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Base nacional comum curricular e as lutas Marcelo Moreira Antunes Descrição A contextualização documental e metodológica das lutas no ambiente escolar. Propósito A difusão das artes marciais, de seus processos educacionais e morais, figura na escola sob a denominação de “lutas”. A BNCC é o documento normativo que atribui às disciplinas da educação básica o conteúdo mínimo a ser aplicado nacionalmente. Portanto, é de suma importância o conhecimento das diretrizes da BNCC e das propostas didáticas de ensino das lutas na escola, a fim de oportunizar sua inserção nas aulas de Educação Física. Objetivos Módulo 1 Lutas disposto pelo documento da BNCC 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 1/52 Analisar criticamente o conteúdo referente às lutas disposto pelo documento da BNCC. Módulo 2 Lutas nas aulas de Educação Física Identificar possibilidades metodológicas do conteúdo das lutas nas aulas de Educação Física. Introdução As artes marciais ao longo do tempo passaram por diferentes construções, muitas das quais exigiram ressignificação. Artes e sistemas combativos que não se adequaram às novas demandas sociais foram extintos ou assimilados aos conhecimentos de outras modalidades. As mudanças de paradigmas dentro das artes marciais fizeram com que seus significados, dentre eles, o educacional, fossem valorizados e estimulados no trato com essas práticas. A escola apresenta-se como o ambiente formal para a construção dos processos de ensino-aprendizagem, tendo sido nesse ambiente que o caráter educacional das artes marciais floresceu e se tornou tema de importantes discussões que permeiam o seu papel como conteúdo e temática. Conteúdo esse que deve ser inserido na área da Educação Física, disciplina responsável por apresentar aos discentes as práticas corporais no ambiente escolar. Os documentos relacionados à área da Educação Física na escola denominam “lutas” o conteúdo referente às artes marciais nesse espaço, atribuindo aquisições que transitam desde aspectos motores até comportamentais. Diferentes iniciativas documentais propuseram as lutas como conteúdo da Educação Física escolar, no entanto, a falta de especificidade e referências à prática proporcionada por essas tentativas resultou em 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 2/52 discordâncias metodológicas em sua aplicação, as quais são influenciadas pela formação docente diante do conteúdo lutas em si e as abordagens a serem utilizadas. Todo esse debate disperso cria barreiras na inserção das lutas nas aulas de Educação Física por parte dos professores, que se apegam a conceitos midiáticos sobre essas artes, vide a necessidade da formação pelas escolas de ofício e a associação da prática de lutas com posturas violentas, em uma clara e infundada réplica da fala popular. Assim, veremos ao longo do texto como o documento de referência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dispõe o conteúdo lutas na Educação Física escolar. Neste material, analisaremos as dificuldades de aplicação do conteúdo na escola pelos professores de Educação Física e como as diferentes metodologias estudadas atualmente por pesquisadores que se dedicam à didática dessas artes podem contribuir com a prática docente, tanto de professores especialistas quanto não especialistas em artes marciais. 1 - Lutas disposto pelo documento da BNCC Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar criticamente o conteúdo referente às lutas disposto pelo documento da BNCC. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 3/52 O documento BNCC O processo de ressignificação das artes marciais, para além da defesa pessoal, possibilitou que essas artes transitassem por outros espaços de conhecimento, sendo a escola o ambiente formal na construção de conhecimento relacionado à educação. No entanto, a inserção do conteúdo sob a denominação “lutas” foi atrelada à gama de conhecimentos relacionados à área da Educação Física. O vasto conteúdo proposto pela BNCC quanto às lutas na disciplina espera do docente um conhecimento que, na maioria das vezes, não corresponde à realidade de sua formação, tampouco lhe dá subsídios para a sua aplicação quando pensamos na defasada realidade das escolas brasileiras. A inserção do conteúdo lutas nas aulas de Educação Física já havia sido proposta quando da criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. No ano de 2017, o documento proposto como Base Nacional Comum Curricular (BNCC) inseriu novamente o conteúdo nas atribuições da Educação Física. Entretanto, mesmo com uma descrição pormenorizada dos objetivos a serem alcançados, pareceu não contemplar a problemática referente à inserção e aos métodos de aplicação das lutas na escola – principalmente, por professores não especialistas em artes marciais –, e muito menos cumprir o objetivo de auxiliar os docentes na construção do material a ser abordado nas aulas. Entenda melhor, a seguir: A insegurança na aplicação do conteúdo “lutas” nas aulas de Educação Física é um dos motivos relatados que levam à não inserção desse conteúdo. Essa atitude nega aos alunos conhecimentos atrelados a essas práticas. Conhecimentos esses que estão além dos quesitos motores, sendo também históricos, filosóficos e culturais. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 4/52 Dentre os problemas mais incidentes nos diferentes estudos diagnósticos a essa postura docente, aponta-se a própria formação deficitária ao longo da graduação. O professor, por vezes, foi instruído de maneira superficial em seu período como universitário na disciplina correspondente às lutas (com diferentes denominações de acordo com a instituição). Muitas instituições, inclusive, ainda utilizam o método das escolas de ofício, ou seja, o puro replicar do conteúdo técnico e tático de uma modalidade específica voltada à construção de lutadores. Essa forma de ensinar contribui muito pouco para a formação, tanto do aluno na escola quanto do docente em sua construção de crítico e gestor dos conteúdos no ambiente escolar. Apesar de o aluno ser apresentado como o centro do processo de ensino-aprendizagem, é através do professor que o conteúdo se replica. Logo, para além de conhecer as atribuições e os objetivos direcionados ao conteúdo “lutas” na escola pelo documento da BNCC, faz-se necessário que o professor saiba analisá- lo criticamente, a ponto de adaptá-lo à sua realidade, não excluindo o conteúdo de seu plano de ensino, mas, sim, buscando conhecimento sobre as metodologias que cercam esse universo. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo, o qual foi publicado no ano de 2017, tendo surgido como resposta às constantes solicitações de diferentes profissionais da educação quanto à necessidade de um currículo mínimo a ser aplicado e utilizado nacionalmente, ao menos, na educação básica. Portanto, esse documento institui o conteúdo a ser aplicado nacionalmente em todas as escolas de educação básica brasileiras. A BNCC detém força de lei por expressar diretrizes educacionais previstas na própria Constituição Brasileira, a qual, para além de delegar a gestão do ensino básico às instituições governamentais, a partir da Lei de Diretrizes Bases (LDB), instituiu a necessidade de conteúdos mínimos a serem trabalhados na educação básica nacional. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 5/52 Na Constituição, alega-se que a educação é direito de todos e que é de comum responsabilidade da União, dos estados e municípios a promoção dascompetências e das diretrizes da educação básica. Um ponto interessante referente aos objetivos da BNCC é a promoção de competências, as quais têm por finalidade a formação integral do aluno. Em diferentes países, a promoção do conceito de competências já é utilizada, ao passo que alunos, além de memorização acrítica dos conteúdos, devem desenvolver o “saber fazer”, sendo este um dos importantes fundamentos pedagógicos do presente documento. Constituída sobre os pilares da igualdade, diversidade e equidade, a BNCC busca estipular caminhos para que, através da educação, a sociedade torne-se mais justa e igualitária. Igualdade Apesar de previsto em lei, o conceito de igualdade apresenta-se para além da área legal, sendo perceptível na esfera social através da ausência de oportunidades para diferentes gêneros e raças constituintes da população brasileira. Diversidade O conceito de diversidade é o cerne da identidade brasileira, considerando o grande número de descendentes, que variam de europeus a indígenas, dentre as mais diferentes miscigenações. O conceito de diversidade, por sua vez, não abrange apenas as diferentes raças, mas também os credos, a opção sexual e o direcionamento político, os quais devem fazer parte das 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 6/52 discussões em ambientes de educação formal, principalmente, aqueles de formação intelectual dos estudantes de período destinado à educação