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DOCÊNCIA EM SAÚDE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842l Leitura, interpretação e produção de textos / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 117p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-545-0 1. Língua portuguesa. 2. Leitura. 3. Interpretação de texto I. Portal Educação. II. Título. CDD 418.4 2 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO..................................................................................................................... 3 2 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ................................................................................................ 4 3 NARRAÇÃO .............................................................................................................................. 15 4 LINGUAGEM TÉCNICA ............................................................................................................ 52 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 116 3 1 APRESENTAÇÃO Um eficaz desempenho linguístico é o mais significativo indicador para que o ato de ler e produzir textos sejam realizados com competência. A boa leitura implica ser capaz de aprender os significados inscritos no interior de um texto e de correlacionar tais significados com o conhecimento de mundo que circula no meio social em que o texto é produzido. Todos nós somos portadores de uma quantidade expressiva de informações sobre quase todos os domínios do conhecimento, mas é imprescindível saber ordenar esses conhecimentos, estabelecer relações entre eles, utilizando-os corretamente como recursos argumentativos na sustentação de seus pontos de vista. É de total compromisso dos educadores levarem o aluno a ler e produzir textos e para que se ocorra qualidade no desempenho de tal ação é necessário fornecer mecanismos mais complexos do que a justaposição de uma frase ao lado da outra. O objetivo deste curso é proporcionar orientações sobre as várias tipologias textuais, utilizando uma linguagem que acreditamos clara e objetiva. Ao longo deste curso forneceremos orientações técnicas sobre as várias tipologias textuais seguidas de atividades práticas variadas referentes à produção e interpretação de textos. Esperando ter alcançado nossos objetivos, colocamo-nos à disposição para sugestões e críticas. 4 2 INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Conceito: Texto não é um amontoado desorganizado de palavras. O fato de se escreverem palavras existentes na língua, em uma sequência, não significa que se construiu um texto. Para ser um texto ele deve ter coerência de sentido é por isso que, nele, o sentido de uma frase depende do sentido das demais com que se relaciona. Se não levarmos em conta as relações de uma frase com as outras que compõem o texto, corremos o risco de atribuir a ele um sentido oposto àquele que efetivamente tem. Uma mesma frase pode ter sentidos distintos, dependendo do contexto dentro do qual está inserida. O contexto pode ser explícito, quando está introduzido na situação em que é produzido. Um texto é um todo organizado de sentido, ou seja, que o sentido de uma depende das outras. Para fazer um conjunto de frases formarem um texto o fator principal é a coerência, harmonia de sentido de modo que não haja nada sem lógica, contraditório ou desconexo. Para ser considerado um bom leitor é necessário perceber e compreender a intenção textual, o escritor sempre escreve com uma intenção, seja para informar, convencer, emocionar, esclarecer o seu próprio texto. Há alguns elementos que nos dão indícios sobre a intenção textual, podendo criar expectativas e formular hipóteses, antes mesmo de iniciar a leitura, que serão confirmadas ou não no decorrer. 5 O contato preliminar com um texto seja um livro de muitas páginas ou um pequeno texto, é importante. Procure conhecer o livro, o autor a editora, folheie-o, veja o número de páginas, o tipo de papel, analise o título geral e os títulos dos capítulos no índice. O contato material inicial prepara como deverá ser a leitura, gerando expectativas em relação ao conteúdo, ao vocabulário, à forma de construção do texto, conduzindo-o para uma boa leitura. Grau de compreensão dos textos Os textos nascem do mundo de acordo com o contexto sociocultural. O grau de compreensão dos textos varia com a faixa etária, não se espera de uma criança a mesma compreensão de um adulto, pois ele tem uma bagagem maior que a criança. Todos nós devemos passar por um processo de amadurecimento físico, intelectual e linguístico natural pelo qual uma criança deve passar. Ninguém poderá ou mesmo deverá vivenciar todas as experiências do mundo, por intermédio da leitura será possível preencher algumas dessas experiências, sentindo parte dela na leitura. Na escola podemos adquirir diversas experiências, pois os conhecimentos são orientados e organizados de acordo com os livros e a série que está cursando. O hábito da leitura é bastante incentivado, pois quanto mais lemos, mais adquirimos experiências, desenvolvemos nosso potencial e melhoramos nosso desempenho como leitor, adquirindo vocabulário. Nem sempre o vocabulário adquirido é utilizado em nosso cotidiano, mas quando lemos podemos saber o significado das palavras, desenvolvendo outros domínios linguísticos como diferentes formas de construção sintática. É oportuno notar que não há textos isolados, existe a intertextualidade: um texto determinado dialoga com outros textos que já foram escritos sobre o mesmo tema. Dificilmente há um texto inteiramente original, sobre um assunto que ninguém ainda tenha escrito o que 6 diferencia é o enfoque o ponto de vista, então um texto é o acúmulo de outros textos. É nesse sentido que se dá a importância da leitura para que gradualmente adquiramos um bom nível intelectual. Iniciamos a definir as propriedades de um texto: - Coerência de sentido: Isso quer dizer se ele não é um amontoado de frases, ou seja, nele, as frases não estão pura e simplesmente dispostas uma após as outras, mas estão relacionadas entre si. É por isso que, nele, o sentido de uma frase depende do sentido das demais com que se relaciona. Se não levarmos em consideração as relações de uma frase com as outras que compõem o texto, corremos o risco de atribuir a ela um sentido oposto. Uma mesma frase pode ter sentidos distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserida. Então o conceito de texto será a unidade maior em que uma unidade menor está inserida. Desta forma a unidade maior será o contexto, as frases ganham sentido, porque estão correlacionadas umas às outras. Um texto é um todo organizado de sentido. É o mesmo que dizer um conjunto formado de partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma depende das outras. O sentido em primeiro lugar é a coerência, isto é, a harmonia de sentido de modo que não haja nada ilógico,nada contraditório, que nenhuma parte não se solidarize com as demais. Em princípio seria incoerente um texto que dissesse Paulo está muito triste. O quadrado da hipotenusa é a soma dos catetos. Essa incoerência seria dada pelo fato de que não se percebe a relação de sentido entre as duas frases que compõem o texto. - Dois brancos: um texto é delimitado por dois brancos, se o texto é um todo organizado de sentido, ele pode ser verbal um conto, por exemplo, visual um quadro. Mas, em todos esses casos, serão delimitados por dois de não-sentido, dois brancos, um antes de 7 começar um texto; é o tempo de espera para que o filme comece e o que está depois da palavra Fim. - Sujeito: O texto é produzido por um sujeito num dado tempo determinado espaço. Esse sujeito, por pertencer a um grupo social em um tempo e espaço, expõe em seus textos as ideias, os anseios, os temores, as expectativas do seu momento e de seu grupo social. Geralmente os textos têm um caráter histórico, revelando os ideais e as concepções de um grupo social em uma determinada época. Cada período histórico coloca para os homens certos problemas e os textos pronunciam-se sobre eles. Todos os textos mostram seu tempo. Cabe lembrar, no entanto, que uma sociedade não produz uma única forma de ver a realidade, um único modo de analisar os problemas colocados num dado momento. A mesma sociedade que proíbe o trabalho infantil, também escraviza as crianças. Devemos entender as concepções existentes na época e na sociedade em que o texto foi produzido para não correr o risco de compreendê-lo de forma equivocada. Podemos tirar as seguintes conclusões; uma leitura não pode basear-se em fragmentos isolados do texto, não pode levar em conta o que não está no interior do texto e, de outro, deve levar em consideração a relação, assinalada, de uma forma ou de outra, por marcas textuais, que um texto estabelece com outros. Começaremos a falar de algumas tipologias textuais com dois tipos básicos de textos: literário e não-literário. Para analisar um texto literário é necessário conhecer as figuras de linguagem. A linguagem figurada demonstra a necessidade de dar expressividade, apresentando intenções literárias e artísticas, sensibilizando o leitor. As figuras de linguagem auxiliam o trabalho artístico da forma de escolha e combinação das palavras na frase, saindo do racional, da lógica, do comum. As principais figuras de linguagem são: 8 1-Metáfora Usamos palavras que apresentam uma proximidade simbólica de sentidos. O conceito de metáfora uma palavra é substituída por outra com que tem relação de semelhança. “Fernanda é um doce de menina”. Nesta metáfora transferimos os sentidos possíveis da palavra doce, simbolicamente, para a menina Fernanda. O doce, sentido denotativo, literal, que tem sabor como o mel e o açúcar, algo suave, agradável. Fernanda também é agradável, suave e meiga. 