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Autor: Prof. Guilherme Juliani de Carvalho Colaboradoras: Profa. Sandra Castilho Profa. Christiane Mazur Doi Processos Decisórios Professor conteudista: Guilherme Juliani de Carvalho Doutorando em Administração pela UNIP; mestre em Administração de Empresas – Gestão Estratégica de Organizações pela Universidade Fumec (2013), graduado em Ciências Contábeis pela UNIP (2022); graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Senac/SP (2016) e em Comunicação Social – Relações Públicas pelo Centro Universitário Newton Paiva (2009). Possui especialização em Planejamento, Gestão e Implementação da Educação a Distância pela Universidade Federal Fluminense (2015), MBA em Gestão de Marketing pelo Centro Universitário UNA (2010) e em Gestão de Negócios pela mesma instituição (2010). Atua como docente universitário desde 2010 nas áreas de gestão, marketing, projetos e empreendedorismo. É coordenador de graduação e pós‑graduação com publicações em diversos congressos, anais e revistas científicas, além de capítulos de livros. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C331p Carvalho, Guilherme Juliani de. Processos Decisórios / Guilherme Juliani de Carvalho. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 160 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230. 1. Processos. 2. Decisão. 3. Avaliação. I. Título. CDU 658.012.123 U519.10 – 24 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Revisão: Prof. Alexandre Ponzetto Auriana Malaquias Louise de Lemos Sumário Processos Decisórios APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 PROCESSOS DECISÓRIOS ............................................................................................................................. 11 1.1 Conceitos e aplicações ....................................................................................................................... 11 1.2 Bases teóricas (teoria das decisões, racionalidade limitada, teoria dos jogos, pensamento linear e sistêmico) ............................................................................................................. 16 1.2.1 Teoria das decisões ................................................................................................................................. 16 1.2.2 Teoria da racionalidade limitada ...................................................................................................... 17 1.2.3 Teoria dos jogos ....................................................................................................................................... 20 1.2.4 Pensamento linear e não linear ........................................................................................................ 22 1.2.5 Pensamento sistêmico .......................................................................................................................... 25 1.3 Atores e estilos de decisão ................................................................................................................ 26 1.3.1 Abordagem de tomada de decisão analítica ............................................................................... 29 1.3.2 Abordagem de tomada de decisão diretiva ................................................................................. 29 1.3.3 Abordagem de tomada de decisão conceitual ........................................................................... 29 1.3.4 Tomada de decisão de estilo comportamental ........................................................................... 29 1.4 Processos decisórios e o administrador ...................................................................................... 30 1.5 Tecnologias e impactos na tomada de decisão ........................................................................ 31 2 A ORGANIZAÇÃO COMO SISTEMAS DE DECISÕES ............................................................................ 33 2.1 Processos e estruturas organizacionais nas decisões ............................................................ 34 2.2 Poder e liderança no ambiente organizacional para tomada de decisão ..................... 38 2.3 A importância da informação e da comunicação para o sucesso da tomada de decisão ....................................................................................................................................................... 41 2.4 Decisões programadas e não programadas ............................................................................... 44 2.5 Decisões sob risco, certeza, incerteza, conflito e heurística ............................................... 45 2.6 Decisão em grupo e decisão individual ....................................................................................... 49 3 A HIERARQUIA NA TOMADA DE DECISÃO ............................................................................................ 53 3.1 Níveis hierárquicos de decisão ........................................................................................................ 54 3.2 Centralização e descentralização ................................................................................................... 59 3.3 Importância da delegação e empowerment ............................................................................. 61 4 NATUREZA DA TOMADA DE DECISÃO ..................................................................................................... 68 4.1 Decisões programadas ........................................................................................................................ 69 4.2 Decisão semiprogramadas ................................................................................................................ 69 4.3 Decisão não programadas ................................................................................................................ 70 Unidade II 5 MODELOS DE TOMADA DE DECISÃO ....................................................................................................... 77 5.1 Herbert Simon ....................................................................................................................................... 78 5.2 Modelo Carnegie .................................................................................................................................. 80 5.3 O modelo incremental ........................................................................................................................81 5.4 O modelo racional ................................................................................................................................ 82 5.5 O modelo primeiro pense, primeiro veja e primeiro faça .................................................... 84 5.6 Modelo pense local, aja global ........................................................................................................ 85 5.7 Modelo Vroom‑Yetton ....................................................................................................................... 86 5.8 Modelo intuitivo ................................................................................................................................... 90 6 ETAPAS DO PROCESSO DE DECISÃO ........................................................................................................ 92 6.1 O processo de decisão: etapa a etapa .......................................................................................... 93 6.2 Técnicas e instrumentos de apoio à decisão e pesquisa sobre a decisão ...................... 94 6.2.1 Masp ............................................................................................................................................................. 95 6.2.2 Seis Sigma .................................................................................................................................................. 96 6.2.3 Princípio de Pareto ................................................................................................................................. 98 6.2.4 Matriz GUT ...............................................................................................................................................100 6.2.5 Matriz de Eisenhower .........................................................................................................................102 6.2.6 Matriz da decisão ..................................................................................................................................105 6.2.7 Matriz 5W2H ..........................................................................................................................................107 6.2.8 Sistema 5S ...............................................................................................................................................109 6.2.9 Diagrama de Ishikawa ......................................................................................................................... 112 Unidade III 7 VIESES COMUNS NA TOMADA DE DECISÃO .......................................................................................120 7.1 Os vieses e seus impactos ...............................................................................................................120 7.2 Sistema de valores – ética e a tomada de decisão ...............................................................124 7.3 Análise de dados para tomada de decisões .............................................................................127 7.3.1 Suporte tecnológico de gerenciamento da informação para tomada de decisões..........................................................................................................................................................131 8 PROCESSO DECISÓRIO NOS SETORES PÚBLICO E PRIVADO ........................................................135 8.1 Tópicos contemporâneos em processos decisórios: Vuca, consenso e 6Cs e os 4Ds .............................................................................................................................................135 8.1.1 Vuca ........................................................................................................................................................... 