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1 QUESTÕES QUESTÕES COMENTADASCOMENTADAS QUESTÕES QUESTÕES COMENTADASCOMENTADAS 3 CLÍNICA MÉDICA Questão 1 Você está atendendo em uma UBS a paciente FMS, de 68 anos, que comparece com queixas de dispneia de longa data, evoluindo nos últimos 4 meses com edema de membros inferiores e fadiga. Ao exame físico, nota-se hiperfonese de B2, estase jugular e sopro regurgitativo tricúspede com aumento da intensidade durante a inspiração. Como antecedentes, a paciente apresenta tabagismo ativo importante, com carga tabágica de 110 anos-maço. A paciente já realizou alguns exames, com os resultados alterados destacados a seguir: Ecocardiograma transtorácico com dilatação de VD, elevação da PSAP de 42 mmHg, sem hipertrofia ou alteração de mobilidade segmentar do VE, com FEVE 59%. Espirometria com VEF/CVF 0,56, com VEF1 de 52% do predito após broncodilatador. Radiografia de tórax demonstrada abaixo. Considerando o quadro clínico e a propedêutica dada no caso, podemos considerar o quadro pulmonar, como sendo uma HP com maior probabilidade de ser classificada como: A. Grupo I. B. Grupo II. C. Grupo III. D. Grupo IV. E. Grupo V. Nível de dificuldade: Moderada 4 Gabarito: C Comentário: Pessoal, estamos aqui diante de uma questão que cobra um conhecimento que precisa ser memorizado para as provas de residência: a classificação etiológica da Hipertensão Pulmonar. Vemos uma paciente de 68 anos, com histórico de tabagismo significativo e queixa atual de dispneia, com sinais de falência do coração direito ao exame clínico, a saber: congestão sistêmica manifesta pelo edema de membros inferiores e turgência venosa jugular, além de um sopro em foco tricúspede de característica regurgitativa, com aumento da intensidade na inspiração. A título de curiosidade, esse é o sinal de Rivero-Carvallo, em que vemos a inspiração profunda causar uma redução da pressão intratorácica, permitindo maior retorno venoso às câmaras direitas, o que aumenta a força de contração do VD, e na presença de insuficiência tricúspede, aumenta a intensidade do sopro. Vamos agora ao diagnóstico sugerido a partir dos exames dados pelo enunciado. Diante de uma paciente com essa clínica, precisamos considerar os diagnósticos diferenciais para dispneia, e considerara a hipótese de Hipertensão Pulmonar é essencial. Dessa forma o Ecocardiograma Transtorácico se coloca como um exame essencial para o rastreio da condição. Além disso, o exame já pode nos informar se há algum sinal de doença das câmaras esquerdas refletindo em aumento da Pressão Arterial Pulmonar (PAP). Os sinais que sugerem Hipertensão Pulmonar no Eco são: o aumento da PAPm acima de 35-40 mmHg e a presença de regurgitação tricúspede, espesicalmente se a velocidade de regurgitação tricúspede for superior a 2,9 m/s. Nossa paciente apresentava ao EcoTT, aumento da PAPm, com dilatação de VD, mas sem alteração em câmaras esquerdas, o que já é uma grande dica para a questão. A partir de um Eco com suspeita de HP, precisamos avaliar outros exames que sugerem a etiologia, como a Espirometria, pensando em doença do parênquima como o DPOC, a TC ou a Radiografia de Tórax e a Angiotomografia de tórax ou a Cintilografia de Ventilação(ou Inalação)/Perfusão, pensando em tromboembolismo pulmonar ou doenças pulmonares intersticiais como causa de HP. Apesar de os exames citados anteriormente serem úteis na avaliação do paciente com suspeita de HP, sabemos que o Cateterismo Cardíado Direito é o padrão ouro. Com ele vemos a PAPm real, a Resistência Vascular Pulmonar e a Pressão de Oclusão da artéria pulmonar. Nossa paciente ainda não possui Cate D, mas podemos inferir, com o que temos de dados que a mesma possui HP, e iniciar o manejo com base nos exames iniciais. 5 O CATE D dá o diagnóstico de HP pré-capilar (grupos I, III, IV) se revelar: • Pressão média de artéria pulmonar (PAPm) > 20mmHg E. • Resistência Vascular Pulmonar (RVP) ≥ 3 Wood E. • Pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP) ≤ 15 mmHg. O único grupo que possui pressão de oclusão da artéria pulmonar < ou = 15 mmHg é o grupo II, em que o problema está após a circulação pulmonar, no coração esquerdo. Mas o que seria a classificação dos grupos I, II, III, IV e V? É o que a questão nos cobra aqui. A Hipertensão Pulmonar é classificada em 5 grupos de doenças que levam à HP por vias fisiopatológicas semelhantes. • Grupo I: HAP (doença da circulação arterial pulmonar - pré-capilar). Exemplos: HAP idiopática, esclerose sistêmica, esquistossomose, síndrome portopulmonar, HIV • Grupo II: HP causada por doença do coração esquerdo (pós-capilar). Exemplos: Insuficiência cardíaca esquerda (FE reduzida ou não), estenose mitral. • Grupo III: HP causada por doença do parênquima pulmonar (pré-capilar). Exemplos: DPOC, Doença Pulmonar Intersticial. • Grupo IV: HP Tromboembólica Crônica (HPTEC - pré-capilar). • Grupo V: Miscelânea. Exemplos: Anemia Falciforme, Doença Cardíaca Congênita. Nossa paciente possui sinais de HP, com coração esquerdo normal (afastando grupo II), sem estigmas clínicos ou faixa etária sugestiva para doenças do grupo I, sem sinais atuais ou prévios de TEP ou outras doenças conhecidas para o grupo V. A espirometria com índice de Tiffeneau alterado e a história de tabagismo nos sugerem mais fortemente o diagnóstico de uma HP do grupo III, sendo essa a alternativa correta. A. Para pensar no grupo I, precisaríamos de um Cate D com PAPm > 20 mmHgm, resistência vascular pulmonar > ou = a 2 UW e POAP < ou = 15 mmHg. Aqui as causas precisariam ser mais sugestivas e evidentes, como esquistossomose, infecção pelo HIV ou colagenoses (esclerose sistêmica, LES, DMTC). Sendo assim não é essa a causa mais provável de HP na paciente. B. No grupo II, esperamos doença do coração esquerdo, como doenças valvares mitral e aorticas, insuficiência cardíaca esquerda, o que não vemos na paciente. Sendo essa alternativa menos provável. C. Correto! Em uma paciente com história de tabagismo, sinais clínicos e ecocardiográficos de HP e prova de função pulmonar alterada, precisamos considerar o diagnóstico de DPOC. Essa é a alternativa que abrange a etiologia mais provável, juntamente à Apneia Obstrutiva do sono. 6 D. No grupo IV temos o TEP crônico como etiologia da HP. Nesse caso o exame de Cintilografia V/Q seria alterado, mostrando área ventilada, porém não perfundida. Não temos esse dado ou qualquer história prévia que sugira TEP, portanto alternativa errada. E. Aqui entram todas aquelas doenças que não se encaixam nos outros grupos, como anemia falciforme, Sjogren ou Doença cardíaca congênita. Não há estígmas clínicos para considerar esses diagnósticos. Visão do aprovado: Pessoal, saber suspeitar de HP, identificar os pacientes com rastreio alterado e trata-los adequadamente com base na suspeita etiológica conduzida a partir do rastreio é muito necessário. Desse tema, levem bem os valores de referência do EcoTT e do Cate D e como eles se associam aos grupos de doenças. GRUPO I (HAP) GRUPO II (HP POR DOENÇA DO CORAÇÃO ESQUERDO) GRUPO III (HP POR DO- ENÇA DO PA- RÊNQUIMA PULMONAR) GRUPO IV (HP TROM- BOEMBÓLICA CRÔNICA) GRUPO V (MISCELÂ- NEA) D IA G N Ó ST IC O CATE D com PAPM > 20mmHg E R ≥ 2 WU E POAP ≤ 15mm Hg CATE D com PAPM > 20 mmHg E R≥2 WU E POAP > 15mm Hg Hipoxemia TC de Tórax com doença paren- quimatosa Prova de Fun- ção Pulmonar alte- rada Cintilografia V/Q A depender da doença TR A TA M EN TO Inibidores de PDES (Sildenafil); Antagonistas do Receptor de En- dotelina (Ambri- sentana); Análogos da Pros- taciclina (Iloprost) Tratar a causa de base Tratar a causa de base Tromboendar- terectomia A depender da doença EX EM P LO S Idiopática, esquistossomose, Portopulmonar, HIV, colagenose (esclerose sistêmi- ca, LES, DMTC) Doença valvar Insuficiência cardíaca es- querda DPOC Intersticiopa- tias Apneia do Sono TEP crônico Anemia falci- forme Sarcoidose Doença cardí- aca congênita 7 Questão 2 Emuma consulta de rotina, você atende o senhor Ronaldo, que está preocupado com o diagnóstico de diabetes recebido pela esposa recentemente. Procurou então um colega médico para solicitação de diversos exames, que traz a consulta de hoje para sua avaliação. Você nota o diagnóstico laboratorial de pré-diabetes. Qual é o exame que pertence ao paciente atendido? A. HbA1c 5,6%. B. Glicemia 2h após TOTG de 210 mg/dL. C. Glicemia de jejum 126 mg/dL. D. HbA1c 6,4%. E. Glicemia ao acaso 300 mg/dL. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: D Comentário: Fala galera! Essa questão é de nível fácil, sobre um tema muito comum no dia a dia do estudante de medicina, principalmente no cenário ambulatorial de baixa complexidade na atenção primária. Um paciente em que precisamos estabelecer o diagnóstico laboratorial correto com base no perfil glicêmico realizado. Partimos do presuposto de que a Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda o rastreamento do DM2 para todos os indivíduos com idade de 45 anos ou mais, mesmo que sem fatores de risco, e para indivíduos com sobrepeso/obesidade que tenham pelo menos um fator de risco adicional para DM2 (como hipertensão arterial). Os testes recomendados para esse rastreio são a glicemia de jejum, a hemoglobina glicada e o teste oral de tolerância glicose com medida glicêmica 2h após a ingestão de 75g de glicose. A repetição do rastreamento para DM e pré-diabetes deve ser considerada em intervalos de, no mínimo, três anos. Intervalos mais curtos podem ser adotados quando ocorrer ganho de peso acelerado ou mudança nos fatores de risco. Dito isto, vamos recordas quais são os critérios laboratoriais para o DM2 e para o pré-diabetes: 8 Glicemia de jejum: A aferição da glicemia após jejum mínimo de 8 horas é o teste mais prático para o diagnóstico de diabetes. Valores alterados refletem a insuficiência de insulina para suprimir a gliconeogênese hepática noturna. Com base no resultado podemos ter as seguintes