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História da Arquitetura e Urbanismo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas • Introdução; • Idade Média; • O Império Bizantino; • Arquitetura Bizantina; • Arquitetura Medieval; • Considerações Finais. · Apresentar as características da arquitetura influenciadas pelo domí- nio cultural e ideológico cristão. OBJETIVO DE APRENDIZADO Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas Introdução Quando pensamos no período da Idade Média, logo nos vem à mente uma ideia de atraso, período das trevas, escuridão, religiosidade etc. No entanto, o período medieval nos apresenta uma dinâmica e especial refinamento na arquitetura influenciada pelo cristianismo. Desse modo, entre os muros dos mosteiros e dos castelos medievais, a arquite- tura não sofreu atraso e nem ficou estagnada, ao contrário, foi sendo aprimorada. Veremos nesta unidade uma introdução à história da arquitetura e urbanismo entre os séculos V e XV. Idade Média A Idade Média (ou Era Medieval) dura cerca de 10 séculos, do séc. V até aproxi- madamente o séc. XV. É delimitada a partir de eventos políticos importantes: inicia- -se com a desintegração do Império Romano do Ocidente, com a invasão de Roma pelos bárbaros germânicos, em 476 d.C., e finaliza com o fim do Império Romano do Oriente, com a Queda de Constantinopla, tomada pelos turcos em 1453. É um período conturbado da história, com muitas mudanças nos cenários político, social e cultural – mas que se caracterizou pelo domínio cultural e ideológico da Igreja Católica. É a era das grandes catedrais, que foram batizadas acuradamente de Bíblias de Pedra. A influência ostensiva da Igreja Católica orientava todos os aspectos da cultura europeia: a arte, a filosofia, os textos, os hábitos, o cotidiano das pessoas, o conhe- cimento científico e até mesmo as guerras. É nesse período que ocorrem as célebres Cruzadas, que visavam libertar a Terra Santa das mãos dos muçulmanos, resultando em batalhas sangrentas e muitas mortes. Contudo, antes de iniciarmos os estudos da arquitetura desse período, é essencial que entendamos o que aconteceu com o Império Romano, ainda no fim da Idade Antiga, e sua relação com a incipiente Igreja Católica. As igrejas paleocristãs A História nos conta que nos anos que se seguiram à morte de Jesus Cristo, seus discípulos passaram a divulgar seus ensinamentos não apenas na região da Judeia, que na época fazia parte do Império Romano, como também passaram a se espalhar por várias outras regiões do Império. A crença cristã foi entendida, primeiramente, como um atentado à autoridade indiscu- tível do Imperador, fazendo com que os cristãos passassem a ser oficialmente perseguidos. 8 9 A primeira grande caça aos cristãos se deu já em 64 d.C., durante o governo de Nero. Ao longo dos próximos 249 anos, houve mais nove períodos de perseguição, culminando com a maior e mais violenta delas entre 303 e 305, durante o governo de Diocleciano. Dentre os diferentes martírios a que os cristãos foram submetidos, um dos mais cruéis era o espetáculo de lançamento de cristãos para serem publicamente devo- rados por leões e outras feras, o que muitas vezes ocorria nas arenas do Coliseu. Esses suplícios encerraram-se no ano de 311 d.C., quando o Imperador Cons- tantino, já convertido à fé cristã, determinou o cristianismo como religião oficial do Império, e a Igreja Cristã como um dos poderes do Estado. A partir desse momento, a arquitetura cristã nasceu pela necessidade de encontrar locais ade- quados para seus cultos, dando início à era das grandes igrejas que substituíram os templos pagãos. Durante os períodos de perseguição não houvera necessidade nem, de fato, possibilidade de construir lugares públicos de culto. As igrejas e salas de reunião que existiam eram pequenas e de aspecto insignificante. Mas quando a Igreja passou a ser o poder supremo no reino, todo o seu relacionamento com a arte teve, necessariamente, que ser reexaminado. Assim, aconteceu que as igrejas não