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100 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . > É um lavrador pobre, que desejava ter sua própria terra, mas que não conseguiu realizar esse objetivo. 2 Possibilidades: “com palmos medida”; “É de bom ta- manho, / nem largo nem fundo”; “não é cova grande”; “é cova medida”. a) Espera-se que o aluno perceba que a conta menor recebida pelo defunto pode ser uma metáfora para vila pequena, pequena quantidade de terra. Tudo o que ele, que tinha sonhado em ganhar sua própria terra, conseguiu obter foi a cova. b) Na segunda e na terceira quadras, as comparações entre o tamanho da cova e o tamanho do latifúndio marcam a diferença entre o que o defunto esperara receber da vida e o que recebeu, a injustiça entre um ter tanta terra e o outro apenas uma cova. c) Porque a cova é definida como grande em razão do “pouco defunto” do lavrador, isto é, sua miséria faz com que o seu túmulo pareça maior, já que sua morte significa uma forma de libertação. Por isso, a contradição entre esse verso e o da fala anterior é apenas aparente. 3 Ao usar o adjetivo para caracterizar tanto a vida quanto a morte tematizadas no auto, o eu lírico expressa, em uma única palavra, o significado de ser nordestino. Derivado do nome próprio “Severino”, que representa todos os retirantes que sofrem com a seca, com a falta de trabalho e, via de regra, encontram a morte em seu caminho, o adjetivo “severina” acaba por fazer refe- rência ao sofrimento de todos os nordestinos. Nesse sentido, “severina” equivale a tudo o que é pequeno, sofrido, dífícil, “pouco” e que representa a “sina” de tantos retirantes. 4 a) e b) Espera-se que o aluno identifique no poema e na fala de João Cabral um descontentamento com as injustiças sociais e com as instituições. O próprio questionamento sobre se vale a pena ou não viver uma vida severina é um reflexo dessa tendência. 5 O lavrador enterrado representa todos aqueles que morrem sem ter seu direito à terra garantido. Nesse trecho, por meio do funeral do lavrador, o leitor é levado a perceber que essa é a realidade de muitos trabalha- dores rurais. > Resposta pessoal. Espera-se que os alunos perce- bam que os “severinos” atuais são todos os migran- tes que saem do interior ou das regiões mais afas- tadas em busca de melhores condições de vida nos grandes centros econômicos. Representam uma grande parcela da população brasileira que não tem acesso a condições dignas de sobrevivência e incham as favelas, enfim, todos os que não têm os direitos básicos garantidos em um país marcado pela desigualdade social. Texto para análise 658 1 As palavras “emburrada/empurrada”; “sentou-se/ sentiu-se”; “capitão/capotão”; “botas/bodas”. O que chama a atenção nessas palavras é o fato de algumas letras estarem apresentadas com uma sobreposição, isto é, há uma letra sobre a outra: p/b, o/i, i/o, t/d. Com essa sobreposição, a palavra se altera: em lugar de uma, temos duas. > Com essa sobreposição das letras, o poema pode ser lido de diferentes formas: o que é dito se altera em função da mudança da palavra que tem uma letra sobre a outra. 2 A escolha de uma letra ou outra na leitura do poema produz, a princípio, os seguintes sentidos: “A mocinha emburrada sentiu-se mal em cima do capotão presente de bodas de ouro”. “A mocinha empurrada sentou-se mal em cima do capitão presente de botas de ouro”. Esses dois sentidos ou possibilidades de combinação de palavras são os mais evidentes, mas poderia haver outros, a depender da escolha das palavras a serem lidas. Por exemplo: I. A mocinha empurrada sentiu-se mal em cima do capotão presente de bodas de ouro. Ou: II. A mocinha emburrada sentou-se mal em cima do capitão presente de botas de ouro. a) A palavra “presente” pode significar o objeto doado ou oferecido a alguém e também a ação de estar em algum lugar ou recinto. Essas duas possibilidades de interpretação são dadas pela palavra a que se associa o termo destacado: se estiver associada a “capotão”, será interpretada como aquilo que foi presenteado nas bodas de ouro; se, por outro lado, for relacionada a “capitão”, refere-se à presença dele no local. b) A concretude do poema é garantida pela apresen- tação gráfica das letras que se sobrepõem, gerando as diferentes leituras do texto. As palavras grafadas dessa maneira demonstram que se atribui ao signo verbal um papel central na construção do poema. c) O título do texto, “alfabeto duplo”, reforça o jogo feito com as letras, alerta para a existência de letras com mais de um significado. 