2-Comparação É a figura de linguagem que estabelece uma relação de semelhança entre duas palavras ou expressões, atribuindo características de um termo a outro por meio de um elemento comparativo explícito. Normalmente percebe-se a comparação com a conjunção como ou outros elementos comparativos (tal qual, assim como, tão... quanto, etc.). “A tua mão é dura como casca de árvore. Ríspida e grossa como um cacto.” Cassiano Ricardo “Tal qual o sol que deseja a vinda do dia, eu desejo sua presença”. 9 3-Metonímia É a substituição de uma palavra por outra com a qual tenha relação de semelhança de sentido. São várias as relações metonímicas, como: - à parte pelo todo As velas aproximam-se. (barcos) - o autor pela obra Li todo José de Alencar. - o recipiente pelo conteúdo Tomei um copo de água. - o produto pela marca Vou tomar uma Skol (cerveja, refrigerante). - a causa pelo efeito Respeite os meus cabelos brancos. (idade avançada) 4-Eufemismo É a substituição de uma palavra ou expressão para suavizar ou atenuar intencionalmente seu significado. “Foi desta vida para outra melhor”. (morreu) Você disse uma inverdade. (mentira) 10 5-Prosopopeia ou personificação É a atribuição de características humanas a seres irracionais ou de seres animados a seres inanimados. “Mil línguas de fogo devoravam as canas maduras, com fome canina. (José Lins do Rego)”. 6-Hipérbole Expressão que exagera os fatos a fim de impressionar o leitor. “Rios de pranto e de sangue que pareceram tão grandes”. (Cecília Meireles) 7- Antítese É o uso de palavras de sentidos opostos (antônimos) para expressar contradição. Exemplos: “Não sou alegre nem triste sou poeta”. “Morte e Vida Severina”. “Uns buscam o bem; outros o mal”. 8-Pleonasmo É a repetição de um termo, para reforço ou realce de uma ideia. 11 Há o pleonasmo vicioso, que é um vício de linguagem. Ocorre quando a repetição do termo é considerada desnecessária (“subir para cima”, “entrar para dentro”, etc.). 9-Gradação É a colocação de ideias na ordem crescente (chamada de clímax) ou na ordem decrescente (chamada de anticlímax). Exemplos: “Na manifestação popular começaram a chegar dez, cem, mil, dez mil pessoas parando o trânsito”. (clímax) “Começou a ficar pobre, perdeu milhões de dólares na Bolsa de Valores; cem mil reais na Jockey; a poupança de 30 mil do filho; as joias da mulher; a primeira casa humilde em que morava antigamente”. (anticlímax) 10-Aliteração É a repetição abundante de consoantes dentro da frase, com intenção de sugerir certos sons ou ruídos, criar certo clima, agitação, tranquilidade, por exemplo. Exemplo: “Vozes veladas, veludosas vozes volúpias de violões, vozes veladas”. (Cruz e Sousa) 11-Onomatopeia 12 É uma figura sonora que procura reproduzir ou imitar sons ou ruídos. Exemplos: Tique-taque, tique-taque. Monotonia das horas. As várias possibilidades de leitura de um texto Leia o texto abaixo: Uma rã viu um boi que tinha uma boa estatura. Ela, que era pequena, invejosa, começou a inflar-se para igualar-se ao boi em tamanho. Depois de algum tempo, disse: - Olhe- me, minha irmã, já é o bastante? Estou do tamanho do boi? - De jeito nenhum. - E agora? - De modo algum. - Olhe-me agora. - Você nem se aproxima dele. O animal invejoso inflou-se tanto que estourou. (Adaptação de fábula de La Fontaine. Fábulas). O primeiro problema que a leitura dessa fábula coloca é o seguinte: trata-se de uma história de animais ou de homens? O leitor responderia imediatamente: de homens, é claro. Mas como é que ele sabe disso? A resposta poderia ser: a escola sempre ensinou que as fábulas utilizam comportamentos humanos. Mas como os estudiosos chegaram a essa conclusão? Os personagens são as duas rãs e o boi, que são animais. No entanto, certos termos, como 13 “invejosa”, “disse”, bem como a vontade de igualar-se ao boi são elementos próprios do ser humano, aplicam-se ao homem. Há então no texto uma reiteração do traço semântico (de significado) humano. Essa reiteração obriga a ler a fábula como uma história de gente. No plano humano, a rã não é a rã, mas o homem invejoso que faz tudo para igualar-se a quem ele inveja. Os elementos com traço humano são os desencadeadores de um plano de leitura não integrado ao plano de leitura inicialmente proposto. Com efeito, os termos “rã” e “boi” propõem inicialmente um plano de leitura: uma história de bichos. Entretanto, à medida que vamos lendo o texto, os elementos que contêm traço humano não permitem mais que se leia a fábula como história de animais, pois desencadeiam um novo plano de leitura: a fábula passa a ser lida como história de homens. Lido de maneira fragmentária, dando a impressão de um aglomerado de noções desconexas, ao qual o leitor pode atribuir o sentidoque quiser. Sem dúvida, há várias possibilidades de interpretar um texto, mas há limites. Certas interpretações se tornarão inaceitáveis se levarmos em conta a conexão, a coerência entre outros fatores, pela reiteração, a redundância, a repetição, a recorrência de traços semânticos ao longo do discurso. O que deve fazer o leitor para perceber essa reiteração? Deve tentar agrupar os elementos significativos (figuras ou temas) que se somam ou se confirmam em um mesmo plano do significado, percorrendo o texto inteiro, tentando localizar todas as recorrências, isto é, todas as figuras e temas que conduzem a um mesmo bloco de significação. Essa recorrência determina o plano de leitura do texto. Há textos que permitem mais de uma leitura. As mesmas figuras podem ser interpretadas seguindo mais de um plano de leitura. Entretanto, dizer que um texto pode permitir várias leituras não implica, de modo algum, admitir que qualquer interpretação seja correta nem que o leitor possa dar ao texto o sentido que lhe aprouver. E em que dispositivos podemos nos apoiar para controlar certa interpretação e impedir que ela seja pura invenção do leitor? Sem dúvida, o texto que admite várias leituras contém em si indicadores dessas várias possibilidades. No seu interior aparecem figuras ou temas com mais de um significado e que, por isso, apontam para mais de um plano de leitura. Há outros termos 14 que não se integram a certo plano de leitura proposto e por isso são desencadeadores desse plano de leitura. O leitor cauteloso deve abandonar as interpretações que não encontrem apoio em elementos do texto. Modos de Organização do Texto e Discurso Há três modos básicos de organização de um texto: o narrativo, o descritivo e o dissertativo. Narração – quem fala é o narrador, o conteúdo são ações e acontecimentos com o objetivo de relatar. Descrição – quem fala é o observador, o conteúdo são os seres, objetos, cenas e o objetivo de identificar, localizar e qualificar. Dissertação – quem fala é o argumentador, o conteúdo são as opiniões, argumentos e o objetivo é discutir, informar e expor. Não há textos exclusivamente narrativos, descritivos ou dissertativos. Mas há o predomínio de um dos três modos sobre os demais. 15 3 NARRAÇÃO Narrar é contar um ou mais fatos que ocorreram com determinados personagens, em local e tempo definidos, simplificando é contar uma história, que pode ser real ou imaginária. Cabe lembrar que em nosso cotidiano encontramos textos narrativos; contamos e/ou ouvimos histórias o tempo todo. Mas os textos que não pertencem ao campo da ficção, não são considerados narração, pois essas não têm como objetivo envolver o leitor pela trama, pelo conflito. Podemos dizer que nesses relatos há narratividade, que quer dizer, o modo de ser da narração. Ao contrário da descrição, que é estática, a narração é totalmente dinâmica, predominando os verbos, o importante está na ação. No “o que aconteceu”. Para narrar um fato ou uma história é importante decidir se você vai ou não fazer parte da narrativa. Esta decisão determinará o tipo de narrador a ser utilizado em sua composição. O narrador pode ser de dois tipos: - Narrador em 1ª pessoa: é aquele que participa da ação, ou seja, que se inclui na narrativa, portanto tem seu campo de visão limitado, podendo ser chamado de narrador- personagem. Exemplo: Estava andando pela rua quando de repente tropecei em um pacote embrulhado em jornais. Peguei-o vagarosamente, abri-o e vi, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro. - Narrador em 3ª pessoa: é aquele que não participa da ação, ou seja, não se inclui na narrativa. Sendo seu campo de visão imparcial, é chamado também de narrador-observador. 