interpretações: • < 100 mg/dL = normal. • 101 - 125 mg/dL = pré-diabetes ou glicemia de jejum alterada. • ≥ 126 mg/dL = diabetes. Hemoglobina glicada: representa uma pequena porcentagem da hemoglobina presente em nossos eritrócitos. Ela se forma a partir de uma reação entre a glicose plasmática e o grupo aminoterminal de um resíduo de valina na cadeia beta da hemoglobina. Esta reação é não enzimática, irreversível e tem intensidade diretamente proporcional à glicemia. Desta forma, a dosagem da hemoglobina glicada reflete uma média das glicemias nos últimos 3 meses, que é o tempo médio de sobrevida dos eritrócitos. É interessante saber que seu valor corresponde a 50% do último mês, 25% do mês que antecedeu a coleta e 25% do terceiro e quarto mês. Os valores que você tem que gravar para o diagnóstico de diabetes são: • ≤ 5,6% = normal. • 5,7 - 6,4% = pré-diabetes. • ≥ 6,5% = diabetes. Lembrem-se que situações podem reduzir falsamente a hemoglobina glicada, como anemias hemolíticas, sangramentos, por reduçãon da sobrevida das hemácias. Além disso a suplementação de vitamina C e E inibem a glicação da hemoglobina, também resultando em valor falsamente normal. Situações podem aumentar falsamente a hemoglobina glicada, comouremia, etilismo, uso crônico de opioides e salicilatos. TOTG: Este exame avalia a capacidade do pâncreas em secretar rapidamente insulina em resposta a uma alta carga de carboidratos. No início do processo de desenvolvimento de diabetes, o primeiro momento em que observamos uma insuficiência relativa de secreção de insulina é justamente pós-prandial. O teste é feito coletando-se uma amostra de glicemia em jejum e, em seguida, o paciente ingere 75 gramas de glicose. Após 2 horas, é coletada uma nova amostra de sangue para medir uma segunda glicemia. Os valores e as interpretações possíveis da glicemia após 2h são: • < 140 mg/dL = normal. 9 • 140 - 199 mg/dL = pré-diabetes ou tolerância reduzida à glicose. • ≥ 200 mg/dL = diabetes. Em comparação à glicemia de jejum e à dosagem de hemoglobina glicada, o TOTG é mais trabalhoso. Portanto, ele acaba sendo bem indicado em algumas situações específicas: • Resultados discordantes entre GJ e HbA1c. • Diagnóstico de DM gestacional. • Diagnóstico de DM pós-transplante. • Paciente com GJ alterada. Vamos lembrar ainda que para o diagnóstico de DM2 precisamos de 2 testes diferentes alterados, e se apenas um deles estiver alterado, deve ser repetido em busca de um achado sustentado. Para o pré-DM basta uma alteração na faixa acima para o diagnóstico. Dentre os resultados apresentados nas alternativas, a única que se mostra compatível com o diagnóstico de pré-DM é a alternativa D, com HbA1C de 6,4%. A. Como vimos, o valor de 5,6% de HbA1C é o limite superior da normalidade, ainda não sendo válido para o diagnóstico de pré-DM. B. Para o TOTG, o valor de 210 após 2h da ingestão de 75 g de glicose já é sugestivo de diabetes. Alternativa errada. C. O valor de 126 mg/dL é exatamente o corte para o diagnóstico de DM. Sendo assim, esse não é o achado esperado para o paciente. D. Correto. Como vimos acima, a faixa de 5,7 a 6,4% de HbA1c é diagnóstico de pré-DM. E. Incorreto. O único contexto em que a glicemia ao acaso se presta ao diagnóstico do diabetes é na presença de sinais de hiperglicemia inequívocos, como poliúria, polidipsia, polifagia e perda ponderal. Não podemos afirmar o diagnóstico de pré-diabetes com a glicemia ao acaso. Visão do aprovado: Pessoal, como dissemos acima, o tema é batido, por isso não pode ser motivo de perda de ponto nas provas. Guardem bem os pontos de corte para o diagnóstico laboratorial e as recomendações de rastreio de DM! 10 Pre c i s a s a b e r VALORES DIAGNÓSTICOS NORMAL PRÉ-DM DM GLICEMIA DE JEJUM < 100 100-125 ≥ 126 TOTG 75G APÓS 2H < 140 140-199 ≥ 200 HEMOGLOBINA GLICADA < 5,7 5,7-6,4 ≥ 6,5 Questão 3 No ambulatório de tabagismo, você atende uma paciente que comparece para o acompanhamento de DPOC. Ela tem 70 anos, é ex-tabagista, com cessação do hábito há 5 anos. Refere dispneia controlada para atividades de leve intensidade, porém com dispneia aos esforços moderados e intensos, não conseguindo acompanhar o marido, que tem a mesma idade, em caminhadas no plano. A paciente foi internada há 6 meses por pneumonia, sem novas exacerbações após seguimento. Em sua espirometria mais recente, apresenta VEF1/CVF 0,61 e VEF pós broncodilatador de 70% do predito. Em seu hemograma, os eosinófilos são de 90/ mm³. Atualmente utiliza apenas Salbutamol como broncodilatador nos momentos de dispneia mais intensa. Diante do quadro atual, qual é a conduta correta para o tratamento da paciente? A. Iniciar tratamento apenas com LABA + LAMA. B. Manter Salbutamol e adicionar Budesonida Inalatória. 11 C. Manter apenas salbutamol nas exacerbações. D. Iniciar Roflumilast associado a LABA + LAMA. E. Iniciar LABA + LAMA + Corticoide inalatório. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: A Comentário: Fala galera! O manejo ambulatorial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é um tema recorrente das questões de residência. Aqui temos uma paciente com DPOC com classificação GOLD 2E, tendo em vista a presença de uma internação por pneumonia no último ano e um VEF1 entre 50 e 79% do predito após o uso de broncodilatador. Com base nessas informações somos solicitados a conduta adequada para ajuste de tratamento da paciente, sabendo que ela está utilizando atualmente apenas um broncodilatador de curta ação em vigência de dispneia classificada na escala mMRC em grau 2. Para resolver essas questões precisamos relembrar as classificações dos grupos do DPOC, com base nesse quadro que segue a versão mais atual (2024) do Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD), documento que orienta as condutas para o DPOC de forma universal. 12 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO INICIAL NA DPOC HISTÓRICO DE EXACERBAÇÕES ≥ 2 exacerbações ou ≥ 1 com hospitalização E Considerar LABA + LAMA + ICS(se eosinófilos ≥ 300/mm³) 0 ou 1 exacerbação (sem hospitalização) A Um broncodilatador (LABA ou LAMA) B Terapia dupla broncodilatadora (LABA + LAMA) Um dispositivo inalatório é mais eficaz do que múltiplos dispositivos mMRC 0-1 CAT < 10 mMRC ≥ 2 CAT ≥ 10 SINTOMAS Vemos, portanto que é essencial conhecer a intensidade dos sintomas, a presença ou ausência de exacerbações, e em questões mais específicas, a quantidade de eosinófilos por mm³, considerando o benefício de associação de corticoide inalatório para aqueles pacientes com sobreposição de asma com DPOC. Vamos entender o gabarito analisando cada uma das alternativas. A. Essa é a alternativa correta, sabemos que pacientes com DPOC e exacerbações frequentes (2 ou mais em um ano) ou graves (pelo menos uma que necessite de internação) têm benefício da associação de Broncodilatadores de Longa Ação (LABA) com Antagonistas de Receptor Muscarínico de Longa Ação (LAMA), pois a associação reduz o número de exacerbações, portanto a mortalidade nesses pacientes. Esse é, portanto, o tratamento adequado para a paciente da questão, independentemente do seu grau de sintomas, pois ela pertence ao grupo E. B. O uso de Broncodilatadores de curta ação apenas é recomendado para pacientes com DPOC se houver clara associação com asma, o que não ocorre nessa paciente. A recomendação de associar Corticoide inalatório vale para pacientes com eosinófilos > 300/mm³ como algo prático, uma vez que viu-se que em pacientes 13 com > 300 eosinófilos/mm³, adicionar ICS reduziu o número de exacerbações. Como este não é o caso, essa medicação não está indicada para a paciente. C. Incorreto. O uso de Broncodilatadores de curta ação é permitido apenas nos pacientes do grupo A, com pouca dispneia e sem exacerbações significativas. Ainda assim, prioriza-se o uso de broncodilatadores de longa ação, caso disponíveis. Portanto, alternativa incorreta. D. Incorreta. O Roflumilast é um inibidor da fosfodiesterase-4, droga de terceira linha, para aqueles pacientes com indicação de LABA + LAMA + ICS que ainda assim apresentam exacerbações, especialmente se VEF1 < 50%. Esse caso não se encaixa com nossa paciente, portanto não é uma droga indicada no momento. E. Como vimos anteriormente, não há recomendação para o início de corticoide inalatório para a paciente. Visão do aprovado: Pessoal, questões de DPOC a nível ambulatorial irão focar nos ajustes terapêuticos com base na classificação clínica dos pacientes. Memorizar o quadro que mostramos acima fic amuito mais fácil quando se associa o grupo E a Exacerbações frequentes ou graves. Para esses, LABA e LAMA são obrigatórios. Para os muito sintomáticos também. E para os do grupo E com Eosinófilos > 300/mm³ adicionamos o ICS. Guardem bem essas informações que apenas com elas já é possível acertar a maior parte das questões desse tema. Questão 4 Homem de 26 anos, procura pronto atendimento devido a dor articular em joelho direito, tornozelo esquerdo e cotovelo esquerdo, iniciadas há 3 dias. Antes de essas articulações serem acometidas, referiu dor em punho direito e em tornozelo direito por 2 dias. Além da dor articular, notou pequenas lesões vesículares na face extensora dos membros inferiores, quadro febril de até 37,9ºC por 5 dias, e dor a palpação dos tendões calcâneos bilateralmente. O paciente não possui antecedentes pessoais patológicos, nega uso de substâncias psicoativas e refere que o quadro apresentado foi inédito. Considerando o quadro clínico, qual agente etiológico é mais provável? A. Staphylococcus aureus. B. Neisseria gonorrhoeae. C. Pseudomonas aeruginosa. D. Salmonella sp. E. Streptococcus pyogenes. Nível de dificuldade: Moderada 14 Gabarito: B Comentário: Galera, quando o tema é reumatologia, muitos candidatos ficam apavorados! Mas vamos aqui montar um raciocínio para as Artrites que facilitará a resolução de questões futuras. Temos um jovem com um quadro de poliartrite migratória, de evolução aguda e