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Marchena Santiago Baltra Santa Cruz Isabela Floreana Fernandina São Cristóvão Ilhas Galápagos AMÉRICA DO NORTE AMÉRICA DO SUL EUROPA ÁFRICA AUSTRÁLIA Inglaterra Rota do Beagle OCEANO PACÍFICO OCEANO ÍNDICO OCEANO ATLÂNTICO Ilhas Galápagos 0 2.460 km Fonte: Anna Sproule. Charles Darwin. São Paulo: Globo, 1993. R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 215 Durante a viagem do Beagle, Darwin fez escavações na Patagônia, onde encontrou fósseis de mamíferos já extintos, dentre eles o de um animal de grande tamanho, com organização esque- lética muito semelhante à dos tatus que hoje habitam a América do Sul. Em Galápagos, um arquipélago formado por ilhas pequenas e áridas situadas no Oceano Pacífico, a cerca de 800 km da costa do Equador, Darwin encontrou uma fauna e uma flora que variavam ligeiramente de ilha para ilha e diferiam bastante das encontradas na América do Sul. A natureza peculiar desses habitantes de Galápagos causou forte impressão ao naturalista inglês, desenca- deando reflexões que o levaram a desenvolver suas ideias sobre a evolução da vida. (Fig. 9.3) Figura 9.3 Na imagem superior, roteiro percorrido pelo navio inglês Beagle (representado no detalhe, à direita), que levou a bordo o naturalista Charles Darwin, em uma viagem que durou cinco anos. Um dos locais marcantes do roteiro foi o arquipélago de Galápagos, localizado próximo à costa oeste da América do Sul, nas águas territoriais do Equador. Nas fotos, alguns representantes da flora e da fauna das ilhas Galápagos que chamaram a atenção de Darwin: A. Cactos arborescentes. B. Jabuti-gigante (em espanhol, galapago). C. Pinguins. D. Iguana-terrestre. CB D A R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 216 U n id a d e B • Ev o lu çã o b io ló g ic a Darwin só se convenceu realmente da evolução biológica alguns meses após regressar de sua viagem. Ele compreendeu o significado de suas observações em Galápagos e em outros locais ao rever anotações e ao submeter o material coletado na viagem a diversos especialistas. No dia 10 de maio de 1837, cerca de sete meses após o retorno à Inglaterra, Darwin inicia o primeiro caderno de anotações sobre a transmutação das espécies, no qual registra na forma de desenho a ideia de parentesco evolutivo entre as espécies de seres vivos. Uma pergunta básica que Darwin fazia era: se animais e plantas haviam sido criados tal e qual se apresentam hoje, por que espécies distintas, mas nitidamente semelhantes, como as de pássaros e de jabutis de Galápagos, foram colocadas pelo Criador em ilhas próximas e não distribuídas homogeneamente pelo mundo? Por que ilhas com clima e condições físicas semelhantes, mas distantes entre si (como Galápagos e Cabo Verde, por exemplo), não abri- gavam espécies semelhantes? Darwin concluiu que a flora e a fauna de ilhas vizinhas são semelhantes porque se originaram de espécies ancestrais comuns, provenientes dos continentes próximos. Em cada uma das ilhas, as populações colonizadoras sofreram adaptações específicas, originando diferentes variedades ou espécies. Estudos com técnicas de biologia molecular confirmaram as hipóteses de Darwin. Por exemplo, hoje sabemos que os jabutis de Galápagos constituem 11 espécies, que se originaram de uma única espécie ancestral proveniente do continente americano. As diversas espécies de pássaros fringilídeos de Galápagos originaram-se de uma única espécie ancestral, provavelmente oriunda da América do Sul. A diversificação da espécie original resultou da adaptação às condições particulares das diferentes ilhas do arquipélago; essa diversificação levou à formação de novas espécies. (Fig. 9.4) Comedores de insetos Comedores de cactos Comedores de sementes Ancestral comedor de sementes no solo Pássaro da Ilha Cocos Figura 9.4 Árvore filogenética que relaciona 13 espécies de pássaros fringilídeos de Galápagos e uma da Ilha Cocos, próxima a Galápagos. As diferentes espécies assemelham-se quanto ao aspecto geral do corpo, mas diferem marcadamente quanto à forma do bico. Esta reflete a adaptação de cada espécie a um determinado tipo de alimento (insetos, cactos ou sementes). (Modificado de Grant, P. R., 1991.) (Imagens sem escala, cores-fantasia.) R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 217 C a p ít u lo 9 • B re ve h is tó ri a d a s id e ia s e vo lu ci o n is ta s O pensamento de Darwin foi influenciado pelos trabalhos de cientistas famosos, como o as- trônomo John Herschel (1792-1871) e o naturalista e viajante Alexander Humboldt (1769-1859). Este último foi responsável, segundo o próprio Darwin, por seu impulso de viajar para terras desconhecidas em expedições científicas. O trabalho do geólogo e amigo Charles Lyell (1797-1875) também marcou a vida e os estu- dos de Darwin. Além de levar uma cópia do primeiro volume dos Princípios de Geologia, de Lyell, em sua viagem a bordo do Beagle, as primeiras anotações de viagem de Darwin foram sobre temas de Geologia. Darwin também aponta a influência das ideias do vigário inglês Thomas R. Malthus (1766-1834) na elaboração do conceito de seleção natural. Em 1798, Malthus sugeriu que a principal causa da miséria humana era o descompasso entre o crescimento das populações e a produção de ali- mentos. Disse ele: “O poder da população é infinitamente maior que o poder da terra de produzir os meios de subsistência para o homem. A população, se não encontra obstáculos, cresce de acordo com uma progressão geométrica. Os meios de subsistência aumentam de acordo com uma progressão aritmética”. Malthus não se referia apenas às populações humanas, mas tentou imaginar a humanidade submetida às mesmas leis gerais que regem populações de outras espécies de seres vivos. Esse foi um dos grandes méritos de seu trabalho, que chamou a atenção de Darwin para as ideias de “luta pela vida” e “sobrevivência dos mais aptos”. O conceito de seleção natural Um dos argumentos apresentados por Darwin em favor da seleção natural fundamentou-se no estudo de espécies cultivadas. Sabia-se que pelo menos alguns animais domesticados e cer- tos vegetais cultivados pertenciam a espécies que possuíam representantes ainda selvagens. Comparando indivíduos que sofreram domesticação com indivíduos selvagens, chamaram a atenção de Darwin as grandes diferenças existentes entre eles; em certos casos, tamanha era a distinção que poderiam ser classificados como espécies diferentes. (Fig. 9.5) Figura 9.5 Exemplos dos efeitos da domesticação e da seleção praticada pelos criadores. O porco-selvagem (A) deu origem ao porco domesticado (B). As diferenças entre eles resultam da ação dos criadores, que há muito tempo vêm escolhendo animais para cruzar que apresentem características comercialmente desejáveis, dentre as quais o aumento de massa corpórea é o melhor exemplo. A B