16 Suas características principais são: a) onisciência: o narrador sabe tudo sobre a história; b) onipresença: o narrador está presente em todos os lugares da história. Exemplo: Um homem estava andando pela rua quando de repente tropeçou em um pacote embrulhado em jornais. Ele pegou vagarosamente, abriu e viu surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro. Veja outro exemplo de narrador observador no trecho extraído da obra de Érico Veríssimo, O tempo e o vento, num dos episódios em que se fala de Ana Terra e Pedro Missioneiro: (...) Pedro sentou-se, cruzou as pernas, tirou algumas notas da flauta, como para experimentá-la e depois, franzindo a testa, entrecerrando os olhos, alcançando muito as sobrancelhas, começou a tocar. Era uma melodia lenta e meio fúnebre. O agudo som do instrumento penetrou Ana Terra como uma agulha, e ela se sentiu ferida, trespassada (...). Tirou as mãos de dentro da água da gamela, enxugou-as num pano e aproximou-se da mesa. Foi então que deu com os olhos de Pedro e daí por diante, por mais esforços que fizesse, não conseguiu desviar-se deles. Parecia-lhes que a música saia dos olhos do índio e não da flauta – morna, tremida e triste como a voz duma pessoa infeliz. (...). 17 (O continente. In: ______________. O tempo e o vento. Rio de Janeiro, Globo, 1963. t. 1. p. 88.) Observe agora um exemplo de narração sobre um incêndio, criado com auxílio do modelo estudado em 3ª pessoa. Tipos de Narrativa: As narrativas mais difundidas são: o romance, a novela, o conto e a crônica (sendo que está última, não é totalmente narrativa). Romance: descrição ou enredo exagerado ou fantasioso, narrativa longa que envolve um número considerável de personagens (em relação à novela e ao conto), maior número de conflitos, tempo e espaço mais abertos. Os romances podem ser classificados de acordo com sua temática. Os tipos mais conhecidos são: de amor, de aventura, policial, ficção científica, psicológico, etc. Novela: é um romance mais curto, isto é, tem um número menor de personagens, conflitos e espaços, ou os tem em igual número ao romance, com a diferença de que a ação no tempo é mais veloz na novela. Difere em muito da novela de TV, a qual tem uma série de casos paralelos e uma infinidade de momentos de clímax. Conto: é uma narrativa mais curta que tem como característica central sintetizar o conflito, tempo, espaço e reduzir o número de personagens. Tanto o conto quanto a novela podem abordar qualquer tipo de tema. 18 Crônica: as características distintas da crônica são; textos curtos, leves, que geralmente abordam temas do cotidiano. Elementos da narrativa Após escolher o tipo de narrador é necessário conhecer os elementos básicos de qualquer narração. Todo e qualquer texto narrativo conta um fato que se passa em determinado tempo e lugar. A narração só existe na medida em que há ação; esta é praticada pelos personagens. Os fatos em geral acontecem por uma determinada causa e desenrola-se, envolvendo certas circunstâncias que o caracterizam. É necessário, portanto, mencionar o momento como tudo aconteceu detalhadamente, isto é, de que maneira o fato ocorreu. Os elementos básicos de textos narrativos são: - Foco narrativo (1º e 3º pessoa); - Personagens (protagonista, antagonista e coadjuvante); - Narrador (narrador-personagem e narrador-observador). - Tempo (cronológico e psicológico); - Espaço. Após conhecer esses fatos, é preciso saber organizá-los para elaborar a narração. Sugerimos o modelo a seguir: 19 Título: Introdução; 1° parágrafo – explicar que fato será narrado, determinar o tempo e o lugar. Desenvolvimento; 2° e 3° parágrafos – causa do fato e apresentação dos personagens, modo como tudo aconteceu em detalhes. Conclusão; consequências dos fatos. Ao utilizar os recursos acima, poderá narrar qualquer fato, desde os incidentes que são noticiados nos jornais como; ocorrências policiais, assaltos, atropelamentos, sequestros, incêndiose até fatos corriqueiros. Não se esquecendo que o modelo apresentado é apenas uma sugestão, sendo possível inverter a ordem dos elementos nele existentes. O fundamental será contar uma história de modo satisfatório. Os três elementos mencionados, na introdução, ou seja, fato, tempo e lugar, não precisam necessariamente aparecer nesta ordem. Podemos especificar, no início, o tempo e o local, para depois enunciar o fato que será narrado. A Narração Objetiva Observe agora um exemplo de narração sobre um incêndio, criado com o auxílio do esquema estudado. Lembre-se de que, antes de começar a escrever, é preciso escolher o tipo de narrador. Optamos pelo narrador em 3ª pessoa. 20 O Incêndio Ocorreu um pequeno incêndio na noite de ontem, em um apartamento de propriedade do Sr. Marcos da Fonseca. No local habitavam o proprietário, sua esposa e seus dois filhos. Todos eles, na hora em que o fogo começou, tinham saído de casa e estavam jantando em um restaurante situado em frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto-circuito ocorrido no precário sistema elétrico do velho apartamento. O fogo despontou em um dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do restaurante, conhecido da família, avistou-o e imediatamente foi chamar o Sr. Marcos. Ele, mais que depressa, ligou para o Corpo de Bombeiros. Embora não tivessem demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e a sala ao lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo, a família consolou-se com o fato de aquele incidente não ter tomado maiores proporções, atingindo os apartamentos vizinhos. Observaremos as características dessa narração. O narrador está na 3ª pessoa, pois não toma parte da história; não é nem membro da família, nem o porteiro do restaurante, nem um dos bombeiros e muito menos alguém que passava pela rua na qual se situava o prédio. Outra característica que deve ser destacada é o fato de a história ter sido narrada com objetividade: o narrador limitou-se a contar os fatos sem deixar que seus sentimentos, suas emoções transparecessem no decorrer da narrativa. Este tipo de composição denomina-se narração objetiva. É o que costuma aparecer nas “ocorrências policiais” dos jornais, nas quais os redatores apenas informam os fatos, sem se deixar envolver emocionalmente com o que estão noticiando. Este tipo de narração apresenta um cunho impessoal e direto. 21 Exercício de fixação: 1- Agora imagine que você é redator em um jornal e precisa redigir uma narração, informando sobre um assalto ocorrido. Faça uma narração objetiva. (salve a atividade em seu computador para depois comparar o que aprendeu ao final do curso) A Narração Subjetiva Existe também outro tipo de composição chamada narração subjetiva. Nela os fatos são apresentados, levando-se em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história. Nota-se claramente a posição sensível e emocional do narrador ao relatar os acontecimentos. O fato não é narrado de modo frio e impessoal; ao contrário, são ressaltados os efeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nos personagens. É, portanto, o oposto da narração objetiva. Daremos agora um exemplo de narração subjetiva, elaborada também com o auxílio do esquema estudado. Escolhemos o narrador na 1ª pessoa, esta escolha é perfeitamente justificável, visto que, participando da ação, ele envolve-se emocionalmente com maior facilidade na história. Isso não significa, porém, que uma narração subjetiva requeira sempre um narrador em 1ª pessoa e vice-versa. O desaparecido “Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim”. BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 1988. 22 Com a fúria de um vendaval Em uma certa manhã acordei entediada, estava em minhas férias escolares do mês de julho. Não pudera viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de uma feira livre. Não tinha nada para fazer, e isso estava me matando de aborrecimento. Embora soubesse que uma feira livre não constitui exatamente o melhor divertimento do qual um ser humano pode dispor, fui andando, a passos lentos, em direção àquelas barracas. Não esperava ver nada de original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me aproximei, vi uma senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante. O homem, dono da barraca de tomates, tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei por que brigavam, mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda, mais do que gorda (monstruosa), erguia seus enormes braços e, com os punhos cerrados, gritava contra o feirante. Comecei a me assustar, com medo de que ela destruísse a barraca (e talvez o próprio homem) devido à sua fúria incontrolável. Ela ia gritando e se empolgando com sua raiva crescente e ficando cada vez mais vermelha, assim como os tomates, ou até mais. De repente, no auge de sua ira, avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em alguns tomates podres que estavam no chão, caiu, tombou, mergulhou, esborrachou-se no asfalto, para o divertimento do pequeno público que, assim como eu assisti àquela cena incomum. 