inédita, associada a febre baixa, entesite e lesões cutâneas. Primeiramente, vamos entender a artrtie como um sinal possível de várias doenças, portanto classificá-la cronologicamente é essencial. Quadros agudos devem remeter ao diagnóstico principalmente de etiologias infecciosas e deposição de cristais, como de pirofosfato de cálcio ou de ácido úrico. Considerando a presença de febre e a ausência de fatores de risco para doenças de depósito de cristais, ficamos com as artrites sépticas como principal etiologia para o caso. A grande questão agora é definir qual o agente parece estar causando a artrite a partir da constelaçõa de sinais e sintomas que nos é apresentada. Caímos aqui na investigação de uma artrite séptica. Artrites sépticas são causadas principalmente por bactérias, mas fungos e micobactérias podem figurar como patógenos em contextos específicos. Quando falamos da fisiopatologia, sabemos que a maioria dessas infecções se instalam por disseminação hematogênica, traumas por inoculação direta do patógeno e infecção por contiguidade. A clínica nas artrites sépticas nos direciona para dois tipos diferentes de infecção, que possuem comportamentos bem distintos: as Artrites Sépticas não-Gonocócicas e as Artrites Sépticas Gonocócicas. Nas não-gonocócicas, temos um quadro de monoartrite aguda com sinais e sintomas sistêmicos de infecção bacteriana. Temos uma evolução aguda de MONOARTRITE (com preferência por grandes articulações e por membros inferiores) em um paciente com fatores de risco , acompanhada por febre e sinais de toxemia. É interpretada como a artrite com potencial de causar destruição articular mais veloz (semanas a meses). Não é raro que este conjunto de sinais e sintomas evoluam em um paciente que já tenha um diagnóstico reumatológico prévio, tornando tentadora a interpretação de tratar-se de uma exacerbação da doença de base. Porém, o surgimento de uma MONOARTRITE AGUDA deve sempre impor ao médico a necessidade de descartar uma artrite séptica não gonocócica. Pode evoluir com complicações, incluindo sepse e destruição articular com osteoartrite secundária. 15 Já nas Gonocócicas, temos uma poliartrite migratória com comprometimento de estruturas periarticulares associada a dermatite pustulosa e sintomas sistêmicos discretos. A apresentação que demanda atenção especial é a forma na qual o gonococo mantém sua capacidade patogênica na circulação sanguínea, manifestando também sintomas extra-articulares. O quadro clássico da artrite gonocócica com manifestações extra-articulares é composto por: • Poliartrite migratória: as manifestações articulares são menos localmente exuberantes (por vezes, artralgia sem artrite); além disso, tem tendência a iniciar e se resolver em uma articulação antes de manifestar-se em outra. • Dermatite: lesões pustulosas ou vesicopustulosas, potencialmente com centro sinais de necrose, distribuídas por pele e mucosas. • Tenossinovite: acometimento de tendões e outras estruturas periarticulares. Acomete mais frequentemente tendões e ligamentos “nobres”, como os das mãos e pés. • Febre: comportamento mais brando, tendendo a estender-se por 5 - 7 dias. Com esse reconhecimento de padrão das artrites sépticas fica fácil dizer que nosso paciente apresenta uma provável artrite séptica gonocócica. Como confirmaremos esse diagnóstico? Identificando o gonococo no sangue ou líquido sinovial por cultura ou PCR. Na ausência da identificação nesses locais, podemos lançar mão da identificação em mucosas (genital, anal ou nasofaríngea) na vigência de quadro clínico sugestivo. Ainda podemos tratar empiricamente e realizar um diagnóstico retrospectivo baseado na resposta ao tratamento. Vamos às alternativas: A. Apesar de ser o a gente mais prevalente em qualquer cenário de artrite séptica, sabemos que nosso paciente não possui história de trauma com inoculação de microbiota cutânea na corrente sanguínea, além de o quadro clínico esperado na artrite por S. aureus ser umamonoartrite purulenta, com maior intensidade de isnais de inflamação sistêmica. Sendo assim, não pensaríamos como etiologia mais provável. B. Correto! Como vimos no comentário acima, a clínica de acometimento articular migratório e extra-articular significativo, com lesões cutâneas e tenossinovite, sugere mais o diagnóstico de Artrite Séptica Gonocócica. C. Pseudomonas aeruginosa, uma bactéria gram negativa, é associada a artrite séptica por disseminação hematogênica em pessoas usuárias de drogas injetáveis, não sendo o caso do nosso paciente. 16 D. A Salmonella sp é famosa por quadros infecciosos, com osteomielite e artrite em pacientes que sofreram auto esplenectomia por anemia falciforme, não sendo um antecedente patológico relatado no caso, portanto menos provável. E. Apesar de serem patógenos possíveis a partir do mesmo mecanismo de inoculação direta que o S. aureus, porém com menor capacidade de adesão que a primeira, os estreptococus causariam quadro de monoartrite purulenta, ausente no caso. Visão do aprovado: Pessoal, questões que abordam diagnóstico diferencial das artrites precisam ser estudadas. Lembrem-se da importância da punção do líquido sinovial e da análise do mesmo que sugere quadro infeccioso, com celularidade aumentada (especialmente > 20 mil células/microL), predomínio de PMN, ausência de cristais (grandes simuladores de artrites sépticas) e coloração gram e cultura positivos. Dentro do universo das artrites sépticas, diferenciar a gonocócica da não-gonocócica também é um conhecimento especificamente importante, revisado nessa questão. Questão 5 Senhora Izaura, com 79 anos, diabética tipo 2 em uso de insulina NPH e regular, hipertensa em uso de enalapril 10 mg 12/12h, hidroclorotiazida 25 mg 1x/dia e anlodipino 5 mg 12/12h, e com osteoartrose de joelhos e coluna lombar, retorna a consulta de cardiologia tendo realizado exames solicitados anteriormente devido a queixa de palpitações. No momento, não apresenta queixas ativas. Em seu ECG, nota-se ritmo de fibrilação atrial com FC 127 bpm, Ecocardiograma transtorácico com remodelamento e hipertrofia concêntrica ventricular esquerda, estenose mitral de grau acentuado, calcificação das cúspides mitrais e dilatação de átrio esquerdo de grau importante. Fração de Ejeção de VE 36 %. Ao exame clínico, paciente apresenta FC 130 bpm, PA 140x80 mmHg e ausculta de sopro diastólico rude em foco mitral, sem outras alterações. Considerando-se os possíveis tratamentos a serem ofertados para a taquiarritmia vista no ECG, qual é a melhor estratégia farmacológica combinada a longo prazo dentre as apresentadas abaixo? A. Controle de ritmo com propafenona e anticoagulação com Varfarina. B. Controle de ritmo com amiodarona e anticoagulação com Rivaroxabana. C. Controle de frequência cardíaca com Bisoprolol e anticoagulação com Varfarina. D. Apenas anticoagulação com Varfarina. E. Controle de f requência cardíaca com Diltiazem e anticoagulação com Rivaroxabana. Nível de dificuldade: Moderada 17 Gabarito: C Comentário: Fala galera, vamos analisar juntos essa questão rica para aprender mais sobre o manejo ambulatorial da fibrilação atrial! Temos uma paciente idosa, hipertensa, diabética, avaliada por queixa de palpitações de longa data. Em seus exames vemos que trata-se de uma FA em paciente com sinais de doença cardíaca estrutural, ICFER e alto risco tromboembólico. Somos então questionados quanto ao melhor tratamento farmacológico a ser instituído a longo prazo para a paciente. Para tomar essa decisão, precisaremos de conhecer os detalhes das indicações e contraindicações dos tratamentos da FA. Em pacientes diagnosticados com FA, atendidos em ambiente ambulatorial, deve- mos avaliá-los sob duas óticas: anticoagulação e a estratégia de tratamento crônico. Quanto a anticoagulação, decidiremos com base em alguns critérios, a saber: • A indicação de anticoagular a partir do Score CHA2DS2VASc (Homem ≥ 2 pontos: anticoagulação. Mulher ≥ 3 pontos: anticoagulação) • A presença de FA valvar (FA junto a estenose mitral moderada ou importante ou junto a prótese valvar mecânica); • Presença de outras doenças associads, como SAAF ou DRC; O Score CHA2DS2VASc deve ser conhecido por todos nós, uma vez que é a partir dele que se decide inciar ou não a anticoagulação. Vamos revisar o Score com a tabela abaixo: 18 CHA2DS2VASC C - CONGESTIVE HEART DISEASE Insuficiência Cardíaca 1 pt H - HYPERTENSION Hipertensão 1 pt A 2 - AGE ≥ 75 YEARS Idade ≥ 75 anos 2pt D - DIABETES Diabetes 1 pt S 2-STROKE AVE 2pt V - VASCULAR DISEASE Doença vascular: IAM, doença arterial periférica, placa em aorta 1 pt A - AGE 65 - 75 YEARS Idade entre 65 - 74 anos 1 pt SC - SEX, FEMALE Sexo feminino 1 pt Nossa paciente com IC, Hipertensão, idade maior que 75 anos, Diabetes e sexo feminino pontua 6 pontos, com clara indicação de anticoagulação! Podemos pesar risco vs. benefício em anticoagular pacientes com alto risco de sangramento por um outro score, o HAS-BLED, que não é impeditivo a anticoagulação, apenas auxilia na tomada de decisão em casos mais complexos. Não daremos tanto destaque a este score, pois esse não é o foco do nosso estudo no momento, mas vale a pena conhecê-lo! A questão agora é decidir entre os DOACs e a Varfarina. Atualmente, se não tiver contra indicação específ ica, há preferência pelos anticoagulantes diretos (DOACs), também conhecidos como Novos Anticoagulantes Orais (NOACs): Apixabana, Dabigatrana, Rivaroxabana e Edoxabana. Como escolher? • FA não valvar: DOAC qualquer preferencialmente, ou Varfarina. • FA Valvar ou Prótese mecânica = VARFARINA. É contraindicado DOAC? SIM, já se tentou usar dabigatrana nesse cenário e foi pior que varfarina para eventos tromboembólicos, além da maior incidência de sangramentos. • FA + Síndrome Anticorpo Antifosfolípide = VARFARINA. • FA + DRC Dialítico = VARFARINA. Há estudos para criar respaldo para Apixabana, com evidências ainda pouco robustas, mas é possível que seja superior. De qualquer forma, na prova é varfarina. 