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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 352 U n id ad e F • m a er a de r e o uç es e t ra ns or m aç es O reinado de Carlos I Carlos I, filho de Jaime I, assumiu o trono em e deu continuidade po tica a so utista do pai. Diante da relutância do Parlamento em aprovar suas requisições de fundos, ele o dissolveu em 1629 e passou a governar com o auxílio apenas de seu conselho privado. Após a dissolução do Parlamento, uma onda de repressão espalhou-se pelo país, com a censura de publicações consideradas subversivas, julgamentos arbitrários e torturas, o que contribuiu para acirrar os ânimos contra a monarquia. Apenas a nobreza e a alta burguesia, beneficiadas pela venda de cargos e pela concessão de monopó- ios permaneceram iéis monar uia As c asses sociais alinhadas ao calvinismo (a gentry, a burguesia comercial, além de trabalhadores e camponeses) de- cidiram recorrer deso edi ncia ci i recusando se a pagar os impostos, uma vez que estes não haviam sido aprovados pelo Parlamento, mas impingidos arbitrariamente pelo rei. Carlos I convocou novamente o Parlamento em 1640, pois a Coroa precisava reunir fundos para desarticular uma revolta, na Escócia, promovida por calvinistas descontentes com as reformas re- ligiosas realizadas pelo rei. Em vez de obedecer ao pedido de Carlos I, o Parlamento impôs uma série de restrições, entre as quais a perda do direito de dissolver o Parlamento. Essa revolução teve como protagonistas os puritanos (como eram chamados os calvinistas na Inglaterra), por isso recebeu o nome de Revolução Puritana. A Revolução Puritana Em 1642, iniciou-se uma sangrenta guerra civil, que durou até 1649. A Inglaterra ficou dividida entre as regiões que permaneceram fiéis ao rei e aquelas que apoiaram o Parlamento. Sob a liderança de Oliver Cromwell, a oposição parlamentar calvinista formou um exército revolucionário, conhecido como Exército de Novo Tipo. A guerra e o comando do exército eram privilégio tradicional dos nobres desde a Idade Média. No novo exército, entretanto, a promoção acontecia por mérito e não por nascimento. Assim, ele incluía em suas fileiras não só elementos oriundos da nobreza, mas também burgueses, comerciantes e pequenos proprietários de terra. Com apoio maciço da população, o exército pren- deu o rei e expulsou do Parlamento todos os elemen- tos a or eis po tica dos tuart ar os tentou u- gir, porém logo em seguida foi recapturado. Em 1649, oi u gado e decapitado so a acusação de traição pátria em virtude de sua política de aproximação com a Igreja Católica e com a Espanha [doc. 2]. DOC. 2 Execução do rei Carlos I da Inglaterra em Whitehall, Londres, em gravura de 1649. Os radicais da revolução A Revolução Puritana também contou com a par- ticipação das classes populares, que tinham seus próprios interesses e expectativas. No decorrer do processo revolucionário, surgiram grupos políticos e religiosos radicais que desejavam uma reviravolta to- tal das relações sociais. Os principais eram conhecidos como levellers (niveladores) e diggers (escavadores) e representavam os anseios das classes mais pobres (camponeses, artesãos, pequenos comerciantes) por uma sociedade mais justa [doc. 3]. Esses grupos defendiam a divisão das grandes propriedades rurais, o fim dos cercamentos das terras comuns, a abolição da prisão por dívidas, o voto univer- sal e a supressão do dízimo pago ao clero. Essas ideias assustavam a alta burguesia e os grandes proprietários rurais, que tinham outro projeto para a revolução: o fim dos obstáculos ao desenvolvimento de suas atividades econômicas, como monopólios, taxas, impostos e ou- tras formas de intervenção do Estado na economia. A posição dos niveladores Nas Revoluções Inglesas, a corrente leveller mais radical foi a dos verdadeiros niveladores (The true le- vellers), que defendiam