135 8.1.2 Consenso ................................................................................................................................................. 137 8.1.3 6Cs ............................................................................................................................................................. 139 8.1.4 4 Ds .............................................................................................................................................................141 8.2 Case de tomada de decisão: ferramenta Cynefin .................................................................143 7 APRESENTAÇÃO Processos decisórios compõem o conjunto de estratégias e atividades decisivas dentro de uma empresa. É a capacidade de escolher o melhor caminho em determinado contexto, algo que começa com a identificação do problema. E é isso que o aluno aprenderá nesta disciplina. A tomada de decisão é o processo de fazer escolhas, identificando uma decisão, reunindo informações e avaliando soluções alternativas. Usar um processo de tomada de decisão passo a passo pode ajudar o gestor a ter um resultado mais deliberado e ponderado, organizando informações relevantes e definindo alternativas. Essa abordagem aumenta as chances de escolher a alternativa mais satisfatória possível. Esta disciplina aborda o significado dos processos decisórios, seus conceitos e melhores práticas. Trata também da avaliação das práticas da tomada de decisão, acompanhamento e avaliação dos resultados. Compreenderemos a real natureza do problema e suas manifestações nos diferentes níveis da organização (estratégico, tático e operacional) e o conjunto de ferramentas que podem ser disponibilizadas ao administrador para apoiar e reduzir a incerteza, as características da tomada de decisão, com o objetivo principal de desenvolver no aluno habilidades como senso crítico e capacidade de contextualização, pensamento estratégico, visão sistêmica, orientação para resultados, capacidade de identificar, analisar e resolver problemas, capacidade de influenciar pessoas, trabalhar em equipe etc. Ao estudar os princípios do processo de tomada de decisão, sua conceituação básica e sua metodologia, o aluno poderá visualizar de maneira clara e pontual todas as etapas que compõem esse processo, usufruir e se beneficiar de cada conceito dessa importante área administrativa. No percurso da disciplina, o discente estudará conceituações, teorias, etapas do processo de decisão e as variáveis que podem impactar na decisão. Serão estudados, também, os modelos do processo decisório e as principais ferramentas que podem subsidiar o gestor na tomada de decisão. Ao final deste conteúdo, espera‑se que o discente saiba identificar e empregar conhecimentos que auxiliem na solução de problemas e tomada de decisão. Assim, entenderá a verdadeira essência de um problema e sua manifestação nos diferentes níveis da organização e utilizar o conjunto de ferramentas disponibilizadas ao administrador para serem empregadas no apoio e redução da incerteza, características de uma tomada de decisão. 8 INTRODUÇÃO A tomada de decisão é parte integrante da gestão moderna. Essencialmente, a tomada de decisão racional ou sólida é função primária da gestão. Todo gerente toma centenas de decisões, subconscientemente ou conscientemente, tornando‑as componentes‑chave do papel de gestão (Yu et al., 2015). As decisões desempenham papéis importantes, pois determinam as atividades organizacionais e gerenciais. Uma decisão pode ser definida como um curso de ação propositadamente escolhido a partir de um conjunto de alternativas para alcançar objetivos ou metas organizacionais ou gerenciais. O processo de tomada de decisão é um componente contínuo e indispensável da gestão de qualquer organização ou atividade empresarial. As decisões são tomadas para sustentar as ações de todas as atividades de negócios e funcionamento organizacional. As decisões são tomadas em todos os níveis de gerenciamento para garantir que as metas organizacionais ou de negócios sejam alcançadas. Além disso, constituem um dos principais valores funcionais que toda organização adota e implementapara garantir crescimento e dirigibilidade ideais em termos de serviços e/ou produtos oferecidos (Yu et al., 2015). Nesse contexto, o processo de tomada de decisão é um assunto consultivo feito por uma comissão de profissionais para conduzir o melhor funcionamento de qualquer organização. Assim, é uma atividade dinâmica que permeia todas as outras atividades pertencentes à organização. Por se tratar de uma atividade contínua, assume vital importância no funcionamento de uma organização. Uma vez que mentes intelectuais estão envolvidas no processo de tomada de decisão, isso requer conhecimento científico sólido aliado a habilidades e experiência, além de maturidade mental (Hammond; Keeney; Raiffa, 2004). Além disso, o processo de tomada de decisão pode ser considerado um sistema de verificação e equilíbrio que mantém a organização crescendo nas direções vertical e linear. Isso significa que esse processo busca um objetivo. As metas são objetivos de negócios predefinidos, missões da empresa e sua visão. Para atingir esses objetivos, a organização pode enfrentar muitos obstáculos nas áreas administrativas, operacional, marketing e domínios operacionais (Yu et al., 2015). Esses problemas são resolvidos por meio de um processo de tomada de decisão abrangente. Nenhuma decisão é um fim em si mesmo, pois pode evoluir para novos problemas a serem resolvidos. Quando um problema é resolvido, outro surge e assim por diante, de modo que o processo de tomada de decisão, como dito anteriormente, é contínuo e dinâmico (Sobral; Peci, 2013). A tomada de decisão faz parte da vida de todos, pois tomamos decisões a cada momento. Desde a escolha do que vestir, o que comer, onde moramos e trabalhamos e até com quem nos casamos, as decisões são parte integrante de nossas vidas. No contexto organizacional, vale a pena notar que a tomada de decisão precisa do tipo certo de informação, da informação completa e da capacidade de sintetizar e dar sentido à informação. Enquanto os dois primeiros atributos dependem de fontes externas, a capacidade de tomar decisões informadas é um traço de personalidade. Portanto, os chief executive officer (CEOs) de sucesso são aqueles que podem levar em consideração os diferentes pontos de vista e perspectivas divergentes e chegar à decisão certa. 9 A regra primordial na tomada de decisão é que o tomador deve ter legitimidade e autoridade sobre as pessoas para quem está decidindo. Em outras palavras, os tomadores de decisão são bem‑sucedidos apenas quando suas decisões são honradas e seguidas pelas pessoas ou grupos que a decisão impacta (Hammond; Keeney; Raiffa, 2004). A razão para mencionar isso é que, em muitos casos, a natureza fragmentada das organizações prejudica a capacidade de tomada de decisão. Assim, vale ressaltar que tal autoridade deve ser investida ao tomador de decisão. Boas escolhas são essenciais para garantir que as organizações funcionem bem. Quando o gestor toma uma decisão estratégica sobre algo, ele decide o que quer fazer e se compromete com isso. Entretanto, não existe uma decisão correta. Existe uma decisão adequada para cada organização, isso porque uma decisão correta para uma organização pode não o ser para outra. São múltiplas as decisões, e o gestor deverá entender a estrutura, os processos, os recursos e o ambiente em que está inserido (Sobral; Peci, 2013). Os caminhos podem estar corretos (right way), mas qual adotar será uma decisão do gestor, resultante de um processo de informações, trocas, diálogos e análises (figura 1). Figura 1 – Caminhos corretos Disponível em: bit.ly/3RhnPES. Acesso em: 15 set. 2023. Embasado nos principais autores da área e nos mais recentes artigos e dados publicados, este livro‑texto busca contribuir para a formação de gestores que saibam reunir informações, analisar cenários e tomar decisões acertadas, com amplo conhecimento sobre práticas, instrumentos, variáveis e benefícios do processo decisório. Esperamos que ao final deste conteúdo o aluno possa muito mais do que ter aprendido sobre processo decisório e tomada de decisão, e que reflita sobre o real papel dos gestores e como suas decisões impactam os resultados das organizações e de todos que de algum modo são influenciados por esses resultados. Bons estudos! 