19 No nosso caso, fica evidente a escolha da varfarina, considerando a presença de uma estenose mitral importante, e portanto, de uma FA valvar! Lembrem-se, insuficiência mitral, prolapso mitral ou outras valcopatias que não a estenose moderada a acenturada, não são consideradas FA valvar! Já para a estratégia de tratamento crônico temos duas opções: o controle do ritmo com drogas antiarritmicas ou com procedimentos tais como a cardioversão química/ elétrica ou a ablação de vias acessórias, ou o controle da freqência cardíaca, em que não importa o ritmo, mas sim que a FC fique menor que 110 bpm para evitar o desenvolvimento de IC por taquicardiomiopatias. Em termos de mortalidade, não há diferença entre elas desde que a FC fique realmente controlada (Estudo AFFIRM). Contudo, foi observado que as pessoas do grupo controle de ritmo internaram com maior recorrência e apresentaram mais efeitos colaterais (justamente nos momentos que a FA retornava). Portanto, precisamos colocar na balança o que vale mais a pena para cada paciente. Normalmente preferimos para pacientes como a do caso (idosa, multi comórbida, com FA de longa data) o controle da FC, enquanto que pacientes jovens, sintomáticos, com FA há < 1 ano tenta-se mais o controle do ritmo. O que precisamos lembrar com relação às drogas antiarritmicas, em especial para pacientes como a nossa, é que a única escolha na vigência de doença cardíaca estrutural (ICFER, remodelamento cardíaco, valvopatias) é a amiodarona. A propafenona e o Sotalol, que são as outras opções jamais poderão ser utilizados para pacientes com essas alterções estruturais, sob risco de induzir arritmias malignas com PCR. Já para o controle da frequência, sob o objetivo de FC inferior a 110 bpm ou paciente assintomático, a principal classe são os Beta Bloqueadores, podendo ser associados a Digoxina caso não atinjam FC alvo em dose máxima. Como segunda linha temos os BCC não diidropiridíncos(Verapamil e Diltiazem). As vantagens dos Beta bloqueadores estão no fato de apresentarem benefício de redução da mortalidade para IC. Os BCC não podem ser utilizados na vigência de disfunção ventricular esquerda (ICFER). Após uma revisão extensa, chegamos a uma conduta mais adequada para nossa paciente: controle de FC com beta bloqueador caridosseletivo que reduz mortalidade por IC e anticoagulação com varfarina. Vamos analisar cada alternativa para entender seus erros e acertos: A. Pessoal, como vimos acima, o controle do ritmo não é a melhor estratégia para a paciente com a idade e as comorbidades apresentadas. Além disso a propafenona não pode ser utilizada em pacientes com cardiopatia estrutural. Alternativa incorreta. 20 B. A amiodarona é uma droga interessante por poder ser utilizada tanto no controle do ritmo, como no controle da FC. No entanto, devido a seu perfil de efeitos adversos (tireoideanos, pulmonares, retinianos, neuropaticos e hepatotóxicos) e a ausência de benefício para a ICFER, quando comparada ao Beta bloqueador, não é a melhor opção para a paciente. Além disso, a anticoagulação proposta com rivaroxabana não é a escolha para pacientes com FA valvar. Portanto, a alternativa está incorreta. C. Essa é a nossa resposta. Controlar a FC com bisoprolol, um beta bloqueador cardiosseletivo que mostrou redução de mortalidade em pacientes com ICFER, é uma conduta adequada associada a anticoagulação com varfarina para um INR alvo entre 2 e 3, afim de reduzir o risco de eventos tromboembólicos. D. Anticoagular com varfarina considerando o alto risco da formação de trombos intra-atriais que podem se deslocar e atingir a circulação sistêmica é uma conduta adequada. No entanto, sabemos que com a FC acima de 110 de forma sustentada, há risco de perda de função ventricular por taquicardiomiopatia e piora da performance da paciente com o passar dos anos. Por essa razão o controle da FC aqui é essencial. E. Como vimos no comentário, o Diltiazem é uma opção para controle de FC, porém não deve ser usado em pacientes com ICFER. A rivaroxabana também não é o anticoagulante de escolha. Visão do aprovado: Galera, para o adequado manejo de FA no ambiente ambulatorial precisamos ter em mente a função ventricular do paciente, a presença de valvopatia mitral causadora de FA e o score CHADSVASc aliado ao risco de sangramento. Saibam identificar esses fatores em questões como essa, pois assim a resolução ficará muito mais simplificada. Questão 6 Paciente do sexo masculino, 45 anos, com hipertensão diagnosticada em aferições em consultório em 2 ocasiões diferentes, com PA 150x96 mmHg, sem comorbidades conhecidas e sem uso de medicações previamente. Apresenta apenas sobrepeso (IMC 29 kg/m²), e sedentarismo como diagnósticos adicionais. Quanto ao estágio de hipertensão e o tratamento a ser indicado para além de mudanças do estilo de vida, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2020) podemos afirmar como correto o que se apresenta em: A. HAS estágio 2 e iniciar Losartana e Anlodipino. B. HAS estágio 2 e não iniciar medicações por hora. C. HAS estágio 1 e iniciar Enalapril e Hidroclorotiazida. 21 D. HAS estágio 1 e iniciar Hidralazina isoladamente. E. HAS estágio 1 e não iniciar medicações por hora. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: E Comentário: Quando o assunto é o manejo ambulatorial da hipertensão, precisamos saber identificar quem é o nosso paciente e qual tratamento se encaixa melhor para o perfil clínico epidemiológico dele. Aqui temos um caso ilustrativo de um homem jovem, com baixo risco cardiovascular, em que se diagnosticou uma HAS em estágio 1, ainda sem início de terapia farmacológica. Primeiramente vamos relembrar os valores de corte para os estágios de hipertensão: CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL DE ACORDO COM A MEDIÇÃO NO CONSULTÓRIO A PARTIR DE 18 ANOS DE IDADE CLASSIFICAÇÃO* PAS (mmHg) PAD (mmHg) PA ÓTIMA <120 e < 80 PA NORMAL 120-129 e/ou 80-84 PRÉ-HIPERTENSÃO 130-139 e/ou 85-89 HA ESTÁGIO 1 140-159 e/ou 90-99 HA ESTÁGIO 2 160-179 e/ou 100-109 HA ESTÁGIO 3 ≥ 180 e/ou ≥ 110 HA: hipertensão arterial; PA pressão arterial; PAS: Pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; * A classificação é definida de acordo com a PA no consultório e pelo nível mais elevado de PA sistólica ou diastólica. ** A HA sistólica isolada, caracterizada pela PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg é classificada em 1, 2 ou 3 de acordo com os valores da PAS nos intervalos indicados. *** A HA diastólica isolada, caracterizada pela PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 é classificada em 1, 2 ou 3 de acordo com os valores da PAD nos intervalos indicados. 22 Como dito anteriormente, nosso paciente apresenta-se na faixa do estágio 1. Além disso, relembrar o risco cardiovascular para início do tratamento é essencial, já que pacientes com risco moderado em diante, necessitarão de terapia farmacológica desde o diagnóstico da HAS. Sigam a tabela abaixo para se orientarem quanto ao risco CV: CLASSIFICAÇÃO DOS ESTÁGIOS DE HIPERTENSÃO DE ACORDO COM O NÍVEL DE PA, PRESENÇA DE FRCV, LOA, OU COMORBIDADES FR, PRESENÇA DE LOA OU DOENÇA PRÉ- HIPERTENSÃO PAS 130-139 PAD 85-89 ESTÁGIO 1 PAS 140-159 PAD 90-99 ESTÁGIO 2 PAS 160-179 PAD 100-109 ESTÁGIO 3 PAS > 180 PAD > 110 SEM FR Sem risco adicional Risco baixo Risco moderado Risco alto 1 OU 2 FR Risco baixo Risco moderado Risco alto Risco alto ≥ 3 FR Risco moderado Risco alto Risco alto Risco alto LOA, DRC, ESTÁGIO 3, DM, DCV Risco alto Risco alto Risco alto Risco alto PA: Pressão arterial; FR: Fator de risco; PAS: Pressão arterial sistólica; PAD: Pressão arterial diastolica; LOA: Lesão em órgão-alvo; DRC: Doença renal crônica; DM: Diabetes-melito; DCV: Doença cardiovascular Os fatores de risco citados são idade (> 55 anos no homem e > 65 anos na mulher), DCV prematura em parentes de 1º grau, tabagismo, dislipidemia (considerar LDL ≥ 100 mg/dL e/ou HDL ≤ 40 mg/dL no homem e ≤ 46 mg/dL na mulher e/ou TG > 150 mg/dL), diabetes mellitus, obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²), doença renal crônica. Desses, nosso paciente não apresenta nenhum fator, mantendo-se como baixo risco CV em vigência de HAS estágio 1. Nossa discussão agora será, devemos começar tratamento farmacológico para pacientes com HAS estágio 1 de baixo risco cardiovascular? A resposta é: depende! Depende da motivação do paciente, da sua disponibilidade de realizar exercícios físicos ao menos 150 minutos por semana, cessar tabagismo, perder peso, realizar dieta orientada. Msa a questão é que esse perfil de paciente pode resolver a HAS com essas medidas, então estamos autorizados a dar uma 23 "chance" por um período de 3 meses apenas com MEV para reavaliar a necessidade do tratamento farmacológico. Lembrando que as drogas a serem iniciadas, caso necessário, devem ser aquelas com maior evidência para o controle pressórico aliado a benefícios adicionais como retardo da progressão de DRC, melhora de desempenho cardiovascular, perda ponderal e controle de comorbidades associadas. Caso o paciente não atinja a meta pressórica (< 140x90 mmHg) em 3 meses, estaremos autorizados a iniciar até monoterapia para a HAS, e progredir com a combinação de fármacos de acordo com a necessidade, conforme mostrado abaixo: DIU BCC IECA BRA BB (indicações específicas) BB Simpatolíticos centrais Alfabloqueadores Vasodilatadores Monoterapia PA 130-139 e/ou 85-89 mmHg de risco alto HA estágio 1 de risco baixo Multo Idosos e/ou frágels HA estágio 1 de risco moderado e alto HA estágios 2 e 3 Combinação de dois fármacos* Meta não alcançada Meta não alcançada Meta não alcançada Meta não alcançada IECA ou BRA + BCC ou DIU Combinação de três fármacos* IECA ou BRA + BCC + DIU Quarto fármaco Espironolactona Adição de mais fármacos Betabloqueadores devem ser indicados em condições específicas tais como: IC, pós-IAM, angina, controle da FC, mulheres