23 Exercício de fixação: 1- Elabore uma narração subjetiva, com narrador em 1ª pessoa, utilizando os elementos básicos do texto narrativo (todos ou alguns). Conte um fato inteiramente inesperado que aconteceu com você dentro de um ônibus. Não se esqueça de criar um título interessante. Ao comparar os modelos de narração em 1ª e 3ª pessoas, é possível perceber a diferença entre os narradores, a maneira como se elabora uma narração, utilizando o esquema estudado, a existência da narração objetiva em oposição à narração subjetiva a alguns outros aspectos. É importante observar outro fato sobre o qual ainda não fizemos qualquer comentário. Lendo as narrações O incêndio e Com a fúria de um vendaval, você notará com facilidade que o narrador contou cada uma das histórias com suas próprias palavras. Ele não introduziu diálogos na redação, registrando a fala dos personagens. Essas duas narrações foram elaboradas sem que o narrador introduzisse o discurso direto, isto é, o diálogo entre os personagens. Não se esqueça também de que o esquema de narração estudado não precisa ser seguido à risca. Se julgar importante fazer qualquer alteração, nada o impede de fazê-lo, desde que sua composição não perca as características de organização e clareza imprescindíveis a todas as narrações. Exercícios de fixação: 1-Elabore uma ou mais narrações baseando-se nos títulos propostos (você agora pode escolher o tipo de narrador e optar por uma narração objetiva ou por uma narração subjetiva; note, entretanto, que alguns títulos sugerem uma narração subjetiva, e outros, uma narração objetiva): 24 a. Um incidente no colégio b. O dia mais feliz de toda a minha vida c. A maior lição que aprendi de minha mãe d. Eu, um negro na África do Sul e. Quando eu fui professor por um dia f. O grande sonho da minha vida g. O fato mais emocionante que presenciei h. Uma lição de fraternidade i. Meus colegas de classe j. A tragédia que se abateu no planeta k. A inesquecível manhã em que fui chamado para a diretoria de minha escola l. O dia em que a cidade parou m. A primeira visita de um índio a cidade de São Paulo 2-Agora vamos aprimorar sua capacidade de redigir esta modalidade de composição. Faça uma narração objetiva, com narrador em 3ª pessoa, contando: a- um sequestro; b- uma colisão;c- um atropelamento; d- um atentado terrorista; 3-Elabore uma narração subjetiva, com narrador em 1ª pessoa, sobre: a- uma briga entre torcidas de futebol; b- uma passeata de protesto; c- uma festa de aniversário; d- um susto terrível; 25 Descrição: É a exposição falada ou escrita, ato de descrever, traduzindo com palavras aquilo que se viu e se observou. Na descrição o ser, o objeto ou o ambiente são mais importantes, ocupando lugar na frase o substantivo e o adjetivo. A caracterização é imprescindível, daí a forte incidência de adjetivos no texto. É necessário observar, na descrição, a quase ausência de processos verbais finitos (indicativo ou subjuntivo) o que dá à descrição um tom de imobilidade do objeto. Também na descrição na há narrador e sim um observador. A descrição pode ser objetiva e subjetiva: Descrição objetiva: o observador apresenta o tema-núcleo de maneira impessoal, fazendo a representação fiel do aspecto exterior. Descrição subjetiva: é aquela em que o observador apresenta o tema-núcleo de maneira pessoal, empregando a imaginação e demonstrando suas impressões pessoais. Descrição de pessoa, ambiente e de objeto O objeto da produção de um texto determina o modo de organização que predomina sobre os demais. A linguagem descritiva exige vida e o relevo do tempo forte, exato e concreto. Na descrição de pessoa é importante ressaltar as características físicas e psicológicas, sendo a escolha dessas características a partir da necessidade que elas podem ser apresentadas dentro de uma história. Na descrição de um ambiente a paisagem necessita de animação dos seres vivos e com a presença do homem, deve ser real e detalhada. Já na descrição de um objeto é importante lembrar sua cor, formas, contornos e outros detalhes. 26 Descrição de pessoas ou a técnica do retrato Descrever uma pessoa não é tão simples quanto parece. São inúmeros os fatores que precisam ser levados em conta quando nos dispomos a fazê-lo. Entretanto, todo o conjunto de elementos que compõem o perfil de um ser humano pode ser dividido basicamente em dois grupos: o das características físicas e o das características psicológicas. Compreendemos por características físicas a aparência externa, isto é, tudo o que pode ser observado externamente quando analisamos alguém: a altura, o peso, a cor da pele, a idade, os cabelos, os traços do rosto, a voz e o modo de se vestir, isto tudo não é componente físico e sim externo. Já as características psicológicas são tudo que se associa ao comportamento da pessoa, ou seja, a personalidade, o temperamento, o caráter, as preferências. Tudo aquilo que caracteriza seu modo de agir ou ser. Sabendo levar em conta os detalhes que mais nos impressionam e mais fielmente podem fornecer um retrato da pessoa, de modo que o leitor do nosso texto possa visualizá-lo ou reconhecê-lo. Mostraremos um esquema de descrição de pessoas, que tem por finalidade auxiliá-lo a organizar suas ideias – assim, ele é um ponto de partida para a sua descrição. Sequência de descrição: Título: Introdução: 1° parágrafo - primeira impressão ou abordagem de qualquer aspecto de caráter geral. 27 Desenvolvimento: 2° parágrafo – características físicas como; altura, peso, cor da pele, idade, cabelos, traços do rosto (olhos, nariz, boca), voz e vestuário. Características psicológicas; personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura e objetivos. Conclusão: 4° parágrafo – Retomada de qualquer outro aspecto de caráter geral. Explicaremos detalhadamente a sequência. No primeiro parágrafo, ou seja, na Introdução, você deve fornecer uma ideia geral da pessoa a ser descrita. Assim, evite, nesse momento, a referência a pormenores pouco significativos. Comece sua descrição por um aspecto capaz de apresentar o ser descrito como um todo em aspecto geral. Ao iniciar o segundo parágrafo, o desenvolvimento, você descreverá detalhadamente as características físicas da pessoa em ordem que nos pareça mais adequada. Observaremos inicialmente o que está à altura de nossos olhos, ou seja, o rosto de alguém. Abordando as características físicas, falaríamos inicialmente da altura e do peso. Não há necessidade de especificar precisamente e sim referências vagas. Ao se tratar de certos elementos como, cabelos e olhos, é bom ressaltar riqueza de detalhes. Não só falar da cor, mas especificar outros aspectos além da cor. Pode-se falar do comprimento, se são ondulados, lisos ou crespos, de sua cor e do brilho, da forma como estão cortados e penteados. Na descrição dos olhos, é interessante mencionar, além da cor, seu formato e, dependendo do caso, outros detalhes complementares, como seus cílios e sobrancelhas, detalhes que contribuem para a expressividade do rosto. Já os outros elementos que compõem os traços do rosto não precisam ser descritos com tantos detalhes. Logo se fala da voz, tom, entoação e volume se a pessoa fala rapidamente ou de modo mais pausado, em um tom alto ou mais baixo e se tem sotaque característico de qualquer região. Em seguida as roupas o modo como a pessoa se veste. Devemos comentar se costuma usar roupas esportivas ou sociais, fazendo referências aos detalhes mais significativos 28 das vestes. É possível perceber aspectos psicológicos de acordo com a forma que a pessoa está vestida, muitas vezes podemos fazer uma ideia do que a pessoa pensa ou de como se comporta. Para analisar as características psicológicas, inicia-se com a personalidade de alguém, faça comentários sobre a maneira como defende suas ideias se tem personalidade forte e crítica, ou se deixa levar pelas opiniões dos outros. Se o comportamento é passivo ou se tem vocação para liderança de algum grupo. Quanto ao temperamento, observaremos se a pessoa é alegre, expansiva em suas emoções ou introvertida, calada, dificilmente deixa transparecer seus sentimentos e emoções. Ao caráter falar de suas qualidades ou defeitos que uma pessoa possa apresentar. Aspectos como honestidade, sinceridade, lealdade, solidariedade devem ser levados em conta. As preferências são importantes como: músicas, artes, esportes, leituras, lazer, etc. Sobre suas tendências ou inclinações, diríamos a respeito de algumas aptidões possíveis de serem observadas. Algumas pessoas demonstram interesse para atividades artísticas, facilidade em comunicação, e assim por diante. O próximo item é a postura consigo e com os outros. Observaremos como ela se vê, enquanto ser que faz parte de um grupo, e como entende que deva ser sua atuação junto à sociedade a que pertence. O que espera para o futuro e quais são suas metas e projetos. Todos esses fatores demonstram sua visão de mundo e ideologia. Ao finalizar a conclusão, encerrar com uma afirmação de caráter geral, como na introdução. Veja a seguir um exemplo de descrição de pessoa: [...] o Major Saulo, de botas e esporas, corpulento, quase um obeso, de olhos verdes, misterioso, que só com o olhar mandava um boi bravo se ir de castigo, e que ria, sempre ria – riso grosso, quando irado; riso fino, quando alegre, e riso mudo, de normal. 