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CIÊNCIA 
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A epidemia mundial de aids
O anúncio da descoberta e da identificação do HIV 
(sigla de Human Immunodeficience Virus — vírus da 
imunodeficiência humana) como agente causador da 
aids (sigla da expressão inglesa Acquired Immunode-
ficience Syndrome — síndrome de imunodeficiência 
adquirida) ocorreu em abril de 1984, pouco menos de 
três anos após a constatação dos primeiros casos da 
doença. Na época, acreditava-se que a aids fosse restrita 
a homossexuais, haitianos, hemofílicos e usuários de 
drogas injetáveis, pois as 4 mil pessoas que haviam 
sido infectadas (metade das quais já havia morrido) 
pertenciam a pelo menos um desses grupos.
No final de 2004, a Organização Mundial de Saúde 
estimou o número de pessoas infectadas pelo HIV no 
mundo em cerca de 40 milhões, das quais 2,5 milhões 
com idade inferior a 15 anos, e 11,8 milhões, entre 15 e 
24 anos. Em 2007, dados da ONU apontaram uma que-
da de aproximadamente 17,5% no número de pessoas 
infectadas pelo HIV, que seriam então 33 milhões; isso 
aconteceu porque o número de novos infectados foi 
inferior ao de portadores mortos no período. 
Há dois tipos de HIV, denominados HIV-1 e HIV-2. 
O HIV-1 foi identificado em 1983 e o HIV-2, em 1985. Os 
estudos mostraram que o genoma desses tipos virais 
é idêntico em cerca de 50% dos genes e muito seme-
lhante no restante. Recentemente, foram identificados 
diversos subtipos genéticos tanto do HIV-1 como do 
HIV-2, mas ainda não se sabe exatamente como essas 
diferenças genéticas influem nas características de 
cada tipo viral, no que diz respeito à sua capacidade 
de transmissão ou patogenicidade.
Como o vírus da aids se multiplica
O vírion do HIV tem, no envelope lipoproteico, glico-
proteínas capazes de se ligar a receptores de determi-
nadas células humanas, principalmente certas células 
do sistema imunitário. O nucleocapsídio contém duas 
moléculas idênticas de RNA de cadeia simples, asso-
ciadas a moléculas de duas enzimas: a transcriptase 
reversa, capaz de “retrotranscrever” DNA a partir de 
RNA, e a integrase, responsável pela integração do DNA 
viral ao cromossomo da célula hospedeira.
Depois de se ligar aos receptores da célula hospe-
deira, o envelope do HIV funde-se à membrana celular; 
o nucleocapsídio penetra no citoplasma e se desfaz, 
liberando o RNA, a transcriptase reversa e a integrase 
virais no citosol. A transcriptase reversa entra imedia-
tamente em ação e transcreve uma cadeia de DNA a 
partir do RNA viral (transcrição reversa).
À medida que transcreve o DNA, a transcriptase re-
versa degrada o RNA molde e, em seguida, produz uma 
cadeia de DNA complementar à recém-sintetizada, 
originando, dessa forma, um DNA de cadeia dupla. Este 
penetra no núcleo da célula hospedeira e, por ação da 
integrase viral, incorpora-se a um dos cromossomos.
Uma vez integrado a um cromossomo da célula, 
o DNA viral começa a produzir moléculas de RNA. 
Algumas delas irão constituir o material genético dos 
novos vírus; outras serão traduzidas pelos ribossomos 
da célula, produzindo longas cadeias polipeptídicas. 
Essas cadeias são posteriormente cortadas em lu-
gares exatos por enzimas virais, originando todas as 
proteínas constituintes do vírus: transcriptase reversa, 
integrase, proteínas do capsídio e glicoproteínas. Estas 
últimas, que fazem parte do envelope viral, migram 
para a membrana da célula hospedeira, onde se agre-
gam. Por sua vez, RNA, enzimas e proteínas unem-se 
e formam novos nucleocapsídios.
Os novos nucleocapsídios formados aderem a re-
giões da membrana plasmática onde há glicoproteí nas 
virais, originando os envelopes lipoproteicos. Vírions 
completos do HIV são expelidos da célula hospedeira 
e podem infectar células sadias.
A célula infectada continua a ter o material ge-
nético do vírus integrado ao seu e segue produzindo 
partículas virais. Em certas células, o vírus integrado ao 
cromossomo mantém-se em estado de provírus, sem 
produzir RNA. Isso impede que o sistema imunitário e 
drogas antivirais eliminem completamente os vírus do 
corpo humano. (Fig. 2.11)
Todos os infectados pelo HIV têm aids?
O HIV é transmitido por meio de fluidos eliminados 
durante as relações sexuais e também pelo sangue. 
A transmissão ocorre, também, de mãe para filho 
durante a gravidez ou no parto. A menos que sejam 
tratadas com drogas antivirais durante a gravidez, 
mães portadoras do HIV têm cerca de 30% de chance 
de transmitir o vírus aos bebês. Acredita-se que o vírus 
também possa ser transmitido da mãe para o filho na 
amamentação.
Algumas pessoas não manifestam sintomas (isto 
é, são assintomáticas) ao serem infectadas pelo HIV; 
outras apresentam sintomas semelhantes aos de 
gripe: febre, dor de cabeça, cansaço e inflamação 
dos linfonodos. Os sintomas desaparecem entre uma 
semana e um mês após a infecção e geralmente são 
confundidos com os de uma virose de pouca gravi-
dade. Durante a fase que sucede a infecção, os vírus 
multiplicam-se ativamente e os fluidos corporais e 
o sangue são altamente infectantes.
Desde o início da contaminação, o sistema imu-
nitário é ativado pela multiplicação viral e passa a 
combater os vírus, que diminuem em quantidade. 