3 O eu lírico se refere às coisas que traduzem o cotidiano, o dia a dia das pessoas comuns: o preço do arroz e do feijão, o gás, o telefone, a luz, o salário “de fome” do funcionário público, o trabalho pesado do operário. a) As condições de vida difíceis de muitos brasileiros, que lutam para sobreviver, trabalhando arduamente e recebendo baixos salários. b) A expressão pode ser interpretada, primeiramente, como os temas ou as questões que não têm espaço ou lugar na poesia, que não são tratados nela (ou por ela). Em segundo lugar, pode se referir ao fato de que as misérias humanas, os problemas sociais e políticos são tão grandes que não podem ser con- tidos no poema: são maiores que ele. c) A repetição contribui para reforçar a ideia de que esses aspectos da vida humana deveriam fazer parte do poema, do trabalho poético. d) Por meio da negação, a partir da repetição da expres- são “não cabe no poema”. Ao elencar tudo o que não cabe no poema, o eu lírico acaba reafirmando o que Sup_P3_(075-112)_c.indd 100 11/11/10 11:21 AM 101 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . deveria estar contido no poema e não está: por meio da negação, ele “insere” no poema os elementos do cotidiano que deveriam ser nele contemplados. 4 Funcionário público: “com seu salário de fome / sua vida fechada / em arquivos”. Operário: “que esmerila seu dia de aço / e carvão / nas oficinas escuras”. > As péssimas condições de trabalho a que são sub- metidos: recebem baixíssimos salários (de fome), em ocupações que lhes negam condições dignas de vida, que é fechada em arquivos ou esmerilada nas oficinas escuras. 5 “O homem sem estômago”, “a mulher de nuvens”, “a fruta sem preço”. > Representam a negação da realidade, a alienação das condições sociais difíceis que marcam a vida dos brasileiros. O que tem espaço no poema é aquilo que se distancia do cotidiano duro do povo: a ausência da fome, a idealização da mulher, a despreocupação com o dinheiro. 6 Ao afirmar que o poema “não fede nem cheira”, o eu lírico deixa clara a sua posição sobre a necessidade de se tratar das questões sociais. Isso é reforçado pelo títu- lo do poema, retomado na penúltima estrofe. Segundo o eu lírico, “não há vagas” no poema para a realidade do país, para os “cheiros” da vida elencados no início do texto. Aquilo que deveria estar no poema não cabe nele, mas deveria caber. Dessa forma, ele reafirma a função social da poesia, que, para ele, deveria tratar de temas que refletem a realidade do nosso país e as dificuldades enfrentadas pelo povo. Por isso, um poema que não trate dessas questões “não fede nem cheira”. a) Ao apontar os elementos que não estão no poema, o eu lírico tematiza as questões sociais, políticas e eco- nômicas que produzem os efeitos que caracterizam o nosso subdesenvolvimento: a inflação, representada pelo preço do arroz, do feijão, do gás, etc.; a exploração do trabalhador, indicada pela referência ao funcioná- rio público e seu “salário de fome” e as condições de trabalho do operário. Todosos elementos apresenta- dos refletem a realidade de um país que, em razão de seu subdesenvolvimento, não garante aos cidadãos comuns condições dignas de sobrevivência. b) Espera-se que o aluno perceba que a última estrofe pode ser considerada uma crítica ao fato de que, nesse período, tudo era censurado e toda produção cultural que de alguma forma questionasse ou criti- casse o governo despertava perseguições. Somente o que não “fedia ou cheirava”, ou seja, o que não convidava à reflexão ou à transformação era aceito. Jogo de ideias 659 A atividade proposta tem por objetivo, além de aprofundar a discussão apresentada no capítulo sobre a produção da ge- ração de 1945, e, em especial, sobre a obra de João Cabral de Melo Neto, levar os alunos a compreender de que maneira, em Morte e vida severina, o autor retrata a miséria das regiões assoladas pela seca e o drama vivido pelos habitantes do Nordeste. Também