usaram os templos pagãos como seus modelos, mas adotaram o tipo de amplos salões de reunião que, em tempos clássicos, eram conhecidos pelo nome de “basílica” (GOMBRICH, 2001, p. 133). As basílicas que existiam na antiga Roma, ao contrário do que pensamos, eram edificações de uso social e laico pelo Estado, um espaço fechado em que o povo se reunia e onde eram realizadas as audiências públicas dos tribunais. Seu formato era simples, com um salão retangular, duas colunatas paralelas e duas absides (recinto semicircular ou poligonal, de teto abobadado), diretamente opostas, na extremidade menor do edifício. Essas primeiras igrejas da nascente Igreja Católica, conhecidas como basílicas paleocristãs, tiveram algumas pequenas, mas importantes alterações: uma das absides foi removida para dar lugar à entrada, agora deslocada para o lado menor do espaço, enquanto o altar foi colocado na abside do lado oposto. A igreja, portanto, é formada essencialmente por um longo espaço longitudinal que determina o caminho do homem. Segundo Bruno Zevi, “a revolução espacial consistiu em ordenar todos os elementos da igreja na linha do caminho humano” (ZEVI, 2009, p. 71), inclusive determinando que toda a decoração desse espaço interior tivesse um caráter dinâmico, conduzindo o espectador em direção ao altar. Esse espaço em seu início partiu do princípio da escala humana, dos gregos, aliado à consciência do espaço interior dos romanos. A igreja passa, portanto, a ser composta por diversas partes: o coro, que é a região da abside, onde estava inserido o altar-mor, e para onde todos os olhos dos fiéis se dirigem; a nave, que consiste no corpo central da igreja, onde a congregação 9 UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas se reúne e se senta; e as alas, que são os compartimentos laterais, separadas da nave por uma colunata. Entre as basílicas paleocristãs que ainda existem, podemos destacar a de SantaSabina (422-432), Santa Maria Maggiore (432-440) e Santo Apollinare in Classe, em Ravena, na Itália (534-549). No entanto, todas elas foram significativamente alteradas ao longo do tempo, para adaptá-las às linguagens contemporâneas e garantir sua manutenção, pois sempre foram utilizadas. Os edifícios paleocristãos, embora ainda sejam construções simples, vão iniciar os princípios que orientarão toda a construção de igrejas cristãs por quase quinze séculos: um espaço longitudinal, dinâmico, com um caráter duplamente formal e simbólico em sua constituição. O Império Bizantino Com a derrocada do Império Romano a partir do século III, os imperadores começaram a enfrentar uma grave crise política, marcada por lutas internas pelo poder, corrupção e gastos excessivos com o luxo dos imperadores, o que acabou desviando os recursos militares. Enfraquecidos, os exércitos começaram a perder território para os inúmeros grupos de bárbaros que pressionavam suas fronteiras. Em 395, o Imperador Teodósio dividiu o imenso território romano em dois: o Império Romano do Ocidente, que ficou com a capital em Roma e os territórios europeus e do norte da África; e o Império Romano do Oriente, cuja capital era Constantinopla – a atual cidade de Istambul, na Turquia. Depois da divisão, o Império Romano do Ocidente foi se enfraquecendo até cair completamente em poder dos bárbaros invasores, no ano de 476. A partir dessa data, o território romano foi fragmentado e dividido entre os inúmeros grupos de bárbaros, nativos das regiões que outrora tinham sido dominadas pelos romanos. Deu-se início a um período sangrento, em que esses grupos passaram a guerrear entre si para conquistar territórios maiores. Já o Império Romano do Oriente gozou de uma relativa unidade até o ano de 1453, ou seja, dez séculos após o fim do Império Ocidental. Sua capital, Constan- tinopla, tinha esse nome pois fora fundada em 330 pelo Imperador Constantino, no local da antiga colônia grega de Bizâncio. Por esse motivo, o Império Romano do Oriente é comumente chamado de Império Bizantino. A cidade de Constantinopla situa-se no Estreito de Bósforo, entre a Europa e a Ásia, por onde passavam os mercadores de ambas as direções. Por esse motivo, sua cultura traz muitas influências orientais, o que se pode notar na arquitetura luxuosa que marcou seu apogeu. 