11 PROCESSOS DECISÓRIOS Unidade I 1 PROCESSOS DECISÓRIOS A tomada de decisão organizacional é o processo pelo qual uma ou mais unidades tomam uma decisão em nome da organização. A unidade de tomada de decisão pode ser tão pequena quanto um indivíduo, por exemplo, um gerente, ou tão grande quanto todos os membros da organização. Embora as decisões organizacionais sejam frequentemente influenciadas por objetivos pessoais, elas são legitimadas por outras unidades e agências como cumprimento de requisitos organizacionais. Frequentemente se diz que as decisões não dizem respeito a propósitos pessoais, mas sim aos propósitos organizacionais (Fontanillas; Barreto; Cruz, 2014). A distinção entre a tomada de decisão individual e a tomada de decisão organizacional é que os indivíduos tomam decisões com base em seus próprios valores e crenças, e se algo é apropriado ou não, enquanto as organizações têm diferentes stakeholders e diferentes conjuntos de valores que são incorporados em seu processo de tomada de decisão (Zanin; Magro; Mazzioni, 2019). A tomada de decisão é um aspecto importante de qualquer operação organizacional. As organizações se deparam com diversas decisões diariamente, e como elas lidam com elas e as processam pode ter um impacto substancial em seu desempenho. Por essa razão, é imperativo que a organização tenha procedimentos eficientes e bem organizados para lidar com tais decisões (Fontanillas; Barreto; Cruz, 2014). A gestão organizacional deve também fazer um esforço genuíno para aumentar a eficiência global e a qualidade dos processos de tomada de decisão. A organização também pode se esforçar para incorporar e adotar as melhores práticas de tomada de decisão nas operações e na estratégia de negócios. O processo de tomada de decisão consiste em um procedimento delicado e complicado que exige que a organização considere como deve ser projetado. Organizações com processos bons, eficientes e bem organizados para a produção de decisões são mais propensas a gerar melhores decisões e, consequentemente, melhorar sua produtividade e desempenho. Essas organizações precisam monitorar de perto os processos de tomada de decisão, pois a qualidade desses processos pode ter um efeito substancial na eficácia e eficiência geral (Zanin; Magro; Mazzioni, 2019). 1.1 Conceitos e aplicações Os teóricos clássicos da administração (Taylor e Fayol) argumentam que a administração deveria se concentrar nos problemas formais da organização, resultando em arranjos mais racionais que maximizem a eficiência organizacional. Esses arranjos são determinados pela competência do decisor, ou seja, dependem do nível de informação e conhecimento sobre o comportamento das variáveis que 12 Unidade I afetam seu ambiente (externo e interno). No entanto, como acreditavam os economistas clássicos, é impossível conhecer todas as alternativas em curso e suas consequências (Medeiros, 1999). O processo decisório é um conjunto de estratégias e ações voltadas para a tomada de decisão acertada dentro da empresa. É a capacidade de escolher o melhor caminho em determinado contexto (Zanin; Magro; Mazzioni, 2019). O processo de tomada de decisão é escolher o caminho mais adequado em relação às alternativas existentes nas circunstâncias dadas. Esse processo é uma ação organizada e sistemática de escolha da alternativa mais adequada diante das circunstâncias. O processo de decisão geralmente visa minimizar as perdas, maximizar os ganhos e criar uma situação em que haja sucesso comparável entre o estado em que se está atualmente e o estado em que se estará após a decisão ser tomada (Braga, 1987). A tomada de decisão é uma função fundamental da gestão, é a atividadebásica da administração e reflete o sucesso e o fracasso da gestão e da organização, que depende principalmente da qualidade das decisões. Portanto, o papel de tomada de decisão da administração é o “coração” das atividades executivas na organização. No ambiente atual, as organizações se deparam com milhares de decisões diariamente, e o modo como elas tomam essas decisões tem um enorme impacto em seu nível de desempenho. Essas decisões definem o tom para toda a organização em termos de imagem, lucros e atendimento ao cliente, por isso é muito importante que as organizações adotem as melhores práticas e tenham bom senso na hora de tomar decisões. Isso é necessário, pois a decisão certa na hora certa pode contribuir para as organizações alcançarem grande sucesso, enquanto uma decisão errada pode acabar custando caro. Hoje em dia, o papel dos gerentes inclui uma grande quantidade de tomadas de decisão e resolução de problemas complexos. A capacidade de a organização tomar decisões eficientes e eficazes pode ter um grande impacto em sua sustentabilidade e agilidade. A função da gestão organizacional é perceber o impacto positivo significativo do desenvolvimento de verdadeiras competências de decisão. Isso só é percebido quando uma tomada de decisão sólida e de alta qualidade é incorporada a toda a organização (Melo et al., 2022). Na organização, os gerentes em todos os níveis tomam decisões para o alcance dos objetivos organizacionais. Assim, a tomada de decisão, portanto, é uma das funções mais importantes dos gestores, é a atividade gerencial central e é uma questão de enorme responsabilidade para os gestores, não só para a organização em si, mas também para os colaboradores e outras partes interessadas. As decisões definem o tom de toda a organização em termos de imagem, lucros e atendimento ao cliente (Zanin; Magro; Mazzioni, 2019). O trabalho mais importante de qualquer gerente é tomar decisões. É também o mais difícil e o mais perigoso. Com decisões avaliadas em milhões, uma má decisão pode causar danos irreparáveis à organização e à carreira do gestor. Dados fragmentados e imprecisos fazem com que os gerentes tomem decisões atrasadas e ocorram falhas que custam milhões. Encontrar os dados certos no momento certo e 13 PROCESSOS DECISÓRIOS analisá‑los com rapidez suficiente continua sendo um desafio para as organizações, pois decisões ruins podem custar muito caro. As decisões cumprem um papel fundamental nas grandes organizações, e a forma como os gestores reagem pode ter um impacto substancial no desempenho delas. A falha em tomar a decisão correta pode levar a enormes perdas financeiras, enquanto, por outro lado, tomar a decisão certa pode ajudar a obter um ganho financeiro, portanto todos os fatores que afetam a tomada de decisão precisam ser considerados na decisão do curso de uma ação (Kuhn, 2022). Lembrete Não existem decisões certas e erradas. Existem decisões adequadas e inadequadas e decisões que gerarão consequências positivas e negativas. O processo decisório é contextual! Quando implementadas corretamente, as decisões são uma oportunidade de reposicionar e realinhar a organização. As decisões de boa qualidade são eficazes e permitem à organização manter a posição competitiva, alinhar as operações internas com o ambiente externo e sobreviver a ameaças e desafios, enquanto, inversamente, devido à sua magnitude, uma única decisão de má qualidade pode levar à deterioração do desempenho da organização e resultar em constrangimentos corporativos e grandes prejuízos econômicos. No processo de tomada de decisão, a diferenciação entre valores, atitudes, educação, organização e nível gerencial dos gerentes se dá também pela experiência, capacidade analítica, percepção e processamento da informação, abrangência da consulta, grau de liberdade de escolha, disponibilidade de recursos, confiança e entrosamento entre os gestores e os funcionários administrados por eles. As competências consideradas importantes para uma tomada de decisão eficiente e eficaz são baseadas no modelo normativo de tomada de decisão, que prescreve como as decisões devem ser tomadas. Essas habilidades consistem em (Melo et al., 2022): • Identificar as opções. • Identificar as possíveis consequências decorrentes de cada opção. • Avaliar a conveniência de cada consequência. • Avaliar a probabilidade de cada consequência. • Fazer uma escolha usando um código de prática de decisão. 14 Unidade I Três questões importantes que determinam a qualidade da decisão são (Melo et al., 2022): • a importância da decisão; • o nível gerencial em que a decisão está sendo tomada; • o estilo de tomada de decisão do gerente. O estilo de tomada de decisão é importante, pois reflete a mentalidade ou a maneira de pensar dos gerentes da organização. Além disso, explica como os gestores utilizam a informação e como conceituam e vislumbram o futuro da organização. Alguns dos aspectos importantes relacionados à tomada de decisão são apresentados a seguir: • Perceber e entender uma situação que envolva algum problema em que a decisão deverá ser tomada. • Analisar, investigar, levantar dados e definir possíveis soluções para o problema. • Definir os objetivos de cada tomada decisão. • Levantar possibilidades, alternativas e cursos de ação para implementar a solução. • Escolher a alternativa que melhor se encaixa na solução do problema. • Implementar a alternativa escolhida e acompanhar ações. • Acompanhar os resultados. • Adotar medidas corretivas, se necessário. Importante destacar que a implementação das ações deve seguir o modelo Plan, Do, Check, Act (PDCA) (figura 2). • Planeje: reconheça uma oportunidade e planeje uma mudança. • Faça: teste a mudança. Faça um estudo em pequena escala. • Verifique: revise o teste, analise os resultados e identifique o que você aprendeu. • Aja: com base no que aprendeu na etapa de estudo. Se a mudança não funcionou, repita o ciclo com um plano diferente. Se você foi bem sucedido, incorpore o que aprendeu no teste em mudanças mais amplas. Use o que aprendeu para planejar novas melhorias, recomeçando o ciclo. 15 PROCESSOS DECISÓRIOS Planeje (P) Faça (D)Aja (A) Decisão Verifique (C) Figura 2 – Ciclo PDCA no processo decisório Nenhuma organização sobrevive sem tomar decisões. A tomada de decisão é um elemento‑chave de todas as operações da organização. As empresas precisam tomar decisões sobre qual cliente atender, em qual tecnologia investir, qual funcionário contratar, qual produto comprar e assim por diante. No entanto, as decisões não se baseiam em um procedimento padronizado. Existem várias teorias que explicam como as organizações tomam decisões. Essas teorias são o modelo racional, o modelo administrativo e o modelo político de tomada de decisão. Observação A tomada de decisão na gestão é importante porque é possível encontrar situações com diversas opções que podem impactar o local de trabalho de maneiras diferentes. As teorias de decisão ajudam a estudar as escolhas das pessoas por meio de um conjunto de conceitos, princípios, ferramentas e técnicas. Eles permitem que os tomadores de decisão determinem o melhor curso de ação entre um conjunto de alternativas. 