acreditamos ser possível, por meio dessa atividade, estimular os alunos a exercitarem a capacidade de leitura de textos poéticos, como esse produzido por João Cabral, cuja estrutura acaba por contribuir para que ele possa ser encenado com maior facilidade. A tarefa de selecionar uma das cenas do poema levará os alunos a lê-lo na íntegra, o que, talvez, possa despertar o interesse deles por outros textos desse autor. Acreditamos, também, que a atividade proposta criará um contexto mais interessante para a discussão sobre os elementos característicos dessa obra. Assim, os alunos serão capazes de compreender e aprofundar seus conhecimentos no que diz respeito ao texto de Morte e vida severina e perceber como o poema acaba por retratar, de forma bastante crí- tica, por meio da trajetória de Severino, o drama vivido por outros retirantes como ele. Para que isso ocorra, será necessário que os alunos, no momento de selecionar as cenas que representarão, iden- tifiquem, além das que deverão — necessariamente — ser escolhidas do trecho inicial e do trecho final do poema, aquelas em que fique evidente a dura realidade nordes- tina testemunhada por Severino. É importante explicar aos alunos o motivo da orientação de que duas das cenas, dentre as quatro que deverão ser representadas, pertençam ao trecho inicial e final do poema: garantir que as cenas apresentadas permitam a compreensão dos elementos/ acontecimentos mais significativos da trajetória de Seve- rino, em especial, seu início e seu desfecho. Seria interessante que, depois da representação das ce- nas, os alunos fizessem uma discussão comparativa sobre os elementos que caracterizam os habitantes das regiões assoladas pela seca e os problemas enfrentados por eles, descritos em cada um dos trechos que os grupos seleciona- ram. O principal objetivo dessa reflexão é levar os alunos a uma discussão que retome alguns dos principais conceitos do capítulo e permita uma aplicação do conhecimento que adquiriram. Uma viagem no tempo: primeiras leituras 664 Para sugestões gerais sobre o trabalho com os textos trans- critos nesta seção, leia, neste Suplemento, a parte inicial da orientação para a seção “Uma viagem no tempo: primeiras leituras” do Capítulo 23. Autores como Clarice Lispector e Guimarães Rosa apre- sentam um desafio a seus leitores: aceitar serem levados para novas dimensões à medida que tomam contato com a narração de acontecimentos aparentemente prosaicos. O caminho para essas novas dimensões é construído pelo modo como esses autores utilizam a linguagem, explorando de modo consciente e intencional suas várias possibilidades de sentido. Escolhemos, para o primeiro contato dos alunos com as narrativas brasileiras escritas a partir de 1945, dois contos de autoria de Clarice Lispector. Queríamos que eles tivessem a oportunidade de ler textos integrais que ilustrassem o poder criador da linguagem. Em Tentação e Uma esperança, a força simbólica da narrativa de Clarice se manifesta pela releitura sugestiva do contato entre seres de diferentes espécies. No caso de Tentação, temos o encontro entre uma menina e um cachorro; em Uma esperança, uma mãe e seus filhos são tocados pela aparição do inseto de mesmo nome. As duas situações revelam-se transformadoras para os seres humanos. Para estimular a conversa sobre os contos lidos, alguns tópicos podem ser sugeridos aos alunos: Sup_P3_(075-112)_c.indd 101 11/12/10 12:02 PM 102 C om en tá ri os e r es po st as d as a ti vi da de s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . > Os contos apresentaram alguma dificuldade de compreensão para eles? > Do que trata o conto Tentação? E Uma esperança? > O que aparece representado nas imagens reprodu- zidas na seção? > Perceberam alguma relação entre as imagens e os textos? > A cena inicial de Tentação apresenta uma criança sentada em um degrau em uma tarde de sol. O que, no texto, faz com que se tenha a impressão de que é um dia de grande calor? > Pelo modo como o narrador fala dessa criança, que imagem é construída pelo leitor? Ela é uma menina feliz? > Que acontecimento inesperado chama a atenção da menina? > O encontro entre a menina ruiva e o basset é contado a partir da perspectiva de uma pessoa que estava do