básica. Equidade O conceito de equidade pressupõe o respeito às diferenças no próprio processo educacional, oportunizando, a partir das características particulares dos educandos, diferentes caminhos e métodos para que sejam capazes de usufruir de uma educação integral. A construção da BNCC, apesar de proporcionar grande avanço sob as carências da educação básica brasileira, levantou diferentes questionamentos quanto aos conteúdos e à forma com que são dispostos. Conteúdos esses que, por vezes, são apresentados de forma vaga, ou sequer mencionados, tornando seus objetivos, até então plausíveis, em caminhos dificultosos, transformando o documento, que em seu cerne possui força de lei, em pauta para questionamentos sobre sua estrutura. Atenção! Apesar da importância histórica que pode e deve ser atrelada à BNCC, vê-se que a realidade escolar – estrutura física e didática da escola, assim como formação acadêmica de seus docentes – é um fator a ser considerado na promoção dos objetivos dispostos nas diferentes disciplinas componentes da base. A BNCC em formato didático estrutura seu conteúdo por etapas de aprendizagem e respectivas áreas de conhecimento, atribuindo fazeres e objetivos específicos. A base divide-se em três etapas referentes às três fases da educação básica: 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 7/52 Educação infantil Ensino fundamental 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 8/52 Ensino médio A educação infantil na BNCC As diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil propõem como eixos pedagógicos estruturantes dessa fase as interações e as brincadeiras. Reconhece-se na literatura a importância do ato de brincar para a criança, atividade que, ainda de acordo com os documentos basilares da educação brasileira, é responsável por criar as primeiras interações sociais com o mundo que cerca a criança. Nessa fase, serão geridas as primeiras descobertas, frustrações e vitórias referentes às aprendizagens física, cognitiva e afetivas. Portanto, é fundamental o estabelecimento de diretrizes educacionais nessa faixa etária. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 9/52 Na primeira etapa da base, está a educação infantil. No entanto, até meados da década de 1980, essa fase educacional, que abarcava crianças com idade de 0 a 6 anos, denominava-se pré-escola, subentendendo, nesse primeiro momento, a não inserção de seus conteúdos como componentes da educação básica. A partir do ano de 1996, com a criação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), inseriu-se no âmbito da educação básica, abrangendo então crianças de 0 a 5 anos de idade, objetivos educacionais previstos em lei. Na BNCC, para além da aplicação de conteúdos, o documento estipula eixos estruturantes dessa fase, os quais remetem às interações e às brincadeiras, características fundamentais da formação infantil, como já apresentado. A criação desses eixos tem por objetivo possibilitar condições de aprendizagem infantil através do desafio e da resolução, os quais remetem a 6 direitos fundamentais dessa fase e que se apresentaram como norteadores na construção dos conteúdos. Tais direitos apresentam-se através dos seguintes eixos: conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. Conviver Este primeiro eixo estruturante apresentado visa colaborar por meio da socialização com outras crianças e adultos com o respeito às diferenças, no que tange às pessoas e às suas diferentes culturas e costumes. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 10/52 Brincar Tem por objetivo estimular seu acesso a diferentes conhecimentos, interagindo e construindo os seus próprios, através da imaginação e da criatividade promovidas pelo ambiente do brincar em diferentes espaços físicos e âmbitos sociais. Participar Refere-se à construção por parte da criança, que não apenas participa das atividades, mas também influencia na construção destas através de sua opinião, estimulando a criticidade em relação aos conteúdos que lhe dizem respeito. Explorar É a ampliação do horizonte infantil, construindo, por meio de práticas de gestos, sons, formas e outras maneiras de interação, saberes sobre cultura, arte, ciências e tecnologia. Expressar-se Pode ser apresentado como habilidade a ser adquirida através e ao longo do processo educacional. Isso porque é por meio desse eixo que a criança informa aos que com ela interagem sobre suas alegrias e frustrações, assim como defende as diferentes maneiras de fazê-lo. Conhecer-se É f ã d id tid d d i l 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 11/52 Os direitos referentes à criança dispostos na educação infantil são basilares na constituição de 5 campos apresentados pela BNCC: O eu, o outro e o nós Corpo, gestos e movimentos Traços, sons, cores e formas Escuta, fala, pensamento e imaginação Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Esses campos se utilizam de experiências práticas, provindas do cotidiano infantil, na formulação e no direcionamento dos objetivos de aprendizagem. Cada campo foi criado a partir do reconhecimento das necessidades educacionais consideradas fundamentais para a fase de formação, unidas às experiências cotidianas do educando. O eu, o outro e o nós Onde a criança poderá aprender e exercitar sua habilidade em relacionar-se. Campo em que será possível compreender os diferentes posicionamentos de crianças e adultos em É a formação da identidade da criança, a qual ultrapassa a identidade moral, sendo também física, cognitiva e cultural, onde, a partir de suas experiências com e no mundo, suas preferências são cultivadas tendo como ponto de partida seu entendimento sobre os diferentes acontecimentos a que é exposta, influenciando e sendo influenciada. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 12/52 diferentes situaçõese interagir a partir das experiências adquiridas até então e, assim, estimular a reflexão e a criação de novas posturas. Logo, é possível a valorização e o reconhecimento de sua própria identidade, bem como a compreensão e o discernimento da diferença em relação ao outro.LOREM_IPSUM Corpo, gestos e movimento Dá vida à característica física relacionada às fases do desenvolvimento infantil. Nesse momento, o corpo é o principal instrumento de interação e conhecimento do mundo e de si mesmo. Portanto, através de vivências físicas, o educando reconhecerá potencialidades e limitações, bem como perigos físicos, e estimulará suas habilidades motoras no correr, no pular, no equilibrar-se etc. Traços, sons, cores e formas Visam estimular, através das diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, a sensibilidade da criança para com o mundo que a cerca. Mundo esse que possui cores, músicas e texturas das mais diversas, que estimularão na criança o gosto pelo criar. A experimentação dessas variadas sensações, para além da formação cognitiva e intelectual do educando, promove diferentes formas de interação com aqueles que participam do seu círculo de convivência. Escuta, fala, pensamento e imaginação Neste campo, o estímulo à oralidade e à comunicação escrita serão enfatizados. Todos somos expostos a diferentes modos de comunicação em nosso cotidiano, os quais também são compartilhados com a criança. Nessa fase, através da leitura de livros, é possível oportunizar aos educandos os primeiros contatos com a comunicação literária, estimulando ainda o contar de suas próprias histórias, assim como é necessário o estímulo, ainda na forma de rabiscos, para o registro de sua oralidade através da forma escrita da comunicação. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 13/52 Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Diz respeito ao posicionamento social e temporal da criança para com o mundo que a cerca. Relações de parentesco, quantificação de fenômenos, localização no tempo, como o hoje e o amanhã, assim como os próprios fenômenos, serão contextualizados a partir de experiências promovidas às crianças. Crianças essas que trazem as experiências vividas no dia a dia, sendo papel da escola oportunizá-las e educá-las de maneira formal para a utilização desses signos junto a seus pares. Os eixos estruturantes (BRASIL, 2017, p. 38) e os campos de experiência da educação infantil (BRASIL, 2017, p. 40) são pormenorizados no documento de referência, recomendando-se, portanto, sua leitura na íntegra. O ensino fundamental na BNCC Na segunda etapa descrita pela BNCC, encontramos o ensino fundamental. Essa fase não apenas corresponde à maior etapa em anos referente à educação básica (9 anos), atendendo crianças de 6 a 14 anos de idade, como também é reconhecida pelas transições mais 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 14/52 expressivas sofridas por crianças e jovens em seus aspectos físicos, cognitivos e sociais. Ao ensino fundamental, atribui-se o papel de consolidar conhecimentos anteriores e proporcionar novas habilidades, subdividindo-se em anos iniciais, correspondendo às séries