10 11 Figura 1 Fonte: Wikimedia Commons O ápice político e cultural do Império Bizantino se deu durante o governo do Imperador Justiniano, que reinou entre 527 e 565, e reconquistou grande parte do território do antigo Império Ocidental. Arquitetura Bizantina O Imperador Justiniano foi o responsável pela construção da maior parte das igrejas bizantinas, que se destacavam por serem extremamente luxuosas e requintadas, pois coincidem com o período em que a Igreja se oficializa e se impõe como um poder dentro do Império. “A arte bizantina tinha um objetivo: expressar a autoridade absoluta do imperador, considerado sagrado, representante de Deus e com poderes temporais e espirituais” (PROENÇA, 2000, p. 47). O ápice da arquitetura bizantina se nota na igreja Santa Sofia (ou Hagia Sophia, “divina sabedoria”), encomendada por Justiniano aos arquitetos Artêmio de Trales e Isidoro de Mileto, e construída entre 532 e 537. “Ela foi, de longe, a maior das trinta igrejas ou mais que [Justiniano] ergueu em Constantinopla durante seu reinado. Sua estrutura em cúpula tornou-se a base de grandes catedrais renascentistas, como as de São Pedro, em Roma, e São Paulo, Londres” (GLANCEY, 2001, p. 38). Os arquitetos criaram um vasto espaço de congregação com uma cúpula gigantesca completamente livre de colunas e paredes, apoiadas em semicúpulas. Essas se originavam nos quatro grandes arcos que determinavam um espaço central debaixo da cúpula. Surge um esquema estrutural complexo, que determina uma concepção planimétrica muito mais evoluída do que as das simples basílicas paleocristãs, de orientação mais centralizada. 11 UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas Figura 2 − Vista externa da Igreja de Santa Sofia na atual cidade de Istambul, na Turquia Fonte: iStock/Getty Images A cúpula gigantesca de concreto impressiona até hoje. Embora os construtores tenham sido reputados como excelentes engenheiros e matemáticos de seu período, a cúpula desabou parcialmente apenas 30 anos após sua construção. “Isso, porém, deveu-se mais à velocidade da construção, ditada pelo ambicioso imperador, que a algum erro de cálculo de arquitetos” (GLANCEY, 2007, p. 38). A grande cúpula parece flutuar sobre o edifício profusamente decorado interna- mente com inúmeros mosaicos em vidro representando cenas bíblicas e o Imperador, colunas com capitéis decorados com folhagem serpentina e relevos decorativos. Figura 3 − Interior da Igreja Santa Sofia Fonte: iStock/Getty Images 12 13 Figura 4 − Planta esquemática da Igreja, com a projeção da cúpula sobre o espaço central Fonte: Wikimedia Commons A igreja Santa Sofia mostra como a cultura bizantina estava seduzida pela arqui- tetura luxuosa e sensual do Oriente. Figura 5 − Detalhe de um dos mosaicos da Igreja Santa Sofi a Fonte: Wikimedia Commons 13 UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas Quando Constantinopla foi invadida pelos turcos, esses destruíram muitas das igrejas cristãs que haviam na cidade, porém, impressionados com Hagia Sophia, preservaram-na, convertendo-a em uma mesquita. Assim, ela permaneceu por cerca de cinco séculos até se tornar um museu secular, em 1931. As plantas das igrejas bizantinas são complexas e variam muito entre si, embora seja um traço comum a presença de muitas curvas em seus arcos e cúpulas e principalmente as plantas em forma de cruz grega. Na igreja oriental, a planta em forma de cruz grega foi gradualmente adotada para a maioria das igrejas – quatro braços iguais –, ao passo que a igreja ocidental adotou uma planta cruciforme, uma descrição mais literal de um crucifixo – isso pode ser visto em várias igrejas e catedrais ocidentais até meados do século XX (GLANCEY, 2007, p. 40). Essas plantas centralizadas podiam variar a partir do formato cruciforme até