outro lado da rua, esperando o bonde. Esse fato interfere no modo como os acontecimentos são apresentados? Por quê? > O que teria provocado uma identificação imediata entre a menina e o cachorrinho? > Que tipo de sentimento parece tomar conta dos dois? Por quê? > Quando se separam, o narrador afirma que o cachorro foi mais forte do que a menina, porque não olhou para trás nem uma vez. O que ele pretende sugerir ao leitor do texto, por meio de um comentário como esse? > Se considerarmos que tudo o que aconteceu em Tentação foi contado por alguém que não participa da ação, será que os comentários e observações feitos pelo narrador sobre como se sentem a menina e o cachorrinho podem ser questionados? Por quê? > Que acontecimento, no conto Uma esperança, dá início à narrativa? > De que modo as pessoas são afetadas pelo apareci- mento da esperança? > Eles acham que, na fala/pensamento da mãe, a palavra “esperança” é usada somente para fazer referência ao inseto? Se não, que outro sentido tem? Em que momentos ela tem esse segundo sentido? > Por que a aranha é vista como uma ameaça? Por que a mãe hesita quando o filho decide matar a aranha? > Esse não foi o primeiro contato da mãe com uma esperança. O que aconteceu antes? Ela percebeu alguma mudança em sua vida? > Eles já se perceberam atribuindo sentidos diferentes a acontecimentos banais? Quando e por que fazem isso? > Os textos e as imagens os fazem lembrar de outros textos, músicas ou filmes contemporâneos? Se sim, qual é a semelhança percebida? As perguntas sugeridas servem somente como um roteiro básico para estimular a participação dos alunos e podem, evidentemente, ser substituídas por outras que o professor julgar mais interessantes. Os próprios alunos podem fa- zer questões que tenham sido motivadas pela leitura dos textos. O importante é que essa experiência faça com que se sintam mais à vontade para discutir textos literários, sem que se preocupem em encontrar uma interpretação “correta” para eles. O trabalho realizado ao longo deste capítulo favore- ce o desenvolvimento da competência de área 5 e das habilidades H15, H16 e H17. Para identificá-las, consultar a matriz do Enem 2009, que se encontra no Portal Moderna Plus. Capítulo 29 A prosa pós-moderna 666 Leitura da imagem 667 1 Resposta pessoal. Espera-se que o aluno reconheça uma semelhança entre as cascas e um sistema vascular (ou o conjunto de algumas veias ou artérias). a) Quando acrescenta pigmentos naturais às cascas queimadas, o artista transforma o sentido original do material. b) Resposta pessoal. O acréscimo da cor vermelha às cascas queimadas pode reforçara imagem de um sistema vascular, por onde corre o “sangue” das árvores. Ou também tornar mais presente a ideia do fogo que destruiu as árvores das quais aquelas cascas faziam parte. 2 a) No caso da obra reproduzida, os pigmentos ver- melhos foram acrescentados às cascas queimadas (formas preexistentes) e criaram a sugestão de sangue correndo nas “veias” das árvores ou de fogo queimando essas veias. O artista, que já havia escolhido um conjunto de cascas que lembra um sistema vascular, consegue, com o uso da cor, criar um novo sentido, fazendo com que o observador reflita sobre o problema da queimada das florestas, da destruição da natureza. b) A matéria é fundamental. Como declarou Krajcberg, os troncos, as raízes e as cascas que recolhe são as letras do seu alfabeto, a linguagem essencial sobre a qual ele age e, assim, permite que os sinais da destruição humana se transformem em um protesto contra essa ação humana inconsequente. Da imagem para o texto 667 3 a) Riobaldo se apresenta como um sertanejo, um ho- mem sem muita cultura, um “pobre coitado”. b) Pela fala de Riobaldo, concluímos que o compadre Quelemém, com quem ele conversa, é um homem instruído, ponderado, e que é visto pelo narrador como alguém que pode lhe ajudar a esclarecer al- gumas importantes questões: “Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração”. c) A conversa é importante porque Riobaldo espera obter algumas respostas do compadre Quelemém para perguntas que o angustiam. Como esse interlo- cutor é um homem ponderado e instruído, Riobaldo valoriza muito sua opinião. Sup_P3_(075-112)_c.indd 102 11/11/10 11:21 AM