o fim da propriedade privada. “A defesa da propriedade e do interesse individual divide o povo de um país e do mundo todo em partidos, e por isso é a causa de todas as guerras, carnificinas [...] Mas, quando a terra tornar a ser um tesouro comum, assim como ela deve ser, [...] então haverá de cessar essa inimizade entre todos os países, e ninguém mais se atreverá a tentar dominar os outros, nem ousará matar o seu próximo, nem desejará possuir mais terras que o seu semelhante.” Gerrard Winstanley. A lei da liberdade [1652]. In: HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 146. DOC. 3 HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 352 11/11/10 14:15:59 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 353 C ap ít u lo 1 9 • as e o uç es ng es as e o uç ão nd us tr ia A Rep blica uritana Com a execução do rei e a expulsão de todos os realistas do Parlamento, a Inglaterra deixava de ser uma monarquia e tornava-se uma república (em in- glês, Commonwealth). A Igreja Anglicana foi suprimida. Além disso, a Câmara dos Lordes, que representava a alta nobreza e o alto clero, foi dissolvida, restando apenas a Câmara dos Comuns. Levantes contra o governo de Cromwell na Escó- cia e na Irlanda, assim como movimentos populares radicais, foram esmagados pelo Exército do Novo Tipo. Em 1653, Cromwell dissolveu o que restou do Parlamento e assumiu o título vitalício de Lorde Pro- tetor, tornando-se, na prática, ditador da República Inglesa [doc. 4]. Atos de Navegação A política econômica de Cromwell destacou-se pela criação dos Atos de Navegação, aprovados pelo Parlamento em 1651. A medida estabelecia que todas as mercadorias que entrassem na Inglaterra só podiam ser transportadas em navios ingleses ou dos países produtores. A tentativa de estabelecer o monopólio inglês sobre o comércio e a navegação provocou uma guerra com os holandeses. Vencedora no conflito, a Inglaterra conquistou o domínio dos mares. A restauração e a Revolução Gloriosa Após a morte de Cromwell, em 1658, o Parlamento desmobilizou o exército revolucionário e restaurou a monarquia e a dinastia Stuart. O rei Carlos II, porém, tinha seu poder limitado pela legislação aprovada durante a revolução. Mesmo assim, um dos primei- ros atos do novo rei foi desenterrar os corpos de Cromwell e dos outros responsáveis pela execução do rei Carlos I. Eles foram enforcados e decapitados publicamente, ato que simbolizava que nenhum crime de regicídio ficaria impune. Diante da tendência dos novos monarcas, em particular o rei Jaime II (irmão de Carlos II), de reforçar novamente o poder monárquico em dire- ção ao absolutismo, o Parlamento, com o apoio de comerciantes, grandes proprietários rurais e financistas, depôs Jaime II, em 1688. Apesar de ter ficado conhecida como Revolução Gloriosa, não se tratou de outra revolução, mas da consolidação do Estado burguês surgido na Revolução Puritana. As- sumiram o trono Guilherme de Orange e sua mulher Maria Stuart, filha de Jaime II. Guilherme de Orange foi obrigado a jurar a Declaração dos Direitos, que limitava os direitos do rei e o proibia de governar sem o Parlamento. DOC. 4 Eleição de Cromwell como Lorde Protetor, governante da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda, em 20 de abril de 1653, gravura colorida de Theodor Hosemann, 1855. Coll. Archiv F. Kunst & Geschichte, Berlim. O processo revolucionário na Inglaterra marcou a primeira grande crise do absolutismo na Europa. O Estado burguês dele resultante criou as condições institucionais necessárias para que o capitalismo industrial se desenvolvesse na Inglaterra no decorrer do século XVIII. • Regicídio. Assassinato de um monarca, de seu cônjuge ou de um de seus herdeiros. Vocabulário histórico Capitalismo A palavra capitalismo designa um sistema econômico e social que se desenvolveuna Europa Ocidental entre os séculos XVI e XIX e