esquemas centrais octogonais, como se vê na Basílica de São Vital na cidade de Ravena, Itália. Para o Império Bizantino, a cidade de Ravena, dominada há muito tempo pelos ostrogodos, foi muito cobiçada pelo imperador Justiniano para a conquista da Península Itálica. Após muitas tentativas, a cidade foi finalmente reconquistada em 540, tornando-se então o centro do domínio bizantino na Itália. Outra marca da arquitetura bizantina é a rica decoração interna com mosaicos que prestavam homenagem a fi guras políticas com auréolas como se fossem fi guras sagradas.Ex pl or Figura 6 − Justiniano e sua esposa, Teodósia, levando suas oferendas ao templo, Ravena, Itália Fonte: Wikimedia Commons A cruz grega tem todos os braços de mesmo ta- manho. Enquanto que a cruz latina possui o eixo vertical mais comprido que o horizontal. 14 15 Além das enormes e requintadas igrejas bizantinas, pouca coisa sobrevive até os dias de hoje. É de pressupor que os bizantinos também construíam palácios, banhos, teatros e complexos esportivos a partir dos princípios da arquitetura romana. A arquitetura bizantina teve grande impacto nas construções do Leste Europeu e na Rússia, com seu jogo de cúpulas e plantas centralizadas predominando nos próximos séculos tanto em igrejas quanto em outras edificações. Arquitetura Medieval Agora vamos iniciar os estudos sobre a arquitetura da Idade Média propriamente dita. A Idade Média costuma ser dividida em dois períodos: os primeiros 500 anos, do século V ao século X, é denominado de Alta Idade Média, Idade Média Antiga ou, o que é bastante comum, Idade das Trevas. Essa denominação é devido ao fato de que pouco sabemos desse período conturbado da história, que marca a transição do mundo antigo para a configuração geográfica da Europamais próxima do que é hoje. As grandes propriedades agrícolas eram a base da economia. A partir do fim do Império Romano, a Europa foi fragmentada em diversos pequenos estados – deu- se início ao sistema político feudal. Com o passar do templo, os grandes proprietários tornam-se muito poderosos e começam a exercer, dentro de seus territórios, a autoridade própria do Estado. O rei torna-se soberano apenas em suas terras, que muitas vezes eram até menores do que as dos grandes proprietários. Assim, a autoridade resultante da posse da terra estabelece uma nova relação de poder entre rei e súditos e desloca o centro da vida social das cidades para o campo (PROENÇA, 2000, p. 54). Inúmeras tribos bárbaras guerreavam e disputavam território nesse período, destruindo as realizações das civilizações vencidas. Assim, a população vivia migrando de um lugar para outro em função dessas guerras e confrontando-se com as mais diversas heranças culturais e étnicas desses diferentes grupos, o que gerou uma cultura híbrida que só começou a definir-se próximo ao século X. Devido a esse cenário, é difícil encontrar um estilo artístico dominante, caracte- rístico desse período. O que se pode afirmar é que há, nesses séculos, a supressão e anulação de qualquer influência clássica – grega ou romana – na cultura europeia. No entanto, esse conhecimento ficou preservado no interior do clero: nos mostei- ros, abadias e conventos. Com relação às formas de cultura escrita, sobretudo a literatura e a filosofia, esse afastamento das pessoas comuns era natural – era um período em que a maior parte da população era analfabeta e o conhecimento era restrito aos membros da igreja ou a alguns membros de famílias reais. 