jovens com potencial para engravidar, em geral em combinação com outrosfármacos * Otimizar doses, preferencialmente em comprimido único Vamos portanto às alternativas: A. Nosso paciente possui HAS estágio 1, não 2. Além disso, não há necessidade de início de 2 classes de anti hipertensivos no momento. B. Nosso paciente possui HAS estágio 1, não 2. A segunda afirmativa quanto a terapia está correta, e poderemos aguardar 3 meses com MEV caso o paciente encontre-se motivado a iniciá-las. C. Como vimos acima, pacientes com HAS estágio 1 de baixo risco CV que precisam iniciar terapia farmacológica podem iniciar com apenas uma classe de anti hipertensivos. Sendo assim essa não seria a melhor resposta para a questão. D. Apesar de a classificação estar correta e eventualmente, na necessidade de terapia farmacológica, podermos iniciar apenas uma droga, a Hidralazina não é a melhor escolha. Sabemos que atua como vasodilatador direto, porém 24 não configura BCC, IECA, BRA ou diurético tiazídico, que seriam as melhores medicações para controle com melhor perfil de efeitos adicionais benéficos para o paciente. Por esse motivo, e pelo paciente do caso não necessitar de tratamento farmacológico de imediato, alternativa incorreta. E. Essa é a alternativa adequada. Temos um paciente ocm HAS estágio 1, sem comorbidades que aumentam o Risco CV, e que poderá iniciar MEV por 3 meses até reavaliação clínica. Nesse período, poderá manter sem uso de medicações. Visão do aprovado: Pessoal, escolher iniciar o tratamento farmacológico de HAS é uma decisão que pesa diferentes pontos. Destacamos risco cardiovascular (sempre que moderado ou alto, iniciar 2 fármacos diferentes em associação), o estágio da hipertensão (sempre que estágio 2 ou superior, iniciar terapia dupla) e fragilidade (se fragilidade presente ou idade muito avançada, considerar monoterapia a despeito dos demais). Guardem esses pontos, ilustrados na tabela abaixo. TERAPIA INICIAL DE ACORDO COM O ESTÁGIO E RISCO CARDIOVASCULAR SITUAÇÃO Risco CV Terapêutica medicamentosa inicial PRÉ-HAS Baixo ou moderado Não recomendado Alto ou DCV pré-existente Monoterapia; Eventualmente, dupla HAS estágio 1 Baixo Monoterapia; Eventualmente, dupla Moderado ou alto Terapia 2 fármacos HAS estágio 2 Baixo Terapia 2 fármacos Moderado ou alto Terapia 2 fármacos HAS ESTÁGIO 3 Baixo Terapia 2 fármacos Moderado ou alto Terapia 2 fármacos IDOSO FRÁGIL OU MUITO IDOSO - Monoterapia IDOSO HÍGIDO - Terapia 2 fármacos 25 Questão 7 Homem de 24 anos, sem comorbidades conhecidas, procura pronto atendimento com queixa de cansaço progressivo há três semanas. Há 5 dias não tolera atividades mínimas como tomar banho. Associado ao quadro apresenta petéquias, gengivorragia e epistaxe de evolução na última semana. Nega febre ou sintomas de demais aparelhos. Em avaliação nota-se palidez (3+/4+), petéquias difusas em membros e sinais vitais estáveis. Ausculta cardiorrespiratória sem alterações. Abdome plano, flácido, sem visceromegalias. Exames laboratoriais solicitados evidenciam Hb: 6,5g/ dL, Ht: 20%, leucócitos: 2.800 células/mm3, plaquetas: 18.000, TTPA ratio: 2.6, INR: 6.5, fibrinogênio 100mg/dL. Suspeitando-se de diagnóstico primário hematológico, realizado esfregaço de sangue periférico (figura 1). Enquanto aguardava em sala de observação, paciente apresenta rebaixamento de nível de consciência, sendo encaminhado à realização de tomografia de crânio (figura 2). Figura 1. Fonte: Blood Journal. Figura 2. Fonte: https://radiopaedia.org/cases Indique qual a hipótese diagnóstica mais provável, a principal alteração citogenética relacionada e qual a primeira conduta a ser adota neste caso. A. Leucemia promielocítica aguda, t(13,17), quimioterapia específica. B. Leucemia mieloide aguda, t(9,22), plasmaférese. C. Leucemia promielocítica aguda, t(15,17), ácido transretinóico (ATRA). D. Leucemia mieloide aguda, t(13,17), plasmaférese. E. Leucemia linfoblástica aguda, t(8,21), ácido transretinóico (ATRA). Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: C Comentário: 26 Questão de onco-hematologia com direito a imagem de sangue periférico e alterações citogenéticas! Calma, não precisa se desesperar. Apesar da imagem disponibilizada e da alteração citogenética descrita, nenhuma delas era essencial para chegarmos a alternativa correta da questão. Conseguimos realizar isso apenas com uma associação de quadro clínico + achados laboratoriais. O caso nos descreve um paciente jovem, sem comorbidades conhecidas e que está evoluindo com um quadro, no mínimo, esquisito: astenia progressiva e incapacitante com evolução rápida, associada a sangramento inespecífico, que culmina para sangramento grave em sistema nervoso central. Ao avaliar os exames laboratoriais notamos anemia considerável, associado à leucopenia e plaquetopenia, além de provas de coagulação alteradas. Antes de irmos para as alternativas, vamos rapidamente revisar alguns conceitos sobre leucemias agudas. Estas são patologias em que ocorre uma parada de maturação celular, culminando no acúmulo de células jovens (blastos) na medula óssea e sangue periférico. Como o nome bem diz, são também patologias de instalação e evolução aguda, com grave comprometimento do estado geral do paciente. São divididas em linhagem linfóide (LLA) e mielóide (LMA). Dentre as categorias, são divididas entre subtipos, cada um com sua particularidade. Independente da linhagem e subtipo, o diagnóstico se estabelece da mesma maneira: presença de mais de 20% de blastos na medula óssea ou no sangue periférico. Após o diagnóstico de leucemia aguda, técnicas mais específicas de imunofenotipagem, imunohistoquímica, citogenética e biologia molecular são utilizadas para determinação de linhagem (LLA ou LMA) e subtipo específico. Dentre estes subtipos descritos, destaca-se um: leucemia promielocítica aguda (LPA). Doença não tão comum na prática clínica, mas de extrema importância por sua gravidade e por possuir um tratamento altamente específico, capaz de mudar a história natural da doença. A LPA associa-se a presença da t(15;17), que gera o gene de fusão PML-RARA. Clinicamente isso determina um quadro de evolução muito rápida com importante alteração na coagulação, causando sangramentos maiores. A descoberta de uma substância capaz de se ligar ao gene alterado permite com que a maturação celular prossiga e ocorra o amadurecimento do blasto em neutrófilo, bem como bloqueia a ocorrência dos eventos hemorrágicos maiores. Essa substância “milagrosa” é chamada de ácido transretinóico (ATRA) e é fornecida em altas doses para estes pacientes. Agora sim, vamos às alternativas! A. O diagnóstico está correto, mas a alteração citogenética mais comum é a t(15,17) e o tratamento INICIAL, a fim de freiar a progressão da coagulopatia é o ATRA em altas doses. A quimioterapia será considerada em um segundo momento. 27 Atualmente existe também o tratamento com trióxido de arsênico (ATO), menos badalado nas provas, associado ou não a quimioterapia convencional - porém este assunto é específico demais para ser cobrado em provas de residência. O conceito que deve permanecer em mente é: quadro clínico sugestivo de leucemia aguda + discrasia sanguínea = suspeitar de LPA e indicar ATRA o quanto antes! B. Apesar da LPA ser parte da linhagem mielóide, a simples determinação “LMA” não é a melhor resposta. A t(9,22) é uma alteração citogenética importante e que define prognóstico em várias patologias, mas não é a mais associada à doença em questão. A plasmaférese também não é a melhor terapia indicada neste caso. C. Perfeito! Para não esquecerem, vamos reforçar: Quadro clínico sugestivo de leucemia aguda + discrasia sanguínea = suspeitar de LPA e indicar ATRA imediatamente! Note que, para acertar a questão não era necessário reconhecer os blastos na imagem e nem saber que a alteração citogenética mais comum é a t(15, 17). A única alternativa que contempla a resposta LPA + ATRA é a alternativa C. Apenas para não passar em branco, vamos descreveros achados da figura 1, que mostra promielócitos displásicos com granulação exuberante, núcleo irregular e bastonetes de Auer (estes bastões arroxeados no interior do citoplasma, corados por mieloperoxidase e que definem a linhagem das células como mielóide) D. LMA é uma resposta simplista, a t(13,17) não é a mais associada a doença e a quimioterapia específica só será considerada em um segundo momento, como já descrito anteriormente. E. A LLA não está associada a quadros de sangramento tão pronunciados. A presença de bastonetes de Auer indica que não se trata da linhagem linfóide e sim mielóide (lembrar que é corado pela MIELOperoxidase). A translocação descrita está equivocada. Visão do aprovado: Questão de memorização sobre um tema importante em leucemias. O ATRA realmente revolucionou o tratamento da LPA e mudou a história natural da doença, por isso esse tema é queridinho das provas de residência. Mais importante do que decorar alterações específicas é sempre ter em mente que a LPA causa um quadro catastrófico associado à discrasia importante e que o objetivo numero 1, 2 e 3 é garantir acesso ao ATRA o quanto antes! Apenas por curiosidade, no caso de sangramentos de sistema nervoso central associados à coagulopatia, as características de imagem na maioria das etiologias são semelhantes: embora o sangramento possa ocorrer em qualquer local, o local mais comum nesses pacientes é o supratentorial e o intraparenquimatoso 28 Questão 8 Paciente masculino de 65 anos, encaminhado da equipe de cirurgia para avaliação após achado em adrenal esquerda. Exame tomográfico descreve massa em adrenal esquerda, de 1,2cm, densidade < 10UH, washout > 50%. Apresenta antecedente de hipertensão de difícil controle. Assinale a alternativa que contém os exames iniciais a serem solicitados na investigação do incidentaloma. A. Metanefrinas plasmáticas e urinárias e cortisol salivar noturno, apenas. B. Metanefrinas plasmáticas e urinárias, cortisol salivar noturno e relação aldosterona/ renina plasmática. C. Metanefrinas séricas e urinárias, cortisol salivar noturno e testosterona total e livre. D. Metanefrinas séricas e urinárias, cortisol salivar noturno, relação aldosterona/ renina plasmática e testosterona total e livre. E. Metanefrinas urinárias, cortisol basal sérico, relação aldosterona/renina plasmática. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: B Comentário: Fala galera da Medway! Questão bem direta sobre incidentaloma adrenal, e questiona quais exames devem ser solicitados na investigação. Mas afinal, o que é um incidentaloma adrenal? A definição é uma massa em adrenal, encontrada ocasionalmente em exames de imagem, com tamanho > 1 cm. Em todos os casos, devemos analisar suas características quanto à produção de alguns hormônios e suspeita de malignidade. A maioria dos incidentalomas são adenomas, ou seja, benignos e, destes, a maioria é descrita como não funcionante. Para avaliação do risco de carcinoma, devemos olhar a atenuação e o washout, sendo que o risco maior de neoplasia é maior com > 10 UH e washout < 50%. Já quanto à avaliação de produção de hormônios, todos devem ser investigados para feocromocitoma e cushing subclínico. A investigação de feocromocitoma é feita com metanefrinas plasmáticas e/ou urinárias. 29 Já a investigação de cushing subclínico pode ser feita tanto com o cortisol salivar noturno quanto com o teste de supressão pós 1mg de dexametasona (a pessoa toma 1mg de dexametasona à noite e avalia o cortisol pela manhã. Se não houver imunossupressão, há hipercortisolismo). Lembrando que a dosagem de cortisol basal não é útil para investigação de hipercortisolismo, e sim para insuficiência adrenal. Por último, vamos avaliar se há necessidade de investigação de hiperaldosteronismo primário. A indicação de investigação neste caso é mais restrita, sendo principalmente para aqueles indivíduos que possuem hipertensão ou hipocalemia. O rastreio pode ser feito com a relação aldosterona/renina plasmáticas. Voltando ao enunciado, nosso paciente possui uma adrenal com características de adenoma, com histórico de hipertensão, sendo indicado pesquisar cushing subclínico (cortisol salivar ou supressão pós dexa), feocromocitoma e hiperaldos- teronismo primário. A. Vide comentário. B. Vide comentário. C. Vide comentário. D. Vide comentário. E. Vide comentário. Visão do aprovado: Galera, questão bem direta de incidentaloma adrenal! Este é um tema que vale a pena revisar pois é um tema curto e que precisa ser memorizado! Lembrem da indicação de rastreio de cada um dos hormônios e os principais exames a serem solicitados em cada um deles. Questão 9 A tuberculose ainda é uma infecção muito prevalente no Brasil, devendo ter atenção especial aos pacientes vivendo com HIV/ AIDS. Dentre as suas apresentações, podemos ter a forma pulmonar clássica ou acometimento de vários outros órgãos. Assinale a alternativa que contém o órgão mais acometido pela tuberculose no paciente coinfectado com HIV/ AIDS. A. Pleural. B. Renal. C. Ganglionar. D. Meningoencefálica. E. Óssea. 30 Nível de dificuldade: Fácil Gabarito: C Comentário: Fala galera! Questão tranquila e direta para revisarmos um pouco sobre tuberculose extrapulmonar. A forma mais comum no geral, é a TB pleural, exceto no paciente que vive com HIV, que, neste caso, é a forma ganglionar. Lembrando que todas as outas formas mais graves da tuberculose estão associadas a formas de imunossupressão, como o próprio HIV/AIDS, diabetes descompensado, pacientes em tratamento imunossupressor ou desnutrição grave. A. Incorreta. É a forma mais comum no paciente que não vive com HIV. B. Incorreta. C. Correta. D. Incorreta. E. Incorreta. Visão do aprovado: Fala galera da medway! Questão tranquila e direta sobre qual a forma mais comum de tuberculose extrapulmonar no paciente HIV positivo. Devemos lembrar que a forma mais comum nesse perfil de paciente é a TB ganglionar, enquanto a TB pleural é forma mais comum no paciente HIV negativo. Questão 10 Relacione as seguintes tabelas e marque a alternativa que faça a correta correlação entre antídoto e seu agente tóxico ou sua indicação de administração: 1) Hipertermia Maligna 2) Metoclopramida 3) Cumarinico 4) Cianeto 5) Heparina 6) Acetaminofeno (A) Hidroxicobalamina (B) Dantrolene (C) Sulfato de Protamina (D) Fitomenadiona (E) N-Acetilcisteína (F) Biperideno A. A3 - B1 - C5 - D4 - E6 - F2. 31 B. A2 - B1 - C5 - D3 - E6 - F4. C. A4 - B1 - C5 - D3 - E6 - F2. D. A1 - B2 - C5 - D4 - E3 - F6. E. A3 - B4 - C6 - D5 - E2 - F1. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: C Comentário: Gente, questão de memorização sobre intoxicações exógenas. Não tinha segredo, deveríamos saber o antídoto de cada agente tóxico ou a sua indicação. Vamos detalhar cada uma delas na ordem apresentada dos antídotos: a. Hidroxocobalamina (ou Vitamina B12) detoxifica o cianeto ao formar cianocoba- lamina, a qual poderá ser excretada pela via renal. Logo, é antídoto do cianeto. b. O dantrolene é a principal medicação na hipertermia maligna (MH). A MH se manifesta clinicamente como uma crise hipermetabólica quando um indivíduo suscetível a MH (MHS) é exposto a um anestésico volátil (por exemplo, halotano, isoflurano, sevoflurano, desflurano) ou succinilcolina. Pacientes com MHS têm anormalidades genéticas do receptor muscular esquelético que permitem o acúmulo excessivo de cálcio mioplasmático na presença de certos agentes anestésicos desencadeantes. c. A protamina é um complexo de proteínas de baixo peso molecular que combi- na-se com heparina neutralizando-a. d. Fitomenadiona (a nossa conhecida vitamina K), é o principal antidoto para in- toxicação com cumarinicos. Essa vitamina é essencial para a atividade de várias enzimas carboxilase nas células hepáticas e, portanto, é necessária para a ativa- ção dos fatores de coagulação VII, IX, X e protrombina (antagonizando a inibição de sua síntese pelos cumarinicos). As proteínasanticoagulantes naturais S e C também requerem vitamina K para sua atividade. e. Acetaminofeno ou paracetamol possui como antídoto N-acetilcisteína. f. Bromoprida e outros agentes pró-cinéticos antidopaminérgicos (metocloprami- da, domperidona, levosulpirida, droperidol, cleboprida e proclorperazina) agem por meio do bloqueio dos receptores D2 do trato gastrintestinal e do sistema nervoso central (SNC). Dentre os efeitos adversos comuns relacionados a várias dessas drogas, os sintomas de liberação extrapiramidal estão entre os de maior frequência e gravidade. Dentre eles, a cleboprida e domperidona podem induzir rapidamente reações extrapiramidais, em comparação aos demais. Medicações com ação anticolinérgica incluem o biperideno, prometazina e difenidramina. 32 O bloqueio da acetilcolina restaura o equilíbrio excitatório-inibitório e promove o alívio dos sintomas em poucos minutos. Vamos às alternativas: A. Alternativa errada. Como vimos acima, esta não é a ordem correta. B. Alternativa errada. Como vimos acima, esta não é a ordem correta. C. Alternativa correta. D. Alternativa errada. Como vimos acima, esta não é a ordem correta. E. Alternativa errada. Como vimos acima, esta não é a ordem correta. Visão do aprovado: Tenham atenção! As questões de memorização de intoxicações exógenas serão ou desta forma, correlacionando tóxicos e seus respectivos antídotos, ou correlacionando o tóxico com a síndrome manifesta em sua intoxicação. Por isso, tenha bem em mente os achados em cada síndrome: Miose Midríase Há depressão do SNC e respiratória? Sonolência, hipertonia muscular? Mucosas secas e retenção urinária? Há sialorreia, sudorese, fasciculações? Diaforese, tremores? Síndrome narcótica Síndrome extrapiramidal Síndrome anticolinérgica Síndrome colinérgica Síndrome simpaticomimética Sim SimSimSim Sim O paciente tem midríase ou miose? 33 Questão 11 Assinale a alternativa que contém o modo ventilatório correto com base na imagem abaixo. A. Pressão de suporte ventilatório (PSV). B. Ventilação controlada a volume (VCV). C. Ventilação controlada a pressão (PCV). D. Ventilação assisto-controlada a volume. E. Ventilação assisto-controlada a fluxo. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: A Comentário: Fala galera! Vamos revisar modos ventilatórios? Basicamente, podemos ter modos controlados (o ventilador conduz todos os disparos) ou assistidos (o ventilador dispara conforme o esforço do paciente). Em resumo, os modos são controlados (controlado a pressão ou a volume) ou assisto-controlados (a volume, pressão ou pressão de suporte). Uma boa forma de diferenciar visualmente se o modo é controlado por volume ou pressão, é tentar identificar visualmente qual o parâmetro que o ventilador está setando, ou seja, qual o que não parece fisiológico - geralmente é uma curva reta/quadrada 1) VOLUME CONTROLADO • Disparo por tempo (ajuste da FR). • Ciclagem por volume. 34 • Fixam-se a FR, Vt (volume corrente) e o fluxo inspiratório. • A pressão do sistema depende do fluxo, do volume e da mecânica. • O operador define a frequência respiratória e, com isso, se define o tempo em que o ventilador vai disparar. Por exemplo, se a FR for de 20, significa que a cada 3 segundos o ventilador deve iniciar um novo ciclo (disparo). • A ciclagem é por volume. Vamos dar um exemplo para ficar fácil o seu entendimento. No modo volume controlado, você definiu que o paciente deve receber 420 mL de volume corrente (ou X ml/kg de peso predito). Todas as vezes que o ventilador definir que já entregou esse volume, ele cicla (inverte para a expiração pois é hora de esvaziar esse pulmão). Figura. Modo volume controlado. Perceba que na curva de volume temos um "V" invertido, o volu- me entra na fase inspiratória e sai na fase expiratória. Na curva de fluxo temos uma porção negativa, quando o paciente está em fase expiratória e o fluxo é contrário ao sentido do ventilador > paciente. Fonte: Adaptado de: Carvalho CRR, 2007. Ventilação mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. J. bras. pneumol. vol.33 suppl.2 São Paulo July 2007. 