remanescentes da transição com a educação infantil e anos finais, os quais viabilizarão a transição ao ensino médio. No ensino fundamental, serão apresentadas diferentes áreas do conhecimento, com conteúdos particulares em formato de matérias. Vejamos: Composta pelas disciplinas de Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e, nos anos finais do ensino fundamental, juntam-se a essas a disciplina de Língua Inglesa. Dentre os objetivos dessa grande área de conhecimento, está a promoção da diversidade de linguagens, assim como o explorar das capacidades artísticas dos alunos, além de contribuir para a continuidade das experiências vividas na educação infantil (BRASIL, 2017, p. 63) Manifesta-se em suas diferentes representações através da Geometria, Aritmética, Estatística e Probabilidades, possibilitando aos alunos a compreensão de esquemas, gráficos e tabelas, sendo sua utilidade e compreensão de fundamental importância na sociedade, ultrapassando a barreira da quantificação de fenômenos (BRASIL, 2017, p. 235). Compreendendo nossa sociedade como altamente inserida em aspectos científicos e tecnológicos, a partir da importância dada a essas nos diferentes grupos da sociedade, preparar o aluno para discussões desses aspectos se faz fundamental. A área propõe-se ao “letramento científico”, não apenas A ÁREA DE LINGUAGENS A ÁREA DE MATEMÁTICA A ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 15/52 compreendendo, mas também influenciando diferentes fenômenos naturais, sociais e tecnológicos (BRASIL, 2017, p. 321). Composta pelas disciplinas de Geografia e História, detém o papel de proporcionar aos alunos elementos de interpretação da(s) realidade(s) na sociedade, situando-os em diferentes momentos históricos, quanto ao tempo e ao espaço de seus desdobramentos. Estimula-se a capacidade de contextualização das ações humanas sobre fatos e lugares (BRASIL, 2017, p. 353). Oferecida como matéria obrigatória, porém, de matrícula facultativa, o Ensino Religioso consolidou-se como área de conhecimento do ensino fundamental a partir das Resoluções nº 04/2010 e nº 07/2010 do Conselho Nacional De Educação (CNE). Tem em seu cerne as atribuições de promover a diversidade religiosa, distanciando-se do caráter confessional atribuído a esta anteriormente aos anos de 1980 (BRASIL, 2017, p. 435). O ensino médio na BNCC A fase de transição da juventude para a idade adulta é abordada e valorizada na formulação do documento BNCC, assim como a preocupação com as necessidades formativas dessa faixa etária. Dentre os objetivos do ensino médio, está o cultivar cidadãos protagonistas de seu processo educacional, os quais sejam capazes de gerir seus projetos de vida, sejam esses voltados ao estudo ou ao trabalho. A ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS A ÁREA DE ENSINO RELIGIOSO No ensino médio, as disciplinas a serem abordadas dentro dos respectivos anos letivos são elencadas l BNCC t é d di ti ã d tê i 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 16/52 Visando proporcionar um modelo flexível, adequado às próprias mudanças sociais que arrebatam os jovens dessa faixa etária, a Lei nº 13.415/2017 alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), definindo que o currículo do ensino médio seria direcionado pela BNCC, através de itinerários formativos, atribuindo competências dentro das seguintes áreas de conhecimento: pela BNCC através de distinção de competências a serem promovidas aos estudantes. Cada qual possui seu conteúdo específico, sendo algumas delas propostas de maneira interligada, compreendendo que, na análise de fenômenos sociais e naturais, é necessária a articulação de diferentes áreas do conhecimento. Competências específicas de Linguagens e Tecnologias e em Língua Portuguesa Competências específicas de Matemática e suas Tecnologias Competências específicas em Ciências da Natureza e suas Tecnologias Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais aplicadas 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 17/52 Todas essas competências devem ser atreladas a habilidades correspondentes às áreas. Articulando-se com as aprendizagens promovidas ao longo do ensino fundamental, o ensino médio articula essa transição a fim de consolidar, aprofundar e ampliar a formação integral dosalunos. Entenda melhor como isso acontece, a seguir: Assim, tomando por base a área de Linguagens no ensino fundamental, a qual objetiva basicamente o conhecimento e a compreensão das diferentes Linguagens; para o ensino médio, a denominada área de Linguagens e Tecnologia visa proporcionar ao educando autonomia sobre os processos, inclusive como autor dessas práticas. Essa transição de aumento da autonomia também é verificada nos objetivos da área de Matemática e suas Tecnologias para o ensino médio, visto que, no ensino fundamental, a área de Matemática centrava-se na compreensão de conceitos e procedimentos; no ensino médio, o aluno, para além de consolidar os conhecimentos anteriores, deve ser capaz de articular a Matemática a outras ciências, através de uma visão mais integral. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 18/52 Na área de Ciências da Natureza, ao longo do ensino fundamental, os estudantes são ensinados a investigar e a explorar diferentes fenômenos, seus fundamentos e seus conceitos basilares. No entanto, para o ensino médio, a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias objetiva prover aos estudantes não apenas a capacidade de explorar e interagir com os fenômenos, mas também de fazer previsões, modificando-as, refletindo e argumentando em escala coletiva e global. Por fim, no ensino médio, a área denominada Ciências Humanas e suas Tecnologias consolida os conhecimentos das Ciências Humanas proporcionadas pelo ensino fundamental, como a capacidade de analisar, identificar, comparar e interpretar ideias e pensamentos, seus e de outros. No entanto, com a inserção da Filosofia e da Sociologia, através do estudo de pensadores, de suas teorias e de suas intervenções sociais, amplia- se o embasamento teórico. Nesse cenário, os alunos são estimulados a maior poder de t ã i fl ê i b t 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 19/52 O ensino médio, além de garantir a consolidação dos conteúdos aprendidos no processo educacional, visa preparar o aluno para a fase adulta. Para além mercado profissional, busca torná-lo crítico sobre as rápidas mudanças sociais e tecnológicas a que influencia e é influenciado. A educação física na BNCC O documento em questão atribui à Educação Física um papel fundamental na construção social do aluno. Para além da atividade motora, a BNCC vislumbra que, através das práticas corporais, serão promovidas experiências de cunho educativo e social. A Educação Física é inserida à área de Linguagens na BNCC, e a ela são atribuídas 6 unidades temáticas, as quais se articulam ao longo do ensino fundamental. São as seguintes: Brincadeiras e jogos Esportes - Esportes de marca, esportes de precisão, esportes técnico-combinatórios, esportes de rede/quadra dividida ou parede de rebote, esportes de campo e taco, esportes de invasão ou territorial e esportes de combate. Ginásticas - Ginástica geral, ginástica de condicionamento físico e ginástica de conscientização corporal. Danças - Danças urbanas e danças de salão. Lutas - Lutas do Brasil e lutas do mundo. argumentação e influência sobre assuntos que tangenciam a nossa sociedade. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 20/52 Práticas corporais de aventura - Práticas corporais de aventura urbanas e práticas corporais de aventura na natureza. As respectivas unidades temáticas citadas acima devem se interligar a fim de proporcionar uma relação global e crítica ao aluno em sua relação para com o corpo e o mundo que o cerca. Essa interligação deve privilegiar, de acordo com a BNCC, 8 dimensões do conhecimento: Apesar de propor diferentes dimensões do conhecimento e objetivos específicos a se alcançar na Educação Física para o ensino Experimentação Uso e apropriação Fruição Reflexão sobre a ação Construção de valores Análise Compreensão Protagonismo comunitário 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 21/52 fundamental, a BNCC não é tão clara quanto aos conteúdos direcionados à educação infantil e ao ensino médio, ao passo que as especificações são vagas e subjetivas. Esse é um ponto de constante discussão acadêmica, visto que o documento de referência na elaboração dos currículos escolares não propõe conteúdo para os anos iniciais da vida escolar na infância e se apresenta de forma superficial para os últimos anos da educação básica (ensino médio). Saiba mais O ensino médio é direcionado à geração de competências, dentre as quais a Educação Física, unida às áreas de Arte e Línguas, deve contemplar 3 das 7 competências elencadas, especificamente, as habilidades 4, 5 e 6, as quais podem ser lidas de forma pormenorizada no documento (BRASIL, 2017, p. 490). No ensino médio, deveria haver uma descrição mais clara e objetiva dos conteúdos a serem trabalhados pela Educação Física. Isso também ocorre em relação à educação infantil, na qual, de acordo com o próprio documento, o ato de brincar é um ato formativo, que deve ser feito através de práticas, em sua maioria, físicas. Dito isso, não propor conteúdos objetivos à fase direcionada à educação infantil é uma grande falha. A BNCC, apesar de ser louvada por diferentes autores como primeiro passo para a implementação de um currículo unificado para a educação básica brasileira, recebe duras críticas quanto ao engessamento dos conteúdos. Situação essa que reduz o protagonismo do professor enquanto produtor de conteúdo no processo de ensino. Outro ponto em relação à lista de conteúdos a serem abordados diz respeito à própria formação docente. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 22/52 Muitas das solicitações de conteúdo dispostas como necessárias na BNCC, vide as lutas e as danças, por diversas vezes, são negligenciadas no próprio currículo do curso de nível superior em Educação Física, algo corriqueiro em diferentes instituições de ensino. Quando não ausentes, possuem informações pouco úteis na formação do arcabouço teórico necessário a ministrar o conteúdo e alcançar os objetivos propostos para tal. AS lutas na BNCC Diferentes documentos referentes à Educação Física escolar alocam as lutas como conteúdo de domínio da disciplina. Como visto, o termo “lutas” refere-se às artes marciais no contexto escolar. Apesar de não contemplar todo o universo referente às práticas de combate em seus aspectos históricos e técnicos, sua inserção nos documentos basilares da Educação Física é um grande avanço. Comentário Estudos que tratam das atividades combativas apontam a existência de uma distinção na atribuição da nomenclatura das lutas. É possível encontrar na literatura especializada os termos “lutas”, “esportes de combate”, “modalidades esportivas de combate”, “artes marciais”, dentre outros. Apesar de os termos muitas vezes serem apresentados de forma genérica, suas denominações ainda geram grande discussão nos estudos na área. O termo “arte marcial” parece abarcar o maior número de assuntos a respeito das publicações da área, uma vez transita pelo conteúdo referente às atividades guerreiras, passando pela defesa pessoal até a filosofia. Apesar disso, no Brasil, o termo “lutas” aparece nos documentos de referência à Educação Física escolar, visto que apenas em nosso país o termo é utilizado, e que, quando traduzido para outros idiomas, descontextualiza-se do universo das artes marciais a que tanto se pretende aludir. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio#23/52 Um dos primeiros documentos a citar as lutas em seu escopo foram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que, no ano de 1998, já propunham os conteúdos a serem abarcados pelo professor, assim como habilidades a serem trabalhadas a partir destas. Em seu texto, explana seu conceito do termo “lutas”: [...] disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. Podem ser citados exemplos de luta as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do Caratê. (BRASIL, 1998, p. 70) Na BNCC, os conteúdos a serem trabalhados pelo professor são mais específicos. Além de acordar com as habilidades referentes às lutas 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 24/52 dispostas pelos PCNs, a base insere conteúdos (objetos de conhecimento) como “lutas brasileiras” e “lutas do mundo”. A lutas são dispostas na base em duas unidades temáticas. A primeira que leva o nome “lutas”, e a segunda na unidade temática “esportes” ao falar de lutas esportivas, ou esportes de combate, tendo o último como objeto de conhecimento. Assim, na unidade temática “lutas”, os objetos de conhecimento a serem abordados de acordo com a BNCC em referência à fase escolar são assim apresentados: 1º e 2º anos do ensino fundamental – Não há. 3º ao 5º anos do ensino fundamental – Lutas no contexto comunitário regional. Lutas de matriz indígena e africana. 6º e 7º anos do ensino fundamental – Lutas do Brasil. 8º e 9º anos – Lutas do mundo. Essa solicitação, de tão vasto e específico conteúdo, desde a criação do documento, sofre críticas em relação à realidade díspar que se encontra na Educação Física escolar brasileira. Em grande parte das escolas, a disciplina de Educação Física é ministrada com apenas um tempo de aula por semana, o qual, muitas das vezes, pelo próprio direcionamento da instituição escolar, possui uma tendência esportivista, voltada à detecção de talentos esportivos, abordando de forma superficial (ou simplesmente não abordando) os diferentes conteúdos de domínio da área de lutas. Há de se observar a ausência na previsão de conteúdos para as lutas na educação infantil e nos 1º e 2º anos do ensino fundamental, postura essa que priva as respectivas faixas etárias de vivências culturais e motoras acerca desses saberes e práticas. Mesmo com diferentes publicações e literatura específica que apresentam os benefícios da prática de lutas nas fases iniciais de desenvolvimento infantil, tal conteúdo não é elencado pela BNCC. Outro ponto de questionamento das lutas como conteúdo diz respeito à formação universitária do professor para tal. Simplesmente descrever os conteúdos a serem ministrados é subentender que esses mesmos conteúdos são de seu domínio. A seguir, entenda mais alguns pontos de questionamentos: 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 25/52 A unidade temática “lutas” na BNCC tem como finalidade ser aquela que apresenta ao educando as diferentes formas de disputas corporais, empregando técnicas, táticas e estratégias de imobilização, desequilíbrio, visando, através de ações combinadas de ataque e defesa, A realidade da disciplina de lutas na universidade é tão escassa quanto a sua aplicação no ambiente escolar. A falta de cabedal teórico por parte dos professores não os transmite confiança na elaboração de aulas e utilização de técnicas que contemplem necessidades impostas pela BNCC. O que se vê por vezes na universidade e que se reproduz no ambiente escolar é a promoção das ditas “escolas de ofício”, onde professores (especialistas ou não em alguma modalidade de artes marciais) limitam-se à reprodução de golpes e gestos motores específicos de determinada modalidade. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 26/52 atingir ou retirar o oponente de determinado espaço físico. O documento recomenda ainda que se abordem lutas nacionais, vide a capoeira e a luta marajoara, assim como lutas provindas de realidade internacional, vide o boxe chinês e o judô. As primeiras são designadas no documento como “lutas brasileiras”, enquanto as seguintes como “lutas no mundo”. Atente-se que, tanto os PCNs quanto a BNCC, não sinalizam a necessidade de especialização do professor em modalidade alguma. No entanto, a quantidade de conteúdo requerido para que o docente de fato possa ser capacitado a ministrar com qualidade a disciplina de lutas na escola deve ser proposta e ensinada na universidade. Assim como o conteúdo de responsabilidade da Educação Física na escola é vasto e o tempo de aula disponível escasso, o extenso conteúdo o qual deveria ser abordado no ensino superior sobre lutas requer maior tempo para abarcar a complexidade de reflexão exigida pelo currículo proposto pela BNCC. Outro ponto referente às lutas na escola são os seus conceitos prévios por parte de docentes, pais e dirigentes escolares. Um dos mais comuns preconceitos relacionados à temática é a falácia acerca da violência gerada pela prática de determinadas modalidades. Explorada sob o pretexto de esporte, grande parte da informação sobre as lutas e a sua violência é disponibilizada pela mídia e é nesse contexto midiático que o seu conteúdo, para além de informar, possui objetivo de consumo. Para tal, as informações são transformadas em produtos midiáticos, preenchidos de conceitos construídos para despertar sentimentos nos consumidores, sendo assim a grande fonte de informação de pais, alunos e, muitas vezes, docentes. Apesar de a literatura especializada ser concisa ao afirmar que a luta (artes marciais) não promove a violência entre seus praticantes, a falta de instrução sobre o assunto nos integrantes do processo cria mais uma barreira à inserção das lutas na escola, a qual soma-se à falta de equipamento, ao espaço e ao interesse dos alunos. A inserção das lutas no conteúdo da Educação Física e, consequentemente, nos documentos oficiais, foi indubitavelmente um grande avanço. No entanto, a entrega de resultados se encontra em risco a partir de tantas variáveis intervenientes que se apresentam no processo. Processo esse que se inicia na transposição da construção documental utópica para o “chão da quadra”, na prática da Educação Física escolar. A falta de inserção do conteúdo lutas nas aulas de 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 27/52 Educação Física é a prova da necessidade de fomento da inter-relação governo-universidade-escola. As lutas na escola e a BNCC O mestre Luiz Felipe Machado Pinto realiza apontamentos sobre os conteúdos elencados nas lutas, durante as aulas de Educação Física, de acordo com as solicitações da BNCC. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Na BNCC, diferentes conteúdos são apresentados às diferentes disciplinas componentes do sistema escolar brasileiro, que divide seus conteúdos de acordo com as respectivas fases de aprendizado, sendo elas: educação infantil, ensino médio e ensino fundamental. Esse último possui uma carga maior de conteúdos, considerando seu tempo maior de duração (9 anos). A base divide seus conhecimentos e suas disciplinas a partir de áreas. Sobre esse aspecto, podemos afirmar que a Educação Física se encontra na área de: A Ciências da Natureza, visto que engloba diferentes aspectos da relação do homem com o meio através do movimento. Sendoo movimento parte dos diferentes processos da natureza, a Educação Física faz-se presente como formadora do componente crítico dos educados em relação ao meio que vivem. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 28/52 Parabéns! A alternativa B está correta. Na BNCC, alocar conhecimentos afins a partir de áreas foi feito tanto para o ensino fundamental quanto para o ensino médio. A Educação Física, atrelada a mesma área que a Língua Portuguesa e a Arte, apenas reforça o caráter de comunicação que o estudo do movimento possui. Questão 2 Apesar de a manutenção da unidade temática lutas na Educação Física pela BNCC ser um grande adendo aos educandos, este B Linguagens, onde, junto à Língua Portuguesa e à Arte, visam corroborar para a formação do educando em seus aspectos artísticos e culturais. Sendo, para a Educação Física, o movimento sua ferramenta de comunicação através do corpo. C Ciências Humanas, visto que a Educação Física contemporânea visa humanizar os processos de interação entre os pares na sociedade. Uma formação humanista através do movimento é de suma importância no que tange à formação do cidadão. D Matemática, visto que, com o aumento do interesse da Educação Física pela quantificação dos processos envoltos na performance humana, é de suma importância o conhecimento das relações estatísticas e percentuais do movimento humano. E Ensino Religioso, juntamente à área de lutas, é uma das áreas de maior discussão no meio escolar. Diferentes lutas foram criadas a partir de contextos religiosos, os quais foram atribuídos a circunstâncias históricas. Assim, a inserção da Educação Física vai de encontro às questões de culto ao corpo. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 29/52 apresenta-se diante de diferentes questionamentos por parte de educadores, relativos a problemas que não apenas acontecem na escola, mas também antes dela. Problemas esses que se transformam em barreiras para a inserção dos conteúdos previstos pela BNCC no ambiente escolar. Dentre os problemas apresentados no texto, podemos citar: Parabéns! A alternativa C está correta. A A falta de professores faixas-pretas nas escolas é um dos grandes problemas enfrentados para se desenvolver as modalidades neste ambiente. Visto a falta de prática desses profissionais, é comum a não aplicação nas aulas de Educação Física. B A relação das escolas com as federações de artes marciais ainda é frágil, visto que as instituições que regem o determinado esporte de combate não autorizam a prática de lutas na escola. C A instrução deficitária do docente durante sua formação universitária sobre lutas, assim como a falta de infraestrutura das escolas para a aplicação de diferentes jogos de luta causa insegurança na inserção do conteúdo. D A falta de tatames e quimonos para que os alunos possam praticar a modalidade é um impeditivo constante na inserção de modalidades de luta no ambiente escolar, além da falta de faixas e outros atributos indispensáveis. E O documento BNCC é claro ao solicitar que professores de lutas na escola devem possuir a dupla formação, sendo esses faixas-pretas e professores de Educação Física. Assim, os gestores escolares optam por não inserir lutas no conteúdo a fim de reduzir custos. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 30/52 Apesar do conteúdo unificado disposto pela BNCC, sua extensão não condiz com a formação superficial dada durante a graduação aos professores de Educação Física, tampouco com a estrutura deficitária de muitas escolas, que, em muitos casos, sequer possuem quadras de esporte. 2 - Lutas nas aulas de Educação Física Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car possibilidades metodológicas do conteúdo das lutas nas aulas de Educação Física. A herança das escolas de ofício nas artes marciais Agora, vamos abordar as diferentes estratégias dispostas na literatura para a inserção das lutas no ambiente escolar. Vamos refletir sobre as diferentes estratégias aplicadas, não apenas na condução do conteúdo, e analisar como, através dessas, é possível reduzir as barreiras na aplicação do conteúdo. Como visto até então, o conteúdo lutas por si só gera imensa discussão acerca de sua implantação nas escolas. Formação docente deficitária, informações midiáticas imprecisas, apoio da escola ínfimo e conteúdo a ser aplicado que não condiz com a realidade escolar brasileira, em especial, com a Educação Física escolar. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 31/52 Os métodos de ensino das lutas, das artes marciais e dos esportes de combate (LAMEC) possuem tantos desdobramentos que se firmaram como um campo de estudo independente. Dessa forma, na Educação Física, no que diz respeito às LAMEC, há duas grandes áreas que são estudadas comumente por dois vieses: biodinâmico e sociocultural. O viés biodinâmico refere-se a estudos sobre condicionamento, saúde e qualidade de vida na prática das LAMEC, com foco na fisiologia e na biomecânica corporais que alicerçam a prática. Nesses estudos, há ênfase nas análises definidas como quantitativas, onde, através de ciências como a Estatística, por meio de representações numéricas, são apresentados os resultados referentes a mudanças na composição corporal, na força, na velocidade e em outras qualidades e valências físicas que possam ser quantificadas. O viés sociocultural está alicerçado por ciências como Antropologia, Sociologia e Filosofia, de forma que muitas dessas estão relacionadas a métodos de ensino que se baseiam em estudos prévios da didática internacional. Tal viés apresenta seus achados baseados em uma análise qualitativa, utilizando-se, por exemplo, de entrevistas e questionários para analisar as inter-relações sociais, históricas e culturais promovidas pelas LAMEC. Logo, há de se notar que as informações i l t i d d t d Ed ã 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 32/52 Os desafios na construção de métodos e caminhos que deem conta do conteúdo apresentado pela BNCC é longo. Portanto, serão apresentados no decorrer deste material o que a literatura especializada tem como resultados, a fim de contribuir com os métodos de ensino em lutas, e as bases históricas que compõem os métodos de ensino das LAMEC. Atenção! O termo “artes marciais”, diferentemente do termo “lutas”, abarca na literatura não apenas sua inserção no ambiente escolar, mas a construção cultural e técnica de diferentes sistemas combativos que tinham como foco a defesa pessoal. Compreender como essas artes e lutas eram ensinadas é o primeiro passo para a desconstrução dos métodos de ensino. Métodos esses que, passados entre as diferentes gerações, detinham caráter de manutenção hierárquica, com características militaristas, o que em nada contribui para o desenvolvimento integral do aluno. Derivado do artesanato e referido ao “saber fazer”, o termo “escola de ofício” é utilizado para se referir ao método reprodutivista de ensino tradicional das artes marciais. Drigo e outros colaboradores (2011) citam três características das escolas de ofício, as quais possuem estrita relação com as artes marciais e o seu ensino tradicional, além de apresentarem o mesmo peso quanto ao caráter formativo. Vejamos: O aprender fazendo A valorização do mestre nacionalmente oriundas de autores da Educação Física são recentes. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio#33/52 A prática e os estudos formais O aprender fazendo: Pode ser atribuído tanto como método de ensino para alunos quanto para formação de professores, algo que, geralmente, não há distinção. O que muitas das vezes ocorre é a diferenciação do nível de dificuldade técnica ou exigência física entre os mais e menos graduados, os quais se sujeitam a exercícios de condicionamento físico e técnico propostos como progressão pedagógica. No entanto, o método de ensino nas artes marciais volta-se à repetição dos movimentos, que são produzidos pelos mestres e reproduzidos pelos discípulos. Essa metodologia chega ao ambiente escolar, visto que não há uma padronização do método de ensino nas artes marciais, então, o método das escolas de ofício se faz presente na própria instrução aos docentes na universidade. Tal prática não prepara o professor de Educação Física escolar para refletir de maneira crítica sobre a forma de inserir as lutas em seus conteúdos, optando muitas vezes por não ministrar ou repetir parcialmente técnicas da modalidade que dava nome à disciplina referente às lutas em sua formação (Judô 1, Judô 2, Capoeira 1, dentre outras). 