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05/03/2020 Autor Convidado Artigo Governança corporativa 2020: um chamado à simplificação, ao crescimento e à criação de valor Artigo traz desenvolvimento histórico da governança e propõe metas para os conselhos do futuro O momento histórico da criação do IBGC, há 25 anos, confunde-se com o ponto em que praticamente inaugurávamos no Brasil a expressão ‘governança corporativa’. Também tinha início o pensamento empresarial na direção da transparência e da consideração abrangente dos “detentores de participação”, aqui numa tradução insuficiente da expressão em inglês stakeholders, além de iniciativas e divulgações das empresas, algo que desde então não era mais restrito a um grupo seleto e incompleto de acionistas e dirigentes engajados, os insiders. É curioso analisar a composição dos vários foros de administração no contexto anterior e como o mercado de capitais precisava das referências personalizadas, mais do que demonstrações e relatórios concretos sobre como evoluíam os negócios – mas isso talvez seja tema para outra ocasião. Ao longo desse período, a governança e as instituições que a desenvolveram em procedimentos e padrões foram eficientemente respondendo às ondas de requisitos que se sucederam no mundo e no país, principalmente visando esquadrinhar melhor o conteúdo das empresas, a partir de erupções que surpreenderam acionistas, reguladores e a sociedade em geral. Barings, Enron, Arthur Andersen, WorldCom, Parmalat, Madoff, Banco Espírito Santo, Pesquisar… / / / Mappin/Mesbla, OGX, Petrobras, entre vários outros casos que se alternaram numa batalha de gato-e-rato com reguladores e uma busca imperativa por padrões que pudessem impedir os problemas ou ao menos ligar o sinal de alerta com alguma antecipação. Sarbanes-Oxley, Novo Mercado, códigos de entidades associativas, padrões privados e certificações amplas ou parciais – um universo novo se criou pela padronização e requisições de informações às administrações, em paralelo à busca por mecanismos mais eficientes de investigação e punição em casos de descumprimento ou má conduta. A essência desse período foi, portanto, um esforço extremo de propor novos padrões e mecanismos de conformidade em torno deles. Mais complexidade e custo, em troca de mais segurança. E nove entre dez conferências sobre governança corporativa nos últimos anos tiveram compliance entre os principais temas discutidos. E foi também nesse contexto que o perfil legalista-financeiro dominou a composição dos conselhos nas duas décadas mais recentes. Advogados, ex-auditores, financistas de controladoria – esse era ou ainda é – o perfil necessário para atender aos anseios da sociedade, manifestado pela superpadronização institucionalizada. E, intuitivamente, se algum empresário fizesse cara feia, seria silenciosamente percebido como alguém que teria algo a esconder. Considerando esse um esforço benigno e bem-sucedido, permitam-me dizer informalmente: já está bom! Agora vamos entender se não houve um certo desequilíbrio e se a plataforma universal de governança está alinhada com os desafios do amanhã. Adianto que no final dessa análise não virá nenhuma procura por desconto regulamentar, redução da barra de transparência ou conformidade. Mas talvez estejamos desatentos ao olhar abrangente do que compõe a função original dos conselhos e da governança corporativa – incluindo natural e fundamentalmente a conformidade e transparência – que é a preservação do patrimônio líquido e melhoria contínua dos resultados (não apenas lucro) das companhias. O mundo empresarial precisa urgentemente trazer essa função original de volta às prioridades. Após uma síndrome de crescimento desorganizado, com alternância não sustentável entre Brics e G7 e o capital correndo desorganizado de um lado para outro, capitalizando ou descapitalizando empresas, setores ou geografias em nova caça de gato-e-rato, com investidores atrás de crescimento e valor (e valor que aumente rápido, se possível), bolhas e ondas, picos e vales, qual o papel da governança nessa dinâmica específica? A liquidez mundial passou a ser ‘o novo normal’ e ninguém mais sequer tenta enxugá-la monetariamente. Chegaremos em breve aos US$ 20 trilhões de valores mobiliários de longo prazo com juro zero ou negativo e nem isso tem parecido suficiente para proporcionar crescimento saudável e equilibrado no mundo. Talvez valha a pena refletir se as empresas estão aparelhadas para o crescimento e a geração de valor ou se, talvez, teriam esquecido a essência empreendedora, agora exclusiva das startups. Ou os conselhos sabem discutir planos de marketing e expansão, tanto quanto controles e conformidade? Depois de “tomar um sete a um” no início dos anos 2000, teríamos nós enchido nossos times de zagueiros e goleiros? Só que agora não conseguimos mais tirar a bola da área defensiva. Precisamos crescer e as empresas devem ser o motor desse crescimento, acionadas e regidas pela governança corporativa. Precisamos dos realizadores de volta aos conselhos e os conselhos precisam voltar a entender os clientes, fornecedores e competidores, não apenas os reguladores. As pautas da administração podem e devem ser urgentemente reequilibradas, assim como sua composição. Já temos um sinal positivo da resposta da governança aos anseios da sociedade pelo crescimento e valor: o equilíbrio representativo de gênero, uma grande conquista em fase de implantação, haverá de ser também um passo firme na direção de mudar também o status-quo em favor do crescimento e do valor. Que de 2020 a 2030 os conselhos mostrem mais serviço. Que os grupos empresariais observem que agora têm acesso ao capital mais barato da história, de múltiplas fontes, não mais podendo justificar falta de crescimento pelos juros altos ou pela instabilidade política, que é uma normal mundial, mas não pode ser desculpa. Chegou a hora de jogar na área de ataque, ainda que tenhamos que trocar alguns dos muitos goleiros e zagueiros por pontas e atacantes, equilibrando melhor as equipes para o novo cenário. Muito antes do IBGC completar 50 anos, a governança corporativa haverá de ser reconhecida por promover crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), dos lucros, do emprego, da igualdade e da sustentabilidade. Sobre o autor Álvaro Gonçalves Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC. 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