2) PRESSÃO CONTROLADA • Disparo por tempo (ajuste da FR). • Ciclagem depende do tempo inspiratório. • Fixam-se a FR, a pressão inspiratória e o tempo inspiratório. • O volume depende da pressão inspiratória, da mecânica respiratória e do tempo inspiratório. Então, vemos que mais uma vez quem determina o disparo é o tempo, porque o modo é controlado, ou seja, o paciente não decide quando vai inspirar. • Mas diferente do modo volume controlado, aqui quem define a ciclagem é o tempo inspiratório, definido pelo operador. Por que não é a pressão que define a ciclagem? Pois não faz sentido o paciente parar de inspirar, só porque, a pressão atingiu um valor X, faz sentido colocarmos uma pressão para ajudar a “abrir o pulmão” e ele “encher com um volume Y de ar”. 35 Figura. Modo pressão controlada. Perceba que na curva de fluxo não temos uma retificação, há uma entrada abrupta de ar compatível com o ganho inicial de volume, depois para de entrar ar. Fonte: Adaptado de: Carvalho CRR, 2007. Ventilação mecânica: 3) MODOS ASSISTO-CONTROLADOS Os modos assisto-controlados são muito parecidos com os modos controlados, a diferença é que o disparo pode ser feito pelo próprio paciente (a parte de “assistida” refere-se a “dar assistência” à respiração que ele iniciará). O operador define, no ventilador, uma sensibilidade (de fluxo ou pressão), quando o paciente tenta inspirar, ele gera esse fluxo ou pressão, se for suficiente para vencer a sensibilidade, ele desencadeia um ciclo inspiratório. São os modos mais utilizados atualmente, podendo ser assisto-controlado a pressão ou assisto-controlado a volume. Figura. Modo ventilatório volume assistido-controlado. Note que no antes do disparo dos dois pri- meiros ciclos há uma pressão negativa que é o trigger para o disparo do ciclo e representa o esforço do paciente. Já o terceiro ciclo não apresenta esse entalhe inicial negativo, após uma pausa. Fonte: Adaptado de: Carvalho CRR, 2007. Ventilação mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ven- tilatórias. J. bras. pneumol. vol.33 suppl.2 São Paulo July 2007. 36 Figura. Modo ventilatório Pressão Assistido-Controlado. Aqui dá para perceber o início negativo da curva de pressão, que representa a contração da musculatura do paciente fazendo esforço e desen- cadeando o ciclo. Fonte: Adaptado de: Čarvalho ČRR, 2007. Ventilação mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. J. bras.pneumol. vol.33 suppl.2 São Paulo July 2007 4) MODO ESPONTÂNEO CONTÍNUO (PRESSÃO DE SUPORTE OU PSV) Nesse modo, todos os ciclos são disparados e ciclados pelo paciente e, na maioria dos modos, a variável de controle é a pressão (pressão de suporte). No modo pressão de suporte, o ventilador cicla pela porcentagem de fluxo (usualmente 25%) e este parâmetro pode ser regulado para mais ou para menos, para atrasar ou adiantar a ciclagem. Como assim, porcentagem de fluxo? No modo de suporte o estímulo ativo do paciente para iniciar a inspiração dá início a um fluxo do ventilador para o paciente, à medida que esse ar vai entrando, o fluxo vai progressivamente diminuindo, quando ele atinge o percentual que determinamos (geralmente 25%), ele cicla, fecha a válvula inspiratória e permite a expiração. Então, se quisermos aumentar o tempo inspiratório de um paciente, vamos diminuir o percentual de ciclagem (para 5%, por exemplo). Assim, ele só vai passar para a etapa expiratória no finalzinho da entrada máxima de ar, quando não há mais diferença de pressão para criação desse fluxo. Por outro lado, se quisermos que o paciente expire por mais tempo (contexto de retenção de ar como na asma ou no DPOC), podemos aumentar esse percentual de ciclagem, para que o paciente passe mais tempo na fase expiratória (passar para 40%, por exemplo). O volume corrente depende do esforço do paciente, da pressãode suporte e da mecânica respiratória (resistência e complacência pulmonar). Em pacientes em VM prolongada, é tipicamente o modo utilizado para desmame. 37 Figura. Modo Pressão de Suporte. Fonte: Adaptado de: Carvalho CRR, 2007. Ventilação mecânica: prin- cípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias. J. bras. pneumol. vol.33 suppl.2 São Paulo July 2007. No gráfico da questão podemos observar que não ocorre disparo de maneira totalmente sistemática, ou seja, não se trata de um modo controlado, em que todos os disparos são feitos pelo ventilador. Pelo contrário, todos os disparos são feitos pelo paciente. Além disso, podemos perceber a variação do volume e das pressões, quando o aparelho gera o suporte para o paciente. Trata-se, portanto, de um gráfico de pressão de suporte. A. Correto. B. Incorreto. C. Incorreto. D. Incorreto. E. Incorreto. Visão do aprovado: Galera, questão de dificuldade média, em que devemos identificar os modos ventila- tórios. A dificuldade é um pouco maior por não ser um tema muito frequente durante a graduação de medicina, mas os métodos básicos de ventilação mecânica devem ser memorizados, até para não perder muito tempo em questões diretas como essa. Questão 12 Paciente do sexo masculino, 68 anos, apresentou hemiparesia direita e dificuldade de nomeação de início ictal. O início dos sintomas foi presenciado por seu filho, contudo em cerca de 1 hora paciente gradualmente apresentou melhora, até que chegou ao hospital 2 horas e 30 minutos após o início dos sintomas, já sem déficit. Tinha história prévia de diabetes mellitus e hipertensão arterial, contudo com má adesão medicamentosa. 38 À chegada apresentava NIHSS de zero e exame neurológico não demonstrava alterações. O ritmo cardíaco à monitorização estava regular. A tomografia de crânio não demonstrou alterações, contudo a angiotomografia demonstrou placa causando estenose de carótida interna cervical de 80% à direita. Sobre o caso acima, escolha a alternativa mais apropriada. A. Em vista de se tratar de estenose importante de carótida sintomática, devemos proceder com revascularização da carótida (podendo ser stent ou endarterectomia), de preferência em até 2 semanas do evento inicial. B. Uma vez que temos uma possível estenose carotídea, pode ser necessária revascularização. Contudo, devemos antes realizar um Doppler de carótidas para confirmar a estenose e avaliar melhor as características da placa antes de indicar revascularização. C. Apesar de haver estenose carotídea >50% não devemos proceder com revascularização neste caso. Por se tratar de AIT de alto risco devemos iniciar AAS associado a clopidogrel e manter por 21 dias, deixando após apenas antiagregacao simples. D. Por se tratar de um AIT de alto risco devemos iniciar anti agregação plaquetária simples, podendo ser usado AAS ou clopidogrel. E. Embora classicamente se use o critério de tempo para diferenciar AIT de AVC minor, hoje em dia é preferido usar ressonância magnética para diferenciar os dois. Caso houvesse restrição à difusão na imagem classificaríamos de AVC minor e hoje há evidências que a trombólise nessa situação pode evitar a recorrência de eventos. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: C Comentário: Galera, esse paciente teve um déficit neurológico compatível com clínica de cerebral média esquerda (lembrem que afasia quase sempre topógrafa à esquerda). Esse déficit melhorou completamente, podendo corresponder a um ataque isquêmico transitório (AIT) ou mesmo AVC minor. Hoje para diferenciar essas duas etiologias usamos a RM. Se há restrição à difusão chamamos de AVC e se não há é um AIT. Apesar dessa nomenclatura, em nenhuma das situações há indicação de trombólise, visto que não há mais déficit. Em todo paciente com AIT devemos investigar o porquê do evento de forma a evitar que ocorra um AVC. Assim, devemos no mínimo realizar um ECG e um 39 exame de vasos intra e extracranianos, além de exames laboratoriais e, na maioria dos casos, um ecocardiograma transtoracico. O exame de vasos desse paciente demonstrou uma estenose importante, contudo localizada na carótida contralateral ao lado do evento. Assim, temos uma estenose carotidea assintomática. Caso se tratasse de carótida sintomática (evento nos últimos 6 meses), deveríamos sim proceder com revascularização, sobretudo nas primeiras duas semanas. Como é um caso assintomático, a maioria das evidências hoje suporta uma conduta conservadora. No AIT devemos ainda calcular o risco com o escore ABCD2 (Age, Blood Pressure, Clinica, diabetes, duração). Como esse paciente é idoso, hipertenso, teve fraquezae tem diabetes, tendo ainda déficit durando uma hora, temos um AIT de alto risco. Caso não seja encontrada arritmia ou causa cardioembolica na investigação inicial, devemos iniciar dupla antiagregação com AAS e clopidogrel e manter por 21 dias, deixando após antiagregação simples com apenas um fármaco. A. A carótida é assintomática e não há necessidade de abordar. B. A carótida é assintomática e, mesmo que fosse sintomática, não é necessário realizar ultrassom, sendo a angiotomografia suficiente para avaliar a estenose. C. Como a estenose é assintomática não há necessidade de revascularização. De fato devemos manter dupla antiagregação por 21 dias. D. No AIT de alto risco dupla antiagregação é preferida. E. Não há indicação de trombólise no AIT nem tampouco no AVC em paciente que já chega sem déficit. Visão do aprovado: Cuidado com a pegadinha da lateralidade! Uma lesão carotídea só é sintomática se ti- ver evento prévio do mesmo lado do hemisfério cerebral atingido nos últimos 6 meses. Questão 13 Sobre a nefrite lúpica, assinale a alternativa correta: A. Na Classe II ou nefrite mesangial mínima, poderemos frequentemente visualizar presença de hematúria microscópica, proteinúria e alteração da função renal, mesmo que de forma discreta. B. Na classe VI geralmente apresenta forma similar a nefropatia membranosa primária, na qual poderemos visualizar quadro clínico de síndrome nefrótica, além de creatinina sérica normal ou levemente alterada. 