16 Unidade I 1.2 Bases teóricas (teoria das decisões, racionalidade limitada, teoria dos jogos, pensamento linear e sistêmico) A teoria da decisão é o estudo das escolhas de uma pessoa ou de agentes. Desse modo, compreende‑se a lógica por trás das escolhas que os gestores fazem. Ao analisar as teorias da decisão, nota‑se que geralmente consistem no que torna uma decisão ótima, quem pode ser esse tomador de decisão ideal e como eles podem chegar a essa decisão (Gooyert, 2019). As teorias de decisão ajudam a estudar as escolhas das pessoas por um conjunto de conceitos, princípios, ferramentas e técnicas. Elas permitem que os tomadores de decisão determinem o melhor curso de ação entre um conjunto de alternativas. A literatura sobreprocessos decisórios aponta uma diversidade de teorias que são utilizadas nas pesquisas e aplicações nas organizações. O fato é que não existe uma teoria adequada, mas sim a teoria que melhor se encaixa ao perfil da organização e do gestor, à urgência e relevância da decisão e às variáveis ambientais que interferem na tomada de decisão. Neste livro‑texto, serão discutidas as principais teorias do processo de tomada de decisão: teoria das decisões, racionalidade limitada, teoria dos jogos, pensamento linear e sistêmico. Lembrete Lembre‑se de que teorias surgem como confirmação de uma hipótese desenvolvida para a solução de algum problema. Mas saiba que a teoria não é uma certeza que a decisão será tomada de forma correta, ela é só uma diretriz para as reflexões do gestor. 1.2.1 Teoria das decisões Simplificando, a teoria da decisão é uma análise do processo de tomada de decisão que procura avaliar como as escolhas são feitas. É um estudo lógico de como as decisões são tomadas em uma estrutura ou sistema em que o ambiente de decisão é incerto e as variáveis de decisão, desconhecidas. A teoria da decisão extrai ferramentas da matemática, filosofia, estatística e psicologia para analisar como as decisões são tomadas. Essa teoria também se relaciona ao modo como as escolhas são feitas logicamente com base em probabilidades e consequências incertas (Gallo, 2021). A teoria da decisão é direcionada para o raciocínio implícito às escolhas de um agente (observe que “agente” aqui representa uma persona, geralmente uma pessoa individual, que é capaz de deliberar e agir). O pensamento que rege esta teoria é que o que um agente escolhe fazer em qualquer ocasião é determinado por suas crenças, desejos ou valores. O foco dessa entrada é a teoria da decisão normativa. Assim, o mais importante nestes estudos é reconhecer quais critérios as atitudes de preferência de um agente devem satisfazer em quaisquer circunstâncias genéricas no âmbito da decisão. Isso equivale a uma explicação mínima da racionalidade que, dada a situação em questão, deixa de lado questões mais substanciais sobre desejos apropriados e crenças razoáveis (Santos; Bulgacov, 2021). 17 PROCESSOS DECISÓRIOS A teoria da decisão relaciona‑se à forma como as atividades que levam à tomada de decisão são compreendidas. Essa teoria é por vezes estudada em relação à teoria dos jogos. Existem diversos tipos de processos de tomada de decisão, portanto, a teoria da decisão também abrange diversas áreas. São três os modelos principais, não antagônicos e complementares na teoria da decisão: • Modelo da decisão prescritiva: fornece recomendações sobre como tomar as melhores decisões, mesmo em um ambiente de tomada de decisão incerto. “A modelagem prescritiva aborda o que o indivíduo deveria fazer para melhorar suas escolhas, de que maneira deveria pensar, quais seriam os auxílios decisórios, que esquemas conceituais seriam úteis – não para idealização, mitização ou automação, mas para pessoas reais” (Reis; Löbler, 2012, p. 4). • Modelo de decisão descritiva: estuda o processo decisório como ele é e procura descrever como agentes irracionais tomam certas decisões. “Em suma, a análise descritiva diz respeito a como e por que as pessoas pensam e agem de determinada forma. É uma atividade altamente empírica e clínica, que se enquadra diretamente no campo da ciência social, relacionado ao comportamento individual” (Reis; Löbler, 2012, p. 4). • Modelo da decisão normativa: com base em um conjunto de valores, fornece orientação sobre como as decisões podem ser tomadas. “Refere‑se ao modo como o ser humano idealizado, racional, superinteligente, deve agir. A marca oficial das análises normativas são coerência e racionalidade como normalmente capturadas em termos de aspirações, precisamente especificadas, ou axiomas de forma” (Reis; Löbler, 2012, p. 4). Resumindo essas três abordagens de acordo com os critérios pelos quais cada uma pode ser avaliada, diz‑se que um modelo descritivo é avaliado para sua validação empírica; um modelo normativo, pela sua relevância teórica; e um modelo normativo, por seu valor pragmático e capacidade de ajudar as pessoas a tomar melhores decisões. 1.2.2 Teoria da racionalidade limitada A racionalidade limitada descreve a maneira como os humanos tomam decisões que partem da racionalidade econômica perfeita, porque nossa racionalidade é limitada por nossa capacidade de pensamento, pelas informações que estão disponíveis para nós e pelo tempo. Em vez de fazer as “melhores” escolhas, muitas vezes fazemos escolhas satisfatórias (Cunha, 2022). A racionalidade limitada é um processo humano de tomada de decisão no qual tentamos satisfazer, em vez de otimizar. Em outras palavras, buscamos uma decisão que seja boa o suficiente, em vez de a melhor decisão possível. Imagine que você está no supermercado comprando ovos. Você olha para as várias marcas e decide comprar uma caixa de ovos rotulada como “sem gaiola”. Essa decisão satisfaz seu desejo de ser ético ao escolher ovos de galinhas que não são mantidas em gaiolas. 18 Unidade I No entanto, quando tomamos decisões rápidas com base em rótulos como “sem gaiolas”, geralmente não sabemos o que esses termos significam. Nossa decisão é tomada por um falso senso de racionalidade, porque não temos todas as informações disponíveis. Talvez não tenhamos tempo para descobrir que “sem gaiola” pode significar tanto galinhas livres, quanto galinhas caipiras, porém apenas as galinhas caipiras são criadas ao ar livre. Podemos optar por decisões que satisfazem determinado critério, como ser ético, sem fazer a escolha ideal para esse critério (Cunha, 2022). Em qualquer organização ou instituição, existem redes complexas de tomada de decisão. Decisões que muitas vezes têm em mente princípios econômicos, mas não levam em conta a realidade de que os seres humanos não funcionam de maneira perfeitamente racional (Grothe‑Hammer; Berkowitz; Berthod, 2022). Embora as organizações desejem tomar decisões que reflitam seus valores e objetivos econômicos, elas são tomadas por indivíduos e os indivíduos são influenciados por mais do que a mera lógica. Às vezes, os que tomam decisões nas empresas precisam decidir rapidamente sobre o que afetará o resto da organização, porém com restrições como o tempo, a escolha feita pode ser apenas satisfatória e não ótima para os objetivos da empresa. A racionalidade se torna ainda mais complexa em uma empresa onde a escolha ótima para um indivíduo pode não corresponder à escolha ótima para a empresa. Aqui, a racionalidade dos CEOs e de outros tomadores de decisão está condicionada por seu ambiente, que lhes pede que coloquem as necessidades da empresa antes das suas próprias. Assim, a racionalidade limitada às vezes é uma imperfeição necessária quando entendemos a tomada de decisão como parte de uma rede, em vez de teorizar a racionalidade com base em um sujeito “perfeito” que não faz parte dessas complexidades (Cunha, 2022). A racionalidade limitada ocorre quando as empresas carecem de informações perfeitas, ou seja, não têm informações de contexto sobre os resultados de suas ações, por exemplo; eles têm recursos limitados e estão restritos à capacidade de processar informações. Nesse aspecto, a teoria da racionalidade limitada aponta que, quando as pessoas tomam decisões, sua capacidade de raciocinar sobre o problema é limitada por (Grothe‑Hammer; Berkowitz; Berthod, 2022): • informação disponível; • capacidade ou habilidade cognitiva; • tempo para pensar sobre a situação. Os tomadores de decisão, nesse contexto, estão buscando uma solução satisfatória em vez de uma solução ótima para o problema. A racionalidade limitada foi proposta por Herbert A. Simon, um economista matemático, como um método de modelar a tomada de decisão aplicada a economia, ciência política e outras disciplinas relacionadas. Ele olha para a tomada de decisão como um processo totalmente cognitivo de encontrar uma opçãoaceitável dada a informação disponível. 