentado como um pó, possui característica aniônica e deve ser neutralizado com base hidróxido de sódio (NaOH) para obter viscosidade. Portanto, forma dispersão co- loidal quando hidratado em água, e com pH adequado (entre 5-7), o polímero ácido se torna um sal e apresenta a capacidade de absorver e reter água. Figura 4 Fonte: ANVISA, 2012 À base de gel carbopol também são incorporados insumos ativos com tintura de babosa e própolis, indicado para pele acneica, dentre muitas outras finalidades terapêu- ticas, que podem ser obtidas com diversos princípios ativos. 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Preparo de pomada cold cream https://youtu.be/DI5pRVD2bzk Preparo de leite de limpeza https://youtu.be/apwGAwVrZwI Leitura Aplicações Farmacêuticas de Polímeros https://bit.ly/3wdaznB Atuação farmacêutica na manipulação de formulações semissólidas para utilização em úlceras por pressão https://bit.ly/3rybSKy 25 UNIDADE Cálculos Gerais de Medicamentos e Principais Bases Galênicas e Veículos Referências ALLEN JR., LOYD V. Introdução à farmácia de Remington. Porto Alegre: Artmed, 2016. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712528/>. Acesso em: 12/11/2020. ANSEL, H. C.; STOKLOSA, M. J. Cálculos farmacêuticos. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. BERMAR, K. C. O. Farmacotécnica: Técnicas de Manipulação de Medicamentos. São Paulo: Érica, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/ books/9788536520902/>. Acesso em: 19/11/2020. BRASIL. Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. Secretaria dos Cola- boradores. Comitê de Medicamentos e Produtos Magistrais. Manual de Orientação ao Farmacêutico: Manual de Equivalência Sal/Base. São Paulo: Conselho Regional de Far- mácia do Estado de São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.crfsp.org.br/documen- tos/materiaistecnicos/Manual_de_Equivalencia_SalBase.pdf>. Acesso em: 23/11/2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira. 2. ed. 2. rev. Brasília: Anvisa, 2019. Disponí- vel em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/formulario-nacional/ arquivos/8065json-file-1>. Acesso em: 11/11/2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 67 de 8 de outubro de 2007. Aprova o Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em Farmá- cias e seus Anexos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, 9 out. 2007. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvi- sa/2007/rdc0067_08_10_2007.html.> Acesso em: 19/11/2020. LE HIR, A. Noções de Farmácia Galênica. 6. ed. São Paulo: Organização Andrei, 1997. 26
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