29 Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro, José Olympio, 1976. Exercícios: 1- Descreva a si próprio, veja uma ideia interessante para o início: comece explicando qual a impressão que você pensa causar nas pessoas que não a conhecem quando a veem pela primeira vez. 2- Escolha um dos itens abaixo e faça uma descrição: a- Um amigo b- Seu pai c- O governador d- Seu ator predileto e- O presidente da República f- Um professor g- Seu irmão h- Alguém que você admira muito A descrição de objetos Para descrever objetos é preciso distinguir dois tipos básicos de objetos: - Aqueles que se constituem essencialmente de uma única parte. Exemplo:um pedaço de giz, uma pedra, um balão de gás, um cinzeiro, etc. 30 - Os que se constituem da reunião de várias partes. Exemplos: uma caneta, um aparelho de televisão, uma cadeira, um relógio, etc. Os objetos que se constituem de uma única parte, podem seguir o seguinte modelo: Título: Introdução; 1° parágrafo – Observações de caráter geral referente à procedência ou localização do objeto descrito. Desenvolvimento; 2° e 3° parágrafos – detalhes, formato; comparação com figuras geométricas e com objetos semelhantes. Dimensões: largura, comprimento, altura, diâmetro, etc. No terceiro parágrafo, descrever detalhes do material, peso, cor, brilho e textura. Se o objeto for constituído de várias partes, enumere-as em rápidos comentários, associando à explicação de como as partes se agrupam para formar o todo. Conclusão; 4° parágrafo – Observações referentes à sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto como um todo. Da mesma forma que você descreveu pessoas, deve também agir na descrição de objetos: iniciar e terminar sua redação com uma referência de caráter geral. Isto significa que não convém começar ou terminar sua composição com um detalhe qualquer. É preciso que tanto na Introdução quanto na Conclusão você faça referências gerais. Como mostramos no modelo, sugerimos que, no primeiro parágrafo, você diga de onde vem o objeto, ou seja, onde foi fabricado ou vindo. Se não houver condições de determinar a procedência, pode então dizer onde o objeto se encontra, ou seja, dar sua localização. É evidente que, se você souber, poderá falar tanto da procedência quanto da localização. Para o desenvolvimento, descreva o objeto em detalhes, ao falar do formato, é necessário lançar mão de figuras geométricas, dizendo se ele é retangular, oval, circular, 31 quadrado ou mesmo fazer comparações com objetos semelhantes, no sentido de deixar bem claro como é o objeto descrito. Em se tratando das dimensões, você usará aquilo que se adaptar ao objeto. Se ele foi circular, deverá mencionar seu diâmetro; no caso específico de se apresentar em forma de retângulo, por exemplo, certamente irá mencionar sua largura e seu comprimento. E assim por diante. Especificamente, na segunda parte do Desenvolvimento, o material de que o objeto é feito, relacionando-o ao peso que apresenta. Depois fale da cor ou das cores, comente sobre seu brilho, ou mesmo, se for o caso, diga que é opaco. Fale a respeito de sua textura: se é liso, macio, rígido, etc. Para terminar a redação, sugerimos que comente sobre a utilidade do objeto, ou seja, onde é usado, se é utilizado com muita frequência, ou faça qualquer outra observação que se refira a ele como um todo. Observe o exemplo da descrição de uma pequena joia: O adereço “Ao sair vi um adereço de azeviche muito simplesmente lavrado, e por isso mesmo ainda mais lindo na sua simplicidade. Tênue filete de ouro embutido bordava a face polida e negra da pedra. (...) Não resisti; comprei o adereço, e tão barato, que hesitei se devia oferecê- lo”. ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo; Ediouro 2000. 32 Exercícios: 1 – Baseando-se no modelo apresentado descreva uma borracha ou uma régua. 2 – Agora vamos treinar com a descrição de um objeto de muitas partes. Descreva um aparelho de televisão ou uma cadeira. Procure criar um título original. Descrição de ambientes e paisagens Sempre que quisermos descrever um lugar, devemos primeiramente apontar se esse local é fechado ou aberto. Caso seja um local fechado, nós o denominaremos ambiente; se, entretanto, for um lugar aberto, chamaremos de paisagem. Para a descrição de ambientes e paisagens podemos sugerir o seguinte modelo: 33 Título: Introdução; 1° parágrafo – Comentário geral se for paisagem falar sobre a localização ou qualquer outra referência de caráter geral. Desenvolvimento; 2° e 3° parágrafos – para ambientes detalhes sobre a estrutura global: paredes (janelas e portas), chão, teto, luminosidade e aroma (se houver). No terceiro parágrafo os detalhes específicos em relação aos objetos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas, ou quaisquer outros objetos. Nas paisagens observação do plano de fundo, dos elementos mais próximos do observador; explicação detalhada dos elementos que compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem. Conclusão; 4° parágrafo – observação sobre a atmosfera que paira no ambiente e para paisagem impressão que ela causa em quem a contempla. Exercícios: 1- Descreva as situações abaixo: a. Uma velha casa abandonada b. Três pessoas conversam sobre à casa que gostariam de possuir. Cada uma descreve a casa com que sonha. c. Uma fazenda que tenha visitado ou que imagina poder existir em um lugar. d. Fale da rua em que você mora ou trabalha. Não se esqueça de criar um título. Dissertar 34 Consiste na exposição de um assunto, no esclarecimento das verdades que o envolvem, na discussão da problemática que nele reside, na defesa de princípios, na tomada de posições. Estrutura da dissertação Uma dissertação geralmente se divide em três partes: 1- Introdução 2- Desenvolvimento 3- Conclusão A Introdução A introdução é onde se anuncia o assunto, ela encerra toda a exposição. A introdução é o espaço onde se anuncia, se coloca, se promete, se desperta... BOA VENTURA, Edvaldo. Como ordenar as ideias. São Paulo, Ática, 1998, p. 11. São requisitos básicos para uma introdução: Definir a questão, situando o problema. O termo minoria supõe grupo organizado e, na maior parte dos casos, uma organização de natureza étnica. 35 Indicar o caminho a seguir, assim, as minorias podem ser definidas por si mesmas, construindo limites (...), e pelos outros, que impõem sua exclusão de certas áreas da vida social. Indicar o caminho a seguir também é fundamentar o assunto com alguma teoria, modelo ou raciocínio e fornecer ideias diretrizes. A resposta mais comum a essa exclusão (que costuma envolver questões de cidadania) é a mobilização... Tais limites apontam para a formulação de identidades... O Desenvolvimento O desenvolvimento é a análise da introdução, por meio da argumentação. Nessa parte da dissertação, cabe defender a ideia proposta na introdução. Devem ser apontadas semelhanças de ideias, divergências, devem ser feitas comparações, ligações, buscas, enfim, comprovações da ideia inicial. A Conclusão O encerramento de uma dissertação deve ser breve e marcante. A brevidade no concluir exige fórmulas precisas que começam com... É assim que... Vê-se por isso que... Pode-se dizer que... Em poucas palavras... Ninguém negará que... 36 Em suma... Resumindo tudo... Todos concordam... Somos de opinião... Em conclusão... Em resumo... Em consequência... Não basta que a conclusão tenha os argumentos maciços; é preciso saber nela plantar o ponto de vista. BOA VENTURA, Edvaldo. Op. Cit. P. 45. Objetividade e subjetividade Ao expor um problema, ao discutir um assunto, você pode agir de duas maneiras; objetiva e subjetivamente. Na dissertação objetiva, a exposição oral ou escrita supõe o exame crítico de uma questão. Os assuntos da dissertação situam-se no elevado plano do que chamamos cultura, ou seja, ciência, técnica, arte, filosofia. A dissertação objetiva transmite conhecimentos e tem como finalidade instruir e convencer. As ideias são organizadas em forma de um raciocínio, frequentemente das gerais para as particulares, (como silogismos), dedutivamente, os posicionamentos devem ser aceitos por todos ou por uma maioria. 37 Mais raramente, é utilizado o plano indutivo, em que dos fatos particulares se chega a conclusões gerais.Sendo a dissertação de caráter universal, abstrato, científico, devendo a exposição ser impessoal. Dissertação subjetiva O autor externa sua visão pessoal, manifestando o que seria apenas sua opinião ou suas impressões. Opinião é o modo pessoal de ver e de julgar; impressão é o fato produzido nos órgãos dos sentidos e na alma pelo mundo exterior. Manifestando opinião ou impressões, a dissertação se torna subjetiva: a par dos argumentos e do raciocínio, surgem elementos de ordem psicológica colhidos na vivência do autor intuitivamente e dispostos de modo criativo, com a finalidade de conquistar a participação afetiva do leitor. A exposição é, agora, pessoal: o autor aparece, podendo inclusive empregar-se a primeira pessoa (o verbo na 1ª pessoa) o EU como foco expositivo o que se dá normalmente a dissertação subjetiva caráter literário. Em síntese, diríamos que a dissertação objetiva fala à inteligência do leitor; a dissertação subjetiva busca, também, sensibilizá-lo, a fim de que ele comungue com os sentimentos do autor. Modelo de dissertação Título: Introdução; 1° parágrafo – é o tema mais argumento um, mais argumento dois, mais argumento três. Desenvolvimento; 2° parágrafo - desenvolvimento do argumento um, 3° parágrafo desenvolvimento do argumento dois, 4° parágrafo desenvolvimento do argumento três. 38 Conclusão; 5° parágrafo – expressão inicial mais reafirmação do tema mais observação final. O modelo acima lhe será útil para que você possa estruturar satisfatoriamente os argumentos; garantirá ainda organização e coerência à sua composição. Observando essas orientações, você usará o número de parágrafos adequado, certificando-se de que cada um deles corresponda a uma nova ideia e de que, sobretudo, os diferentes parágrafos evidenciem as partes componentes de sua dissertação. Este é apenas um modelo, mas, no entanto é o mais geral e pode ser usado para desenvolver qualquer tema dissertativo. A abordagem de temas polêmicos Entendemos por temas polêmicos àqueles que costumam dividir as opiniões de tal modo que dificilmente conseguimos chegar a um posicionamento capaz de satisfazer a grande maioria das pessoas. Exemplos como a pena de morte, o aborto, eutanásia e outros. Exercícios 1- Para que possa treinar um pouco, citaremos alguns temas polêmicos: a. O alto índice de criminalidade, em nossos dias, deve-se basicamente as péssimas condições de vida da maioria dos brasileiros. b. A atuação da Igreja católica junto à comunidade deveria visar exclusivamente à evangelização do povo, ajudando-o a encontrar os valores espirituais da fé cristã. 