19 PROCESSOS DECISÓRIOS Um exemplo presente no dia a dia podem ser as cafeterias. Suponha que João, funcionário que preza pela pontualidade na sua empresa, queira tomar uma xícara de café antes de começar a trabalhar e vai a uma cafeteria com a intenção de tomar um café de seu agrado. No entanto, o local já estava lotado quando ele chegou e ele teve que tomar uma decisão precipitada para escolher o café, já que ele não conhecia os diferentes tipos de café e tinha que trabalhar rápido. Portanto, a coisa mais lógica que uma pessoa poderia fazer é escolher o que quer que estivesse no menu. Essa não foi uma decisão racional, mas tomada por restrições (Grothe‑Hammer; Berkowitz; Berthod, 2022). A racionalidade limitada discutida por Herbert Simon afeta principalmente os resultados das decisões tomadas (Grothe‑Hammer; Berkowitz; Berthod, 2022). A alternativa escolhida pode nem sempre ser a melhor, com tempo de conhecimento limitado e vieses cognitivos. Portanto, ela pode ter um impacto menor do que o desejado, ou mesmo negativo nos objetivos e aspirações do indivíduo (figura 3). Capacidade cognitiva Racionalidade limitada Conhecimento limitado Limite de tempo Figura 3 – Componentes da racionalidade limitada Adaptada de: Cunha (2022). Observação A racionalidade limitada em nada tem relação com falta de inteligência ou incapacidade de decisão. Está pautada por fatores limitadores como ausência de informação e tempo indisponível para análise da situação. 20 Unidade I As decisões tomadas pelos indivíduos são escolhas entre alternativas (sujeitas a vários fatores) que, de modo geral, se alinham com suas metas, objetivos e valores. Embora a racionalidade seja algo pelo qual as pessoas se esforcem, seu nível de conhecimento geralmente a restringe. No entanto, a decisão racional é possível porque o conjunto limitado de critérios em que se baseia corresponde a um sistema fechado de variáveis. Isso sugere que se podem fazer julgamentos sem considerar os possíveis resultados atrelados a vieses de conhecimento. 1.2.3 Teoria dos jogos Muitas empresas criam estratégias e tomam decisões com base nas informações sobre seus concorrentes, o setor do qual fazem parte e a economia como um todo. A teoria dos jogos é uma ferramenta que as empresas usam para analisar os resultados de diferentes estratégias, assim como um jogador de xadrez faz durante a partida: age prevendo a reação do seu oponente (figura 4). Figura 4 – Jogo de xadrez Disponível em: https://bit.ly/3PimdYJ. Acesso em: 15 set. 2023. A teoria dos jogos é uma estrutura matemática usada para analisar as consequências de certos cenários de tomada de decisão. O termo jogo nessa teoria extrai seu significado de jogos competitivos, em que dois jogadores tentam superar um ao outro por meio de estratégias e suposições especializadas. No entanto, a teoria dos jogos não é usada para derrotar um oponente ou mesmo para determinar a melhor escolha para um tomador de decisão em qualquer cenário. Em vez disso, é uma maneira de verificar quais alternativas estão disponíveis e quais resultados provavelmente surgirão de cada uma (Almeida, 2006). A teoria dos jogos é a teoria da tomada de decisão independente e interdependente. Concentra‑se em organizações cujo resultado depende das decisões de dois ou mais atores autônomos, um dos quais pode ser a própria natureza, sobre a qual nenhum tomador de decisão único tem controle total dos resultados (Souza; Malavazi, 2020). 21 PROCESSOS DECISÓRIOS A teoria dos jogos tenta antecipar por que as pessoas escolhem determinadas ações. Usando essas informações, prevê como os outros podem reagir a essas escolhas. É possível usar a teoria dos jogos para analisar as interações, especificamente para prever qual curso de ação os participantes de uma troca podem tomar quando acreditam que seus concorrentes estão agindo estrategicamente. Pode‑se aplicar a teoria dos jogos para prever o que outras pessoas podem fazer em situações em que os resultados não são claros. Por exemplo, quando um investidor pensa em comprar um título, ele considera seu potencial valor futuro, que é incerto e oscila devido às forças do mercado. Em vez de revisar todos os resultados potenciais, o investidor pode buscar informações sobre como outros participantes do mercado avaliam o ativo para prever seu preço futuro. A teoria dos jogos argumenta que a melhor maneira de prever o valor futuro de um ativo é observar o que todos os investidores estão fazendo, não apenas um (Souza; Malavazi, 2020). Observação A teoria dos jogos pode ser definida, de forma objetiva, como a habilidade de decidir de forma estratégica. Esta teoria expõe a sequência de eventos técnicos responsáveis pelas transações de ida e volta que simulam situações de como uma empresa irá agir. A teoria dos jogos pode ser usada de várias maneiras. Os economistas podem aplicá‑la para descobrir a produção provável de um negócio sob certas circunstâncias e condições. Os gestores de negócios podem usar a teoria dos jogos para modelar o comportamento humano em situações competitivas, como leilões e barganhas. Na tomada de decisão, a teoria dos jogos adota diferentes classificações (Almeida, 2006): • Cooperativo: envolve vários jogadores com vários interesses trabalhando juntos para resolver problemas e atingir objetivos. Os membros da equipe não estão em competição direta uns com os outros, mas cada um pode ter um objetivo individual a cumprir para o sucesso do grupo. Esse tipo de teoria dos jogos se concentra em grupos e comunidades onde os interesses coletivos são mais importantes do que os indivíduos dentro dele. • Não cooperativo: cada jogador tem seu próprio interesse, não havendo tentativa de cooperação entre os jogadores. Em vez disso, o foco está na competição e na estratégia dentro dos grupos. O único resultado nesta teoria do jogo é um jogador vencendo à custa de outro jogador. É o oposto da teoria dos jogos cooperativos, em que vários jogadores trabalham juntos para atingir um objetivo. • Simétrico: este é um dos conceitos fundamentais da teoria dos jogos. Simétricos referem‑se a qualquer situação em que os jogadores se igualam. Se todos os jogadores tiverem o mesmo poder ou status, pode‑se considerar o caso simétrico. Não há vantagem ou desvantagem para nenhum dos jogadores, e ambos têm chances iguais de ganhar e perder. Esse tipo de teoria dos jogos tende a se concentrar em estratégias de equilíbrio. 22 Unidade I • Assimétrico: um jogador tem mais influência do que os outros jogadores, o que os coloca em vantagem ou desvantagem, dependendo da situação. Um exemplo disso pode ser uma eleição política, em que um candidato tem mais financiamento ou reconhecimento de nome, dificultando a competição efetiva dos outros candidatos. Um jogador também pode ter acesso a informações melhores do que outros jogadores, o que pode dar a essa pessoa uma vantagem em determinadas situações. • Simultâneo: cada jogador decide uma estratégia sem conhecer a estratégia do outro. A técnica de cada jogador depende do que eles acham que os outros podem fazer. É possível usar esse tipo de teoria dos jogos em situações competitivas, em que cada participante pode ter diferentes objetivos ou interesses difíceis de prever. Esta teoria se concentra nas diferentes estratégias que os jogadores escolhem e nos resultados finais. A teoria dos jogos está se tornando cada vez mais valiosa para o mundo dos negócios, ajudando os profissionais tomadores de decisão a prever o comportamento do mercado. Ela contribui com os gerentes na escolha das melhores estratégias para aquisição, retenção, satisfação e intimidade do cliente. Essas informações também auxiliam a planejar estratégias de recrutamento, treinamento e desenvolvimento de pessoal (Almeida, 2006). Contudo, a teoria dos jogos não inclui o elemento de incerteza, que é significativo para certas situações. Por exemplo, durante as negociaçõesou ao tomar decisões que impactam significativamente as atividades de negócios, aplicá‑la é um desafio. Se não houver certeza sobre o próximo movimento do concorrente, pode ser difícil escolher a melhor estratégia. 1.2.4 Pensamento linear e não linear Você sabia que sua maneira de pensar afeta a maneira como você percebe o mundo ao seu redor? Sim, a forma como você pensa influencia suas decisões na hora de reagir a problemas e situações e resolvê‑los. O pensamento desempenha um papel crítico em sua capacidade de aprender, entender e assimilar conhecimento. A abordagem usada para resolver problemas e implementar um plano está intimamente ligada ao seu processo de pensamento. A maioria das pessoas se enquadra em um dos dois amplos processos de pensamento – pensamento linear e não linear (Larrick, 2017). O pensamento linear é um processo de pensamento sistemático e analítico que segue uma progressão passo a passo, semelhante a uma linha reta. Os pensadores lineares veem um problema como um processo com um ponto de partida definido que segue uma sequência de séries conectadas, levando finalmente a uma solução (Correia; Alexandre, 2021). Como um pensador linear, é provável que você se baseie em experiências e informações anteriores para resolver problemas diários. Seu cérebro prospera estabelecendo regras, consistências, fórmulas ou padrões para informar sua decisão ou fazer previsões. 