15 UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas Já em relação à arquitetura e ao urbanismo, a situação era mais delicada. Em função das guerras periódicas e da destruição, o pouco construído logo era des- truído pelos invasores. A maior parte das construções era simples, geralmente em madeira. O que sobrevive, no entanto, são geralmente fortificações militares e alguns castelos. Com a coroação de Carlos Magno como Imperador do Ocidente, em 800, pelo Papa Leão III, nota-se um incremento na cultura medieval. Uma corte é formada, em que é fundada uma academia literária, e estabelecem-se oficinas onde eram criados objetos de arte e manuscritos ilustrados. A partir da experiência na corte de Carlos Magno, os mosteiros também pas- saram a estimular a produção artística nas áreas de arquitetura, escultura, pintura, ourivesaria, cerâmica, fundição de sinos, encadernação e fabricação de vidros. É o início da era das grandes catedrais. Vejamos alguns estilos da arquitetura medieval: Arquitetura românica O estilo românico é chamado dessa maneira porque a robustez de suas edifica- ções em pedra, suas grossas colunas, e o uso de arcos e abóbadas faz com que se assemelhe ao estilo construtivo dos romanos. Os membros do clero e da nobreza que começavam a se firmar como os novos senhores feudais logo passaram a adotar o estilo românico como forma de manifestar seu poder em novas e imponentes construções. As principais características dessas imensas igrejas românicas são suas dimensões monumentais, erguendo-se acima das humildes construções vizinhas em vilarejos tranquilos. Por esse motivo, costumam ser chamadas de “fortalezas de Deus” e funcionavam como ponto de referência para os cidadãos locais e os viajantes. Exemplo de construção românica é o Complexo da Catedral de Pisa, na Itália, construída entre 1063-1118, e depois concluída entre 1261-1272. O complexo conta com uma igreja com planta em forma de cruz, um batistério (uma construção de plano circular, onde eram realizados os batismos) e o famoso campanário que conhecemos por Torre de Pisa. Sim, a Torre de Pisa inclinada que conhecemos nada mais é do que a torre do sino da Catedral de Pisa, que sofreu os efeitos da acomodação do solo, inclinando-se vertiginosamente a ponto de ser proibido o acesso ao topo da torre por visitantes. 16 17 Figura 7 Fonte: iStock/Getty Images Arquitetura gótica A partir do séc. XII dá-se início a uma economia fundamentada no comércio, e não mais apenas na agropecuária, o que faz com que o centro da vida social se desloque do campo para as cidades. Com isso, surge um novo grupo social, que é ligado ao comércio e que habitava as cidades (os burgos): são os burgueses. A arquitetura gótica é fruto de uma mudança de concepção estética, cada vez mais audaciosa, mas também fruto de uma profunda alteração técnica na construção. Essa nova maneira de construir apareceu pela primeira vez na edificação da abadia de Saint Denis, na França, por volta de 1140, e durou por cerca de 400 anos. O termo gótico é atribuído ao pintor e teórico italiano Giorgio Vasari somente no séc. XVI, em sua obra Vida dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos, publicada em 1550. O termo gótico é oriundo de godos, o povo bárbaro que semeou a destruição do Império Romano. Em linhas gerais, a “arquitetura gótica se caracteriza pela altura de suas cons- truções, pela leveza de suas paredes externas – nas quais se configuram imen- sas vidraças – e, consequentemente, pela sua luminosidade interior” (PEREIRA, 2010, p. 122). 17 UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas As nervuras que começavam a aparecer nas construções serão aperfeiçoadas aqui de modo a produzir um esqueleto estrutural que, sozinho, sustenta toda a carga da construção, sem precisar das paredes e de pilares maciços para absorver o empuxo. Com isso, as paredes se libertam de sua função estrutural e permitem imensas aberturas, geralmente fechadas com vitrais requintados e imensas rosáceas, inun- dando o interior da igreja com cores fortes representando imagens sacras. O estilo gótico emprega três elementos típicos: o arco ogival, a abóbada sobre arestas e o uso de arcobotantes. Sobre esses: • O arco ogival é composto por dois segmentos de arco, conferindo-lhe um aspecto “pontudo”, mais estreito e alto. A acentuada verticalidade desse arco possibilita que as tensões que se pousam sobre ele sejam predominantemente verticais, distribuindo-se diretamente ao chão através das colunas e diminuindo a força lateral do componente vertical. Com isso, as edificações