39 c. Muitos acreditam que a televisão deixa de desempenhar um papel educativo na difusão de arte e da cultura nacional. d. Alguns acreditam que o sistema de governo parlamentarista só pode ser implantado em países onde existem partidas políticos com plataformas bem-definidas e características diferenciadas. Escolha um dos temas polêmicos mencionados e elabore uma redação, procurando analisar seus aspectos favoráveis e contrários. Cite um título adequado. 2 – (Enem-MEC) O que é o que é “(...) Viver E não ter a vergonha de ser feliz Cantar e cantar e cantar A beleza de ser um eterno aprendiz Eu sei Que a vida deveria ser bem melhor E será Mas isso não impede que eu repita É bonita, é bonita e é bonita (...)” Luiz Gonzaga Jr. (Gonzaguinha). 40 Redija um texto dissertativo, sobre o tema “Viver e Aprender”, no qual você exponha suas ideias de acordo com a norma padrão da língua, sem se remeter a nenhuma expressão do texto motivador. “O que é o que é”. Dê um título a sua redação. 3. Elabore uma dissertação e uma descrição para uma das figuras abaixo: 41 Orientação Geral Redigir é sinônimo de perceber, compreender, reagir e integrar. Na redação você é levado, por meio de sua capacidade criativa, a ter ideias. Mas não basta possuir ideias, é preciso saber como vesti-las! Isto é, para fazer uma boa redação você precisa: • Ler muito • Praticar exercícios de fluência, desinibição (criar, escrever, resumir, interpretar, falar, etc.); • Aplicar seus conhecimentos da língua ao organizar as frases; • Compreender que escrever bem não é escrever muito, mas é redigir com técnica, com estilo, com alma. Existem a nosso alcance, vários meios de se despertar o interesse para a tarefa de redigir. Por isso, a partir de agora, será possível apurar seu estilo, conhecendo Técnicas em Redação (A dissertação é a forma mais comum de redação. É a mais solicitada nos exames vestibulares e provas de colégio. Dificilmente lhe será exigida a narração de um fato qualquer, ou a descrição de uma grande obra de Engenharia. Também não são comuns, nesses exames, cartas comerciais ou familiares. Nosso objetivo principal, portanto, é a dissertação. Mas os ensinamentos que se seguem, guardadas as devidas diferenças, aproveitam também á narração ou à descrição). 42 Técnicas de Redação Este aspecto é um dos mais importantes, principalmente no julgamento de um trabalho escrito. Na verdade, a apresentação é um elemento estético que se manifesta em quase todos os momentos de nossa vida. Da mesma forma que nós precisamos de uma boa aparência, pois a nossa imagem pode ser motivo de críticas em um determinado meio social. Isso acontece também com uma redação. O primeiro contato do corretor – (examinador) com uma redação é feito por intermédio da clareza e da limpeza do texto apresentado. Lembre-se em todos os momentos de que a primeira impressão pode ser definitiva. Um corretor que se depara com uma redação incompreensível pelos “garranchos” em forma de palavras não terá, certamente, boa vontade no momento da correção. Não é preciso, que o aluno possua uma letra caligráfica perfeita, porém ela deve ser “legível”. Evite as rasuras e os borrões, pois existe muita subjetividade na atribuição da nota final e o professor, com certeza, ficará mal impressionado, com uma redação toda rasurada. Para modificações, existe uma redação preliminar chamada “rascunho”, que você poderá usar convenientemente. A distribuição dos períodos em uma folha de papel deve ser centralizada e homogênea. Existem as margens da folha e elas devem eliminar rigorosamente o espaço utilizável. Existem dois tipos de letras: letras tipográficas e letras caligráficas. Nas redações, o aluno deve utilizar-se de letras caligráficas (de próprio punho ou cursivas). Além disso, evite: - letra muito grande; - letra demasiadamente pequena; 43 - “bolinhas” no “i” ou no “j” (no lugar de pingos); - acentos demasiadamente grandes ou pequenos. Tempo de duração e extensão do texto Nas provas de redação você deve ter a maleabilidade e a versatilidade necessárias para se adaptar às normas de tempo e quantidade de linhas exigidas, que variam de lugar para lugar. Normalmente, você deverá fazer uma redação baseando-se em um texto dado. Sendo assim é importante que você entenda bem a mensagem do texto para que possa fazer seu trabalho sem fugir da temática exposta no texto ou sugerida pelo título dado. Poderíamos argumentar que isso limitaria a criatividade do aluno, mas não podemos esquecer que quando fazemos um concurso ou exame devemos adaptar-se às exigências ou regras do examinador. É justamente na padronização do tema e na quantidade de linhas que você poderá mostrar sua criatividade e versatilidade. Você sabe que seu trabalho será julgado por outras pessoas e, portanto, deve adaptar- se às normas estabelecidas pela comissão organizadora dos exames. Desenvolva o seu texto dentro dos limites solicitados. Qualquer exagero, mesmo aquele repleto de boas intenções, resultará em pontos negativos na nota final de seu trabalho.Quem escreve muitas linhas, a não ser que possua grande vivência de linguagem escrita, geralmente repete ideias (o que chamamos vulgarmente de “encher linguiça”). É importante que você não se alongue em sua redação para não atrair a antipatia do corretor. Existe, ainda, o fator tempo, que é fundamental para quem prestará exames. 44 Ordem de resolução da prova de comunicação e expressão Em geral, uma prova de Português deverá ter questões de Gramática, Literatura e de Redação. Uma prova de Português que pretenda ser completa é claro. Quem vai redigir não pode estar preocupado com o relógio. Resolvidos os casos gerais de Gramática e de Literatura, o aluno deverá encontrar todo um tempo à sua disposição, para, com mais tranquilidade, dedicar-se à tarefa da redação. Portanto, em qualquer exame de Português, ele atacará primeiro, as questões de Gramática e de Literatura. A redação deve ficar para o fim. - Partes de uma redação Os grandes escritores possuem tal convívio e domínio da linguagem escrita como maneira de manifestação que não se preocupam mais em determinar as partes do texto que estão produzindo. A lógica de estruturação do texto vai determinando, simultaneamente, a distribuição das partes do texto, que deve conter começo, meio e fim. O aluno, todavia, não possui muito domínio das palavras ou orações; portanto, torna-se fundamental um cuidado especial para compor a redação em partes fundamentais. Alguns professores costumam determinar em seus manuais de redação outra nomenclatura para as três partes vitais de um texto escrito. Ao invés de começo, meio e fim, elas recebem os nomes de introdução, desenvolvimento e conclusão ou, ainda, início, desenvolvimento e fecho. Itens esses estudados nos módulos anteriores. Avaliação da Redação A redação vale no vestibular, 50, 100, 200 pontos ou mais, dependendo da área a que o aluno se destine. No exame de Letras ou Direito, é claro, o peso será maior que no de Engenharia ou Medicina: Assim tem sido na prática, embora o critério seja discutível para 45 aqueles que acham que a redação deve ter equivalente importância, independente de cursos ou áreas. O professor, responsável de lhe dar nota, deverá apreciá-la sob aspectos principais: conteúdo, forma e correção sofrível. É possível até que, uma redação, embora excelente no conteúdo ou na forma, seja bastante desfavorecida por motivo de erro grave de concordância... Os critérios de atribuição de nota variam de professor para professor, de colégio para colégio, de faculdade para faculdade. Uns são mais rigorosos no que diz respeito à correção, e outros atentam mais ao conteúdo. Há quem dê valor todo especial à forma. Acreditamos, no entanto, que o ideal é o critério que considera, em um julgamento mais harmonioso, os três elementos – conteúdo, forma e correção. Eles podem ser organizados da seguinte forma: Quanto ao conteúdo: 1.O toque pessoal de enfoque; 2. O número de ideias expostas; 3. A ligação lógica entre elas; 4. A observação dos fatos da atualidade; 5. A dialética da exposição. Quanto ao estilo: 1. A concisão, a clareza e a precisão; 2. A variedade das formas de língua; 3. A fluência das frases; 4. O domínio e riqueza do vocabulário; 5. O toque criativo. 46 Quanto à gramática: A correção quanto ao emprego da: 1. Acentuação gráfica; 2. Ortografia das palavras; 3. Crase; 4. Pontuação; 5. Concordância pronominal 6. Conjunção verbal; 7. Sintaxe de concordância (verbal e nominal); 8. Sintaxe de regência; 9. Sintaxe de colocação pronominal. Os critérios estabelecidos sejam eles de qualquer espécie, são variáveis, como já dissemos, de corretor para corretor, em virtude de seu temperamento, de sua concepção própria sobre a comunicação escrita e outros fatores. Isso nos faz pensar no elemento Subjetividade na correção das redações. As pessoas que criticam a inclusão das redações nos exames vestibulares têm no aspecto subjetividade do corretor a sua mais forte argumentação para provar possibilidades de injustiça no resultado final. Apesar disso, acreditamos que, embora reconhecendo a subjetividade como o fator de desarmonia no julgamento das provas, é possível alcançar-se uma nota com base, na sua quase totalidade, em aspectos mais objetivos. 