23 PROCESSOS DECISÓRIOS Quando se trata de negócios – e da maioria das áreas da vida –, tendemos a pensar em linhas retas. Por exemplo, se uma prateleira comporta 50 livros, duas prateleiras comportam 100 livros e três prateleiras comportam 150 livros. No pensamento linear, uma coisa leva à próxima de forma gradual. Portanto, os pensadores lineares tendem a se destacar em ciências, matemática e assuntos técnicos. Esse estilo de pensamento será útil em uma carreira como engenharia química, de software ou mecânica, ou qualquer outro trabalho baseado em pesquisa, como contabilidade e especialização em tecnologia da informação TI (Correia; Alexandre, 2021). Como os pensadores lineares são orientados por dados, seu pensamento segue uma estrutura que é constantemente reforçada pela repetição sistemática. As neurossinapses nervosas (transmissões do impulso nervoso de um neurônio a outro) em seu cérebro seguem o mesmo caminho repetidamente, desenvolvendo habilidades e maestria dentro do campo escolhido. O pensamento linear é um processo binário com apenas dois conjuntos de respostas – corretas ou incorretas. O processo de pensamento lógico exclui todas as opções além das respostas sim ou não para a consideração. É simples, rápido, sequencial e organizado, tornando‑o mais popular (Groves; Vance, 2015). Ele é considerado maduro, honesto e inteligente, e o processo tende a ser organizado e eficiente para permitir a conclusão pontual das tarefas. Sem surpresa, o pensamento linear constitui 90% de nossos processos de pensamento diários. Um processo de pensamento linear é ordenado e direto, assim como as letras do alfabeto. A vem antes de B, e C vem depois de B. A sequência progride sequencialmente até a letra Z, onde termina. Nenhuma das letras é pulada, sai da vez ou é substituível. Progride‑se de uma letra para outra de maneira ordenada. Outro caso de pensamento linear pode ser visto no seguinte exemplo: se x = y e y = z, é lógico concluir que x = z (Larrick, 2017). Um processo de pensamento linear é popular porque segue uma lógica simples – uma linha reta é a menor distância entre dois pontos. É também a maneira mais eficiente de ir de um ponto (problema) a outro (solução). A entrada e a saída em um processo de pensamento linear são previsíveis, para não mencionar a apresentação ordenada e eficiente. Eles são fáceis de considerar, aprender e escrever, visto que a maioria dos processos da vida segue um padrão linear. A leitura e a escrita começam pela esquerda e seguem em linha reta para o lado direito de forma ordenada (Dias, 2022). O pensamento linear é o processo de pensamento mais comum porque segue um padrão lógico e ordenado. Ele permite que as pessoas desenvolvam experiências anteriores e apliquem essas lições para resolver problemas futuros. O pensamento linear é analítico, metódico, racional e lógico. Um processo linear avança como uma linha com um ponto inicial e um ponto final, e nosso cérebro muitas vezes quer fazer conexões retas simples em ordem sequencial. Em muitas situações, esse estilo de pensamento nos beneficia, 24 Unidade I especialmente se precisarmos fornecer informações precisas de forma sucinta. O pensamento linear se associa ao lado esquerdo do cérebro (a sede da lógica), o que significa que este é dominante (Groves; Vance, 2015). Os pensadores lineares usam as informações que aprenderam em uma situação para aplicá‑las a outra, a fim de resolver problemas. Eles usam consistência, regras, fórmulas ou padrões para tomar decisões na vida (Groves; Vance, 2015). O oposto é o pensamento não linear, que é um estilo de pensamento intuitivo, criativo, artístico e emocional, dominado pelo lado direito do cérebro (a sede da criatividade). Seus pensamentos menos restritivos se expandem em várias direções, o que permite vários pontos de lógica, em vez de apenas uma resposta. Os pensadores não lineares não trabalham em linhas retas ou de maneira sequencial. Em vez disso, eles fazem conexões e tiram conclusões de conceitos ou ideias não relacionados. Em contraste com as características racionais e metódicas do pensamento linear do lado esquerdo do cérebro, o pensamento não linear está associado ao pensamento criativo não lógico e é gerado pelo lado direito (Dias, 2022). Pense nesta situação: em uma reunião de diretoria, quando vários executivos fazem um brainstorm para resolver um problema, eles despejam suas ideias; as ideias de um alimentam a criatividade de outro, e assim chegam a uma decisão ou conclusão unânime. É um exemplo de pensamento não linear. Os pensadores não lineares podem ver as coisas sob vários pontos de partida, tarefas e etapas de diferentes direções. Ambas as visões de pensamento e habilidades podem ser lógicas (Dias, 2022). Essas duas habilidades são importantes e necessárias nos negócios, na administração, na liderança e na própria vida pessoal (quadro 1). Para ser um bom líder, é preciso alternar entre o lado direito e o lado esquerdo do cérebro. Podem haver desafios quando alguém superindexa um hemisfério do cérebro em detrimento do outro. Quadro 1 – Comparativo entre o gestor linear e não linear Gestor não linear – tomada de decisão Gestor linear - tomada de decisão Resistente à mudança Inovador Mecanicista Orgânico Imediatista Não previsível Racional Intuitivo Metódico Desordenado 25 PROCESSOS DECISÓRIOS 1.2.5 Pensamento sistêmico O pensamento sistêmico é uma abordagem holística da análise que se concentra na maneira como as partes constituintes de um sistema se inter‑relacionam e como os sistemas funcionam ao longo do tempo e no contexto de sistemas maiores (Silva, 2019). Exemplos de pensamento sistêmico incluem ecossistemas, carros e corpos humanos, bem como organizações. Os pensadores de sistemas nos ensinaram que um sistema é um produto da interação de suas partes, não apenas a soma delas. Por exemplo, um carro desmontado não é mais um carro, pois perdeu suas funções essenciais (Silva, 2013). O pensamento sistêmico auxilia a tomar uma decisão de forma lógica, perguntando continuamente se essa decisão afetará alguém fora do escopo. Ao implementar a mudança, os administradores precisam considerar todas as partes interessadas em todo o sistema afetado antes de agir. As pessoas com pensamento linear veem as relações entre diferentes aspectos de seu ambiente indo em apenas uma direção, enquanto os pensadores sistêmicos capturam o conceito de relações bidirecionais com mais frequência. O pensamento sistêmico como um processo busca atingir três objetivos: compreender a dinâmicade um sistema – análise; compreender a hierarquia de um sistema – síntese; e desenvolver soluções – tomada de decisão. Esses três elementos possibilitam a aplicação do “pensamento sistêmico” como uma função para resolver problemas (Silva, 2019). O pensamento sistêmico oferece uma maneira de prever melhor os resultados – não com base em eventos passados, mas em uma compreensão mais íntima da estrutura circundante e de seus elementos (Silva, 2013). O pensamento sistêmico é um componente essencial do processo de tomada de decisão dentro da equipe de gerenciamento de uma organização. Recomenda‑se explorar a definição de pensamento sistêmico em gerenciamento, aprender sobre sua teoria e modelo subjacentes e descobrir quais são seus benefícios para uma organização que aprende. Observar a interconectividade dentro de um sistema inteiro não é simples, tampouco um processo automático. Nas sociedades ocidentais, somos muito mais propensos a pensar de forma redutiva, lidando com cada componente da organização. O problema desse tipo de pensamento é que o que é bom para um sistema menor pode acabar sendo prejudicial para o todo. O pensamento sistêmico colabora para encontrar novas maneiras de melhorar a eficiência e a economia de recursos. Estudar o sistema de uma organização e as interações entre seus elementos favorece o desenvolvimento de novas ideias e inovações. Também permite identificar problemas rapidamente e testar novas soluções para eles. 26 Unidade I É necessário entender o sistema com o qual se está trabalhando e então identificar seus pontos de alavancagem – em outras palavras, em um sistema, uma pequena mudança em uma coisa pode produzir grandes mudanças em tudo (Silva, 2019). Em todo sistema surgirão padrões. Ao identificá‑los, é possível descobrir quais partes do sistema precisam ser ajustadas. Há uma diferença entre “problemas de pessoas” e “problemas de sistemas”. Uma contratação ruim de alguém que está fofocando e distraindo sua equipe do trabalho é um problema de pessoas. Portanto, substituir essa pessoa é um ponto de alavancagem, mas isso não significa que o problema de pessoal ainda não esteja relacionado a um sistema de algum modo. Talvez haja uma falha no processo de entrevista que permitiu que a má contratação fosse feita. Nesse caso, o ponto de alavancagem seria ajustar seu processo de contratação (Silva, 2013). 1.3 Atores e estilos de decisão A tomada de decisão é o processo que resulta na seleção de um curso de ação entre várias possibilidades. Todo processo de tomada de decisão produz uma escolha final, que segue o processo de identificação e escolha de alternativas com base nos valores e preferências do tomador de decisão, ou seja, o ator. Tendo como pano de fundo os desafios gerais e as necessidades para uma tomada de decisão válida, vamos agora aprender mais sobre os diferentes atores envolvidos e impactados pela expertise e por processos de decisão quando se lida com riscos e resiliência. As decisões estão no dia a dia dos negócios e dependem da produção dos diferentes atores em cada fase da vida. A falta de apoio dos atores‑chave e o não atendimento aos seus interesses e informações podem levar a uma falha no processo de tomada de decisão (Okoro, 2016). A relação dos atores entre si é um aspecto importante no processo de decisão, a fim de reduzir conflitos. Muitos projetos, estratégias ou decisões de modificação falham por vários motivos, um deles a falta de apoio dos principais atores envolvidos nesses planos. Nesse sentido, o primeiro passo a ser dado em qualquer processo de tomada de decisão é identificar os atores. É importante não confundir uma parte interessada com um ator. As partes interessadas são os que seriam afetados por uma nova decisão (que pode ser positiva ou negativa), enquanto os atores são aqueles que assumiriam a responsabilidade pelo processo. Atores geralmente são afetados por várias políticas em qualquer decisão. Um conjunto de políticas são princípios, regras e diretrizes formuladas ou adotadas por uma organização para alcançar seus objetivos de longo prazo (Okoro, 2016). Os atores dos processos decisórios são racionais. Seu objetivo é voltado para uma meta. O objetivo de um ator é baseado em duas considerações, a saber, as preferências de um sujeito (que define os objetivos com base no interesse dos atores) e as considerações no nível macro e micro. Isso mostra a capacidade de um ator moldar os resultados de um processo decisório, e os atores influenciam outros atores. Existem quatro tipos de recursos comuns na decisão dos processos: recursos políticos, recursos econômicos, recursos legais e recursos cognitivos. Eles podem também ser classificados em três grupos: dados e informações, teorias e modelos e conhecimento sobre o processo (Tramontano; Pita; Mello Sousa, 2020). 