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 34/52 A valorização do mestre: Apresenta estrutura ainda patriarcal e militarista das artes marciais. O mestre é o centro do processo, e não o aluno, o que vai na contramão dos mais diversos autores do campo da didática e dos documentos fundantes da educação brasileira. O mestre é o pai da família marcial, o centro do conhecimento e a ele e sua expertise que se intui o bom e o ruim, tanto quando se fala em qualidade técnica quanto em requisitos morais e éticos. Avaliações subjetivas fazem parte das suas funções de docente, coordenador, técnico, pai e conselheiro. Seu poder é atribuído pela graduação, e o respeito a seus méritos reflete-se na coloração de sua faixa (corda, camisa ou outro simbolismo que se refira a seu conhecimento). Essa estrutura militarista e hierárquica, quando reproduzida na escola, causa desconforto não apenas aos alunos, mas também aos demais docentes e pais, visto que o “método” de ensinar apresenta caráter repressor, não proporcionando a criticidade no processo e, portanto, sendo pouco produtivo ao desenvolvimento integral do aluno, o qual necessita de experiências diversas na construção de seu saber. A prática e os estudos formais: Considerando a cultura da oralidade provinda das artes marciais, é de se esperar que o empirismo na aprendizagem das técnicas seja valorizado. Inclusive, a falta de conteúdo teórico e literatura científica de diferentes modalidades contribuem para que a palavra de quem ensina seja promovida como verdade. Como visto, as avaliações do processo de ensino nas LAMEC são baseadas no conhecimento técnico e, poucas vezes, na evolução global. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 35/52 Apesar de seu rico conteúdo filosófico e cultural, mais uma vez, a formação docente não proporciona o aprofundamento sobre essas questões. Assim, o conhecimento ou o reconhecimento da expertise de um artista marcial limita-se ao saber lutar, o que, no campo escolar, é extremamente danoso, pois contribui para a reprodução da fala midiática – apresenta-se como representante informacional do conteúdo das lutas. O desenvolvimento de estudos formais sobre a didática das lutas e sua aproximação com a pedagogia do esporte visam ao desenvolvimento de alternativas de ensino mais contemporâneas, mas que não descaracterizem as artes marciais e os seus ensinamentos. No entanto, o excesso de informações de baixa qualidade e de frágil procedência sobre as LAMEC tendem a criar deturpações conceituais que influenciam os próprios docentes na elaboração de suas aulas. Para além da produção acadêmica, é necessário instruir os profissionais que atuaram na educação formal com as lutas sobre as informações que as cercam e como discerni-las. Compreender o processo de informação dos educandos sobre as lutas e a sua relevância acadêmica é imprescindível para a formação docente. O papel da mídia no ensino das lutas A educação para a mídia e através dela é uma necessidade relatada em diferentes publicações. O alcance promovido pelo conteúdo da 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 36/52 televisão, do rádio, do cinema e de outros meios de mídia faz desta o principal meio de difusão informacional na sociedade contemporânea. Longe de promover um debate sobre a qualidade das informações disponibilizadas pelas diferentes mídias, o fato a ser questionado é o caráter fragmentado dessas informações. Entenda melhor, a seguir: Um dos temas de maior discussão em torno das artes marciais é a violência, e o fato de como essa violência é explorada e vendida cria conceitos a respeito da prática das artes marciais, influenciando negativamente a sociedade. Dessa forma, indo na contramão dos estudos socioculturais acerca dos benefícios de suas práticas, tais quais: Redução no estresse Controle das emoções Inserção social Através da alusão à violência incutida há séculos na criação dos sistemas de combate de maneira descontextualizada, justifica-se a violência como uma característica do esporte. Os atletas são transformados em vendedores, os quais utilizam falas provocativas, violentas e posturas antidesportivas, a fim de despertar a curiosidade do Apesar de vasta, as informações veiculadas como conteúdo midiático não contribuem para a formação de uma concepção sólida sobre tema algum. As lutas, como visto anteriormente, sempre fizeram parte da sociedade em diferentes contextos, inclusive em forma de entretenimento. No entanto, hoje, o alcance de sua informação, os conceitos e as opiniões são globais. A transformação das artes marciais em espetáculo na contemporaneidade trouxe consigo a necessidade de se refletir sobre essas informações e de compreender como a sociedade é impactada diretamente por elas. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 37/52 espectador pelo desfecho. Ao remontar a característica circense já apresentada no Coliseu romano, os promotores desses espetáculos contemporâneos utilizam-se de técnicas de venda e não de análise. Com o intuito de reduzir os impactos desse processo de venda de informações e deturpações, os professores devem ser os principais fomentadores e gestores do conteúdo, apropriando-se, nesse cenário, do espaço formal de conhecimento, a escola, para modificar esse estereótipo. A necessidade de se preparar professores para lidar com as informações da mídia vai de encontro à sua formação para lidar e promover as lutas no ambiente escolar. Sua formação intelectual deve se fazer presente ao analisar de maneira crítica os conteúdos midiáticos e não apenas os absorver como meros espectadores. O papel do educador é fazer com que os alunos sejam críticos diante da informação transmitida, podendo discernir sobre o que é show e o que é realidade. A universidade deve ser o primeiro local de debate sobre as informações em artes marciais, dando ao futuro professor ferramentas para tal. Ter ao menos o conhecimento básico sobre as raízes históricas e culturais das diferentes artes marciais possibilita ao professor o embasamento para refletir e contrastar junto aos alunos as informações midiáticas sobre as lutas. Saiba mais Há de se compreender que, na contemporaneidade, a característica esportiva das artes marciais sofreu mudanças, ao passo que, através do surgimento da modalidade MMA (em sua tradução literal, “Artes Marciais Mistas”), nasceu um esporte de luta com característicasjá espetacularizadas. Diferente da construção histórica de outras 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 38/52 modalidades de combate, as quais têm em sua origem a defesa pessoal e a de território, o MMA é um esporte de mídia, com o intuito de entretenimento e venda, fenômeno este de domínio e estudo das LAMEC. Portanto, deve ser muito discutido em sala de aula. O papel do professor de Educação Física perante a mídia, seja especialista ou não em artes marciais, é o de fomentar diferentes opiniões junto aos educandos, sendo o gestor do processo. Deve ainda, auxiliar os alunos em sua formação crítica, junto aos meios de mídia, em especial, no que diz respeito aos esportes de luta. Seu conhecimento prévio como espectador não deve ser descartado, no entanto, é importante que usufrua de seu conhecimento acadêmico a fim de propor um ambiente de discussão acerca dos conceitos promovidos pela mídia. A realidade sobre os estudos em LAMEC Ao buscar informações pertinentes ao conteúdo relacionado às artes marciais na literatura, é comum encontrarmos grande número de estudos voltados para a performance humana. No entanto, no que se refere ao campo e as suas aplicações na Educação Física escolar, poucos contribuem para a didática do profissional atuante na escola. Na própria Educação Física, há uma relevante discrepância quanto ao número de publicações em relação aos estudos na área biodinâmica e na área sociocultural. Como vimos, a área biodinâmica utiliza conhecimentos de ciências, como a Biologia, a Química, a Fisiologia e a Estatística; já a área sociocultural utiliza de ciências como a Sociologia, a Pedagogia e a Antropologia. O baixo número de publicações nacionais sobre o estudo das artes marciais no ambiente escolar cria a necessidade de se buscar em outras realidades que não a brasileira iniciativas de uma construção didática para as artes marciais. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 39/52 Dessa forma, autores estrangeiros de diferentes áreas do saber são utilizados como embasamento para contextualizar a didática das lutas na escola, o que provoca discussões sobre a adequabilidade desses sistemas, ideias e teorias no Brasil. Os diferentes estudos em LAMEC são direcionados de acordo com os respectivos pesquisadores da área em inter-relação com as demandas de informação e conteúdo propostas pela sociedade. Assim, fenômenos como a esportivização das artes marciais, a profissionalização de seus atores e as lutas espetacularizadas pelo processo midiático promoveram os estudos sobre performance humana, relegando estudos didáticos e pedagógicos sobre o ensino das LAMEC na área escolar. Curiosidade No estudo de Correia e Franchini (2010), os autores realizaram um levantamento do número de publicações após a criação do sistema CONFEF até o ano de 2010. Nesse cenário, verificou-se que, de 2561 estudos, apenas 75 eram sobre LAMEC e somente 10,7% eram voltados a estudos pedagógicos. No estudo de Antunes e outros colaboradores (2017), ao analisarem publicações sobre didática nas artes marciais e esportes de combate subsidiados à área da Educação Física entre os anos de 1997 e 2011, foram encontrados 117 estudos, sendo que apenas 20 se enquadravam em estudos pedagógicos. O baixo número de publicações sobre o tema dificulta a elaboração de material e, consequentemente, a formação profissional para a inserção de lutas na escola. Mesmo ao analisar os estudos propostos como estudos didáticos nas artes marciais, esses se direcionam a uma modalidade específica e aos problemas a serem solucionados dentro de sua realidade prática. Muitos propõem sistematizações ainda sobre uma única prática, a qual se apresenta como um manual ao professor, que, mesmo utilizando diferentes autores da pedagogia do esporte, não alcança o escopo necessário a um método de ensino. Ao produzir esses sistemas ou prover recomendações aos docentes na elaboração dos conteúdos, vemos que em sua maioria são utilizadas as teorias críticas de ensino, o que demonstra esforço por parte dos pesquisadores e profissionais no sentido de não apenas atribuir aspectos tecnicistas às lutas, mas também de promover a reflexão acerca de seus conteúdos. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 40/52 Outra perspectiva interessante é a adoção do contexto histórico e cultural nas aulas de Educação Física em que são inseridas as lutas, considerando o rico acervo disponível sobre os países estrangeiros responsáveis pela sistematização inicial dessas modalidades. Diante disso, os professores apropriam-se dos aspectos da cultura e história local, e contextualizam as práticas junto aos alunos, promovendo ações educacionais de integração para além do ato de lutar. Considerando as dificuldades estruturais e metodológicas presentes na inserção das lutas no ambiente escolar, é importante louvar as iniciativas de pesquisadores e docentes em busca de alternativas para escapar do caráter historicamente tecnicista das escolas de ofício no ensino de artes marciais. São esses profissionais que, a partir de um processo de desconstrução, contribuem para a busca de novas formas de ensinar. Caminhos para o ensino das lutas na escola Vimos até aqui que ainda não há um método que abranja de maneira global o ensino das lutas em ambiente escolar. No entanto, algumas iniciativas promissoras buscam adequar-se à realidade escolar brasileira. Apresentaremos a seguir algumas direções na construção e 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 41/52 na aplicação de conteúdos, no sentido de fomentar o interesse e auxiliar profissionais e futuros profissionais em suas aulas. Dentre as primeiras iniciativas a serem apresentadas, está a ideia de formação continuada. Formação essa que se apresenta como um caminho promissor enquanto perspectiva de melhoria da qualidade de ensino das lutas na escola e de paramentar profissionais especialistas e não especialistas na condução desse processo. A iniciativa parte do pressuposto de que, devido ao grande conteúdo acadêmico necessário à formação do profissional de Educação Física, o tempo para se dedicar à complexidade das artes marciais que fujam do panorama das escolas de ofício é escasso, sendo necessária, portanto, uma formação extraclasse. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 42/52 Ao unir os conhecimentos aprendidos sobre Didática e Pedagogia, o professor deve adaptá-los a diferentes exercícios e atividades para sua realidade escolar. Essa formação pode ser promovida através de cursos de pós-graduação ou de extensão, podendo ser aplicados pelas próprias universidades. Além disso, podem ser ofertadas disciplinas fragmentadas voltadas à pedagogia das lutas, somando-se créditos durante a formação do professor ainda na universidade. A utilização do contexto histórico e cultural das diferentes artes marciais também é apreciado nas iniciativas de inserção das lutas na escola. Inclusive, vai de encontro às solicitações dispostas pela BNCC quanto ao ensino de lutas brasileiras e do mundo. Para tal, é necessário que o profissional elenque as modalidades que irá abordar, a fim de se inteirar previamente sobre tais práticas. Longe de se aprofundar nas diferentes disciplinas marciais, o professor apropria-se momentaneamente desses conteúdos, de forma que possa tratar de assuntos, como diferenças culturais e contexto de criação dos sistemas, momento em que é possível traçar paralelos com a espetacularização midiática das lutas e discutirtemas recorrentes, como a violência. Essa abordagem pode promover ainda atividades conjuntas de diferentes disciplinas, como História, Geografia, Sociologia e Filosofia. A ideia de proporcionar uma educação global passa pela interação entre as diferentes disciplinas as quais serão ministradas aos alunos durante o período escolar. Inclusive, a característica de integração entre teoria escolar e realidade dos alunos é salientada por diversas vezes no próprio documento da BNCC. Formações voltadas às noções de didática e pedagogia das artes marciais dedicam-se não apenas ao conteúdo escolar, mas oportunizam o aprendizado de diferentes maneiras de se abordar o conteúdo lutas. Diversas vezes, essas formações são voltadas a públicos específicos, como o infantil e o infanto-juvenil, o que, dada a proximidade da faixa etária, pode engrandecer o profissional atuante no ambiente escolar. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 43/52 Apesar de não englobar questões históricas e culturais, a utilização de técnicas de diferentes modalidades para o desenvolvimento de valências físicas e habilidades motoras previstas para as respectivas faixas etárias é um caminho possível. Ou seja: Atividades que envolvem elementos como a música, por exemplo a capoeira, podem ser utilizadas para o desenvolvimento do ritmo. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 44/52 Já atividades como o wushu e o taekwondo podem auxiliar no desenvolvimento da força e da flexibilidade. Os jogos são formas de inserção das lutas na escola que podem se referir à ludicidade e atender às necessidades previstas pela BNCC. Jogos de luta podem envolver projeções, desequilíbrio, oposições, domínio do espaço físico e, dentro da proposta do professor, podem ainda desenvolver o trabalho em equipe, através de jogos com características cooperativas. Resumindo As lutas apresentam-se na BNCC não apenas dentro de seu campo específico, mas enquanto modalidade possível no campo dos jogos. Os jogos de luta não precisam deter nomes específicos ou ser criados a partir de modalidades específicas, porém devem utilizar-se de contextos combativos das diferentes lutas, como o espaço físico da roda na capoeira, os rolamentos como estratégia de fuga e deslocamento no judô, a oralização dos golpes do caratê etc. É possível ainda a utilização de um consultor para preencher essa lacuna do ensino das lutas na escola. Apesar de privar o professor da escola de contribuir para seu conhecimento técnico sobre o conteúdo, não privará os discentes. O consultor é, em sua maioria, um professor especialista, o qual não detém o papel de formar novos professores ou atletas de uma modalidade, mas posiciona-se como um estudioso das LAMEC, no sentido de oportunizar os diferentes aspectos históricos, culturais, pedagógicos e motores que circundam essas modalidades, cumprindo, assim, a regulamentação prevista pelos documentos norteadores correspondentes de Educação Física escolar brasileira. Ainda há muito o que se fazer em prol do estudo das LAMEC, dentro e fora do ambiente escolar. O conteúdo das artes marciais é de extrema complexidade para ser compilado no contexto das lutas para o ambiente escolar, em contrapartida, ao buscar suprir as solicitações da BNCC e de seu extenso conteúdo programático, o documento parece não levar em conta a realidade das aulas de Educação Física escolar no Brasil, tampouco a formação do profissional que atuará com tal conteúdo na escola. Diferentes iniciativas demonstram que existe uma possibilidade real de ensinar com qualidade as lutas na escola, no entanto, é necessário esforço conjunto entre professores, pais, gestores da educação e 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 45/52 entidades governamentais, no sentido de se fomentar a aplicação dessa unidade temática. Unidade essa que contribui para além da formação física e intelectual do educando, que o propõe aspectos morais em relação ao mundo, o fazendo crítico às informações transmitidas sobre as lutas e suas práticas. Lutas na escola: possibilidades x di�culdades O mestre Luiz Felipe Machado Pinto realiza apontamentos sobre as demandas das lutas segundo a BNCC e faz propostas de execução destas na realidade escolar brasileira. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Na literatura especializada em artes marciais, diga-se aquelas de caráter acadêmico científico, são comuns questionamentos acerca dos métodos de ensino tidos como tradicionais. Essa maneira de se ministrar os conteúdos é comumente denominada de escolas de ofício. Leia atentamente as alternativas abaixo e assinale a que melhor representa as características dessas escolas. A A técnica e a forma de ensino aludem a um caráter mecânico de reprodução técnica, que propõe pouco ou nenhum espaço para debate ou questionamento. Nesta, o mestre é visto como o detentor do conhecimento, sendo o responsável pela 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 46/52 Parabéns! A alternativa A está correta. As escolas de ofício aludem ao simplório caráter técnico do aprendizado de uma profissão, deixando de fora desse processo elementos que façam não apenas o docente, mas também seus alunos a refletirem e modificarem as práticas. Questão 2 manutenção e ensino do conteúdo relacionado às artes marciais. B Diz respeito à habilidade manual atribuída aos artesãos e que se equipara à habilidade técnica de artistas marciais. Essa relação de habilidade é extrapolada não apenas em habilidades manuais, mas na própria relação para com a confecção de suas armas. C O artesão é aquele, para além de confeccionar, molda suas criações. Nas artes marciais, o mestre é aquele que encaminha seu discípulo aos requisitos técnicos, físicos e filosóficos necessários à sua formação. D As ditas escolas de ofício são aquelas que preparam o futuro professor para ser como seu mestre. Ou seja, ensina-o um ofício, atribuindo durante seu processo educacional conceitos sobre Pedagogia, Didática e outras ciências, a fim de oportunizar sua interação com a sociedade. E No processo de ensino-aprendizagem, as escolas de ofício estão presentes dentre as mais importantes e reconhecidas maneiras de se transmitir conhecimento. Extremamente valorizada no meio acadêmico, é a única maneira apresentada pela literatura para a manutenção dos conhecimentos nas artes marciais. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 47/52 Uma das questões mais recorrentes no estudo das LAMEC é sobre os métodos de ensino. Apesar de não haver ainda um método que abarque a complexidade prevista pela própria historicidade das modalidades, diferentes iniciativas promissoras visam proporcionar uma experiência construtiva na relação das lutas na escola e ao mundo dos estudantes. Dentre elas, podemos citar: A A formação de faixas-pretas pode e deve ser oportunizada pela universidade. Essa, em conjunto com as federações específicas das modalidades, possui a missão institucional de formar seus professores para o mercado de trabalho. B A formação de redes de escolas de ofício é um caminho possível na formação dos professores especialistas e não especialistas de Educação Física. Como visto até então, as escolas de ofício devem ser as principais responsáveis pela manutenção do conhecimento sobre as diferentes modalidades. C A ausência do conteúdo referente às lutas nas aulas de Educação Física se apresenta como uma alternativa de baixo custopara as instituições de ensino, sendo estas estimuladas a obrigar o profissional a especializar-se se assim quiser. D Formação na própria escola é uma iniciativa utilizada em diferentes estados brasileiros, onde a instituição escolar, em contato com as federações de esportes olímpicos, oferece a seus docentes a formação como especialistas para que possam atender às normas da BNCC. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 48/52 Parabéns! A alternativa E está correta. Educação continuada, contratação de consultores e abordagem histórica são algumas das ideias para a construção do conteúdo lutas na escola, visto que o objetivo é proporcionar ao educando uma visão integrada e crítica sobre e através das lutas. Considerações �nais Como visto ao longo do conteúdo, no ano de 2017, foi publicada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento com força de lei que busca atender às demandas de um currículo nacional unificado para a educação básica, por parte de professores e gestores da educação brasileira. Apesar da importância desse documento para unificação dos conteúdos, muito se questiona a sua adequabilidade à realidade brasileira, a qual enfrenta muitos problemas, desde a falta de estrutura física até a formação de seus docentes. Dentre os conteúdos de grande questionamento, encontra-se o campo das lutas, o qual é designado à área do conhecimento Educação Física. As lutas, como são chamadas as artes marciais nos documentos basilares, detêm vasto conteúdo proposto pela BNCC. Apesar de ser um grande adendo a inserção de lutas como unidade temática da Educação Física, com todos seus aspectos morais, motores, históricos e filosóficos, há de se questionar o modo como esses conhecimentos estão sendo transmitidos. Hoje, não há ainda um método de ensino para as lutas que englobe os diversos assuntos correlatos, tampouco que dê conta da diversidade das lutas existentes. As dificuldades de inserção desse conteúdo na E A formação continuada dos professores de Educação física através de cursos de pós-graduação ou extensões promovidas pela própria universidade podem auxiliar docentes na complementação do vasto conteúdo atribuído ao estudo das LAMEC, proporcionando ferramentas para construção de seu conteúdo. 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 49/52 escola se dão pela sua própria ausência nos planos de curso dos docentes – os quais apontam extrema superficialidade em sua formação – além da aplicação do método de escolas de ofício, que reproduzem conteúdo técnico e acrítico, o que em nada soma para a formação dos educandos. Falas em alusão à violência através da prática e midiatização dos conceitos devem ser debatidas em sala de aula, empoderando a escola como instituição de conhecimento formal. Para tal, diferentes e promissoras iniciativas têm colhido bons frutos quanto à melhoria do ensino de lutas na escola. No entanto, a interação entre sociedade e escola se faz constantemente necessária para a evolução desse processo. Podcast Agora, o mestre Luiz Felipe Machado Pinto encerra o tema falando sobre as diferentes iniciativas de ensino que têm sido apresentadas nas escolas, as quais visam ao ensino das lutas de maneira crítica e contextualizada, distanciando-se assim do mecanicismo das escolas de ofício. Explore + Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, recomendamos as seguintes leituras: A Base Nacional Comum Curricular, em especial a seção referente à Educação Física. O livro Aspectos Multidisciplinares das Artes Marciais, de Marcelo Moreira Antunes e Carla Carvalho Iwanaga, publicado em 2014 pela 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 50/52 Editora Paco e Littera. Referências ANTUNES, M. M. et al. Pedagogia das artes marciais e esportes de combate no brasil: um estudo sobre a produção científica nacional. Arquivos em Movimento, v. 13, n. 1, p. 64-77, 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. BNCC. Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1996. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CORREIA, W. R.; FRANCHINI, E. Produção acadêmica em lutas, artes marciais e esportes de combate. Motriz. Journal of Physical Education, UNESP, p. 01-09, 2010. DIAS, E. Arte Marcial: Espetáculo, Esporte e Circo. Curitiba: Editora Appris, 2020. DRIGO, A. J. et al. Artes marciais, formação profissional e escolas de ofício: Análise documental do judô brasileiro. Motricidade, v. 7, n. 4, p. 49-62, 2011. HARNISCH, G. S. et al. As lutas na Educação Física escolar: um ensaio sobre os desafios para sua inserção. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 16, n. 1, p. 179-184, 2018. IWANAGA, C. C.; MARANHÃO NETO, G. A. O papel das artes marciais em condições especiais. In: ANTUNES, M. M.; IWANAGA, C. C. Aspectos Multidisciplinares das Artes Marciais. Jundiaí: Paco Editorial, 2014. Material para download 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 51/52 Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema 07/05/2024, 18:12 Base nacional comum curricular e as lutas https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/02314/index.html?brand=estacio# 52/52 javascript:CriaPDF()