que, progressivamente, difundiu-se pelo globo até se tornar o sistema hegemônico de produ- ção de mercadorias. Segundo os pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels, o capitalismo é um modo de produção de mer- cadorias baseado na propriedade privada dos meios de produção (como máquinas, equipamentos e instalações necess rios produção ontes de energia terras e na exploração da mão de obra assalariada. Max Weber, outro grande teórico do capitalismo, abordou as origens do capitalismo em seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, publicado em 1904. Diferente- mente de Marx e Engels, Weber não define o capitalismo apenas como um modo de produção, mas como uma mentalidade, uma forma de comportamento e um estilo de vida originário de crenças religiosas calvinistas. 1. Sintetize a ideia principal apresentada pelo autor do texto [doc. 3]. 2. Compare a visão do nivelador Winstanley [doc. 3] com a do iluminista Rousseau [doc. 4], no capítulo 18. O que as duas visões têm em comum? QUESTÕES HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 353 11/11/10 14:16:00 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 354 U n id ad e F • m a er a de r e o uç es e t ra ns or m aç es ANALISAR UM DOCUMENTO HISTÓRICO A construção da imagem de Cromwell Ao contrário da maioria das revoluções modernas, inspiradas em ideologias políticas laicas, os revolu- cionários ingleses recorriam a ideias religiosas para justificar seus atos. Cromwell acreditava ter sido escolhido por Deus para conduzir a nação inglesa a um papel único entre as outras nações. Logo após ter se declarado Lorde Protetor, ele afirmou: “Interroguemos as nações sobre este assunto e elas prestarão testemunho. Com efeito, as benesses do Senhor recaem sobre nós como se Ele dissesse: Inglaterra, és mi- nha primogênita, minha alegria entre as nações, e sob este céu que nos cobre o Senhor jamais deu esse tratamento a nenhum dos povos que nos rodeiam.” Oliver Cromwell. Declaração do Lorde Protetor [1654]. In: HILL, Christopher. O eleito de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 131. Para compreender o documento Oliver Cromwell, de certa forma, é fruto da refor- ma político-religiosa que promoveu a independência Cromwell entre duas colunas, gravura de William Faithorne, 1658. 1. Por que Cromwell é representado nes- sa ima gem segurando uma Bíblia? 2. Observe o tamanho de Cromwell em relação aos outros elementos da imagem. Qual é o significado dessa desproporção? 3. Identifique a contradição entre os princípios defendidos pela Revolu- ção Puritana e a ideia que essa ima- gem apresenta. QUESTÕES da Inglaterra em relação ao papado, no século XVI, e revelou, segundo alguns teólogos protestantes, o papel especial da nação inglesa na luta entre o Cristo e o Anticristo. A ideia da providência divina guiando os acontecimentos da história inglesa manifestava- -se, em Cromwell, em sua crença como o instrumen- to de Deus que cumpriria os planos traçados para o povo inglês. 1. Esta gravura apresenta o ditador entre duas colunas. Na coluna da direita, três figuras alegóricas, ofere- cendo louros ao ditador, representam a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda. 2. Na coluna da esquerda, as inscrições em latim mostram os princípios políticos da República In- glesa, como “Magna Carta” e “O bem do povo é a lei suprema”. 3. Na mão direita, Cromwell segura uma espada, que penetra três coroas, simbolizando a reunião dos rei- nos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda. 4. O personagem segura na mão esquerda uma Bíblia, que simboliza a fé religiosa que guiou a revolução. 5. Acima e abaixo, são representadas diversas cenas que remetem a passagens bíblicas. 6. Acima da cabeça de Cromwell há uma pomba da paz e uma inscrição em grego antigo, que significa “Gló- ria a Deus”. HIST_PLUS_UN_F_CAP_19.indd 354 11/11/10 14:16:01