27 PROCESSOS DECISÓRIOS Os atores podem ser divididos em cinco categorias, a saber (Tramontano; Pita; Mello Sousa, 2020): • Atores políticos: representantes eleitos que precisam ter acesso ao processo decisório. • Atores burocráticos: pertencem aos setores administrativos e influenciam o processo de tomada de decisão baseado em responsabilidades específicas. • Atores de interesse especial: podem incluir indivíduos, organizações ou pessoas que vivem em uma área específica. Muitas vezes nos processos de decisão testemunham a intervenção de sujeitos que tentam influenciar os resultados em uma lógica utilitária. • Atores de interesse geral: fundamentam sua pretensão de intervenção no processo decisório na premissa de que representam sujeitos e/ou interesses que não podem se defender. • Atores peritos: baseiam sua pretensão de intervenção no fato de ter os conhecimentos necessários, pelo que os processos decisórios devem envolvê‑los tanto quanto possível. Observação Dado, informação e conhecimento são elementos fundamentais para que os atores possam tomar decisões acertadas. Afinal, quem são os principais atores envolvidos no processo decisório? • Decisores: decidem sobre o problema de decisão. Os tomadores de decisão são indivíduos, empresas ou até mesmo um grupo de gerentes. • Analistas da decisão: dominam a técnica e produzem informações para amparar a ação do decisor. • Especialistas: estão diretamente envolvidos na área da decisão, têm amplo conhecimento sobre o processo e emitem suas opiniões para a construção da informação que suporta a tomada de decisão. • Pessoas afetadas pela decisão: não estão, diretamente, envolvidos na decisão, mas serão impactadas, positiva ou negativamente, pela decisão tomada. Veja este estudo de caso sobre a tomada de decisão conflituosa envolvendo diferentes atores (Okoro, 2016): A BIC é uma empresa multinacional que possui muitas fábricas, mas a fábrica de interesse está localizada em Ramos Arizpe, México. Essa fábrica é responsável por embalar produtos de barbear e depois exportá‑los para os EUA. 28 Unidade I A tomada de decisão nessa planta envolve vários atores, que são: produção, planejamento, qualidade, departamentos de manutenção e almoxarifado. Se os processos de tomada de decisão não reconheceram plenamente uma abordagem de análise multiator, o processo de produção sofreu com isso. O departamento de produção tinha de cumprir ritmos de produção, e, para isso, as máquinas tinham de estar em bom estado. No entanto, o departamento de produção não permitiu que o departamento de manutenção agendasse manutenção preventiva dos equipamentos, pois aumenta a folga do processo produtivo. O interesse da manutenção em garantir o estado ideal do maquinário estava em conflito direto com o interesse de a produção atingir uma determinada taxa de produção. Os resultados a princípio foram altas taxas de produção sem paralisação no processo de produção. No entanto, devido à falta de manutenção, houve a necessidade de correções, manutenção que leva mais tempo do que a manutenção preventiva. Isso significa que as taxas de produção baixaram consideravelmente devidoà falha do maquinário. Assim, fica clara a importância de considerar os diferentes atores, necessidades, interesses e percepções. Se o departamento de manutenção tivesse expressado suas preocupações sobre o estado do maquinário e suas consequências, o departamento de produção teria afirmado a necessidade de atingir determinada taxa de produção, o esforço do departamento de qualidade para respeitar os padrões e o departamento de planejamento sobre as metas de planejamento, talvez um trade‑off pudesse ter sido alcançado, levando‑se em consideração a influência de vários atores no processo de decisão. E fato é que com o envolvimento de diferentes atores na tomada de decisão é necessário considerar que cada um deles terá seu próprio estilo de tomada de decisão, entre os quais se encontram: analítico, diretivo, conceitual e comportamental. Os quatro estilos de tomada de decisão são estratégias que líderes e indivíduos empregam para fazer escolhas. Diferentes estilos funcionam melhor em diferentes situações ou ambientes, e entender a tomada de decisões leva a ambientes de trabalho produtivos, cooperativos e engajados. Saber quando usar estilos diferentes pode melhorar a liderança, o conhecimento de si mesmo e a compreensão dos outros no local de trabalho (Abdelsalam; Dawoud; Elkadi, 2013). A tomada de decisão adequada pode aumentar a produtividade, contribuir para a missão e visão de uma empresa e incentivar uma cultura de equipe (quadro 2). Quadro 2 – Estilos de tomada de decisão Analítico Conceitual Diretivo Comportamental — quer as melhores respostas — gosta de resolver problemas — usa dados consideráveis — realiza análise cuidadosa — forte necessidade de mudança — foco amplo — criativo e humanístico — futuro orientado — busca a independência — forte necessidade de reconhecimento — agressivo e autocrático — espera resultados — age em resposta — é verbal — usa funções — forte necessidade de poder — apoiador e enfático — prefere comunicação — usa a intuição em vez dos dados — forte necessidade de afiliação 29 PROCESSOS DECISÓRIOS 1.3.1 Abordagem de tomada de decisão analítica Como o nome sugere, a chave para a tomada de decisão analítica é uma análise cuidadosa para determinar a melhor resposta para um problema ou questão. Os tomadores de decisão analíticos são orientados para a tarefa, concentrando‑se na análise de dados para determinar a melhor resposta para uma determinada tarefa. Eles também são flexíveis, pois permanecem abertos, permitindo que os dados informem suas decisões sem viés para um resultado específico (Abdelsalam; Dawoud; Elkadi, 2013). Na tomada de decisão analítica, o tomador de decisão faz um exame cuidadoso e extenso dos dados e informações disponíveis antes de tomar uma decisão. Os líderes baseiam as decisões em observações, dados e fatos e buscam informações adicionais quando necessário. O tomador de decisão é adaptável, mas mantém o controle do processo. 1.3.2 Abordagem de tomada de decisão diretiva A tomada de decisão diretiva baseia as escolhas no que já é conhecido. O tomador de decisão seleciona a melhor opção com base em sua experiência anterior, sem entrada externa. É focado em tarefas, orientado para resultados, racional e lógico. A tomada de decisão diretiva é mais eficaz para processos recorrentes e decisões de curto prazo (Abdelsalam; Dawoud; Elkadi, 2013). A tomada de decisão diretiva tem pouca tolerância para ambiguidade, usando planos estruturados para permitir um pensamento direto, rápido e decisivo. Das estratégias de tomada de decisão, a diretiva depende menos de dados ou da entrada de outros indivíduos, contando quase exclusivamente com o conhecimento do tomador de decisão. 1.3.3 Abordagem de tomada de decisão conceitual O estilo de tomada de decisão conceitual envolve grandes ideias, pensamento criativo e colaboração. É melhor usado para explorar o quadro geral por trás de uma decisão. É como olhar para a floresta, não necessariamente para as árvores. A tomada de decisão conceitual é uma visão de futuro e leva em consideração o que pode acontecer no futuro ao fazer escolhas (Abdelsalam; Dawoud; Elkadi, 2013). Um ponto destacável da tomada de decisão conceitual é a incorporação de múltiplas perspectivas e a exploração de ideias concorrentes. É uma mente aberta e caracterizada pela imprevisibilidade, valorizando as contribuições do grupo, engajamento e pensamento inovador. É mais adequado para planejamento de longo prazo em um ambiente com variáveis imprevisíveis. Orientado socialmente com alta tolerância à ambiguidade, concentra‑se no que pode ser alcançável. 1.3.4 Tomada de decisão de estilo comportamental A tomada de decisão de estilo comportamental descreve pessoas que preferem estrutura e estabilidade e são motivadas por manter a harmonia. Se você é um tomador de decisões de estilo comportamental, seus relacionamentos são provavelmente a coisa mais importante em sua vida. É provável que você coloque as necessidades e opiniões de familiares, amigos e colegas acima das suas (Abdelsalam; Dawoud; Elkadi, 2013). 30 Unidade I Pode parecer difícil equilibrar o desejo de estrutura e os pensamentos e sentimentos de outras pessoas, mas os tomadores de decisão de estilo comportamental conseguem isso buscando informações e avaliando as reações das pessoas no processo de tomada de decisão. Eles usam as informações que coletam para encontrar soluções às quais acreditam que os outros responderão bem e normalmente pedem conselhos antes de seguir em frente com uma decisão. Os pontos fortes dos tomadores de decisão de estilo comportamental são, principalmente, sua capacidade de fazer os outros se sentirem incluídos e importantes, obtendo a adesão dos outros e comunicando suas decisões. 