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DIREITO CONSTITUCIONAL Administração Pública (arts. 37 a 43 da CF/1988) Disposições Gerais (Administração Pública - arts. 37 e 38 da CF/1988) Atenção: este módulo foi revisto e atualizado em 19/8/2022 Administração Pública Vamos juntos estudar agora um assunto denso na matéria de Direito Administrativo, mas com forte matriz no Direito Constitucional, que diz respeito ao Capítulo VII da Constituição Federal, o qual trata da disciplina da Administração Pública e de seus servidores. Vamos tratar especificamente da vertente constitucional da Administração, que naturalmente lança sua influência sobre as demais disciplinas que tratem do assunto. Por isso, costumo dizer que Direito Constitucional bem estudado assegura 50% de acerto das questões envolvendo as demais disciplinas do Direito, e em Direito Administrativo possivelmente mais do que isso. Assim, as questões envolvendo a Administração, no seu aspecto constitucional, poderão cair tanto na prova de Direito Constitucional como de Administrativo. Bem, toda e qualquer norma infraconstitucional submete-se à tutela e ao regramento da Constituição. Tenha em mente que a Administração Pública é uma só, com três esferas distintas de governo – federal, estadual e municipal. Da mesma forma, o poder estatal é um só, porém dividido funcionalmente em três (Executivo, Legislativo e Judiciário) no plano federal e estadual e em dois no âmbito municipal (Executivo e Legislativo). As normas da Constituição abrangem e obrigam a todos os entes federativos, independentemente do estatuto jurídico de cada um. Inclusive, esse tema do regime jurídico único foi objeto de discussão, em diversas oportunidades, pelo Supremo. Mas, o que é a Administração Pública? Na verdade, a Administração Pública é o conjunto de entidades e de órgãos incumbidos de realizar a atividade administrativa visando a satisfação das necessidades coletivas e segundo as políticas públicas definidas pelo Poder Executivo, pelo Poder Legislativo e também pelo Poder Judiciário para atingimento dos fins desejados pelo Estado. Gostaria de chamar sua atenção para alguns conceitos relativos à organização dos poderes e da administração pública. Muito comum a referência a governo em sentido objetivo ou material e governo em sentido subjetivo ou formal; a administração pública em sentido objetivo e administração em sentido subjetivo. Bom, mas governo e administração não são a mesma coisa? Você verá que não, pois o governo relaciona-se à forma ou ao sistema de exercício do poder, enquanto que a administração diz respeito aos instrumentos de ação governamental (atividades, órgãos, entidades ou agentes públicos). Quando falamos de governo em sentido objetivo, material ou funcional, estamos nos referindo às funções de Estado: legislativa, executiva e judicial. Já quando dizemos governo em sentido subjetivo, formal ou orgânico, referimo-nos aos poderes de Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário. Quando nos referimos à administração pública, em sentido objetivo, queremos dizer das atividades exercidas pelos órgãos, entidades e agente públicos, como fomento, poder de polícia ou serviços e já a administração em sentido subjetivo diz respeito aos órgãos, entidades e agentes que manifestam a vontade do Estado. O quadro abaixo sintetiza este entendimento. A vontade do Estado é manifestada pelo Governo em sentido subjetivo (Poderes da República), os quais, no exercício da atividade administrativa (Administração Pública em sentido objetivo), devem obediência aos comandos emanados da Constituição. Dessa forma, temos que a Administração Pública em sentido subjetivo, objeto de nosso estudo neste capítulo, compreende a disciplina constitucional que envolve os Órgãos, as Entidades e os agentes públicos que os manejam e operam. Princípios da Administração Pública A Constituição Federal inicia o Capítulo sobre a Administração, em seu art. 37, discorrendo sobre os Princípios da Administração Pública – LIMPE (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência): Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: Antes de discorrer sobre os princípios, convém esclarecer que eles constituem corolário (decorrência) do chamado REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO, e que diz respeito às normas de direito público que regem a Administração e seus agentes. Por sua vez, o regime jurídico-administrativo é caracterizado pelos princípios da supremacia do interesse público e a indisponibilidade do interesse público. O princípio da supremacia do interesse público fundamenta a existência das prerrogativas e dos poderes da Administração Pública, de que decorre a denominada relação vertical Administração-particular. Toda atuação administrativa em que existe imperatividade, em que são impostas, unilateralmente, obrigações para o administrado, ou em que são restringidos ou condicionados direitos dos particulares é respaldada pelo princípio da supremacia do interesse público. Já o princípio da indisponibilidade do interesse público faz contraponto ao primeiro. Ao mesmo tempo em que exerce seus poderes especiais, exorbitantes do Direito comum, a Administração também sofre restrições em sua atuação. Essas restrições decorrem do fato de que o dona da coisa pública, o proprietário do patrimônio público, titular do interesse público é o povo e não a Administração. Em decorrência do princípio da indisponibilidade do interesse público, a Administração somente pode agir quando houver lei que autorize sua atuação, nos limites estipulados por essa norma. O que há não é a “vontade” da Administração, mas sim a “vontade” da lei, que é quem legitimamente traduz a vontade geral, vontade do povo, manifestada pelos seus representantes no Poder Legislativo. Bom, mas e os princípios constitucionais? Você deve ter em mente que um princípio é uma norma jurídica geral, com alto grau de abstração e abrangência, que dá coerência, dá organicidade, confere lógica ao conjunto de normas jurídicas integrantes de um subsistema, orientando a produção e a interpretação das outras normas jurídicas que o integram ou integrarão. Como a Constituição é o mais elevado ato normativo de nosso ordenamento, representando o fundamento de validade de todas as demais normas jurídicas, os princípios, justamente por serem normas de grande abrangência, encontram-se, em regra, na própria Constituição. Mas, notem bem, os princípios constitucionais podem ser expressos ou implícitos. Os princípios da razoabilidade e proporcionalidade não estão expressos na Constituição, mas são considerados princípios constitucionais implícitos, tendo sido identificados pela jurisprudência, e passaram, a partir de 1999, na esfera federal, a constituir princípios legais expressos na Lei nº 9.784/1999, art. 2º: Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Já o princípio da eficiência passou a estar expresso no texto constitucional, no caput do art. 37, a partir da Emenda Constitucional 19/1998. Vamos, então, estudar cada um dos princípios expressos nesse artigo. Princípio da legalidade: Tendo em conta o fato de que a Administração Pública está sujeita ao princípio da indisponibilidade do interesse público, e como não é ela quem determina o que é de interesse público, mas somente a lei (e a própria Constituição, obviamente), que é aexpressão legítima da vontade geral, para que a Administração possa atuar, diferentemente dos particulares, não basta a inexistência de proibição na lei, é necessária a existência de determinação ou autorização da atuação administrativa na lei. Diz-se que a Administração, além de não poder atuar contra a lei ou além da lei, somente pode agir segundo a lei (a atividade administrativa não pode ser contra legem nem praeter legem, mas apenas secundum legem). Os atos eventualmente praticados em desobediência a tais parâmetros são atos inválidos e podem ter sua invalidade decretada pela própria Administração que o haja editado ou pelo Poder Judiciário. Princípio da Impessoalidade: atua como determinante da finalidade de toda a atuação administrativa (também chamado princípio da finalidade, considerado um princípio implícito, inserido no princípio expresso da impessoalidade). Dessa forma, ele impede perseguições ou favorecimentos, discriminações benéficas ou prejudiciais aos administrados. Qualquer ato praticado com objetivo diverso da satisfação do interesse público será inválido por desvio de finalidade. Essa é a acepção mais conhecida do princípio da impessoalidade, e traduz a ideia de que toda atuação da Administração deve visar ao interesse público, e deve ter como finalidade a sua satisfação. A segunda acepção do princípio da impessoalidade está ligada à ideia de vedação à pessoalização das realizações da Administração, à promoção pessoal do agente público. Essa acepção está consagrada no § 1º do art. 37 da Constituição, segundo o qual: Art. 37..... § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.” Uma terceira vertente do princípios da impessoalidade, contida em José Afonso da Silva, assevera que "os atos e provimentos administrativos são imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública, de sorte que ele é o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que formalmente manifesta a vontade estatal". Acrescenta o autor que, em virtude disso "as realizações governamentais não são do funcionário ou autoridade, mas da entidade pública em nome de quem as produzira. A própria Constituição dá uma consequência expressa a essa regra, quando, no § 1 º do artigo 3 7, proíbe que conste nome, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos em publicidade de atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos". (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 647) Outras manifestações do princípio da impessoalidade, você encontra nos incisos II e XXI do art. 37: II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;” XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.” Princípio da Moralidade: outro princípio expresso no caput do art. 37. A moral administrativa está ligada à ideia de probidade e de boa-fé, dentro de padrões éticos esperados de um agente público. Está expressa ainda na Lei nº 9.784/1999, no seu art. 2º, parágrafo único: Art. 2º.............. Parágrafo Único: nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé. É importante destacar, ainda que a noção de moral administrativa não se vincula às crenças e convicções íntimas do agente público, mas sim à noção de adequação e ética existentes em determinado grupo social, e que deve ser aplicada nas ações conduzidas pelos servidores e agentes públicos em geral. Um ato praticado com o intuito de favorecer alguém pode ser legal do ponto de vista formal, mas, certamente, comprometido com a moralidade administrativa, sob o aspecto material. Maria Sylvia Zanella di Pietro, citando Antônio José Brandão, leciona que foi no direito civil que a regra moral primeiro se imiscuiu na esfera jurídica, por meio da doutrina do exercício abusivo dos direitos e, depois, pelas doutrinas do não locupletamento à custa alheia e da obrigação natural. O mesmo ocorreu no âmbito do direito público, em especial no Direito Administrativo, no qual penetrou quando se começou a discutir o problema do exame jurisdicional do desvio de poder. Afirma que Maurice Hauriou define a moralidade administrativa como "conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração". Implica, portanto, saber distinguir não só o bem e o mal, o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, mas também entre o honesto e o desonesto; nesse caso, existe uma moral institucional, prevista na lei e a moral administrativa, que "é imposta de dentro e vigora no próprio ambiente institucional e condiciona a utilização de qualquer poder jurídico, mesmo o discricionário" (PIETRO, Marya Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27ª ed. 2014. São Paulo, Atlas, p. 77-78). Princípio da Publicidade: uma boa definição para o princípio da publicidade vem de José Afonso da Silva, para quem “a publicidade sempre foi tida como um princípio administrativo, porque se entende que o Poder Público, por ser público, deve agir com a maior transparência possível, a fim de que os administrados tenham, a toda hora, conhecimento do que os administradores estão fazendo”. Exemplo da manifestação desse princípio, você encontra no art. 31, §3º, da CF/88, o qual exige a publicidade das contas municipais: Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. (...) § 3º - As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.” Segundo o STF, a divulgação no Diário Oficial, seja da União, Estado, DF ou município, é suficiente para atender ao requisito da publicidade do ato administrativo: 2. Desnecessária a sua veiculação em jornais de grande circulação. A divulgação no Diário Oficial é suficiente per se para dar publicidade a um ato administrativo. (RE 390.939, rel. min. Ellen Gracie, julgamento 16/8/2005) Princípio da Eficiência: o princípio da eficiência foi concebido originalmente nos anais da Assembleia Nacional Constituinte de 1985 como "serviço público de qualidade", tendo como mentor o então Ministro Luís Carlos Bresser Pereira. Em determinado momento, um consultor legislativo do Senado, sugeriu retirar aquela locução pela expressão "eficiência", que ficou gravada no caput do art. 37. Um termo eminentemente da economia e não do Direito. Esse substantivo eficiência, portanto, significa que o gestor público deve agir visando o melhor resultado, com o melhor aproveitamento possível dos recursos disponíveis.,no menor prazo possível. Trata-se, portanto, de um modelo de administração que privilegia resultados ao invés de processos, a especialização e a priorização de determinados setores governamentais, no sentido de buscar a economicidade dos gastos. A busca do melhor resultado é normalmente vinculado à noção de eficácia, enquanto que a conjugação de eficiência e eficácia tem como resultante a efetividade. Está vinculado à noção da nova administração pública ou da administração pública gerencial, proposta pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), apresentado em 1995. Preconiza que o gestor público deve agir visando o melhor resultado, com o melhor aproveitamento possível dos recursos disponíveis. Trata-se de um modelo de administração que privilegia resultados ao invés de processos, a especialização e a priorização de determinados setores governamentais, no sentido de buscar a economicidade dos gastos, evitando o desperdício e assegurando maior rentabilidade ao cidadão-cliente, e por consequência, maior rentabilidade social. Grosso modo, defende-se a ideia de que a atuação da Administração deve ser, em termos de eficiência, semelhante à das empresas do setor privado, ou segundo setor. Daí a ênfase no atingimento de resultados e a tentativa de reduzir os controles de meios. Tome, como exemplo, os chamados contratos de gestão, previsto no art. 37, §8º: § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (contrato de gestão) I - o prazo de duração do contrato; II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; III - a remuneração do pessoal.” Aqui, vale anotar uma importante jurisprudência do STF, de abril/2015, relativa à Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.923, revisor Min. Luiz Fux, julg. em 16/4/2015, no bojo da qual o Supremo deu interpretação conforme a Constituição para considerar constitucionais as normas que dispensam licitação em celebração de contratos de gestão firmados entre o Poder Público e as organizações sociais para a prestação de serviços públicos de ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação ao meio ambiente, cultura e saúde, em especial a Lei 9.637/1998 (Lei das Organizações Sociais), e o inciso XXIV do artigo 24 da Lei 8.666/1993, dispositivos legais atacados pelos autores da ADI, o PDT e o PT. Nesse sentido, o STF assentou que a celebração de contratos de gestão com tais entidades deve ser conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios constitucionais que regem a Administração Pública (caput do artigo 37). É dizer, as Organizações Sociais poderão ser contratadas por dispensa de licitação e não precisarão, no âmbito de sua atuação, observar estritamente a Lei de Licitações (Lei 8.666/1993 e agora a Lei 14.133/2021) ou realizar concurso público para contratação de pessoal, não obstante tenham de observar princípios gerais da Administração, como a impessoalidade e a moralidade. Na contratação de pessoal, por exemplo, deverão adotar processo seletivo público, ainda que não estritamente qualificado como "concurso público". Na realidade, o Supremo está dando empoderamento a essas entidades, que foram criadas no âmbito do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, em 1995, justamente para, por intermédio de um processo denominado "publicização", fundações e associações pudessem ser qualificadas como organizações sociais, com o objetivo de prestação de serviços públicos não exclusivos de Estado, em penhor do princípio da eficiência da Administração. O objetivo do STF é reforçar esse novo modelo gerencial de administração pública, que possa se revelar mais eficiente do que o tradicional, mas sob os controles do Estado. De igual modo, as OSCIP's, organizações da sociedade civil de interesse público, que firmarem termo de parceria com o Poder Público, poderão adotar regulamento próprio para contratação de serviços e obras, a teor do art. 14, da Lei 9.790/1990: Art. 14. A organização parceira fará publicar, no prazo máximo de trinta dias, contado da assinatura do Termo de Parceria, regulamento próprio contendo os procedimentos que adotará para a contratação de obras e serviços, bem como para compras com emprego de recursos provenientes do Poder Público, observados os princípios estabelecidos no inciso I do art. 4o desta Lei. O Supremo decidiu também que a CF, no art. 37, XXI, determina a obrigatoriedade de obediência aos procedimentos licitatórios para a administração pública direta e indireta de qualquer um dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A mesma regra não existe para as entidades privadas que atuam em colaboração com a administração pública ( ADI 1.864, rel. p/ o ac. min. Joaquim Barbosa, julg. 8/8/2007). Vale ressaltar que o Supremo não afastou a competência do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público para o controle e a fiscalização de recursos públicos que essas entidades eventualmente recebam do erário. O STF perfilhou vertente semelhante à adotada com relação aos serviços sociais autônomos (Sistema S) que possuem natureza jurídica de direito privado e não estão sujeitos à regra do artigo 37, inciso II, da Constituição. Nesse sentido, segundo o STF, as organizações sociais e as do Sistema S são financiadas de alguma forma por recursos públicos, e quando há dinheiro público envolvido, deve haver necessariamente uma fiscalização por parte do Ministério Público e o controle de Estado pelos tribunais de contas. Outro exemplo de desdobramento do princípio da eficiência é a exigência de avaliação especial de desempenho para a aquisição da estabilidade pelo servidor público e a perda do cargo do servidor estável “mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa”, conforme a CF/88, art. 41. Ainda no princípio da eficiência, temos no art. 39, § 2º, da CF/88, que dispõe: A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados. Mais uma manifestação do princípio da eficiência você encontra no art. 241 da CF/88: Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.” Da investidura em cargo ou emprego público Continuemos, agora com a disciplina do concurso público (art. 37, II a IV): II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; As exceções à regra do concurso público para ingresso em cargo ou emprego público incluem: I - a nomeação para cargos em comissão, declarados de livre nomeação e exoneração, de acordo com o art. 37, II, da CF/88.II - O art. 37, IX da CF/88 prevê ainda como exceção a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos da lei, no caso a lei 8.745/1993. III - Contratação de professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei, de acordo com o art. 207, §1º; Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. § 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. IV - a contratação e admissão de agentes comunitários da saúde e agente de combate a endemias, por processo seletivo público, por parte dos gestores locais do sistema único de saúde, nos termos do art. 198, §4º da CF/88; V - ingresso nos Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho, Tribunais de Justiça e no Tribunal Superior do Trabalho pelo chamado "quinto constitucional", regra do art. 94 da CF, e de um terço no Superior Tribunal de Justiça, de advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, os quais nem mesmo se sujeitam a qualquer prazo de estágio probatório para aquisição de vitaliciedade (não é estabilidade!). ATENÇÃO: No julgamento do MS 22643, em 4/12/1998, o Supremo decidiu que : i) os Conselhos de Fiscalização Profissional foram criadas por lei, tendo personalidade jurídica de direito público, com autonomia administrativa e financeira; ii) eles exercem atividade de fiscalização de exercício profissional, atividade tipicamente de natureza pública; iii) as atividades de fiscalização de exercício profissional exercidas pelos conselhos são tipicamente públicas, e que estes têm o dever de prestar contas ao TCU. Nesse ínterim, foi aprovada a Lei 9.649/1998, que atribuiu personalidade jurídica de direito privado aos Conselhos. Foi então proposta a ADI 1717, no âmbito da qual o Supremo declarou, em 28/3/2003, a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei 9.649/1998, e decidiu, com eficácia vinculante e efeitos erga omnes, que: i) a fiscalização das profissões, por se tratar de uma atividade típica de Estado, que abrange o poder de polícia, de tributar e de punir, não pode ser delegada; ii) são de natureza autárquica os conselhos profissionais, pelo caráter público da atividade desenvolvida; iii) a fiscalização das profissões, por se tratar de atividade típica de Estado, que abrange o poder de polícia, de tributar e de punir, não pode ser delegada. A partir dessa ação, reconheceu-se a incidência do regime jurídico- administrativo aos Conselhos Profissionais e às regras dele derivadas, como observância do concurso público e submissão ao controle externo pelo TCU. Nesse sentido, o MS 28.469, Rel. Min. Luiz Fux, , Primeira Turma, DJe de 31/7/2015; MS 26.424, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 20/3/2013; RE 539.224, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Dje de 15/6/2012. Você se lembra também que no julgamento da ADI 3026, o Supremo afastou o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil da observância das regras do concurso público e da fiscalização do TCU, considerando essa entidade como "instituição sui generis", exercendo função constitucionalmente privilegiada, qual seja a representação dos profissionais indispensáveis à administração da Justiça, além da defesa da cidadania e da sociedade civil (ADI 3.026, rel. Min. Eros Grau, DJ 29/9/2006). Agora, parece dar Supremo uma guinada, e mesmo reconhecendo a incidência de normas de direito público sobre os Conselhos de Fiscalização em geral, autarquias corporativas criadas por lei para o exercício de atividade típica de Estado, assenta que possuem maior grau de autonomia administrativa e financeira do que aquele conferido às autarquias comuns. Nesse overruling, o STF afasta algumas regras de direito público, em virtude de sua natureza sui generis. Nesse sentido, o Supremo agora assentou que (ADI 5.367). O julgamento foi suspenso para aguardar o voto do Ministro Dias Toffoli, mas a maioria já está formada: i) a desvinculação de seus recursos financeiros do orçamento público e a desnecessidade de lei para criação de cargos permite concluir que os conselhos configuram uma espécie sui generis de pessoa jurídica de Direito Público não estatal; ii) O regime jurídico único previsto pelo art. 39, caput, da CF, que compele a adoção do regime estatutário à Administração Direta, autárquica e fundacional, não se aplica aos Conselhos Profissionais; iii) não há exigência de lei em sentido formal para criação de cargos e fixação da remuneração, característica da própria independência desses entes; iv) os recursos dessas entidades provêm de contribuições parafiscais pagas pelas respectivas categorias e, não havendo a destinação de recursos orçamentários da União, suas despesas não são fixadas pela lei orçamentária anual; v) é válida a opção do legislador (Lei Federal 9.649/199, art. 58, § 3º), no sentido da formação dos quadros dos Conselhos Profissionais com pessoas admitidas por vínculo celetista. Segundo o STF, "a natureza peculiar dos Conselhos Profissionais, autarquias corporativas criadas por lei para o exercício de atividade típica do Estado, mas com maior grau de autonomia administrativa e financeira que o conferido às autarquias comuns, possibilita o afastamento de algumas regras impostas ao Poder Público em geral. (...) a autonomia na escolha de seus dirigentes, o exercício de funções de representação de interesses profissionais (além da fiscalização), a desvinculação de seus recursos financeiros do orçamento público e a desnecessidade de lei para criação de cargos permite concluir que os conselhos configuram uma espécie sui generis de pessoa jurídica de Direito Público não estatal. (...) Os recursos dessas entidades são provenientes de contribuições parafiscais pagas pela respectiva categoria. Não são destinados recursos orçamentários da União, suas despesas, como disse, não são fixadas pela lei orçamentária anual (ADI 5.367, red. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes, julg. em 8/6/2020) Art. 37.......... ...... III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período; IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; Antes de continuar, quero deixar com você um entendimento acerca dos editais de concursos públicos. Entende o Supremo que administração pode alterar as condições constantes do edital, enquanto não homologado o mesmo o mesmo. Por exemplo, saindo uma nova Emenda Constitucional enquanto abertas as inscrições, pode ser lançado um novo edital cobrando esse novo conhecimento. Entretanto, preste atenção! A Administração não pode, apenas via edital, prever exigências ou pré-requisitos para o preenchimento do cargo que não estejam previstas em lei! Por exemplo, cargos exclusivos para servidores do sexo feminino ou masculino (presídios femininos) ou teste psicotécnico (famoso teste “psicodoido”), limitações de idade, sexo ou altura, assim como exigência de determinados cursos superiores para este ou aquele cargo são requisitos que somente a lei de criação e regramento do cargo podem prever. Jamais podem ser incluídos somente no edital. Súmula Vinculante 44/STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público Também o verbete 683 da Súmula de Jurisprudência predominante do do Supremo Tribunal Federal estabelece a possibilidade de limite de idade para inscriçãoem concurso público, desde que justificada pela natureza das atribuições do cargo: Súmula 683/STF: O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido. Entretanto, essas características do cargo deverão ser estabelecidas por lei, nunca unicamente pelo edital ou outro ato administrativo. É isso também o que preconiza o verbete 14 da Súmula do Supremo: Súmula 14/STF: Não é admissível, por ato administrativo, restringir, em razão da idade, inscrição em concurso para cargo público. Segundo sólida jurisprudência do STF, "o exame psicotécnico, especialmente quando possuir natureza eliminatória, deve revestir-se de rigor científico, submetendo-se, em sua realização, à observância de critérios técnicos que propiciem base objetiva destinada a viabilizar o controle jurisdicional da legalidade, da correção e da razoabilidade dos parâmetros norteadores da formulação e das conclusões resultantes dos testes psicológicos, sob pena de frustrar -se, de modo ilegítimo, o exercício, pelo candidato, da garantia de acesso ao Poder Judiciário, na hipótese de lesão a direito (dentre outros, AI 625.617 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 19.6.2007). É dizer, pode haver apreciação judicial em procedimento de avaliação psicológica em etapa eliminatória de concurso público. Além disso, o STF já firmou a orientação de que o requisito etário deve ser comprovado na data da inscrição no certame, e não em momento posterior (dentre outros, ARE 901.899 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julg. 15.12.2015). Ainda segundo o STF, as etapas do concurso prescindem de disposição expressa em lei no sentido formal e material, sendo suficientes a previsão no edital e o nexo de causalidade consideradas as atribuições do cargo (MS 30.177, rel. Min. Marco Aurélio, julg. 24.4.2012). Também segundo o STF, a apresentação de documentos que comprovem a habilitação para o cargo concorrido pode se dar inclusive após a nomeação e antes da posse (RE 613.376 ED, rel. min. Gilmar Mendes, j. 13.12.2011). E mais esta: o STF deu provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 898.450, em 17/8/2016, com repercussão geral reconhecida, no qual um candidato a soldado da Polícia Militar de São Paulo foi eliminado por ter tatuagem na perna. Assentou a seguinte tese de repercussão geral: " Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais, em razão de conteúdo que viole valores constitucionais”. O Relator do Extraordinário, Ministro Luiz Fux, observou que a criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos públicos afronta os princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade. Remontou a entendimento consolidado na Corte de que qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício das funções como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções específicas. Ainda para o Relator, a tatuagem passou a representar autêntica forma de liberdade de manifestação do indivíduo, pela qual não pode ser punido, sob pena de flagrante violação também a esse direito (art. 5º, IV, CF/88). Outra jurisprudência do STF (RE 789.874/DF, Rel. Teori Zavaski, 17/9/2014), assentou também o entendimento de que os Serviços Sociais Autônomos (Sistema S), por possuírem natureza jurídica de direito privado e não integrarem a Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse público em cooperação com o ente estatal, não estão sujeitos à observância da regra de concurso público (CF, art. 37, II) para contratação de seu pessoal. O STF considerou, entretanto, que a autonomia conferida a essas entidades (Senac, Sest, Sescoop, Senai etc), patrocinadas por recursos recolhidos do setor produtivo beneficiado, encontra limites no controle finalístico do TCU quanto à aplicação dos recursos, bem como auditorias a cargo de Ministérios afins e aprovação de eventuais recursos orçamentários pelo Poder Executivo. Bom, ainda sobre concurso público, temos o prazo de validade máximo de 2 anos, prorrogável por igual período (dois anos, neste caso). Isso quer dizer, por exemplo, que um concurso com validade de 6 meses não poderá ser prorrogado por período maior que o original. O mesmo vale para um concurso com validade original de 1 ou 2 anos. Estabelece o inciso IV do art. 37 que durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira. O STF assentou ainda que a prova de títulos em concursos públicos somente possui natureza classificatória, jamais eliminatória. Segundo o Supremo, eventual caráter eliminatório da prova de títulos ofende a isonomia, porquanto exige maior pontuação de candidatos mais jovens, os quais sequer viveram o suficiente para se qualificar, lesionando o princípio da igualdade (AI nº 194188 AgR; MC-MS 32.074/DF). Outro tópico que merece atenção na sua prova é que cada vez mais os editais dos concursos públicos estipulem critérios que restringem o número de candidatos de uma fase para outra dos certames. As regras editalícias que impedem o candidato de prosseguir no certame, denominadas regras restritivas, subdividem-se em eliminatórias e cláusulas de barreira. As regras eliminatórias preveem, por exemplo, a exclusão dos candidatos que não acertarem, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) das questões objetivas de cada matéria. Outro exemplo são os testes de prova escrita, provas orais, aptidão física ou testes psicotécnicos. É comum que se conjugue outra regra que restringe o número de candidatos para a fase seguinte do concurso. São as denominadas cláusulas de barreira que não eliminam por insuficiência de desempenho mas por um corte deliberado no número de candidatos que passam para a fase posterior. Por exemplo, a banca determina que só irá corrigir 200 ou 150 redações, em fase posterior do certame, de acordo com a classificação da prova objetiva e discursiva. Segundo o Supremo Tribunal Federal, as regras restritivas em editais de concurso público, como as eliminatórias e as cláusulas de barreira, quando fundadas em critérios objetivos relacionados ao desempenho meritório do candidato, concretizam o princípio da igualdade e da impessoalidade no âmbito do concurso público. O denominado ‘afunilamento’ de candidatos no decorrer das fases do concurso viabiliza a investidura em cargo público com aprovação em concurso de provas ou de provas e títulos, obedecendo aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (RE 635.739, voto do rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 19-2-2014, Plenário). Segundo também o Supremo Tribunal Federal, os serviços sociais autônomos, embora colaborem com ela na execução de atividades de relevante significado social, não integram a Administração Pública, sendo consideradas entidades paraestatais. Nesse sentido, estão sujeitas formalmente, apenas ao controle finalístico do Tribunal de Contas da União, da aplicação de eventuais recursos federais recebidos e de suas contribuições parafiscais, devendo ainda prestar obediência aos princípios gerais de licitação (não à Lei 8.666/1993 estritamente). O STF assentou que essas entidades não estão submetidas à exigência de concurso público para a contratação de pessoal, nos moldes do art. 37, II, da CF. (RE 789.874, rel. min. Teori Zavascki, julgamento em 17-9-2014, Plenário). O STJ e o STF, durante muito tempo, instados a se manifestarem sobre o tema, não haviam fechado questãoquanto ao chamado direito subjetivo à convocação para nomeação de aprovado em concurso público dentro do número de vagas. Muitas decisões divergentes, não obstante grande parte delas em favor dos concursados aprovados. Entretanto, essa discussão acabou por perder em relevância, a partir do momento em que os órgãos e entidades começaram a realizar concursos para preenchimento de cadastros de reserva. Foi uma maneira que muitos órgãos encontraram de não se verem com problemas judiciais de candidatos que exigem a convocação, dentro do prazo de validade do concurso! Mas o STJ não entrou nessa... De acordo com decisões do STJ de 2013 ( RMS 38117 e RMS 37882), a aprovação de candidato em concurso público dentro do cadastro de reservas, ainda que fora do número de vagas inicialmente previstas no edital, garante o direito subjetivo à nomeação se houver o surgimento de novas vagas, dentro do prazo de validade do concurso. Para os Ministros, o gestor público não pode alegar não ter direito líquido e certo a nomeação o concursando aprovado e classificado dentro do chamado cadastro de reserva, se as vagas decorrentes da criação legal de cargos novos ou vacância ocorrerem no prazo do concurso ao qual se habilitou e foi aprovado. A exceção a esta regra poderá ocorrer se for alcançado o limite prudencial de despesas de pessoal, conforme prevê a Lei de Responsabilidade Fiscal. O STJ também já tinha firmado o entendimento de que candidato aprovado em primeiro lugar tem direito à nomeação, ainda que o edital do concurso não tivesse fixado número de vagas ( RMS 33.426): "ADMINISTRATIVO. CONCURSO PARA O QUADRO DE CARREIRA DO MAGISTÉRIOPÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. CANDIDATA APROVADA EMPRIMEIRO LUGAR. DIREITO À NOMEAÇÃO. CONTROVÉRSIA DECIDIDA PELO STFNO JULGAMENTO DO RE 598.099/MS. AGRAVO IMPROVIDO, ACOMPANHANDO O RELATOR". (STJ - AgRg no RMS: 33426 RS 2010/0217695-0, Relator: Ministro Teori Zavascki, julgamento em 23/8/2011) No âmbito do Supremo Tribunal Federal, o leading case, ou seja, o que conduz o entendimento do direito subjetivo à nomeação dentro do número de vagas é justamente o RE 598.099/MS: "Dentro do prazo de validade do concurso, a Administração poderá escolher o momento no qual se realizará a nomeação, mas não poderá dispor sobre a própria nomeação, a qual, de acordo com o edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e, dessa forma, um dever imposto ao poder público. Uma vez publicado o edital do concurso com número específico de vagas, o ato da Administração que declara os candidatos aprovados no certame cria um dever de nomeação para a própria Administração e, portanto, um direito à nomeação titularizado pelo candidato aprovado dentro desse número de vagas." ( RE 598.099, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento em 10.8.2011, DJe de 3/10/2011, c/ repercussão geral - tema 161). É importante ainda anotar que a antiga jurisprudência do Supremo, sumulada no Enunciado de Súmula 15/1963, permanece válida, ao admitir a existência do direito adquirido à nomeação do candidato preterido em razão de desrespeito à ordem de classificação dos candidatos aprovados: Súmula 15/STF: Dentro do prazo de validade do concurso, o candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando o cargo for preenchido sem observância da classificação. Essa regra antiga coexiste perfeitamente com a novel jurisprudência da mesma Corte Suprema segundo a qual está assegurado o direito subjetivo à nomeação dos candidatos aprovados dentro do número de vagas prevista no edital do concurso. Isso porque, haja ou não especificação do número de vagas no edital, e tenham ou não as nomeações ocorrido dentro do número de vagas eventualmente previstas, aplica-se o entendimento da Súmula 15, caso haja preterição da ordem de classificação do candidato. Por exemplo, se você foi aprovado no concurso de Auditor de Controle Externo do TCU em 30º lugar, tendo o edital previsto a existência de 25 vagas, e o Tribunal convoca para nomeação, dentro do prazo de validade do certame, o 38º colocado, você adquire direito líquido e certo à nomeação, por ter sido preterido pelo candidato "pulão". Outra jurisprudência do Supremo e que você deve memorizar: Configura preterição do direito de nomeação a nomeação ou mesmo a contratação de pessoal a título precário (temporário), na forma de cargo em comissão de livre nomeação e exoneração, temporários ou funcionários terceirizados, mesmo que não haja previsão específica de vagas no edital do concurso. Havendo vagas e candidatos aprovados no prazo de validade do certame, o exercício precário de atribuições próprias do servidor efetivo faz nascer para o candidato aprovado o direito subjetivo à nomeação ( dentre outros julgados, o ARE 853.712/RJ, 5/12/2014; ARE 759.580 RS, 11/9/2013 ). Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o servidor não faz jus à indenização , sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante ( RE 724.347/DF. Red. Min. Roberto Barroso, 26/2/2015) . Esse é o caso de candidatos aprovados dentro do número de vagas, na primeira fase do concurso, e que somente participaram da segunda fase e foram nomeados e empossados em cargos públicos por força de decisão transitada em julgado, e que pleiteiam indenização por danos materiais em decorrência da demora na nomeação determinada judicialmente. O Supremo não se arriscou a definir a partir de que momento a nomeação de candidato aprovado fora do número de vagas deixa de constituir opção administrativa e se transforma em direito subjetivo, ainda que o surgimento de novas vagas, exceto quando tais candidatos forem preteridos na ordem de classificação. O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo candidato. Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas seguintes hipóteses: 1 - Quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital; 2 - Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; 3 - Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos acima. (RE 837.311/PI, rel. Min. Luiz Fux, julg. 9/12/2015). Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas seguintes hipóteses: a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas previsto no edital; b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação, dentro do prazo de validade do concurso; e c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos acima. O STF reassentou o entendimento de que os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não podem ser revistos pelo Poder Judiciário. O STF afirmou não competir ao Poder Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os critérios de correção utilizados, salvo ocorrência de ilegalidade e inconstitucionalidade.Nesse sentido, seria exigível apenas que a banca examinadora dê tratamento igual a todos os candidatos, ou seja, que aplicasse a eles, indistintamente, a mesma orientação ( RE 632.853/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 23.4.2015). Divergir dessa orientação seria adentrar no mérito do ato administrativo e substituir a banca examinadora para renovar a correção de questões de concurso público, a violar o princípio da separação de Poderes e a reserva de Administração. Caberia ao Judiciário, quando muito, apenas verificar se as questões formuladas estariam no programa do certame, dado que o edital seria a lei do concurso. Quanto ao sistema de cotas raciais, o STF entende que é constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta e é legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação: "É constitucional a Lei 12.990/2014, que reserva a pessoas negras 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal direta e indireta, por três fundamentos (...) É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação (e.g., a exigência de autodeclaração presencial perante a comissão do concurso), desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa". (ADC 41 rel. min. Roberto Barroso, j. 8/6/2017) O que é certo, e que você deve guardar pra a prova, é que, havendo um concurso público, com validade de, por exemplo, 1 ano, e não tendo sido chamados todos os candidatos, a Administração lança novo edital dentro do prazo do concurso anterior (até aí nenhum problema) e convoca novos candidatos antes daqueles já aprovados no concurso anterior, pode entrar com mandado de segurança porque seu direito é líquido e certo! Para chamar os candidatos aprovados no novo certame, a Administração deverá convocar primeiro, necessariamente, os concurseiros aprovados anteriormente dentro do número de vagas, sob pena de violação do princípio da ordem de aprovação prevista no inciso IV do art. 37. Essa jurisprudência é assente. Assim, caro concurseiro, mesmo que a banca examinadora entre em contradição ao adotar certa linha doutrinária no edital, mas não o fazê-lo quanto à solução das questões impugnadas, ou não responder ou justificar a negativa de recurso que você interpôs contra a banca, não adianta chorar no mandado de segurança, ao menos enquanto a posição do STF for essa... Investigado x presunção de inocência Em mudança de postura do STF, o princípio da presunção de inocência impede a proibição de investigados que ainda não foram condenados de participar de concursos públicos. Seguindo o voto do Relator, Min. Roberto Barroso, o Tribuna entendeu que a mera existência de processo penal em curso, não autoriza a eliminação de candidato em concurso público, externo ou interno, para promoção, mesmo que em carreiras da magistratura, funções essenciais à Justiça e da segurança pública: "Como regra geral, a simples existência de inquéritos ou processos penais em curso não autoriza a eliminação de candidatos em concursos públicos, o que pressupõe: (i) condenação por órgão colegiado ou definitiva; e (ii) relação de incompatibilidade entre a natureza do crime em questão e as atribuições do cargo concretamente pretendido, a ser demonstrada de forma motivada por decisão da autoridade competente. 2. A lei pode instituir requisitos mais rigorosos para determinados cargos, em razão da relevância das atribuições envolvidas, como é o caso, por exemplo, das carreiras da magistratura, das funções essenciais à justiça e da segurança pública (CRFB/1988, art. 144), sendo vedada, em qualquer caso, a valoração negativa de simples processo em andamento, salvo situações excepcionalíssimas e de indiscutível gravidade" (RE 560.900, rel. Min. Roberto Barroso, julg. em 5/2/2020) O Supremo Tribunal Federal possui precedentes firmando entendimento de que a exigência de experiência profissional prevista apenas em edital, sem estar prevista e justificada em lei, em razão das características do cargo a ser exercido, importa em ofensa constitucional,, não se justificando em nome do princípio da eficiência: "3. Ressalte-se que a regra geral é o acesso de todos aos cargos ou empregos públicos, salvo limitações decorrentes de lei. Essas ressalvas podem ocorrer, por exemplo, em razão da idade, da altura, da colação de grau em nível superior ou mesmo do tempo de prática profissional. Entretanto, elas só são legítimas se forem fixadas, de forma razoável, para atender às exigências das funções do cargo a ser preenchido. O referido edital não poderia estabelecer, portanto, exigência além da escolaridade mínima, de período de experiência em atividades correlatas com as funções a serem desenvolvidas no exercício dos cargos administrativos a serem providos, sendo ilegítima tal exigência" (RE 558.833 AgR, rel. min. Ellen Gracie, julgamento 8/9/2009) No julgamento do RE 560.900 o STF decidiu ainda: a) É inconstitucional exclusão de candidato de concurso público que esteja respondendo a processo criminal; b) a exclusão do candidato apenas em razão da tramitação de processo penal contraria o entendimento do STF sobre a presunção de inocência c) A decisão se deu em sede de concurso interno de promoção para progressão na carreira militar; O inciso V do art. 37 trata do exercício das funções de confiança e dos cargos em comissão: Art. 37............ .... V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; Ou seja, as funções de confiança, assim determinadas em lei, só serão exercidas por servidores públicos de cargo efetivo, concursados. Já os cargos em comissão poderão ser preenchidos por servidores não concursados, nos limites mínimos estabelecidos em lei. Apesar de a Constituição exigir lei, no Poder Executivo Federal, essa regulamentação foi dada pelo Decreto 5.497/2005, com as alterações do Decreto 9.021/2017, e o qual disciplina o preenchimento dos cargos em comissão por servidores efetivos, (DAS 1 a DAS 6), com os respectivos percentuais para cada Nível de Assessoramento. No âmbito do Ministério Público da União, foi editada a Lei 11.415/2006, que em seu art. 4º, determina que em cada ramo do Ministério Público, no mínimo 50% dos cargos em comissão devem ser destinados aos integrantes da carreira do MPU. No âmbito do Poder Judiciário Federal, a Lei 11.416/2006, em seu art. 5º, § 7º, determina que pelo menos 50% dos cargos em comissão, a que se refere o caput deste artigo, no âmbito de cada órgão do Poder Judiciário, serão destinados a servidores efetivos integrantes de seu quadro de pessoal, na forma prevista em regulamento, que no caso é a Portaria Conjunta do STF, CNJ e Tribunais Superiores nº 3/2007. Isso nos leva a crer que a norma emanada do Poder Competente nem sempre será “lei” em sentido formal, e diz respeito ao princípio da legalidade e não ao da reserva legal ou da estrita reserva legal. Ou seja, a regra pode ser definida em norma regulamentadora, como decreto, portaria etc. Isso apesar de o Supremo Tribunal Federal ter assentado que a norma do inciso V do art. 37 deve ser disciplinada em lei ordinária: "Cargos em comissão a serem preenchidos por servidores efetivos. A norma inscrita no art. 37, V, da Carta da República é de eficácia contida, pendente de regulamentaçãopor lei ordinária" ( RMS 24.287, rel. min. Maurício Corrêa, julg. 26/11/2002, 2ª Turma). Entretanto, jamais foi arguida a inconstitucionalidade do Decreto 5.497/2005, no âmbito do Poder Executivo Federal, que permanece vigente e válido há quase duas décadas! Em resumo: Funções de Confiança ⇒ Exclusivas para servidores efetivos Cargos em Comissão ⇒ Para servidores de carreira (efetivos) nos percentuais mínimos definidos em lei Por exemplo, no Poder Judiciário Federal, 80% dos cargos em comissão devem ser exercidos por servidores efetivos; no Poder Executivo Federal, para cada DAS – Designação de Assessoramento Superior, há um percentual definido em Decreto, e assim por diante. E por quê essa regra foi estabelecida na Constituição? Isso ocorreu porque os cargos comissionados têm sido utilizados como prática patrimonialista de favorecimento político, com a concessão de cargos a aliados e parentes (nepotismo) em troca de apoio político. O nepotismo é prática que afronta os Princípios da impessoalidade e da moralidade, previstos no caput do art. 37. Não por outro motivo, o STF editou o Enunciado de Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. Interessante posicionamento do Supremo diz respeito à nomeação de parente para cargo de agente político, que segundo o STF é perfeitamente lícita. É o caso dos secretários de estado indicados pelo governador, secretário de município indicado pelo prefeito e dos Ministros de Estado indicados pelo Presidente da República. Também de acordo com o STF, os cargos em comissão, de livre nomeação e exoneração, não poderão ser criados para o exercício de atividades técnicas, burocráticas ou típicas da Administração. Para o Supremo Tribunal Federal, nas hipóteses em que ocorre criação de cargos em comissão, para o desempenho de atividades técnica, em que inexiste o necessário requisito da confiança para sua nomeação, tem entendido a jurisprudência ser possível a interferência judicial, para sanar uma situação de ilegalidade, verificada pela edição de uma tal legislação. Segundo o Supremo, é inegavelmente inconstitucional diploma legal que cria cargos em comissão para funções que não pressupõem a necessária relação de confiança entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado, impondo que seu preenchimento deva recair sobre determinada classe de servidores, por violação expressa às normas do artigo 37, incisos I, II e V, da Constituição Federal (ADI 4.125/TO, Rel. Min. Cármen Lúcia, RE 470.928/RS, Rel. Min. Dias Tóffoli): Art. 37........... I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; .......... V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; Livre associação sindical Ao servidor público é assegurado o direito à livre associação sindical (art. 37, VI, CF). Quanto a esta garantia, o Supremo assentou que o exercício de função executiva por servidor público em instituição sindical não se confunde com o exercício de mandato eletivo, previsto no art. 38 da CF. Firmou a possibilidade de norma constitucional estadual assegurar aos servidores públicos estaduais dirigentes sindicais o afastamento do exercício do cargo, sem prejuízo da remuneração e das vantagens inerentes ao cargo público (ADI 510, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 11-6-2014, Plenário, DJE de 3/10/2014). O STF decidiu ainda ser inconstitucional a vedação de desconto de contribuição sindical, previsto no art. 8º, IV, c/c o art. 37, VI, da Constituição, bem como a exclusão do regime da contribuição legal compulsória exigível dos membros da categoria. (ADI 1.416, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 10-10-2002, Plenário; ADIn 962, 11/11/1993). Direito de Greve do Servidor Não podemos deixar de comentar o inciso VII do art. 37, que dispõe sobre o direito de greve do servidor público. Durante muito tempo, esse dispositivo, de eficácia limitada, careceu de regulamentação por absoluta inércia do Poder Executivo em apresentar projeto de lei sobre o assunto. Art. 37................ VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica; Pois bem, por três vezes o STF foi instado a se manifestar em sede de mandado de injunção coletivo (MI 670, 708 e 712) para que obrigasse o Executivo a apresentar o PL sobre o assunto, declarando em mora o poder competente. Tradicionalmente, ao julgar um mandado de injunção, o STF apenas declarava a mora legislativa em editar lei que regulamentasse determinado direito. Essa posição era classificada como não concretista e tinha pouca efetividade para o impetrante do Mandado de Injunção, pois a norma constitucional permanecia não regulamentada e o exercício do seu direito obstado. Então o que acontecia? O Supremo declarava o órgão faltoso em mora e aguardava que o próprio órgão editasse a norma faltante. Então, a nova Lei do Mandado de Injunção trouxe algumas inovações: A posição concretista individual intermediária manifesta-se quando o STF determina a edição da norma faltante, estabelecendo prazo para a feitura da lei. É o que determina inclusive o art. 8º, I, da Lei 13.300/2016: Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para: I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora; ..... Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma. A posição concretista geral direta decorre de decisão que formata diretamente a norma ou indica a norma a ser aplicada à situação. Nesse sentido, por exemplo, o STF adotou essa posição, em sede de três mandados de injunção coletivo (MI 670, 708 e 712), e ao invés de simplesmente declarar a demora do legislador, atribuiu, nos casos concretos, a eficácia da lei de greve do setor privado para os servidores públicos, hipótese em que se aplica aos servidores públicos de todo o país a Lei nº 7.783/89: "6.1. Aplicabilidade aos servidores públicos civis da Lei no 7.783/1989, sem prejuízo de que, diante do caso concreto e mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja facultado ao juízo competente a fixação de regime de greve mais severo, em razão de tratarem de "serviços ou atividades essenciais" (Lei no 7.783/1989, arts. 9o a 11). 6.2. Nessa extensão do deferimento do mandado de injunção, aplicação da Lei no 7.701/1988, no que tange à competência para apreciar e julgar eventuais conflitos judiciais referentes à grevede servidores públicos que sejam suscitados até o momento de colmatação legislativa específica da lacuna ora declarada, nos termos do inciso VII do art. 37 da CF" (MI 670 ES, relator Min. Maurício Corrêa, julg. 25/10/2007). O art. 8º, inciso II, da Lei 13.300/2016 também admite a adoção da teoria geral concretista, no caso de o legislador ou gestor não tomar as providências no prazo determinado, a injunção será deferida para que o direito seja exercido nas condições deferidas pelo Tribunal, até a edição da norma definitiva: Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para: ...... II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado. Portanto, desde 2007, no julgamento definitivo dos referidos mandados de injunção, o STF assegurou o direito do exercício de greve dos servidores, com base na Lei da iniciativa privada, até que seja editada a lei exigida pelo constituinte. Quanto à possibilidade de desconto nos vencimentos dos servidores dos dias paralisados, durante a greve, o Supremo Tribunal Federal firmou a seguinte tese de repercussão geral, no julgamento do RE 693.456, rel. Min. Dias Toffoli, julg. 27/10/2016: "A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público". Reserva de vagas para portadores de deficiência Estabelece o inciso VIII do art. 37 da Constituição: Art. 37........ VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; A Lei nº 8.112/90 assegura às pessoas portadoras de deficiência o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo público federal cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são, no percentual de no máximo 20% das vagas oferecidas no concurso. Esse dispositivo foi inicialmente regulamentado pelo Decreto nº 3.298/1999, e posteriormente pelo Decreto 9.508/2018, que reserva às pessoas com deficiência percentual de 5% de cargos e empregos públicos ofertados em concursos públicos e em processos seletivos no âmbito da administração pública federal direta e indireta: Art. 1º Fica assegurado à pessoa com deficiência o direito de se inscrever, no âmbito da administração pública federal direta e indireta e em igualdade de oportunidade com os demais candidatos, nas seguintes seleções: I - em concurso público para o provimento de cargos efetivos e de empregos públicos; e II - em processos seletivos para a contratação por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público, de que trata a Lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993 . § 1º Ficam reservadas às pessoas com deficiência, no mínimo, cinco por cento das vagas oferecidas para o provimento de cargos efetivos e para a contratação por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público, no âmbito da administração pública federal direta e indireta. § 2º Ficam reservadas às pessoas com deficiência os percentuais de cargos de que trata o art. 93 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 , às empresas públicas e às sociedades de economia mista. § 3º Na hipótese de o quantitativo a que se referem os § 1º e § 2º resultar em número fracionado, este será aumentado para o primeiro número inteiro subsequente. Perceba que o Decreto estabelece que em caso de número fracionado, este é arredondado para cima. Mas quanto ao limite máximo (20%), o Supremo tinha jurisprudência no sentido de também se arredondar para cima o número de vagas, ainda que se extrapolasse o limite de 20%. Mas a orientação predominante hoje é outra. Pela possibilidade de arredondamento acima dos limites: "A exigência constitucional de reserva de vagas para portadores de deficiência em concurso público se impõe ainda que o percentual legalmente previsto seja inferior a um, hipótese em que a fração deve ser arredondada. Entendimento que garante a eficácia do art. 37, VIII, da CF, que, caso contrário, restaria violado". (RE 227.299, rel. min. Ilmar Galvão, j. 14-6-2000, Pleno) Pela impossibilidade de arredondamento acima dos limites: "É certo que esta Corte, no julgamento do RE nº 227.299/MG, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Ilmar Galvão, DJ de 6/10/2000, entendeu, à época, que, independentemente do número de vagas oferecidas, a fração resultante do percentual mínimo destinado aos deficientes físicos deveria ser arredondada para o primeiro número inteiro subsequente. Este Supremo Tribunal Federal, entretanto, na sessão Plenária de 20/9/07, modificou seu entendimento sobre a matéria, ao apreciar o MS nº 26.310/DF, Relator o Ministro Marco Aurélio, publicado no DJe de 31/10/07, no qual fixou entendimento no sentido de que a reserva de vagas para portadores de deficiência física deve-se ater aos limites da lei, na medida da viabilidade das vagas oferecidas, reconhecendo a impossibilidade de arredondamento no caso de majoração das porcentagens mínima e máxima previstas (RE: 1.089.393/SE, Relator Min. Dias Toffoli, Julgamento 7/11/2017) "Agravo regimental no recurso extraordinário. Concurso público. Reserva de vagas para portadores de deficiência. Arredondamento do coeficiente fracionário para o primeiro número inteiro subsequente. Impossibilidade. Precedentes. 1. A jurisprudência desta Corte fixou entendimento no sentido de que a reserva de vagas para portadores de deficiência deve ater-se aos limites da lei, na medida da viabilidade das vagas oferecidas, não sendo possível seu arredondamento no caso de majoração das porcentagens mínima e máxima previstas". (RE 440.988/DF, Relator: Min. Dias Toffoli, julgamento 28/2/2012) "O STF, buscando garantir razoabilidade à aplicação do disposto no Decreto 3.298/1999, entendeu que o referido diploma legal deve ser interpretado em conjunto com a Lei 8.112/1990. Assim, as frações mencionadas no art. 37, § 2º, do Decreto 3.298/1999 deverão ser arredondadas para o primeiro número subsequente, desde que respeitado o limite máximo de 20% das vagas oferecidas no certame". (RMS 27.710 AgR, rel. min. Dias Toffoli, j. 28/5/2015; MS 30.861/DF, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 8/6/12; MS 31.715/DF, Relatora a Ministra Rosa Weber, decisão monocrática, DJe de 4/9/2014) "4. Impossibilidade de arredondamento do coeficiente fracionário para o primeiro número inteiro subsequente. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. Cumpre ressaltar, por necessário, que esse entendimento vem sendo observado em sucessivos julgamentos, proferidos no âmbito desta Corte, a propósito de questão essencialmente idêntica à que ora se examina nesta sede recursal. (RE 613.151/DF, relator Min. Celso de Mello, julgamento: 03/08/2015) Ainda nessa seara, depois de idas e vindas jurisprudenciais, o Superior Tribunal de Justiça alterou anterior posicionamento para considerar que o candidato portador de surdez unilateral não deve concorrer em concurso público nas vagas destinadas a portadores de deficiência (MS 18.966/DF, rel. Min. Castro Meira, rel. p/ Acórdão Min. Humberto Martins, julg. 2/10/2013), seguindo posicionamento do Supremo Tribunal Federal, no MS 29.210/AgR/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julg. 21/6/2011, que assentou: "a perda auditiva unilateral não é condiçãoapta a qualificar o candidato a concorrer às vagas destinadas aos portadores de deficiência". Já quanto à visão monocular, o STJ em seu Enunciado 377, considera que “o portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes.” Essa posição é corroborada pelo STF: "Concurso público. Candidato portador de deficiência visual. Ambliopia. Reserva de vaga. O candidato com visão monocular padece de deficiência que impede a comparação entre os dois olhos para saber-se qual deles é o "melhor". A visão univalente – comprometedora das noções de profundidade e distância – implica limitação superior à deficiência parcial que afete os dois olhos". (RMS 26.071, rel. min. Carlos Ayres Britto, julg. 13/11/2007). Portanto, consoante posição do STF e do STJ, os portadores de surdez unilateral não podem concorrer às vagas destinadas a portadores de deficiência. Já os portadores de visão monocular, nos termos da Súmula 377/STJ e da jurisprudência do STF, poderão concorrer a essas vagas. Por que essa diferença Jean? Com base nos critérios técnicos e médicos aplicáveis, o Decreto 3.298/99, que regulamentou a Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, estabeleceu em seu art. 4º, II e III, os critérios para deficiência auditiva e visual, exigindo a perda bilateral apenas para caracterizar a deficiência auditiva: Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: ............ II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; Segundo o STJ, o candidato que não se declara portador de necessidades especiais no ato da inscrição não pode, após a divulgação do resultado final do certame, ser incluído na lista especial em virtude de debilidade residual permanente,supervenientemente atestada em laudo técnico, oriundo de fato ocorrido antes do edital (EDCL-RMS 29.625/DF, rel. Min. Maria Thereza Moura, julg. 20/9/2011). Também segundo o Superior Tribunal de Justiça, a "reserva de percentual de cargo para as pessoas portadoras de deficiência física, nos termos do art. 37, VIII, da CF, não afasta a exigência de aprovação em etapa do concurso público em que se avalia a capacitação física do candidato, indispensável para o desempenho do cargo" (ROMS 10.481/DF, Rel. Min. Felix Fischer, DJU 16/8/1999). Contratação temporária no serviço público Estabelece o art. 37, IX, da Constituição Federal: Art. 37...... IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público; O Supremo Tribunal Federal assentou os seguintes requisitos para a validade da contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (ADI 2.229, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 25/6/2004): a) previsão em lei dos cargos; b) tempo determinado; c) necessidade temporária de interesse público; d) interesse público excepcional. Em 2014, a questão foi reexaminada pelo Pleno do STF em processo submetido à sistemática da repercussão geral, ocasião na qual foi assentada a tese de que: "(…) para que se considere válida a contratação temporária, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a necessidade de contratação seja indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências normais da Administração" (RE 658.026, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 31/10/2014, Tema 612). Remuneração e subsídio dos servidores Questão que sempre dá azo a discussões e polêmicas, por envolver os interesses de diversas categorias de servidores e agentes públicos. O assunto é disciplinado basicamente nos incisos X a XV do art. 37, os quais vamos estudar agora. Nos termos do inciso X a remuneração e o subsídio dos servidores somente podem ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada a revisão geral anual, na mesma data e sem distinção de índices. Essa regra foi introduzida pela Emenda Constitucional 19/1998, evitando que aumentos de remuneração fossem dados por simples ato de cada Poder, como acontecia com a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, que fixavam, por Resolução, a remuneração de seus servidores. A esse respeito, o Supremo decidiu, em sede de repercussão geral, que esse direito não implica necessariamente a concessão de reajuste no valor: "2. O art. 37, X, da CF/1988 não estabelece um dever específico de que a remuneração dos servidores seja objeto de aumentos anuais, menos ainda em percentual que corresponda, obrigatoriamente, à inflação apurada no período. Isso não significa, porém, que a norma constitucional não tenha eficácia. Ela impõe ao Chefe do Poder Executivo o dever de se pronunciar, anualmente e de forma fundamentada, sobre a conveniência e possibilidade de reajuste ao funcionalismo. 3. Recurso extraordinário a que se nega provimento, com a fixação da seguinte tese: “O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/1988, não gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder Executivo, no entanto, pronunciar-se de forma fundamentada acerca das razões pelas quais não propôs a revisão" (RE 565.089/SP, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julg. em 25/9/2019) Merece menção ainda o seguinte enunciado Súmula do STF: Súmula 679: a fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção coletiva. O entendimento prevalecente no Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o reajuste automático de vencimentos de servidores públicos, tomando- se como base a variação de indexadores de atualização monetária, como o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), desrespeita a autonomia dos Estados- membros e a vedação constitucional de vinculação, para efeito de remuneração de servidores públicos, nos termos dos arts. 25 e 37, XIII, da Constituição, respectivamente. Nesse sentido, o Supremo editou a Súmula Vinculante 42: Súmula Vinculante 42/STF: É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária Já os limites de remuneração no serviço público (teto) estão estabelecidos no inciso XI do art. 37; um inciso bastante longo e que vamos esquematizá-lo aqui pra facilitar o seu entendimento, com os limites gerais e por cada Poder nas diversas esferas da Federação: Subsídios Federal Estadual/DF Municipal Teto Máximo Geral de Ministro STF de Ministro do STF de Ministro do STF Poder Legislativo de Ministro do STF dos deputados estaduais/distritais do Prefeito Poder Executivo de Ministro do STF do Governador do Prefeito Poder Judiciário Tribunais Superiores ⇒ 95% do STF (art. 93, V)** de Desembargador do TJ ⇒ 90,25%do STF , também aplicado a membros do MP, Procuradores de Justiça e Defensoria Pública** Não há poder Judiciário ** Estes subtetos de remuneração foram suprimidos pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI-MC 3.854/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, julg. em 28/2/2007, que deu interpretação conforme ao inciso XI do artigo 37 da CF, e por arrastamento, ao art. 93, V, para excluir do subteto de 90,25% os magistrados e desembargadores estaduais de justiça e do subteto de 95% os magistrados dos Tribunais Superiores. Isso significa que os magistrados estaduais e desembargadores dos tribunais de justiça fazem jus ao mesmo limite dos juízes federais (95% do subsídio dos Ministros do STF), conforme o art. 93, V? Art. 93......... V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º; Então, por incrível que pareça, não. Entendeu o Supremo que o subteto estabelecido pelo constituinte originário estaria violando o princípio da isonomia, ao dar tratamento assimétrico aos magistrados federais e estaduais, que desempenham funções semelhantes e se submetem ao mesmo regramento constitucional e estatutário, motivo pelo qual às Emendas Constitucionais 41/2003 e 47/2005 foi dada interpretação conforme à Constituição, para submeter toda a magistratura nacional ao teto dos Ministros do Supremo Tribunal Federal: "MAGISTRATURA. Remuneração. Limite ou teto remuneratório constitucional. Fixação diferenciada para os membros da magistratura federal e estadual. Inadmissibilidade. Caráter nacional do Poder Judiciário. Distinção arbitrária. Ofensa à regra constitucional da igualdade ou isonomia. Interpretação conforme dada ao art. 37, inc. XI, e § 12, da CF. Aparência de inconstitucionalidade do art. 2º da Resolução nº 13/2006 e do art. 1º, § único, da Resolução nº 14/2006, ambas do Conselho Nacional de Justiça. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida. Vencido o Senhor Ministro Joaquim Barbosa, que indeferia a liminar, e parcialmente vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio, que a deferia em menor extensão, tão-somente para suspender a eficácia das resoluções do Conselho Nacional de Justiça. (ADI-MC 3.854/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, julg. em 28/2/2007) Portanto, também tiveram a eficácia suspensa o art. 2º da Resolução 13/2006, bem como do parágrafo único do art. 1º da Resolução 14/2007, ambas do Conselho Nacional de Justiça: Art. 2º Nos órgãos do Poder Judiciário dos Estados, o teto remuneratório constitucional é o valor do subsídio de Desembargador do Tribunal de Justiça, que não pode exceder a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do subsídio mensal de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Art. 1º O teto remuneratório para os servidores do Poder Judiciário da União, nos termos do inciso XI do art. 37 da Constituição Federal, é o subsídio de Ministro do Supremo Tribunal Federal e corresponde a R$ 24.500,00 (vinte e quatro mil e quinhentos reais). Parágrafo único. Enquanto não editadas as leis estaduais referidas no art. 93, inciso V, da Constituição Federal, o limite remuneratório dos magistrados e servidores dos Tribunais de Justiça corresponde a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do teto remuneratório constitucional referido no caput, nos termos do disposto no art. 8º da Emenda Constitucional nº 41/2003. Na prática, a decisão do STF tornou letra morta o inciso V do art. 93 da CF. Entretanto, o subteto de 90,25% continua valendo para os demais agente públicos mortais, ou seja, servidores do Judiciário estadual, membros do Ministério Público estadual, procuradores de justiça e defensores estaduais. Segue a redação do inciso XI do art. 37, que permanece incólume mesmo após a ADI-MC 3.854/DF, pois o STF deu interpretação conforme ao inciso: XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; Estabelece ainda o § 12 do art. 37 que: § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. A Emenda Constitucional 103/2019 (Pec da Previdência), acrescentou os seguintes parágrafos ao artigo 37: § 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de origem. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 15. É vedada a complementação de aposentadorias de servidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Quanto ao § 13, a Reforma instituiu que a readaptação de servidores que sofreram limitação em sua capacidade está condicionada à existência de habilitação e nível de escolaridade exigido para o novo cargo, mas com a remuneração do cargo de origem, mas apenas enquanto permanecer nessa condição. O § 14 determina que servidor ou empregado público aposentado com base em tempo de contribuição, inclusive pelo Regime Geral, tem seu vínculo originário, que gerou o tempo de contribuição, rompido, para quaisquer efeitosfuturos. O § 15 estabelece a vedação de complementação de aposentadorias de servidores e de pensões por morte a seus dependentes fora da hipóteses dos §§ 14 a 16 do art. 40 (Regime Complementar Público), ou que não esteja prevista em lei que extinguiu o regime próprio de Previdência: Art. 40....... .... § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime de previdência complementar para servidores públicos ocupantes de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias e das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribuição definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos § § 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previdência complementar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) Já o inciso XII estabelece que os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Executivo. Essa regra acaba por não ter muita eficácia prática, pois refere-se aos vencimentos básicos, não incluindo gratificações e outros adicionais que normalmente levam determinados cargos administrativos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário e terem uma remuneração total superior aos do Poder Executivo, dentre outras razões, pela quantidade menor de servidores, o que acaba facilitando a obtenção de condições mais vantajosas de remuneração e de planos de carreira. Agora dê uma olhada no § 9º do art. 37: § 9º O disposto no inciso XI (teto constitucional) aplica-se às empresas públicas e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral. Ele afirma que apenas as Empresas Estatais dependentes é que estarão sujeitas ao teto remuneratório constitucional. Banco do Brasil, Petrobrás e outras estatais que não recebam recursos do orçamento fiscal para pagamento de despesas correntes (pessoal e custeio), são autorizadas a oferecer salários a seus executivos similares à da iniciativa privada, se preciso, pois, dentre outras razões, competem em condição de igualdade com outras empresas do ramo no setor econômico em que atuam. O art. 173, § 1º, II, da Constituição Federal, que estabelece que os empregados públicos das empresas estatais, sejam elas dependentes ou não dependentes, e de suas subsidiárias, são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho e não pelo regime estatutário: Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; Nesse sentido, já assentou o Tribunal Superior do Trabalho: O artigo 173, § 1º, da Constituição da República é categórico ao dispor que a empresa pública e a sociedade de economia mista estão sujeitas ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributária (TST - E-RR: 5103035719985015555 510303-57.1998.5.01.5555, Relator: Milton de Moura França, Data de Julgamento: 22/11/2004) O Supremo Tribunal Federal confirmou que a EC nº 19/98 incluiu o § 9º ao art. 37 da Constituição Federal, com a finalidade de excluir do teto remuneratório os empregados das empresas estatais não dependentes (ADI 1.282/SP, rel. Min. Dias Tóffoli, julg. 27/8/2012): "A figura do teto remuneratório foi alterada, deixando de lado o limite então vigente para o Poder Executivo estadual, qual seja, a remuneração dos Secretários de Estado, para na atualidade fixar como baliza última o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e, no âmbito do Executivo estadual, a remuneração do Governador do Estado, exceção feita a algumas carreiras. Ademais, a EC nº 19/98 incluiu o § 9º ao art. 37 da Constituição Federal, com a finalidade de excluir do teto remuneratório os empregados das empresas estatais não dependentes, in verbis: “Art. 37. (…) § 9º (...)". Já o § 11 do artigo 37 exclui do teto remuneratório do inciso XI as chamadas verbas indenizatórias previstas em lei, tais como diárias, passagens, ajudas de custo de combustível e alimentação para serviço externo, hospedagem e outras: § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei. Por exemplo, suponha que um servidor tenha vencimentos de R$ 8.000,00 e uma gratificação de desempenho de 20% (R$ 2.000,00), num total de R$ R$ 10.000,00. Se posteriormente for instituída uma nova gratificação, digamos, de conclusão de pós-graduação strito senso, de 10%, esse percentual incidirá sobre os R$ 8.000,00 e não sobre o total de R$ 10.000,00. Além das verbas indenizatórias (auxílio-moradia, auxílio-paletó, ressarcimento de despesas médicas, etc), estão excluídos do teto de remuneração dos servidores do Judiciário e magistrados (Resolução 14/2006 do CNJ): i) hipóteses de acumulação de cargos públicos; por exemplo, servidores do Judiciário ou magistrados que também dê aula em uma universidade pública, poderão ganhar além do teto remuneratório, se a soma dos contracheques ultrapassar esse valor; ii) auxílio-funeral, auxílio-reclusão, auxílio-transporte, diárias, auxílio- alimentação e outras parcelas indenizatórias previstas em lei; iii) benefícios recebidos de planos de previdência fechados, ainda que extintos; iv) benefícios de caráter temporário ou eventual, como auxílio-creche, benefícios de plano de assistência médica, abono de permanência em serviço, bolsa de estudo e devolução de tributos/contribuições previdenciárias indevidamente recolhidos; v) acúmulo da função da magistratura com a função eleitoral; é o caso dos desembargadores de tribunal de justiça que atuem nos Tribunais Regionais Eleitorais, bem como Ministros do Supremo Tribunal Federal que integram o Tribunal Superior Eleitoral. O teto constitucional previsto no art. 37, XI, da Constituição incide em cada cargo em que é permitida a acumulação de cargos públicos. O Supremo firmou posição em sede de repercussão geral no sentido de que nas situações jurídicas em que a Constituição Federal autoriza a acumulação de cargos, o teto remuneratório é considerado em relação à remuneração de cada um deles, e não ao somatório do que recebido. "O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Edson Fachin, apreciando o tema 377 da repercussão geral, negou provimento ao recurso e fixou a seguinte tese de repercussão geral: Nos casos autorizados constitucionalmente deacumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do art. 37, inciso XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente público". (RE 612.975/MT, Relator Marco Aurélio, julgamento 27/4/2017) O STF assentou ainda a impossibilidade de acumulação tríplice de cargos públicos: "impossibilidade da acumulação tríplice de cargos públicos, ainda que os provimentos nestes tenham ocorrido antes da vigência da EC 20/1998. (...) o art. 11 da EC 20/1998 possibilita a acumulação, apenas, de um provento de aposentadoria com a remuneração de um cargo na ativa, no qual se tenha ingressado por concurso público antes da edição da referida emenda, ainda que inacumuláveis os cargos. Em qualquer hipótese, é vedada a acumulação tríplice de remunerações, sejam proventos, sejam vencimentos" (ARE 848.993 RG, voto do rel. min. Gilmar Mendes, julg. 6/10/2016). O inciso XIII do art. 37 trata da não vinculação ou equiparação de espécies remuneratórias: XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público; É dizer, não pode ser pleiteado que a remuneração de um auditor do INSS, por exemplo, seja equiparada à remuneração de um auditor da Receita Federal ou analista de finanças e controle da CGU. A Constituição Federal estabelece hipóteses taxativas de limites e parâmetros para determinadas categorias de vencimentos, como nos dispositivos abaixo: Art. 29, VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subseqüente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos: (...) Art. 39, § 5º: Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor remuneração dos servidores públicos; Já o inciso XIV do art. 37 veda o chamado aumento "em cascata" e o inciso XV estabelece o princípio da irredutibilidade salarial (subsídios e vencimentos): XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores; XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI (teto constitucional) e XIV (efeito cascata) deste artigo e nos arts. 39, § 4º (subsídio em parcela única), 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I (imposto de renda); É assente a jurisprudência do Supremo de que não há direito adquirido a regime jurídico, ficando entretanto, assegurada a irredutibilidade de vencimentos. É importante também que você saiba que o STF decidiu que o princípio da irredutibilidade salarial de que trata o inciso XV do art. 37, além das limitações que o próprio inciso já prevê, é nominal, ou seja, não pode ser invocada para reposição da perda de poder aquisitivo em virtude de desvalorização inflacionária da remuneração ou vencimento. Segundo o Supremo Tribunal Federal, a mudança de regime jurídico pertinente à composição dos vencimentos, desde que a eventual modificação introduzida por ato legislativo superveniente preserve o montante global da remuneração e, em consequência, não provoque decesso de caráter pecuniário, não viola o direito adquirido (Dentre outros, RE 227.755 CE, Rel. Min. Dias Tóffoli). "O Supremo Tribunal Federal fixou jurisprudência no sentido de que não há direito adquirido à regime jurídico-funcional pertinente à composição dos vencimentos ou à permanência do regime legal de reajuste de vantagem, desde que eventual modificação introduzida por ato legislativo superveniente preserve o montante global da remuneração, não acarretando decesso de caráter pecuniário. Precedentes". (RE 593.304 AgR, rel. min. Eros Grau, 2ª T, j. 29/9/2009) não há direito adquirido a regime jurídico pertinente à composição dos vencimentos, desde que a eventual modificação introduzida por ato legislativo superveniente preserve o montante global da remuneração e, em consequência, não provoque decesso de caráter pecuniário. Não há garantia de manutenção do valor real (atualizado monetariamente) da remuneração. É possível, portanto, a redução ou mesmo a supressão de gratificações ou outras parcelas remuneratórias, desde que preservado o valor nominal da remuneração. Precedentes: RE n. 597.838-AgR, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, DJe de 24/2/11; RE n. 601.985-AgR, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJe de 1/10/10; RE n. 550.650-AgR, Relator o Ministro Eros Grau, 2ª Turma, DJe de 27/6/08; RE n. 375.936-AgR, Relator o Ministro Carlos Britto, 1ª Turma, DJ de 25/8/06. Além disso, o STF tem assente também a inexistência de direito adquirido a regime jurídico previdenciário e da aplicação do princípio tempus regit actum nas relações previdenciárias. Entende não existir direito que possa se mostrar como adquirido antes de se cumprirem os requisitos imprescindíveis à aposentadoria, cujo regime constitucional pode vir a ser modificado. Por exemplo, apenas os servidores públicos que haviam preenchido os requisitos previstos na EC 20/98, antes do advento da EC 41/2003, adquiriram o direito de aposentar-se de acordo com as normas naquela previstas, conforme assegurado pelo art. 3º da EC 41/2003 ("Art. 3º É assegurada a concessão, a qualquer tempo, de aposentadoria aos servidores públicos, bem como pensão aos seus dependentes, que, até a data de publicação desta Emenda, tenham cumprido todos os requisitos para obtenção desses benefícios, com base nos critérios da legislação então vigente." ( ADI 3105/DF e ADI 3128/DF). Acumulação de Cargos e Empregos Públicos É um assunto que adora cair nas provas, e na sua não será diferente. Está disciplinado nos incisos XVI e XVII do art. 37, além de outros dispositivos que esquematizamos a seguir: A disciplina constitucional de acumulação lícita de cargos ou empregos públicos, havendo compatibilidade de horários, é a seguinte: a) dois cargos de professor; 1 cargo de professor + 1 cargo técnico ou científico; 2 cargos privativos da área de saúde; (art. 37, XVI, da CF/88), estendida a proibição a empregos e funções da administração indireta, subsidiárias e sociedades controladas pelo poder público (art. 37, XVII, CF/88). Art. 37......... XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas; XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público; b) mandato de vereador e cargo ou função pública (art. 38, III da CF/88): Art. 38..... III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; c) cargo de magistério público e cargo de juiz (art. 95, parágrafo único, I da CF/88); Art. 95..... Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; d) cargo de magistério público e cargo de membro do Ministério Público; (art. 128, §5º, II, d daCF/88). Art. 128.... § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: II - as seguintes vedações: .............. d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; e) Proventos de aposentadoria pelo regime próprio de previdência social de cargos acumuláveis na forma da Constituição, proventos de aposentadoria do RPPS com cargo eletivo e cargos em comissão (art. 37, § 10º, da CF/88). Art. 37...... § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração. f) cargo de magistrado e exercício de função eleitoral em Tribunal Eleitoral, conforme Lei 8.350/1991 e Conselho Nacional de Justiça, Resolução 14/2006; aqui, temos uma hipótese de acumulação de funções e proventos admitida fora do texto da Constituição. Além disso, a referida Resolução do CNJ afastou a gratificação do magistrado pelo exercício de função eleitoral da incidência do teto remuneratório do inciso XI do art. 37, por considerar a verba de caráter eventual ou temporário. g) ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis na forma da Constituição, é vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do regime de previdência do serviço público (art. 40, § 6º); h) A Emenda Constitucional 77/2014 estendeu aos profissionais de saúde que atuam nas Forças Armadas a possibilidade de acumulação lícita de cargos e empregos públicos na área de saúde, modificando o art. 142, § 3º, incisos II e III da Constituição, que você pode verificar em maiores detalhes no módulo Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, caso essa parte caia no seu concurso: Art. 142........ ............ § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando- se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", será transferido para a reserva, nos termos da lei; (Redação da EC 77/2014) III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei; (Redação da EC 77/2014) ... VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea "c"; (Redação da EC 77/2014) i) A Emenda Constitucional 101/2019 incluiu os militares estaduais nas hipóteses de acumulação do inciso XVI: Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. ...... § 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI, com prevalência da atividade militar. (Incluído pela EC 101/2019) Observações: I - Naturalmente, a possibilidade de cumulação de cargos de magistério a que se refere a Constituição diz respeito ao magistério público. Se o juiz, promotor ou ocupante de cargo técnico-científico exercer o magistério em instituição de ensino particular, poderá fazê-lo em quantas desejar, conquanto haja compatibilidade de horários com a função pública que exerce. II - Bem, o que precisamos verificar agora é esse tal cargo técnico-científico. A maior parte das questões da espécie que chegaram ao Supremo Tribunal Federal o foram pela via do recurso extraordinário, que não admite reanálise de fato ou reexame de provas, para aferir se o cargo é técnico-científico ou não. Num dos poucos julgados do Supremo em que se referiu à questão , o STF assim se manifestou: "Acumulação de emprego de atendente de telecomunicações de sociedade de economia mista, com cargo público de magistério. Quando viável, em recurso extraordinário, o reexame das atribuições daquele emprego (atividade de telefonista), correto, ainda assim, o acórdão recorrido, no sentido de se revestirem elas de "características simples e repetitivas", de modo a afastar-se a incidência do permissivo do art. 37, XVI, "b", da Constituição". No tocante às atividades relacionadas ao cargo de atendente de telecomunicações, é exigido o conhecimento técnico específico, com submissão a cursos específicos ."( AI 192.918-AgR/DF, rel. Min. Octavio Gallotti, julg. em 3.6.1997) Restou ao Superior Tribunal de Justiça e ao Tribunal de Contas da União deliberarem a respeito. Segundo o STJ, cargo técnico ou científico, para fins de acumulação com o de professor, nos termos do art. 37, XVII, da Lei Fundamental, é aquele para cujo exercício sejam exigidos conhecimentos técnicos específicos e habilitação legal, não necessariamente de nível superior. ( STJ, 5ª Turma, RMS 20.033/RS, Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJ de 12.03.2007). Para o TCU, a conceituação de cargo técnico ou científico, para fins da acumulação permitida pelo texto constitucional, abrange os cargos de nível superior e os cargos de nível médio cujo provimento exige a habilitação específica para o exercício de determinada atividade profissional, a exemplo do técnico em enfermagem, do técnico em contabilidade, entre outros (Acórdão 408/2004-TCU-1ª Câmara e outros) Abrange, por exemplo: técnico de redes de informática, técnico em contabilidade, engenheiro, advogado, auditor, analista de sistemas, analista judiciário área judiciária (exige o curso de Direito) etc etc. Dessa forma, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido inconstitucional a acumulação de cargo de natureza burocrática com o de magistério. As bancas oscilam no assunto, mas tem prevalecido o entendimento que expus acima. O Cespe/Unb já considerou inconstitucional o acúmulo do cargo de analista de controle externo do TCU com o de professor: (Cespe/Analista de Controle Externo/Auditoria/2008) Maria, servidora pública federal, com 25 anos de idade, tomou posse e entrou em exercício no seu cargo efetivo de analista no TCU, cargo para o qual se exige formação de nível superior em qualquer área do conhecimento. Tempos depois, ela tomou posse e entrou em exercício no cargo público de professor universitário, na Universidade de Brasília (UnB). Somente um ano depois de ter tomado posse na UnB, Maria comunicou esse fato ao setor de pessoal do TCU, ocasião em que tomou posse em cargo em comissão nesse tribunal. A respeito da situação hipotética acima, julgue os seguintes itens. O exercício do cargo de analista é legalmente acumulável com o cargo de professor, conforme jurisprudência do STJ, desde que haja compatibilidade de horários. Gabarito: Errado. Agora veja esta questão da ESAF. A banca considerou que o cargo de Auditor da Receita (aposentado) ou de Gestor, que não exigem curso superior específico, são acumuláveis com o deprofessor universitário público, pois o gabarito da questão foi "c" (veja que a estão é antiga)! (ESAF/Especialista em Políticas Públicas/MPOG/2002) Tratando-se de acumulação de cargos e empregos públicos, avalie a seguinte situação:José, Auditor aposentado da Receita Federal, é Professor da autarquia Universidade Federal do Rio de Janeiro — UFRJ. Pretende, agora, submeter-se ao concurso público para Gestor governamental. Uma vez aprovado, aponte a sua conduta licita. a) Pediria licença sem remuneração da UFRJ para tomar posse como Gestor. b) Poderia assumir o novo cargo, sem qualquer alteração em sua situação funcional. c) Somente poderia assumir o novo cargo de Gestor se renunciasse à aposentadoria de Auditor. d) Para assumir o novo cargo de Gestor, teria de deixar o magistério na UFRJ e renunciar à aposentadoria de Auditor. e) Pediria aposentadoria proporcional na UFRJ para tomar posse como Gestor. Já a FCC seguiu a posição do CESPE, marcando como correta a alternativa "d", conforme a questão a seguir: (FCC/Analista Judiciário/Área Judiciária/2003) A Constituição Federal veda a percepção simultânea de remuneração de cargo público com proventos de aposentadoria à conta do regime previdenciário previsto para os servidores públicos, ressalvando alguns casos em que possibilita essa acumulação. Assim é que os proventos de aposentadoria no cargo de analista judiciário junto ao TRT da 5ª Região a) poderão ser acumulados com a remuneração de cargo vinculado ao Poder Judiciário Federal. b) poderão ser acumulados com a remuneração de um cargo privativo de profissionais da saúde. c) não poderão ser acumulados com a remuneração de qualquer outro cargo público. d) poderão ser acumulados com a remuneração de um cargo de professor. e) poderão ser acumulados com a remuneração de um cargo de médico. Bem, como a questão apenas mencionou "analista judiciário", não indicando qualquer especialização, ficamos na dúvida. O cargo da prova era para a área judiciária, área fim, mas isso não ficou claro na questão!! Diante desse "salseiro", só nos resta acompanhar a "jurisprudência" dos tribunais e "das bancas"!!!!! O inciso XVII do art. 37 determina ainda que a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público. Cumpre acrescentar que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos RE's 602.043 e 612.975, decidiu que deve ser aplicado o teto remuneratório constitucional de forma isolada para cada cargo público acumulado, nas formas autorizadas pela Constituição, aprovando a seguinte tese de repercussão geral: "Nos casos autorizados, constitucionalmente, de acumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do artigo 37, inciso XI, da Constituição Federal, pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente público" ( RE 602.043 e 612.975, rel. Min. Marco Aurélio, julg. em 27/4/2017). Precedência da Administração Fazendária Dois incisos do art. 37 tratam especialmente do setor fazendário e tributário das administrações federal, estaduais e municipais. Isso ocorre, naturalmente, em função de que a atividade tributária represente a principal fonte de renda do Estado, receita derivada dos tributos impostos aos cidadãos-contribuintes, para que o Estado possa, teoricamente, devolvê-los em forma de serviços e produtos úteis à coletividade. XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da