47 Com relação a essa pretensa injustiça de que pode ser vítima o aluno, você não deve se envolver. Faça a sua redação da melhor maneira possível. O que acontecer no julgamento não é problema a ser pensando antes da elaboração do texto. O conteúdo Espera-se que exista uma média de conhecimentos considerados razoáveis para uma pessoa que pretende tornar-se universitária. É ideal ter contato com bons livros, de preferência os que discutam os assuntos mais atuais, mas leitura exige tempo, exige tranquilidade... Os alunos, às voltas com teoremas matemáticos, com leis físicas ou com as reações químicas, amedrontados com carranca do vestibular, não dispõem de tempo e nem mesmo condições psicológicas para uma leitura atenta e proveitosa... Resta-nos, daí, uma saída – os jornais, as revistas e alguns bons programas de TV. * Não seja extremista ou radical Por serem mais agressivos em seu temperamento, por terem desenvolvido certas neuroses ou frustrações durante a sua vida, certos alunos quando chamados a desenvolver uma redação sobre um tema polêmico como política, religião, moral, esporte, passam definições ou argumentações violentas e comprometedoras. * Atente-se com a força dos vocábulos Existem profundas diferenças entre a linguagem falada e a linguagem escrita. Às vezes, uma palavra utilizada na expressão escrita adquire uma força negativa acentuada. 48 * A repetição de ideias Por vezes, o candidato vê-se vazio de ideias. Após imenso esforço mental, aparecem- lhe algumas, surradas e insuficientes para preencher as linhas exigidas... Que faz ele? Recurso muito usado é escrever em letras bem maiores ou deixar espaço grande entre as palavras. Nada disso, porém, passará despercebido ao corretor... Estratégia mais comum são repetições de ideias ou insistência em pormenores de somemos importância, anteriormente expressos. Esses recursos são condenáveis. Não passam de maneiras veladas de disfarçar a incapacidade para enfrentar o tema. Não desconhecemos, no entanto, que muitos alunos poderão encontrar-se em situações semelhantes... É claro que, neste caso excepcional, ele deve apelar para a repetição, desde que feita de maneira habilidosa. É preferível insistir em uma ideia nova, a entregar a prova em branco, ou apresentar algumas poucas linhas, bem abaixo do limite exigido. * A Forma Compreende-se como forma de um texto o conjunto de recursos que vão determinar a parte externa, a “roupagem” desse mesmo texto. Alguns professores preferem usar a palavra ESTILO para determinar essa importante parte da redação. Outros preferem inserir a maneira pessoal, a característica própria de cada um escrever, o estilo, dentro da forma, que seria esse caso mais genérico, envolvendo outros elementos mais. Poderíamos, por outro lado, dizer que a forma de um texto é a adequação: estilo+ correção gramatical+ adequação da linguagem. Para adquirir um estilo pessoal e atraente, o aluno precisaria, além da tendência inata, de um convívio estreito e constante com a linguagem. As pessoas que mantêm uma leitura diária assistem a bons programas na televisão, conversam com as pessoas cultas, esclarecidas e bem-informadas, possuem, sem dúvida, mais elementos para escrever com desenvoltura e precisão. 49 *Alguns Componentes da Forma - Simplicidade: Alguns pensam que utilizando palavras difíceis e rebuscadas conseguirão “impressionar” os corretores. Engana-se, pois as palavras devem manter um nível de simplicidade. O rebuscamento nautilização dos vocábulos só contribui para a confusão dos períodos. - Clareza: A elaboração de períodos muito longos produz dois defeitos graves. Primeiro, o leitor se cansa do texto e não compreende bem as mensagens nele contidas. Segundo, as ideias misturam-se exageradamente. Elabore períodos curtos, é preferível abusar do ponto final a construir períodos extensos. - Precisão: Certifique-se do significado correto das palavras que vai utilizar em determinado período e verifique se existe adequação desse significado com as ideias expostas. A vulgaridade de termos ou impropriedade de sentido empobrece bastante um texto. - Concisão: Ser conciso ao elaborar um texto significa usar as palavras com economia, com critério. Quanto mais você transmitir, usando palavras, mais concisa será a redação. - Originalidade: o uso excessivo de certas figuras de linguagem, provérbios acarretam o empobrecimento da redação. Como tudo que existe, as palavras também se desgastam. É preciso criar novas figuras para expor essas ideias. Dizer que a namorada é uma flor, ou que o filho de peixe, peixinho é, não realça a redação de ninguém. Use a imaginação para não precisar desses “chavões” antigos e pobres. Defeitos gravíssimos da forma - Períodos muito longos; - Repetição desnecessária de palavras; - Frases confusas, desconexas e ilógicas; 50 - Palavras vulgares e gírias; - Chavões, palavras desgastadas pelo uso constante; - Eco (Vicente frequentemente está contente); - Hiato (vai a Ana à aula); - Cacofonia (Meu coração por ti gela); - Colisão (Se cedo você se sentasse, cansar-se-ia menos). A correção gramatical Todo o aluno que se preza acompanha com muito interesse e atenção as aulas de gramática da escola que frequenta. Afinal, é a partir do estudo da morfologia, da sintaxe, da semântica que alguém domina o “código” necessário para sua expressão escrita ou falada. Embora todos os itens gramaticais sejam igualmente importantes, uma redação correta ressalta certos aspectos, como o cuidado com: • Concordância nominal; • Concordância verbal; • Partícula Se; • Regência verbal; • Colocação pronominal; • Imperativos; • Ortografia; • Crase; 51 • Acentuação gráfica; • Pontuação. 52 4 LINGUAGEM TÉCNICA A correspondência é o diálogo escrito entre as pessoas ou entidades. Classificação da correspondência: a) Oficial – serve-se dela a Administração Pública. b) Comercial – serve-se dela o Comércio e a Indústria. c) Bancária – derivada da comercial simplificou-se pelo emprego de numerosos formulários, possíveis porque os bancos trabalham com uma só mercadoria: o dinheiro. d) Particular – serve a qualquer pessoa, desvinculada de toda formalidade administrativa. Os documentos e papéis da correspondência constituem o expediente das empresas, que deve ser registrado em livro próprio, a que se chama protocolo. A nossa vida moderna não pode existir sem o papel, é o papel que representa os documentos. Nem poderia haver o grande avanço da ciência sem o sustentáculo do papel. O papel guarda todo o nosso saber, todas as nossas provas. A movimentação dos papéis na administração pública ou nas empresas particulares recebe o nome de burocracia. Burocracia essa importante, principalmente para o profissional burocrata no qual depende nossa vida. Portanto, é um trabalho sério que deve ser executado sem erros e sem omissão da verdade, evitando também demora desnecessária, para não prejudicar os interessados. Processo de Correspondência: 53 O processo da correspondência varia entre as empresas, dificultando a aprendizagem. A oficial é regulada por decretos ou portarias, que também constituem documentos oficiais de correspondência. Tipos de Textos Para cada situação de correspondência, desencadeada pelo ambiente e pelo momento, existe um tipo especial de texto com formatos e esquemas específicos, que se devem aprender para evitar-nos o ridículo de um indeferimento ou de uma ignorância. Chegam quase a uma centena esses tipos e modelos. Citaremos alguns deles: a) Fichas; Em nossas vidas, encontraremos os mais variados modelos de fichas para preencher, quer como funcionário, quer como aluno, quer como cidadão comum: em escolas; clubes de que se fizermos sócios; nos bancos em que pedirmos empréstimo; na declaração de imposto de renda; como funcionário de algum escritório. Quando tivermos que preencher fichas, devem-se ter alguns cuidados: - Escrever a verdade! Usar da honestidade para consigo mesmo e para com os outros! Nada pior para a sua futura carreira do que ser apanhado em mentira. - Escreva sem erros de português! Quem comete erros contra a língua ou contra a ortografia, depõe contra si mesmo. - Escreva de maneira legível! Aquele que quer progredir profissionalmente aplaina o seu próprio caminho: escreve bem, de maneira legível... E mais facilmente conquista o emprego, porque impressiona pelo capricho, ordem e bom talhe de letra. 54 b) Depósito bancário; Sobre os balcões de bancos, encontram-se fichas de cores diferentes para depósitos bancários. Ao depositar dinheiro, cheque em um banco, deverá preencher a ficha correspondente. Uma será para depositar dinheiro a outra para depositar cheques, preencha com todos os itens necessários antes de depositar. c) Recibo: É frequente seu uso para pagamentos, em que se envolva dinheiro. Não se deve esquecer-se de especificar a razão deste recibo, isto estabelece o compromisso, ou seja, a quitação da negociação. d) Cheque: Ao invés de pagarmos em dinheiro, podemos pagar em cheques, isto é, uma ordem ao banco para que pague a quantia assinalada. Com os cheques, é preciso tomar cuidados especiais: 1°- Não preencher um cheque em quantia superior à que se tenha depositado no banco. 2°- Não colocar data falsa. 3°- Se perder o talão de cheques ou algum cheque deve avisar imediatamente ao banco. Assim evitam-se falsificações; pois o banco sustará o pagamento. 