1.4 Processos decisórios e o administrador A tomada de decisões administrativas pode ser descrita como a aplicação de regras gerais a casos individuais, muitas vezes no contexto da execução de tarefas públicas. Esse processo é composto por atividades administrativas que levarão a organização a alcançar suas metas. A tomada de decisão é um processo, não um evento único. Envolve coletar informações, gerar opções, avaliar alternativas e implementar a solução escolhida, por isso, os administradores devem usar raciocínio lógico e pensamento crítico para tomar decisões informadas, que se alinhem com os objetivos de sua equipe. Hoje, a administração pode ser vista como: disciplina científica, habilidade, profissão, processo. A gestão é uma habilidade que, como qualquer outra, é adquirida pela experiência. Hoje, a administração é uma profissão consolidada no mercado de trabalho, e a compreensão da gestão como um processo ou uma abordagem de processo para a gestão é o mais importante para entender não apenas o termo, mas seu próprio conteúdo. Gestão como um processo consiste em determinadas funções. Na teoria e na prática contemporâneas, cinco princípios básicos de funções de gestão foram aceitos: planejamento, organização, gestão de recursos humanos, liderança e controle. O administrador é quem toma as decisões e a tomada de decisão é a essência do planejamento. O planejamento é a primeira e mais importante função da administração como um processo que determina todas as outras funções: organizar, gerenciar recursos humanos, gerenciar e controlar. A tomada de decisão é um componente crítico do dia a dia de todos os gerentes. Seja reorganizando o orçamento do departamento, delegando tarefas ou implementando uma nova estratégia, as escolhas diárias dos gerentes têm impacto direto no sucesso de sua organização. Ser capaz de tomar decisões é a principal função do profissional de administração de uma empresa, e para tomar decisões acertadas, ao longo de sua formação e de sua prática, o administrador é preparado para analisar as estruturas e os processos organizacionais, finanças da empresa, visão mercadológica e estratégica da organização, além de obter conhecimento quantitativo e jurídico que lhepossibilita ser o profissional mais indicado para liderar o processo decisório (figura 5). 31 PROCESSOS DECISÓRIOS Visão holística Visão de futuro Liderança Foco em resultados Comunicação Administrador Flexibilidade Figura 5 – Características do administrador no processo decisório Contudo, várias profissões têm sido impactadas pela tecnologia, e a tomada de decisão, função do administrador, não tem sido diferente. A tecnologia tem favorecido a atuação do profissional nesse processo. 1.5 Tecnologias e impactos na tomada de decisão A mudança tecnológica pode trazer vantagens e oportunidades para os negócios. Obviamente, a nova tecnologia pode criar novos produtos e serviços, criando assim mercados totalmente novos para uma empresa. Além disso, melhorias em produtos e processos tecnológicos podem aumentar a produtividade e reduzir custos. O uso da tecnologia nas operações e atividades empresariais hoje em dia é indispensável. A tecnologia disponibiliza informações para todos os tomadores de decisão, ajuda a acelerar os processos e aumenta a eficiência. Além disso, permite que os chefes de departamento colaborem melhor com suas equipes para executar as decisões, além de oferecer a oportunidade de atualizar os funcionários sobre como realizar tarefas que beneficiarão a empresa (Nunes, 2019). A tecnologia auxilia a construir uma cultura de transparência e confiança na organização, tornando o processo de tomada de decisão também mais transparente, pois com a ajuda da tecnologia, compartilham‑se informações importantes com os membros da equipe, clientes e partes interessadas em tempo real (Nouinou et al., 2023). 32 Unidade I Um primeiro benefício da tecnologia é a coleta de informações que podem dar suporte à decisão. As pessoas encarregadas de tomar decisões de negócios precisam de acesso a informações para preparar e justificar suas escolhas. Os dados podem ser obtidos de registros de clientes, registros financeiros, tendências de mercado, perfis de concorrentes e outros detalhes corporativos. Para acessar uma quantidade tão grande de dados, uma empresa pode usar um sistema de gerenciamento de dados robusto, que pode armazenar informações em um local central, acessível por uma rede segura (Nunes, 2019). Uma dos maiores benefícios da tecnologia na tomada de decisão é a análise de dados. Tecnologias que facilitam isso auxiliam os tomadores de decisão a analisar grandes conjuntos de dados e identificar padrões e tendências não visíveis em métodos tradicionais. Desse modo, contribui‑se para uma melhor avaliação de risco, otimização de recursos e análise de desempenho. Além disso, um dos impactos significativos do avanço tecnológico na gestão de operações é a automatização dos processos, que possibilitou que as empresas simplificassem seus processos, melhorassem a eficiência e reduzissem os custos operacionais (Nouinou et al., 2023). Antes de uma decisão ser tomada ou implementada, ela deve passar por várias etapas, incluindo preparação, estruturação, tomada e gerenciamento. Os requisitos de dados para cada estágio variam. Se sua organização investir em software de inteligência de negócios, ela poderá selecionar, analisar e manipular dados como quiser e decidir o que é melhor para a empresa. Monitorar a produtividade e a eficiência de sua força de trabalho pode impulsionar o sucesso da empresa. A tecnologia contribui para analisar e identificar aqueles que estão com dificuldades ou com baixo desempenho. Como resultado disso, o departamento de RH será orientado a contratar alguém novo ou encontrar maneiras de aumentar a confiança da força de trabalho existente para torná‑la mais proativa e produtiva para a empresa. Ao integrar a tecnologia na fabricação para melhorar os produtos ou fornecer serviços extras para os clientes, é possível aumentar a participação de mercado de seu produto (Nouinou et al., 2023). Embora isso possa ser um desafio, a tecnologia ajudará a identificar e implementar novas ideias. É possível também analisar a resposta do mercado, ajudando‑o a agregar valor, melhorar a produtividade e manter‑se competitivo. Podem‑se usar ferramentas para escuta social, como feedback do cliente, ou simplesmente acompanhar os números de vendas para ver o que funciona bem. Além disso, os dados históricos de vendas auxiliam a preparar‑se para picos sazonais ou períodos lentos, de modo que se disponibilizem recursos e agendem funcionários com antecedência. As ferramentas tecnológicas também podem auxiliar a gerenciar pedidos e preços de produtos, tomar decisões de estoque e marketing e equilibrar o estoque. Isso permite aprimorar o planejamento, o design e o desenvolvimento do produto e as decisões de marketing relacionadas aos produtos com base nos dados extraídos. Por fim, as ferramentas de gerenciamento de ativos digitais contribuem para gerenciar equipamentos e monitorar os recursos da empresa. Saber o que a empresa tem, onde está e quem o utiliza pode ser uma mina de ouro de dados para reduzir custos e agilizar as operações. 33 PROCESSOS DECISÓRIOS Quando se trata de tomada de decisão, é importante ter uma plataforma de comunicação segura e confiável. Um sistema de colaboração pode simplificar a comunicação da equipe para se concentrar em tomar decisões melhores e mais informadas, em vez de gastar tempo configurando e organizando reuniões (Nouinou et al., 2023). Saiba mais Para saber mais sobre o impacto da tecnologia na tomada de decisão. Leia o capítulo: PRÉVE, A. D.; MORITZ, G. O.; PEREIRA, M. F. A tecnologia da informática como apoio à decisão. Organização, processos e tomada de decisão. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC; Brasília: Capes: UAB, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3LlT65N. Acesso em: 15 set. 2023. 2 A ORGANIZAÇÃO COMO SISTEMAS DE DECISÕES De acordo com a teoria de sistemas, uma organização pode ser vista como um sistema dinâmico e aberto, em que sistema é um emaranhado de elementos interdependentes que interagem para objetivos específicos e desempenham funções específicas. A organização é um sistema de decisão em que cada indivíduo participa consciente e racionalmente, decidindo entre alternativas mais ou menos racionais expostas de acordo com sua personalidade, motivações e atitudes (Gomes; Gomes, 2019), em consonância com as informações e os cenários que cercam a decisão e suas consequências. A tomada de decisão organizacional é amplamente concebida como um processo abrangendo decisões de um único ator e de múltiplos atores dentro das organizações, tomadas em um contexto de relações contínuas para fins de eficácia (Al‑Okaily et al., 2022). A tomada de decisão é um dos aspectos mais importantes da empresa, mas o processo de chegar a uma decisão deve ser preciso, para que produza os melhores resultados. Também é importante lembrar que, embora a equipe executiva tome as decisões importantes, há uma série de decisões menores que os gerentes e membros da equipe tomarão, às vezes sem a opinião daquela. Para garantir que a tomada de decisões seja uniforme em toda a organização, pode‑se implementar um processo que todos possam seguir. As organizações são vistas como sistemas de tomada de decisões, com ênfase no processo pelo qual selecionam cursos alternativos de ação. É considerado um modelo abrangente que gera todos os cursos alternativos de ação e examina todas as consequências dessas alternativas para todos os objetivos relevantes. 34 Unidade I 2.1 Processos e estruturas organizacionais nas decisões A estrutura organizacional de uma empresa é estruturada por sua hierarquia de equipes, líderes, gerentes e colaboradores individuais. As estruturas organizacionais determinam o que os funcionários fazem, a quem se reportam e como as decisões são tomadas. No mínimo, um organograma deve incluir os cargos dos funcionários e os relacionamentos básicos entre as equipes. As estruturas organizacionais podem usar funções, mercados, produtos, ou processos
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