góticas conseguem alcançar alturas maiores, suportando uma carga maior; • A abóbada nervurada sobre arestas é composta por arcos ogivais altos e estreitos. As nervuras conduzem os empuxos da abóbada para quatro pontos que devem ser reforçados: as colunas que a sustentam. Essas colunas, espaça- das regularmente no interior da igreja, dispensam o uso de grossas paredes, liberando o espaço interno; • O sistema de construção é escorado por uma série de arcobotantes, que se trata de um segmento de arco situado no exterior do edifício, assemelhando-se a pernas de aranhas. Esse elemento nasce do arranque da abóbada e transmite o empuxo até o contraforte, permitindo uma maior estabilidade nas alturas e vãos compridos desse novo estilo. Exemplo de construção gótica: Figura 8 Fonte: iStock/Getty Images 18 19 Uma das mais importantes catedrais góticas francesas é a célebre Notre Dame de Paris, que fi cou imortalizada na obra de Victor Hugo, O Corcunda de Notre Dame, de 1831. As construções góticas consistiam nas mais altas estruturas projetadas pelo homem. O efeito psicológico que esses espaços provocam no observador é forte, pois a igreja incorpora a manifestação da grandiosidade, da imensidão, do poder divino. Os vitrais imensos iluminam o interior da catedral, impondo-se como um dos aspectos mais apreciados pelos visitantes. Os detalhes das catedrais góticas merecem um comentário à parte. A beleza dessas construções se deve à junção da arquitetura com a arte religiosa como se vê no quadro a seguir: Figura 9 Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons e iStock/Getty Images 19 UNIDADE Arquitetura Cristã: das IgrejasBizantinas às Góticas Importante! As gárgulas góticas têm a forma de figuras humanas, monstruosas e animalescas e servem, segundo os cristãos, para proteger a catedral dos maus espíritos, afugentando- os do interior sagrado. Você Sabia? Figura 10 − Gárgula da catedral de Monza, Itália Fonte: iStock/Getty Images O gótico teve seu princípio na França, sendo considerado durante a Idade Média como “estilo francês”, mas logo os países vizinhos também incorporaram o estilo em suas construções eclesiásticas. Considerações Finais Apesar de a Idade Média ser considerada um período de atraso, na arquitetura esse período foi de grande desenvolvimento, principalmente com as monumentais catedrais no estilo gótico. No fim da Idade Média, durante um período crítico que sinaliza a crise que levaria à Idade Moderna e ao Renascimento, a evolução das formas góticas na arquitetura é grande e cresce dentro de um repertório cada vez mais requintado e variado, que vai a subestilos, como o gótico racionalista, gótico radiante, pós-gótico e gótico flamejante. Com o início do Renascimento, na Itália, os defensores da cultura clássica se volta- ram contra o gótico por esse ser esteticamente oposto aos princípios do classicismo. Procuramos nesta unidade apresentar algumas referencias de um vasto material que se conhece sobre a arquitetura medieval. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos O Enigma das Catedrais Góticas (Dublado) Documentário Completo National Geographic https://youtu.be/KcgZyRSZoQI Leitura Estética e História da Arte – E-book https://goo.gl/MP1jst Arte Gótica – E-book https://goo.gl/d2m5dU Arte Românica e Bárbara – E-book https://goo.gl/WjmDML 21 UNIDADE Arquitetura Cristã: das Igrejas Bizantinas às Góticas Referências GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Ed. Loyola, 2007. GOMBRICH, Ernst H. História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2008. SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. PEREIRA, José Ramón A. Introdução à História da Arquitetura – das origens ao século XXI. Porto Alegre: Bookman, 2010. PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. PROENÇA, Graça. A História da Arte. São Paulo: Ática, 2000. ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. 6. ed. São Paulo: Martins Fonte, 2009. (Coleção Mundo da Arte) 22
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