40 C. A nefrite lúpica classe III em geral apresenta hematúria e proteinúria, assim como pode apresentar hipertensão, queda de TFC, e síndrome nefrótica. Histologicamente, mais de 50% dos glomérulos estão afetados na microscopia óptica. D. A identificação na microscopia óptica da nefropatia lúpica classe V requer um cuidado, pela possibilidade de sobreposição com as classes III e IV, por isso, possui pior prognóstico, dentre as classes. E. Na nefrite lúpica classe VI não há glomerulonefrite ativa. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: E Comentário: Questão difícil e padrão memorização sobre uma das manifestações potencial- mente graves do Lúpus eritematoso sistêmico (LES): A nefrite lúpica. Essa entida- de, quando presente, poderá progredir à doença renal crônica terminal, uma das maiores causas de morbimortalidade dos pacientes com LES. O quadro clínico da nefrite lúpica é variável, e inclui a possibilidade de: • Síndrome nefrítica: hematúria glomerular e proteinúria, hipertensão, edema e piora de função renal. • Síndrome nefrótica: proteinúria nefrótica, hipoalbuminemia, edema e fenôme- nos trombóticos como a trombose venosa de V. renal. • Alterações exclusivamente laboratoriais sem achados clínicos associados. Essas diferenças na apresentação clínica da doença normalmente refletem o tipo de lesão histológica observada nos glomérulos. Desse modo, foi desenvolvida uma classificação da nefrite lúpica baseada nos achados histopatológicos das biópsias renais de pacientes, dividindo os diferentes achados da biópsia em seis classes de nefrite lúpica. Pense da seguinte forma: Possuímos produção de autoanticorpos que lesionam nossas próprias células no Lúpus Eritematoso Sistêmico. Isso não se restringe apenas a um parte do corpo, logo, o rim não escapará dessa agressão, na qual causará inflamação com a deposição de imunocomplexos edisfunção tecidual. Inicialmente, iremos ter o mesângio acometido de forma mínima. No próximo passo, será um acometimento mais extenso do mesângio. Com a evolução da doença, os imunocomplexos irão acometer os glomérulos de forma mais extensa, inicialmente acometendo menos de 50% deles até mais da metade. Esses imunocomplexos causarão espessamento 41 que causará disfunção filtrativa importante até,por fim, termos esclerose global desse rim. NÃO SE ENGANE, isso não é algo evolutivo (2 -> 3 ->4,por ex). Paciente poderá abrir o quadro com um NL classe IV, por exemplo,e dependerá da severidade do LES. Segue abaixo a descrição clínica e histopatológica de cada classe: CLASSES E CARACTERÍSTICAS DA NEFRITE LÚPICA CLASSE CARACTERÍSTICAS PATOLÓGICAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ESQUEMA DA MICROSCOPIA ELETRÔNICA MICROSCOPIA ÓPTICA CLASSE I MESANGIAL MÍNIMA Presença de depósitos de imunocomplexos no mesângio visíveis apenas à IF ou ME Urina: proteinúria discreta (geralmente <500 mg/24h). Síndrome Nefrítica Ul normal Clínica: ausente, sem azotemia CLASSE II MENSAGIAL PROLIFERATIVA Maioria de depósitos de imunocomplexos levando ao recrutamento de células inflamatórias e aumento da matriz no mesângio visíveis à MO Urina: proteinúria e hematúria apenas microscópicas Síndrome Nefrítica Clínica: geralmente ausente, pode causar hipertensão CLASSE III PROLIFERATIVA FOCAL Presença de depósitos subendoteliais de imunocomplexos levando à infiltração de células inflamatórias dos tufos capilares glomerulares que acomete < 50% dos glomérulos Urina: hematúria e proteinúria mais importantes, raramente em níveis nefróticos Clínica: Sd. nefrítica leve (hipertensão e azotemia significativa são menos comuns) CLASSE IV PROLIFERATIVA DIFUSA Presença de depósitos subendoteliais de imunocomplexos, levando à infiltração de células inflamatórias dos tufos capilares glomerulares que acomete > 50% dos glomérulos Urina: hematúria e proteinúria são universais, comumente em níveis nefróticos Clínica: sd. nefrítica com hipertensão e azotemia são comuns. "Síndrome nefrítica com proteinúria nefrótica" 42 CLASSES E CARACTERÍSTICAS DA NEFRITE LÚPICA CLASSE CARACTERÍSTICAS PATOLÓGICAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ESQUEMA DA MICROSCOPIA ELETRÔNICA MICROSCOPIA ÓPTICA CLASSE V MEMBRANOSA Presença de depósitos subepiteliais de imunocomplexos, levando ao espessamento da membrana capilar glomerular à MO Urina: proteinúria nefrótica, tipicamente sem hematúria Clínica: Sd. nefrótica, geralmente sem azotemia. Anti-DNAds e complemento podem ser normais CLASSE VI ESCLEROSE AVANÇADA Esclerose (fibrose) global de>90% dos glomérulos Urina: proteinúria, geralmente com hematúria discreta ou ausente Clínica: piora progressiva de função renal até terminar como DRC terminal DRC: doença renal crônica; IF: microscopia de imunofluorescência; ME: microscopia eletrônica; MO: microscopia óptica; Ul: exame do sedimento urinário ou urina tipo 1 Após essa breve revisão, vamos às alternativas: A. Alternativa errada. A Classe II, antes de tudo, é a nefrite mesangial proliferativa, na qual poderemos, sim, visualizar presença de hematúria microscópica e proteinúria. Contudo, alteração da função renal não é visualizada no quadro clínico dessa classe. B. Alternativa errada, já que misturou classe V e classe VI. A classe V é a nefrite membranosa e ela que geralmente apresenta forma similar a nefropatia membranosa primária. Na classe V, poderemos visualizar quadro clínico de síndrome nefrótica, além de pouco impacto na creatinina sérica. C. Alternativa seguia correta até a descrição histopatológica, já que a classe III ou nefrite lúpica proliferativa focal acometerá menos de 50% dos glomérulos na microscopia óptica. Alternativa errada. D. Realmente, a nefropatia lúpica classe V requer um cuidado por essa possibilidade. Inclusive esta classe poderá ainda aparecer sem outros sinais clínicos ou laboratoriais de LES (isto é, sem queda de complemento, sem detecção de anti- DNA, etc). Nestes pacientes, a mudança de padrão dos exames com surgimento de outros achados à urina 1 ou um aumento de creatinina indicam uma nova 43 biópsia, pela possibilidade de transformação para classes Ill ou IV. Contudo, não é a que possui pior prognóstico, e sim a classe IV. E. Alternativa correta. Na nefrite lúpica classe VI (esclerosante avançada) em geral apresenta queda lenta e progressiva de função renal junto a proteinúria e urina 1 sem importantes alterações. Consiste em uma glomeruloesclerose global acometendo mais de 90% do glomérulo. Decorre da cicatrização de injúrias prévias e pode representar o resultado a longo prazo das classes III, IV e V. Por isso, não há glomerulonefrite ativa. Visão do aprovado: Nefrite lúpica classes III e IV são as mais agressivas do ponto de vista clínico. Além disso, são as que, quando presentes, com FAN > 1/80, fecham diagnostico de LES (já que pontuam 10 pontos no critérios EULAR/ACR para Lupus Eritematoso sistêmico). Questão 14 A síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH) é uma causa importante de hiponatremia, de difícil manejo clínico. Assinale a alternativa incorreta sobre diagnóstico e manejo clínico. A. O paciente deve estar euvolêmico. B. Um dos critérios é o sódio urinário aumentado. C. Deve-se excluir insuficiência adrenal e hipotireoidismo antes de fechar o diagnóstico. D. Devido ao aumento de mortalidade, a correção deve ser feita sempre em casos em que o sódio esteja menor do que 120. E. Ao contrário da SIADH, na síndrome cerebral perdedora de sal, a restrição hídrica leva a uma piora da natremia. Nível de dificuldade: Moderada Gabarito: D Comentário: Fala galera, vamos relembrar um pouco sobre as hiponatremias? O que sempre devemos fazer é confirmar se essa hiponatremia é real. Um exame que ajuda a diferenciar isso é a osmolaridade plasmática. A osmolaridade normal vai de 275 a 295 mOsm/L e os principais osmois responsáveis por isso são o sódio e seus ânions - bicarbonato e cloro. Além deles, dois outros osmois se destacam: ureia e glicose. 44 Osmolaridade = 2xNa + Glicose/18+ Ureia/6, desde que glicose e ureia em mg/dL. Quando ocorre aumento da osmolaridade sérica, a água do interstício vai para o intravascular e o sódio é diluído. Um exemplo clássico é no estado hiperosmolar hiperglicêmico, em que cada 100 mg/dL de glicose a mais do que o normal é responsável por reduzir o sódio em 1 a 2 mEq/L. Quando a osmolaridade está normal, devemos pensar em artefatos laboratoriais causados por excesso de proteínas - nas paraproteinemias, como mieloma - ou excesso de lipídios. As hiponatremias reais são as que são acompanhadas de osmolaridade baixa (hipotônicas), que demonstra o aumento de água livre na circulação. Hiperglicemias Medir osmolaridade sérica Pseudo-hiponatremia → proteínas séricas (MM) → hipertrigliceridemia Hipertonica (> 295 mOsm/kg H2O) Hipotônica (< 275 mOsm/kg H2O) Isotônica (275-295 mOsm/kg H2O) Hiponatremia (sódio sérico < 135 mEq/L) Figura. Fluxograma de classificação das hiponatremias quanto à osmolaridade. Fonte: Adaptado de Handbook of Critical Care Nephrology, 1st Ed, 2021 Após vermos que temos uma hiponatremia de osmolaridade baixa, há mais de uma forma de progredir o raciocínio. A mais clássica envolve a avaliação volêmica do paciente, com o objetivo de chegar a uma lista de hipóteses diagnósticas. Como a avaliação da volemia é uma das coisas mais difíceis na medicina, exames simples podem ajudar (sódio urinário, osmolaridade urinária - na falta dela a densidade pode ajudar - e ácido úrico sérico). Na forma mais comum de avaliar hiponatremia, após determinar que temos uma hiponatremia hipotônica, avaliamos a volemia. Dessa forma, vamos ter três classificações principais: • Pacientes hipervolêmicos: devemos considerar como hipótese diagnóstica cirrose, insuficiência cardíaca e síndrome nefrótica, situações em que ocorre
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