CIÊNCIA 
E CIDADANIA
Liberação de
novos vírionsGenoma
viral
Capsídio
Transcriptase
reversaVÍRION
Fusão do envelope viral 
à membrana celular
Glicoproteína
Integrase
Envelope
Integração
de proteínas
virais na
membrana
celular
Desintegração
do capsídio e
liberação do RNA 
e enzimas virais
Adesão do vírus 
à proteína CD4
Receptor
celular
(proteína CD4)
Entrada do 
DNA viral
no núcleo Integrase Síntese de polipeptídios
virais a partir do RNA viral
Montagem dos
capsídiosIntegrase
penetrando
no núcleo
Síntese de 
DNA viral por 
transcrição reversa
Cromossomo da
célula hospedeira
Quebra da
cadeia
polipeptídica
viral pela
protease,
originando as
proteínas virais
Formação do
envelope ao 
redor do capsídio
DNA viral
integrando-se ao
cromossomo
Transcrição de
RNA viral a partir
do DNA integrado
ao cromossomo
NÚCLEOCITOPLASMA
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Figura 2.11 Etapas da reprodução de um HIV em uma célula humana. Analise a figura seguindo 
as explicações do texto. (Imagens sem escala, cores-fantasia.)
Nesse momento, a infecção torna-se completamente 
assintomática. Novos sintomas só voltam a aparecer 
muito tempo depois, em geral após alguns anos. 
No entanto, a infecção pelo HIV pode ser detectada 
desde o início por exames de laboratório que testam 
a presença de anticorpos anti-HIV no sangue, ou do 
próprio RNA viral. Pessoas infectadas pelo HIV que ainda 
não manifestam sintomas da aids são chamadas de 
soropositivas, por apresentarem anticorpos antivirais 
no sangue, ou HIV positivas.
Durante o período assintomático, trava-se uma 
batalha entre o HIV e o sistema imunitário. A prin-
cipal célula atacada pelo HIV é um leucócito san-
guíneo, o linfócito T auxiliador, também chamado 
célula CD4, que coordena as respostas do sistema 
imunitário. Ao destruir as células CD4, o HIV en-
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Animação: Ciclo de reprodução viral, veja aba Reprodução do vírus HIV
fraquece a capacidade do organismo de combater 
não apenas a infecção pelo retrovírus, mas também 
outras infecções comuns, que normalmente não 
afetariam pessoas sadias.
Conforme o número de células CD4 diminui no 
organismo, começam a aparecer os sintomas da aids: 
inchaço dos linfonodos, perda do vigor corporal, ema-
grecimento, febre e sudorese, infecções por fungos 
parasitas, erupções na pele, perda de memória momen-
tânea e, em muitos casos, infecções por herpes na boca, 
órgãos genitais e ânus. A aids refere-se aos estágios 
mais avançados dainfecção pelo HIV, com a presença 
desses sintomas. Isso ocorre, em geral, quando o nú-
mero de células CD4 cai abaixo de 200 por milímetro 
cúbico de sangue; pessoas saudáveis apresentam essas 
células em quantidade cinco vezes maior.
Fase aguda
(assintomática)
Fase de aids
(sintomática)
Fase crônica
(assintomática)
Quantidade de
linfócitos CD4
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Tempo em anos
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Quantidade de
vírus HIV
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A depressão do sistema imunitário permite que se instalem infecções banais, denomi-
nadas “oportunistas”, que normalmente não acometem pessoas sadias. Nos portadores de 
aids, essas infecções oportunistas são severas e muitas vezes fatais, pois o sistema imunitá-
rio, praticamente inativado pelo HIV, não consegue combater a maioria dos vírus, bactérias, 
fungos e outros microrganismos com os quais temos contato diariamente. (Fig. 2.12)
Figura 2.12 Gráfico que 
mostra a variação da 
quantidade de linfócitos 
T auxiliadores (células 
CD4) e de partículas 
virais no sangue de uma 
pessoa infectada por HIV, 
ao longo de 10 anos. 
A aids aparece apenas no 
período final da infecção, 
quando a taxa de células 
CD4 se torna muito baixa. 
(Segundo Bartlett, J. e 
Moore, R., 1998.)
Figura 2.13 Cartaz de campanha de prevenção da 
aids (cortesia do Ministério da Saúde).
Sintomas de infecções oportunistas comuns em portadores de aids são: tosse e 
respiração ofegante; dificuldade de engolir; diarreia severa e persistente; febre; perda 
de visão; náusea, cólicas abdominais e vômitos; confusão mental e esquecimento; 
perda de massa corporal e fadiga extrema; dores de cabeça fortes; coma. Além disso, 
as pessoas com aids são propensas a desenvolver vários tipos de câncer, em particular 
os causados por vírus, como o sarcoma de Kaposi e o câncer cervical, além de cânceres 
do sistema imunitário, como linfomas.
Um aspecto intrigante da aids é o fato de o ataque do HIV ser tão devastador e mortal, 
ao contrário da maioria dos retrovírus humanos, que geralmente não causam doenças 
graves. Segundo alguns cientistas, essa agressividade deve-se ao fato de o HIV ser um 
parasita recente da espécie humana. Por isso, ainda não teria havido tempo suficiente 
para uma adaptação evolutiva do vírus ao hospedeiro humano e vice-versa.
Prevenção e tratamento da aids
As principais medidas para prevenir a infecção pelo 
HIV são: a) praticar apenas sexo seguro, com a proteção 
de preservativos (camisinhas); b) ao fazer transfusões, 
usar sempre sangue devidamente testado; c) durante a 
gravidez, tratar mulheres portadoras do vírus com dro-
gas antivirais. Além disso, essas mulheres não devem 
amamentar o recém-nascido. (Fig. 2.13)

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