55 4°- Se NÃO escrever o nome a quem o cheque deve ser pago, o cheque é “portador” será pago a quem o apresentar. Escrevendo o nome, o cheque será “nominal” e a pessoa precisará identificar-se no banco para a retirada do valor. 5°- Anotar sempre no canhoto o movimento: o depósito, a quantia paga e seu destinatário e a data. São precauções necessárias, para melhor administração de suas finanças. e) Nota promissória; O cheque só pode ser assinado, se houver fundos. Usa-se nota promissória, quando se faz uma venda e o cliente não quer ou não pode pagar tudo á vista. A nota promissória é um documento que representa uma promessa de pagamento. O prazo de pagamento depende do mútuo acordo. Aquele que faz uma compra a prestação (no crediário), assinará notas promissórias. Para terem validade legal, as notas promissórias devem ser registradas no banco ou no cartório de títulos, no prazo de 15 dias da data que consta na assinatura. Estando registrada a nota promissória pode ir a protesto judicial, com penhora de bens. f) Telegrama: O telegrama substitui a carta em casos urgentes ou especiais, esse é um meio rápido e especial de enviar mensagens e, por isso, mais caro. No texto do telegrama suprimem-se os vocábulos que podem facilmente ser subentendidos. Escreve-se de preferência um período só. Mas se a mensagem for longa, o ponto é assinalado por PT; a vírgula por VG. Cuidados especiais: - Não se escrevem os acentos. - Não se escreve o hífen. 56 - Não se divide vocábulo em fim de linha. - Escrever em letras maiúsculas. - Não se fazem rasuras ou emendas. g) Procuração: A procuração é um instrumento pelo qual se delegam poderes à outra pessoa. Acontece quando alguém não pode (ou não quer)pessoalmente resolver determinado problema. Neste caso, nomeia-se uma pessoa de sua confiança para ser seu substituto. Os atos praticados pelo procurador têm a mesma validade, como se fossem realizados pelo outorgante. h) Contrato: O contrato é um acordo que fazem duas ou mais pessoas para estabelecer, alterar ou suprimir uma relação de direito. O assunto pode ser mais variado possível: o casamento é um contrato. Pode tratar-se de compra e venda, de prestação de serviço; de fornecimento de material. Resumindo, podemos dizer que os contratantes se obrigam a dar, a fazer, a mudar, a desfazer ou não fazer alguma coisa. Como o contrato tem implicações jurídicas muito sérias caso desacordo, deve ser normalmente elaborado por um advogado. Contudo, encontra-se nas papelarias formulários à venda, que trazem quase sempre obrigações muito rigorosas. Depende do contratante se deseja atenuar algumas condições. l) Requerimento: 57 Caracteriza-se por um pedido redigido em papel almaço, folha dupla, e dirigido a uma autoridade. Espaços: Margem esquerda de 4cm aproximadamente; Margem direita de 1 a 2cm aproximadamente; Parágrafo: 8 a 15 espaços; Entre o vocativo e o contexto: 7 ou mais linhas. Partes: Vocativo; é o título, o cargo que ocupa a pessoa a quem é dirigido o requerimento. Omite-se o nome da pessoa. Contexto; o preâmbulo contém o nome do requerente com todos os dados pessoais necessários para identificá-lo; estes podem variar segundo a natureza do requerimento e a situação. Exposição resumida do pedido; A justificativa; pode indicar os dispositivos legais ou os documentos anexos. O fecho: O fecho é constituído das expressões: Nestes termos, em parágrafo especial; Pede deferimento, na mesma linha ou na linha abaixo, mais acima da assinatura. Em vez do verbo pede é possível usar-se espera, que é mais incisivo. Outros fechos são: Termos em que pede deferimento. Toleram-se também as abreviaturas como as seguintes: N.T. P.T. 58 A data e a assinatura em datas diferentes. O nome do requerente pode ser repetido digitado ou em letras legíveis. Linguagem: A pessoa que assina, chama-se requerente, signatário, abaixo assinado, infra-assinado e, em caso de recurso, recorrente: os verbos, pronomes e possessivos que se lhe referem, ficam sempre na 3ª pessoa. Exemplo: o requerente solicita que V.Exa. lhe conceda... aceite o seu pedido. Não escrever: eu solicito que V. Exa. Me conceda... aceite o meu pedido... m) Declaração: É um documento em que o signatário manifesta a sua opinião ou observação. Seus conhecimentos ou conceitos não constam em documentos transcritos e não podem ser provados diretamente, mas unicamente indiretamente, isto é, por testemunho outros cidadãos. n) Atestado: O atestado é um documento que afirma a veracidade de um fato, com base em documentos. Como o funcionário público em suas funções sempre deve basear-se em textos, instrumentos legais, documentos, as repartições públicas dão atestados e não declarações. A diferença entre a declaração e o atestado é que aquela é dada pelo cidadão (em caráter particular ou comercial); este pela autoridade competente. Quando se trata de transcrição de documentos. Leva o nome especial de certidão, por exemplo: a certidão de nascimento. O atestado deve ser assinado pelo competente funcionário e servirá como documento para os interessados. Frequentemente, não se faz distinção rigorosa entre declaração e atestado. 59 o) Carta Comercial Carta comercial é a correspondência comum e variada, que a indústria e o comércio utilizam para enviar comunicações. Quando o mesmo assunto se repete na vida diária, utilizam-se fichas dos mais variados tipos, formulários já impressos. Uma carta comercial tem as seguintes partes: a. O timbre (o nome da firma, já impresso). b. O número da carta, em ordem crescente a partir do início do ano. c. Local e data, na mesma linha do número da carta. d. Endereço. e. Assunto, elemento não-obrigatório, colocado perto da margem direita. É chamada epígrafe. f. Vocativo. g. Texto; Uma carta comercial pode tratar de mais de um assunto. Neste caso, convém indicar em maiúsculas, junto à margem esquerda o assunto, e desenvolvê-lo a partir desta mesma linha. Não é prudente que a mesma carta trate de mais de um assunto especialmente importante. h. Se a carta não for cerimoniosa, o fecho deve ser simplesmente Muito atenciosamente ou Cordialmente, etc. i. Assinatura. Convém repetir o nome – digitado e, na outra linha, indicar o cargo. j. Anexos, se houver Declarar, brevemente, o que vai anexo à carta. k. Iniciais do redator e do digitador, é possível também colocar estas iniciais debaixo do número da carta. 60 p) Ata; A ata é o registro ou lançamento fiel dos fatos ocorridos em uma reunião. Compara-se ao termo que é o lançamento de um ato forense (relativo ao foro judicial) ou de uma diligência. Precauções Como a ata é um documento de valor jurídico, deve ser lavrado de tal forma que nada lhe poderá ser acrescentado, nem modificado, sem ressalvas autenticadas por quem de direito. Norma é o registro das atas em um livro especial, que deve ter termo de abertura e de encerramento, assinados por pessoa autorizada, a qual deverá também numerar e rubricar as folhas do livro. É possível também digitar as atas em folhas soltas, contanto que fiquem convenientemente arquivadas, sem possibilidade de fraude. Se houver engano, o secretário deve escrever “digo” e fazer a retificação. Se o engano for notado depois, mas antes de encerrar a ata, há de escrever: “Em tempo: Onde se lê... leia-se...” Os números devem ser escritos por extenso. Espaços: Frequentemente, as atas são redigidas, sem deixar espaço, sem fazer parágrafos para impossibilitar acréscimos. Partes: a) Título: b) Texto. Além das ocorrências, discussões, propostas e resoluções, que variam de reunião para reunião, o texto deve conter: A data por extenso, no início; O local da reunião; 61 A convocação (reunião ordinária ou extraordinária); Os nomes dos presentes, ou referência que os identifique, ou o número de participantes, interessados, etc. O fecho, quase inalterável: Nada mais havendo a tratar, declara-se encerrada a sessão, de que eu, fulano de tal, lavrei a presente ata, a qual vai devidamente assinada. Assinam a ata todos os presentes o escrevente ou o secretário responsável. q) Currículo; Quando se procura emprego ou se concorre a uma bolsa de estudos ou a uma vaga em cursos disputados, costuma-se apresentar um documento chamado currículo. Seu nome vem da expressão latina curriculum vitae (que significa “percurso de vida”), geralmente utilizada no título. No curriculum são relacionadas às principais atividades profissionais, cursos e habilidades de uma pessoa. Sua linguagem deve ser objetiva, clara e concisa. Apresentam-se os dados em ordem cronológica da experiência mais recente às mais antigas. A correção gramatical e a boa organização dos dados são fundamentais. Dá-se prioridade aos fatos mais relevantes na carreira do candidato, evitando currículos extensos. 62 MODELO DE CURRÍCULO CURRICULUM VITAE Identificação: Nome________________________________________________________ Endereço residencial: ___________________________________________ Telefone: _____________________________________________________ Nascimento: ___________________ (dia, mês, ano). Naturalidade: __________________(cidade, Estado, país). Estado civil: ___________________(estado civil, número de filhos) Documentos: (somente quando exigidos) Objetivo: (cargo) Grau de instrução: (mencionar aqui os diplomas obtidos, de todos os graus, bem como os certificados em cursos de especialização, etc.). Experiência profissional:
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