lei; XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. Mas o que significa essa “precedência” sobre os demais setores administrativos? Algum privilégio especial de casta?? Nada disso. Os servidores da administração fazendária compõem aquilo que se convencionou chamar, no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, uma das carreiras típicas de Estado, assim como os militares, gestores, auditores, policiais federais e outros. Assim, a administração tributária é função essencial para a própria manutenção do Estado e de sua atuação. Assim, a precedência possui um caráter objetivo e um subjetivo. O caráter objetivo diz respeito à estrutura da gestão fazendária, articulada no âmbito federal, estadual e municipal, dentro do poder de auto-organização de cada ente federado, estrutura essa que disporá prioritariamente dos recursos necessários à execução de suas atividades de arrecadação e fiscalização. O caráter subjetivo diz respeito aos servidores que atuam na gestão fazendária, estabelecidos em carreira típica de Estado, e com atenção especial no que se refere a remuneração, estabilidade, prerrogativas e planos de carreira. Exemplo do caráter objetivo da precedência é que o STF, por maioria, entendeu constitucionais dispositivos da Lei 105/2001 que permitem à Receita Federal receber dados bancários de contribuintes fornecidos diretamente pelos bancos. O Relator dos processos, Dias Toffoli, destacou, em seu voto, que não se trata propriamente a quebra de sigilo bancário, o que pressupõe a circulação desses dados, mas sim a transferência desse sigilo dos bancos ao agentes do Fisco, e que a lei prevê severas punições ao servidor público que vazar essas informações (RE 601.314, rel. min. Edson Fachin e ADIs 2.859, 2.390, 2.386 e 2.397, rel. min. Dias Toffoli, julg. em 24/2/2016). Mais recentemente ainda, permitiu ao Tribunal de Contas da União acessar essas informações, quando estiverem em análise suspeitas de desvio de recursos públicos federais. Administração Pública Indireta Estabelece o inciso XIX do art. 37 que: XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. Ou seja: Autarquia e Fundação Pública de Direito Público: criação por lei específica; Fundação pública de direito privado e empresas estatais e suas subsidiárias: criação autorizada por lei específica. Atente para o fato de que existe a figura jurídica da Fundação Autárquica, ou seja, Fundação com formato de autarquia, pessoa jurídica de direito público, e que exige lei específica para sua criação (ex. Fundação Universidade de Brasília). A fundação cuja criação é autorizada por lei, é a fundação pública de direito privado, ou seja, com o mesmo regime jurídico de direito privado das empresas públicas e das sociedades de economia mista. É dizer: para criação de autarquia ou fundação autárquica (por exemplo, Fundação Universidade de Brasília), é a própria lei que irá criar a entidade da Administração Indireta. Nos demais casos, a lei autorizará a criação, que poderá se dar, por exemplo, por decreto ou no registro civil. No caso da fundação pública de direito privado, a personalidade é adquirida com a inscrição da escritura pública de sua constituição no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Exemplo de fundação pública de direito privado? A Fundação Roquette Pinto, que foi qualificada como organização social pela Lei 9.637/1998. Portanto, a leiserá de criação para autarquia e de autorização para empresa pública, sociedade de economia mista e fundação, cabendo, neste último caso, a uma outra lei complementar, definir as áreas de sua atuação. Vale aqui ainda relembrar o conceito de autarquia, visto na parte de Direito Administrativo: trata-se de um serviço da administração autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica,patrimônio e receita próprios, para executar ATIVIDADES TÍPICAS da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. Outras espécies de autarquia (pessoas jurídicas de direito público) abrangem as autarquias territoriais (Territórios Federais), as autarquias em regime especial (agências executivas e agências reguladoras), autarquias profissionais (conselhos de fiscalização profissional), associações públicas e outras. Guarde ainda outra dica importante, relacionada à interpretação do inciso XX do mesmo artigo: XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; Com relação a este inciso XX, o Supremo Tribunal Federal assentou o entendimento de que se a lei de criação ou que autorizou a criação da empresa pública ou da sociedade de economia mista contiver autorização para a criação de subsidiárias, não haverá necessidade de uma autorização legislativa para cada nova empresa controlada do grupo (ADI 1.649, rel. Min. Maurício Corrêa, julg. em 25/3/1994). Essa autorização só será imprescindível se os estatutos jurídicos da estatal não previrem a possibilidade de criação de subsidiárias. Ressalte-se que essas subsidiárias, pessoas jurídicas de direito privado, assim como as estatais que lhes deram origem, diferentemente destas últimas, não pertencem à Administração Indireta. O quadro a seguir sintetiza as principais características das entidades da administração indireta, que você estudará com mais detalhes na disciplina Direito Administrativo: Importante ainda anotar que as autarquias submetem-se ao chamado controle finalístico do órgão ao qual ela se vincula. Não se trata de hierarquia, mas de obediência às orientações políticas e estratégicas emanadas do Ministério vinculante. Por exemplo, o INSS, autarquia federal, deverá seguir, na execução de suas políticas, as diretrizes previdenciárias emanadas do Ministério da Previdência e Assistência Social. Por fim, vale lembrar que as entidades da Administração Indireta possuem personalidade jurídica própria. É dizer, podem postular em juízo, pois detém capacidade postulatória, o que sói acontecer com quem detenha personalidade jurídica, seja de direito público ou de direito privado. Já os órgãos, integrantes da Administração Direta, não possuem personalidade jurídica, são entes despersonalizados, pois essa pertence à pessoa política respectiva - União, Estado, DF ou município. Desse modo, não poderiam postular em nome próprio, sendo representados judicialmente por órgão específico, que no caso da União, é a Advocacia Geral da União. Por exemplo, o Ministério Público da União não possui personalidade jurídica, quem tem é a União, Pessoa Jurídica de Direito Público Interno. Então, de ordinário, esses Órgãos não poderiam exercer atos processuais próprios de pessoas jurídicas ou físicas. Contudo, o STF manifestou-se no sentido de que alguns Órgãos, notadamente aqueles com status constitucional – tribunais, tribunais de contas, procuradorias, advocacias públicas, possuem algumas prerrogativas processuais próprias das pessoas jurídicas, tais como figurarem em pólo ativo e passivo de mandado de segurança, realizar sustentação oral em juízo, dentre outras. "...personalidade judiciária (capacidade para ser parte) ou mesmo, como no caso, capacidade processual (para estar em juízo). Tal legitimidade existe quando o órgão despersonalizado, por não dispor de meios extrajudiciais eficazes para garantir seus direitos-função contra outra instância de Poder do Estado, necessita da tutela jurisdicional. Essa capacidade, que decorre do próprio sistema de freios e contrapesos, não exime o julgador de verificar a legitimidade ad causam do órgão despersonalizado, isto é, sua legitimidade para a causa concretamente apreciada (RE 595.176, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julg. 12/4/2010)". No final de 2017, o Supremo reafirmou a tese de que as empresas públicas e sociedades de economia mista não têm direito à prerrogativa de execução via precatório, previsto no art. 100 da CF . A 1ª turma do STF entendeu pela aplicação do art. 173, §1º, inciso II, da CF, o qual submete a empresa pública ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários. Observou incongruente considerar os bens integrantes do patrimônio de empresas públicas, enquanto pessoas jurídicas de direito privado, como bens públicos, a fim de gozar das vantagens decorrentes do regime de precatórios (RE 851.711 AgR/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12/12/2017). Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (...) II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; Essa norma é a Lei 13.303/2016, que dispôs sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Constituição estabelece a competência dos juízes federais para processar e julgar as causas, em geral, em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada as causas judiciais de falência, as de acidentes de trabalho e a competência da Justiça Militar, da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral, nos termos do art. 109, I e IV, da CF: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; (...) IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; E as empresas estatais dependentes, ou executoras de serviços púbicos? Essas também não se sujeitam ao regime de precatórios, tendo o professor/Ministro Alexandre de Moraes ficado vencido nesse ponto, no mesmo julgado acima citado. Improbidade Administrativa A improbidade administrativa bem como a prescritibilidade das ações contra atos de agentes contra o erário, estão previstas no art. 37, §§ 4º e 5º: § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública,a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. § 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. Quanto às ações de ressarcimento, o STF havia assentado que são imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário, ex vi do que decidido no âmbito do MS 26.210-9/DF, que cuidou de processos de tomada de contas especial perante o Tribunal de Contas da União. Entretanto, mais recentemente, nos autos do RE 669.069, relator Min. Teori Zavascki, os Ministros da Suprema Corte firmaram tese de repercussão geral no sentido de que “é prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil". Essa tese não alcança prejuízos que decorram de atos de improbidade administrativa, espécie de ilícito civil, regida pela Lei 8.429/1992 ou os de direito penal, que permanecem imprescritíveis. O Supremo considerou que a ressalva contida no final do parágrafo 5º do art. 37 da Constituição Federal, o qual remete à lei a fixação de prazos de prescrição para ilícitos que causem prejuízos ao erário, mas excetua as respectivas ações de ressarcimento, deve ser interpretado de forma restrita. Uma interpretação ampla da ressalva final conduziria à imprescritibilidade de toda e qualquer ação de ressarcimento movida pelo erário, mesmo as fundadas em ilícitos civis que não decorram de culpa ou dolo. Dessa decisão, a Procuradoria-Geral da República opôs embargos de declaração, o que instou o STF, em 16/6/2016, a posicionar-se mais claramente acerca de alguns pontos, especialmente quanto à delimitação do alcance do julgado, não obstante formalmente tenha rejeitado os embargos: i) a tese da prescritibilidade alcança somente os atos danosos ao erário que violem normas de direito privado, como, por exemplo, acidentes de trânsito provocados por agentes públicos ou privados que causem dano ao erário; ii) A prescritibilidade da pretensão de ressarcimento ao erário em face de agentes públicos por ato de improbidade administrativa, objeto do Tema 897 de repercussão geral, ou atos cometidos no âmbito de relações jurídicas de caráter administrativo, não foi alcançada pela tese da prescritibilidade fixada no julgado embargado; iii) a tese firmada no julgamento do MS 26.210/DF já foi apreciada nos autos do RE 636.886, prescrevem em cinco anos as pretensões de ressarcimento ao erário decorrentes decisões do TCU em processos de tomada de contas especial (Tema 899 de repercussão geral). Tema 899: Possui repercussão geral a controvérsia relativa à prescritibilidade da pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de Contas. Fixação da seguinte tese para o TEMA 899: “É prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de Contas”. Segundo o STF, "3. A excepcionalidade reconhecida pela maioria do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL no TEMA 897, portanto, não se encontra presente no caso em análise, uma vez que, no processo de tomada de contas, o TCU não julga pessoas, não perquirindo a existência de dolo decorrente de ato de improbidade administrativa, mas, especificamente, realiza o julgamento técnico das contas à partir da reunião dos elementos objeto da fiscalização e apurada a ocorrência de irregularidade de que resulte dano ao erário, proferindo o acórdão em que se imputa o débito ao responsável, para fins de se obter o respectivo ressarcimento. 4. A pretensão de ressarcimento ao erário em face de agentes públicos reconhecida em acórdão de Tribunal de Contas prescreve na forma da Lei 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal)". (RE 636.886/AL, rel. Min. julgamento em 20/4/2020) O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a imprescritibilidade de ações de ressarcimento de danos ao erário decorrentes de ato doloso de improbidade administrativa, mas não de ato culposo: "Nos casos em que o Constituinte visou prever a imprescritibilidade, ele o fez. Não cabe ao intérprete excluir do campo da aplicação da norma situação jurídica contemplada, como não cabe também incluir situação não prevista. (...) O comando estabelece, como um verdadeiro ideal republicano, que a ninguém, ainda que pelo longo transcurso de lapso temporal, é autorizado ilicitamente causar prejuízo ao erário, locupletando-se da coisa pública ao se eximir do dever de ressarci-lo". (RE 852.475, rel. min. Alexandre de Moraes julg. em 8/8/2018) Foi aprovada a seguinte tese de repercussão geral: "São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa". Bem, preciso agora que você guarde que o Supremo Tribunal Federal, nos autos da Reclamação 2138-6, havia decidido que os agentes políticos que respondiam constitucionalmente por crime de responsabilidade, não respondiam segundo a lei de improbidade administrativa, mas apenas pelo crime de responsabilidade, definido na Constituição e em lei federal (Lei 1.079/1950). Em regra esses agentes políticos são, além dos Chefes do Poder Executivo federal, estadual e municipal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os Ministros de Estado e os Secretários estaduais e municipais, além do Chefe do Poder Legislativo Municipal (Constituição Federal e Lei 1079/1950). Entretanto, posteriormente, o Supremo assentou a repercussão geral da questão para permitir o julgamento, por ação civil de improbidade administrativa, de agentes políticos com prerrogativa por foro de função, à exceção do Presidente da República, ao argumento, já exarado nos autos da Pet 3.923-QO, Rel. Min. Joaquim Barbosa, de que “as condutas descritas na lei de improbidade administrativa, quando imputadas a autoridades detentoras de prerrogativa de foro, não se convertem em crimes de responsabilidade", assentando aí o princípio da independência das instâncias (ARE 683.235/PA, Red. p/ o Ac. Min. Gilmar Mendes, Plenário, julg. 30/8/2012). Lembre-se ainda que aquela decisão da Reclamação 2138-6 não detinha eficácia erga omnes e efeito vinculante, apesar de ter se tornado um orientador para julgamentos posteriores da Suprema Corte; entretanto, o entendimento ali assentado foi superado. Mais recentemente, o Supremo reiterou este entendimento, de que os agentes políticos, à exceção do Presidente da Republica, que só responde por crime de responsabilidade estão sujeitos a uma “dupla normatividade em matéria de improbidade, com objetivos distintos”, tanto aquela fundada na Lei nº 8.429/92, quanto aquela decorrente da Lei nº 1.079/50. Desse modo, Governador de Estado, em pleno exercício de seu mandato eletivo, tanto quanto o que não mais exerce mandato eletivo, submete-se, em tema de processo civil de improbidade administrativa, ao regime jurídico da Lei nº 8.429/92, definindo a competência de órgãos judiciários de primeira instância, ou seja, confirmando também a ausência de prerrogativa de foro por função para ações de natureza civil: "O que se conclui, em suma, é que, excetuada a hipótese de atos de improbidade praticados pelo Presidente da República (sujeitos, por força da própria Constituição, a regime especial), não há norma constitucional alguma que imunize os agentes políticos, sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer das sanções por ato de improbidade previstas no art. 37, § 4º. Seria igualmente incompatível com a Constituição eventual preceito normativo infraconstitucional que impusesse imunidade dessa natureza" (RE 803.297/RS, rel. min. Celso de Mello, julg. 6/2/2017). Bem, as consequências para os condenados por improbidade administrativa, cuja regulamentação está contida na Lei 8.429/1992,incluem: I - SUSPENSÃO dos direitos políticos (e não cassação); II - PERDA da função pública; III - INDISPONIBILIDADE dos bens; IV - RESSARCIMENTO ao erário. A decisão terá que transitar em julgado para a suspensão dos direitos políticos, conforme já se pronunciou o Supremo: "3. Competência do Tribunal de origem para suspender os direitos políticos de membro do Congresso Nacional. Permite-se ao Poder Judiciário decretar a suspensão dos direitos políticos nos casos de improbidade administrativa, cabendo à respectiva Casa apenas dar fiel execução à decisão transitada em julgado e declarar a perda do mandato do parlamentar. Precedentes. (...) 17. Nesse contexto, afastada a incidência do § 2º do art. 55 da Constituição à hipótese, conclui-se que pode o Poder Judiciário decretar a suspensão dos direitos políticos nos casos de improbidade administrativa, cabendo ao Poder Legislativo, apenas, dar fiel execução à decisão transitada em julgado e declarar a perda do mandato". (AgR-RE 640.466/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julg. em 26/9/2014) Importante ainda você saber que a Ação de Improbidade não possui natureza penal, mas sim civil. Nesse sentido, não se submete ao foro por prerrogativa de função, assim como as demais ações de natureza cível, interpostas contra autoridades políticas, tais como a ação civil pública e a ação popular. Quanto à prescritibilidade de atos ilícitos cometidos por agentes públicos, servidores ou não, prevista no § 5º do art. 37, acima transcrito, a Lei 8.112/1990 estabeleceu diversos prazos de prescrição para punição dos agentes, que não iremos tratar aqui em detalhes por ser matéria de Direito Administrativo. Entretanto, de forma resumida, os prazos para punição no âmbito do Processo Administrativo Disciplinar são: I - 5 anos: II - 2 anos: III - 180 dias: Por força da jurisprudência do Supremo, consolidada na Súmula Vinculante nº 5, a falta de defesa técnica por advogado no PAD não viola o direito à ampla defesa e ao contraditório, consectários do devido processo legal, previstos no art. 5º, LIV e LV, da Constituição: Súmula Vinculante 5/STF. A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição. Os prazos começam a correr a partir de quando o fato se tornou conhecido pela Administração, e podem ser interrompidos pela abertura da sindicância ou instauração do PAD, iniciando novamente a contagem do prazo desde o início após a decisão do processo. Responsabilidade Civil do Estado Importante tópico, que despenca (não cai) nas provas de Direito Constitucional e Direito Administrativo. Dispõe o § 6º do art. 37: § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. No ordenamento constitucional e jurídico brasileiro, a responsabilidade do poder público é objetiva, adotando-se a Teoria do Risco Administrativo, e que é fundada na ideia de solidariedade social, ou seja, na justa repartição dos ônus decorrentes da prestação dos serviços públicos, exigindo-se a presença dos seguintes requisitos: I - dano; II - conduta administrativa e III - nexo causal entre a conduta da administração e o dano causado a terceiro. Sendo a responsabilidade objetiva, não é necessária a demonstração do elemento volitivo subjetivo da conduta - dolo ou culpa. A culpa ou o dolo do agente somente serão verificados no caso de ação regressiva do Estado, que é uma ação proposta contra o agente causador do dano para ressarcimento do Erário, que arcou com a indenização ao particular. Admite-se o abrandamento ou mesmo a exclusão da responsabilidade objetiva do Estado, se coexistirem atenuantes ou excludentes que atuem sobre o nexo de causalidade, como a culpa concorrente ou exclusiva da vítima, respectivamente. A conduta administrativa diz respeito à função pública exercida pelo agente, seja de um órgão, de uma entidade da administração ou mesmo de uma concessionária de serviço público. Isso porque a teoria do risco administrativo impõe o dever de indenizar independentemente da culpa do agente. Afere-se, tão somente, a culpa concorrente ou exclusiva da vítima, quando se aferirá o abrandamento ou exclusão da responsabilidade do Estado. No caso da culpa exclusiva da vítima, fica afastado o dever de indenizar do Estado. Essa tese é corroborada pelo Supremo Tribunal Federal: "A administração pública pode anular seus próprios atos, quando inquinados de ilegalidade (Súmula 473) mas, se a atividade do agente público acarretou danos patrimoniais ou morais a outrem – salvo culpa exclusiva dele –, eles deverão ser ressarcidos, de acordo com o disposto no art. 37, § 6º, da CF" ( RE 460.881, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 18/4/2006, 1ª Turma). "A discussão relativa à responsabilidade extracontratual do Estado, referente ao suicídio de paciente internado em hospital público, no caso, foi excluída pela culpa exclusiva da vítima, sem possibilidade de interferência do ente público". ( RE 318.725 AgR, rel. min. Ellen Gracie, julg. 16/12/2008, 2ª Turma). Mas nem sempre foi assim. As bancas adoram transitar entre as diversas teorias da responsabilidade do Estado, que resumimos abaixo pra você: 1º ⇒ irresponsabilidade total do Estado; 2º ⇒ culpa civil: Havia a diferenciação entre atos de império sem responsabilidade, e os atos de gestão, que eram responsabilizados desde que com culpa do agente; 3º ⇒ culpa civil subjetiva: responsabilidade subjetiva, na qual era necessário provar o dolo ou a culpa do agente (elementos subjetivos), e nexo causal (já havia elementos objetivos). Essa é aplicada hoje na ampla maioria das relações particulares. 4º ⇒ culpa administrativa ou culpa anônima: estágio de transição entre a doutrina civilista e a tese objetiva do risco administrativo. Exige apenas a comprovação da falta do serviço (faute du service) e independe do agente. 5º ⇒ teoria do risco objetivo ou risco administrativo: é a nossa atual teoria vigente, que prescinde do elemento subjetivo, bastando o nexo de causalidade entre o dano e o ato do agente. Para danos nucleares, não há consenso na doutrina. Boa parte entende que se aplica o risco administrativo para as ações e as omissões estatais. Como não tivemos, até hoje, nenhum desastre nuclear de grandes proporções, a teoria não foi posta à prova. 6º ⇒ Em se tratando de omissão no cumprimento do dever genérico, o Supremo Tribunal Federal havia historicamente decidido que somente é possível perquirir a responsabilidade subjetiva do Poder Público (STF, 2ª Turma, RE nº 369.820/RS, rel. Min. Carlos Velloso, julg. em 04/11/2003). Entretanto, esse posicionamento foi invertido no recurso extraordinário nº 841.526, relator ministro Luiz Fux, oportunidade na qual ficou consolidado o entendimento quanto à necessária observância do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal no tocante a omissões administrativas (responsabilidade objetiva): "1. A responsabilidade civil estatal, segundo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, § 6º, subsume-se à teoria do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas, posto rejeitada a teoria do risco integral. 2. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso. 3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que a execução da pena se dê de forma humanizada, garantindo-se os direitos fundamentaisdo detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e moral (artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal)". Posteriormente, o Supremo confirmou esse vertente, ao julgar recurso extraordinário em que o recorrente teve o caminhão roubado enquanto era lavrado auto de infração por excesso de peso por parte da concessionária de serviços de gestão rodoviária. Na hipótese em apreço, o Tribunal assentou a responsabilidade objetiva da empresa concessionária de serviço público, pela omissão no dever de guarda do veículo estacionado em suas dependências enquanto era lavrado o auto de infração: "A Turma reconheceu o nexo causal entre a conduta omissiva da empresa prestadora de serviços que deixou de agir com o cuidado necessário quanto à vigilância no posto de pesagem, por ocasião do estacionamento obrigatório do veículo para lavratura do auto de infração, e o dano causado ao recorrente. Desse modo, entendeu caracterizada a falha na prestação e organização do serviço. Afirmou não haver espaço para afastar a responsabilidade, independentemente de culpa, ainda que sob a óptica da omissão, ante o princípio da legalidade, presente a teoria do risco administrativo. A responsabilidade objetiva do Estado tem por fundamento a proteção do cidadão, que se encontra em posição de subordinação e está sujeito aos danos provenientes da ação ou omissão do Estado, o qual deve suportar o ônus de suas atividades". (RE 598.356/SP, rel. min. Marco Aurélio, julg. em 8/5/2018) 7º A teoria do risco integral, que impõe a responsabilidade do Estado, mesmo quando há culpa exclusiva da vítima, nunca foi acolhida em nosso ordenamento. Apesar de a teoria do risco administrativo a regra geral, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a possibilidade de responsabilização objetiva na hipótese de “infração a um dever específico de cuidado”. Foi o que ocorreu em julgamento no qual a Administração Pública omitiu-se em garantir a indenidade física dos presos (RE 841.526/RS, rel. Min. Luiz Fux, julg. em 20/03/2016). É plenamente admissível que surja um dano em decorrência de lei inconstitucional, caso em que o Estado não poderá afastar sua responsabilidade civil objetiva em face da atuação indevida do Poder Legislativo. Essa posição é adotada tanto pela doutrina (José dos Santos Carvalho Filho), quanto chancelada pelo Supremo: “Desse modo, é plenamente possível que, se o dano surge em decorrência de lei inconstitucional, a qual evidentemente reflete atuação indevida do órgão legislativo, não pode o Estado simplesmente eximir-se da obrigação de repará-lo, porque nessa hipótese configurada estará a sua responsabilidade civil. Como já acentuou autorizada doutrina, a noção de lei inconstitucional corresponde à de ato ilícito, provocando o dever de ressarcir os danos patrimoniais dele decorrentes.” (FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Atlas. 2017, p. 614) Segundo o STF: "O Supremo Tribunal Federal consagrou esse entendimento e prestigiou essa orientação em pronunciamentos nos quais deixou consignado que "O Estado responde civilmente pelo dano causado em virtude de ato praticado com fundamento em lei declarada inconstitucional." (RDA 20/42, ReI. Min. CASTRO NUNES) (...) Todas essas considerações - que traduzem mera reflexão sobre os efeitos decorrentes de comportamentos legislativos inconstitucionais do Poder Público - decorrem de minha pessoal convicção sobre a inconstitucionalidade do bloqueio dos cruzados novos, já registrada, quanto aos seus fundamentos jurídicos, por ocasião do julgamento da ADIn 534-DF" (RE 158.962, rel. Min. Celso de Mello, julg. em 4/12/1992) Algumas premissas importantíssimas que eu desejo que você guarde em relação a este tópico: I - Para configurar a responsabilidade civil do Estado, o agente público causador do prejuízo a terceiros deve ter agido na qualidade de agente público, sendo irrelevante o fato de ele atuar dentro, fora ou além de sua competência legal; II - A responsabilidade objetiva do Estado abrange danos materiais e morais; III - Assim como os órgãos e entidades estatais, as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, respondem objetivamente, independentemente de dolo ou culpa; IV - Segundo o mais recente entendimento do STF, firmado em tese de repercussão geral (Tema 130) a responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não usuários do serviço: "A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários, e não usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da CF. A inequívoca presença do nexo de causalidade entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro não usuário do serviço público é condição suficiente para estabelecer a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito privado". (RE 591.874, rel. min. Ricardo Lewandowski, julg. 26/8/2009, P, DJE de 18-12- 2009, Tema 130) V - Caso haja dano a algum cidadão, por exemplo decorrente da má conservação de vias ou estradas, e reste provada conduta omissiva do Estado, a responsabilidade deste será subjetiva. Trata-se da teoria da culpa administrativa ou culpa anônima, ou ainda da faute du service ou falta do serviço, e é aplicada nos casos em que o dano é derivado por ausência ou retardamento do serviço; VI - A simples existência de nexo causal entre a ação ou omissão e o resultado danoso é suficiente para haver a responsabilização civil do Estado, independe das responsabilidades criminais e/ou administrativos dos agentes públicos; VII - O valor da indenização deve abranger o que a vítima efetivamente perdeu e o que gastou, com advogado p.ex., para ressarci-se do prejuízo, bem assim como o que deixou de ganhar em consequência direta do ato lesivo causado pelo agente (lucros cessantes). VIII - Segundo o CESPE, o caso fortuito e a força maior excluem o nexo causal, pois são eventos externos à vontade das partes; IX - O Estado, regra geral, não é responsabilizado pela atuação do juiz ou do parlamentar, em suas funções típicas. Entretanto, a CF/88 estabelece duas exceções em seu art.5, inciso LXXV: erro judiciário e prisão alem do tempo fixado na sentença, ambas na esfera penal: Art. 5º.... LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; A esse respeito, o STF se pronunciou que a responsabilidade civil do Estado pelo erro judiciário não impediria eventual reconhecimento dessa responsabilidade pela falta do serviço judiciário: "O direito à indenização da vítima de erro judiciário e daquela presa além do tempo devido, previsto no art. 5º, LXXV, da Constituição, já era previsto no art. 630 do CPP (...) A regra constitucional não veio para aditar pressupostos subjetivos à regra geral da responsabilidade fundada no risco administrativo, conforme o art. 37, § 6º, da Lei Fundamental: a partir do entendimento consolidado de que a regra geral é a irresponsabilidade civil do Estado por atos de jurisdição, estabelece que, naqueles casos, a indenização é uma garantia individual e, manifestamente, não a submete à exigência de dolo ou culpa do magistrado. (...) nem impede eventuais construções doutrinárias que venham a reconhecer a responsabilidade do Estado em hipóteses que não a de erro judiciário stricto sensu, mas de evidente falta objetiva do serviço público da Justiça. (RE 505.393, rel. min. Sepúlveda Pertence, julg. 26/6/2007) Já a responsabilidade civil regressiva dos magistrados dar-se-á somente por dolo, fraude, recusa, omissão ou retardamento injustificadodo processo. X - a responsabilidade objetiva de empresas fornecedoras de bens e serviços (farmácias, supermercados), diversamente do que ocorre com os bancos, que demandam segurança ostensiva, não há direito a indenização a cliente assaltado, pois esse caso equipara-se a caso fortuito externo, que rompe o nexo de causalidade (boa para sua prova de Direito Civil). Nesse sentido, o STJ: "1. Em se tratando de responsabilidade civil de empresa fornecedora de bens e serviços, de natureza diversa à das instituições financeiras ou outras atividades que demandam vigilância e segurança ostensivas reforçadas, não tem obrigação de indenizar as lesões material e extrapatrimonial, pelo roubo mediante uso de arma de fogo ocorrido no interior de seu estabelecimento comercial. 2. Em tais situações, a jurisprudência desta Casa entende que o evento é equiparado a fortuito externo, situando fora do risco da atividade mercantil. 3. O roubo, mediante uso de arma de fogo, em regra é fato de terceiro equiparável a força maior, que deve excluir o dever de indenizar, mesmo no sistema de responsabilidade civil objetiva". (Resp 1.801.784 - SP, rel. Min. Luís Felipe Salomão, julg. em 30/4/2019) Dispositivos gerais Os incisos e parágrafos abaixo do art. 37 costumam ser cobrados em sua literalidade, não merecendo maiores comentários, pelo menos na disciplina de Direito Constitucional: XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. § 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que possibilite o acesso a informações privilegiadas. § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: I - o prazo de duração do contrato: II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; III - a remuneração do pessoal. Servidores no Exercício de Mandatos Eletivos Os servidores públicos de quaisquer dos entes federativos – União, Estados, DF e Municípios que forem habilitados para o exercício de cargo eletivo deverão obedecer às regras do art. 38 da Constituição: Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração; III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados como se no exercício estivesse. Guarde, portanto, este resumo: Mandato federal, estadual ou distrital Afastado do cargo, emprego ou função Mandato de prefeito Afastado, mas pode optar pela remuneração Mandato de vereador Havendo Compatibilidade de horários Não havendo compatibilidade Acumulará a remuneração do cargo efetivo com o de vereador Opta pela remuneração (mesmo do prefeito) O Supremo Tribunal Federal assentou que o cargo de secretário municipal não permite o exercício concomitante com o da vereança, uma vez que exige dedicação exclusiva, como auxiliar direto do Chefe do Poder Executivo Municipal. Portanto, não poderá haver a acumulação. É o que se extrai do entendimento firmado no RE 497.554/PR: “RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. VEREADOR. SECRETÁRIO MUNICIPAL. ACUMULAÇÃO DE CARGOS E VENCIMENTOS IMPOSSIBILIDADE. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DOS RECURSOS. I - Em virtude do disposto no art. 29, IX, da Constituição, a lei orgânica municipal deve guardar, no que couber, correspondência com o modelo federal acerca das proibições e incompatibilidades dos vereadores. II - Impossibilidade de acumulação dos cargos e da remuneração de vereador e de secretário municipal. III - Interpretação sistemática dos arts. 36, 54 e 56 da Constituição Federal." A Emenda Constitucional 103/2019 (Pec da Previdência) alterou a redação do inciso V do art. 38: Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: .... V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados como se no exercício estivesse. V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo de origem. (Redação dada pela EC 103/2019) (CESPE/PROCURADOR/ BACEN/2009) A responsabilidade das autarquias pelos prejuízos causados a terceiros não é direta, de modo que, diante da ocorrência de dano, o lesado deve buscar a reparação diretamente ao ente federativo e não à autarquia. ERRADO. O erro decorre do fato de que a responsabilidade é da pessoa jurídica, no caso a autarquia, e não da pessoa política. Caso o dano fosse causado por um órgão da administração direta, aí sim a responsabilidade seria imputada à pessoa jurídica (política) à qual o Órgão pertence. (VUNESP/AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁRIA/TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SP/2010) Assinale a alternativa que está de acordo com a Constituição Federal. (A) Somente por decreto do chefe do Poder Executivo poderão ser criadas autarquias e fundações públicas, bem como de suas subsidiárias ou coligadas. (B) O ato de improbidade administrativa acarretará a cassação dos direitos políticos do servidor público ou do particular responsável pelo ato lesivo aos cofres públicos. (C) O ilícito praticado pelo agente público que cause prejuízo ao erário será imprescritível. (D) O subsídio mensal dosDesembargadores do Tribunal de Justiça poderá atingir no máximo 80,25 % do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. (E) É vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público. A letra “A” está incorreta porque a criação de autarquias e fundações públicas será feita mediante Lei. A letra “B” está incorreta porque o ato de improbidade administrativa não acarretará a cassação dos direitos políticos mas sim a suspensão destes. A letra “C” está errada porque só seriam imprescritíveis, nos termos do art. 37, §5º da CF as ações de ressarcimento: “ § 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.” Entretanto, nova orientação do STF, nos autos do (RE) 669.069 afastou a imprescritibilidade mesmo nas ações de ressarcimento por danos causados ao erário, não alcançando essa tese, entretanto, os prejuízos decorrentes de ato de improbidade administrativa. Errada também a letra “D” porque, como vimos, o STF derrubou o subteto da magistratura estadual, no julgamento do ADI 3.854-MC/2007, Relator Min. César Peluso. Mesmo que a questão falasse em 90,25%, e o gabarito fosse esse item, seria passível de recurso à banca. A letra “E” está correta, pois reproduz o inciso XIII do art. 37: “ XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público.” Gabarito: item “E”. (CESPE/ANALISTA/TRE RJ/2012) Servidor público, no exercício de suas atividades, não pode responder perante a Fazenda Pública, mesmo no caso de causar dano a terceiros, pois a responsabilidade, nessas ocorrências, pertence ao Estado. ERRADO. O servidor responderá em ação regressiva, uma vez comprovada a sua culpa. Repare que, na teoria da responsabilidade civil objetiva do Estado, a indenização ao particular independe de culpa do agente, mas a ação regressiva não prescinde dessa evidenciação. Dos Servidores Públicos (arts. 39 a 41 da CF/1988) Atenção: este capítulo foi revisto e atualizado em 31/7/2020 Servidores Públicos A Emenda Constitucional 19/1998, no bojo do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), buscou acabar com a obrigatoriedade de a Administração Pública contratar servidores públicos exclusivamente pelo regime estatutário, abrindo a possibilidade de contratação por regimes híbridos e pela própria CLT, e dando a seguinte redação ao art. 39 da CF: Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. Contudo, com o julgamento cautelar da Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.135, o STF suspendeu a vigência do caput do art. 39 da Constituição, modificado pela referida Emenda: Decisão: O Tribunal, por maioria, vencidos os Senhores Ministros Nelson Jobim, Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa, deferiu parcialmente a medida cautelar para suspender a eficácia do artigo 39, caput, da Constituição Federal, com a redação da Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998, tudo nos termos do voto do relator originário, Ministro Néri da Silveira, esclarecido, nesta assentada, que a decisão - como é próprio das medidas cautelares - terá efeitos ex nunc, subsistindo a legislação editada nos termos da emenda declarada suspensa. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie, que lavrará o acórdão. Não participaram da votação a Senhora Ministra Cármen Lúcia e o Senhor Ministro Gilmar Mendes por sucederem, respectivamente, aos Senhores Ministros Nelson Jobim e Néri da Silveira. Plenário, red. p/ o acórdão Ministra Ellen Gracie, julgamento em 2/8/2007. Assim, voltou a viger a redação original do art. 39: Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. O § 1º do art. 39 fixa os padrões de vencimento dos servidores e o § 2º trata dos incentivos à eficiência, ambos com redação dada pela Emenda Constitucional 19/1998: Art. 39........... § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório observará: I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira; II - os requisitos para a investidura; III - as peculiaridades dos cargos. § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos entre os entes federados. O § 3º do art. 39 trata dos direitos dos trabalhadores que são devidos aos servidores públicos: Art. 39........ § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. São devidos, portanto, os seguintes direitos trabalhistas aos servidores públicos: Salário mínimo, garantia de salário nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável, décimo-terceiro salário, remuneração do trabalho noturno superior à do diurno, duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos, remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal, gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal, licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias, licença-paternidade, nos termos fixados em lei, proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei, redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança e proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Não são devidos aos servidores públicos os seguintes direitos: Proteção contra demissão sem justa, FGTS, seguro-desemprego, piso salarial proporcional, irredutibilidade salarial salvo convenção, proteção do salário na forma da lei, participação nos lucros, jornada de 6 horas para turnos ininterruptos de revezamento, aviso prévio, adicional de atividade penosa, aposentadoria ( para os servidores aplicam-se as regras do regime especial de previdência) , assistência gratuita dos filhos até 5 anos em creches ( atentar que é dever do Estado a educação infantil, em creche e pré- escola, às crianças até 5 anos ), aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei, reconhecimento das convenções acordos coletivos de trabalho, proteção contra automação, seguro contra acidentes do trabalho ( redução dos riscos inerentes ao trabalho está incluída ), ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional, proibição de qualquer discriminação salarial e critérios diferenciados para admissão de deficientes, proibição de distinção entre trabalho manual e intelectual, proibição trabalho noturnopara menores, igualdade de direitos entre trabalhador com vínculo e avulso. A tabela abaixo apresenta cada um dos direitos dos trabalhadores adicionados ou não à categoria dos servidores públicos: Direitos dos trabalhadores (art. 7º, CF) Servidores Públicos (art. 39, § 3º) I - Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar... Não II - Seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário Não III - Fundo de garantia do tempo de serviço Não IV - Salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado... Sim V - Piso salarial proporcional à extensão e complexidade do trabalho Não VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; Não (inciso XV do art. 37 assegura) VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; Sim VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; Sim IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; Sim X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; Não XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei Não XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; Sim XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação Sim XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; Não XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; Sim XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal; Sim XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; Sim XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; Sim XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; Sim XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; Sim XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; Não XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; Sim XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; Não XXIV - aposentadoria; Não XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; Não XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; Não XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; Não XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Não XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional Não XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; Sim XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; Não XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; Não XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; Não XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso Não Como vimos na parte geral de Administração Pública, algumas categorias de agentes públicos devem ser remuneradas remuneradas mediante subsídio fixado em parcela única, na forma do § 4º do art. 39: § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. À parcela de subsídio, pode haver o acréscimo de parcelas indenizatórias, que nos termos da Lei 8.112/1990, incluem ajuda de custo, diárias, transporte e auxílio-moradia. O subsídio é também aplicado às seguintes categorias de servidores, podendo ser estendido a outras categorias, na forma do § 8º, do art. 39: ⇒ Membros das corporações policiais ( art. 144, § 9º); ⇒ Membros do Ministério Público (a rt. 128, § 5º, I, c); ⇒ Defensores públicos e membros da AGU ( art. 135); ⇒ Outras categorias que a lei estabelecer ( art. 39, § 8º), como aconteceu, por exemplo, com os servidores da Receita Federal: § 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º. Os parágrafos 5º a 7º do art. 39, também incluídos pela Emenda Constitucional 19/1998, introduziram mecanismos de transparência e controle dos gastos com remuneração no serviço público, bem como a aplicação de economia com despesas correntes para aplicação no aperfeiçoamento de pessoal. § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, XI. § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e empregos públicos. § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade. O § 9º, do art. 39, incluído pela EC 103/2019 (Pec da Previdência), vedou a incorporação de vantagens oriundas do exercício do cargo demissível ad nutum à remuneração do cargo efetivo, quando aquele foi exercido por servidor concursado: Art. 39.... § 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter temporário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo em comissão à remuneração do cargo efetivo. Atualmente, a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011) , já obriga aos Órgãos e Entidades da Administração a disponibilizarem, independentemente de requerimentos, informações relativas às despesas em geral, inclusive da remuneração dos servidores. O Supremo Tribunal Federal, nos autos da Suspensão de Liminar SL 623, decisão do Ministro Ayres Britto, de 11/7/2012, permitiu a divulgação de salários de servidores públicos na internet, asseverando que a remuneração dos servidores públicos é “gasto do Poder Público que deve guardar correspondência com a previsão legal, com o teto remuneratório do serviço público e, em termos globais, com as metas de responsabilidade fiscal". Posteriormente, o STF reiterou o entendimento de que é constitucional a veiculação da remuneração deservidores públicos na internet (ARE 652.777, rel. Min. Teori Zavascki, julg. 23/4/2015). Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos o artigo 40 da CF, que trata das regras de aposentadoria em regime especial definida para os servidores públicos. Trata-se de regras cobradas na maioria das vezes, em cima da literalidade da Constituição nos concursos públicos, bastando para isso uma leitura atenta do artigo. Os pontos eventualmente polêmicos ou que mereçam discussão doutrinária serão comentados a seguir. Estabelece o art. 40, com a redação dada pela Emenda Constitucional 103/2019 (Pec da Previdência): Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação da EC 103/2019) § 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17: § 1º. O servidor abrangido por regime próprio de previdência social será aposentado: (Redação da EC 103/2019) I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei; I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo; (Redação da EC 103/2019) II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições: a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher; b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição. III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo ente federativo. (Redação da EC 103/2019) O caráter contributivo e solidário diz respeito a que todos contribuem para todos, isto é, não há uma plano atuarial com uma conta individualizada por servidor beneficiado, o que seria desejável do ponto de vista econômico, dado o enorme desequilíbrio desse tipo de sistema, não obstante haja quem afirme que esse déficit não existe... Importante jurisprudência do STF assentou que os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de provimento efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para fins de nomeação a cargo em comissão. Ressalvados outros impedimentos legais, não há óbice constitucional a que o servidor efetivo aposentado compulsoriamente permaneça no cargo comissionado que já desempenhava ou a que seja nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma vez que não se trata de continuidade ou criação de vínculo efetivo com a Administração. Pra variar, vencido o Min. Marco Aurélio (RE 786.540/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julg. em 15/12/2016). Assim, as regras para aposentadoria no serviço público, para quem adentrou na Administração após a EC 41/2003 estão no §1º do art. 40 e são as seguintes (com a redação da EC 103/2019): I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais (e não integrais) ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei, caso em que os proventos serão integrais; I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo; (Redação da EC 103/2019) II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 88, de 2015) III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições: a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher; b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição. III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo ente federativo. (Redação da EC 103/2019) Aqui, é importante falarmos um pouco da Emenda Constitucional 88/2015, promulgada em 7/5/2015, também chamada jocosamente de "Pec da Bengala". A Emenda alterou a redação do art. 40, § 1º, inciso II (acima destacado), da Constituição e introduziu o artigo 100 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, assegurando, desde logo, a aposentadoria compulsória aos 75 anos de idade para Ministros do STF, de Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União: ADCT - art. 100: Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição Federal. Afinal, a Emenda estendeu a aposentadoria "expulsória" para todos os servidores públicos ou não? Essa Emenda Constitucional teve as seguintes consequências: (i) Estendeu, de imediato, a possibilidade ( não é obrigatoriedade) para os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União, de se aposentarem não mais aos 70 mas aos 75 anos; ou seja, se quiserem se aposentar antes, podem, desde que preencham os requisitos para aposentadoria do artigo 40 da CF; chegandoaos 75, serão compulsoriamente aposentados. (ii) Abriu a possibilidade para que os demais servidores públicos e magistrados não abrangidos pelo art. 100 do ADCT (dos tribunais regionais e tribunais dos estados) possam se aposentar aos 75 anos de idade, desde que Lei Complementar, de iniciativa do Presidente da República e aprovada pelo Congresso Nacional, estabeleça essa regra; ou seja, se você é servidor, somente após a edição dessa Lei Complementar, e se ela abranger a sua carreira, poderá continuar trabalhando após os 70 anos. (iii) A interpretação da expressão " nas condições do art. 52 da Constituição Federal " do art. 100 do ADCT que permanecia uma incógnita, foi resolvida pelo Supremo . Para o STF, a necessidade de nova sabatina perante o Senado Federal violação à separação dos poderes (CF, art. 60, §4º, III). Significa ultraje à independência e à imparcialidade do Poder Judiciário. Nesse sentido, declarou a inconstitucionalidade da expressão "nas condições do art. 52 da Constituição Federal" do artigo 100 do ADCT. Com relação ao sentido da expressão "lei complementar" na nova redação do art. 40, §1º, II, da CF, assentou que com relação aos membros do Poder Judiciário, há necessidade de lei complementar de iniciativa do STF (Art. 93, VI, da CF). Assentou ainda a invalidade de leis estaduais que disponham sobre aposentadoria de magistrados ( ADI 5.316-MC, rel. min. Luiz Fux, j. 21-5-2015, Plenário). Boa parte da doutrina já entendia essa sabatina como teratológica e desnecessária, uma vez que o art. 52, III, "a", da Constituição Federal, refere- se à necessidade de aprovar previamente, por voto secreto e arguição pública, a escolha dos membros do STF, TCU e outros Tribunais Superiores e não para simples extensão de mandato dos Ministros. Decorre disso tudo, que tanto a Lei Complementar que se destina a regular a aposentação aos 75 anos de magistrados (de iniciativa do STF), quanto a Lei Complementar destinada a regular a situação dos demais servidores públicos, seriam necessárias para dar eficácia aos dispositivos constitucionais em comento (art. 40, §1º, II e art. 100, do ADCT), configurando-as como normas constitucionais de eficácia limitada. Referida Lei Complementar foi aprovada pelo Congresso Nacional. É a Lei Complementar 152, de 3 de dezembro de 2015, que alterou a idade da aposentadoria por limite de idade, com proventos proporcionais, para 75 anos, na forma prevista no art. 40, § 1º, II, da CF/1988, para todos os servidores públicos da União, Estados, DF e Municípios, de todos os Poderes, e cujo art. 2º assim dispôs: Art. 2º Serão aposentados compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade: I – os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações; II – os membros do Poder Judiciário; III – os membros do Ministério Público; IV – os membros das Defensorias Públicas; V – os membros dos Tribunais e dos Conselhos de Contas. Parágrafo único. Aos servidores do Serviço Exterior Brasileiro, regidos pela Lei nº 11.440, de 29 de dezembro de 2006, o disposto neste artigo será aplicado progressivamente à razão de 1 (um) ano adicional de limite para aposentadoria compulsória ao fim de cada 2 (dois) anos, a partir da vigência desta Lei Complementar, até o limite de 75 (setenta e cinco) anos previsto no caput. Apenas para os servidores no exterior (missões diplomáticas, p. ex.), a idade para aposentadoria compulsória será estendida de forma gradual. Aqui temos um pequeno conflito com o que foi decidido no âmbito da ADI 5.316-MC, pois para o STF apenas Lei de iniciativa do Supremo poderia dispor sobre as novos limites de aposentadoria dos demais membros do Poder Judiciário. Mas lembre-se de que as leis já nascem com presunção de constitucionalidade, portanto, a nova Lei Complementar só poderia ser atacada, se fosse o caso, em sede ação direta de inconstitucionalidade, no âmbito abstrato ou concentrado, pelo vício forma de iniciativa quanto à aposentadoria dos magistrados. Lembre-se também de que a Emenda Constitucional 88/2015 somente havia estendido o limite de aposentadoria (75 anos) para os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União. Outro possível questionamento quanto à constitucionalidade da LC 152/2015, também de natureza formal, diz respeito ao vício de iniciativa. Isso porque, como você sabe, compete privativamente ao Presidente da República a iniciativa de projeto de lei que verse sobre regime jurídico dos servidores da União e Territórios, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria: Art. 61.... § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: ............ II - disponham sobre: ...................... c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; A Lei Complementar 152/2015 teve iniciativa parlamentar (no Senado Federal) e mesmo tendo sido vetada pelo Presidente da República por inconstitucionalidade formal quanto ao vício de iniciativa, teve o veto derrubado no Congresso Nacional e a LC foi promulgada como está. Desse modo, até que a LC seja considerada inconstitucional em sede de controle abstrato ou revogada por outra lei, a aposentadoria compulsória no serviço público para os servidores civis agora tem como limite os 75 anos de idade. STF: "Não se aplica a aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF (70 ou 75 anos) aos titulares de serventias judiciais não estatizadas, desde que não sejam ocupantes de cargo público efetivo e não recebam remuneração proveniente dos cofres públicos" (RE 647.827, rel. min. Gilmar Mendes, julg. 15/2/2017, Plenário) STF: "Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de provimento efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para fins de nomeação a cargo em comissão" (RE 786.540, rel. min. Dias Toffoli, julg. 15/12/2016, Plenário) A Emenda Constitucional 20/1998 aboliu a aposentadoria integral no serviço público. Pelas regras atuais, o servidor irá se aposentar voluntariamente com base nos 80% maiores salários de contribuição, na forma da lei, observadas as regras do art. 40, parágrafo § 1º, com a redação da EC 103/2019 (PEC da Previdência), que também remete à lei federal a forma de cálculo da aposentadoria: Art. 40...... ......... § 1º. O servidor abrangido por regime próprio de previdência social será aposentado: (Redação da EC 103/2019) I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo; (Redação da EC 103/2019) II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998) b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo ente federativo. (Redação da EC 103/2019) § 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão da pensão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) § 2º. Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação da EC 103/2019) § 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão, serão consideradas as remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) § 3º. As regras para cálculo de proventos de aposentadoria serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação da EC 103/2019) § 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005) I portadores de deficiência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005) II que exerçam atividades de risco; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005) III cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005) § 4º. É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios em regime próprio de previdência social, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação da EC 103/2019) § 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar. (Incluído pela EC 103/2019) § 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela EC 103/2019) § 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação. (Incluído pela EC 103/2019) O § 5º do art. 40, com a redação da EC 103/2019 (PEC da Previdência), estabelece a redução da idade mínima para o cargo de professor, desde que comprovem tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar da União, Estados, DF ou Municípios: Art. 40..... § 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, "a", para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio. § 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da aplicação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar do respectivo ente federativo. (Redação da EC 103/2019) O § 7º do art. 40 também sofreu mudança significativa com a EC 103/2019 (PEC da Previdência), remetendo o cálculo da pensão por morte para a lei do respectivo ente federativo, garantido o valor correspondente ao salário mínimo, conforme o Regime Geral de Previdência (art. 201, § 2º, CF) e caso se trate da única fonte de renda formal auferida pelo dependente: Art. 40.... § 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por morte, que será igual: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em atividade na data do óbito. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) § 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se tratar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o benefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação da EC 103/2019) I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo de contribuição; (Redação da EC 103/2019) II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. (Redação da EC 103/2019) Art. 201.... § 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. O § 8º, do art. 40, não foi modificado pela EC 103/2019: Art. 40........ .... § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação da EC 41/2003) A contagem do tempo de contribuição federal, estadual e municipal foi mantida pela EC 103/2019, que incluiu o Distrito Federal, e a observância da contagem de tempo recíproca prevista no art. 201, §§ 9º e § 9º-A: Art. 40.... § 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou municipal serácontado para efeito de aposentadoria e o tempo de serviço correspondente para efeito de disponibilidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) § 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço correspondente será contado para fins de disponibilidade. Veja o art. 201, § 9º e § 9º-A da Constituição: Art. 201.... § 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei. § 9º Para fins de aposentadoria, será assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição entre o Regime Geral de Previdência Social e os regimes próprios de previdência social, e destes entre si, observada a compensação financeira, de acordo com os critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 9º-A. O tempo de serviço militar exercido nas atividades de que tratam os arts. 42, 142 e 143 e o tempo de contribuição ao Regime Geral de Previdência Social ou a regime próprio de previdência social terão contagem recíproca para fins de inativação militar ou aposentadoria, e a compensação financeira será devida entre as receitas de contribuição referentes aos militares e as receitas de contribuição aos demais regimes. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) A EC 103/2019 remeteu agora à lei complementar a disciplina sobre a cobertura de benefícios excepcionais, como acidente de trabalho, a ser atendido pelo Regime Geral e pelo setor privado (art. 40, § 10): Art. 40..... § 10. Lei disciplinará a cobertura do risco de acidente do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo regime geral de previdência social e pelo setor privado. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) § 10. Lei complementar poderá disciplinar a cobertura de benefícios não programados, inclusive os decorrentes de acidente do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo Regime Geral de Previdência Social e pelo setor privado. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Os §§ 10 e 11 foram mantidos pela EC 103/2019, a qual no entanto modificou a disciplina do §12 e do § 13, para aplicar o regime geral de Previdência também aos detentores de cargo eletivo: Art. 40...... § 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) § 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) § 12 - Além do disposto neste artigo, o regime de previdência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados para o regime geral de previdência social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) § 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em regime próprio de previdência social, no que couber, os requisitos e critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 13 - Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regime geral de previdência social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Uma regra importantíssima relativa ao regime próprio de aposentadoria diz respeito à possibilidade de a União os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo (lembre-se que os servidores de livre nomeação e exoneração vinculam-se ao regime geral!), poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo (RGPS), o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201. Já o § 15, com a redação dada pela EC 103/2019, determina que o regime de previdência complementar de que trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos participantes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida. Contribuição definida consiste no compromisso de contribuir com determinado percentual mínimo, que no serviço público federal, por exemplo, é de 11%. Regime de Previdência Complementar A EC 103/2019 modificou ainda os §§ 14 e 15 do art. 40, para instituir a obrigatoriedade da instituição do regime de previdência complementar dos servidores da União, Estados, DF e municípios, cujos planos poderão ser oferecidos por entidade fechada de previdência complementar ou de entidade aberta de previdência complementar: Art. 40..... § 14 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime de previdência complementar para servidores públicos ocupantes de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias e das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos participantes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) § 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribuição definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) E isso, na verdade, já aconteceu, inclusive no âmbito da União! a Lei 12.618/2012 criou a Funpresp - Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal, que instituiu o regime de previdência complementar para os servidores da União que ingressaram no serviço público a partir de então, e aqueles quejá eram servidores e assim desejarem optar. Portanto, haverá duas categorias de servidores públicos, aqueles com a aposentadoria pelas regras antigas e os que vão aderir ao fundo. A lei trouxe a limitação das aposentadorias dos servidores públicos federais até o teto do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), previsto no § 14 do art. 40. Para os servidores que ganham acima desse valor, a complementação das aposentadorias será realizada por meio desse Fundo, para a qual será destinada a contribuição paritária do servidor e da União até o limite previsto na lei do que excede o teto do RGPS. Os defensores da nova sistemática de complementação das aposentadorias argumentam que em 20 anos o déficit atuarial do Regime Especial de Previdência dos Servidores estaria zerado, reduzindo o "rombo" gerado anualmente no orçamento da seguridade social, o que faz sentido, pois com uma régua atuarial bem gerida é possível que o sistema passe a gerar mesmo superávits, a exemplos de outros fundos de previdência complementar existentes. Quando um servidor público federal sujeito as novas regras se aposentar, ele receberá, no máximo, o teto previsto em lei (R$ 5.189,80 - 2016). Para garantir um valor equivalente ao salário que tem na ativa, a aposentadoria do servidor será complementada pela fundação de previdência complementar relativa ao poder para o qual trabalha. Os parágrafos 16 e 17 do art. 40 não foram modificados pela EC 103/2019: Art. 40.... § 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos § § 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previdência complementar. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) § 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) Significa dizer que se você entrou no serviço público até a data de instituição do Funpresp, por exemplo, poderá optar voluntariamente pela adesão ao fundo ou permanecer na regra geral. Aqueles que entraram no serviço público federal após a Lei 12.618/2012, já estão automaticamente inseridos na sistemática dos §§ 14 e 15 do art. 40. Abono de Permanência O §19 do art. 40 traz a regra do chamado abono de permanência, que é um benefício concedido ao servidor que permanece trabalhando após ter cumprido todos os requisitos para aposentadoria voluntária não proporcional ao tempo de contribuição. Os §§ 18 e 21 tratam da cobrança da contribuição previdenciária sobre os proventos de aposentados e pensionistas servidores públicos que ultrapassarem o teto do Regime Geral de Previdência, com a modificação da EC 103/2019, que afastou a obrigatoriedade do abono de permanência: Art. 40.......... § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) § 19. O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigências para aposentadoria voluntária estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em atividade fará jus a um abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária até completar as exigências para aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) § 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que tenha completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição previdenciária, até completar a idade para aposentadoria compulsória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 20. Fica vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social para os servidores titulares de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora do respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) § 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora desse regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsáveis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o § 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá apenas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de pensão que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for portador de doença incapacitante. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)(Revogado pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (Vigência) (Vide Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 21. (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Na prática, o servidor fica dispensado de pagar a contribuição previdenciária até que complete as exigências para a aposentadoria compulsória, carinhosamente chamada de "expulsória". Portanto, na verdade, não se trata de um abono propriamente dito, mas uma suspensão de recolhimento de contribuição previdenciária. A jurisprudência do STF concluiu que, uma vez preenchidos os requisitos para o recebimento do abono de permanência, esse direito não pode estar condicionado a outra exigência. (RE 648.727 AgR, rel. min. Roberto Barroso, julg. 2/6/2017) A ocupação de novo cargo dentro da estrutura do Poder Judiciário, pelo titular do abono de permanência, não implica a cessação do benefício ( MS 33.424, rel. min. Marco Aurélio, julg. 28/3/2017) A EC 103/2019 incluiu ainda o § 22 no art. 40, que veda a instituição de novos regimes próprios de previdência dos servidores públicos: § 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de previdência social, lei complementar federal estabelecerá, para os que já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos, sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos recursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) V - condições para instituição do fundo com finalidade previdenciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recursos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) VI - mecanismos de equacionamento do deficit atuarial; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) VII - estruturação do órgão ou entidadegestora do regime, observados os princípios relacionados com governança, controle interno e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamente, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Além disso tudo, é importante que você saiba que em se tratando de Regime Próprio estadual, distrital ou municipal, as alíquotas cobradas para o seu financiamento não poderão ser inferiores às cobradas pela União, nos termos do art. 149, § 1º, da Constituição, amplamente modificado pela EC 103/2019 (Pec da Previdência): Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. § 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, de sistemas de previdência e assistência social. § 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União. § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições para custeio de regime próprio de previdência social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 1º-A. Quando houver deficit atuarial, a contribuição ordinária dos aposentados e pensionistas poderá incidir sobre o valor dos proventos de aposentadoria e de pensões que supere o salário-mínimo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 1º-B. Demonstrada a insuficiência da medida prevista no § 1º-A para equacionar o deficit atuarial, é facultada a instituição de contribuição extraordinária, no âmbito da União, dos servidores públicos ativos, dos aposentados e dos pensionistas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 1º-C. A contribuição extraordinária de que trata o § 1º-B deverá ser instituída simultaneamente com outras medidas para equacionamento do deficit e vigorará por período determinado, contado da data de sua instituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Devem, assim, contribuir para o Regime Próprio: I - o Ente Federativo; II - os servidores ativos; III - os servidores inativos e pensionistas, apenas em relação ao valor do provento que ultrapassar o teto das aposentadorias do Regime Geral (RGPS), para que haja isonomia com os trabalhadores da iniciativa privada, para os quais o art. 195, II estabelece (com a redação da EC 103/2019): Art. 195 - A Seguridade Social será financiada (...) II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) O art. 4º da EC 103/2019 estabeleceu ainda as regras para aposentadoria dos servidores públicos: Art. 4º O servidor público federal que tenha ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se voluntariamente quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 56 (cinquenta e seis) anos de idade, se mulher, e 61 (sessenta e um) anos de idade, se homem, observado o disposto no § 1º; II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; III - 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público; IV - 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que se der a aposentadoria; e V - somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, equivalente a 86 (oitenta e seis) pontos, se mulher, e 96 (noventa e seis) pontos, se homem, observado o disposto nos §§ 2º e 3º. § 1º A partir de 1º de janeiro de 2022, a idade mínima a que se refere o inciso I do caput será de 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se homem. § 2º A partir de 1º de janeiro de 2020, a pontuação a que se refere o inciso V do caput será acrescida a cada ano de 1 (um) ponto, até atingir o limite de 100 (cem) pontos, se mulher, e de 105 (cento e cinco) pontos, se homem. § 3º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se referem o inciso V do caput e o § 2º. § 4º Para o titular do cargo de professor que comprovar exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, os requisitos de idade e de tempo de contribuição de que tratam os incisos I e II do caput serão: I - 51 (cinquenta e um) anos de idade, se mulher, e 56 (cinquenta e seis) anos de idade, se homem; II - 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, se mulher, e 30 (trinta) anos de contribuição, se homem; e III - 52 (cinquenta e dois) anos de idade, se mulher, e 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se homem, a partir de 1º de janeiro de 2022. § 5º O somatório da idade e do tempo de contribuição de que trata o inciso V do caput para as pessoas a que se refere o § 4º, incluídas as frações, será de 81 (oitenta e um) pontos, se mulher, e 91 (noventa e um) pontos, se homem, aos quais serão acrescidos, a partir de 1º de janeiro de 2020, 1 (um) ponto a cada ano, até atingir o limite de 92 (noventa e dois) pontos, se mulher, e de 100 (cem) pontos, se homem. § 6º Os proventos das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo corresponderão: I - à totalidade da remuneração do servidor público no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, observado o disposto no § 8º, para o servidor público que tenha ingressado no serviço público em cargo efetivo até 31 de dezembro de 2003 e que não tenha feito a opção de que trata o § 16 do art. 40 da Constituição Federal, desde que tenha, no mínimo, 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, ou, para os titulares do cargo de professor de que trata o § 4º, 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem; II - ao valor apurado na forma da lei, para o servidor público não contemplado no inciso I. § 7º Os proventos das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo não serão inferiores ao valor a que se refere o § 2º do art. 201 da Constituição Federal e serão reajustados: I - de acordo com o disposto no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, se cumpridos os requisitos previstos no inciso I do § 6º; ou II - nos termos estabelecidos para o Regime Geral de Previdência Social, na hipótese prevista no inciso II do § 6º. § 8º Considera-se remuneração do servidor público no cargoefetivo, para fins de cálculo dos proventos de aposentadoria com fundamento no disposto no inciso I do § 6º ou no inciso I do § 2º do art. 20, o valor constituído pelo subsídio, pelo vencimento e pelas vantagens pecuniárias permanentes do cargo, estabelecidos em lei, acrescidos dos adicionais de caráter individual e das vantagens pessoais permanentes, observados os seguintes critérios: I - se o cargo estiver sujeito a variações na carga horária, o valor das rubricas que refletem essa variação integrará o cálculo do valor da remuneração do servidor público no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria, considerando-se a média aritmética simples dessa carga horária proporcional ao número de anos completos de recebimento e contribuição, contínuos ou intercalados, em relação ao tempo total exigido para a aposentadoria; II - se as vantagens pecuniárias permanentes forem variáveis por estarem vinculadas a indicadores de desempenho, produtividade ou situação similar, o valor dessas vantagens integrará o cálculo da remuneração do servidor público no cargo efetivo mediante a aplicação, sobre o valor atual de referência das vantagens pecuniárias permanentes variáveis, da média aritmética simples do indicador, proporcional ao número de anos completos de recebimento e de respectiva contribuição, contínuos ou intercalados, em relação ao tempo total exigido para a aposentadoria ou, se inferior, ao tempo total de percepção da vantagem. § 9º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de previdência social. § 10. Estende-se o disposto no § 9º às normas sobre aposentadoria de servidores públicos incompatíveis com a redação atribuída por esta Emenda Constitucional aos §§ 4º, 4º-A, 4º-B e 4º-C do art. 40 da Constituição Federal. O art. 10 estabeleceu uma regra de transição para os servidores federais, até que entre em vigor a Lei que discipline o Regime Próprio de Previdência da União: Art. 10. Até que entre em vigor lei federal que discipline os benefícios do regime próprio de previdência social dos servidores da União, aplica-se o disposto neste artigo. § 1º Os servidores públicos federais serão aposentados: I - voluntariamente, observados, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem; e b) 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, desde que cumprido o tempo mínimo de 10 (dez) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria; II - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que estiverem investidos, quando insuscetíveis de readaptação, hipótese em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da aposentadoria; ou III - compulsoriamente, na forma do disposto no inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal. Para os servidores do Regime Geral de Previdência (que aderiram ao FUNPRESP, por exemplo), o regime é o do art. 20: Art. 20. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se voluntariamente quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem; II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; III - para os servidores públicos, 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que se der a aposentadoria; Estabilidade dos Servidores Públicos Dispõe o art. 41 da CF: Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração proporcional ao tempo de serviço. § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo. § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade. Para a aquisição da estabilidade é necessário atender, cumulativamente, a aos seguintes requisitos: I - aprovação em concurso público; II - nomeação para cargo público efetivo; III - três anos de efetivo exercício do cargo; IV - avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade. Essa avaliação especial de desempenho é feita com base no acompanhamento feito durante o estágio probatório do servidor. Esse acompanhamento é feito pelo chefe imediato do servidor, devendo ser observado o devido processo legal e a ampla defesa quanto às avaliações negativas. Nesse sentido, o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e do Supremo Tribunal Federal: "Determinando a Instrução Normativa 10, de 14/09/1994, que o servidor em estágio probatório deve ser avaliado por seu chefe imediato, é irregular avaliação procedida pelo superior imediato [do chefe]. 2. O estágio probatório do servidor público não autoriza sua exoneração por insuficiência de desempenho profissional sem a observância do devido processo legal, já que deve ser facultada a ampla defesa quanto às avaliações negativas". (AMS 1997.34.00.014588-3/DF, Rel. Desembargador Federal Antônio Sávio de Oliveira Chaves, Primeira Turma, DJ p.4 de 01/10/2007). Ainda segundo o STF, servidor efetivo, ainda que em estágio probatório, não pode ser exonerado ex officio, com base em decreto que extingue o cargo: "O servidor público ocupante de cargo efetivo, ainda que em estágio probatório, não pode ser exonerado ad nutum, com base em decreto que declara a desnecessidade do cargo, sob pena de ofensa à garantia do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Incidência da Súmula 21 do STF" ( ARE 878.278, Relatora: Min. Cármen Lúcia, julgado em 03/04/2015). A esse respeito, extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro cargo (art. 41, § 3º, CF). Entretanto, a avaliação especial de desempenho destinada à atribuição da estabilidade ao servidor é feita por comissão instituída para essa finalidade, nos termos do art. 41, §4º, da CF. Com relação a este ponto (estágio probatório) apesar de o prazo não estar explícito na Constituição, vale a pena discutirmos. Desde 2009 está relativamente assentada a questão do estágio probatório no âmbito do STJ, em decorrência do julgamento do MS 12.523, conforme se depreende do informativo daquele Tribunal: Depois de algumas idas e vindas legislativas, a Terceira Seção do Superior Tribunalde Justiça (STJ) definiu: com a Emenda Constitucional (EC) n. 19/1998, o prazo do estágio probatório dos servidores públicos é de três anos. A mudança no texto do artigo 41 da Constituição Federal instituiu o prazo de três anos para o alcance da estabilidade, o que, no entender dos ministros, não pode ser dissociado do período de estágio probatório. O novo posicionamento, unânime, baseou-se em voto do ministro Felix Fischer, relator do mandado de segurança que rediscutiu a questão no STJ. O ministro Fischer verificou que a alteração do prazo para a aquisição da estabilidade repercutiu sim no prazo do estágio probatório. Isso porque esse período seria a sede apropriada para avaliar a viabilidade ou não da estabilização do servidor público mediante critérios de aptidão, eficiência e capacidade, verificáveis no efetivo exercício do cargo. Perguntinha: a Constituição assegura a estabilidade sindical ao servidor em estágio probatório? Lembre-se que a estabilidade sindical está prevista no art. 8º, inciso VIII, da CF: Art. 8º.......... VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. Agora guarde que os empregados públicos de empresas estatais - empresas públicas e sociedades de economia mista - ingressam nos quadros dessas empresas mediante concurso público, por força do art. 37, II, da Constituição, independentemente de serem ou não prestadoras de serviço público, como por exemplo os Correios. Entretanto, não gozam da estabilidade conferida somente aos servidores públicos de cargo efetivo (art. 41, CF). Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. Entretanto, o Supremo já se pronunciou no sentido de que a demissão dos empregados públicos, apesar de não estáveis, deve ser devidamente motivada: "I - Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao advento da EC nº 19/1998. Precedentes. II - Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a admissão por concurso publico, a dispensa do empregado de empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam serviços públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios, observados no momento daquela admissão, sejam também respeitados por ocasião da dispensa. III - A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de uma possível quebra do postulado da impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de demitir" (RE 589.998, rel. min. Ricardo Lewandowski, julg. em 20/3/2013). No julgamento dos embargos desse julgado, foi aprovada a seguinte tese de repercussão geral e a dispensa de processo administrativo para a demissão: Tema 131 - Despedida imotivada de empregados de Empresa Pública: Os empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da Constituição Federal, mas sua dispensa deve ser motivada. (...) Não se pode exigir, em especial, instauração de processo administrativo ou a abertura de prévio contraditório (RE 589.998-ED, rel. min. Roberto Barroso, julg. em 10/10/2018). Bem, o Supremo Tribunal Federal, em jurisprudência bem sedimentada, assentou que conquanto haja estendido ao servidor público o exercício de prerrogativas próprias do empregado regido pelo direito comum do trabalho, incluindo a de liberdade de associação sindical (art. 37, VI, CF), a Constituição cuidou de estabelecer limitações a que o exercício de tais direitos não entre em choque com as vigas mestras do regime administrativo que preside as relações funcionais, entre essas, a relativa à estabilidade sindical do art. 8º, VIII, que importaria a supressão do estágio probatório, a que estão sujeitos todos os servidores. Desse modo, para o Supremo (e para a sua prova), a condição de dirigente ou representante sindical não impede a exoneração do servidor público estatutário, regularmente reprovado em estágio probatório. A estabilidade sindical não alcança nem mesmo o servidor público regido por regime especial, ocupante de cargo em comissão de livre nomeação e exoneração e que, concomitantemente, exerça cargo de direção no sindicato da categoria, pois poderá ser exonerado ad nutum. Agora deixa eu lhe fazer uma outra pergunta que o CESPE já fez: o servidor público federal tem direito de retornar a cargo federal anterior, mesmo após o estágio probatório de novo cargo assumido? Instado a se manifestar diversas vezes sobre o assunto, o Supremo firmou posição no sentido de que somente enquanto estiver no estágio probatório do novo cargo, o servidor poderá ser reconduzido ao cargo anterior, se assim desejar. Além disso, não poderá ter pedido exoneração do cargo anterior, mas sim vacância para posse em cargo inacumulável. Por exemplo, vamos supor que você, Auditor Federal de Controle Interno da CGU, área de correição, cansado do marasmo do PAD e outras sindicâncias, resolve fazer concurso para a Polícia Federal e agregar emoção à sua vida profissional. Após algumas operações especiais, em que você atua agora do lado do perigo, com apreensão de drogas, troca de tiros e tudo o mais que você sonhou, você acha que sua vida é preciosa, está correndo riscos demasiados e deseja voltar à tranquilidade. Caso já se tenham passados os três anos, ou seja, o seu estágio probatório na Polícia já se completou, não poderá mais voltar ao cargo de auditor. Resultado: vai continuar fazendo operações especiais, ou pedir para realizar serviços internos. Mas lembre-se: Você precisa ser estável no cargo de origem, no caso Auditor da CGU, para poder retornar. Quanto à perda do cargo do servidor estável, ela poderá ocorrer em quatro hipóteses (§ 1º do art. 41 e art. 169, § 4º): I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa; IV – uma outra hipótese de perda do cargo pelo servidor estável, que nem todos se lembram, é a do art. 169, § 4º, o qual prevê a possibilidade de o servidor estável vir a perder o cargo, em virtude de ultrapassagem do limite com despesa de pessoal previsto em lei complementar. Nesse caso, não sendo suficientes as providências para retorno aos limites previstas no § 3º do art. 169, o servidor estável poderá vir a perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. Art. 169......... ......... § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes providências: I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de confiança; II - exoneração dos servidores não estáveis. § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. O servidor que perder o cargo dessa forma fará jus a indenizaçãocorrespondente a um mês de remuneração por ano de serviço (art. 169, § 5º, CF). Além disso, o cargo objeto da redução será considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos, na forma do § 6º, do art. 169: Art. 169...... § 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo anterior fará jus a indenização correspondente a um mês de remuneração por ano de serviço. § 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anteriores será considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos. § 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obedecidas na efetivação do disposto no § 4º. Conforme o § 7º acima, o dispositivo do § 4º é norma de eficácia limitada, cuja exequibilidade é condicionada à edição da lei federal. O art. 247 das Disposições Constitucionais Gerais, incluído pela EC 19/1998, estabelece que na hipótese de insuficiência de desempenho, a perda do cargo de servidor público estável que, em decorrência das atribuições de seu cargo efetivo, desenvolva atividades exclusivas de Estado, deverá ocorrer por processo administrativo, com critérios e garantias especiais para a perda do cargo. Na realidade, a perda do cargo de todo e qualquer servidor estável dependerá de processo administrativo em que sejam assegurados a ampla defesa e o contraditório: Art. 247. As leis previstas no inciso III do § 1º do art. 41 e no § 7º do art. 169 estabelecerão critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor público estável que, em decorrência das atribuições de seu cargo efetivo, desenvolva atividades exclusivas de Estado. Parágrafo único. Na hipótese de insuficiência de desempenho, a perda do cargo somente ocorrerá mediante processo administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa. PAD - Processo Administrativo Disciplinar Quanto ao processo administrativo disciplinar, visto em detalhes na disciplina de Direito Administrativo, cumpre lembrarmos a Súmula Vinculante 5/STF: "A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição". A validade dessa súmula foi reafirmada pelo STF em 30 de novembro de 2016, coma rejeição do pedido de cancelamento da Súmula feito pelo ainda em 2008 pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, pedido esse recebido como mera petição e que foi reautuado em 2011 como "Proposta de Súmula Vinculante 58 - PSV 58, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julg. 30/11/2016", após a regulamentação legal da proposta de edição, revisão e cancelamento de Súmulas. O Conselho argumentava que não havia reiteradas decisões sobre o tema e não seria possível aceitar que um leigo, sem conhecimento do processo em sua complexidade (prescrição, juiz natural, devido processo legal, contraditório e ampla defesa), possa ser incumbido de manejar ingredientes tão complicados de modo a promover um trabalho que seja minimamente eficiente e à altura dos postulados constitucionais. A Súmula, quando editada, assegurou e confirmou a legalidade da demissão de 1.711 servidores públicos que responderam a PAD. O Relator do feito considerou que o mero descontentamento ou divergência quanto ao conteúdo do verbete vinculante não propicia a reabertura das discussões sobre tema já debatido à exaustão pelo STF. Ressaltou ainda que para admitir-sea revisão ou o cancelamento de súmula vinculante, é necessário que seja evidenciada a superação da jurisprudência da Suprema Corte no trato da matéria, que haja alteração legislativa quanto ao tema ou, ainda, modificação substantiva de contexto político, econômico ou social, o que não ocorreu na espécie. (CESPE/AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE EXTERNO/TCU/2009) Atualmente, em razão de decisão do Supremo Tribunal Federal, a União, os estados, o Distrito Federal (DF) e os municípios devem instituir, no âmbito de suas competências, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. CERTO. De início, você deve guardar que o fim do regime jurídico único, ocorrido com a edição da EC 19/98, foi revogado pelo STF, com efeitos ex nunc, ou seja, da decisão do Supremo para a frente. A redação do art. 39, revogada pelo STF era a seguinte: “ Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes.” Assim, retorna a redação anterior do art. 39, que estabelece o regime jurídico único no âmbito de cada ente da Federação: “ Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.” Isso significa que cada Estado, Município e a União deverão editar regime jurídico próprio, que abrangerá os servidores de todos os Poderes do Ente Federativo. (CESPE/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/MPE ES/2010) É vedada a filiação ao RGPS, na qualidade de segurado obrigatório, de pessoa participante de regime próprio de previdência, ainda que servidor ocupante exclusivamente de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. ERRADO. O regime de aposentadoria dos servidores ocupantes de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração são filiados obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social. Mas cuidado! Se a questão vier dizendo em servidores ocupantes de cargo de confiança declarado em lei de livre nomeação e exoneração, lembre-se que tais cargos são ocupados exclusivamente por servidores de cargo efetivo. Assim, neste caso, tais servidores são, naturalmente, filiados ao Regime Especial de Previdência.